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História e Memória da
Biblioteca Pública do Amazonas
(1870 a 1910)
Manaus
2000
Guilhermina Melo Arruda
História e Memória
Memória da
Biblioteca Pública do Amazonas
(1870 a 1910)
Manaus
2000
Ficha catalográfica
Dissertação de Mestrado.
CDU: 027.022(811.3)”1870-1910”(091.02.2)
Dissertação defendida e aprovada em 31 de agosto de 2000,
_______________________________________________________
Prof. Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira
Orientador
_______________________________________________________
Profª Drª Elenise Faria Scherer
Membro
_______________________________________________________
Prof. Dr Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro
Membro
À Maria de Nazaré Melo Arruda, minha mãe;
Dedico
Ao professor Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira,
meu orientador;
À Ana Cristina Estevão,
Coordenadora da Biblioteca Pública do Amazonas;
Ao Departamento de Biblioteconomia da Universidade do
Amazonas, meu local de trabalho;
Aos amigos que, acreditando em meu potencial,
deram-me força para prosseguir, em especial a Ademir de Melo Amaral;
E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste trabalho,
Agradeço
“ Compraste livros, enchestes estantes,
oh Amantes das Musas.
Significa isso que és um erudito agora?”
(Ausônio)
Lista de Figuras
Amazonas 97
Considerações Iniciais 09
Capítulo 1
Um Retorno à História 16
Capítulo 2
Uma Sala de Leitura em Manaós 45
Capítulo 3
Uma Nova Biblioteca para a Província 78
Referências 114
Resumo
intelectual da cidade.
Pública do Amazonas.
na cidade de Manaus.
por essa razão, haja vista que a época em que se criou a Sala de Leitura
trajeto histórico.
escritos de Genesino.
sua criação.
da Barroso.
diretas.
1
GROGAN, D. The literature. In: _________. Science and technology: na introdution
to the literature. 3. ed. London: C. Bringley, 1976. p. 14-49.
Para coletar esses dados, contou-se com o auxilio das seguintes
particulares.
início do século XX, pois foi durante esta época que a cidade sofreu seu
de exposição.
Para a organização deste trabalho, três capítulos foram
Cotidiano.
local, sendo este menos apropriado para assumir uma Instituição desse
porte.
Capítulo 1
Um Retorno à História
uando houve a criação da Sala de Leitura em Manaus anexa
Sala, em uma cidade que mais parecia uma grande aldeia, faz-se mister a
Luckmann (1995:34)
2
Entendido como sendo tudo o que encanta, estando relacionado ao aparente, ao que é
facilmente identificado e mensurável, deixando transparecer toda uma ilusão de
esplendor, como nos é resgatado pela historiografia regional.
3
Compreendido como sendo a representação de tudo aquilo que está escondido, o que
não é visível e captado em uma primeira leitura.
que levaram à criação da Sala de Leitura como núcleo da Biblioteca
A Construção da “Vitrina”
situação econômica vivida pela região, uma vez que entre 1616 a 1750,
castanha e outros.
Mesquita (1997).
inexpressivas.
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Entendida como sendo o grupo social constituído de pessoas economicamente
privilegiadas.
Figura 3: Nova forma de vestir
Fonte: DIAS, Edineia Mascarenhas. A ilusão... 2000.
a adquirir suas
mundo.
Por essa razão, a chegada desses barcos era esperada por todos com
Por essa razão, afirma-se que foi somente com a economia gomífera
látex.
suficiente. Assim, para suprir tal falta, o Poder Público decidiu desenvolver
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Processo descoberto, simultaneamente por Charles Goodyear (EUA) e Hancock (Reino
Unido), a partir da mistura da borracha com enxofre e calor. Em decorrência de ter sido
associado ao deus Vulcano, tal processo recebeu este nome.
uma política que atraísse o maior número possível de trabalhadores para a
região.
somas para que tal fato ocorresse, o “norte do país recebera apenas um
amazônicos.
imigração passou a ser uma ótima oportunidade, pois lhes traria sorte em
dose dupla, pois ao mesmo tempo que se libertavam das constantes secas
condições de vida.
Segundo Arthur Cezar Ferreira Reis (1997:47), foi por esta razão que
ouro negro”.
que ia atingindo seu clímax, fez com que Manaus deixasse de ser vista
cidade de Manaus.
ao Novo Eldorado.
Diante desse fato, o Poder Público visou eliminar tudo que fosse
Manaus.
Costa (1997:90).
grande aldeia.
O motivo levou a tal preocupação, ligou-se ao fato de que esses
Por isso, Manaus não poderia mais continuar com a mesma estrutura,
redefinir suas feições, uma vez que os antigos prédios, ruas desniveladas
nela chegavam.
possuía como
a alguma pessoa ilustre Manaus passou a dormir cada dia mais tarde.
capital da borracha.
aos teatros para não serem confundidas com as chamadas cocotes, bem
maridos.
apesar de sentirem na pele que tais trajes não eram apropriados ao clima
da região.
levado a sério:
alegres.
estilo de vida.
