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Deus és tu!
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Ebook294 pages4 hours

Deus és tu!

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About this ebook

JHWH (Senhor) conta-nos o que se passou desde que os Elohim (Deuses) chegaram ao planeta Terra. A conquista da terra que prometeu aos descendentes de Abrão, Isaque e Jacob, foi um processo longo e penoso. A constante desobediência e recusa do seu povo em cumprir as regras e leis que estabeleceu tornou a vida dos filhos de Israel difícil - um verdadeiro inferno. No final, JHWH descobriu a quem os humanos chamavam de Deus...
LanguagePortuguês
Release dateOct 26, 2018
ISBN9788468532035
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    Deus és tu! - Luis Morgadinho

    Deus és tu!

    Luís Filipe de Araújo Morgadinho

    © Luís Filipe de Araújo Morgadinho

    © Deus és tu!

    luis.morgadinho@landtime.pt

    1ª edição em Setembro de 2018

    ISBN formato epub: 978-84-685-3203-5

    Impresso em Portugal

    Editado por Bubok Publishing S.L.

    Todos os direitos reservados. Não se permite a reprodução total ou parcial desta obra, nem da sua incorporação num sistema informático, nem da sua transmissão em qualquer forma ou através de qualquer meio (electrónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros) sem autorização prévia e por escrito dos titulares do copyright. A infracção destes direitos pode constituir um delito contra a propriedade intelectual.

    As palavras em itálico são transcritas da Bíblia Sagrada.

    Os nomes em maiúsculas são nomes fictícios que somente por coincidência poderiam ter existido.

    Índice

    Árvore genealógica

    Mapa do Egito e das terras de Canaã

    Extrato do Salmo 136

    Prólogo

    I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    VII

    VIII

    IX

    X

    XI

    XII

    XIII

    XIV

    XV

    XVI

    XVII

    XVIII

    XIX

    XX

    XXI

    XXII

    XXIII

    XXIV

    XXV

    XXVI

    XXVII

    XXVIII

    XXIX

    XXX

    XXXI

    XXXII

    XXXIII

    XXXIV

    XXXV

    XXXVI

    XXXVII

    XXXVIII

    XXXIX

    XL

    XLI

    XLII

    Epílogo

    Nota do autor

    Bibliografia

    Árvore genealógica

    Nota: A árvore genealógica apresentada inclui apenas os descendentes de Adam e Havah (Eva) até Salomão, que são mais relevantes nesta história.

    Mapa do Egito e das terras de Canaã

    Nota: Não há certeza absoluta sobre a localização das localidades de Pi-Hairote, Mara, Elim, Dofca, Refidim e Horeb.

    A história que aqui se conta, com exceção da ficção criada sobre os elementos que a Bíblia não refere, é fiel à que o leitor encontra na Bíblia Sagrada.

    Extrato do Salmo 136

    A Lua e as estrelas para presidirem à noite; porque a sua bondade dura para sempre;

    O que feriu o Egito nos seus primogénitos; porque a sua bondade dura para sempre;

    [...]

    Aquele que feriu os grandes reis; porque a sua bondade dura para sempre;

    E matou reis famosos; porque a sua bondade dura para sempre;

    [...]

    Louvai ao Deus dos Céus; porque a sua a bondade dura para sempre.

    Prólogo

    O anúncio da descoberta de um planeta com atmosfera respirável para onde pudéssemos ir, depois do acidente do asteroide que embateu no nosso planeta, tinha sido a melhor noticia dos últimos cinquenta anos. E nesse momento ainda nada sabíamos sobre o que iríamos encontrar, mas era sem dúvida a esperança de que haveria futuro para a nossa civilização.

    Depois de vivermos milénios no nosso planeta, era estranho pensar assim. A verdade é que viver estes últimos anos debaixo do solo, com raras incursões na atmosfera cheia de poeiras em suspensão, era um desgaste psicológico muito forte. Estávamos habituados a viver num planeta verde no qual nos podíamos deslocar sem restrições, em que não havia falta de recursos alimentares nem de qualquer outra espécie.

    Éramos uma civilização composta por machos e fêmeas, era assim que definíamos os sexos, e emparelhávamos machos e fêmeas com vista a reproduzirmo-nos e assim darmos continuidade à espécie. Um processo programado e simples.

    A minha amiga ÍRIS, que trabalhava no projeto FUTURO, ia-me dando as novidades que podia, sobre os avanços e os recuos do departamento de investigação que tratava da procura de uma solução para o futuro da nossa civilização.

