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UM POUCO DA HISTÓRIA DE ILHÉUS

por Maria Luiza Heine

A história de Ilhéus começa com a chegada da expedição colonizadora de


Francisco Romero, por volta de 1534.

"A história do Brasil Colônia não poder ser desvinculada da história européia,
já que a colonização dever ser compreendida como a necessidade de
expansão comercial da burguesia enriquecida com a Revolução Comercial. As
colônias significam não só maior possibilidade de consumo, como também são
fornecedores de produtos tropicais e metais preciosos". (Maria Lúcia de
Arruda Aranha).

Era um período de grandes mudanças na Europa, de grandes avanços, de


grandes descobertas, de grandes invenções a exemplo da bússola, da
pólvora, da imprensa e o papel, do caminho marítimo para as Índias, da
formação das monarquias nacionais, da Reforma e Contra-Reforma. Era a
época áurea do Renascimento.
Os franceses começaram a rondar o Novo Mundo e a comercializar o pau
brasil com os índios, O governo português sentiu que era necessário ocupar
as terras e, ao mesmo tempo, percebeu a impossibilidade de povoar esta
imensidão de terras sozinho. Foi então que criaram o sistema de Capitanias
Hereditárias, sistema que já dera certo em algumas ilhas do Atlântico.
A carta da doação da Capitania de Ilhéus Jorge de Figueiredo Correa foi
assinada em Évora a 26 de junho de 1534. O donatário mandou em seu lugar
o preposto Francisco Romero,, que primeiro se instalou na ilha de Tinharé,
onde fica o Morro de São Paulo e depois, quando descobriram o que seria
mais tarde a Baía do Pontal, se encantaram e fundaram a sede da capitania,
dando o nome de São Jorge dos Ilhéus, uma homenagem ao donatário Jorge
e Ilhéus, devido à quantidade de ilhas que encontraram. Além das que existem
ainda hoje, como a Pedra de Ilhéus e a Ilha do Frade, os morros de
Pernambuco e o atual Outeiro de São Sebastião também eram ilhas.
Nos primeiros quinze anos o progresso da vila era enorme e atraía todo tipo
de pessoa. Em 1556 a vila já possuía a igreja Matriz e relativa produção de
cana-de-açúcar. Jorge de Figueiredo doou pedaços de terra que se
chamavam sesmarias a diversas figuras importantes do reino, e em 1537 doou
uma sesmaria a Mém de Sá, que seria o terceiro Governador Geral do Brasil,
localizada no que foi chamado Engenho de Sant Ana, e onde hoje está
localizado o povoado de Rio do Engenho. Ainda restam vestígios deste
engenho que foi explorado pelos jesuítas e onde está localizada a capela de
Nossa Senhora de Sant Ana, considerada a terceira igreja mais antiga do
Brasil.
Em 1551, com a morte do donatário a capitania mudou de dono várias vezes e
caiu no ostracismo, tornando-se apenas mais uma vila de pescadores na
costa desse imenso país.
Em 1754 o governo português acabou com o sistema de Capitanias
Hereditárias e as terras brasileiras voltaram para as mãos do governo.
Foi nessa época que iniciaram o plantio do cacau. As primeiras sementes
foram trazidas do Pará, pois o cacau é planta nativa da Região Amazônica,
pelo francês Louis Fredéric Warneau, e plantada na fazenda Cubículo, às
margens do rio Pardo, hoje município de Canavieiras.
Naquela época não se tinha conhecimento da importância do chocolate na
alimentação e só pensava-se em cultivar a cana-de-açúcar, que era o que
rendia muito. Foi somente na século seguinte, nas primeiras décadas que os
alemães chegados à região e, 1821 começaram o plantio do cacau como
cultura rentável. Até 1890 foram os estrangeiros que plantaram cacau.
A partir desta data é que houve uma verdadeira corrida para a ocupação das
terras de mineração.
Em 28 de junho de 1881 Ilhéus foi elevada à categoria de cidade, numa ação
referendada pelo Marquês de Paranaguá. Em 1913 a cidade foi transformada
em bispado.
O governo brasileiro doava terras a quem quisesse plantar cacau. Vieram
sergipanos e pessoas fugidas da seca do nordeste, do próprio estado e de
todo lugar, Em dez anos a população cresceu de uma forma explosiva,
plantava-se cacau em abundância, vieram pessoas buscando o eldorado e a
região mudou seu aspecto.
Nesta época começaram a construir belos edifícios públicos como o Palácio
Paranaguá que abriga até hoje a Prefeitura Municipal e a sede da Associação
Comercial de Ilhéus; belas casas, como a do "coronel" Misael Tavares e a da
família Berbet, uma cópia do Palácio do Catete no Rio de Janeiro e muitos
outros belos prédios.
Na década de vinte deste século, Ilhéus fervilhava de pessoas, de dinheiro, de
luxo e riqueza.
Foi construído o prédio do Ilhéos Hotel (na grafia antiga), o primeiro com
elevador no interior do Nordeste, uma obra ainda hoje imponente, e o Teatro
Municipal que esteve em ruínas, mas que foi reformado e é considerado um
dos mais bem aparelhados do interior do Nordeste e fora das capitais.
Ilhéus sempre primou pelo bom gosto e pelo requinte, sempre teve muita
ligação com a Capital Federal, o Rio de Janeiro, enquanto capital do país e
também com a Europa. Em 1921, quando inaugurou, sua casa, o "coronel"
Misael Tavares ofereceu um banquete e o cardápio do jantar estava escrito
em francês. Era comum as famílias possuírem pianos, muitas vezes até de
cauda em suas casas e até fazendas. Vinham da Europa nos navios.
A exportação de cacau era um problema, pois era feito pelo porto de Salvador.
Havia muita dificuldade no embarque e perda de qualidade e de peso. Em
1924, os cacauicultores iniciaram a construção do porto de Ilhéus com
recursos próprios, e a exportação do cacau começou a ser feita diretamente
na cidade, trazendo com isso a presença de estrangeiros e um intercâmbio
cultural com países da Europa. Nesta época vinham dançarinas, mágicos, e
também aventureiros para divertir as pessoas que possuíam dinheiro. Haviam
cabarés, clubes noturnos, cassinos. A cidade era movimentada e é esta época
narrada por Jorge Amado em seus romances. Uma época de muito dinheiro e
de muito luxo.
Havia cabarés, clubes noturnos, cassinos. A cidade era movimentada e é esta
época narrada por Jorge Amado em seus romances. Uma época de muito
dinheiro e de muito luxo.

