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A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana
A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana
A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana
Ebook137 pages1 hour

A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana

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A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana nos recorda que Deus não é um Deus morto e surdo às necessidades do seu povo. O livro permite contemplar um Deus vivo e atento às misérias dos homens, que age e intervém, liberta e redime. O encontro de Jesus com os pobres, necessitados, doentes, pecadores e excluídos é o grande anúncio de como o Reino de Deus acontece na terra: pela misericórdia, pelo acolhimento dos marginalizados e pela inclusão social de quem foi e está expulso da convivência humana.
LanguagePortuguês
Release dateJun 5, 2012
ISBN9788576776871
A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana

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    A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana - Padre Mario Marcelo Coelho

    Introdução

    A mais bela experiência humana é a do amor. A mais profunda e tocante certeza é a do amor de Deus por nós. O amor não é invenção humana. O amor é divino, vem de Deus, e Ele é o Amor.

    (Pe. Ferdinando Mancilio)

    Afirmar que Deus é misericórdia é falar de um Deus com o coração cheio de amor, que em todos os instantes está presente nos caminhos da nossa vida e de nossa história, que luta ao nosso lado contra tudo o que oprime e escraviza, que aponta horizontes de esperança àqueles que andam perdidos e desorientados. É um Deus que cuida de todos os entristecidos e feridos, oferecendo-lhes a vida, o perdão e a salvação – um Deus cujo coração se volta para os miseráveis.

    A misericórdia divina está no início de tudo e é ela que exige e torna possível a misericórdia de uns para com os outros; então, o mais importante para nós é ter uma experiência renovada da misericórdia de Deus e, consequentemente, sermos misericordiosos. Esta é a experiência de Deus por excelência.

    A misericórdia é o coração da mensagem bíblica. O Antigo Testamento afirma que Deus é um Deus piedoso e misericordioso (Ex 34,6; Sl 85,15; etc.) enquanto o Novo Testamento o chama de Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação (2Cor 1,3; cf. Ef 2,4).

    O termo misericórdia significa de modo literal ter o próprio coração (cor) próximo aos pobres (miseri); ter um coração para os pobres, os miseráveis, os necessitados de qualquer espécie. A misericórdia expressa a soberania de Deus que, em sua compaixão e bondade, mostra a sua santidade e sua grandeza. Deus é um Deus que vê a miséria do seu povo, escuta o seu grito e desce até ele:

    O Senhor lhe disse: "Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o grito de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel. (Ex 3,7).

    Deus não é um Deus morto e surdo às necessidades do seu povo; Ele é um Deus vivo que está atento às misérias dos homens, que fala, que age e intervém, que liberta e redime. Afirma o Papa Francisco:

    A salvação que Deus nos oferece é obra da sua misericórdia. Não há ação humana, por melhor que seja, que nos faça merecer tão grande dom. Por pura graça, Deus nos atrai para nos unir a Si.¹

    Moisés intercede, lembra a Deus da sua promessa e Lhe pede para ser piedoso e misericordioso: Mostra-me o teu rosto; Mostrai-me vossa glória (Ex 33,18). Deus fala a Moisés o seu nome enquanto passa diante dele:

    E o Senhor respondeu: Farei passar diante de ti toda a minha bondade e proclamarei meu nome, ‘Senhor’, na tua presença. A quem mostro meu favor, eu o mostro; a quem demonstro misericórdia, eu a demonstro. (Ex 33,19)

    Disse o Papa Bento XVI, na homilia de beatificação do Papa João Paulo II, no dia 1º de maio de 2011:

    Ele (João Paulo II) interpretou para nós o mistério pascal como o mistério da divina misericórdia. Ele escreveu em seu último livro: O limite imposto ao mal é definitivamente a divina misericórdia².

    Ainda segundo o Papa Bento XVI, João Paulo II queria dizer que ‘apenas a divina Misericórdia é capaz de colocar um limite para o mal’ e que ‘apenas o amor onipotente de Deus pode derrotá-lo...’.