    JHWH, vem aí um grande desafio! –, comentava ÍRIS depois do anúncio do nosso comandante a respeito da descoberta feita pela nossa equipa do projeto FUTURO.

    – Sem dúvida, ÍRIS, é uma oportunidade única para voltarmos a ter uma vida normal.

    Era o que todos pensavam.

    Depois de uma longa viagem era sem dúvida fantástica a vista da nossa nave na aproximação a este planeta. Parecia coberto de água e era isso que lhe dava uma cor azul. Bem, não era uma cor azul fixa, mas apresentava um azul composto de várias tonalidades. Era algo que nunca tínhamos observado antes.

    Nas viagens exploratórias que fizemos descobrimos uma espécie que em muito se assemelhava à nossa. Mas era muito primitiva. O que quero dizer é que era uma espécie com um desenvolvimento da inteligência que estava muito aquém das nossas capacidades. O grau de sofisticação militar era a espada, o arco e a flecha...

    Depressa percebemos que isso era uma vantagem – tínhamos ali um grupo que podia trabalhar para nós, se aplicássemos as nossas técnicas de aperfeiçoamento genético. Foi isso que fizemos, apurámos a espécie.

    Daí à necessidade de conquista territorial para nos expandirmos foi um ápice.

    Porém, a educação desta espécie foi e continuará a ser um processo complexo. Eles têm um enorme grau de liberdade, que tentámos reduzir o mais possível impondo as nossas regras e leis, mas a sua natureza rebelde dificultou-me a vida...

    Para agravar a situação, o problema não foi apenas com os habitantes da Terra. A competitividade entre os nossos militares a quem os territórios foram distribuídos foi muito grande e dura – todos procuravam mais e queriam obter os melhores recursos. Foi difícil atingir o objetivo traçado... e já cá andávamos há mais de três mil anos!

    I

    Já passou um ano desde que nos foi anunciado que tinha sido descoberto numa galáxia perto da nossa um planeta diferente dos outros – chamámos-lhe planeta azul. Parecia ser um sistema simples constituído por esse planeta, o qual tinha um satélite, e mais uns quantos planetas. Todos eles giravam em órbitas elípticas em torno de uma estrela-mãe.

    Esse planeta azul tinha uma dimensão similar ao nosso, mas parecia mais colorido, o que para nós foi muito interessante.

    Nós, os Elohim¹, somos uma civilização com alguns milhares de anos, que devido ao embate de um asteroide no nosso planeta vimos as nossas condições de vida ameaçadas.

    Não sabemos de onde somos oriundos. Isto é, não sabemos como nos tornámos o que somos – como se formaram os nossos corpos, a nossa inteligência, a origem dos animais e plantas, etc. Os nossos estudiosos dessas áreas pensam que foi a combinação de vários elementos que acabou por formar aquilo que somos hoje. Alguns de nós pensam que se encontrássemos outros seres vivos fora da nossa galáxia talvez pudéssemos compreender melhor como tudo começou por aqui.

    Somos uma espécie constituída por dois sexos a que chamamos macho e fêmea. No nosso planeta somos os únicos seres com um nível de inteligência elevado. Existem outros seres vivos que classificamos como animais, plantas e árvores. Os animais são os que se assemelham mais à nossa espécie. Têm uma estrutura corporal baseada num esqueleto e órgãos, como nós, mas têm uma inteligência de muito baixo nível. Temos trabalhado arduamente na tentativa de perceber como comunicam entre si, mas é um tema que não está concluído.

    O embate do asteroide provocou uma enorme nuvem de poeira que bloqueou parcialmente a luz da estrela que nos dá a energia de que precisamos para viver. Animais e plantas que viviam no nosso planeta foram quase totalmente dizimados, e não fosse terem-se construído previamente umas construções debaixo do solo e reservas de água e a nossa civilização ter-se-ia perdido para sempre. Na nossa galáxia nunca encontrámos um planeta com vida e por isso os esforços têm sido dirigidos para procurar vida fora do nosso sistema galáctico.

