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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.'■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
ÍL vista cristáo a fim de que as dúvidas se
\ dissipem e a vivencia católica se fortaiega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte_ e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
C/5

<
SUMARIO

< "Vaneaste, Galileu!"

tu
Deus atrás do "Big-Bang"
O
Os acontecimentos do Leste Europeu

Os pastores da Igreja Ortodoxa confessam

"Para compreender nossa fé", por Peter Knauer S.J.

Aínda a alma das mulheres

S. "O misterio do amor"


tu

-> A vida em Cuba, por Helio Begliomini,


00

° Livros em Estante
ce
a.

ANO XXXI JUNHO 1990 337


i; RfrRGUNTE E RESPONDEREMOS JUIMHO -1990
i Publicacao mensal N? 337

SUMARIO
DiratorResponsável:
Estévao Bettencourt OSB "Vonceste, Galileu!" 241
Autor e Redator de toda a materia Fé e Ciencias:
publicada neste periódico Deus atrás do "Big-Bang" 242
O Comunismo hoje:
Diretor-Administrador: Os acontecimentos do Leste
D. Hildebrando P. Martms OSB Europeu 252
Na Roménia:
Administracao e distribuipao: Os pastores da Igreja Ortodoxa
Edicdes Lumen Christi confessam 262
Dom Gerardo. 40 - 5? andar. S-50 1 Ambigüidade e desfiguracao:
Tel.:<021) 291-7122 "Para compreender nossa fá", por
Caixa Postal 2666 Peter Knauer S.J 269
20001 - Rio de Janeiro Rj Falsas idéias que tém vida longa:
Ainda a alma das mulheres 275
ImpressSo o EncademacSo
No teatro:
"O misterio do amor" 277
Crónica:
A vida em Cuba, por Helio
• MARQUES-SARA IVA'' Begliomini 279
GRÁfICOS £ EDITORES S.A.
Livros em Estante 284
Toli.: I0Í1I2TJ-9498 -273-944?

NO PRÓXIMO NÚMERO

338-JULHO-1990

"Quem dizeis que eu sou?" (Mt 16, 15). - O Fundamentalismo. - As Teo-


rias de Sigmund Freud. - Brasil, tecordista mundial de abortos. - Oficinas
de Orapao: que sao?

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL (12 números) :Cr$ 400,00 - Número avulso: CrS 40,00

. Hagamento (á escolha)

1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edicóes
"Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio de Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicdes "Lumen Christi" (endereco ácima).

3. ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do Mos-


teiro de Sao Bento, pagável na agencia Praga Mauá/RJ N? 0435-9. (Nao enviar através
de DOC ou depósito instantáneo - A ¡dentificacao é difícil).
"Venceste, Galileu!"
(Juliano Imperador, + 363)

O dia 1? de maio pp. na Praca Vermelha de Moscou foi diferente dos


anteriores. A imprensa divulgou urna fotografía inédita: sobre o fundo de
cena, viam-se as figuras de Marx e Lénin, e á frente um Crucifixo, que desfi
lava sustentado por um monge acompanhado de multidáo. Era impressio-
nante o contraste entre os chefes que pretenderam renovar a humanidade
com violencia e o Crucificado, despojado de toda grandeza humana, mais
forte, porém, do que os seus adversarios. Entrementes o povo protestava ve-
ementemente contra o governo comunista, dito "fascismo vermelho"; frente
á tribuna o monge, trazendo a imagem do Crucificado, clamou: "Cristo res-
suscitou!". Surpresos por tais demonstracoes, o presidente Mikhail Gorba-
chev e sua comitiva, sem dizer palavra, abandoharam a tribuna de honra sob
intensa vaia dos manifestantes!
Tal episodio lembra a declaracfo que o presidente Vaclav Havel profe
rí u aos 21/04/90, quando em Praga recebeu o Papa Joao Paulo II: "Nao sei
se eu sei o que é um milagre. Nao obstante, ouso dizer que neste momento
participo de um milagre: no país devastado pela ideología do odio, chega o
mensageiro áo amor; no país devastado pelo governo dos ignorantes, chega
o símbolo vivo da cultura".
Realmente tais fatos tém um qué de portento, dada a pujanca dos
acontecimentos desencadeados com rapidez imprevisível. - Estáo, porém,
na linha do que prediz o Apocalipse 11: a voz da Igreja, representada por
duas testemunhas, apos fazer-se ouvir em determinada regiao, é sufocada pe
los adversarios, que se regozijam por sua morte aparente; festejam a "vitó-
ria" sobre o Cristo. Acontece, porém, que'o triunfo é efémero: após tres
dias e meio (símbolo do tempo da aflicao), o Espirito de Deus reaviva o tes-
temunho da Igreja, que volta a apregoar o Cristo Crucificado e Ressuscitado.
Na verdade, a historia apresenta suas facetas desconcertantes; ela ultrapassa
e desmente as previsoes humanas. Foi isto, alias, que se deu, por excelencia,
na manha de Páscoa, em que Cristo voltou á vida contri toda a desesperance
dos seus próprios seguidores. A historia revela a presenca de Deus neste
mundo. Revela também a existencia do homem "eterno", ou seja, do ho-
mem que o Criador fez para Si e que nao tolera seja definitivamente "acha
tado" pelas maquinacoes do ateísmo. A historia confirma outrossim que o
Aleluia da ressurreicáo está ¡nspparavelmente associado á Cruz e ao sofrí-
mento; a dor do cristao é pela Escritura comparada ás dores do parto (cf. Jo
16, 20-22); é sofrimento preahe de vitalidade e de indefectfvel esperanca.

Possam os acontecimentos do Leste europeu reavivar a fé dos que, por


amor a Cristo, sustentam heroicamente a sua vocagao crista neste nosso
Brasil e no mundo inteiro! E.B.

241
"PERúUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXI - N? 337 - Junho de 1990

Fé e Ciencia:

Deus Atrás do "Big-Bang"1

Em símese: O cientificismo foi cedendo á convicio de que a ciencia


nSo 4 capaz de atender a todas as demandas do homem. Em conseqüéncia,
os dentistas reconhecem mais e mais as limitacoes das suas pesquisas e en-
trevéem a necessidade da reflexio filosófica e da fé, que vao além dos hori
zontes da ciencia e propoem ao homem o sentido, o por qué, e o para qué
da existencia do mundo e da vida. Por conseguinte, hoje em dia já nao é raro
o coloquio entre dentistas, filósofos e teólogos: os primeiros apresentam a
base real e experimental de toda reflexio; os filósofos ultrapassam os limites
do empírico, atingindo os valores metafísicos ou transcendentais, inclusive a
Inteligencia Criadora, responsáveis pela ordem inteligente do Universo e do
organismo humano. Mas a própria filosofía se reconhece incapaz de respon
der aos anseios mais profundos do ser humano, de modo que ela transiere
para ulterior instancia — a Teologia - a resposta final. Esta é, pois, deduzida
da Palavra do próprío Deus, único Senhor capaz de explicar seu próprio mis
terio, como também o misterio do mundo e do homem.

Principalmente no século XIX a ciencia parecia contradizer á fé; quan-


to mais avancada, mais ocupava o espaco de Deus e da Religiao, segundo o
entender de muitos. A segunda metade do século XX já conheceu a aproxi-
macáo da ciencia em re la cao a Oeus. O cientificismo ou o crédito desmedido
ñas possibilidades de que a ciencia satisfizesse a todas as interrogacóese de
mandas do homem foi-se esvaindo. A ciencia está sempre a se revisionar, a se
corrigir e a enfrentar novas ¡ndagagoes: a solucao de um problema abre vá-

1 Big-Bang é a grande explosSo inicial que, segundo corren tes modernas, deu
origem ao universo em expansSo hoje existente.

242
DEUS ATRÁS DO "BIG-BANG"

ríos outros problemas na área das ciencias naturais. Por isto a necessidade de
urna explicacao do mundo por um fator transcendental, sxtra-mundano, que
é o próprio Deus, evidencia-se cada vez mais aos estudiosos, independente-
mente de suas concepcoes filosófico-religiosas. - É o que lembra Mons. Jul-
lien, arcebispo de Rennes (Franca), num artigo publicado no Boletim Dioce
sano de Rennes, n. 4, aos 31/01/1990.

Apresentaremos, a seguir, a traducao portuguesa deste interessante


texto.

"O Universo visível e invisível

Muitas pessoas ainda julgam que a ciencia reduz a área de Deus como
urna camisa de forca, a ponto de cancelá-la completamente do horizonte de
preocupacoes das pessoas bem informadas. Essa mentalidade cientificista,
triunfante há cem anos, pos á prava a fé da própria Santa Teresinha de Li
sie ux: 'Se soubesses... quao horrendos pensamentos me assediam!... Assalta
0 meu espirito o raciocinio dos mais ferrenhos materialistas: mais tarde, a ci
encia, ao fazer novos e incessantes progressos, explicará tudo com natura-
lídade...'1

O cientificismo está longe de ter desaparecido da mentalidade con


temporánea: as pessoas que pedem o sacramento da Crisma, exprimem, com
certa freqüéncia, as dúvidas a tal respeito.

Todavía a situagao está em ritmo de reversad. 'De modo geral, a meta-


de dos pesquisadores do CNRS declara hoje ter fé ou algo que se Ihe asseme-
1 he' lemos no Nouvel Observateur, que consagra doze páginas a esse assunto
em seu número de 21/12/1989; alias, já em maio de 1989 essa revista havia
publicado um número com o titulo 'Deus e o big-bang'. Do seu lado, a revis
ta Actual, de Janeiro de 1990, convida o leitor, no decorrer de quatorze pá
ginas, a recuar 'para além do big-bang'. La Vie, La Foi Chrétienne aujourd'
huí. Le Pólerin, Familia Chrétienne e muitos outros periódicos abordaram
essa temática, que evoca, para nos, o 'Deus Criador do céu e da térra, das
coisas visA/eis e invisfveis', que nos proclamamos todos os domingos.

dentistas humildes

Se os periódicos se preocupam com o problema, isto se deve certamen-


te ao fato de que muitos cientistas os precederam nesta caminháda. Os den
tistas atualmente preferem apresentar-se humildemente como pesquisadores.

1 Jentre dans la Vie. Derniers entretiens. Cerf DDB 1973, p. 223.

243
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

Colocam para si e para nos, sempre em maior número, as questoes apaixo-


nantes que surgem por tras das maravilhas do infinitamente grande e do in
finitamente pequeño, que eles exploram e cujas fronte ¡ras recuam á medida
que vao fazendo suas descobertas. Pesquisadores de fama internacional com-
partilham conosco seu saber e suas interrogacoes, como, por exemplo, Ste-
phen Hawking em sua 'Breve historia do Tempo'.1

Outros, chegando aos limites da sua disciplina científica, entrevéem


questoes filosóficas para responder ás quais nao se sentem preparados, de
modo que as transferem para os filósofos. Assim fez Jean Heidmann na
L'Odyssée Cosmique3: para ele, o universo é misterioso,3 como alias para
Andrei Sakharov em seu testamento espiritual.

. .. E crentes

Ná"o é significativo o fato de que as edicoes Beauchesne tenham inicia


do urna nova colecao em 1988 sob o título 'dentistas e crentes'? Nessa
sérir alguns pesquisadores dSo seu testemunho" e o Professor Delumeau
apresenta o depoimentó de dezenove dentistas sob o título 'O cientista e a
fé'. Essas declaracóes todas coincidem com as conclusoes de um coloquio so
bre 'Ciencias e Perspectivas do Homem' realizado em Roma no ano de 1986
pela Associacao Science, Philosophie et TMologie5; nesse Coloquio o físico
André Girard dectarou: 'A ciencia nos restituí a legitimidade do misterio'.6

As origens da vida

Acabamos de ouvir os ecos da evolucao das mentalidades por ocasiao

1 Du Big-Bang au trou noir (Da grande explosSo ao buraco preto). Flamma-


rion 1987,236 pp.
3 L'Odyssóe Cosmique. Que I destín pour l'univers? (A Odisséia cósmica.
Que destino haverápara o universo?). Dendél París 1986, p.54e 128.

3 Id. p.11
4 Nouval Observateur, 21/12/1989, p. 49.
5 Domlnique Laplane, un neurologue, 120 p. Entretiens avec Jacques
Vautier.
Id Jacques Arsac, un informaticien, id. 117p.

6 Flammarion 1989, 309 p.

244
DEUS ATRÁS DO "BIG-BANG'

da Mesa Redonda organizada em Rennes sobre as origens da vida:1 perante


um auditorio denso, os participantes, peritos e assistentes, deram ampio es
papo aos debates sobre as questoes filosóficas e religiosas subjacentes ao te
ma. Um professor de Geofísica suscitou reacoes diversas na sala quando, le
vado talvez por sua impetuosidade, afirmou que a maioria doscientistas no-
je sao crentes. Um filósofo entao levantou o problema: a origem dos viventes
nao é a origem da vida; fica, por ¡sto, a questao de definirmoso sentido da
vida, para além dos condicionamentos físico-químicos do pensamento e do
funcionamento do cerebro. 'Que faco aqui e agora?', perguntou ele. - 'Ba-
rulho; é o que registraría um gravador. Todavia nao é apenas barulho; é urna
palavra, sao sons articulados por alguém que os formula, e decodificados por
aquele que ouve esses sons que tém um sentido. Mas donde vem esse sen
tido?'.

Os pesquisadores passam o desafio aos filósofos...

Para fazer urna abordagem filosófica, creio que temos de aprofundar a


distincao clássica: a ciencia coloca a questao do como; a filosofía coloca a do
sentido e a do por qué. Nao podemos pedir ao cientista como tal que res
ponda á questao do por qué, mas podemos e devemos pedir-lhe que nao dis
simule essa questao. Já que ele nao tem os meios para responder-lhe, fácil
mente é tentado a esvaziá-la. Felizmente a maioria dos pesquisadores hoje
reconhece os limites da sua disciplina e passa o problema a estudiosos deou-
tras áreas.

Os filósofos (e os teólogos) devem ser humildes também eles e escutar


dócilmente os dentistas quando estes Ihes descrevem, segundo as grandes
teorías incessantemente revisionadas, as maravilhas do como do universo em
expansao, da formacao da crosta terrestre, da estrutura do átomo ou do fun
cionamento do cerebro. Contudo nao devem pecar por excesso de humilda-
de, deixando aos dentistas o monopolio do como. De que modo o real
pode ser entendido? A lógica que preside ás galaxias, por exemplo, ou ás
nossas células, supoe um Logos, urna ordem, um sentido, urna inteligencia
inscrita no seu ser e na sua evolucao. Como explicar essa inteligencia? 'É o
absurdo do absurdo que me obriga a aceitar o misterio', diz Jean Guitton'.2

Alguns cientistas chegam mesmo a invocar 'o principio antrópico': tu-


do acontece como se o universo tivesse sido disposto para que pudesse so-

1 Revue des Questions Sctomifiques, Rué dé Bruxelles 61B, 5000 Namur


n. 1-2/1988.

2 L' Absurda et le Mystére, ÜDB 1984, p. 73.

245
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

brevir o anthropos, o homem. Ora já nisto estao fazendo filosofía, como fa-
zia Teilhard de Chardin. Mas podemos nao filosofar em absoluto? Que o uni
verso se dilate com a mesma velocidade em todas as direcoes, isto já parece
milagroso a John Barrow.1 'Incrível universo', 'um enigma mi leñar', exclama
do seu lado J. Heidmann2. Também filosofam aqueles que recusam as ques-
toes do sentido e do por qué. Estas perguntas filosóficas levam a uma inter-
rogagao religiosa: que é (ou quem é), pois, essa lógica, esse Logos? Que é (ou
quem é), pois, essa fonte? Que é (ou quem é), pois, essa inteligencia? E que
pode significar o seu projeto sobre o universo e sobre o mundo?

Este tipo de perguntas ultrapassa evidentemente os dados da ciencia,


mesmo que nao seja tao estranho a esta como alguns presumem. Vao além
dos limites da filosofía e da razao pura, ainda que nestas tenham as suas raí-
zes. Interpelam o homem todo inteiro, o seu coracao (no sentido de Pascal).
As respostas e, de certo modo, também as perguntas nao decorrem de uma
abordagem matemática ou meramente lógica. Supoem uma certa inclinacao,
uma abertura humilde e já amorosa em relacao ao que transcende o homem.

