No confronto entre sair ou ficar, fugir ou se manter preso, crescer ou estagnar,
envelhecer ou n�o vivenciar, partir ou n�o voltar, viver intensamente ou apenas n�o morrer nunca � a demora indecisa desperta os piores temores e as melhores fantasias infantis.
A jornada tem in�cio com o passo rumo ao desconhecido. O desconhecido, esse
monstrengo moldado pelo medo, essa sombra esquisita e irreal. Curiosamente a armadilha do monstro n�o afasta, chama. O monstruoso tamb�m atrai. Impens�veis fantasmas ganham vida, como num sonho aberto aos olhos. O sonho n�o � pesadelo porque n�o � puro susto: contornos bizarros, aos poucos, viram contornos comuns, coerentes com o territ�rio a ser desbravado � se antes inconceb�vel, logo antecipado pela nova respira��o.
Na terra da fantasia, o chamado � sobreviv�ncia � igualmente potente. A intui��o
criativa da imagina��o navega nas �guas do instinto. E se depara com a inevitabilidade da luta. Luta, aqui, n�o t�o violenta quanto l�dica. Na suspens�o espacial do sonho, o risco � um salto seguro, mesmo de altitude insabida. Para o virtual corpo on�rico, a luta inevit�vel se ad�qua ao desejo profundo de seguir lutando.
O confronto de todos os medos imp�e ao desejo profundo, em seguida, um outro
desejo: o de ir al�m, superar caminhos trilhados, transpor barreiras carcomidas e alterar o horizonte interno com uma nova vis�o defronte. Como o desejo, mais ou menos amedrontado, dos momentos de passagem � dos movimentos de mudan�a.
O ide�rio da mudan�a � a mesma biblioteca simb�lica do movimento, cheia de t�neis
e pontes, paralisia e velocidade. Para sair da longa espera do medo, a fantasia d� vez ao mundo simples que se p�s de cabe�a para baixo. Depois que tudo se explica em exagero sob a vig�ncia do medo, o percurso da espera � desfeito. Afinal, simplificar � a fun��o do susto.
Toda crian�a madura sabe disso � mas nem toda crian�a medrosa amadurece.