    Por esse motivo, houve grande necessidade de explorar a possibilidade de nos mudarmos para outro planeta para assegurar a nossa continuidade – tem sido essa a prioridade dos últimos anos. A par disso, o nosso desenvolvimento tem sido enorme e é a nossa capacidade de substituirmos os que vão desaparecendo por mais novos que nos dá o equilíbrio de que precisamos para continuar a seguir esse sonho. Os nossos exploradores genéticos, assim lhes chamamos, têm apurado a nossa espécie, trabalhando sobre a matriz do nosso corpo, que designamos por código genético. Não é uma área por que me interesse muito, mas vou acompanhando a sua evolução utilizando os conhecimentos básicos que nos são ministrados sobre o tema no nosso processo de instrução e aprendizagem. O nosso mundo animal também é tratado de modo diferenciado, pois não comemos carne de todas as espécies e até extinguimos um dos animais mais suculentos por considerá-lo um animal sujo. Não toleramos a ingestão de sangue de animais e tínhamos o costume de queimar as vísceras e gorduras porque o fumo provocado pela queima nos oferecia um sentimento de tranquilidade.

    A nossa alimentação tem sido muito mais baseada nos vegetais e é aí que temos posto o esforço de investigação, no sentido de garantir a produção necessária para o presente e criar as reservas de sementes para o futuro.

    Como somos uma sociedade organizada por mérito produtivo, seja qual for o domínio, há sempre quem consiga ter mais créditos que outros e encontrámos nessa forma de competição o estímulo para progredir. Se olharmos para trás, os que nos antecederam na quarta geração não têm a mesma qualidade de vida que os do presente. É certo que essa progressão de qualidade de vida nos tem também causado alguns problemas de excesso de ambição por parte de alguns machos, mas o nosso comandante, Elyon², tem sabido lidar com esse problema fazendo cumprir um sistema de leis bastante rigoroso. Outra das contrariedades com que nos temos debatido é a falta de metais, em particular de ouro.

    Utilizamos o ouro nos nossos engenhos de transporte a alta velocidade para calibrar os equipamentos das naves.

    Tem sido particularmente difícil continuar a encontrar ouro no nosso planeta dado que houve uma enorme exploração nos últimos séculos e os estudos indicam que as reservas estão praticamente extintas.

    A nossa civilização é muito organizada e disciplinada e rege-se por normas rigorosas e quem falte ao seu cumprimento será severamente punido. A maior punição, que ninguém quer sofrer, é a perda de companhia. Só é possível voltar a ter um companheiro ou companheira se forem cumpridos determinados requisitos previamente acordados com Elyon. Normalmente, esses requisitos passam por contributos importantes para a comunidade nas áreas em que cada um de nós se especializou. A nossa civilização é de tal modo bem organizada que os nascimentos são planeados e quando nasce um macho nasce também uma fêmea. Cada parelha está confinada a ter apenas um descendente pois assim asseguramos que não temos problemas de alimentação, gestão de resíduos, quantidade de água doce, etc.

    A relação entre os machos é totalmente diferente da relação com as fêmeas. Com os machos existe um relacionamento de competição, enquanto com as fêmeas essa forma de estar nunca se revela com a mesma expressão.

    Talvez isso se deva a termos uma organização muito regulada e sermos bastante disciplinados. O papel do macho e da fêmea rege-se acima de tudo por dois princípios básicos: o primeiro é assegurar a subsistência da nossa civilização e o segundo é a procriação. Se estes princípios forem seguidos, asseguramos a nossa continuidade. Estes princípios são de tal forma importantes que a nossa civilização pune severamente quem não é cumpridor, correndo o risco de não ter descendentes. Como rapidamente se conclui, toda esta forma organizada de viver não contemplava o risco de extinção pelo qual passamos neste momento, pois não se previa que pudéssemos estar perante esta situação de escassez de alimento devido ao impacto do asteroide.

    Pese embora haja mais competição nos machos do que nas fêmeas, também elas podem lutar por subir na hierarquia e assumir posições de chefia.

    As chefias têm à sua disposição os Malachim³, que são uma espécie de soldados. Os Malachim têm menos conhecimentos do que os que estão na classe superior e que terão um dia um cargo de chefia. A sua instrução tem um cariz mais prático e a sua obrigação é servir-nos para que não percamos tempo com tarefas que não são úteis na atividade principal que desenvolvemos. Recentemente, usamo-los muito para tarefas de comunicação, garantindo que o que queremos comunicar aos grupos é absolutamente entendido pela sua proximidade e capacidade de esclarecer dúvidas que possam ocorrer. Assim, os Malachim são os nossos assistentes pessoais. Cada um de nós que possui estes soldados tem a responsabilidade de os educar e ensinar.