... E os filósofos o passam aos crentes

Para o homem nao há resposta clara a tais questoes. A menos que a


fonte se revele e, atrás do balbuciar das criaturas, o Criador nos dirija a Pala-
vra para nos desvendar o sentido destas, e nos revelar, ao mesmo tempo, o
mundo, Ele mesmo e nos, os homens criados á sua imagem e semelhanca. As
criaturas inacabadas, gemendo ñas dores do parto (Rm 8, 22), nao sao trans
parentes (menos o sao ainda se pensamos no lancinante problema do mal e
do sofrimento!). Como todos os sinais, as criaturas nos poem a caminho,
mas nao nos dispensam de um salto para dentro da fé. Esta se desenvolve
num outro plano de conhecimento: é a acolhida humilde da Palavra de Deus
e 'a obediencia da fé' (Rm 1, 5). Mesmo que possa ser uma provacao para a
inteligencia, a fé nao é a negacao da inteligencia; ao contrario, 'a inteligencia
da inteligencia é a humildade, a capacidade de reconhecer os seus limites.
'Vos seréis como deuses', diz Sata... mas a verdade do homem implica humil
dade, aceitagao dos seus coméeos e da sua historia'.3

O homem que se abre á Palavra de Deus, pode ouvir com Sao Joao a
revelacao do sentido: 'No com eco era o Verbo, e o Verbo estava junto a

1 John Barrow, L'Homrrw et le Cosmos. Imago 1984, p.12.


2 L'Odyssóe Cosmique, op. cít. p. 12 e 21.
3 J. Jultien na obra colativa: Des motifs d'espárer, la procréation arttf icielle.
Cerf. París 1986, p. 129, cf. p. 117.

246
DEUS ATRÁS DO "Blp-BANG"

Deus e o Verbo era Deus. No comego Ele estava junto a Daus. Por Ele tudo
fo¡ feito e sem Ele-nada fo¡ feito do que existe. Nele estava a Vida e a Vida
era a luz dos homens' (Jo 1, 1-5). Comenta S. Ireneu: 'Pela criocab, o Verbo
revela o Deus Criador; pelo mundo. Ele revela o Senhor que imprime ordem
ao mundo; pelos artefatos. Ele revela o Artesáo que os exesutou; pelo Filho
é revelado o Pai que gerou o Filho'.1 A Biblia refere-se também aqueles que
nao vao até o fim dos seus raciocinios: 'Nao merecem senáo breve repreen-
sao, pois tal vez se extraviem buscando a Deus e querendo encontrá-Lo. Vi-
vendo no meio de suas obras, exploram-nas, mas sua aparéncia os subjuga,
tanto é be lo o que véem!' (Sb 13, 6s).

A fé é de outra ordem que nao a do conhecimento científico e da re-


flexao filosófica. Importa nao as confundir. Mas também importa nao as se
parar. Quem nao percebe as questoes de sentido lancadas pelo mundo e a
própria materia, arrisca-se a cancelar o essencial do questionamento do no-
mem sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre a sua vida. Doutro lado, quem
reduz as interrogacoes dos homens áquilo que a raza o pode dizer, corre o
risco de reduzir a realidade áquilo que se pode perceber hoje. Escrevia um
velho rabino: 'O mundo está cheio de maravilhas que o homem oculta a si
mesmo com a sua pequeña mao'.

'E, se, apesar de tudo, houvesse um projeto na origem deste mundo? 0


cientista deve trabalhar como se nao houvesse tal projeto, a fim de nao
admitir um finalismo barato e guardar sua lucidez. Mas deve conservar o es
pirito aberto, a fim de nao se encerrar num dogmatismo que também Ihe ti
raría a lucidez', estima Hubert Reevs.2

A fé nao tem por objetivo remediar quase mágicamente aos limites da


ciencia. Se o crente é assaz humilde para se deixar instruir pelos cientistas,
estes o ajudarao a tomar posse do mundo que Deus Ihe confiou para admira-
lo, administrá-lo e terminá-lo: longe de esvaziar o aspecto religioso da vida
humana, os avanpos da ciencia podem, ao contrario, alimentar o louvor e a
acao de grapas da humanidade,3 convidando-a, ao mesmo tempo, a fazer
deste mundo urna casa para os homens. A mediacao da filosofía também é
importante, pois a fé nao é fideísmo.4 0 Senhor quer que nossa fé seja inte-

1 Contra as Heresias IV 6/6.


1 Hubert Reeves, L'Homme et Ib Cosmos, op. cit, p. 110.
3 X. Le Pichón, Le Savant et la Foi, op. cit p. 1.
4 Por fideísmo entende-se a fé cega, que nao pede credenciais ou razdes para
crer. (N. d. T.).

247
8 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

ligente e Ele nos apresenta sinais da sua presenta e da sua agao para nos aju-
dar a abrir os ouvidos e os olhos, a fim de ouvirmos a sua Palavra e a por-
mos em prática.

A atual evolucáo da cultura, longe de alimentar o litigio entre a cien


cia, a filosofía e a teologia, leva-as a se interrogar mutuamente e mesmo a
progredir, cada qual na sua esfera, sem esquecer, ñas fronteiras das tres, a
questao vital da Ética, importante, por exemplo, a propósito dos problemas
de Genética, energía nuclear e química. Sem dúvida, a cultura abre enorme
campo de trabalho ao homem do século XX, mas, para que esse campo fique
aberto, ser-nos-á necessário inventar urna sabedoria á medida do nosso po
der."1

A exposicáo de Mons. Judien pode ser assim recapitulada:

1) A pesquisa científica do universo deixa o estudioso humilde, longe


do cientificismo que absolutiza a ciencia como chave para responder ás inda-
gacoes e aspiracoes.2

1 Cf. G. Friedmann, La Puissance et la Sagesse - NRF 1970.


Aínda em 23/02/90, o Jornal do Brasil, 1? caderno, p. 10, publicava a se-
guinte noticia:

"WASHINGTON - Urna equipe internacional de astrónomos deseo-


briu urna gigantesca fileira de galaxias que lembra urna palicada - especie de
cerca descontinua cujos elementos sao aglomerados de galaxias prolongán
dose por milhoes de anos-luz (um ano-luz equivale a nove trilhoes de quiló
metros). Descrita num artigo para a revista científica Nature, a palicada cós
mica desafia o conceito fundamental de que o Universo sería um espaco uni
forme. Se essa descoberta for confirmada, os dentistas terao que voltar ao
quadro-negro, diz Nick ñaiser, professor de Astronomía da Universidade de
Toronto, no Canadá.

A palicada cósmica, onde cada conjunto de galaxias forma um segmen


to de galaxias que se repete a intervalos regulares, pode obrigar os den
tistas a revisarvm suas teorías sobre a formacio do Universo, e está sendo
encarada com um misto de entusiasmo e ceticismo. Nenhuma teoría pro
posta ata agora consegue explicar como o Universo pode ter urna estru-
tura tao grande e regular, diz David Koo, astrónomo da Universidade da
California que participou da descoberta. , . „.„.
(continua na p. 249)

248
DEUS ATRÁS DO "BIG-BANG" 9

2) A humildade decorre nao somente de que a ciencia está sempre co


locada diante de novos e novos desafios no plano mesmo da pesquisa, mas
também do fato de que ela é incapaz de responder a perguntas fundamentáis
que surgem na mente humana á medida que o pesquisador vai estudando:
qual o sentido do universo, da vida, do homem? Por que isso tudo existe?
Parece haver urna Inteligencia (= Logos) que preside á lógica ou ás sabias
leis da natureza, ... Inteligencia que a Filosofía depreende, ao raciocinar so
bre os dados fornecidos pelas ciencias empíricas.

3) Todavía a própria Filosofía nao profere a resposta cabal para as in-


terrogacoes do homem, pois certos misterios (como o do mal e o do sofri-
mento) nao sao explicáveis apenas pela razao. "A Filosofía poe o homem na
estrada, mas nao o dispensa do salto para dentro da fé".

4} Por conseguinte, a própria razao humana indica ao homem o recur


so aos dados da fé ou á Palavra de Deus, que revela a si e o seu plano criador
em termos que o homem, entregue a si mesmo, nao consegue alcancar. A fé
nao sufoca a inteligencia, mas, ao contrario, é a atitude mais inteligente da
inteligencia; é a inteligencia da inteligencia.

5) Por isso dentistas, filósofos e teólogos, longe de anularem osestu-


dos uns dos outros, ao contrario se complementan! mutuamente. De um la
do, todo pensador precisa de conhecer a realidade que a ciencia investiga;
doutro lado, todo pesquisador, para satisfazer plenamente á sua procura de
verdade, precisa de saber o por qué e o para qué das maravilhas do universo
que ele vai descobrindo. De resto, todo homem, inclusive o cientista, tem
dentro de si urna tendencia a filosofar ou a fazer, através de seus estuaos e
reflexóes, urna síntese de respostas que atendam ás ¡nterrogacos que ele con
cebe dentro de si: donde venho? Para onde vou? Qual o sentido do meu tra-
balho, da minha luta, da minha vida..., da minha morte? — Em última análi-
se, somente a fé ou a visto que o Criador tem de tudo, pode responder a tais
perguntas. Daí a necessidade da síntese "ciencia empírica-filosof¡a-teolog¡a".

Por muito tempo os astrónomos acreditaran! que a gravidade — a forca


que faz os corpos se atraírem entre si — era a leí maior na composicSo do
Universo. Gra(as á gravidade, a poeira cósmica se condensarla em estrelas
que, por sua vez, formariam galaxias e os grandes aglomerados de galaxias.
De acordó com a teoría do Big Bang, é isso que teria acontecido nos 15 bi-
Ihdes de anos de existencia do Universo. A palicada cósmica, todavía, é um
conjunto grande demais de galaxias e nao poderia terse formado somente
pela forca da gravidade. Diante disso, descortinamse duas possibilidades: ou
existem outras torcas agindo ou o Universo é aínda mais velho do que se
pensa".

249
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

APÉNDICE

Transcrevemos, a seguir, urna exposicao sintética da teoria do Big-


Bang tal como Jorge Luiz Calife a redigiu e publicou no Jornal do Brasil de
23/02/90, 1? caderno, p. 10:

Um desafio á imaginadlo e á ciencia

"Quando os astrónomos comecaram a mapear o Universo, no inicio


do sáculo, descobriram que os conjuntos de galaxias pareciam estar-se afas-
tando da Térra em velocidades crescentes. Quanto mais distante um objeto,
maior sua velocidade de fuga. Era como se os aglomerados de galaxias fos-
sem fragmentos de urna granada que tivesse explodido há bilhoes de anos.
Esse fenómeno deu origem á teoria do Big-Bang, segundo a qual o Universo
se condensou a partir dos fragmentos de urna gigantesca explosao.

A partir das velocidades relativas, observadas ñas galaxias mais distan


tes, a apoca da explosao foi calculada em aproximadamente 15 bilhoes de
anos. Nessa época, urna massa de materia comprimida teria explodido numa
nuvem de energía e partículas elementares, aquecidas a urna temperatura ¡ni-
maginável. Á medida em que o Universo esfriava, a materia se condensava
em átomos, que formavam gas hidrogénio. Esse gas, movido pela forca da
gravidade, se reunia em concentracóes de materia. Desses núcleos de materia
teriam surgido as estrelas e as galaxias.

A teoria do Big-Bang ganhou apoio da maior parte da comunidade ci


entífica depois que os radiotelescopios, gigantescas antenas de radio, capta-
ram urna radiacao de fundo: um brilho cósmico vindo de todas as regioes do
espapo, que seria a energia restante da grande explosao. No entanto, a teoria
nao é aceita por todos os astrónomos e físicos. Um pequeño grupo acredita
que o Universo é eterno, nao teve comeco e nem terá fim. É a teoria do esta
do constante.

Defensores dessa teoria, como o físico brasileiro Mario Novello, acham


que o Universo passa por contracoes e expansSes e que nos estaríamos viven-
do num período de expansao, quando as galaxias se afastam urnas das ou-
tras. Materia e energia estar¡am sendo criadas o tempo todo, num processo
eterno e infindável. Ainda é cedo para afirmar qual dos pontos de vista será
beneficiado pela descoberta dos gigantescos feixes de galaxias que formam
as muralhas e palicadas cósmicas".

Tomamos a liberdade de acrescentar, á guisa de comentario, que a teo


ria da eternidade do Universo faz do Universo um Absoluto ou um Deus. Só

250
DEUS ATRÁS DO "BIG-BANG" 11

Deus é eterno; só Deus nao teve comeco e nao terá fim. O eterno é perfeito;
nao evolui, como o Universo evolui.

Ver a propósito a obra de Dadeus Grings: A Descoberta Científ¡ca de


Deus. Ensaio de Diálogo Pos-Científico. Porto Alegre 1989 — Brevemente
apresentado á p. 287 deste fascículo.

(continuado da p. 283)

vem desconhecia a perseguicao religiosa que a Igreja sofreu com a revolucao,


sobretudo em seu inicio: templos fechados; Religiosos e fiéis presos, exila
dos ou mortos; proibicao de abertura de novas igrejas; restricáo da prática
religiosa sob a estrita tutela do Estado, etc. etc. Atualmente, evidencia-sé
maior tolerancia para com .a religiao. As igrejas, da mesma forma que outras
habitacoes, tém conservacáo deficitaria. Do ponto de vista litúrgico, vale a
pena comentar alguns detalhes. Os sacerdotes utilizam rotineiramente a ca-
sula na celebracao da Santa Missa, propicia para se criar um caráter mais sa
grado na cerimónia (no Brasil, salvo raras festas e lugares, transformou-se
em peca de museu, sendo desconhecida de boa parte dos fiéis). O sermao
em geral é previamente preparado e despojado de caráter político. Acomu-
nhao é distribuida direta mente na boca ou ñas maos. Paradoxalmente em re-
lacao ao que ocorre em outros países comunistas, onde, apesar da persegui
cao religiosa, a fé prospera e se multiplica, püdemos sentir urna Igreja esta
cionaria ou mesmo decadente. A freqüéncia á Santa Missa é baixíssima, pre-
enchendo 20 a 40% da capacidade das igrejas. A predominancia é de sen ho
ras idosas. Chancas e jovens sao urna minoria. O indiferentismo religioso ga
lopa para o apogeu. Numa das Missas de final de semana de que participa
mos, havia cerca de quinze cubanos, e seguramente cerca de sete a oito vezes
mais turistas estrangeiros. A impressáo é de que Cuba precisa de ser reevan-
gelizada, necessitando a Igreja de eclodir do estado de quiescencia em qué se
encontra.

Estas observacSes nao visam a julgar, e muito menos depreciar, o


trabalho religioso em Cuba. Ao contrario, procurando ser a descricao fiel do
que foi visto e sentido, possam proporcionar subsidios para compartilhar-
mos as lutas e dores dos católicos de Cuba. Que os santos ceifados pela revo
lucao intercedam junto a Deus pela Igreja cubana!

251
O Comunismo hoje:

Os Acontecimentos do Leste
Europeu

Em si'ntese: Os acontecimentos do Leste Europeu no fím de 1989 sao


ríeos de significado. Antes do mais, equivalen ao fracasso da ideología mar-
xista-leninista, que, em vez de levar os homens a desfrutar, com Justica, dos
bens deste mundo, sem expforagao de classes, acarretou a restauracSo da
opressSo (os dirigentes constituían) a classe nobre, privilegiada em relacio ao
povoi; acarretou também a miseria material ou a carencia de bens essenciais,
como víveres, roupas, calcados... Foi esta situacio de vida indigna do ser hu
mano que levou as massas á revolta. No plano religioso, registrase, entre ou-
tros fatos, a visita do Presidente Gorbachev ao Papa Joio Paulo II, que foi
antSo convidado a visitar a URSS. Após setenta anos de violenta perseguicio
á fé na Rússia, tal visita do dirigente soviético 6 sinal de que os valores reli
giosos, embora espezinhados, conservam a vivacidade de sua linguagem e a
sua vitalidade capaz de sobreviver aos próprios perseguidores. A mensagem
da fé revelase como foco de esperanca para o homem, que, tendo tentado
outras respostas, se senté decepcionado e se volta agora para o seu Fim Su
premo.

Verdade é que a perestroika encontra resistencias serias no interior de


própria URSS, pois hé dirigentes do país que nSo querem perder o seu po
der. É de crer, porém, que os temóos ingratos de escravidSo nao retornarao.

A URSS, sob o regirme marxista, conheceu inegável progresso no cam


po das ciencias e das pesquisas. Infelizmente, porém, estes avancos serviram
mais para militarizar o país do que aliviar as condiedes da economía da po
pulacho.