Pedagogia”(BRAGA, 1989:27).
forma ligou-se à base desse sistema, haja vista que o ensino estabelecido
social.
servia mais
ilusão de desenvolvimento.
Por cultura transplantada, entende-se como sendo o processo não só
voltava para a população como um todo, prova disso é que dos 38.720
(GOMES, 1983:80).
A Obscuridade do Fausto
Com base em Costa (1997), por tal exclusão, entende-se como sendo
perímetro urbano.
dias de barco.
Destaca-se isso, pois nesses bairros não existia água potável, sistema
fossem jogados nos bairros distantes, piorando ainda mais a vida das
cidades cosmopolitas.
aumento do valor dos alugueis, porém mais uma vez houve resistência
próprias residências, desde que não fossem casas cobertas de palha, haja
(1997).
presenciou 1.921 casos de febre amarela, tendo 102 mortos; 232 casos
de varíola, com 151 mortos; 102 casos de sarampo; 1950 casos fatais de
da prisão
nas ruas de Manaus, criou a Escola Correcional para abrigar menores que
passavam o dia nas ruas e praças da cidade, uma vez que suas famílias
não tomavam nenhuma atitude para coibirem suas presenças nas ruas da
cidade.
futebol.
do Poder.
capítulo seguinte.
Capítulo 2
Uma Sala de Leitura em Manaós
ara que o resgate histórico referente à trajetória da sala de
cidade de Manaus, deu-se para assumir a sua função pública ou, para
usadas pelo público, porém, devido terem sido criadas como bibliotecas
particulares, não poderiam ser consideradas como públicas, haja vista que
segmentos.
aos escravos, aos iletrados, bem como os que recebiam a permissão para
serie.
livro.
(1975:148)
Genebra, e Königsberg.
O segundo destaca-se a atitude dos livreiros que, com o intuito de
economicamente privilegiada.
Oliveira (1993).
Por esta razão, madalena Sofia Mitoko Wada (1985:16), afirma que
mesmo tempo que passou a ser obtido de forma mais fácil, fez com que
leitura.
referente ao ato de ler era obtido através da leitura “selvagem”. Por este
comerciantes e artesãos.
a ser entendidos como uma questão que deveria ser igualitária a todos os
educação.
pragas.
duas partes, sendo que uma foi distribuída ao exterior, enquanto que a
observa-se que
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BALAYÉ, Simone. La bibliothèque nacionale des origines à 1800. Genebra: [s.n.], 1988.
Durante a primeira metade do século XIX, as horas de
acesso a essas bibliothèques publiques eram restritas,
havia exigências quanto a maneira de trajar de seus
freqüentadores – e os livros preciosos novamente
acumularam poeira nas estantes, esquecidos e fechados.
passaram a ser rejeitadas, uma vez que não faziam parte da comunidade.
públicas, uma vez que foram criadas a partir das reivindicações do povo,
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Entendido como sendo o grupo de cidadãos marginalizados, ou seja, o público infantil,
analfabeto, recluso, livre, hospitalizado, deficiente, físico e visual, etc.
É importante frisar que as bibliotecas públicas para que atinjam
dos livros.
No entanto, pela evolução histórica dos papeis e objetivos atribuídos
educacional, haja vista que esse tipo de biblioteca nasceu a partir das
(NOGUEIRA, 1986).
educativa por excelência. Todavia, não deve oferecer seus serviços apenas
não-formal e a informal8.
8
Para Ana Maria Cardoso de Andrade (1979), a educação não-formal é vista como sendo
aquela desenvolvida em entidades ou instituições, com métodos tradicionais, com
métodos tradicionais de aula, por está desvinculada do sistema regular, voltando-se para
a educação de adulto, treinamento profissional e outros, enquanto que a educação
informal passa a ser sinônimo de educação contínua, porém, sem vinculo a nenhuma
instituição sob a forma de cursos de formação esporádica.
Isso implica salientar que a biblioteca pública deve se preocupar não
negada.
pública. Essa função deve ser entendida como sendo todo e qualquer tipo
época que o processo cultural, é vista como sendo a que mais vem
(1979).
Isso não implica afirmar que essa função colocará a biblioteca num
que irá freqüentá-la apenas para a obtenção de uma leitura que desperte
usuário real.
entretenimento.
VERGUEIRO, 1988).
transformações sociais.
todos.
à concepção errônea arraigada na sua criação, uma vez que são frutos
época, devido ser apenas essa classe que mantinha um certo domínios
nome de livraria.
educacional brasileiro.
elitista. Por esta razão, seus acervos serviam apenas para reproduzir a
economicamente privilegiada.
portanto, incorreto afirmar que a maior parte das pessoas era analfabeta.
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Atual Biblioteca Nacional
Figura 7: Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/
f/f3/Biblioteca_Nacional_aerea.JPG
européias.
divergência.
geral.
não passava de 14%, enquanto que entre os anos de 1900 a 1920 não
expectativas de mudança.
rápida.
Com o intuito de agilizar a instalação dessa biblioteca, o deputado
Lyceu, uma sala de leitura, que servirá de núcleo para a Biblioteca Pública
da Província(13).