O grande fluxo financeiro originado pela produção e exportação de cacau deu


origem a peculiaridades no desenvolvimento da Região da Costa do Cacau,
região geoestratégica da Bahia. O desenvolvimento da produção e a busca
por melhor qualidade nesta commodity, levaram as lideranças regionais e os
produtores a criar a CEPLAC, Comissão Executiva de Desenvolvimento e
Preservação da Lavoura Cacaueira. Hoje um orgão do Ministério da
Agricultura, com importante centro de pesquisa, o CEPEC. A demanda
regional por educação superior, buscada nas década de 40 e 50 em Salvador,
principalmente pelos filhos de coronéis do cacau, gerou o anseio pela
implantação de faculdades e instituições de ensino superior na região. A
UESC, Universidade Estadual de Santa Cruz, é fruto desta demanda, e hoje
torna-se referência nordestina em formação profissional de nível superior, e
firma-se como importante instituição de produção científica no nordeste, sendo
a segunda da Bahia, somente superada pela UFBA.

A cidade de São Jorge dos Ilhéus fica situada em local privilegiado. Recortada
por muita água, sua chegada por avião é muito bonita e emocionante. O
centro da cidade fica localizado numa ilha artificial formada pelos rios Almada,
Cachoeira e Itacanoeira (ou Fundão) e ainda pelos canais Jacaré e Itaípe,
este último construído no final do século antepassado pelo engenheiro naval
François Gaston Lavigne, oficial do exército de Napoleão. Este canal foi
construído para facilitar a passagem das canoas que traziam cacau da região
do rio Almada para o embarque no porto. Compondo a área de preservação
ambiental da bacia hidrográfica deste rio, a Lagoa Encantada possui beleza
natural ímpar, elevado nível de preservação ambiental, lindos passeios de
barco, com cachoeiras e contato com a natureza.

A partir de meados da década de oitenta, a monocultura cacaueira sofreu um


rude golpe na sua característica principal que era a de gerar muita riqueza. A
seca constante provocada pelo fenômeno El Niño, os baixos preços
internacionais e por último a praga denominada vassoura-de-bruxa, fizeram da
cacauicultura uma atividade menos rentável. Se para uns isto representou
tristeza e angústia, para a região permitiu que se pensasse em outras
atividades rentáveis. Foi então que Ilhéus renasceu, desta vez para o turismo.
A implantação de projetos industriais e o surgimento do pólo de informática
têm sido também alternativas de desenvolvimento.

