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TURMA REGULAR TRT

Disciplina: Direito Constitucional


Prof.: Flávio Martins

Material disponibilizado pelo Professor:

Material de apoio – direitos individuais e coletivos – art. 5º CF

Como vimos em sala de aula, a leitura reiterada do artigo 5º da Constituição Federal é indispensável para a
realização da prova de Direito Constitucional do concurso de agente e escrivão da polícia federal.
A presente apostila destina-se a complementação dessa leitura.
Fraterno abraço a todos.
Prof. Flávio Martins

Conceituação

A Constituição de 1988 também é conhecida por muitos como “constituição cidadã”, alcunha que pode ser
atribuída ao então deputado federal Ulisses Guimarães. Um dos fatores que justificam essa nomenclatura é a
posição de destaque que recebem os direitos e garantias fundamentais. Enquanto em Constituições anteriores os
primeiros temas abordados referiam-se à estrutura do Estado, a organização do Poder etc., a Constituição de 1988
traz como primeiro grande tema, a preocupação com a proteção aos direitos fundamentais.
A nossa Constituição traz em seu Título II os direitos e garantias fundamentais. Qual a distinção entre
direitos e garantias fundamentais?
Rui Barbosa diferenciava as disposições meramente declaratórias das disposições assecuratórias. As
primeiras têm a função de reconhecer a existência legal dos direitos reconhecidos. Já as últimas têm a função de
assegurar a existência e aplicação dos direitos.
Como lembra Alexandre de Moraes, não é raro “juntar-se, na mesma disposição constitucional, ou legal, a
fixação da garantia com a declaração do direito”.
Dessa maneira, podemos dizer que as garantias possuem um caráter de instrumentalidade, perante os
direitos. Enquanto algumas normas definem quais são os direitos, outras normas asseguram a sua efetividade.
Como lembra Jorge Miranda, “os direitos representam só por si certos bens, as garantias destinam a assegurar a
fruição desses bens”.

1.2.- Nomenclatura

Muitas vezes, doutrina e jurisprudência se utilizam de expressões semelhantes, representando o mesmo


fenômeno. Expressões como “direitos naturais”, “direitos humanos”, “direitos individuais”, “direitos públicos
subjetivos” etc. são utilizadas cotidianamente. Façamos uma breve explanação sobre o tema.
“Direitos naturais” são aqueles inerentes à alma humana, que nascem com o ser humano,
independentemente de positivação. Não obstante, como lembra o professor José Afonso da Silva, “não se aceita
mais com tanta facilidade a tese de que tais direitos sejam naturais, provenientes da razão humana ou da
natureza das coisas”1.

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Comentário Contextual à Constituição. P. 55.

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“Direitos humanos” é uma epxressão costumeiramente utilizada em documentos internacionais, bem como
a expressão “direitos do homem”, que tratam da grande maioria dos direitos (que normalmente pertencem à
pessoa humana), em contraposição aos direitos referentes às instituições, animais etc.
“Direitos individuais” é uma expressão cada vez menos utilizada, pois baseada no individualismo que fez
gerar os primeiros direitos, a partir das declarações do século XVIII. Não obstante, a Constituição brasileira, em
várias passagens se utiliza dessa expressão, como no Capítulo I, do Título II, que diz “dos direitos e deveres
individuais e coletivos”. Outrossim, no artigo 60, § 4º, a Constituição determina que é cláusula pétrea “os direitos
e garantias individuais”.
Diante disso, deve ser feita uma pergunta, os “direitos sociais”, previstos nos artigos 6º a 11 da
Constituição Federal não são cláusulas pétreas? Se a resposta for negativa, poderiam ser retirados do texto
constitucional direitos como fundo de garantia do tempo de serviço; salário mínimo; décimo terceiro salário etc?
Os direitos sociais, sendo a segunda etapa histórica dos Direitos Fundamentais consistem
indubitavelmente num corolário da dignidade da pessoa humana. Nas palavras do Procurador Regional do
Trabalho Xisto Tiago de Medeiros Neto, “constituiem direitos que se realizam por meio do Estado, por sua
intervenção direta, sob a forma de prestações positivas, objetivando assegurar a igualdade material dos indivíduos
em face do acesso a bens da vida, igualmente essenciais, de natureza social, econômica e cultural. Daí a
consagração explícita, em nosso texto constitucional, da fundamentalidade do direito ao trabalho, à educação, à
saúde, à assistência, à previdência, ao lazer, à moradia e à segurança”.
Concordamos com o autor sobredito quando afirma que não se pode fazer uma interpretação literal do
artigo 60, § 4º da Constituição Federal, não se reduzindo a expressão “direitos e garantias individuais” com os
direitos individuais e coletivos, do título II da Constituição Federal. Até porque a Constituição Federal brasileira em
nenhum outros dispositivo refereu-se à expressão “direitos e garantias individuais”.
Esse assunto evidentemente é importante, na medida em que nascem interesses vários no sentido de se
extinguir direitos sociais, máxime direitos dos trabalhadores. Portanto, entendemos que são cláusulas pétreas não
apenas os direitos individuais, previstos no artigo 5º da Constituição Federal, como também os direitos sociais.
Aliás, o Supremo Tribunal Federal, na ADIn 937-7 excluiu a tese de que “direitos e garantias individuais” estariam
circunscritos ao artigo 5º da Constituição Federal. O mesmo ocorreu na ADIn 3685, julgada no ano de 2006,
acerca da Emenda Constitucional n. 52, que alterou o artigo 17 da Constituição Federal, entendendo ser
inconstitucional parte da emenda que feria o princípio da anterioridade eleitoral. Vejamos a ementa do referido
acórdão:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA EC 52, DE 08.03.06. APLICAÇÃO