    A nossa civilização atingiu tamanha perfeição na procriação que, ao contrário de gerações mais antigas, o corpo da fêmea engravida sem qualquer contacto físico com o macho. As fêmeas recebem o sémen do macho através de um equipamento a que chamamos inoculador genético, garantindo que a fecundação ocorre naquele momento exato.

    Tenho muita esperança de vir a ter um descendente logo que o nosso problema de sobrevivência esteja resolvido.

    Deixa-me inquieto a procriação ser um dos nossos desígnios e eu não o poder assumir. Não fossem os meus sucessos nas campanhas militares e teria uma vida muito triste.

    Elyon pôs em marcha um projeto ao qual chamou FUTURO e já íamos com cinquenta anos de trabalho árduo e ainda não se tinha encontrado um destino para os Elohim. Estes trabalhos envolviam elementos do grupo que eram altamente especializados em várias áreas da ciência: do transporte espacial à biologia, passando pela medicina, pela engenharia genética, pela física e muitas outras ciências.

    Todos os esforços se concentravam na busca de um planeta com condições que nos permitisse viver e procriar e, simultaneamente, onde pudessem existir as matérias-primas de que necessitamos para nos deslocarmos.

    Naquela manhã havia um frenesim anormal nas instalações do projeto FUTURO. Eram movimentações que iam para lá do normal ciclo de reuniões de trabalho que os diferentes membros da equipa de projeto organizavam diariamente, a fim de poderem progredir nos trabalhos. Eu questionava-me sobre o que se estaria a passar de tão importante para que se observasse tal movimento.

    – ÍRIS, que se passa hoje aqui no departamento? – ÍRIS era a responsável pelos estudos astronómicos do projeto FUTURO e estava muito envolvida na busca de um planeta compatível com as nossas características.

    – Acabámos de descobrir um planeta com cor azul que tem enormes reservas de água, possui também minerais e além disso tem uma atmosfera respirável sem exigir nenhum equipamento especial para o podermos explorar ou até viver nele. O que não sabemos ainda é se tem ouro. As nossas sondas não são capazes de determinar a esta distância que minerais tem.

    – Isso é uma ótima notícia! – disse eu bastante entusiasmado.

    Na verdade, esta informação era muito importante para a nossa civilização. A indicação de existência de água naquele planeta e minerais potenciava imenso a possibilidade de nos podermos mudar – quem poderia ficar indiferente a tamanho desafio e oportunidade?

    Passaram pouco mais de duas horas e um comunicado foi distribuído pelos sistemas eletrónicos de comunicação holográficos que os Elohim utilizavam nos seus abrigos subterrâneos. Era a imagem do comandante que nos aparecia nos locais habituais convencionados para este tipo de comunicações oficiais:

    Elohim, a equipa do projeto FUTURO acaba de confirmar aos membros do Conselho as provas científicas a respeito do planeta de cor azul que há cerca de um ano estávamos a aguardar com grande esperança. Este planeta tem enormes reservas de água e possui diversos tipos de minerais, além de ter uma atmosfera respirável para os nossos organismos sem necessidade de utilizar nenhum equipamento adicional. Há uma forte possibilidade, embora não haja garantia absoluta, da existência de ouro. O próximo passo do projeto será organizar uma missão que visite o planeta para que possamos recolher mais informação e decidir sobre a nossa mudança. De agora em diante vamos referir-nos a este planeta como planeta azul. Por agora é tudo, podem continuar os vossos trabalhos.

    A voz do comandante saída daquela imagem holográfica extinguiu-se, bem como a sua imagem. Elyon tinha já vivido mais de mil e quinhentos anos e era uma individualidade muito respeitada. Era um estudioso das relações da sua civilização e conhecia muito bem as características do seu povo. Todas as descobertas relacionadas com o projeto FUTURO eram devidamente comunicadas a todos os Elohim para motivar as equipas envolvidas e estimular a progressão dos trabalhos.

    Eu tinha permanecido junto das instalações militares, onde estava instalada a equipa do projeto, e aguardava que ÍRIS saísse para comentar as notícias que foram anunciadas e que ela já tinha, em certa medida, partilhado comigo minutos antes da comunicação do comandante.

    – ÍRIS, então sempre se confirmam as notícias que me contaste?

    – Sem dúvida, JHWH.

    – Agora seguir-se-á o plano para visitar o planeta azul. Há que escolher os diferentes especialistas que vão neste primeiro voo. Olha que estou certa de que também irão incluir militares, e tu podes ser um deles. A seleção será feita no decorrer dos próximos dias –, disse ÍRIS em jeito de informação.