A cidade tem infra-estrutura que permite, melhor que nenhuma outra no


Estado, que se desenvolva esta atividade que cada vez mais pessoas no
mundo procuram, que é o lazer e a vontade de descansar e aliviar o corpo da
tensões cada vez maiores do trabalho. Hawaizinho, Olivença, Rio do
Engenho, são alguns dos pontos turísticos que merecem uma visita à Ilhéus. A
população gentil e hospitaleira, educados e respeitosos com o turista a mais.
Economia

Setor primário

Na agricultura, Ilhéus destaca como produtor de cacau. Porém, piaçava e


dendê vem ganhando bastante espaço atualmente.

Setor secundário

Na indústria, Ilhéus destaca-se em toda a Mesorregião do Sul Baiano, por ser


pólo de informática, ter um distrito industrial, diversas indústrias para
manuseio e transformação do cacau e para criação de sofás.

Setor terciário

Os serviços crescem em Ilhéus. Além do alto índice atual de emprego, a


cidade apresenta um comércio em grande desenvolvimento, sendo o que mais
cresce em toda a Mesorregião Sul Baiano. Nos serviços podemos destacar
ainda os transportes de Ilhéus, a cidade possui grande frota rodoviária, e é
uma das únicas cidades em seu estado a possuir aeroporto (o Aeroporto
Jorge Amado) e porto (o Porto de Ilhéus, maior exportador de cacau do
Brasil). A economia ilheense está prevista para crescer mais ainda com a
implantação do moderno Porto Sul e a ferrovia Leste-Oeste que irão reverter o
processo de estagnação da economia local, além do futuro aeroporto
internacional.

Turismo

Pontos turísticos

Capital turística da Costa do Cacau, e considerada por muitos, terceiro maior


ponto turístico da Bahia, Ilhéus é cheia de pontos turísticos, dentre eles,
patrimônios religiosos, instituições culturais, bairros e povoados, que juntos às
suas belíssimas praias (exemplos: Avenida, Ponta da Tulha, Sul, Norte,
Batuba, Olivença), formam um espetáculo.

• Bar Vesúvio - Praça Dom Eduardo

Um dos mais antigos estabelecimentos comerciais da cidade é citado por


Borges de Barros, em 1915, como a única pastelaria da cidade. Palco de
muitas intrigas, o Bar Vesúvio está próximo de completar seu centenário e
continua sendo testemunha silenciosa da vida ilheense. Famoso em todos os
continentes, através da obra de Jorge Amado, é muito procurado por turistas
que chegam a Ilhéus. Os primeiros proprietários foram os italianos Nicolau
Carichio e Vicenti Queverini. Hoje o imóvel pertence a Hans Koella, suíço que
tem diversos empreendimentos na cidade. Foi tombado pelo município.


• Bataclan - Av. 2 de Julho

O atual prédio do Bataclan foi reformado através de um convênio entre a


Petrobrás e Prefeitura Municipal, inaugurado em 2004. Antigo bordel
freqüentado pelos "Coronéis do Cacau", funcionou até os anos 40 e ficou
célebre por fazer parte da literatura amadiana. Sua proprietária era Antônia
Machado, cujo nome, na obra de Jorge Amado, ficou conhecido como "Maria
Machadão". Pode ser visitado diariamente e seu espaço é utilizado para
lançamento de livros, vernissages e eventos sociais. O "quarto" de Maria
Machadão foi reeditado com móveis da época.

• Casa de Cultura Jorge Amado - Quarteirão Jorge Amado (Circuito


Cravo)

Casa edificada pelo Coronel João Amado de Faria, após ter sido sorteado com
um prêmio da Loteria Federal. Foi residência dos Amado e local onde Jorge
iniciou seus primeiros escritos. No antigo prédio funcionou a Faculdade de
Direito em Ilhéus e, posterior- mente, a Delegacia Estadual da Fazenda. Foi
doado ao município pelo Go- verno do Estado da Bahia, na gestão de Waldir
Pires, para o funciona- mento da Fundação Cultural de Ilhéus. A reforma e
transformação em Casa de Cultura Jorge Amado foi realizada em parceria
com a Petrobrás e sua inauguração ocorreu em 27 de junho de 1997.

