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ISSN 1517-7831 aus wL0 Ono IV CONGRESSO “Os trabalhos e os dias” das artes cénicas: Satsber lum ram ocaceLWeKt-Tmecte Cer: Mom core cece ABUSE Teolant DRE lee maio 2006 — UNIRIO - Rio de Janeiro Meméria ABRACE X Editoria Agadecimentes . ‘Aline Magioli, Ana Carolina Sawen, Carmen Celsa, Jennifer aoe ‘Afonso, Joto Cicero Bezerra ¢ Simone Kalil, graduandoe da Maria de Lourdes Rabetti (Bet UNIRIO. Maria Helena Vicente Werneck 7 Angela Materno, chefe do Departamento de Teoria do Teatro Revisiio da UNIRIO Sandra Péssaro Doris Rollemberg, professora do Departamento de Cenografia Design e diagramagio eS Victoria Rabello Fabiano Brum, website da ABRACE Marta Isaacsson, Sergio Farias, Daniel Marques ¢ Paulo Merisio Produsio Agradeimento Especial ABRACE Luiz Pedro San Gil Jutuca, vice-reitor da UNIRIO Prndopde Ewcatna ‘Aline Parreira, apoio técnico-CNPq ABRACE/UNIRIO Alkaparra Produgdes CCIP-BRASIL. CATALOGAGAO.NA-FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 759 Congress Brascre de Pesquisa Pés-Graduario em Artes Cnicas (4: 2006 Rio de Janeiro) Anais! do IV Congress Braeio de Pesquisa e Pr Graduago em Ares Cenc ;organizagio Maria de Lourdes Raert- Rio de Janeiro : 7Leras, 2006 "Tema: Os tablos eos die das ares cnias ensinay, fie e pesquisa dance reato ess ilagie Incl bibliograia 1. Anes cna Brasil - Congesos,2. Anes cca - Pesquisa - Brasil - Congress. 3. eat - Basil - Congres. 4, Danga- Brasil - Congreso. I Rabe, Maria de Lourdes. I. Titulo. rons Besa] eee ne ee Vio Cato Es TERS ANS ee jc (UNIO) Reese an ion ees 86 Pene Os Woden “RJ ce 246100 Pre do Come etre Tas 3 100 Tides 63 2 000508 Sane Because bbe anno ta = POR QUE 0 POS-HUMANO NAO EXISTE Helena Katz Pontificia Universidade Catdlica (PUC-SP) Co-eolusio, pés-humano Resumo: Em 1987, 0 norte-americano Mark Johnson repropésa relagio entre corpo, movimento e cognigio. Mostrou que acognigso ‘em origem na mowcidade e que resulta da relagio entre corpo € ambiente. O que petspectiva evolucionstaagrega atl formulagio€ 2 posibildade de lidar com © binémio dentrofora como comple ‘mentaridade aberta endo como exteriridade miiua—o que faz toda a diferenga para se compreender que nio existe um corpo pronto Exatamente por isso, propor a existéncia do pés-humano significa adetra um projec decompo fora da evolugi ainda atad a0 conce- to de corpo-recipinte. Levi-Surauss narra, em Raga ¢ Histria, que os espanhiis desja- ‘vam investiga se os indis anihanos tinham alma e eles, por sua ve, sos corpos ds prisioniros brancos que afogavam também estavam sujeitos & putefagio. Nas duas situagies, adiferenca esti no corpo. (Os antlhanos privilegiavam o corpo na sua fsicalidade orgnicae os cspanhdis, aquilo que o Ocidente prezava como sendo a sua distngio como humanos. Dito de outra mancira tratava-se de uma escolha cntre corpo (natureza) como citrio objetivo ou oesplrto que ar- bu subjtvidade ao homem (cltra). Uma csio naturezalcultur ‘A compreensio do corpo como uma construgio onde dscurso €| poder se insrevem tornot-se mocda forte, depois de Foucault. Vale se deter no verbo “inserever” pois, como jéalerou Butler (1989), ee pode levar ao entendimento de que o corpo preexste as inscrigdes que 6 calturalizam, que ele € uma especie de objeto invariante onde as informages do exterior vio se inscrever depois. Mas Foucault deixa claro, no volume Ida sua Hiri de sexualidade, que nio existe cor po ants da i, que no hi sexualidade live das relagSes de poder que tas instincas no possuem