You are on page 1of 13

Venho a esta Convenção, não por mim.

Estou seguro, e os números de uma recente


pesquisa interna garantem, que represento
aqui a maioria avassaladora dos
peemedebistas, que anseiam ver o partido
disputar a Presidência da República com o
seu próprio candidato.

Venho a esta Convenção, não por minha


candidatura. Há no PMDB boa quantidade
de companheiras e companheiros da melhor
cepa, plenamente aptos a encabeçar o
partido e oferecer aos brasileiros um outro
caminho.

Venho a esta Convenção, não porque


discorde da aliança à esquerda que se
propõe. Podemos bem mais que a
reafirmação mediana dos desvios que
mantém o nosso país dependente, patinando
nas possibilidades, sempre às vésperas do
futuro.
Venho a esta Convenção, não para discursar
ou ouvir discursos. Quero o debate. Quero o
terçar inteligente, agudo, criativo das idéias.
Que se desabrochem propostas, que se
rivalizem escolas de pensamento.

Venho a esta Convenção, não para,


meramente, discordar da vice candidatura
que se oferece. Embora a coadjuvação seja
muito pouco para o maior partido do país, o
que me toca, mobiliza, impulsiona é a falta
de um Programa para o Brasil. No que se
respalda a aliança se ela não se fundamenta
em um Programa?

É por isso que venho a esta Convenção.

Venho a esta Convenção sobretudo para


debater idéias que se encontrem com outras
idéias e que construam um Programa para o
Brasil.

Não venho a esta Convenção para diminuir


o trabalho da Fundação Ulysses Guimarães,
que correu o país recolhendo sugestões para
um programa peemedebista. Mas qual o
resultado do périplo? Se saúdo a boa
intenção, não vejo como assumir
compromissos com o resultado.

Por que?

Porque a reiteração, em linhas gerais, das


políticas vigentes do partido condutor da
aliança, mesmo que se pincelem piedosas
observações críticas, não é um Programa do
PMDB para o Brasil. Na arca desta aliança
não vejo os mandamentos que vão nos guiar
com segurança para o país prometido.

Mais uma vez, em mais uma campanha


presidencial, vamos ser cabresteados pelo
programa dos outros? Pior, nem sequer
fizemos auto-crítica dos programas que
compartilhamos, em pelo menos três
eleições, com o partido daquele que é o
principal adversário da frente em que hoje
nos abrigamos. Tanto pragmatismo,
desconsola.

Talvez alguém possa reptar, dizendo que


naquelas três vezes em que o galo engasgou,
o programa não era nosso. E agora, é?

Não há como negar os avanços do país nos


últimos sete anos e seis meses. Avanços na
diminuição da pobreza, na redução da
mortalidade materno-infantil, nos índices da
saúde, da educação, em ciência, tecnologia e
pesquisas. Os grandes avanços em infra-
estrutura, conquanto as deficiências sejam
ainda gigantescas, tal a incúria dos governos
anteriores.

Como não se desmerecem os avanços na


política externa, praticada com altivez pelo
atual governo. De alinhado incondicional
das grandes potencias, a um país menos
submisso, menos cordato, desafiador da
lógica imperial.

Seria portentoso se essa altanaria que circula


no Itamarati contaminasse a política
econômica, inoculasse na Fazenda e no
Banco Central anticorpos contra a
dependência, o servilismo, a sujeição ao
mercado.

Ao mesmo tempo em que encaramos,


provocamos fissuras na dita ordem natural
das coisas na política internacional, ao
mesmo tempo em que avançamos na
construção de uma nova solidariedade
latinoamericana, não resistimos ao surrado,
desmoralizado receituário do FMI.
É isso mesmo. Eis o velho e satânico Dr. No
de volta.
O fato de não precisarmos recorrer ao Fundo
Monetário Internacional para garantir
compromissos com credores, não significa
que estamos livres de suas famigeradas
prescrições. As medidas de há pouco,
cortando investimentos públicos, tardando o
ritmo das obras de infra-estrutura,
aumentando os juros para desestimular o
crédito vieram depois de um alerta do Fundo
sobre o aquecimento excessivo da economia
brasileira.

A oportunidade do Brasil crescer além de


seis por cento, uma taxa mediana caso se
leve a sério a tarefa de remir o país do
atraso, deixa os jornalões, os
contacorrentistas da subordinação ao capital
financeiro com urticária. Porque o
crescimento deve ser como sempre foi, para
poucos. Nada pode escapar do rígido
controle dos dominantes. Se não existe
como satisfazer a demanda, corte-se a
demanda. E contra esse extermínio das
possibilidades, silêncio cúmplice.
E o que demandam os mais pobres, agora
promovidos a consumidores? Examinem a
lista de compras deles e vejam como são
modestas, singelas suas aspirações. Não
querem mais que alguns bens que tornem a
vida mais confortável, mais prazerosa, mais
feliz.