• Catedral de São Sebastião - Praça Dom Eduardo

Sua construção foi iniciada em 24 maio de 1931, sob o comando de Dom


Eduardo Herberhold, segundo Bispo Diocesano e do arquiteto Salomão da
Silveira. Sua dedicação em 21 de setembro de 1967, quando era bispo Dom
Caetano Antonio dos Lima dos Santos, com a presença do Núncio Apostólico
Dom Sebastião Baggio e diversas autoridades governamentais e eclesiástica.
A partir desta data passou a ser a Sé da Diocese de Ilhéus, que foi criada em
20 de outubro de 1913, pelo Papa Pio X, desmembrada da Arquidiocese de
São Salvador, a quem a Paróquia de São Jorge era subordinada desde 1556,
quando foi criada pelo primeiro bispo brasileiro, Dom Pero Fernandes
Sardinha. Na Catedral de São Sebastião estão sepultados dois bispos: Dom
Eduardo Herberhold e Dom Valfredo Tepe.

• Cristo - Av. 2 de Julho

Estátua de 7,5 metros de altura, situada na entrada da barra, na avenida 2 de


Julho. Inaugurada durante o governo municipal de Mário Pessoa, serve de
referência estética, ética e religiosa para o povo de Ilhéus.

• Biblioteca Pública Municipal Adonias Filho - Av. Soares Lopes


• Capela de Senhora Santana - Povoado Rio do Engenho
• Igreja Matriz de São Jorge - Praça Rui Barbosa

Inaugurada em 1556, foi construída com pedras de cantaria e atualmente é a


Igreja mais antiga do centro de Ilhéus. Sofreu diversas reformas através dos
séculos, porém conservou seu estilo primitivo. Aí funciona o Museu de Arte
Sacra de Ilhéus que guarda uma imagem secular de São Jorge, valiosas
peças sacras dos Séculos XVI, XVII e XVIII e um painel da história de Ilhéus.
Localizada na Rua Conselheiro Dantas, Centro.

• Convento e Igreja Nossa Senhora da Piedade -

Esse conjunto erguido em área urbana, é um belíssimo exemplar da


arquitetura neogótica. O interior da Igreja é dotado de riquíssimo sacrário e na
área do Convento funciona um colégio desde 1916, sob a direção das Irmãs
Ursulinas. O Convento foi concluído em 1928 e domina uma das mais belas
paisagens de Ilhéus. Hoje é também um local de realização de Congressos e
Seminários. O conjunto fica na Rua Madre Thaís, no Alto da Piedade

• Museu Nossa Senhora da Piedade

O acervo do museu é composto de mobiliário antigo, louças, castiçais,


crucifixos, diversos paramentos romanos usados por padres na celebração de
missas, quadros e objetos diversos de uso pessoal de Madre Thaís, a
fundadora do Instituto Nossa Senhora da Piedade em 1916. Das janelas e do
pátio do museu pode-se Ter uma bonita vista da cidade e de várias praias.

• Lagoa Encantada - Povoado de Lagoa Encantada


• Oiteiro de São Sebastião
• Palacete Misael Tavares - Quarteirão Jorge Amado (Circuito Cravo)
• Palácio Episcopal - Alto Teresópolis
• Palácio Paranaguá - Praça J. J. Seabra
• Ponta da Tulha - Povoado de Ponta da Tulha
• Casario secular da Rua Antônio Lavigne de Lemos (Circuito Cravo)

• Teatro Municipal de Ilhéus - Quarteirão Jorge Amado (Circuito Cravo)

“Em ato mui solene, foi lançada a 3 de maio [1929], pelo intendente municipal,
a primeira pá de concreto das fundações do majestoso edifício do futuro Cine-
Teatro Ilhéus, à praça Luiz Viana” (CAMPOS, 1981). “Antigamente os circos
que vinham à cidade pertenciam ao gênero que os cariocas classificam na sua
geringonça de ‘mambembe’. Agora, porém, não acontecia assim. A platéia
popular de Ilhéus já se enquadrara no rol das capazes de aplaudir elencos
mundialmente conhecidos. Em junho exibiu-se pela primeira vez na cidade um
filme - opera, no Cine Teatro Peri, e nos últimos dias do ano inaugurou-se um
cinema de luxo, o Cine Teatro Ilhéus” (Ibid.).

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