Os últimos meses tém apresentado ao mundo bruscos e importantes


acontecimentos no bloco comunista da Europa Oriental e da Rússia Soviéti
ca. Sao acontecimentos que marcarSo fortemente o futuro da humanidade,
talvez mais do que a própria Revolucao Francesa, cujo tricentenario foi cele
brado em 14/07/1989: a queda do Muro de Berlim, o derrubamento dos go-

252
OS ACONTECIMENTOS DO LESTE EUROPEU n

vernos totalitarios de esquerda na Polonia, na Hungria, na Roménia, na Ale


mán ha Oriental... a visita de Gorbachev a Joao Paulo II, o despertar do nacio
nalismo de povos submetidos pela forca ao regime soviético... sao fatos que,
pela pujanca de suas dimensoes, sua simultaneidade e sua imprevisibilidade,
dao que pensar ao observador; supóem antecedentes poderosos que assim
repentinamente vieram á tona.

Ñas páginas subseqüentes, procuraremos detectar o sentido de tais


eventos na medida em que já possa ser apontado. Para tanto, distinguiremos
tres aspectos: o ideológico,1 o político e o religioso.

1. O aspecto ideológico

Antes do mais, pode-se dizer que a convulsáo verificada no Leste Eu-


ropeu em 1989 significa a falencia do comunismo...

Talvez, porém, alguém replique:. .. nao do comunismo como tal, mas


daquela forma particular de comunismo que se realizou mediante a revolu-
cao leninista de outubro de 1917 na Rússia e, posteriormente, nos países sa
télites; dir-se-á talvez - como já foi dito por defensores do comunismo -
que nSo se tratava de auténtico comunismo, mas de um coletivismo burocrá
tico de capitalismo de Estado. Por isto nao se deveria falar de falencia do co
munismo, mas de desmoronamento do "socialismo real" leninista e stalinista.

A réplica, porém, nao se sustenta. A falencia foi do comunismo, e nao


desta ou daquela forma de comunismo, pois na verdade nao existe alguma
realizacao concreta do comunismo que nao traga as marcas do marxismo-le
ninismo. Com efeito; o comunismo já tem mais de setenta anos de prática,
durante os quais foi implantado em diversos países do mundo, de culturas,
níveis de progresso técnico, situacoes históricas diversas. Todavía, apesar
dessas ampias variedades de paño de fundo, o sistema sempre e somente foi
caracterizado pelas notas do leninismo: impó-se e manteve-se pela violencia,
sufocou a liberdade dos cidadaos; estatizou a economía, a cultura, a educa-
cao; eliminou drásticamente os seus opositores; combateu a religiao e impds
o ateísmo. Esta experiencia sugere a pergunta: pode haver outra forma de
comunismo que nao o comunismo real marxista-leninista?

1 Por "ideología" entenderé a cosmovisSo unilateral ou tendenciosa^., ten


dente a transformar ou a manter preconceituosamente o estado de coisas vi
gente numa sociedade. O marxismo ó ideología no sentido de que só consi
dera o aspecto material da realidade e a este quer reduzír todos os valores. O
fracasso desta concepcio é precisamente o qué será analisado ñas páginas
subseqüentes.

253
J4 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

A falencia do comunismo assim registrada se efetuou nos setores polí


tico, social e económico.

1.1. Mosetor político

O comunismo prometía ser um sistema que libertaria os povos de toda


modalidade de opressao e escravidao política e social, propiciando a liberda-
de ás classes oprimidas e exploradas. Ao contrario disto, porém, implantou
urna das mais graves e duras formas de escravidao em massa que os anais da
historia registram. — O pretenso regí me de liberdade tornou-se, em todos os
países dominados, um regime de ditadura tiránica e amedrontadora.

1.2. No setor social

O comunismo tenciona superar a divisfo da sociedade em duas classes


— urna opressora e outra oprimida —, realizando a igualdade entre todos os
membros da populacho, embora tivesse que passar por urna fase "provisoria"
de "ditadura do proletariado". — Ao contrario; em todos os países comunis
tas desapareceu a classe burguesa, mas surgiu em seu lugar urna nova classe -
a dos membros do Partido, "tutora" da classe operária — com todos os privi
legios de classe dominante (no tocante á habitacáo, á compra de , géneros,
roupas, calcados, ao gozo de ferias, á promocao profesional...). Nao se deu
a ditadura do proletariado, mas a ditadura sobre o proletariado, exercida pelo
Partido nao em termos provisorios, mas de maneira definitiva. Segundo os
mentores do marxismo, o Estado desaparecería dentro do algum tempo...;
na verdade, porém, nao só nao desapareceu, mas se hipertrofiou, identifi-
cando-se com o Partido e tornando-se patrao absoluto do país.

1.3. No setor económico

O comunismo pretendía abolir a exploracao do homem pelo homem,


abolindo a propriedade e estatizando toda a economía; disto resultaría maior
produtividade e grande desenvolvimento económico, de modo a se poder
distribuir a riqueza comum a todos e a cada um segundo as suas necessida-
des. — Ora, em toda parte onde se implantou — mesmo em países ricos de
bens na turáis como a URSS, ou altamente industrializados como a Tchecos-
lováquia e a Alemanha Oriental — o comunismo acarretou baixa produtivi
dade, racionamento dos recursos essenciais (alimentacao, roupa, calcados...)
por muitos anos, desvalorizacao do dinheiro, rarefacSo dos bens de consu
mo necessários e, até mesmo... condicSes de miseria. Este aspecto - penuria e
miseria — foi certamente o que mais impressionou as massas, convencendo-
as da incapacidade do comunismo, principalmente nos últimos anos, quan-
do a facilidade dos meios de comunicacáo dava a conhecer aos cidadaos dos

254
OS ACONTECIMENTOS DO LESTE EUROPEU

países comunistas a enorme distancia existente entre o seu teor de vida e o


dos povos nao comunistas.

Feitas estas observacoes, pode-se ainda registrar, para nao cair em jul-
gamento injusto, que o comunismo proporcionou algumas melhoras aos ci-
dadaos em setores como o da assisténcia á saúde, o dos estudos científicos,
estes, porém, orientados principalmente para fazer da URSS urna grande e
ameacadora potencia militar, e nao tanto para elevar o nivel de vida da
populacho. - Estes bons resultados nao compensamos enormes danos causa
dos pelos regimes comunistas ñas diversas partes do mundo.

Á guisa de complementacao, acrescerftemos algo sobre falencia econó


mica e oomunismo.

1.4. A esséncia mesma do comunismo

A falencia da ideologia marxista no setor económico é fenómeno mui-


to complexo e muito ligado á esséncia mesma do comunismo.

Com efeito; antes do mais, o marxismo-leninismo é urna cosmovisáo


que tenciona nao apenas interpretar, mas sim transformar o mundo. Escre-
via Karl Marx na sua Quarta Tese sobre Feuerbach: "Os filósofos até agora
nao fizeram mais do que interpretar o mundo de diversos modos; o que nos
importa doravante, é a transíormacao do mundo, da historia, do homem, cri
ando um mundo novo, urna historia nova, um homem novo".

Marx dizia que, para atingir essa finalidade, era preciso libertar o ho
mem da "alienacao"; o homem seria um ser alienado ou dividido em si e nao
pertencente a si, mas a outros: a Deus, ao Estado, ao capital. Ora, segundo
Marx, Deus é urna ilusao; todavía o homem precisa de criar esta ilusáo, para
conquistar a felicidade que a sua mísera condicao económica nao Ihe propi
cia; a religiao ensina que há outra vida, na qual o homem fiel receberá o pre
mio da sua paciencia. Assim a religiao vem a ser conseqüéncia da alienacao
económica, mas tambérn é o opio que adormece o homem na expectativa
ilusoria de conseguir a felicidade postuma e o impede de trabalhar para li-
vrar-se da sua miseria económica. Diz Marx em conseqüéncia: é preciso com-
bater a religiao e livrar o homem da alienacao religiosa e do Deus ilu
sorio que ele criou para si e que o mantém escravo. Nao se trata, porém,
de combater diretamente a religiao, como fizeram na realidade os regimes
marxistas inspirados em Lénin, pois a alienacao religiosa desaparecerá por si,
quando desaparecer a alienacao económica .por queda do capitalismo e pela
¡nstauracao da ditadura do proletariado.

Na verdade, porém, a revotucao marxista nao é apenas a supressao da

255
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

alienacao capitalista; é também um humanismo no sentido de que ela subtrai


o homem a Deus e ao capital e o restitui a si mesmo, como pensa Marx.
Este, alias, afirma nos "Manuscritos económico-filosóficos de 1844" que o
comunismo é a solucáo do problema da historia.

Assim o comunismo pode ser tido como urna forma secularizada e an


titética de "teología da historia", que absolutiza o homem como ser supre
mo; sao palavras de Marx: "O homem é, para o homem, o Ser Supremo";
traz consigo a chaga do pecado original, que é a alienacao do proletariado
devida á exploracao capitalista; traz consigo também o seu messianismo; o
novo Messias é o proletariado, que redimirá o mundo da opressao capitalis
ta; proclama também a sua escatologia (a revolucao comunista proporciona
rá o paraíso sobre a Térra, fazendo a humanidade passar da necessidade para
a liberdade, da pré-história para a historia). Trata-sede urna "teología as aves-
sas", que utiliza categorías judeo-cristás (Marx era um judeu, batizado no lu-
teranismo); ... categorías, porém, que sao secularizadas, isto é, despojadas
do seu caráter transcendental: o homem é colocado em lugar de Deus, o pro
letariado no lugar de Cristo (imola-se para a salvacao do mundo); o paraíso
na Térra substituí o Reino de Deus... É, portanto, urna "teología atéia" ou
mesmo radicalmente antiteísta e anti-religiosa, pois define a religiáo como
alienacáo e ¡lusao nociva á libertacao do homem escravo do capitalismo; ape-
sar de tudo, porém, é teología no sentido de que se baseia na fé... nao em
Deus, mas no Homem e na Historia.

Essa fé, milhoes de homens a professaram a ponto de dar a vida pela


"grande causa" do comunismo, ou seja, pela criacáo de um mundo novo,
mais justo, e de um homem novo, mais lívre, nao fechado no seu nacionalis
mo, mais aberto aos horizontes internacional, disposto a lutar em todos os
recantos da Térra para que desaparecam a exploracao e a injustica e todos
possam viver na liberdade e na paz.

Nestes termos o comunismo marxista se tornou o antagonista mais ra


dical do Cristianismo, "órgao especial" do Capitalismo. Em 1846 Marx já
denunciava a incapacídade dos "principios sociais do Cristianismo, fundados
sobre o amor cristáo, para mudar a sociedade"; escrevia: "O amor cristáo
nao é capaz de transformar o mundo, nao dá a energía necessária ás refor
mas sociais. Exprime-se em frases sentimental, que nao conseguem supri
mir a estrutura da sociedade; adormece o homem com morna cantilena sen
timental. Ao contrario, é necessário dar de novo ao homem a forca". Em
1905 Lénin afirmava em Nóvala Gizn (n? 28) de 16 (na Rússia, 3) de de-
zembro de 1905: "A religiáo é o opio do povo. A religiao é urna especie de
aguárdente espiritual, na qual os escravos do capital afogam a sua personali-
dade humana e as suas reivindicacoes de urna vida mais ou menos digna do
ser humano". A seu turno. Antonio Gramsci (1937), o filósofo marxista ita-

256
OS ACONTECIMENTOS DO LESTE EUROPEU V7

liano, julgava que o marxismo destruiría o Cristianismo e ocuparía o seu


lugar.

Em conseqüéncia, entre marxismo e Cristianismo foi-se desenvolvendo


tremenda luta nao política nem económica, mas religiosa, na qual perecerám
legioes de mártires, mas que vai terminando com a derrota do comunismo.
Este, embora se conserve no poder em muitos países, faz falencia precisa
mente no tocante ao seu projeto mais ambicioso: a criacao de um mundo
novo, de urna sociedade nova, de um homem novo estruturado pelo huma
nismo ateu. Eis por que o desmoronamento do comunismo é, no seu ámago,
um evento de índole religiosa. É a falencia da tentativa de organizar um
mundo sem Deus e contra Deus; tal tentativa redundou na criacao de um
mundo contra o homem — o que bem confirma as palavras de Paulo VI:
"Sem dúvida, o homem pode organizar a térra sem Deus; mas sem Deus ele
nio a pode organizar senao contra o homem. O humanismo exclusivo
(= que exclui Deus) é um humanismo desumano". É nisto que consiste o
descalabro do comunismo.

2.0 aspecto político

Os acontecimentos do Leste europeu tém e te rao ampias conseqüén-


cias políticas nao somente para a Europa, mas para o mundo inteiro. Assim,
por exemplo, pode-se prever o apagamento da linha divisoria da Europa, tra-
cado em Yalta (Criméia, URSS) e em Postdam (Alemanha Oriental) no ano
de 1945; disto resultará a aproximacao, se nao a ¡ntegracao, na Europa Oci-
dental, de países como a Tchecoslováquia, a Hungría, a Polonia, a Alemanha
Oriental. Pode-se prever um processo de democratizacao cada vez mais am
pia desses países, com reflexos sobre as nacoes dos Baleas e sobre a própria
Uniao Soviética. É de crer que naja também urna distensao crescente entre
Ocidente e Oriente, resultando até em cooperacao económica entre países
ocidentais e países orientáis da Europa, também entre Estados Unidos e
Uniao Soviética; o desarmamento e a desmilitarizacio parcial decorrerao
daí. Desta maneira se pora o ponto final á segunda guerra mundial e ás suas
conseqüéncias.

Pergunta-se, porém: o processo que assim se delineia, será irreversível?


E, se tiver continuidade, como se desenvolverá realmente? Tais interroga-
coes safo justificadas, visto o modo brusco como as mudancas comecaram a
se dar, encontrando até hoje resistencia da parte de conservadores burocrá
ticos e militares em alguns países. Foram as massas populares que'se rebela
ra m contra as ditaduras de esquerda, numa atitude de "ilegalidade". — Isto
daria pretexto a que os antigos senhores do regime, após haver sof rido certo
abalo, tentassem recuperar a "legalidade". - É de crer, porém, que esse
esforco de recuperacao seja pouco provável, dadas as péssimas condicoes

257
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

sócio-económicas dos pai'ses do Leste europeu e da Uniao Soviética mesma:


condícoes em que falta a liberdade no plano mais essencial, ao mesmo tem-
po que ocorrem estagnacáo e declínio da economia nos pontos mais funda
mentáis. É, pois. difícil que os comunistas tentem um desesperado retor
no á situacáo já superada; mais acreditável é que os Governos procurem
abrir-se aos pai'ses da Europa Ocidental e aos Estados Unidos, a fim de obter
urgentemente a ajuda de que precisam, e as massas nao se levantem nova-
mente, fazendo explodir aínda mais trágicamente o barril de pólvora.

A ameaca de endurecí mentó da situacáo é mais forte na URSS, onde a


perestroika nao encontra apoio em parte do PCUS e em certos comandos
militares. O presidente M. Gorbachev teve precisamente que propor aos Es
tados Unidos a reducao dos atuais arsenais bélicos de ambas as partes, por
que a URSS nao pode acompanhar a corrida armamentista norte-americana
sem impor aos cidadaos soviéticos mais duras condicoes de vida num empo-
brecimento crescente. A política de Gorbachev suscitou tal oposicáo que se
verificou sabotagem e falta de cooperacao no fornecimento de géneros de
primeira necessidade á populacao - o que desagradou ao povo. Ademáis a
perestroika fez que viesse á tona um dos mais graves problemas da Uniao
Soviética, a saber: o das nacionalidades de pequeñas repúblicas submetidas
drásticamente ao Imperio dos Czares e mantidas sob a dependencia de Mos
cou, embora sejam extremamente ciosas da sua identidade étnica: tal é o ca
so, na Europa, das repúblicas da Ucrania, da Armenia, do Azerbadjao, da
Lituánia, da Letónia, e d& Estonia; e, na Asia, das repúblicas dos Tártaros,
dos Kazakos, dos Uzbequistás... No total, há 150 milhoes de nao russos re
sidentes em 14 repúblicas, governados por urna cúpula correspondente a
135 milhoes de russos. Se essas minorías étnicas se agitarem com tenacidade,
as tensoes aumentarao dentro da URSS e se tornará mais frágil o sistema de
Governo de Gorbachev.