IMEDIATA DA NOVA REGRA SOBRE COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS ELEITORAIS, INTRODUZIDA
NO TEXTO DO ART. 17, § 1º, DA CF. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
ANTERIORIDADE DA LEI ELEITORAL (CF, ART. 16) E ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS DA
SEGURANÇA JURÍDICA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5º, CAPUT, E LIV). LIMITES
MATERIAIS À ATIVIDADE DO LEGISLADOR CONSTITUINTE REFORMADOR. ARTS. 60, § 4º, IV,
E 5º, § 2º, DA CF. 1. (...) 3. Todavia, a utilização da nova regra às eleições gerais que se
realizarão a menos de sete meses colide com o princípio da anterioridade eleitoral, disposto no
art. 16 da CF, que busca evitar a utilização abusiva ou casuística do processo legislativo como
instrumento de manipulação e de deformação do processo eleitoral (ADI 354, rel. Min. Octavio
Gallotti, DJ 12.02.93). 4. Enquanto o art. 150, III, b, da CF encerra garantia individual do
contribuinte (ADI 939, rel. Min. Sydney Sanches, DJ 18.03.94), o art. 16 representa garantia
individual do cidadão-eleitor, detentor originário do poder exercido pelos representantes

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eleitos e "a quem assiste o direito de receber, do Estado, o necessário grau de segurança e de
certeza jurídicas contra alterações abruptas das regras inerentes à disputa eleitoral" (ADI
3.345, rel. Min. Celso de Mello). 5. Além de o referido princípio conter, em si mesmo,
elementos que o caracterizam como uma garantia fundamental oponível até mesmo à
atividade do legislador constituinte derivado, nos termos dos arts. 5º, § 2º, e 60, § 4º, IV, a
burla ao que contido no art. 16 ainda afronta os direitos individuais da segurança jurídica (CF,
art. 5º, caput) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). 6. A modificação no texto do art.
16 pela EC 4/93 em nada alterou seu conteúdo principiológico fundamental. Tratou-se de mero
aperfeiçoamento técnico levado a efeito para facilitar a regulamentação do processo eleitoral.
7. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no sentido de que a
inovação trazida no art. 1º da EC 52/06 somente seja aplicada após decorrido um ano da data
de sua vigência”.’

A expressão “direito público subjetivo” significa que o “direito subjetivo” é oponível contra o Estado.
Primeiramente, direito subjetivo consiste numa posição de vantagem conferida pela lei (direito objetivo). Assim, a
lei (podendo ser a Constituição) dá a uma pessoa uma posição de vantagem (credor) com relação à outra pessoa
(devedor). Se essa última “pessoa” é o Estado, podemos chamar o direito de “público subjetivo”.
As expressões “liberdades públicas” e “liberdades fundamentais” são expressões cada vez menos
utilizadas, já que vinculadas à concepção individualista do direito, consistente na esfera de inviolabilidade do
direito individual exercido contra o Estado, que nela não poderá interferir.