    – Bom, nesse caso tenho de dar uma palavrinha ao comandante, para lhe dar a conhecer que quero ir já no primeiro voo.

    Eu estava verdadeiramente interessado no projeto FUTURO e não queria perder a oportunidade que esta descoberta me poderia oferecer.

    Tinha-me alistado nas forças militares, dedicando-lhes toda a minha vida até agora, e já lá iam quinhentos anos no combate a invasões dos nossos territórios por outras civilizações que também habitavam no planeta. Contudo, com a situação criada pelo embate do asteroide no planeta, não se sabia quem teria sobrevivido, já que nos últimos cinquenta anos estávamos a viver debaixo do solo. Graças aos avançados conhecimentos científicos que tínhamos, desenvolvemos a capacidade de construir abrigos no subsolo e podíamos viver neles até um máximo de setenta e cinco anos. As provisões de água e alimentos processados davam-nos essa possibilidade, mas o tempo ia passando e nesta altura já tinham passado cinquenta anos desde a ocorrência dessa desgraça. Também os sistemas geradores de uma atmosfera respirável tinham sido concebidos para setenta e cinco anos, mas como nunca tinham sido utilizados, tínhamos dúvidas se durariam todo esse tempo.

    – Ah, como tenho saudades de passear pelos campos floridos. Banhar-me na última represa de água que tínhamos construído a oriente do local onde nos alojávamos... Uma verdadeira delícia.

    Este era um dos meus passatempos preferidos antes da hecatombe.

    Passaram-se duas semanas após o anúncio do comandante e finalmente hoje íamos saber quem seria a equipa escolhida para visitar o planeta azul.

    – Olá, ÍRIS, então também estás curiosa? – O meu semblante não escondia o nervoso miudinho.

    – Sem dúvida, eu quero muito fazer parte da equipa de visita!

    Passados minutos, recebemos a informação que tanto esperávamos – ambos tínhamos sido nomeados para a equipa de pesquisa ao planeta azul. Eu, ÍRIS e vinte e oito companheiros, entre eles Elyon e os Malachim pessoais, iriam em breve partir nessa viagem estelar que duraria alguns meses.

    O nosso departamento de transportes exteriores tinha desenvolvido uma tecnologia de transporte que permitia que as nossas naves pudessem viajar à velocidade da luz. Deste modo, seria possível chegar ao planeta azul em cerca de seis meses. Parecia muito tempo, mas à distância que estávamos desse planeta era como se fosse... já ali!

    Os preparativos para a viagem foram postos em marcha. No nosso grupo viajavam especialistas em vários domínios: militar, em que eu estava incluído, biológico e médico, estes dois com um representante cada. Os restantes tripulantes além do comandante eram o piloto e o navegador. Transportávamos mantimentos, material para construção dos alojamentos e de uma base para aterragem e descolagem das naves e combustível para seis meses. Incluímos ainda o nosso sofisticado armamento, caso o planeta azul fosse habitado por alguma civilização hostil que nos fizesse frente pondo em causa a nossa integridade.

    Nos últimos anos, a nossa tecnologia de armamento era bastante eficaz e tinha evoluído notavelmente – baseava-se na utilização da luz branca, aproveitando assim os conhecimentos utilizados na tecnologia empregue nos motores de propulsão das naves. Os feixes de alta intensidade energética eram mortais para quem os recebesse. No nosso planeta chegámos a dizimar grupos de milhares de soldados inimigos que nos ameaçavam periodicamente na tentativa de se apoderar dos nossos equipamentos. Esta tecnologia estava, porém, bem protegida nas nossas instalações. Havia procedimentos rigorosos de vigilância, o que nos permitia viver com alguma tranquilidade em caso de ataque – o alarme seria ativado de imediato e os sistemas de segurança atuariam sem demora.

    Nas semanas que se sucederam ao anúncio da partida para o planeta azul, o nosso comandante e a equipa do projeto FUTURO levaram a cabo um intenso programa de treino para toda a tripulação. Era necessário garantir que todos estávamos preparados para lidar com o desconhecido.

    À noite, quando me deitava, não deixava de pensar no silêncio desta solidão a que estava habituado e questionava-me: será que vamos encontrar vida? Será que outras civilizações povoam o planeta e serão elas hostis? Ou vamos encontrar uma civilização mais desenvolvida que a nossa e que nos poderá dominar até ao fim das nossas vidas? Se assim for, tenham cuidado, pois

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