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Resumo Abstract
da pobreza, se esta parece insolú- rar num ar cada vez mais carregado
vel, sendo inerente à sociedade no meio urbano. Que os responsá-
“moderna”? veis são os “senhores das grandes
Uma outra crítica pode ser decisões econômicas” como salien-
feita ao pensamento da tou Silva (1991;41), que estão pre-
sustentabilidade quando seus au- ocupados, logicamente, com seus
tores afirmam que todos somos res- rendimentos.
ponsáveis pela degradação A argumentação da
ambiental, que nossas intervenções sustentabilidade, que propõe uma
afetam o ambiente ou que os países integração homem-natureza, tam-
devem promover a modificação. Por bém é passível de uma outra crítica.
quê? Porque tal interpretação é Os diversos textos aqui menciona-
generalista e não expõe os verdadei- dos dão especial ênfase ao fato de
ros responsáveis de uma “destruição que é preciso preservarmos a base
ambiental”. Será que é possível cul- de “recursos naturais” ou que “...o
parmos os mineiros pela poluição homem é o recurso mais precioso”
ambiental causada pela extração do (SACHS, 1986:16) e, portanto, deve-
carvão? Será que é possível culpar- se ter especial atenção para com os
mos os operários das indústrias “su- recursos humanos. Ora, o termo re-
jas” pela poluição dos rios e do ar? curso, como bem lembrado por Gon-
Será que todos intervém no ambi- çalves (1990:124), significa um meio
ente da mesma forma? Será que to- para se chegar a um fim. Temos,
dos somos responsáveis pela amea- portanto, duas considerações. Pri-
ça nuclear e pelas guerras capitalis- meira, como já salientado anterior-
tas deste século? Talvez sejamos mente, manter o termo “recursos
pela omissão. Afinal de contas, a falta
naturais” significa continuar enca-
de politização, não somente com
rando a natureza apenas pela sua
relação às instituições, mas também
utilidade, devendo ser preservada
ligada às demais instâncias que cer-
para a perpetuação de sua utiliza-
cam o homem, é um fato na atuali-
ção lucrativa. Segunda, ver o homem
dade.
como mero “recurso” é próprio de
É muito fácil generalizar as
uma sociedade baseada na
causas, porque assim elas permane-
cem escondidas. Quando se fala que coisificação, pois o homem aqui não
“as populações” ou os “países” são passa de um meio para a efetivação
responsáveis, esquece-se de dizer do processo de acumulação. Nesses
(propositadamente?) que os pobres termos, essa proposta pode ser en-
do mundo não têm culpa de respi- tendida como emancipadora?
Ano XVI, n° 22, Junho/2004 35