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PROCESSO N. 2005.82.00.011495-5
S E N T E N Ç A1
Curiosamente, embora tenha sido o IBAMA a julgar dito laudo, manteve o auto
de infração por motivo absolutamente alheio a questões ambientais.
A fls. 41/43 consta dos autos Termo de Ajustamento de Conduta celebrado entre
o acusado, o Gerente Regional do Patrimônio da União, Francisco Sales Leite Dantas, e o
prefeito municipal de Cabedelo, José Francisco Régis. Em seu texto, além do
reconhecimento pelo acusado de estar ocupando irregularmente um terreno de propriedade
da União, estabelecia-se uma gradual transição para o uso regular de bens do patrimônio
público, com a correlata suspensão das medidas de desocupação.
Por fim, o acusado, interrogado em juízo, afirmou que construiu sua barraca
desde 1995, no final de uma rua, ainda fora da areia da praia. Afirma que teria licença de
funcionamento da prefeitura municipal de Cabedelo e autorização da vigilância sanitária do
mesmo município. Registrou ainda que, em determinado momento, tendo celebrado termo
de ajustamento com a GRPU, passou ocupar o terreno com autorização da Gerência,
pagando a importância de R$ 372,00 mensalmente.
Disse ainda o acusado que se lembrava de uma vistoria realizada por técnicos
do IBAMA e que, na ocasião, não teriam afirmado ser a barraca potencialmente poluidora,
nem tampouco que haveria poluição, dano ambiental ou degradação. A irregularidade
apontada limitava-se á sua localização em terreno de marinha e à existência de uma tenda,
que foi prontamente retirada. Por fim, afirmou que é licenciado pelo IBAMA para a venda de
caranguejos, e que o IBAMA frequentemente executa fiscalizações sobre esse comércio.
Diante dos fatos e provas acima descritos, assistiria razão ao MPF em sua
pretensão punitiva?
Diante de todos esses fundamentos, não vejo como seja possível enquadrar a
conduta do acusado no fato típico previsto no art. 60 da Lei dos Crimes Ambientais, pois não
há prova de que o empreendimento fosse potencialmente poluidor, e mesmo o IBAMA
afirmou expressamente que a irregularidade reportada se restringia a uma questão
patrimonial – não ambiental. Se o empreendimento fosse potencialmente poluidor e não
estivesse licenciado, parece-me óbvio que assim teria dito oficialmente o IBAMA e, mais
logicamente ainda, por esse motivo específico teria sido autuado o acusado, o que não
ocorreu.
Por esses motivos, entendo que a conduta do acusado não se subsume ao tipo
do art. 60 da Lei n. 9.605/98.
Por esses motivos, entendo que a conduta do acusado não se subsume ao tipo
do art. 64 da Lei n. 9.605/98.
Contudo, o acusado alegou que estava, desde o início, autorizado a manter seu
empreendimento no local onde hoje se encontra, inicialmente pela prefeitura e
posteriormente pela GRPU. Afirmou, inclusive, que pagou durante certo tempo à GRPU uma
taxa pela utilização do solo, apresentando comprovantes para juntada aos autos. Afirmou
também que tal ocupação foi objeto de termo de ajustamento de conduta, o que foi
igualmente provado.
DIANTE DO EXPOSTO e pelo mais que dos autos consta, com base no art. 386,
incisos III e VI, do Código de Processo Penal e art. 81 da Lei n. 9.099/95, julgo
improcedente o pedido contido na denúncia para absolver o acusado Sebastião da Silva
Soares.
Custas ex lege.
João Pessoa,