You are on page 1of 1

A ARCA DE NO

Vincius de Moraes Rio de Janeiro , 1970

De dentro um miado e um zurro Late um cachorro em disputa Com um gato, escouceia um burro. A Arca desconjuntada Parece que vai ruir Aos pulos da bicharada Toda querendo sair. Vai! No vai! Quem vai primeiro? As aves, por mais espertas Saem voando ligeiro Pelas janelas abertas. Enquanto, em grande atropelo Junto porta de sada Lutam os bichos de plo Pela terra prometida. "Os bosques so todos meus!" Ruge soberbo o leo "Tambm sou filho de Deus!" Um protesta; e o tigre - "No!" Afinal, e no sem custo Em longa fila, aos casais Uns com raiva, outros com susto Vo saindo os animais. Os maiores vm frente Trazendo a cabea erguida E os fracos, humildemente Vm atrs, como na vida. Conduzidos por No Ei-los em terra benquista Que passam, passam at Onde a vista no avista. Na serra o arco-ris se esvai... E... desde que houve essa histria Quando o vu da noite cai Na terra, e os astros em glria Enchem o cu de seus caprichos doce ouvir na calada A fala mansa dos bichos Na terra repovoada.

Sete em cores, de repente O arco-ris se desata Na gua lmpida e contente Do ribeirinho da mata. O sol, ao vu transparente Da chuva de ouro e de prata Resplandece resplendente No cu, no cho, na cascata. E abre-se a porta da Arca De par em par: surgem francas A alegria e as barbas brancas Do prudente patriarca No, o inventor da uva E que, por justo e temente Jeov, clementemente Salvou da praga da chuva. To verde se alteia a serra Pelas planuras vizinhas Que diz No: "Boa terra Para plantar minhas vinhas!" E sai levando a famlia A ver; enquanto, em bonana Colorida maravilha Brilha o arco da aliana. Ora vai, na porta aberta De repente, vacilante Surge lenta, longa e incerta Uma tromba de elefante. E logo aps, no buraco De uma janela, aparece Uma cara de macaco Que espia e desaparece. Enquanto, entre as altas vigas Das janelinhas do sto Duas girafas amigas De fora as cabeas botam. Grita uma arara, e se escuta

You might also like