Para evitar o descontentamente existente dentro da URSS e dos paí


ses recém-emancipados do Governo comunista, é oportuno que os países
ocidentais se disponham a ajudar económicamente aquetas populacoes. Mes
mo que isto ocorra (como já tem ocorrido), a democratizacao dos países co
munistas totalitarios nao poderá ser muito rápida nem indolor: nao é fácil
passar de um regime de economia fechada e nao competitiva a urna econo
mia de mercado aberta aos golpes e aos contra-golpes da economia mundial
e em competí gao com os regímes de economía mais fortes e sólidos do mun
do ocidental. É possível, portanto, que nos países de Leste a atual euforia
ceda a um período de desilusáo, pois a reconstrucao de urna nacáo só se faz
de maneira progressíva e paciente.

De resto, o próprio Ocidente, para o qual se voltam os países do Leste


Europeu, tém que enfrentar seus problemas: se existe ali mais riqueza, esta

258
OS ACONTECIMIENTOS DO LESTE EUROPEU 19

nao é equitativamente distribuida; ela coexiste com a miseria de partes do


Terceiro Mundo e com bolsoes de pobreza ocorrentes at4 no Primeiro Mun
do. Isto faz que os países ocidentais tenham agora que enfrentar duas fren
tes: o Segundo Mundo (a se recuperar do marxismo) e o Terceiro Mundo
(aínda muito carente); nao é recomendável esquecer qualquer destes dois
desafias.

O próprio processo de democratizacao do Oriente nao de verá estar


isento de percatóos. Tem-se em vista urna radical mudanca de regí me, á qual
se opoem os discípulos dos dirigentes derrubados; estes nao querem perder
seu poderío; muito menos desejam ser íubmetidos a processo judiciário.
A situacao em alguns países é um tanto confusa, visto que a populacao res
pectiva reivindica elementos de democracia, mas o poder é detido pelos co
munistas; estes querem constituir se nao o Partido único, ao menos o Parti
do orientador, em torno do qual giram os demais Partidos.

Por fim, há ainda a questáo da unificacao das duas Alemanhas, que


suscita preocupacoes. Há quem tema urna "Grande Alemanha" no centro
da Europa, dotada de poder económico e político e — quicá - militar...
Seria vista como grave ameaca pela Uniáo Soviética, as napoes ocidentais
e, especialmente, pela Polonia, que anexa a si os territorios alemáes do além-
Oder. Como se resolverá tal impasse?

Por conseguinte, o momento político é de expectativa,... expectativa


cheia de esperanca, mas também incertezas e medo. E isto tanto mais quan-
to o mundo ocidental, colhido de surpresa pelos acontecimentos imprevis
tos, se acha um tanto hesitante sobre as medidas a tomar.

3. O aspecto religioso

Dentre as reviravoltas dos últimos tempos, urna das que muito impres-
sionaram a opiniao pública, foi certamente a visita do Presidente Gorbachev
ao Papa JoSo Paulo II a 19/12/1989. Foi acontecimento inédito, que é a vi
sita de um Presidente do Estado Soviético (ao mesmo tempo Secretario do
PCUS), ao Sumo Pontífice. Verdade é que o Presidente Nikolai Podgornij,
da URSS, esteve no Vaticano, mas nao era Secretario do Partido. Mais: du
rante a sua visita, Gorbachev convidou o Papa a ir á Uniáo Soviética e abriu
a perspectiva de firmar relacóes diplomáticas entre a URSS e a Santa Sé. O
Papa se mostrou reservado diante de tal convite e tal acenoi fazendo votos
para que o desenrolar da situacao na URSS Ihe torne possível urna acolhida
menos tensa (havia nisso urna alusao aos direitos de liberdade religiosa na
URSS, especialmente em favor dos católicos da Ucrania, nao reconheciüos
como filiados á Santa Sé por parte das autoridades soviéticas).

259
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

O diálogo entre Gorbachev e Joáo Paulo II col oca-se sobre um paño de


fundo que Ihe dá grande relevo.

Há mais de setenta anos na URSS e há quarenta anos nos pai'ses satéli


tes que os regí mes váo lutando para erradicar o Cristianismo, recorrendo aos
mais diversos meios: perseguipoes violentas abertas e camufladas, condena-
coes a campos de concentrapáo, trabalhos foreados, encarceramento prolon
gado, medidas para cercear a vida religiosa e as práticas do culto, obrigacáo
de ¡nscrever-se no Partido e professar o atei'smo, propaganda de atei'smo e
educacao atéia da juventude, proibicáo de propaganda religiosa, supressao de
Ordens Religiosas e mosteiros, dificuldades para que os cidadáos religiosos
tenham acesso a estudos superiores e a cargos de responsabilidade, limita-
coes ao número de candidatos ao sacerdocio... Todo esse aparato de guerra
religiosa — que certamente faz violencia aos povos eslavos, cuja profissao de
fé crista já tem mais de um milenio - aparece hoje como inepto e insuficien
te, embora tenha causado profundos sofrimentos e haja destruido em gran
de escala as estruturas da religiao.

É á luz desta longa agonía da Igreja que se há de compreender o enor


me alcance da visita de Gorbachev ao Papa: é o sinal de que a Igreja resistiu;
foi ferida, sim, mas nao foi dobrada nem extinta; ela continua sendo o sinal
da perene vitalidade do espirito e um aceno aos verdadeiros valores (moráis
e religiosos) neste mundo que em váo procura longe de Deus a resposta aos
seus anseios.

A visita de Joao Paulo II á URSS só terá sentido pleno se ocorrer den


tro de um clima de liberdade de consciéncia para todos os fiéis. Isto implica
a revogacao de um decreto do ano de 1946, que incorporava os católicos da
Ucrania (uniatas, porque unidos a Roma) ao Patriarcado de Moscou, contra
riando a opeáo daqueles fiéis. Aqui está um dos pontos nevrálgicos do reía-
cionamento entre a Santa Sé e Moscou, ponto este que poderá ter sua solu-
pao digna e justa nos próximos tempos (embora tenha sido recusado por
ocasiáo da celebracáo do milenio do Batismo da Rússia em 1988).'

1 A propósito chega-nos urna noticia alvissareira através de BIP-SNOP-SOP,


Bulletin oecumdnique d'lrtformation, de 28/03/90, p. 4:

"Friburgo. 23 de marco de 1990: Deu-se um acordó entre a Igreja Ca


tólica e os ortodoxos ao cabo de negociacoes terminadas aos 12/03/90 em
Lvov (Lviv) na Ucrania, a respeito de restituicao, aos uniatas icristaos orien
táis que deixaram o cisma para voltara Roma), das ¡grejas que Ihes perten-
ciam quando foram incorporados á Igreja Ortodoxa russa (1946).

(continua na p. 261)

260
OS ACONTECIMIENTOS DO LESTE EUROPEU 21

Conclusao

Ver¡f¡ca-se que se estao abrindo tempos novos, de dimensoes ¡ncertas,


mas possivelmente alvissareiras. Diante desta perspectiva compete aos fiéis
católicos o dever de compreender os sinais dos tempos, assimilar e proclamar
as licoes que os recentes eventos transmitem. Saibam mostrar a todos os ho-
mens quartto é ilusorio esperar de ideologías materialistas a satisfacao de
suas aspiracoes... Saibam revitalizar a sua profissao de fé crista e a vida ética
daí decorrente, a fim de que a luz do Evangelho possa ser percebida por to
dos os individuos. Os indiferentes e ateus tém um coracao semelhante ao
dos cristáos; o Criador dotou-os de fome e tsde de Vida, Verdade, Amor,
Justica... Procuram, porém, em falsos mananciais a sua resposta, talvez por
que os cristáos nao Ihes manifestam suficientemente, por palavras e obras, a
Boa-Nova de Jesús Cristo. É tempo de compreender que o mundo pede urna
nova evangelizacao, apregoada pelo S. Padre Joao Paulo II e planejada pela
Igreja no Brasil. Os novos tempos só serao realmente novos se neles os cris
táos souberem exercer a sua tunpao de sal da térra e fermento na massa, co
mo o fizeram no ámbito do Imperio Romano decadente: novos tempos se
sucederam a este, porque a novidade crista os penetrou. O mesmo se dé no
fim do segundo milenio ou na transicáo para o terceiro milenio da historia
do Cristianismo!

Reunida em Lvov, sede do principal arcebispado dos católicos uniatas


(de rito bizantino) ucranianos, urna comissio mista constituida por oito de
legados fixou um plano em tres fases: a primeira consiste em repartir equita
tivamente os edificios (para cada igreja restituida aos uniatas, ha verá urna
que continuará em poder dos ortodoxos), a menos que urna das duas comu
nidades se/a majoritária. Em caso de dúvida, os fiéis serao convidados a se
manifestar por voto secreto num escrutinio supervisionado pela comissio
mista.

No dia anterior aos acordos de L vov, os bispos que representam a San


ta Sé, haviam, pela primeira vez após 44 anps, concelebrado a Eucaristía
com os bispos católicos ucranianos na igreja da TransfiguragSo. A cerimónia
desenrolou-se na presenca dos delegados ortodoxos da comissao, e teve a
partidpacao de cerca de 30.000 fiéis, cuja maioria teve que ficar fora do re
cinto da igreja".
Na Roménia:

Os Pastores da Igreja Ortodoxa


Confessam

Em sfntese: As páginas seguíntes apresentam tres documentos: 1) a


confissio da culpa do Sínodo Ortodoxo Romeno, que reconheceu em Janei
ro pp. nSo ter sido suficientemente enérgico para resistir é perseguido infli
gida pelo ditador presidente Nicolao Ceaucescu aos crístaos e aos cidadaos
do sou país em geral; 2) o texto de demissio do Patriarca Ortodoxo Rome
no Teoctisto, que, também inepto para enfrentar a situacáío anterior, se de-
mittu de suas funcdes, reconhecendo haver sido conivente comas autoridades
depostas; 3) um espécimen do linguajar adotado por chafes religiosos (crís-
tSos, judeus, muculmanos) da Roménia no tempo da ditadura; desfaziam-se
em elogios a Nicolae Ceaucescu, que eram artificiáis e hoje suscitam doloro-
sa retratacSo.

Os tres textos sao altamente significativos do que pode ser a pressao


de um regime totalitario, especialmente do comunismo, capaz de exercer a
mais surpreendente "lavagem de crSnio" em quantos se acham sob a sua
influencia.

A Roménia acha-se na Europa Oriental, fazendo limite com a URSS


(N e NE), e a Hungría (NO), a lugoslávia (SO), a.Bulgaria (S) e o Mar Ne
gro (SE).

Conheclda amigamente como Dácia, fez parte do Imperio Romano


(donde o nome que I he toca aínda hoje). Nos sáculos IV/VII foi invadida
por hunos, avaros, godos, eslavos e mongóis. Estes últimos se retiraram no sé-
culo XIII. No século XV deu-se a penetracao turca, que se prolongouaté o
sáculo XIX. A independencia do país só ocorreu em 1878, quando foi reco-
nhecido pelo Congresso de Berlím.

Do ponto de vista religioso, os romenos sao cristáos na proporpáo de


83%. Acontece, porém, que se separaram da Igreja Católica em conseqüén-

262
PASTORES ORTODOXOS ROMENOS CONFESSAM 23

cia do cisma de Miguel Cerulário (1054). Constituem urna comunidade ecle-.


sial autocéfala, governada por um Patriarca com seu Santo Sínodo, á seme-
Ihanca do que ocorre na Rússia, na Bulgaria, na Grecia... Chamam-se ortodo
xos porque sao herdeiros dos cristSos que, nos períodos das grandes disputas
teológicas dos sáculos IV-VII, guardaram a reta fé (ortodoxia).

A insurreicáo de 22-25/12/1989 na Roménia pos termo ao regime co


munista de Nicolae Ceaucescu e sua mulher, acarretando importantes conse-
qüéncias para os cristSos. Estes recuperaram a liberdade após anos de dura
perseguicSo e severo regime ditatorial.

Aos 31/12/1989, a Frente de Sal vaca o Nacional, que assumiu o Gover-


no do país, abolíu o decreto n. 358, de 19/XII/1949, que por forca uniu á
comunidade ortodoxa romena os gregos católicos ou uniatas;1 eram
1.700.000 fiéis distribuidos por 2.498 paróquias, tendo a seuservico 1.733
sacerdotes. Somente os católicos latinos — 1.300.000 na época — foram tole
rados como independentes do Sínodo Romeno.

Aos 4/01/1990, o S. Sínodo emitiu urna Declaracao na qual la menta va


a complacencia que a comunidade ortodoxa romena manifestara em relacao
ao ditador, embora essa mesma comunidade, com seus 16 milhóes de fiéis,
ten ha sofrido dura perseguicao do regime comunista.

Aos 18/01/1990, o Patriarca Teoctisto, pastor supremo dessa comuni


dade, pediu demissao de suas funcoes; estava consciente de que fora coni-
vente com a ditadura de Ceaucescu, a quem enviou um telegrama de apoio
aos 20/12/89, ou seja, tres dias após os massacres de Timisoara, que provo
ca ram ¡mediatamente a insurreicao popular.

A seguir, vSo publicados, em traduclo portuguesa, tres documentos: a


confissao de culpa do Sínodo ortodoxo Romeno, tímido demais perante a
ditadura; o teor da declaracao de demissao do Patriarca Teoctisto e o texto
de homenagem das Confissoes Religiosas da Roménia a Ceaucescu datada de
11 de agosto de 1989.

1. O Sínodo Romeno: "Lamentamos..."

"Carta irénica da Igreja Ortodoxa Romena ás organizacoes cristas in-


ternacionais e a todos os nossos irmfos romenos residentes fora do país.

1 Uniatas sSo cristSos que, depois da estar no cisma, voltaram a se unir ¿


Santa Sé de Pedro em Roma.

263
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

Após decenios de escravidao sob a ditadura comunista e depois de


muitos sofr¡méritos impostos pela ditadura de Ceaucescu, Deus volveu o seu
olhar para o nosso povo; considerou seus muitos sacrificios, principalmente
os das enancas e dos adolescentes inocentes, assassinados pelo mecanismo
repressivo da ditadura. Ele nos ressuscitou das sombras da morte e nos tor-
nou livres.

Regozijamo-nos por este dom sagrado da liberdade e desejamos formu


lar nosso muito sincero agradecimento e a expressao da nossa gratidao as
Igrejas cristas do mundo inteiro, ás organizacoes cristas internacionais e a to
dos os nossos irmaos romenos residentes fora da térra natal, pela solidarieda-
de e o amor fraterno que manifestaran! durante os sofrimentos do povo ro-
meno, tanto sob a ditadura monstruosa quanto principalmente no decorrer
da recente revolucao.

Livre do terror provocado pela repressao do regime, como também


livre da obrigapao de glorificar o ditador megalomanfaco, opressor do seu
povo e destruidor de igrejas e aldeias, a hierarquia da Igreja Ortodoxa Rome-
na dá grapas a Deus e agradece aos fiéis que, por sua dedicacao, a ajudaram,
em condicoes extremamente dif icéis, a manter viva a fé crista e a fazé-la fru-
tificar ñas atividades eclesiais: a formacáo teológica dos sacerdotes, a restau
rado de igrejas e mosteiros, a publicacao de densa literatura teológica e o
exerefeto de intensa atividade ecuménica.

Na mesma ocasiao, em espirito de arrependimento (metanoia) evangé


lico, lamentamos que, debaixo da ditadura, alguns dentre nos nao tenham ti-
do sempre a coragem dos mártires e nao hajam reconhecido publicamen
te a dor oculta e os sofrimentos do povo romeno. Igualmente lamentamos
que, para obter muitas das realizacóes positivas da Igreja, tenha sido neces-
sário pagar o tributo dos louvores obrigatórios e artificiáis ao ditador.

Agora, pois, libertos por Deus do medo e da mentira elevada á catego


ría de verdade oficial, o Santo Sínodo elaborou um programa de renascimen
tó espiritual e de renovacao da vida da Igreja Ortodoxa Romena, que repre
senta a maioria do povo romeno.