    Pelo Mistério Pascal, da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, somos convidados a mergulhar no mistério da misericórdia, da compaixão de Jesus. Compaixão é sentir a dor, o sofrimento do outro; é sentir com o outro. Jesus, em todos os momentos em que se deparava com o sofrimento do povo, movia-se de compaixão (cf. Mt 14,14-20.34), ou seja, sentia a dor dos necessitados e assim os curava, dava-lhes pão, libertava-os dos espíritos malignos e os ressuscitava!

    Desse modo, Jesus revelava o rosto de um Deus misericordioso que se volta com amor infinito e doa o seu coração aos miseráveis, aos necessitados, aos pequenos, aos pobres e aos sofredores. A intervenção de Jesus a favor dos necessitados é plena de compaixão; Ele via como as pessoas sofriam e, amando-as ao extremo, dava-lhes vida nova, restituindo-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus.

    O querigma é trinitário. É o fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai.³

    Quanto à Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, notemos que

    o mistério pascal é o ponto culminante da revelação e atuação da misericórdia, capaz de justificar o homem, e de restabelecer a justiça como realização do desígnio salvífico que Deus, desde o princípio, tinha querido realizar no homem e, por meio do homem, no mundo, Cristo, ao sofrer, interpela todo e cada homem e não apenas o homem crente. Até o homem que não crê poderá descobrir nele a eloquência da solidariedade com o destino humano, bem como a harmoniosa plenitude da dedicação desinteressada à causa do homem, à verdade e ao amor.

    Lembremo-nos, também, do que dizem as Sagradas Escrituras:

    Porém, a misericórdia do Senhor não acaba, nem se esgota a sua compaixão. Cada manhã ela se renova; é grande a tua fidelidade. (...) Bom é esperar em silêncio a salvação do Senhor. (Lm 3,22-23.26)

    Consciente da fidelidade do Senhor, o Papa Francisco convida

    todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído.

    Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada. Este é o momento para dizer a Jesus Cristo: Senhor, deixei-me enganar, de mil maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para renovar a minha aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me mais uma vez nos vossos braços redentores.

    Como nos faz bem voltar para Ele, quando nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus nunca Se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a perdoar setenta vezes sete (Mt 18,22) dá-nos o exemplo: Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria.

    Compreender Deus, o Pai das Misericórdias, é contemplar o amor e a ternura do Deus rico em misericórdia que se derramam sobre todos os homens e, de forma especial, sobre os pobres, os oprimidos, os excluídos, os necessitados de qualquer espécie. No Evangelho de Mateus 11,28-30, lemos:

    Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

    e, ao ouvirmos o convite de Jesus para irmos a Ele, sentimo-nos exortados a regressar ao grande amor com que Deus nos amou, tornando-nos seus amigos e filhos. Somente ao nos aproximar do Coração de Jesus é que podemos compreender a grandeza da misericórdia do Pai e a graça da filiação divina que o Pai nos concedeu.

    Contemplar o Pai das misericórdias nos leva a assumir a missão que o Filho nos confiou, e, conforme o Papa Francisco insiste, a missão da Igreja (nossa missão) é

    curar as feridas do coração, abrir as portas, libertar, dizer que Deus é bom, que Deus perdoa tudo, que Deus é Pai, que Deus é ternura, que Deus nos espera sempre... Curar, erguer-se, libertar, expulsar os demônios.

    O cristão é um simples operário do Reino, um ministro de Cristo quando cura os feridos que esperam nos corredores da Igreja, um hospital de campanha.

    1 FRANCISCO, Evangelii Gaudium. São Paulo: São Paulo: Loyola, 2013, n.112.

    2 GIOVANNI PAOLO II, Memoria e identità. Milano: Rizzoli, 2005, p.70.

    3 FRANCISCO, Evangelii Gaudium. São Paulo: São Paulo: Loyola, 2013, n.164.

    4 JOÃO PAULO II, Dives in Misericordia. São Paulo: Paulinas, 1998, n.7.

    5 Cf. FRANCISCO, Evangelii Gaudium. São Paulo: Loyola, 2013, n.3.

    6 FRANCISCO, Homilia, 05 de fevereiro de 2015. Missa celebrada na Casa Santa Marta.

    CAPÍTULO PRIMEIRO

    O Deus da Misericórdia revelado no Antigo Testamento

    Deus é Pai de todas as misericórdias e de toda a consolação

    Os capítulos 32 a 34 do livro do Êxodo relatam

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