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INTRODUÇÃO

A linguagem da música parece ter estado sempre presente na vida dos seres humanos e

dede há muito faz parte da educação de crianças e adultos (ROSA, 2000). Para uma visão

cognitivista, o conhecimento musical se inicia por meio da interação com o ambiente, através de

experiências concretas, que aos poucos levam à abstração.

A criança se envolve integralmente com a música e a modifica constantemente,

transformando-a, pouco a pouco numa resposta estruturada.

Ao nascer a criança é cercada de sons e esta linguagem musical é favorável ao

desenvolvimento das percepções sensório-motoras, dessa forma a sua aprendizagem se dá

inicialmente através dos seus próprios sons (choro, grito, risada), sons de objetos e da natureza

(chuva, vento), o que possibilita a criança descobrir que ela faz parte de um mundo chio de

vibrações sonoras, pois como afirma Brito (2003, p.35)

O envolvimento das crianças com o universo sonoro começa ainda antes do nascimento,
pois na faze intra-uterina os bebês já convivem com um ambiente de sons provocados
pelo corpo da mãe, como sangue que flui nas veias, a respiração e a movimentação dos
intestinos. A voz materna também constituí material sonoro especial e referência afetiva
para eles. (BRITO, 2003, p.35)

Portanto, a interação da criança com a música, como podemos observar já se inicia logo

cedo, ouvir música é quase inevitável em nossa paisagem sonora, pois como foi dito, é

interessante observar o reconhecimento dos bebês ao ouvir a voz da mãe, o barulho do pai

chegando do trabalho, das cantigas de ninar para dormir, o barulho dos objetos ao cair, o que

desperta na criança a curiosidade, a alegria, entusiasmo ocasionados pela sonoridade.


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Estando presente a música em nossas vidas, podemos então afirmar que a linguagem

musical surge espontaneamente na criança por meio do contato com o ambiente sonoro da cultura

na qual está imersa.

Segundo Brito (2003), as cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de

jogo musical têm grande importância, pois é por meio das interações que se estabelecem os

repertórios que permitirá às crianças comunicar-se pelos sons.

O RCNEI (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil) afirma que a música

é: [...] uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no

contexto da educação, de um modo geral, e na Educação Infantil, particularmente (BRASIL,

1998, v 3, p. 45).

Ainda são poucos os trabalho realizados no campo da educação musical para crianças,

pois a música ainda não é vista com uma área de conhecimento que deve estar presente na escola

de forma intencional.

Sobre esse aspecto Stokoe (1997) ressalta que: “consideramos como desenvolvimento

total integrado e harmônico, aquele no qual nenhuma área de conduta deixe de receber atenção

em detrimento de outras mais valorizadas”, inclusive o desenvolvimento cognitivo que será no

caso da música, favorecido pelo desenvolvimento equilibrado de outras áreas: corpora, social,

emocional.

Nosso estudo pretendeu mostrar que a música faz parte do nosso cotidiano e por

conseqüência do cotidiano escolar sendo uma linguagem importante no processo ensino-

aprendizagem, devendo também ser trabalhada como área de conhecimento, isto é, ser abordada

em suas peculiaridades.
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Sendo assim, é preciso rever o papel da música na Educação Infantil, visto que as crianças

entre 2 e 6 anos estão em processo de desenvolvimento do simbolismo e isso ocorre na sua

atuação no mundo por meio de linguagens variadas – fala, escrita, faz-de-conta, música, entre

outras. Portanto, é na infância que a Educação Musical deve ser iniciada.

O presente texto se refere a uma pesquisa de caráter descritivo, numa abordagem

qualitativa sobre música na Educação Infantil. A opção pelo estudo qualitativo deve-se ás

características que esse tipo de investigação apresenta como adequadas à observação e análise da

realidade de forma natural, complexa e atualizada (LUDKE & ANDRÉ, 1986).

Através de uma pesquisa bibliográfica e documental buscamos mostrar a importância da

música como conhecimento a ser trabalhado na Educação Infantil e as principais tendências que

influenciaram e influenciam a prática do professor.

Para realização desse trabalho foram selecionadas bibliografias e documentos – portifólio

de formação e relatos de prática – que serviram de material e fundamentação para nossa análise.

Na busca de informações para a pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico

sobre ensino de Arte e Educação Musical, em livros, revistas e artigos científicos publicados em

sites da internet.

Após a identificação e localização das fontes de pesquisa, foi feita a leitura sistemática do

material, seguindo os seguintes passos: leitura exploratória, seletiva, analítica e interpretativa

(MEDEIROS, 2000).

