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II - O Doutor está

Dum Dum precisava falar com alguém que entendesse que era preciso descobrir

onde estava a parte que faltava da Lua. Precisava de aliados. Precisava encontrar

alguém que o ajudasse a chegar até a Lua, para começar. Que lugar melhor para

começar a procurar pistas? E quem mais estaria tão preparado para lidar com assuntos

de desaparecimentos misteriosos do que o renomado Dr. Julien R. Baptiste? Sim, ele,

que morava logo ali, depois daquele buraco no tempo e no espaço, como o doutor

sempre frisava. De manhã, bem cedo, pronto para resolver esse caso, Dum Dum saiu de

casa e foi procurar o Doutor Julien.

Na porta do casarão de três andares Dum Dum estancou. Olhou o palacete de

alto a baixo, vendo que tudo era rabiscado com frases de capítulos inteiros de livros

muito importantes – alguns deles nem haviam sido publicados ainda. Dum Dum

procurou pela campainha, apertou-a e ouviu um plunct, um plact e um zum como

resposta. Numa janelinha do terceiro andar, o Dr. Julien R. Baptiste botou a cabeça de

personagem de O Mágico de Oz para fora.

- Bom dia pra quem é de bom dia. Entre aí, entre aí, menino, porque você é bem-

vindo!

Dentro da casa, Dum Dum pôde ver que haviam vários computadores ligados

por toda parte. Em uma sala espaçosa, perto da escada, estava Mole Mole Pá, o

Supercomputador, cercado por bugigangas de todas as espécies. Em seu habitual jaleco

e montado em duas cambaxirras de estimação, cada uma em um pé, o Dr. Julien R.

Baptiste planou escada abaixo. Assim que o viu, Dum Dum disparou a falar, enquanto

acompanhava o doutor até a sala do supercomputador:


- Dr. Julien, o senhor viu que um pedaço da Lua sumiu ontem à noite? Eu fiquei

preocupado. A lua assim, sem um pedaço, não tem graça. O senhor viu?

- Eu vi, eu vi, menino. Ia fazer uma serenata para as minhas amoras, à luz da lua,

quando percebi a falta. Desisti na hora. Então fui plantar bananeira.

Dr. Julien R. Baptiste desmontou das cambaxirras, que voaram para perto de

Mole Mole Pá. O supercomputador soltou um bocejo desafinado, abriu dois olhos

sonolentos e passou a encarar a conversa. Dum Dum prosseguiu, determinado:

- Eu quero ir até a Lua, Dr. Julien!

- Uma viagem! Que maravilha!

(Dr. Julien tirou do bolso do jaleco uma ervilha.)

- Alguém tem que investigar esse mistério! Eu quero ir até a cena do crime!

- Um crime! Que horror!

(Dr. Julien tirou do bolso do jaleco um espanador)

- O problema é que eu não sei como chegar até a Lua. Por isso vim pedir sua

ajuda.

Dr. Julien R. Baptiste mascou o ar entre as bochechas, soltou um leve arroto,

olhou para o supercomputador e disse, empolgado:

- Veio ao lugar certo, Dum Dum. Ao lugar certo. Para ir até a lua, você vai

precisar de uns recursos que só eu, menino, só eu posso te arrumar.

Batucando nas teclas de Mole Mole Pá e remexendo os dedos nos botões do

jaleco, Dr. Julien R. Baptiste fez uma lista do que Dum Dum precisaria para a viagem.

Um cachorro de pelúcia chamado Orelha Caída. Dois bonecos de policiais chamados

Boieco e Maieco. Um jacaré de madeira com rodinhas que atende por Calango. Um

casco verde de tartaruga. Um fantoche de vaca que muge de verdade. Travesseiros


gêmeos que eu chamo de Outro, todos dois. Catando tudo em gavetas e baús, Dr. Julien

colocou todos os itens dentro de uma mochila e a entregou para Dum Dum.

- Tem muita tecnologia nisso aí, viu?

Dum Dum acompanhava maravilhado a movimentação do Dr. Julien R.

Baptiste, embora ainda não entendesse como todo aquele material o levaria até a Lua.

- Ah, ainda falta algo! Ô se falta! – disse o Dr. Julien R. Baptiste.

E passou a assobiar, assobiar, assobiar, assobiar cada vez mais alto, olhando para

todas as direções, como se estivesse esperando que alguém respondesse ao chamado.

Uma expressão de alegria no rosto do Dr. Julien R. Baptiste e um estranho barulho –

como se gavetas estivessem se abrindo e fechando de maneira ritmada – que se

aproximava de uma janela lateral foram suficientes para que Dum Dum ficasse

preocupado em relação ao que realmente havia atendido ao assobio. E bem na sua frente

estava ... estava … estava aquilo. Calçava enormes sapatos de palhaço, tinha pernas

compridas e um corpo com o formato de barril coberto de grossos pêlos marrons, braços

peludos que funcionavam como asas. A cabeça era redonda e careca, com um bico que

abria e fechava como uma tesoura, olhos muito vivos que não paravam de mexer de um

lado para o outro, além de ter um pequeno guarda-chuva lilás aberto bem no alto da

cabeça. Agora que estava em pé ao lado do Dr. Julien, não mais esticava e encolhia o

pescoço, como fazia enquanto voava. Aquilo, além se ser bem estranho, fazia um

barulho que chegava a irritar.

- Uhhhiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

- Ah, esse aqui é o Bocoió de Asa. Diga olá para Dum Dum, Bocoió de Asa.

- Uhhhiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

- Ele vai te levar até a Lua, menino. Desde que você não se esqueça de alimentá-

lo com gerlúzios e gizmos. Três vezes ao dia.


- Mas o senhor não irá comigo, Dr. Julien?

- Ah, Dum Dum, você sabe. Alguém tem que ficar por aqui, para ordenar a

bagunça, bagunçar a ordem, essas coisas. Mas, olhe só, eu tenho aqui algo que vai

permitir que você sempre possa falar comigo.

- Uhhhiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Depois de batucar a ponta dos dedos nas mangas do jaleco, o Dr. Julien R.

Baptsite entregou para Dum Dum o Quer-Falar-Alô, um potente aparelho de

transmissão e recepção de áudio.

- Algum conselho para me dar antes que eu vá até a lua, Dr. Julien ?

- Fale com seus pais antes de partir nessa viagem.

- Mas eles são adultos, Dr. Julien. Não entendem que alguém precisa saber onde

está a parte que falta na Lua.

- Fique tranqüilo, menino, fique tranqüilo. Eu conheço seus pais: são escritores.

Eles entendem muito bem de casos como esse. Você vai ver. Vai por mim.

Dr. Julien mostrou a Dum Dum como ele poderia usar o Quer-Falar-Alô para

avisar seus pais que estava indo até a lua. Depois, ele acenou para suas cambaxirras de

estimação, que o conduziram novamente para o terceiro andar de sua casa. Já fora da

casa, acompanhado pelo Bocoió de Asa, Dum Dum ainda pôde ouvir um “boa viagem e

até outra vez”, enquanto Mole Mole Pá organizava o coro dos demais computadores do

casarão.

- Uhhhiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

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