1.3.- Destinatários

O artigo 5º, caput, da Constituição Federal determina que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”
Se fizermos uma interpretação literal do artigo mencionado, chegaremos à conclusão de que estrangeiros
em trânsito pelo território nacional, bem como pessoas jurídicas não possuem os direitos ali elencados.
Não obstante, tal conclusão não nos parece verdadeira. O estrangeiro que se encontra regularmente em
território nacional também é detentor dos direitos elencados no artigo 5º, da Constituição Federal. É o que
entende igualmente Pedro Lenza: “a doutrina e o STF vêm acrescentando, através da interpretação sistemática, os
estrangeiros não residentes (por exemplo, a turismo), os apátridas e as pessoas jurídicas. Nada impediria,
portanto, que um estrangeiro, de passagem pelo território nacional, ilegalmente preso, impetrasse hábeas corpus
(art. 5º, LXVIII) para proteger o seu direito de ir e vir. Deve-se observar, é claro, se o direito garantido não possui
alguma especificidade, como ação popular, que só pode ser proposta pelo cidadão”. Nesse mesmo sentido,
entende Alexandre de Moraes.
Por esse motivo, discordamos em parte do professor José Afonso da Silva, que faz as seguintes
ponderações: “quando a Constituição assegura tais direitos aos brasileiros e estrangeiros residentes no país,
indica, concomitantemente, sua positivação em relação aos sujeitos (subjetivação) a quem os garante. Só eles,
portanto, gozam do direito subjetivo (poder ou permissão de exigibilidade) relativamente aos enunciados
constitucionais dos direitos e garantias individuais”.
Quanto à pessoa jurídica ser detentora dos direitos e garantias elencados no texto constitucional,
concordamos com o professor sobremencionado, que afirma positivamente. Diz ele:

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“a pesquisa no texto constitucional mostra que vários dos direitos arrolados nos incisos do art.
5º se estendem às pessoas jurídicas, tais como o princípio da isonomia, o princípio da
legalidade, o direito de resposta, o direito de propriedade, o sigilo da correspondência e das
comunicações em geral, a inviolabilidade do domicílio, a garantia ao direito adquirido, ao ato
jurídico perfeito e à coisa julgada, assim como a proteção jurisdicional e o direito de impetrar
mandado de segurança. Há até direito que é próprio de pessoa jurídica, como o direito à
propriedade das marcas, aos nomes de empresa e a outros signos distintivos (logotipos,
marcas de fantasia, por exemplo)”.

1.4.- Classificação dos direitos fundamentais

A doutrina classifica os direitos fundamentais, de acordo com uma ordem cronológica que foram surgindo
ao longo da história. Primeiramente, surgiram os direitos individuais, também denominados “liberdades públicas”.
Esses são os chamados direitos de primeira geração. Como diz Celso de Mello:
“enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as
liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de
segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identificam com as
liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de
terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a
todas as formações sociais, consagram o princípi da solidariedade e constituem um momento
importante no processo de desenvolvimento e expansão e reconhecimento dos direitos
humanos, caracterizados enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma
essencial inexauribilidade”.
Assim, os direitos de segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais. O momento
histórico gerador é a Revolução Industrial européia, a partir do século XIX.
Os direitos de terceira geração são os direitos mais “globais”, como o preservacionismo ambiental, a
proteção dos consumidores, corolários, pois, da solidariedade.
Por sua vez, parte da doutrina já elenca os direitos de quarta geração, que seriam decorrentes da
evolução no campo da engenharia genética. Segundo o professor italiano Norberto Bobbio, “já se apresentam
novas exigências que só poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais
traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”.

1.5.- Características dos Direitos e garantias fundamentais

Podemos elencar as seguintes características dos direitos fundamentais:


a) historicidade: os direitos e garantias fundamentais possuem um caráter histórico, na medida em que
nasceram no Cristianismo e foram evoluindo no decorrer da história;
b) universalidade: destinam-se, de modo indistinto, a todos os seres humanos. Por esse motivo, a
interpretação restritiva do artigo 5º, caput, da Constituição Federal, que exclui o estrangeiro de passagem pelo
território brasileiro não nos parece acertada.