materalidade ou independéncia ontol6- ca no corpo. “al posulagio nfo impede, todavia, alembranga do conceito de tenealogianievschiano. Segundo Butler (1989), o corpo em Niews- che representa a superficie de um conjunto de forgs subterrines, reprimidas e transmutadas pela histria,entendidas como insctgio (mecanismo de construso cultural externo a0 corpo). Sendo a histé- ria um instrumento que produz sgnifieags cultras (linguagem), clas se exercem na posiildade de compreensio do compo como uma superficie disponvel para inscrig6es. Nese sentido, € 0 préprio con ceitologocénrico de insrigao que fia investido de um carder exter- alsa ao corpo, ameagando a recusa tio cara a Foucault de que no existe corpo fora da sua inscrigio cultural © corpo se torna um meio para a hstria realizar nele as suas insergGes, mas ele precisa ser sublimado (Freud) ou tansvalorado {(Nietsche) para que culeura ea insrtanele. Foucaulertcou Freud « Niewsche justamente pelo que desceveu como sendo ontologias pré-dscursivas sobre o corpo, como se exstisse um corpo antes de sua forma e sigificagio. Sua propos sobre corpo se aproxima do que Lakoff & Johson (1999) nomeiam por enbodiment ~ uma espéce de descrgio do trinsto dento-fora que o corpo vai fazendo i medida aque se organiza em seus estados sempre transitéio. Herdamos o entendimento de corpo da filosofia do século XVI, isto 6 da reduso epstemolégica relacionadas duasredugses onto- ‘ica produzidas por Descartes, Pela necesidade de lvrar-se da lig ca especulatva de Aristételes 20 mesmo tempo que da teologia da Teyeja Calica, estou a Descartes afangar que a verdade s6 poderia seraleangada pela mente, no uso de um método cujas fonts Ihe fos- sem internas (WELTON, 1998). Para tal precsava explcaracognicio como que resulta de regrasato-referenciss do pensamento. Amente, 1a intuigo de seus objeto, se aproximava da matemitica ‘Antes de publicar Meditations, por quase sete anos Descartes de- Aicou-s o estudo do corpo para explicar que fungBes anteriormente atrbuidas alma, ent outrasadigesti,actculaio ¢o movimento, no pasavam de agdes mecinica do corpo. No seu lv sobre fsiolo {ia humana, Treat on Man, apresentou as parses, os humores €& vontade como efeitos mecanicos dos uidos. Ao reduzro pensamen- too corpo, Descartes abriu eaminho para as teorias materaists que se seguitam, e que permaneceram impregnadas pla compreensio de que € razio o que define os humanos ‘Avangos recenes nas ciénciascogniiva nos ouxeram anecessi- dade de rever 0 entendimento dsponivel sobre arazio. Sabe-se hoje, por exemplo, que a ratio ndo é 0 que nos separa de todos 0s outos, seres da naturera, mas algo que nos une a eles, pos el se constitu tia de formas de inferéncias perceptivase motoras presenes tam- ‘bém em outros animals. Para compreender a rari precisamos conhe- «ero nossos sistemas visual sensioe motor eos mecanismos neurais cle suas igagées. Ela nfo é uma caractersica tanscendente do uni- ‘vers ou de uma mente desencarnada: azo assoma dos nosos cfre- bros, corpo experinia. Para Peiece, “a razio no consist em sentir de certa maneira, mas ‘em agir de certa mancira® (CP 2:.19-20, 2:165). Nossa conduta sim, dliberada, mas ni porque precisamosparat para dliberat, uma, ver que as deliberages érealizadas do forma e ansformam os nos sos atos espontincos do presente. Para Peirce, raciocinar seria ti- somente uma forma especial de conduracontroada (CP 1: 610). Nese entendimento ji se depreende a profunda importincia que Peirce ai bua aos habitos na vida humana. Ess habitos, contudo, nao