O Banqueiro Anarquista
By Fernando Pessoa and Ilídio Vasco
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About this ebook
Usando de uma lógica inabalável, o Banqueiro irá demonstrar ao amigo, que o interpela de tempos a tempos para manter a ideia dialogante da trama, que ele é que é «o verdadeiro anarquista».
Nas palavras do poeta português Arnaldo Saraiva, esta «É uma história impressionante, de inteligência, de raciocínio, diria até de humor, do tipo britânico. Este conto, ou novela, magistral, muito bem escrito e, também, cheio de filosofia política e de ironia política, é uma página digna de figurar entre os melhores textos irónicos que já se escreveu.»
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa, one of the founders of modernism, was born in Lisbon in 1888. He grew up in Durban, South Africa, where his stepfather was Portuguese consul. He returned to Lisbon in 1905 and worked as a clerk in an import-export company until his death in 1935. Most of Pessoa's writing was not published during his lifetime; The Book of Disquiet first came out in Portugal in 1982. Since its first publication, it has been hailed as a classic.
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O Banqueiro Anarquista - Fernando Pessoa
O BANQUEIRO ANARQUISTA
Título: O Banqueiro Anarquista
Autor: Fernando Pessoa
© Guerra e Paz, Editores, Lda, 2021
Reservados todos os direitos
A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico.
Revisão: Maria José Batista
Design: Ilídio J.B. Vasco
Isbn: 978-989-702-643-0
Guerra e Paz, Editores, Lda
R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.
1150-105 Lisboa
Tel.: 213 144 488 / Fax: 213 144 489
E-mail: guerraepaz@guerraepaz.pt
www.guerraepaz.pt
ÍNDICE
Nota introdutória: Libertei um. Libertei-me a mim.
O Banqueiro Anarquista
Outros Textos que nos ajudam a compreender melhor O Banqueiro Anarquista
Ficções do Interlúdio
Nestes desdobramentos de personalidade ou, antes, invenções…
Tábua Bibliográfica
Carta a Adolfo Casais Monteiro
Carta a Adolfo Casais Monteiro
NOTA INTRODUTÓRIA:LIBERTEI UM. LIBERTEI-ME A MIM.
por Manuel S. Fonseca
O autor
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em 13 de Junho de 1888, em Lisboa. Foi também em Lisboa que morreu, em 30 de Novembro de 1935, já Salazar estava no poder em Portugal e já Adolf Hitler era chanceler da Alemanha.
Perdeu cedo o pai, que morreu tuberculoso. A mãe voltou a casar e Fernando, menino de sua mãe, foi com a família para Durban, onde fez os estudos secundários e chegou a frequentar o equivalente ao primeiro ano de universidade.
Regressa a Portugal, sozinho, em 1905, com 17 anos. Matricula-se no Curso Superior de Letras, que depressa abandona. Nunca casou, nem mesmo com Ofélia, e deu-se maravilhosamente com dois tios e com os sobrinhos. Frequentou a Brasileira do Chiado e o Martinho da Arcada. Em 1915, participa no pequeno grupo que cria e lança, com competente escândalo vanguardista, a revista Orpheu, peça fundadora do modernismo em Portugal. Pessoa e o engenheiro Álvaro de Campos foram dois dos autores publicados.
Em 1917, publica na revista Portugal Futurista. Em 1924, publica a revista Athena, revista que seria animada pelas principais máscaras pessoanas, Caeiro, Campos, Reis e Pessoa Ele-mesmo. Em 1927, publica na revista Presença, lançada em 10 de Março desse ano. Em 1934, Pessoa edita o seu primeiro livro em Portugal, A Mensagem. Nestas aventuras de vanguarda acompanharam-no figuras como Mário Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Santa-Rita Pintor, Ângelo Lima, Amadeu Souza-Cardoso, José Pacheco, António Ferro e Raul Leal.
Fernando Pessoa foi nacionalista e sebastianista, polemista político, pela sua boca ou pela boca de Álvaro de Campos. Foi também filósofo de ofício quando encarnou em António Mora ou, por fatalismo e desassossego, quando se assinou Bernardo Soares ou, intempestiva e futuristicamente, quando calhou Campos e Ele-mesmo digladiarem intestinamente.
Foi complexo e simples. Tanto lhe deram arroubos sonoros, tonitruantes, uivos marinhos e um versolibrismo de grande fôlego à Whitman, como escreveu singelas quadras populares.
Fernando Pessoa, enquanto jovem artista, foi um defensor do movimento da Renascença Portuguesa, que integrou, para mais tarde ser exuberantemente pagão e amoral.
Escreveu novelas e sabia, como este livro bem demonstra, o que era ser banqueiro, o que bem poderia ter sido, por tanto ter estudado o comércio e a contabilidade, sobre o que deixou também prosa competente. Não se pode dizer que tenha tido muito êxito financeiro prático: levou à falência as duas empresas que criou, uma tipografia (Ibis) e uma editora e agência (Olisipo). Deu-se à astrologia. E o esoterismo deu-lhe a ele conselhos e vozes do além de que deixou testemunho.
Arrisquemos uma teoria especulativa. Fernando Pessoa estava rodeado de personagens que não sabiam escrever. Vieram ter com ele Caeiro, Reis, o engenheiro Álvaro, o escriturário Bernardo Soares. Não sabiam escrever. Pessoa decide então, fingindo que não, escrever por todos eles, dando a cada um estilo próprio. Outrar, ser outro, é esse processo de fingimento.
A outrar de banqueiro (ou de anarquista?), Fernando Pessoa publicou O Banqueiro Anarquista, em Maio de 1922, no primeiro número da revista Contemporânea, revista feita «expressamente para gente civilizada e para civilizar gente». Da Contemporânea publicar-se-iam 13 números.
O banqueiro
É impossível que Fernando Pessoa, e sobretudo a reconhecida genialidade artística de Fernando Pessoa, não tivesse consciência da tremenda ironia das máscaras que construía à volta da sua obra. O monólogo do banqueiro pessoano, porque é de um monólogo, por mais que se disfarce de falso diálogo socrático, que verdadeiramente se trata, não tem, ou eu não consigo encontrar-lhe, nenhuma pretensão de sociologia política, a não ser a de corroer todas as pretensões políticas, ou «ficções sociais», como Pessoa lhes chama. O texto é um divertimento literário, irónico, de experimentação pessoana das possibilidades da lógica e da contradição. Como o seria também o texto de outro «conto de raciocínio», Na Farmácia do Evaristo, porventura já escrito nesta altura, numa primeira versão, e a que Pessoa voltaria, na versão que a Guerra e Paz Editores publicou na colecção Livros Brancos, orientando os argumentos à volta da legitimidade ou ilegitimidade dos golpes de estado militares, na sequência do golpe de 1925.
Neste breve Banqueiro Anarquista, o anarquismo é um espantalho que o banqueiro atira ao ar e volta a apanhar. Com uma cabeça de banqueiro e pernas anarquistas, Fernando Pessoa dá flic--flacs prodigiosos. Como o socialismo ou o «democratismo», o anarquismo é, no pensamento pessoano, uma mentira. Não vem disso mal ao mundo, a não ser o perigo maior de a mentira ser inconsciente. Qualquer um pode divertir-se a errar, o que é de facto perigoso é mentir-se inconscientemente. O exercício deste Banqueiro Anarquista é o de tornar consciente a mentira. Pessoa, a esta sua ficção chama-lhe um conto de raciocínio e o seu modo, como também o fora Na Farmácia