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c) limitabilidade ou relatividade: nenhum direito fundamental é absoluto. Se existisse direito absoluto,


todos os direitos a ele contrapostos seriam inexistentes. Por esse motivo, deve ser feita uma ponderação de
interesses (proporcionalidade), verificando-se qual direito fundamental deve prosperar.
d) concorrência: podem ser exercidos simultaneamente (ao mesmo tempo em que o jornalista transmite
uma notícia – colocando em prática o direito de informação – emite sua opinião, colocando em prática o direito de
opinião.
e) inalienabilidade: os direitos fundamentais são indisponívels, não possuindo conteúdo econômico-
patrimonial;
f) imprescritibilidade: O passar do tempo não retire a possibilidade de exercío do direito fundamental.

1.6.- Aplicabilidade das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais

Via de regra, as normas constitucionais definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata. É o que diz o próprio artigo 5º, § 1º, da Constituição Federal: “as normas definidoras dos direitos e
garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
Isso significa que as normas constitucionais definidoras de direitos e garantias não precisam de
complementação. Elas, por si só, já produzem todos os seus efeitos. Não obstante, há exceções previstas no
próprio texto constitucional originário, como no caso do artigo 5º, XIII, da Constituição Federal, que diz: “é livre o
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.
Trata-se de uma norma constitucional de eficácia contida, na medida em que lei infraconstitucional pode restringir
os efeitos dessa norma constitucional (é o que acontece com o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, que
restringe o acesso à advocacia somente àqueles que forem aprovados no Exame de Ordem). Outro exemplo é o
artigo 7º, XXVII, da Constituição, que afirma ser direito dos trabalhadores a “proteção em face da automação, na
forma da lei”. Trata-se de uma norma constitucional de eficácia limitada, na medida em que depende de lei
infraconstitucional para gerar todos os seus efeitos.

Alguns dos direitos e garantias previstos no artigo 5º da Constituição Federal:

Liberdade de Pensamento.
É livre a expressão do pensamento, mas é vedada a manifestação em anonimato. O anonimato é a ocultação da
identidade para fugir à responsabilidade civil por danos patrimoniais ou morais ou responsabilidade penal por
injúria, difamação ou calúnia.

Liberdade de Consciência.
É inviolável a liberdade de consciência e de crença, é assegurado o livre exercício dos cultos nos locais onde são
praticados, observadas as disposições do direito comum e as exigências da ordem pública e dos bons costumes.

Assistência Religiosa.

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É assegurada a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva. Isto
significa que o Estado deve proporcionar, em hospitais, prisões, navios militares e outras localidades em que a
pessoa estiver impedida de dela se servir, condições de o cidadão obter assistência quanto ao seu culto religioso.

Liberdade Religiosa.
Por motivo religioso, ninguém será privado de seus direitos. Nem por motivos de convicção política ou filosófica,
salvo se disso se valer para eximir-se de obrigação legal.

Liberdade de Expressão.
É livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura e licença. Essas expressões podem se dar oralmente, por escrito ou por exposição
de imagens.

Direito à Privacidade.
São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, bem como é assegurado o direito à
indenização por danos materiais e morais decorrentes de sua violação.

Inviolabilidade do Lar.
É inviolável a casa do cidadão, sua morada, seu asilo. Ninguém pode nela penetrar sem autorização do morador,
salvo caso de flagrante delito, para prestar socorro ou por autorização judicial, durante o dia.

Sigilo de Correspondência.
O cidadão tem direito ao sigilo de sua correspondência, das comunicações telegráficas, telefônicas e eletrônicas,
bem como direito ao sigilo de seus dados pessoais.

Liberdade de Locomoção.
O cidadão não pode ser impedido de ir e vir no território nacional, em tempo de paz, podendo dele sair ou nele
entrar com seus bens, observadas as obrigações tributárias e alfandegárias que possam prejudicar a economia
nacional.

Liberdade de Reunião.
É permitida a reunião de cidadãos, pacificamente e sem armas em locais públicos.

Liberdade de Associação.
É plena a liberdade de associação, para fins lícitos, exceto para fins paramilitares. Os cidadãos podem se associar
para constituir sociedades comerciais ou civis, cooperativas, entidades esportivas, religiosas, sindicais,
beneficentes, etc.

Direito de Propriedade.