io as folhas de um talonério com a Fangio de fazer circular algo que est Aepositado mas, a0 contririo, devem ser entendidos como informa- ses que ganharam uma certaestabilidade em cada um de n6s, mas {que esto igualmenteenvolvias nos procesos permanentes de trans formasio do corpo. No corpo o hébitosnio sio depos, so durante Ese o compo € sempre durante, no resulta de um pré-corpo ond 2 cultura realizainscrigdes para singularzélo. E nem tampouco 3 torna pés-corpo. Pré e pés indicam a existéncia de um modelo corpo com forma pron Em 1987, os experimentos do americano Mark Johnson vém re forcat os argumentos contrérios & proposta de um pré-corpo onde cultura inscreve seus tagos quando demonstram que a cognicio ten ‘origem na moticidade. O seu modo de reproporarlagi entre cor po, movimento e cognigio desnuda aidéia de que existe um dentro um fora eum fluxo de mavimento entre esas duasinstincias (qu seria. responsive pelasinserigBes no corpo daguilo que the & exter 10) Johnson atesta que ese tipo de argumento se apéia no conceit de corpo como recipiente. Talve as nossas g6es mais bisicassjam as de ingeir ¢ excreta inspira expirar (qu, evidentemente,dizem respeito algo que en ‘Anais do IV Congresso de Pesquisa €Pés-Graduagso em Artes Céncas (Memétia ABRACE X) Rlo de [ane 2006 trae algo que sa). © que a pespetiva evoluconitsagrega €2 posibildade de lidar com o bindmio denrofora como complemer- tardade aberta eno como exteroridade mia. ‘Maitostém dscuido esta mesma questi. Vale razeraquio pen- samento do semioticista Thomas Sebeok (1991), que slieta que 0 contexto onde tudo acontece € mito importante e 0 “onde” tudo corte nunca é passivo. Asim, o ambiente no qual toda mensagem é mits, transmit e interpretada, nunca €ettco, mas uma ep cic de contexto-zositivo. © corpo leva em conta o ambiente 0 bine leva em conta 0 corpo. Talve cul seja um bom exemplo para compreender ess ipo de rac: Maia moc cnram stm dal cm conrapanid, outs ho podem io, Mara ca no €m expen contenedae Ao cot. to, ac entar ima mola der dla pass er pared ena {io cella As mola no rechem vids pong 4 vids io € a Propredade dar moleuls ems Avid se eacions com a rpningi tom a ed de cages ea popidads emerges da interan No cotanto, staves una membrana impli em uma wasformao de ‘ede de lage gra uma tansfrmacio da ienidade (que 0 pode se: peace prs mesa, asm um cmarahado li. tal coevolativa) (Nsjmanovich, 2001-2425) (© atravesa da membrana: corpo onde dentoe fora bora fon- ‘cts ncetorformado por exteriors. Camo o proceso inestancivel ‘em sistemas vivos, o now interior, que acabou de ser reconfigurada plas inforagies rccém-perchida,j se relaciona um pouco dle rente com o ambient, uma ve que no permanece sendo 0 mesmo do momento anterior ‘A proposta de entendimento de corpo aqui apresentad ope smite que scnuncieo corpo como um projeto com forms determini- da. O corpo sempre oetado mais cee que a colegio de informs aque forma adquire. Nao deta de se corpo no flo de tansforme es que o caracterz.E por isso que o pé-humano nio exe. Bibliografia DENNET, Daniel C. A pergoe ida de Darin: a eos co sige dos dvds. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. MONALD, M. Origin ofthe Modern mind: tee sae in th evolution of culture and cognition. Cambvidge: Harvard University Pres, 1991 DURHAM, WH. Coevolution: Gene, Culture and Haman Diversity Sanford: Stanford University ress, 1981 FOUCAULT, Michel. A ond do dicuno, Sto Palo: Loyola, 2002, 1971, JOHNSON, Mark. 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