À medida que criam dificuldades para a


realização de desejos tão simples, estão
sugerindo que os pobres já tiveram sua cota,
já comeram o suficiente e que a insistência
deles em consumir só atrapalha o bom
desempenho dos ditos fundamentos macro-
econômicos. Que os pobres então....ora os
pobres.

A velha pergunta latina, tão apreciada pelos


causídicos, impõe-se: Cui Prodest? A quem
interessa a perpetuação dos preceitos
neoliberais? Quem ganha com isso? Nem o
país, nem os mais pobres. Aqueles 30, 40
milhões de brasileiros que dizem retirados
da miséria e guindados à classe média, logo
voltarão à fila da sopa, caso não haja
mudanças estruturais, de conteúdo,
substantivas, radicais na política econômica,
subordinada esta, evidentemente, a uma
nova concepção de Brasil.

Na encruzilhada de nossos destinos, mais


uma pergunta não se emudece: o que somos,
um mercado ou uma Nação? Uma Nação
para os nossos ou um país para os outros?
Com um Programa dos outros,
continuaremos a ser um país para os outros,
para o proveito do mercado.
Não vejo, substancialmente, divergência
entre os corifeus do dependentismo e os
atuais feitores da política econômica. A
pedra de toque é a mesma. Não é porque o
alquimista mude um que outro ingrediente
que o resultado final apresente-se diverso. O
eufemismo não muda a qualidade do ente.

Algumas vezes, deixando-me envolver por


doses generosas de otimismo, concedendo
ao meu amigo presidente Lula toda boa
vontade possível, e valendo-me dos
ensinamentos do mestre Guerreiro Ramos,
reflito: são os percalços do caminho, são os
prazos da vida, é a natureza processando as
transformações. O novo não nasce ex-
abrupto do velho. A obsolescência do velho
é acompanhada do surgimento do novo.
Talvez seja isso o que esteja acontecendo,
quero ser otimista.
No entanto, não há espaço para o
espontaneísmo na natureza das coisas. Do
nada, nada surge. E os mecanismos que
fazem a vida girar não são uma questão de
fé, de boa ou má vontade. Para que nasça o
novo, é preciso que ele seja gerado,
cultivado, protegido, alimentado. E não vejo
nada de novo brotando nesta fertilíssima
Terra de Santa Cruz.

Os principais disputantes presidenciais


esforçam-se, acotovelam-se para ver quem
será eleito o mais confiável pelo mercado.
Primeiro buscam o nihil obstat do mercado,
para depois angariar o voto popular.

O PMDB poderia ser o novo. Por sua


história, por sua força de maior partido
brasileiro, por suas características de partido
desvinculado do grande capital, de partido
das classes populares. Poderia. Mas teima,
seguidamente, renunciar a primazia, embora
quase sempre se apresente como um Esaú
envergonhado da renúncia, constrangido
pela repetição da fuga.

Pelo que se viu até o momento - estamos a


pouco mais de cem dias da eleição- esta
deve ser uma das disputas menos
ideologizada, menos politizada, de todas
havidas. O que se debate? Não se debate.
Fica aí um espicaçando o outro. Nada de
substancioso, de essencial para a construção
dos destinos nacionais. Nenhum
pensamento, nenhuma proposta estratégica.
Apenas movimentos táticos, orientados pelo
oportunismo eleitoral. Aliás, noções como
estratégia e tática desapareceram da
preocupação dos partidos. Não se pensa, não
se planeja, não se definem os grandes
objetivos e como conquista-los. O
imediatismo, o dia seguinte cega, ofusca a
visão de futuro.

Essa renúncia ao pensar, essa fuga ao debate é o melhor aliado com o que os
interesses transnacionais poderiam contar. O medo, as superstições, as
crendices, como se sabe, são produto da ignorância. Assim, como não se
debate, como não se pensa, alguns postulados do mercado, que não passam
de sofismas, de trapaça, de fraude mesmo acabam se impondo como
verdade, como dogma.

Contrapondo às máximas do mercado e sua busca alucinante pelo lucro


imediato e abundante, devemos apostar na produção nacional, no mercado
interno, na inovação, no de trabalho e criatividade de nossa gente. Apostar
na nossa possibilidade de sermos protagonistas, condutores de nosso destino,
senhores de nossa história. Longe vá temor servil.

Contrapondo aos dependentistas, o desafio de consolidar e comandar o


Bloco Sul-Americano, fazendo com que o nosso país desponte e se firme
entre as grandes nações do planeta.

Trago aqui uma proposta singela, como também singela era a proposta de
Alexander Hamilton, secretário de Tesouro do primeiro presidente norte-
americano, George Washington, condensada no “Tratado das Manufaturas”,
que deu as bases para o desenvolvimento industrial dos Estados Unidos e
orientou suas relações com os países colonialistas.

Vamos também dizer aos nossos empresários que acreditamos neles, como
acreditamos na infinita capacidade de trabalho de nosso povo.
Companheiras e companheiros.

Não vim a esta Convenção para contestar, protestar. Venho a esta


Convenção para propor o debate, para, como na antiga Àgora grega, fazer
falar a voz do povo.

You might also like