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A Constituição Federal garante o direito de propriedade, direito esse que se constitui no poder do homem de ter
como exclusivamente suas as coisas que adquiriu, podendo usar dos direitos como melhor lhe aprouver,
usufruindo-os, cedendo-os, ou doando-os.

Direito à Herança.
É garantido o direito à herança. Todo cidadão tem direito de suceder os bens e direitos do falecido, nos termos da
lei civil, sujeitando-se também a suceder as obrigações, seja a título universal ou testamento.

Direito do Consumidor.
Haverá defesa do consumidor por instituição legal, visando proteger o adquirente de bens e mercadorias, para seu
uso ou consumo, sem intenção de revenda ou intermediação em atividade comercial ou prestação de serviço.

Direito a Informações.
O cidadão tem o direito de obter do Estado, por seus órgãos públicos, informações de seu interesse particular,
coletivo ou geral. Tais informações devem ser prestadas no prazo legal, sob pena de responsabilidade. Por meio
de “habeas data” é assegurado ao cidadão o direito de requerer em juízo o acesso ou a retificação de informações
e referências pessoais em registros e bancos de dados oficiais e particulares.

Direito a Petição.
Independentemente do pagamento de taxas, é direito do cidadão representar perante os poderes públicos no
sentido de defesa de seus direitos ou contra a ilegalidade ou o abuso de poder cometido por autoridade ou outro
cidadão, pessoa física ou jurídica.

Direito Adquirido, Ato Jurídico Perfeito e a Coisa Julgada.


A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. O direito adquirido resulta de
um fato ocorrido quando a lei que o amparava estava em vigor, fazendo com que tal direito se integrasse ao
patrimônio do interessado. Se o sujeito não fez valer esse direito na oportunidade e uma nova lei veio dispor
diferentemente sobre o mesmo fato jurídico, o direito que já estava adquirido não ficou perdido e ainda pode ser
exercido. Por exemplo, o contribuinte da previdência social poderia ter se aposentado com 80% de seus
benefícios, mas preferiu esperar um pouco mais. Passando a vigorar lei nova, reduzindo esses benefícios para
70%, o sujeito não perderá o direito ao percentual maior que já havia adquirido.
O Ato Jurídico Perfeito é o ato praticado com a observância e lei vigente à época em que se o praticou e que,
por isso, se constitui válido e definitivo, produzindo todos os efeitos de direito. Por exemplo, o contrato que atende
a todos os requisitos legais.
A Coisa Julgada decorre de decisão judicial imutável, pois contra ela não cabe mais nenhum recurso, de forma
que produz seus efeitos de lei entre as partes litigantes e em relação a terceiros que dela pudessem estar
subordinados.

Gratuidade de Registros.
São gratuitos, para os reconhecidamente pobres, o Registro Civil de Nascimento e a Certidão de Óbito.

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Direitos e Garantias de Natureza Penal.


Ninguém será submetido à tortura ou a tratamento degradante.

Juízo de Exceção.
Não haverá juízo ou tribunal de exceção. Isto significa que os julgamentos serão realizados tão-somente por
tribunais oficiais.

Direito de Resposta.
É assegurado pela Constituição Federal o direito de resposta, ou seja, o ofendido injuriado ou caluniado, em
decorrência de divulgação de notícia ou informação jornalística, radiofônica ou televisiva, tem o direito de ver
publicado sua resposta em desmentido ou esclarecimento, além de indenização por perdas e danos materiais e/ou
morais.

Júri Popular.
É reconhecida a instituição do júri popular, com competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida,
assegurando-lhes a plenitude do sigilo das votações e a soberania dos veredictos. O Tribunal do Júri é formado por
sete pessoas do povo, escolhidas dentre uma lista de 25 nomes, com a responsabilidade de declararem o réu
culpado ou inocente,

Anterioridade da Lei.
Não há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Nenhum fato pó ser considerado
criminoso, se não houver lei tratando-o como tal. Ninguém poderá ser julgado e preso por ato praticado que
somente depois de praticado foi considerado criminoso por lei.

