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Minha mo est suja. Preciso cort-la. No adianta lavar. A gua est podre. Nem ensaboar. O sabo ruim.

. A mo est suja, suja h muitos anos. A princpio oculta no bolso da cala, quem o saberia? Gente me chamava na ponta do gesto. Eu seguia, duro. A mo escondida no corpo espalhava seu escuro rastro. E vi que era igual us-la ou guard-la. O nojo era um s. Ai, quantas noites no fundo da casa lavei essa mo, poli-a, escovei-a. Cristal ou diamante, por maior contraste, quisera torn-la, ou mesmo, por fim, uma simples mo branca, mo limpa de homem, que se pode pegar e levar boca ou prender nossa num desses momentos em que dois se confessam sem dizer palavra... A mo incurvel abre dedos sujos. E era um sujo vil, no sujo de terra, sujo de carvo, casca de ferida, suor na camisa de quem trabalhou. Era um triste sujo feito de doena e de mortal desgosto na pele enfarada. No era sujo preto o preto to puro

numa coisa branca. Era sujo pardo, pardo, tardo, cardo. Intil reter a ignbil mo suja posta sobre a mesa. Depressa, cort-la, faz-la em pedaos e jog-la ao mar! Com o tempo, a esperana e seus maquinismos, outra mo vir pura transparente colar-se a meu brao.

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