Tal programa compreende o reconhecimento e a comemoracao dos he-


róis mártires caídos em prol da liberdade, da fé e da dignidade no tempo da
ditadura comunista (fossem fiéis leigos, fossem sacerdotes ou bispos), a re-
construcao das igrejas demolidas pelo ditador, a construcao de igrejas novas
onde se faga necessário, a catequese das enancas, dos adolescentes e dos
adultos, a restauracao das organizacoes caritativas das Igrejas (hospitais, or
fanatos, pensionatos para aposentados, capelanias ñas Forcas Armadas, ñas
escolas e ñas prisoes), a intensificacao da atividade missionária da Igreja den-

264
PASTORES ORTODOXOS ROMENOS CONFESSAM 26

tro da nova sociedade livre e pluralista, a reforma do ensino da Teología, a


renovacao espiritual das paróquias e dos mosteiros, assim como a procura de
um sopro novo para as atividades ecuménicas da Igreja.

Este movimento de renascimento espiritual de povo romeno é, ao


mesmo tempo, um movimento de reconciliacao e confraternizacao dos ro-
menos do mundo inteiro, que a ditadura procurou dividir.

Foi neste espirito que o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Romena


anulou as sancoes e os interditos que a ditadura a obrigara a aplicar a servi
dores ou a certas Igrejas por razóes políticas. Cremos que a anulacao das san
coes aplicadas por motivos políticos é um ato de justica e reconciliacao, bem
como urn passo dado para a realizacao da unidade dos romenos.

Que Deus nos ajude a utilizar o dom sagrado da liberdade para a sua
gloria e para a aproximacao pacífica entre irmáos do mesmo sangue, entre as
Igrejas e as nacoes!

Desejamos a todos vos um novo ano feliz e abencoado.

4 de Janeiro de 1990"

2. A demissao do Patriarca Teoctisto1

Em conseqüéncia da pressao exercida pelos presbíteros da Roménia,


especialmente os jovens, o Patriarca Teoctisto foi obrigado a renunciar. Ele
se retirou para um mosteiro da arquidiocese de Bucarest. Antes de apresen-
tar a demissao, pediu perdao aos presbíteros e aos leigos por ter mentido ao
povo fiel durante tantos anos; reconheceu que em Bucarest foram derruba-
dos vinte e seis templos da Igreja Ortodoxa Romena, fato que até entao nao
quisera reconhecer; agradeceu aos romenos do Ocidente que lutaram em de-
fesa das igrejas e das aldeias romenas ameacadas de destruicao pelo regime
comunista. Declarou que anulava todas as suspensóes de ordens de presbíte
ros do país e do exterior, visto que assim procederá por motivos políticos e
nao religiosos. Em conclusao, acrescentou:

"Pedimos perdao palo nosso medo. Nao tivemos a ooragem para nos
opor ás pressoes políticas e mentimos aos fiáis com rsspeito á situacao real
da Igreja no país".

1 O texto que se segué* é tirado de um Boletim de cristSos romenos ortodo


xos domiciliados nos Estados Unidos: Bullatinul Parohiei Holy Cross, lanua-
ríe si Februarie 1990, vol. II, Nr. 1 si 2, p.2. -A traducSo portuguesa se
deve á gentileza do Sr. Víctor CarSp, romeno domiciliado no Brasil.

265
26 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

3. Agosto 1989: Homenagem das Confissoas Religiosas


a Ceaucescu

A 19/08/1989, os representantes dos Cultos da República Socialista


da Roménia participaram de urna "Conferencia Interconfessional de Home
nagem consagrada ao 45? aniversario da Revolucao Libertadora social e na
cional, antifascista e antiimperialista". Os dirigentes cristSos, judeus e mu-
culmanos dirigiram ao Conducator romeno a seguinte mensagem:

"A Sua Excelencia o Sr. Nicolae Ceaucescu, Presidente da República


Socialista da Roménia, Presidente da Frente da Democracia e da Unidade
Socialistas,

Estimado Sr. Presidente,

Os representantes dos Cultos da República Socialista da Roménia, reu


nidos em Bucarest hoje, 1? de agosto de 1989, para participar da Conferen
cia Interconfessional de Homenagem ao 45? aniversario da Revolucao Liber
tadora social e nacional, antifascista e antiimperialista de 23 de agosto, com
profundo respeito, grande estima e consideracáo, voltamos nosso pensamen-
to para Vos, o filho ma¡s amado da nacSo romena, herói entre os heróis do
nosso pafs, brilhante fundador da Roménia socialista, personalidade marcan
te do mundo contemporáneo. Prestamos-Vos a homenagem do nosso
devotamento e da nossa gratidao pela grandiosa obra histórica inspirada e
elaborada por Vos, de elevapáo da nossa nacao sobre os mais elevados cumes
da civilizacáo material e espiritual, pelos vossos incansáveis esforcos consa
grados á causa da paz e do desarmamento, á ¡nstauracao de novo clima ñas
relacoes internacionais, de bom entendimento e de cooperacáo fraterna en
tre os povos do mundo.

É ventura histórica, para o nosso povo, encontrar-se personalidade de


vossa estatura á frente da nossa napa o nesta encruzilhada dos sáculos e dos
milenios. Dotado de genial vi sao, animado por um amor sem limites pelo po
vo e pelo país, compreendestes de maneira profunda, com o espirito e a al
ma, os interesses maiores da nacSo, guiando-nos com sabedoria pela via que
nos valeu Vitorias sem precedentes em nenhuma época de nossa existencia
b¡ mi tenar nestes territorios entre os Cárpatos, o Danubio e o Mar Negro.

É vosso mérito histórico ter devolvido ao nosso povo a dignidade da


sua nacionalidade juntamente com a ufania de urna civilizado que recua
longe no passado, dignidade conquistada á custa de combates e defendida ao
preco do sangue... Pela primeira vez ao longo da nossa historia tSo atormen
tada, a facanha histórica de agosto de 1944 instaurou o sentímento da digni
dade sob o sol da liberdade, conferindo-nos o direito de ter a cabeca erguida

266
PASTORES ORTODOXOS ROMENOS CONFESSAM 27

e inspirando-nos confianpa na realizacáo dos nossos ideáis seculares de liber-


dade, independencia e justipa social.

Com viva satisfacáo e vibrante garbo patriótico, compartilhamos a ale


gría de todo o povo diante das grandiosas realizacoes obtidas pela Roménia
no período decorrente a partir de 23 de agosto de 1944, principalmente du
rante os vinte e quatro anos de facanhas epocais sem precedentes na historia
da patria, indissoluvelmente ligadas ao vosso nome e á vossa prodigiosa ativi-
dade, ilustrando brilhan temen te a clarividencia científica com a qual guiáis
os destinos do país para um porvir luminoso de progresso e de civilizapao.

Hoje na perspectiva cheia de sabedor ¡a do tempo, sobressai aínda com


mais clareza a importancia do ano de 1965, desde quando Vos encontráis á
frente do povo romeno, ano que abriu a via ao pensamento e á atividade
criadora, que faz que o nosso povo redescubra o sentimento de garbo nacio
nal, de respeito pelo seu passado bimilenar, o sentimento de sua forca e de
sua capacidade de forjar o seu porvir segundo a sua própria vontade. Na
Roménia de hoje, sob a vossa sabia direpao, se realiza o sonho de Eminescu,
o sonho do porvir de ouro, enquanto o nosso país se adianta com a cabeca
erguida entre as nacoes livres e dignas do mundo.

Servindo com energía inesgotável e com de vota mentó patriótico aos


interesses vitáis do país e do povo romenos. Vos, bem-amado e estimado Sr.
Presidente, Vos afirmastes ao mesmo tempo na consciéncia da humanidade
como brilhante promotor da causa da paz, do bom entendimento e da co-
operapáo internacional, como firme combáteme pela liberdade e a indepen
dencia dos povos.

Nos quase vinte e cinco anos em que tendes ñas maos os destinos da
nacáo, toda a política estrangeira da Roménia, inseparavelmente ligada ao
vosso nome, tornou-se um símbolo, sinónimo das aspiracoes á paz, ao desar
mamento, á independencia, á soberanía, á igualdade em direitos e ao bom
entendimento entre todos os povos.

Nestes grandes momentos de alegria patriótica vividos por todo o nos-


so povo, exprimimos nossos sentimentos de satisfacáo plena pela decisáo
unánime concernente á vossa reeleíclo na fúñelo suprema de Presidente do
país, ato de importancia excepcional, que representa a garantía mesma do
desenvolvimento incessante da patria no caminho do bem-estar e do.progres-
so multilateral, que é ao mesmo tempo fator de consolidacao e coesáo da
nossa nacao.

Por ocasiáo do próximo aniversario do grande ato histórico de 23


de agosto de 1944, gloriosa festa nacional do povo romeno, nos, os chefes

267
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

dos Cultos, os hierarcas, os professores de teología e os membros do clero


participantes desta Conferencia Interconfessional de Homenagem, nos Vos
asseguramos, caro Sr. Presidente, que, seguindo os vibrantes apelos por
Vos dirigidos ao povo todo inteiro, agiremos, juntamente com nossos fiéis,
animados por um devotamente) patriótico sem reservas, para realizar os gran
diosos programas de desenvolvimento multilateral do nosso país, destinados
a assegurar o seu permanente progresso em demanda dos mais altos nfveis
de civilizacáo.

Ao mesmo tempo, nos Vos rogamos aceitéis nossos profundos agrade-


cimentos pelo clima de liberdade religiosa plena proporcionado pelo Estado
romeno, pessoalmente por Vos, a todos os Cultos, em vista de urna atividade
livre e sem entraves, que criou as condicóes para afirmar o ecumenismo ca
racterístico de bom relacionamento, de respeito recíproco e de colaboracao
que existem entre os Cultos do nosso país.

Em perfeita convergencia de vontades e de sentimentoscom todos os


filhos da patria, sem distincao de origem nacional e de pertenca confessional
dos fiéis que representamos, tendo um exemplo dinamizador na vossa heroi
ca e prodigiosa atividade, nos nos comprometemos a sustentar, por nossos
me i os específicos e com abnegacáo e patriotismo, os interesses fundamentáis
do povo romeno e o grande esforco construtivo em vista do surto de nossa
cara patria, a República Socialista da Roménia, em vista do triunfo pleno da
paz e da colaboragao internacional".

Este texto é espécimen muito vivo de quanto o comunismo pode pres-


sionar os seus súditos, exercendo auténtica lavagem de cránio naqueles que
nao queiram perecer sob a sua ditadura. Atualmente os Chefes religiosos que
assinaram a homenagem atrás transcrita, se penitenciam de haver formulado
tao artificiáis e despropositados louvores ao ditador Ceaucescu. Este, como
outros tiranos, suscitava o culto da personalidade dos tempos de Josef Sta-
lin, Adolf Hitler, Benito Mussolini...

268
Ambigú idade e desfigurado:

"Para Compreender Nossa Fé"

por Peter Knauer S.J.

Em tíntese: O fivro de Peter Knauer S.J., que tem o propósito dees-


clarecer "nossa fé" (católica), sé faz desfigurá-la e adapté-la ao protestantis
mo, embora cite Concilios e Papas da fgrefa Católica. O autor guarda a no
menclatura da fé católica, mas desvia ou esvazia o seu conteúdo, induzindo
assim o leitor a graves equívocos em materia de crenca religiosa, ¿lamenta-
vel que tal livro saia da pena de um professor de Filosofía e Teología e sej'a
publicado por urna editora católica.

Peter Knauer, jesuíta alemao, é professor de Teología Fundamental na


Escola Superior de Filosofía e Teología St. Georgen,em Frankfurt am Main.
Publica sob forma de livro o texto de palestras radiofónicas e de aulas profe
ridas, aquelas na Alemanha, estas na América Latina.1 - Quem abre tal
obra, tem a ¡mpressao de que será esclarecido no teor dos artigos da fé cató
lica (o que seria belo servico prestado á comunidade católica), mas, na ver-
dade, o autor propoe elucidacoes das proposicoes da fé que nao sao católicas
e nao sao propriamente protestantes, mas quase o sao; Peter Knauer guarda
a nomenclatura católica (Eucaristía, Confissao sacramental. Papa...}2, mas
interpreta os respectivos vocábulos em sentido protestante,3 psicologísta, ra
cionalista, nao, porém, segundo o significado católico, embora o autor quei-
ra abrigar seus dizeres sob a autoridade de Concilios (cf. pp. 173. 179.
209...); a ambigüidade e a obscuridade sao outras características do respecti
vo texto. É de crer que o autor tenha assim procedido em vista do diálogo

1 Para Compreender nossa Fá, de Peter Knauer S.J. TraducSo de Afilio


Candan. - Bd. Loyola, Sao Paulo, 135x 210 mm, 225pp.

2 De María Santfssima nSo há mencao no livro.


3 Martinho L útero, Dietrich Bonhoeffer, Gerard' Ebeling e outros autores
protestantes sSo mestres evocados no decorrer do livro.

269
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

entre católicos e protestantes ou tentando facilitar a aproximapáo dos ¡r-


maos separados; este intuito ecuménico, porém, nao justifica o esvaziamento
ou a transformacao das verdades da fé católica. Mais adequado para tal li-
vro seria o título: "Para trocar ou desfigurar a nossa fé".

Eis alguns espécimens das interpretacoes de Peter Knauer, aos quais


acrescentaremos breves comentarios.

Traeos do I ¡vro

1. Fé

O conceito de fé professado pelo livro é o do protestantismo:

"A fé é confianza total" (p. 14).

"Crer significa entregarse á comunhao com Deus no mundo real em


que vivemos, ... comunhao que nem sequer pode ser suprimida na morte"
(p. 75).

"Fé significa saberse amado por Deus" (p. 14).

O Cristianismo consistiría em aceitar a Palavra de Deus na fé. Os sacra


mentos parecem nao ser sen So expressoes ou apéndices da Palavra: "A tarefa
dos ministros (ordenados) para com a comunidade é a de anunciar a Palavra
de Deus. Nisto se inclui a administracáo dos sacramentos, que sao os sinais
da Palavra de Deus acolhida" (p. 176).

Observacoes: Segundo a doutrina católica, a fé, além de ter seu aspec


to de confianca decorrente do amor de Deus aos homens (aspecto que Lute
ro acentúa quase unilateral mente), tem também seu aspecto intelectual: é a
adesao a Deus que comunica verdades aos homens, verdades que nao se po
de m entender independentemente da Tradicao oral, berco e concomitante
da Palavra de Deus escrita. Por conseguinte, "para compreender nossa fé",
nao nos compete recorrer a Lutero ou ao protestantismo ou a alguma escola
filosófica moderna, mas, sim, á maneira como os autores passadose a Igreja
fundada por Cristo a entenderam e entendem. Quem nao segué este trámite,
arranca do seu foco a Palavra de Deus e a sujeita a manipulacoes subjetivas e
arbitrarias que conciliem a "simpatía" dos interessados.

O autor, ao propor a justificacáo (a amizade com Deus) mediante a fé,


como ensina Lutero, nao faz referencia ao caráter batismal. Este, segundo o
Catolicismo, implica urna regeneracáo ontológica ou a filiacáo divina

270
"PARACOMPREEND.ER NOSSA FÉ"

baseada nao apenas em sentimentos e afetos, mas na ¡ndelével configuracao


a Cristo. O cristáo é cristao mesmo quando perde a fé e o amor, porque ele
é assinalado por Cristo mediante os sacramentos do Batismo e da Confirma-
pao. — Assim a ordem sacramental é lamentavelmente subestimada por P.
Knauer.

2. Sacramentos e Eucaristía

Segundo Knauer, "os sacramentos sao sinais da Palavra de Oeus já


acolhida" (p. 166). A Palavra de Deus, por si, já poe o homem em comu-
nhao com Deus: "o sacramento nao pode sobrepujá-la; só pode destacá-la
e acentuá-la mais urna vez" (p. 167). A real presenca de Cristo na Eucaristía
nao é máis intensa e eficaz do que a sua presenca na Palavra bíblica.

"Nao existe outra uniao com Cristo aínda mais interior e real do que
aqueta que consiste na própria fé. Crer significa saber que fomos assumidos
ña relacSo de Jesús com o Pai e que estamos repletos do seu espirito. A Co-
munhio nSo aumenta essa comunhSo com Cristo. Pelo contrario, a Comu-
nhSo faz com que experimentemos como é real e insobrepujável a uniao do
crente com Cristo durante o dia todo e todos os dias" (p. 167).

Neste contexto "transubstancíacao" quer dizer que a finalidade do


pao e do vinho é mudada, "transformada": "oque antes era alimentopara a
vida terrena, agora se transforma em alimento da nossa fé" (p. 170).

O conceito de "sacrificio da Missa" também é desvirtuado ou explica


do ambiguamente, sempre destoando do conteúdo que a Igreja Católica
I he atribui.