Irretroatividade Penal.
Não há crime nem pena sem lei os definindo. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Chama-se isso
de retroatividade benéfica, que se opõe ao princípio da irretroatividade da lei, pelo qual a lei penal posterior não
se aplica a situações verificadas antes do início de sua vigência. Em outras palavras, a lei só dispõe para o futuro.
Se lei nova passa a considerar crime um certo ato, aqueles que o praticaram antes da lei, não podem ser
considerados criminosos. Por outro lado a lei penal retroage quando for para deixar de considerar crime certo ato
ou para reduzir a pena desse crime. Neste caso aqueles que estão sendo ou já foram julgados se beneficial da lei,
que dessa forma retroage em seus efeitos. O princípio da retroatividade benéfica só se aplica à lei penal.

Racismo.
É crime inafiançável e imprescritível a prática do racismo, que inclusive sujeita o indivíduo à pena de reclusão. A
doutrina racista adota a superioridade de uma raça em relação a outra ou adota atitudes que resultem em separar
ou isolar pessoas em razão de sua raça ou cor. Não se confunde racismo com preconceito racial. Neste caso a
atitude não se volta contra a raça, mas a situações individuais isoladas, ofensivas a pessoas em razão de sua raça.

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Tráfico de Drogas.
A lei considera crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia, além de em relação a eles ser negado o
indulto ou a comutação de pena, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes, drogas e afins, o
terrorismo e os crimes hediondos, respondendo por eles, não só os mandantes, como os executores e aqueles
que, podendo evitá-los, a isso se omitem.

Sublevação.
Sublevação é a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem institucional e o Estado democrático.
Sua prática constitui crime inafiançável e imprescritível.

Personificação da Pena.
Nenhuma pena passará da pessoa do condenado. Isso que dizer que a sanção penal ou seus efeitos não serão
transferidos para que outra pessoa os cumpra pelo condenado. Cada condenado cumprirá sua própria pena. As
obrigações de reparar dano, porém, seja por pena pecuniária, seja por decretação de perdimento de bens, se após
a condenação ocorrer a morte do condenado, poderão ser pagas pelos sucessores, mas até o limite da
transferência que houver dos bens. Por outro lado, a lei fixa um limite mínimo e um limite máximo em que cada
pena deve ser fixada, segundo os critérios de agravamento e abrandamento, a personalidade do criminoso e as
circunstâncias pelas quais o crime foi cometido.

Individualização da Pena.
As penas serão de:
i) Privação ou restrição de liberdade;
ii) Perda de bens;
iii) Multa;
iv) Prestação social alternativa;
v) Suspensão ou interdição de direitos.

As penas de privação ou restrição de liberdade podem ser de detenção ou de reclusão. A detenção é


cumprida em casa de detenção, na qual o detento mantém convívio com os demais presos e
pode se dedicar a trabalhos internos remunerados. A pena de reclusão é cumprida em penitenciária, onde o
preso fica recluso, ou seja, não tem convívio com os demais. O perdimento ou seqüestro de bens recai sobre
bens de funcionários públicos que, valendo-se da profissão, enriquecem ilicitamente. A pena de multa consiste no
pagamento de quantia fixada em sentença, a favor do Estado. A prestação social alternativa corresponde à
prestação de tarefas gratuitas à comunidade, nos limites da capacidade e aptidões do condenado, a entidades
sociais, hospitais, redes de ensino ou à própria cidade. A suspensão ou interdição de direitos corresponde a
ser o condenado privado de certos direitos, como os de profissão, guarda de filhos ou autoridade marital.

Cumprimento das Penas.

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As penas serão cumpridas em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado. Aos presos será assegurado o respeito e a integridade física e moral. Às presidiárias serão asseguradas
condições para permanecer com os filhos durante o período de amamentação.

Extradição.

Extradição é um processo pelo qual o país, invocando tratado internacional, requer de outro que lhe seja entregue
pessoa foragida sujeita a sua jurisdição criminal, a fim de que tal cidadão responda processo por fato definido
como crime na lei de seu país. O Brasil só poderá negar a extradição quando se tratar de crime de convicção
política ou opinião. Nenhum brasileiro que cometeu crime em outro país será extraditado, salvo se brasileiro
naturalizado e se o crime fora cometido antes da naturalização. São excetuados os casos de crime por tráfico
internacional de drogas e entorpecentes.