10
Resultante de doações de particulares e através da aquisição junto às gráficas
brasileiras e estrangeiras, cujo recurso financeiro fora obtido por meio de campanhas
comandadas pelo próprio Ramos Ferreira.
Uma vez equipada, a Sala de Leitura, com um acervo constituído por
Silva Reis.
Instrução Pública e a Biblioteca, sendo relevante salientar que tal local iria
ser construído não por causa da biblioteca, e sim por causa da Instrução
o perfil das pessoas que deveriam fazer uso do referido local, conforme
vestido; 2- não fumar, não conversar, não atrapalhar por forma alguma o
uso dessa sala, uma vez que não tinha condições nem para se trajar
próprias necessidades, haja vista que desde suas regras até seu acervo
epoque.
Como as “Salas de Leitura”, também conhecidas como “Gabinetes de
Manaus.
constituído por
adquirir um imóvel.
apenas ao público letrado, haja vista que somente essa classe tinha as
eminentemente elitista.
decentemente vestidas”.
apresentada por esse autor é vista como sendo algo romântico, pois
corrente ano.
intelectualmente desenvolvida.
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Bibliotecário pertencente à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
que se responsabilizou pela seleção do material que deveria ser
comprado.
Rocha Freire, cuja função era a de fiscalizar a compra dos quase 1.000
despesas.
verifica-se que
sua inauguração é que suas portas foram abertas ao público somente dois
dias depois.
histórico para a cidade de Manaus, uma vez que tal data além de celebrar
escravos. Porém, o que não se pode deixar de frisar é que, a alforria dos
13
Posteriormente denominado Teatro Amazonas.
Quanto à sua localização, pelo fato de ter sido instalada no pavimento
geográficos.
14
Regulamento Interno da Biblioteca Provincial de 1883.
fazer uso dos manuscritos que eram reservados ao Presidente de
sem sua sede própria. Por esta razão, com o intuito de solucionar tal
Paranaguá surtiu efeito, uma vez que “em 4 de junho de 1883 a Lei n.º
apesar do projeto ter sido aprovado, assim como as plantas do prédio que
renovado.
sede da Biblioteca.
biblioteca.
momento.
assumir a sua direção, bem como autorizou a sua transferência para uma
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Pessoa responsável pela limpeza e conservação do edifício, além de ter que prestar
auxílio ao porteiro e demais funcionários.
Em suas novas instalações, a fim de cooperar com a Instrução
decentemente vestidas”.
afirmando o seguinte:
1979).
Arquivo Público.
(BIBLIOTECA... 19??:16).
recreações.
do público foi seu ambiente, pois além de ter sido instalada em um amplo
estudo.
inicia seu relato da seguinte forma: “Do que foi a Bibliotheca de Manaus,
Pública do Amazonas.
somente no dia 3 de janeiro de 1900, pelo Decreto n.º 375-B, cuja base
contínuo17 e 4 serventes.
17
Funcionário Destinado a prestar qualquer tipo de serviço para a Biblioteca.
orçamento vigente, de cento e dezenove contos e quatrocentos e
seus diretores, seu acervo sofreu sérios danos, resultantes ora dos
1979:143).
novamente transferido.
sua conclusão.
Constantino Nery:
Europa.
ao estado.
Como tentativa de justificar o ocorrido, Afonso de Carvalho, no
Sob o comando do seu 10º Diretor, Bento Aranha, cujo cargo foi
Amazonas.
Pública do Amazonas.
País na época, haja vista que o índice populacional que crescia a passos
lado escuro, cuja comprovação pode ser obtida em FREIRE (1987) onde
metade era alvenaria, bem como 5.710 eram concebidas como casebres,
variadas espécies.
Manaus.
completamente ignorada.
de miséria por opção era pura demagogia, pois suas ruas encontravam-se
depósitos de lixo.
que não se pode esquecer é que, por mais que Manaus tenha mergulhado
almejado.
elitista.
dele, constatou-se que tal biblioteca foi criada em Manaus somente para
Assembléia Legislativa.
apresentou uma nítida dicotomia entre sua teoria e prática, pois durante
pública, haja vista que defendia seu uso para todo e qualquer usuário,
que foi criada para camuflar a realidade, pois a maior parte das bibliotecas
época, não ter domínio do código da escrita, mas também pelo fato de
francês.
moderno.
na Europa.
cidade, haja vista que esta já era uma constate nos grandes centros
cidade moderna.
Contudo, para que a Biblioteca Pública do Amazonas se tornasse de
fato pública, desde sua criação deveria ter se voltado para a comunidade
(1990).
sagrado.
outros.
haja vista a população que se encontra as margens dos rios faz parte do
público-alvo que esta deve atingir. Por esta razão, nada mais justo que a
que deve ser utilizado pela Biblioteca Pública do Amazonas, pois com ela,
MATA, José Nogueira da. Manaus por dentro. Manaus: Umberto Calderaro,
1988. 288 p.
MELO, Mário Lacerda de; MOURA, Hélia A. de. Migrações para Manaus.
Recife: Fundação Joaquim Nabuco / Editora Massangana, 1990. 505 p.