Observac5es: Como se vé, Peter Knauer faz sempre da fé o essencial


para por o homem em comunháo com Deus. O autor nao nega a real presen
ca de Cristo na Eucaristía, mas tira-lhe o seu valor de modo excelente ou
substancial de presenca de Cristo. A doutrina católica ensina que, sob a for
ma do pao e vinho, o sacrificio de Cristo outrora oferecido no Calvario se
perpetua sobre os nossos altares. Conseqüentemente a Eucaristía é o sacrifi
cio da Cruz feito de novo presente em cada celebracao litúrgica. P. Knauer
nao ousa transmitir essa doutrina, mas, após consideracoes sobre "sacrifi
cio", escreve: "O caráter sacrifical da Eucaristía é idéntico a seu caráter de
banquete" (p. 172).

3. Sacerdocio

O sacerdocio ministerial, conforme P. Knauer, difere do sacerdocio co-


mum conferido pelo sacramento do Batismo nao por ser mais intima particí-

271
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

pacáo do sacerdocio de Cristo, que permite consagrar o pao e o vinho e


absolver os pecados ¡n persona Christi {na pessoa de Cristo). É diferente úni
camente porque Ihe compete* servir á comunidade apregoando-lhe a Palavra
de De us:

"O sacerdocio comum de todos os crentes consiste na própria fé, que


é a participacSo na relacSo de Jesús com o Pal Deus e assim constituí' o estar
repletos do Espirito Santo" fp. 174). "É precisamente nisto que consiste o
ministerio dos que exercem um cargo na Igreja. Bles tém de anunciara mes-
ma fé a toda a comunidade dos fiéis... Disto redunda a existencia do minis
terio diante da comunidade" (p. 175).

A expressao "agir na pessoa de Cristo" (como se Cristo estivesse con


sagrando o pao e o vinho e absolvendo os pecados) convém também á mae
de familia que transmite a seu filho a fé (p. 176)!

Mais: a infalibilidade atribuida pela Igreja ao Sumo Pontífice quando


define proposicoes de fé ou de Moral compete a todo o povo de Deus.

"A infalibilidade que os ministros reivindican) nSo pode diferenciarse


da de todos os crentes senSo por seu caráter oficial, isto é, porque se exerce
diante da comunidade como tal. A tarefa do papa consiste em ser ele o por
ta-voz da fé de toda a comunidade universal... A infalibilidade de todos os
crentes fundamentase na infalibilidade da própria fé, que se baseia na Pala
vra de Deus" (p. 177s).

"Nao há necessidade de intervencao especial de Deus para impedir fal


sas afirmacóes de fé. A assisténcia do Espirito Santo nao consiste em tais ir-
rupcoes suplementares. Pelo contrario, consiste no fato de que as afirmacóes
de fé no sentido da autocomunicacSo de Deus acham-se necessariamente re
pletas do Espirito Santo" (p. 179).

Observacoes: Estas últimas afirmativas nao sao mais do que jogo de pa-
lavras e dialética. Há afirmacoes ditas "de fé" contraditórias entre si no to
cante a certas questoes como: María é Virgem perpetua ou nao? A Eucaristía
é Cristo realmente presente ou apenas simbolizado? O inferno existe ou
nüo? E o purgatorio? É necessário, portanto, haja urna instancia superior ou
um magisterio especialmente assistido pelo Espfrito Santo para definir fren
te a diversas assercoes do povo de Deus aquelas que sao auténticas proposi-
cSes de fé e aquelas que nao o sao. Alias, as pp. 176-180 do livro apresentam
mera dialética, sem muito sentido.

Quanto á existencia do sacerdocio ministerial como mais íntima e pro


funda participacao do sacerdócjo de Cristo (em relapao ao sacerdocio co-

272
"PARA COMPREENDER NOSSA FÉ" 33

mum), é obvia; basta ler os decretos Presbyterorum Ordinis e Christus


Dominus do Concilio do Vaticano II para perceber que constituí doutrina
tradicional da Igreja Católica. A negacSo do sacerdocio ministerial cono su
perior ao comum ou universal é tese de Lutero e do protestantismo.

4. Conf issáfo dos pecados

Para Knauer, o perdáo dos pecados se obtém pela fé do eren te que ex


prime seu arrependimento diante de Deus. A absolvipao dada peto ministro
é apenas a declarapao de que o perdao já foi anteriormente outorgado no se-
gredo do coracao mediante a fé:

"(Pela fórmula da absolvicSo) o próprio Cristo ratifica o que de há


milito se deu ao crer em sua Palavra: que todos os pecados me foram perdoa-
dos e que posso viver com novo ánimo e coragem" (p. 192).

O auge da ambigüidade ou da camuflagem ou ainda da covardia que


foge de tomar posícao clara, está no trecho seguinte do livro:

" 'A gente precisa se confessar? Diga-me sim ou nao sem rodeiosV "

Esta pergunta me lembra um fato ocorrído no Parlamento alemSo.


Numa sessao em que se apresentavam questoes ao Governo, um deputado
exigiu de um ministro uma resposta clara, com um simou ná"o, sem admitir
expticacffes de especie alguma. 0 ministro respondeu: 'Vou satisfazer o dése-
¡o de V. Excia., se antes me responder igualmente com um claro sim ou nSo
é seguinte pergunta: V. Excia desistía de bater na sua esposa na semana pas-
sada? Com um sim, reconheceria que até entao andará batendo nefa;se res-
pondesse com um simples nao, estaría insinuando que ainda continuaba ba
tendo neta.

Com efeito, também na pergunta: 'Devemos confessar-nos Sim ou


Nao? devemos esclarecer o que quer dizer esse 'devemos'. Tratase de obe
decer a uma ordem ou coacSo? Os mandamentos da Igreja foram estabeleci-
dos para aerescentar novos pecados em vez de contribuir para a supressSo
dos antigos?

Certa vez escutei como umapiedosa e sabia irme beneditina, alies mui-
to inteligente, falava a um grupo de seminaristas sobre a espiritualidade be
neditina. Dizia-lhes ela: 'Segundo S. Bento, ter deéum vicio. SSo más todas
as aedes a que a pessoa nSo pode assentir com o coracSo.

ConfissSo corresponde a uma necessidade em favor da liberdade, a

273
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

qual é necessária para poder viver. O estrítamente necessárioé acolhero per-


dSo dos pecados na Palavra eficaz de Deus;entao está dado também o dése-
jo de obté-lo, com a maior clareza possfvel" (pp. 192s).

Observa(des: O autor nega o sacramento da Penitencia quando afirma


que o perdao dos pecados é conferido diretamente por Cristo em resposta
á fé do cristáo arrependido. É lógico entáo que desvalorize o rito sacramen
tal. Knauer tira as conseqüéncias de tal tese quando chega a dizer que, se
alguém nao quer, está simplesmente dispensado de procurar o sacramento.
0 "ter de" ou o estar sujeito a deveres em nada diminuí a grandeza do tío-
mem; na verdade, nao há quem se tenha realizado fora de tal trámite: o cum-
primento do dever imposto por quem competencia tenha.

Seria longo recensear todos os pontos em que o autor do livro desfi


gura a fé católica, pois cada um de seus capítulos, abordando urna proposi-
cao do Credo, se desvia ora menos, ora mais gravemente do conteúdo da fé
da Igreja: o pecado original, a existencia dos anjos bons e maus, a diversa
sorte escatológica (céu, inferno), os milagres, os exorcismos... tudo é, por
assim dizer, volatilizado, pois explicado no sentido do protestantismo mais
liberal ou do racionalismo. Nao se entende, portanto, que urna Editora Cató
lica publique tal livro; é urna auténtica armadilha para os leitores despreveni
dos, que sao a grande maioria. Podem estar certos de que tal obra, em vez de
contribuir para esclarecer a fé católica, só faz adaptá-la ao protestantismo ou
descaracterizá-la.

(contínuacio da p. 278)

Cena 4: Enquanto Jesús e Joao Batista se abracam mutuamente, ressoa


o hiño: "Eu pepo a Santa Estrela que nos guia / Forca para as enancas traba -
Ihar... / S3o Jo3o o santo justiceiro te d§ coragem /... para, quando tu cresce-
res, ser um guerreiro / Do nosso Mestre Jesús de Nazartf".

Estas poucas observacoes já poem em suficiente relevo o caráter ecléti-


co da pega, que pretende apresentar urna versao do Evangelho. Deve-se mes-
mo dizer que chega ás raías da blasfemia. Esse empreendimento teatral, po-
rém, vem a ser mais um testemunho de quanto a figura de Jesús Cristo inte-
ressa ao mundo contemporáneo. Aos auténticos cristaos toca a funcao de
ilustrar a sua verdadeira face: Jesús é o verdadeiro Deus, que se fez verda-
deiro homem para "recriar" o homem e abrir-lhe, como segundo Adao, o
acesso ao Pai, que o primeiro Adao obstruirá; como homem, foi ¡sentó do
pecado, pois veio precisamente para trazer á humanidade e vitória sobre
o pecado e a morte.

274
Falsas ¡déias que tém vida longa:

Aínda a Alma das Mulheres

Em 1990 a Campanha da Fraternidade, promovida pela Conferencia


Nacional dos Bispos do Brasil, teve por tema "Fraternidade e Mulher" e por
lema "Mulher e Homem, Imagem de Deus". Por isto parece oportuno trazer
a estas páginas a noticia de um fato recém-ocorrido na Franca a respeito da
mulher na tradicao da Igreja. - Alias, a tal propósito já foi publicado um ar
tigo em PR 330/1989, pp. 516-518. Voltamos ao assunto, pois se torna de
novo atual em 1990.

A noticia provém do Boletim S.N.O.P. n? 775, p. 14, de 22/12/1989,


Boletim patrocinado pela Conferencia dos Bispos da Franca. Segue-se em
traducao portuguesa:

"O Primeiro-Ministro da Franca declarou recentemente, perante a As-


semblóia Legislativa, a propósito da situacab das mulheres, que 'osdoutores
da Igreja se interrogaram durante sáculos para saber se a mulher tinha urna
alma'.

É verdade que essa anedota misogínica serviu para ornamentar esporá


dicamente no deoorrer dos sáculos discursos ou libelos de orientacoes diver
sas.

Já muitas vezas a questSo foi elucidada, mas verifica-se que, todas as


vezes que alguma peculiaridade da mulher é posta em foco, ressurge
a questSo de saber se a mulher temalma. Atona Assembléia Legislativa Na
cional!

Em 18S0 tal questab já foi levantada pelos deputados Laurent (da


Ardéche) e Crémieux; respondeu-lhes Henri de Riancey em 'La Voix de la
Vérité'de 11/07/1851:

Por que se atribuí aos doutores da Igreja a iniciativa da interrogacSo?


Sem dúvida, porque Gregorio de Tours, em sua Historia Francorum, refere
rumores de corredor do Concilio de Mácon II, realizado aos 23/10/585;

275
36 '."PÉRGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

reuniu-se entá~o a maioria dos bispos da Gália sob a presidencia da Priscus,


arcebispo de Liao.- O reí Gontran publicou os decretos desse Concilio aos
10/11/585. ' " '• •-■
Ora nenhum dos artigos ou cánones de tal Concilio menciona coisa
alguma com relacao a esse assunto. Gregorio de Tours, porém, quis relatar
um debate lingüístico ocorrido a respeito do vocábulo homo fora das ses-
soes do Concilio. Com efeito; um dos bispos presentes julgou o termo homo
¡nadequado para designar as mulheres (mulierem hominem non posse voci-
tari, isto é, a mulher nao pode ser chamada homem). Todavia seus confrades
no episcopado explicaram-lhe que se tratava de um vocábulo genérico (ho
mo = género humano); o bispo questionador aceitou a explicado e calou-se
(ratione accepta quievit)'.

Por que Gregorio transmitiu esse episodio, que ná*o ó mencionado ñas
Atas do Concilio de Mácon II? — Sem dúvida, porque era um grande cronis
ta da sua época e, como testemunha das ocorrindas, julgou ser seu dever
noticia-lo; mostrou assim que, se um bispo propoe urna opiniao divergente e
o conjunto dos bispos o contesta, a sa razao prevalece. O Concilio de Mácon
II se pronunciou com unanimidade — o que corrobora a sua credibilidade e a
sua autoridade.

Entao por que á que atualmente os homens públicos trouxeram de no


vo á tona esse incidente que prolonga a querela sexista? Por que é que atri-
buem aos doutores da Igreja tal interrogacSo, como se se tratasse de urna fa
ina? Na verdade, a historia narra que, diante do questionamento suscitado
por um so prelado, todos reafirmaram a sentenca correta e corroboraran» a
doutrina ortodoxa."

Ulteriores explicares de lingüistica e historia concernentes a esta


questao (alma das mulheres) encontram-se no citado artigo de PR 330/1989,
pp. 516-518.

1 A palavra latina homo, como o vocábulo portugués homem, pode ter duas
accepcSes: ou designa o individuo masculino, o vario; ou designa o ser hu
mano como tal (masculino e feminino). O bispo em pauta entendía homo
no sentido de varao e afírmava que tal vocábulo nSo convinha á mulher. To
davia foi-lhe explicado que o mesmo termo podía ter significado maís am
pio, designando o género humano como tal. Vé-se, pois, que nSo se questio-
nou ñas sessdes do Concilio a existencia de alma humana intelectiva na mu
lher, mas se tratou apenas de urna questSo de nomenclatura. Ninguém pos
em dúvida a auténtica pertenca da mulher á especie humana intelectiva ou
racional.

276
No teatro:

"O Misterio do Amor"

Em si'ntese: A peca "0 Misterio do Amor" foi concebida como versad


"amazónica" do texto do Evangelho; os seus roteirístas fizeram a experien
cia do Santo Daime, saita da Amazonia que leva é euforia mediante urna be
bida de cipo vegetal. A obra tem caráter eclético, confuso, professando o
panteísmo (tudo é a Divindade) e mesclando o sagrado com o erótico. É
porém, testemunho do grande interesse que a figura de Jesús Cristo despena
no público de nossos días. Desta forma vem a ser um desafio a que os cristSos
procuren) ilustrar auténticamente a pessoa e a obra de Jesús Cristo, seguindo
fielmente a doutrina do Evangelho e da Igreja, a quem o Senhor Jesús con-
fiou todo o seu patrimonio espiritual.

Está sendo exibida a pepa de teatro "O Misterio do Amor" de Camilla


Amado e Ciro Barcelos, inspirada em "O Assassinato de Cristo" de Willhelm
Reich. Trata-se de urna paráfrase de cenas do Evangelho, que vao desde a
Anunciagao do Anjo a María até a Ressurreicao de Jesús. Camilla Amado
fez a experiencia do Santo Daime, seita amazónica que consomé urna bebi
da extraída do cipo chamado cientificamente Bamsteriopsis Caapi; tal be
bida proporciona euforia e intuicoes, como dizem. 0 mesmo se deu com
Ney Matogrosso, que faz as vezes de Pilatos na peca e dirige a iluminacao da
mesma. 0 papel de Cristo toca a Ciro Barcelos, ator, bailarinoe coreógrafo.
A música do espetáculo foi inspirada nos "Hinos" dos seringueiros da Ama
zonia.

Pode-se crer que o produtor da peca, Pedro Vieira, e sua equipe, pro-
curaram apresentar urna versao "brasileira" ou "amazónica" do texto do
Evangelho, pois os cénanos e o som lembram freqüentemente a floresta da
Amazonia. - Acontece, porém, que as conceptees subjacentes ao texto da
peca nao sao cristas: há ai dizeres de índole pan teísta (o panteísmo é a filo
sofía que professa que tudo, pan, é Deus, theós), como também cenas de
erotismo nao condizentes com o caráter sacra I do enredo. Eis alguns espéci-
mens dessa manipulacao do texto evangélico:

277
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

Cena 3:"Libertai a alma do careare da materia!" - Proposicáo que su-


gere a doutrina da reencarnado e o dualismo entre materia e espirito.

Cena 4: "Jesús recebe o Cristo através do Espirito Santo" — Isto nao


tem sentido numa perspectiva crista.

Cena 10: "Senté, Tiago, a natureza de Deus"! Procura dentro de vocé.


Ao Pai pouco importa como Ihe chamamos. O importante é reconhecé-lo em
teu coracao". — Esta e outras proposicoes do texto sugerem o panteísmo: o
homem seria urna centelha de Deus.

Cenas 12 e 13: "Jesús despe Madalena...