Direito de Defesa.
Ninguém será processado, nem sentenciado, senão pela autoridade judiciária competente. A competência do juiz
se restringe a certos limites relativos à matéria penal, aos níveis hierárquicos entre magistrados e a critérios
funcionais estabelecidos por normas legais ou administrativas. Ninguém será privado de liberdade ou de seus
bens, sem o devido processo legal. Aos litigantes é assegurado, em processo penal, o direito ao contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos assegurados por lei a todos os cidadãos.

Prova Criminal.
São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Aos litigantes é exigido que o processo seja
conduzido com lealdade e boa-fé.

Coisa Julgada.
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Considera-se coisa
julgada a decisão final do processo, sobre a qual não caiba mais nenhum recurso.

Identificação Criminal.
O civilmente identificado não será submetido à identificação criminal. Isto significa que aquele que estiver
identificado por documento oficial, carteira de identidade, não será submetido à identificação por meio de
impressões digitais, como termo de inquérito policial.

Ação Privada.
Caberá ação penal privada de iniciativa do cidadão interessado, se não houver propositura de ação penal pública
pelo Ministério Público no prazo que lhe é conferido.

Publicidade do Processo Judicial.


As partes litigantes poderão pedir que não se tornem públicos os atos do processo, por interesse de resguardo de
sua intimidade ou interesse social.

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Prisão em Flagrante.

Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definido em lei. Qualquer
pessoa do povo pode dar voz de prisão contra quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Essa prisão,
todavia, não pode ultrapassar os limites do razoável, até que o detido seja entregue a autoridade policial, sob
pena de o detentor estar cometendo o crime de cárcere privado.

Comunicação da Prisão.
A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicadas imediatamente ao juiz competente e à
família do preso ou à pessoa por ele indicada.

Informações ao Preso.

O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada à
assistência da família e do advogado.

Identificação da Autoridade.
O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por interrogatório policial. Tal conhecimento
possibilita ao preso saber a origem de sua prisão para, se for o caso, processar os responsáveis pelos excessos
cometidos por denunciação caluniosa ou pelas atitudes em inobservância da lei e atendimento aos seus direitos.

Relaxamento da Prisão.

A prisão ilegal deverá ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciária, por meio do competente “habeas
corpus”. Considera-se ilegal a prisão realizada fora dos casos previsto em lei ou condenação judicial.

Liberdade Provisória.
Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória com ou sem fiança,
exceto os casos de flagrante delito, em virtude de pronúncia e mediante ordem escrita da autoridade judiciária
competente.

Prisão por Dívida.


Não haverá prisão por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel. A obrigação alimentícia decorre de processo judicial de pedido de alimentos
feito por aquele que tem direito de exigi-los, nos termos da lei civil. Se Sujeita à prisão civil o depositário de bens
que, por ordem judicial ou contrato, assumiu esse encargo, mas que se recusou ou foi responsável em tornar
impossível a devolução da coisa cuja guarda lhe foi confiada.

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Assistência Judiciária.
O Estado prestará assistência integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. A gratuidade da
justiça é concedida a quem não tem condições de suportar as despesas de processos judiciais, sem prejuízo de
seu sustento ou o de sua família. O requerente é obrigado a comprovar seu estado de pobreza, mas a lei permite
que sua mera declaração nesse sentido seja válida, até prova em contrário. O litigante em estado de gratuidade
que perder a ação será condenado ao pagamento das despesas processuais e honorários de advogado da parte
contrária, mas a execução ficará suspensa enquanto não se alterar seu estado de pobreza até o prazo de cinco
anos.

Erro Judiciário.
O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na
sentença. A indenização corresponderá às perdas a aos danos materiais e morais, bem como lucros cessantes.
Entende-se por perdas e danos materiais tudo aquilo que a pessoa tinha e perdeu em razão do ato ilícito
cometido e os prejuízos que sofreu. Como lucros cessantes entende-se aquilo que a pessoa deixou de ganhar e
que ganharia se estivesse em liberdade. São considerados danos morais os atos praticados em ofensa à
personalidade do indivíduo, que atinjam sua honra e dignidade, cerceiem sua liberdade, prejudiquem sua imagem
por injúria, calúnia ou difamação ou lhe causem dor ou sentimentos desagradáveis, tais como injustiça, angústia,
abandono, desespero, tristeza ou perdas irreparáveis de ordem física ou espiritual.

Abuso de Poder – Mandado de Segurança.

Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por “habeas corpus”
ou “habeas data”, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

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