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TRIMÁLQUIO

A cortesia das coisas velhas, o sutil inclinar de cabeça.


O recordador.
Eram então os anos da praga.

Dias cinzentos, paredes de tijolos velhas só visíveis aos


andarilhos.
Vinte e cinco anos mais jovem eu andava por certa rua, o nome
não interessa ainda, mas era a mesma.

A mesma rua dos meus quatro anos


O ponto de ônibus atrás da fábrica
O sinal numinoso, estroboscópico da luz de emergência
O dia correto, como devia ser, cinzento e dócil
Calmo e sussurrante.
O poema do momento finalmente em minhas mãos

Acresce que vira cemitérios, terras desoladas,


Pátios enjardinados
O olor de plantas que determino serem madressilvas

Nada é mais correto que a pátina do tempo.

Nada mais correto que minha mãe e meu pai e meu irmão
Todos ignorantes da dádiva, mas seus autores não obstante
Todos comigo no corredor dos domingos

Depois o trágico, corações e mentes


O sábado evanescente

Minha usina dos mistérios:


— um bispo tricórnio habita em Mauá—
— o caos para as tardes frias—
os amores envelopados, os sentimentos ambarinos
e as tardes
— camela-mestra de Omar Khayan—
— os samurais vindo do trabalho penoso de matar sonhos—
o amor — ganindo em todas as radiofreqüências—

mulheres adubaram arrozais de jade


meu amor sorri pela manhã

e madrugadas
Ó madrugadas, vos agradeço
Trevosa e gelada a nau, mas navegante ainda
O Homero caribenho cantando:
Neste momento, choverá!

E antes de todos haviam eles se apresentado,


Mudos e discretos:
o baterista e o mestre do hai-kai,
O marinheiro com as fauces corroídas,
O poeta velho e triste
E juntos

Acrescia que era tarde e fria


Anos antes, na mesma tarde eu avistara um cavalo ao longe
E adivinhara

Anos antes eu

Não era o herói


Mas me suspeitava predestinado
— não sei— responderia ao druida, única resposta digna.

Nadava vigorosamente, o peixe na solidão.


No fundo do oceano: árvores de milhões de anos

na relva ao longe pastava um cavalo

No mundo vago
Nas praias de sexta-feira
Onde os colares e as conchas eram bem-vindos com a maré

Onde havia música em meus ouvidos


O muxoxo triste dos bemóis
A coisa centrífuga por onde escapavam partes do mundo
meu coração pleno
a construção dos dias, onde tudo inventava-se,
Universos, tecidos, obras brancas e obras negras

o arrastar de sandálias,
Conversas soltas
O mar
No fundo da garrafa o Jedi dormia, tranqüilo. E também o
guerreiro, o místico, a feiticeira, a cobra, a onça, a cabaça da lua

— Imaginai que morri— , Trimálquio disse.

São José de Cupertino flutuava. E isto é um fato.


analfabeto, bruto e sólido.
Como Teresa e João, levitando juntos na noite escura.

MODO QUAM APTISSIMO

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