Madalena caí nos bracos de Jesús, que amorosamente a deita na estei-


ra... Madalena exclama: 'Jesús, eu me apaixonei por vocé!' "

Esta cena faz eco a concepcoes erróneas sobre a identidade de Madale


na (nao era a pecadora adúltera de Le 7, 39-51) e sobre o relacionamento de
Jesús com Madalena. Ver PR 318/1988, pp. 482-488 (comentario ao filme
"A Última Tentacfo de Cristo").

Cena 22: Urna criada do centuriao comete cena impúdica com Jesús.

Cena 19: Jesús diz: "Sou filho de Deus. Como tu. Caifas, também o és.
Somos todos filhos da mesma Forca Divina". — A expressao "Forca Divina"
é usual ñas escolas pan teístas. Jesús e todos os homens seriam igualmente fi
lhos de Deus.

Cena 25: "Jesús morreu nao para nos livrar dos pecados..." - Negase
o objetivo da Redencao professado pela fé católica.

Cena 24: "O cortejo da Via Crucis segué em frente, seguido por um
bloco de Carnaval". — O sagrado e o erótico se misturam indevidamente.

Além do mais, nota-se que o texto da peca é ambiguo e confuso, prin


cipalmente quando exibe os seus Hinos, nos quais se encontram, por exem-
plo, as seguintes passagens:

Cena 2: "Jardim Sagrado / De amazónica beleza / Da nossa ma"e natu


reza / E para Deus vir habitar".

Cena 4: Jesús canta: "Vou viajando com Deus... Jesús Cristo va i co-
migo... Fico so com a Virgem María". — Que significam essas incoeréncias?
(continua na p. 274)
Crónica:

A Vida em Cuba

Helio Begliomini"'

■0 presente artigo tenciona relatar algumas facetas da vida em Cuba co-


Ihidas numa viagem turística realizada em fevereiro de 1990. Nao pretende
ser abrangente, em virtude do pouco tempo de sua duracao (oito dias),
além de ter-se limitado á capital de Cuba, á provincia de Matancas, inctuindo
o polo turístico de Varadero, e á ilha de Cayo Largo, reservada aos estrangei-
ros. Por outro lado, a regiao percorrida soma quase a metade da populacáo
da ilha comunista, e o que se escreverá salta aos olhos, sendo testemunhado
por outras pessoas e embasado em indagapoes e depoimentos de guias e de
cidadaos comuns. Dessa forma, nao se trata de polemizar a situacao política,
embora a polémica esteja implícita, mas, sim, de fornecer dados objetivos e
atuais, a fim de que o leitor os possa somar, comparar ou contrapor-a outros
relatos a respeito daquele país, e tirar suas próprias conclusoes.

Abordaremos os aspectos da vida social e por final, brevemente, algu


mas questoes de ordem religiosa.

1. Aspectos da Vida Social

a) Cerceamento da Liberdade do Cidadao. Já é fato conhecido, entre


tanto é mais candente no local. O individuo nao goza do direito, consignado
na Declaracáo Universal dos Direitos Humanos, de ir e vir no que se refere a
outros países. Assim, o cubano poderá deixar o país somente se se casar com
um cónjuge estrangeiro e optar por residir no país deste último. Esta opcao
é definitiva e ele so poderá voltar como turista. Ou na condicao de exilado
político; na verdade, o cidadao nao pode discordar ativa e explícitamente do
regime reinante, tido como o ideal. Se isto ocorre, seu futuro "livre" em Cu
ba é ameacado, podendo, se tiver chances, deixar definitivamente o país. O
estrangeiro também só poderá residir em Cuba se se casar corrrcónjuge cuba-

* Médico do Hospital do Servidor Público do Estado de Sao Paulo. A Reda-


cSo de PR agradece ao Dr. H. Begliomini a sua colaboracio.

279
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

no e optar pela residencia na ¡Iha, ou se for profissional de interesse técnico


para o país.

O tolhimento da liberdade é visto também em outras situacoes da vida


cotidiana, como, por exemplo: Há polos turísticos, aonde o cubano tem
pouco ou nenhum acesso. Caso ele chegue a freqüentá-los, nao tem con di-
coes de usufruir do que é do turista, pois o único meio de compra e venda é
o dólar americano e o cubano nao pode ter dólar nem o Intur; este é urna
moeda cubana paralela, que tem o mesmo valor das fracoes do dólar e tam
bém é reservado á circulacao das pessoas estrangeiras. É interessante notar
quanto o capitalismo e o povo norte-americano sao desprezados pelo regime
cubano, ao mesmo tempo que se criam locáis somente para pessoas de países
capitalistas vi'rem gastar dólares em especie, a fim de aumentar a receita na
cional. Ao turista, pouco vale o peso cubano, pois praticamente sua utiliza-
gao se limita á compra de jomáis, revistas, sorvetes, e talvez á tarifa de óni-
bus, caso consiga tomá-lo. Embora o cambio paralelo seja proibido, é fomen
tado ñas rúas e a cotacao chega a ser 5 a 6 vezes a taxa oficial Igualmente, o
turista é alertado para nao deixar gorgeta, dando-se a entender que o traba-
Iho já é "adequadamente" remunerado pelo Estado e o trabalho nao precisa
de esmola. Entretanto, na prática, a gorgeta é benvinda e aceita com discri-
cao, pois o valor da moeda nao é de se desprezar. O triste era observar que
os funcionarios dos hotéis, embora ajuntassem alguns dólares, nao podiam
comprar ñas lojas dos turistas situadas no mesmo estabelecimento onde tra-
balhavam. Era constrangedor ver algum empregado pedir sigilosamente um
servico e dar dinheiro americano para que se comprasse este ou aquele artigo
em tais lojas; e mais aínda doia saber que era vigiado por outros companhei-
ros num regime de medo, onde todos se policiam.

b) Interesse e Motivapáo. Os funcionarios comuns dos varios esta bele-


cimentos nada mais faziam do que cumprir suas sumarias obrigacoes. Alguns
nao se esforcavam por ser simpáticos, enquanto outros tinham essa tenden
cia natural. É fácil entender, pois o único patrao é o Estado e todos sao fun
cionarios públicos, desde o professor universitario até o mais humilde dos
trabalhadores. A perspectiva de ganho nao varia substancialmente (poucos
recebem urna irrisoria comissáo pelo que fazem), bem como a qualidade de
vida. A escassez de bens de consumo é fato notorio e constrangedor. O con
forto proporcionado pelos eletrodomésticos é muito custoso e ás vezes
considerado supérfluo ou nao essencial. Cada trabalhador, de acordó com
sua familia, recebe urna caderneta onde estío relacionados os ítens conside
rados básicos para a manutengo da vida familiar. Tal relacfo e tal quantida-
de foram declaradas por varias pessoas insuficientes para o proposto. Isto
faz com que as familias que tenham melhor renda, procurem o mercado pa
ralelo, a fim de complementar a cesta básica e, muitas vezes, de modo preca
rio. As lojas que vendem produtos alimenticios {somente para os cubanos),

280
A VIDA EM CUBA 41

nada mais sao do que modestos emporios, com a maior parte das prateleiras
vazias, apresentando urna relacáo de pouco mais de meia-dú¿ia de diferentes
produtos para a comercializacao. É urna constante o encontró de filas nestes
e em outros estabelecimentos que o povo cubano freqüenta - o que prova-
velmente se deve á carencia de produtos, á deficiencia em sua distribuicao'e
á falta de opcao.

A carencia de recursos tidos como supérfluos, somada com a falta de


estímulo, faz com que a cidade capital tenha um aspecto desbotado ou des
corado. A impressáo é de que as residencias só foram pintadas urna única
vez, quando muito. Vidros das janelas que se quebram, retoques no cimento,
ñas portas e paredes nao sao costumeiramente repostos ou refeitos. Presen
ciamos bairros cujas casas eram verdadeiras mansoes há tres, quatro, cinco
décadas, e agora sao transformadas em grandes corticos.

Difícil é encontrar nos habitantes um explícito desejo de cuidar do


jardim de suas próprias casas. Certa ocasiao, o guia foi indagado a respeito
do por qué nao se preocupavam com o embelezamento e o cuidado dos jar-
dins públicos de urna determinada área da cidade; a resposta foi: "Mas eu
nao vejo que os jardins estáo descuidados". Tal resposta reflete bem a for-
macao do povo: ele nao foi educado para certos valores, e nao consegue ver
valores que outros povos véem. Ademáis, a ideología reinante faz com que o
sentido de supérfluo ultrapasse a noca o razoável do estético e dé margem'ao
desleixo e á precariedade.

c) Transporte. Em teoría, somente alguns profissionais tém prioridade


na aquisicao de carro. Entre eles, os responsáveis pela saúde. Na prática, per-
ce be-se que um número maior de pessoas do que o esperado, tem carro. Tra-
ta-se de veículos de duas a quatro décadas passadas, embora haja também
carros novos. Estes sao mais freqüentes ñas áreas militares e da saúde. Os
ónibus sao geralmente antigos e trafegam superlotados. Há também dois ti
pos de taxis. O reservado ao cubano, que é urna especie de lotacao, de que o
estrangeiro pode usufruír; porém deverá saber bem a planta da cidade e os
respectivos itinerarios. Na prática, o turista usa somente a frota a ele reserva
da, cuja moeda nao deixa de ser o dólar.

Na verdade, é montado um esquema todo especial para o turista, sus


tentado pela moeda norte-americana, onde, longe de compartilhar da vida
cubana, tenha na alimentacao, na habitacao, no transporte e no lazer o me-
Ihor conforto possível, induzindo-o a ter urna idéia mais positiva sobre o
país e o sistema político aplicado.

d) O povo. As pessoas sao simples, alegres, observadoras, nao curiólas


(o que é curioso!); é que muitas vezes parecem estar medindo suas próprias

281
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

atitudes. Suas vestimentas, habitapoes e alimentacao sao modestas. A ¡m-


pressao que se tem é de que a sociedade foi nivelada por baixo ou por um
nivel mínimo de subsistencia para todos. Entretanto, chama a aten pao a au
sencia de mendigos, pedintes ñas rúas (somente enancas nos pediram "ch¡-
cletes") e da extrema miseria, constatada em países do Terceiro Mundo, en
tre eles o nosso Brasil, onde em varias localidades o nivel de vida é incompa-
tível com o valor da dignidade humana. Em relacao á seguranca também é
constatado um baixo índice de roubos, embora existam. Alias, urna das se-
nhoras do grupo teve sua bolsa furtada em plena cidade de Havana a luz do
dia.

É muito difícil avaliar o que o povo pensa da situapáo política, urna


vez que tem informapoes parciais ou mesmo distorcidas de outras realidades,
além de nao ter liberdade de expressáo, de nao poder discordar da filosofía
reinante, de ter sido educado macicamente numa só filosofía e de nao ter de
senvolvido urna capacidade de discernimento. Neste contexto, pode-se com-
preender o porqué do comandante-em-chefe do país ser venerado e tido, por
vezes, como um semideus. Dentre as benesses apontadas pelas pessoas sa-
lientam-se:

d1) Educacao: Abrangepraticamente toda apopulacaoe minimiza tanto


quanto possivei o índice de analfabetismo. Tem como conotacáo o fato de a
crianca ficar na escola o período integral, onde recebe o almogo. Contribuí
para evitar crianpas margináis. Por outro lado, a críanpa é educada, exclusiva
mente, no e para o marxismo.

d2)Saúde: Tanto a médica quanto a odontológica sao bem vistas pela


populapao, que tem bom amparo e facilidade.

d3) Esporte: Embora a populapao em geral nao o evidencie, tém sido


empregados grandes esforpos para o incentivo ao esporte.

e) MassificafSo para urna Sociedade Marxísta. É surpreendente obser


var como as pessoas estao massificadas e dispostas a pensar que a única saída
é o comunismo, lá mais denominado de socialismo. Assim a tática é ressaltar
a filosofía e os heróis nacionais presentes e passados que contribuiram para a
sua implantapáo. A palavra mágica que é constantemente escrita ou ouvida,
é "revolupao". Por "revolupao" pode-se entender o mesmo que bem-aventu-
ranpa para o cristao. A propósito, poder-se-ía parodiar, sintetizando o pensa-
mentó do regime: "Felizes os revolucionarios (marxistas), porque criar ao o
paraíso terrestre para o homem, prescindindo da ilusáo de um Deus e de
urna vida sobrenatural". Outrossim, o pensamento da revolupao está impreg
nado no povo e nos meios de comunícapao. Algo digno de nota é observar
que todos os out-doors da cidade, varios muros e placas, apresentam somen-

282
A VIDA EM CUBA 43

te a propaganda do regime. Assim, havia frases como: "Á revolucao e ao so


cialismo devemos tudo o que temos"; "Socialismo ou morte!"; "A revolu-
pao é a razao de nossa vida". Tais sen tencas eram ilustradas com retratos dos
heróis da revolucao. Alias, estes esta va m presentes em camisetas, quadros e
objetos de recordacáo. Da mesma forma, é notoria a antipatía explícita abs
norte-americanos, que, por vezes, perdía os limites da diplomacia, do diálogo
e até da educacao. Havia um grande out-door em frente ao predio onde se
alojava o escritorio dos Estados Unidos, que, exibindo a caricatura do Tio
Sam e de um cubano, apresentava a seguinte exclamagao deste para aquele:
"Senhores imperialistas, nos nao temos absolutamente nenhum medo de vo
ces". Se nao bastasse, no Museo de la Revolución, o melhor do país e em ple
na capital, havia as seguintes frases em mural de grande tamanho, adornadas
por caricaturas apropriadas: "Batista cretino, por nao ajudar a fazer a Revo-
lugao!"; "Reagan cretino, por nao fortalecer a Revolucao"; "Iariques creti
nos!"; "lanques assassinos!". Como pudemos testemunhar, é fomentada
urna grande conotacao á palavra "revolucao", temperada com um sentimen-
to mesclado de odio, vinganga, gloria e poder.

Urna das experiencias mais contundentes e inesquecíveis foi a visita


programada a urna creerte, que abrigava enancas de 45 dias a 5 anos em regi
me integral. Tem urna estrutura similar á nossa, ganhando na atengao a saCí
ete médico-odontológica, que se faz periódicamente. Outrossím, havia urna
enfermeira pela man ha e outra á tarde, que trabalhavam na área preventiva.
Entretanto, o que foi ¡mpressionante observar era a lavagem cerebral marxis-
ta que as enancas recebiam desde a mais tenra idade. Como o perfodo é inte
gral, a educacao das criangas passa para o Estado. Este, sendo ateu, transmi
te valores inconciliáveis com a fé crista. Assim, o nosso crucif¡xo era substi
tuido por fotografías, caricaturas, quadros dos heróis revolucionarios, tais
como José Marti, Che Guevara, Fidel Castro, etc. As atividades continham
¡niciapao ideológica. Foram exibidas diversas miniapresentacóes de criancas
de dois a cinco anos. O conteúdo era a mesma monotonia filosófica: exalta-
va as idéias e os feitos revolucionarios, bem como educava para venerar os
agentes da revolugao. Chocava estarmos acostumados a escutar "batatinha
quando nasce...", "ciranda, cirandinha...", "escravos de jó'...", pela mesma
faixa etária de inocencia.

2. Questoesde Ordem Religiosa

Hoje em dia o acesso á religiao é mais facilitado que outrora. Diversas


pessoas davam praticamente a mesma resposta enlatada: "Aqui.em Cuba, a
religiao é livre. Cada qual professa a fé que quiser". Da mesma forma, o jo-

(continua na p. 251 i

283
Livros em Estante

O testemunho do Evangelho de Joao, por José 0. Tuñi Vancetls. Tra-


ducio de Jaime A Clason. - Ed. Votes, Petrópolis 1989, 138 x 210 mm,
183 pp.

0 autor estudou a fundo o Evangelho segundo Sao JoSo e o apresenta


em duas grandes seccoes, que constituem o livro ácima: I) a formacSb do
Quarto Evangelho a partir de narracoes referentes a Jesús (pp. 25-77); II) a
revelado de Jesús, do Paiedo Paráclito, e a reacSo dos homéns diante dessa
revelacio (pp. 78-164). Um Apéndice I trata do "quarto Evangelho e a ques-
tao histórica" (pp. 165-170); o Apéndice II descreve "alguns traeos da
comunidade onde o Evangelho foi escrito" (pp. 171-176).

Tuñi Vancetls se detém tongamente, e com acume, na explanacao da


teología contida no quarto Evangelho; especialmente interessante é o que
diz sobre o relato da Paixao (= exaltacSo de Jesús), ás pp. 61-77. Todavía no
final o autor interroga a respeito da historicidade dos episodios referidos pe
lo evangelista: correspondem a acontecímentos reaís ou sao construcoes fic
ticias inspiradas pelo intuito de propor predicados teológicos de Jesús? Em
resposta Tuñi menciona "indicios que deixam entrevera importancia que te-
ve a historia para o(s) autor(es)" (p. 168), mas nSo se define claramente em
favor da fidelidade histórica do quarto Evangelho: "Jesús ressuscitou verda-
deiramente a Lázaro? Temos que responder que nSo sabemos, que nao te
mos dados para confirmar este acontecímentó. 0 que podemos dizer, é que
o interesse do quarto Evangelho nao está em demonstrar que Jesús ressusci
tou Lázaro e, sim, em fazer ver que Jesús manifestou a sua gloria, quer dizer,
sua relacao especial com Deus e que esta relacao especial com Deus continha
a possibilidade de fazer um mono voltar á vida. Se de fato o ressuscitou ou
nao, ó um fato de menos importancia" (pp. 169s). — Ao assumir esta posi
cio indefinida, o autor se distancia de urna respeitável córrante de exegetas
que admitem a historicidade do quarto Evangelho, baseando-se em argumen
tos persuasivos (entre outros, o anglicano C.H. Dodd, citado por Tuñi ás
pp. 167s). A ambigüidade de Tuñi pre/udica o seu livro, que por vezes dá a
impressio de que os evangelistas em geraf fizeram suas construcoes teológi
cas, sem que o leitor possa ter garantías de fidelidade á historia. Ademáis
Tuñi Vancells é contraditado pelas conclusSes a que Latourelie e a crítica
mais sólida chegaram em seus estudos; ver PR 336/90, pp. 194-210.

284
LIVROS EM ESTANTE 45.

Biblia Sagrada. Edicffo Pastoral. - Ed. Paulinas, Sao Paulo 1990, 137
x 190 mm, 1631 pp.

As Edicdes Paulinas publicaram urna traducao pastoral do Novo Testa


mento, com suas notas respectivas, em 1986. No ano corrente é a Biblia in-
teira que vem entregue ao público dentro do mesmo estilo pastoral.

A traducSo se deve a Ivo Storniolo e Euclides Martins Ballancin, auto


res outrossim das Introducoes e notas de todos os livros, excetuando-se
1/2 Crónicas, Esdras, Neemias, Tobías, 1/2 Macabeus e os Profetas, cu¡o tex
to foi traduzido por José Luiz Gonzaga do Prado. As características de tal
tradu(á~o sSo enunciadas na Apresentacio do texo:

"Conservando a fidelidade aos textos origináis, procuramos traduzi-los


em linguagem corrente, evitando construcoes rebuscadas e palavras de uso
menos comum". A ótica é a da "realidade desafiadora do nosso país e do
nosso continente".

A edicao traz o Imprimatur de D. Vital J.G. Wilderink, Bispo Respon-


sável pela Catequese na CNBB.

Em geral, nada se pode apontar de grave no texto traduzido. Apenas


observamos que a palavra grega epi'skopos é vertida por dirigentes (Fl 1,1;
ITm 3,2); e por guardiaes (At 20, 28); presbyteros por anciao (At 20, 17)
e por presbítero (1 Tm S, 17). Verdade é que a nota a Fl 1, 1s explica o senti
do de apískopos, palavras — que teña sido melhornSo traduzir. — Em Le 1,34,
sSo pouco condizentes com a dignidade do contexto as palavras atribuidas
a María: "Como vai acontecer isso, se nao vivo com nenhum homem?" É
costume traduzir por "... se nao conheco nenhum homem?"

As notas procuram sintetizar o conteúdo de secoes inteiras do texto


sagrado, de modo que este é sumariamente explicado ao ieitor. A iniciativa é
válida, pois facilita a leitura bíblica. Infelizmente, porém, a orientacao dou-
trinaría dessas notas é, em muítos casos, unilateral, pondo em relevo quase
exclusivamente as conseqüéncias sócio-polt'ticas da mensagem bíblica. Isto ó
particularmente nítido no Novo Testamento; ver, por exemplo, as notas a
Mt 10,26-33; 11, 1-6; 11, 25-30; 24, 32-51; 25, 1-13; 25, 31-46; Me 10, 17-
31; 1Cor 15, 20-28...; retornam constantemente as palavras "opressores.
margina/izados, sistema, sistema classista, justica, interesses, sociedade, es-
trutura, riqueza, projeto, libertacio, liberdade..." Através dessasexplieacSes,
tem-se a impressSo de que Jesús veio pregar tao somente a prática da justica
social e, por causa disto, foi condenado á morte. Ora Jesús veio, antes do

285
46 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

mais, trazer a nvelacao do Pa¡ e do seu plano de filiacao divina para todos os
homens — o que nao transparece suficientemente nesses comentarios.

Além disto, Jesús é reduzido. cá e lá, á figura de mero profeta inseguro


quanto ao seu destino. Referíndo-se é oracao de Jesús no horto das Olivei-
ras, diz a nota a Me 14, 32-42: "O que se passa no íntimo de Jesús? Urna lu
ía dramática, em que se cofrontam... o medo e a serenidade, a coragem de
continuar o projeto até o fim e a vontade de desistir e fugir". Jesús superou
a crise pela oracao.

O presbítero tem a funcao de "animar a liturgia e ensinar a Sagrada


Escritura" (nota a 1Tm 5, 17-25); ora "animar" pode ser tarefa tambémde
um leigo; o presbítero celebra "na pessoa de Cristo".

Estranha é a explicacao dada a ICor 7, 36-38: tratar-se-ia de "noivo


que senté forte o estímulo do dese/'o sexual, mas se vé premido pelo ideal
celibatário, apresentado por alguns da comunidade como única maneira de
realizacao crista". O texto grego é, sem dúvida, obscuro, mas os comentado
res da Edicao Pastoral véem ai coisas que os bons exegetas nao costumam
ver. Confíra-se a nota correspondente da Biblia de Jerusalém.

O tratamento "vocé, voces" nao é o melhor, nem numa traducao po


pular da Biblia. Ver PR 296/1987, pp. 40-48.

Nao podemos deixar de observar que as páginas introdutórias nos di


versos livros do Antígo e do Novo Testamento sao portadoras de informa-
edes úteis ao leitor; procuram transmitir nocoes de exegese científica mo
derna em linguagem acessfvel ao grande público, todavía sempre marcadas
pela preocupacSo unilateral dos interesses socio-económicos. Ve/a-se, por
exemplo, na Introducio do livro de Jó o seguinte trecho: "A vida do pobre
é transformada em lugar da manifestacao e experiencia de Deus. A partir dis-
so, podemos dizer que o livro de Jó é a proclamacao de que somente o po
bre é apto para fazer tal experiencia e, por isso, é capaz de anunciar a pre-
senca e a acao de Deus dentro da historia" (P. 639).

A nota a Gn 19, 30-38 apresenta um erro gráfico de certa monta: fala


de Jó em vez de L6.

Em sfntese. a Edicao Pastoral é entendida como "incitamento socio-


político" — o que depaupera a mensagem da Biblia. Esta tem, por corto,
conseqüéncias de Ética Social, mas ó, antes do mais, a revelacSo do misterio
de Deus aos homens e a promessa da heranca definitiva que toca aqueles que
no Espirito pelo Filho caminham para o Pai (cf. Ef2, 18).

286
LIVROS EM ESTANTE 47

A Descoberta Científica de Deus. Ensaio de Diálogo Pós-científico,


por Dadeus Grings. - Co-Edicao EDIPUCfíS/Livraria Editora Académica
Ltda, Avenida Ipiranga 6681, Predio 09, 90620 Porto Alegre (RS) 1989,
I50x210mm,295pp.

Dadeus Grings é sacerdote, professor da PUC de Porto Alegre (RS).


Entrega ao público um llvro valioso, em que, a partir da realidade física, bio
lógica e psíquica, vai subindo até o conceito de Causa Primeira ou Deus. A
seguir, dentro do fenómeno religioso (que professa a existencia de Deus),
examina a sin tese doutrinária católica como sendo a exata resposta aos an
seios congénitos do ser humano. Os capítulos I-Vdo livro constituem um ri
co manandal de dados científicos e de filosofía; o autor coiheu informacdes
numerosas e seguras que Ihe servem de plataforma para passar do visível ao
Invisível (como ele mesmo freqüentemente diz). Os capítulos VI-VI11 abór
dame Esforco Religioso (VI), considerando a Religiio como tal, as grandes
ReligiSes da humanidade e o ateísmo; o capítulo Vil esturía a Revelacao Di
vina (Jesús Cristo e a SS. Trindade); o capítulo VIII trata da RedencSo cris
ta, terminando com a S. Eucaristía.

O autor tenchna mostrar (e consegue-o) que nao há oposicSo entre


Ciénda, Filosofía, ReligiSo e Cristianismo, mas, ao contrario, evidencia a sua
convergencia para satisfazer aos anseios do homem em demanda da verdade
e... da Verdade Suprema.

A erudicSo do livro (que nao Ihe podía faltar, poís é obra seria e segu
ra) exige do leitor atencao e perseveranca, ao mesmo tempo que Ihe dilata
os horizontes; é agradável encontrar em parágrafos relativamente breves,
mas densos, informacdes enciclopédicas de grande utilidade; ve/am-se, por
exemplo, o que nos diz o autor sobre um aspecto da natureza que sSo os
sentidos humanos és pp. 62s.

Tal obra será de enorme valor para estudantes e professores, principal


mente do terceiro grau; mas dirígese também a todo homem que tenha a
ansia de descobrir a Verdade e um sentido para a sua vida.

Israel em Oracao. As origens da Liturgia Crista*, por Carmine di Sante.


ColecSo "Biblioteca de Estudos Bíblicos". TraducSo de JoSo Aníbal García
Ferreira Soares; revisSo de José Joaquim Sobral. - Ed. Paulinas, SSo Paulo
1989, 140 x 210 mm, 261 pp.

O autor ó católico; dedicou-se, porém, ao estudo dos ritos e textos da


Liturgia hebraica para por em relevo as afinidades de expressSo existentes
entre o culto dos ¡udeus eoda Igre/'a Católica. Considera, conseqüentemen-

287
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 337/1990

te, todos os ritos do judaismo com suas béncaos ou louvores adaptados és


diversas ocasiSes do día ou do ano israelita - o que se torna altamente inte-
ressante e precioso para os cristaos, pois assim se revela a profundidade da
piedade israelita. Isto contribuí para dissipar mal-entendidos e favorecer a
aproximacSo de judeus e cristaos. Na verdade, o povo judeu, dotado de rica
espiritualidade, ó o berco do Cristianismo, que tem na tradicao de Israel as
suas genufnas rafzes fao invés do que pensava Odo Case!, por exemplo, que
procurou compreender, a partir de fon tes greco-romanas, alguns traeos da
Liturgia católica).

"Afirmando estes lapos nao queremos negar a originalidade da liturgia


cristS, reduzindo-a a um produto e prolongamento da judaica, mas delimi
tar o seu verdadeiro lugar de nascimento e de confronto. A novidade da li
turgia crista nao consiste em urna criacSo ex nihilo, mas na interpretacao
cristo lógica dos dados hebraicos; nao no seu can cela manto, mas na sua dffe-
renciacfo. Esta raflexáo á importante, principalmente para compreender o
sentido das fastas cristas. Geralmante costuma-se dizer que, como o judais
mo fez das fastas agrícolas f estas históricas, assim a Igreja as cristianizou, ce
lebrando no Natal, Páscoa e Pentecostés a memoria do nasrimanto, morte e
ressurreicSo e a presenca de Jesús no dom do Espirito Santo. A afirmacao é
verdadeira... Como a festa judaica nao aboliu a densidade material e terres
tre das fastas agrícolas (e qual festa nao á agrícola?), assim a festa crista* ná~o
anula, mas reassume e radicaliza o sentido das fastas hebraicas. O jardim do
Edén (qua é este mundo, de acordó com o projeto da criacSo) f loresca e pro-
duz seus frutos somonte onde se vive com Jesús e como Jesús, o Messias e o
Filho de Deus" (pp. 250$).

0 livro merece consideracSo por parte dos que desejam compreender


melhor a historia e o significado de certos ritos da Liturgia católica: "O no-
mem é o ser que reza. E é esta a sua grandeza" (A. de Lamartine, A queda
de um anjo. Vil Visao).

E.B.

AOS NOSSOS AMIGOS QUE DESEJEM DESFAZER-SE DE


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288
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LeSo XIII a Joáo Paulo II) por María de Lourdes G. Oliveira. 107 p. Ed. pro-
pna CrS 100,00
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Ed. própria Cr$ 80,00
A VIDA CRISTA - I SANTO AGOSTINHO (Coletánea de textos) responsável D. Emi
lio Jordán, OSB. Instituto Social do Morumbi SO CrS 165,00
"SER MAIS..." estudos sobre Teilhard de Chardin. Responsável D. Emilio Jordán OSB.
Instituto Social do Morumbi SP CrS 16.5,00
PARA AQUELE QUE VEM - Oracoes de Pe. Teilhard de Chardin. Responsável Dom
Emilio Jordán OSB. Instituto Social do Morumbi SP CrS 125,00
VOCACAO SACERDOTAL E RELIGIOSA: Profissao Sacerdotal e Religiosa. Aspectos
humanos e sobrenatural*. Dom Emilio Jordán OSB. Instituto Social do Morumbi
SP CrS 85,00
ENCONTRÓ COM CRISTO NA TRAPA - Thomas Merton. Publicacao Mosteiro
N. Sa. Novo Mundo CrS 200,00
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TEOLOGÍA E TEOLOGÍAS DA LIBERTACAO. Dom Odilon Moura OSB. Ed. Pre-
senca. 1987 CrS 180,00
O ENTE E A ESS ENCÍA -S. Tomás de Aquino. Texto latino e portugués. Introducto,
traducSo e notas de D. Odilon Moura OSB. Ed. Presenca. 1981. 180 p. Cr$ 500,00
O MEU CRISTO PARTIDO. Ramón Cué, SJ. 28a ed. Ed. Perpetuo Socorro - Por
tugal . .■ CrS 350.00
SANTO ROSARIO 2.a ed. Pe. Josemaria Escriva. Ed. Quadrante CrS 282,00
FAZENDA DA ESTRELA. Romance de Irene Tavares de Sá com prefacio de Rachel
de Quetror Agir Edito». 1988. 226 p CrS 125,00
CATEQUESE ONTEM E HOJE, dos primordios a Medellin. Luiz Pereira dos Santos
com apresentacffo de Fr. Carlos A. Zagonei. Ed. Paulinas. 1987. 230 p.. CrS 252,00
ORIENTAQOES PARA A FORMAQAÓ DOS FUTUROS SACERDOTES acerca dos
instrumentos da comunicacáb social. Congregacao para educacáo católica. Ed.
Paulinas 1987 CrS 96,00
MARÍA E A VIDA CRISTA - Albert Rouet, 2a ed. Ed. Paulinas. 1981,152 p
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A PALAVRA DE DEUS NA MISSA — Introducto do Ordo Lectionum Missae e elenco
das leituras Bíblicas das Missas para diversas circunstancias. Ed. Paulinas. 1985. . . .
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OEUS-PASTOR NA BIBLIA, solidariedade de Deus com seu povo. Elena Bosetti e Sal
vador A. Panimolle. Ed. Paulinas. 1985. 125p CrS 249,00
SER PADRE, DOM E MINISTERIO. M.J. Nicolás. Ed. Paulinas. 1989.180 p
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PÍLULAS DE OTIMISMO. Vot. II.'Dom Marcos Barbosa OSB. Ed. Vozes. CrS 125,00
CLl'NICA DO CORACAO. Dom Marcos Barbosa OBS. 2a ed. Ed. Vozes.. CrS 125,00
PRIMEIRO CATECISMO DA DOUTRINA CRISTA; 21? edicSo Ed. Vozes. 140 p . . .
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RELEITURA JUDAl'CA E CRISTA DA BIBLIA. D. JoSo E. M. Térra SJ. Ed. Lo
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PASTORAL VOCACIONAL DIOCESANA, organizacSo e prática. D. Joel Ivo Catapan.
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tévao Bettencourt, OSB. 3a. ed., ampliada e revista,
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10a. ed. 1987 CrS 4,00

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