Após a etapa de delineamento do trabalho, foram feitas as escolhas dos teóricos para a

fundamentação da pesquisa, escolhemos tanto autores clássicos quanto contemporâneos,


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destacando as contribuições de Dalcroze, Villa Lobos, Shafer, Koellreutter, Brito, Barbosa,

Pontes, entre outros, além do RCNEI (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil).

Nesse sentido, o trabalho foi estruturado de forma a entender qual a importância da

música na Educação Infantil, como ela foi abordada dentro das várias concepções de ensino e de

ensino de arte, e como hoje o profissional de Educação Infantil vem atuando nessa área.
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1 – CONCEITUAÇÃO DA MÚSICA

Segundo Bréscia (2003), “a música é uma linguagem universal”, tendo participado da

história da humanidade desde as primeiras civilizações. Conforme dados antropológicos citados

na bibliografia, as primeiras músicas seriam usadas em rituais, como: nascimento, casamento,

morte, recuperação de doenças e fertilidade.

Com o desenvolvimento das sociedades, a música também passou a ser utilizada em

louvor a lideres, como a executada nas procissões reais do antigo Egito e Suméria.

Na Grécia Clássica e o ensino da música era obrigatório, e há indícios de que já havia

orquestras naquela época. Pitágoras de Sammos, filósofo grego da antiguidade, ensinava como

determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo

humano. “Pitágoras demonstrou que seqüência correta de sons, se tocada musicalmente num

instrumento, pode mudar padrões de comportamento e acelerar o processo de cura” (BRÉSCIA,

2003, p. 31).

Atualmente existem diversas definições para música. Mas, de um modo geral, ela é

considerada ciência ou arte, na medida em que as ralações entre os elementos musicais são

relações matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações.

Houaiss apud Bréscia (2003, p. 25) conceitua a música como “[...] combinação harmoniosa e

expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis

conforme a época, a civilização etc.”.


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Já Gainza (1988, p. 22) ressalta que: “A música e o som, enquanto energia, estimulam o

movimento interno e externo no homem; impulsionam-no a ação e promovem nele uma

multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e grau”.

De acordo com Weigel (1988, p. 10) música é composta basicamente por:

• Som: são as vibrações audíveis e regulares de corpos elásticos, que se repetem com a

mesma velocidade, como as do pêndulo do relógio. As vibrações irregulares são

denominadas ruído.

• Ritmo: é o efeito que se origina da duração de diferentes sons, longos ou curtos.

• Melodia: é a sucessão rítmica e bem ordenada dos sons.

• Harmonia: é a combinação simultânea, melódica e harmoniosa dos sons.

De acordo com Wilhems apud Gainza (1988, p. 36): “cada um dos aspectos ou elementos

da música corresponde a um aspecto humano específico”, ao qual mobiliza com exclusividade ou

mais intensamente: “o ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a

afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou na forma musical) contribui

ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem”.

1.1 - Musicalização

Para Bréscia (2003) a musicalização é um processo de construção do conhecimento, que

tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da

sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação, memória,


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concentração, atenção, auto-disciplina, do respeito ao próximo, da socialização e afetividade,

também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação.

As atividades de musicalização permitem que a criança conheça melhor a si mesma,

desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e também permitem a comunicação com o outro.

Weigel (1988) e Barreto (2000) afirmam que atividades podem contribuir de maneira indelével

como reforço no desenvolvimento cognitivo/ lingüístico, psicomotor e sócio-afetivo da criança,

da seguinte forma:

Desenvolvimento cognitivo/ lingüístico: a fonte de conhecimento da criança são as

situações que ela tem oportunidade de experimentar em seu dia a dia.

Dessa forma, quanto maior a riqueza de estímulos que ela receber melhor será seu

desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as experiências rítmico musicais que permitem uma

participação ativa (vendo, ouvindo, tocando) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das

crianças.

Ao trabalhar com os sons ela desenvolve sua acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou

dançar ela está trabalhando a coordenação motora e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela esta

descobrindo suas capacidades e estabelecendo relações com o ambiente em que vive.

Desenvolvimento psicomotor: as atividades musicais oferecem inúmeras oportunidades

para que a criança aprimore sua habilidade motora, aprenda a controlar seus músculos e mova-se

com desenvoltura.

O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isto

porque toda expressão musical ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a
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reação motora e aliviando as tensões. Qualquer movimento adaptado a um ritmo é resultado de

um conjunto completo (e complexo) de atividades coordenadas.

Por isso atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são

experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se desenvolva o senso rítmico, a

coordenação motora, fatores importantes também para o processo de aquisição da leitura e da

escrita.

Desenvolvimento sócio-afetivo: a criança aos poucos vai formando sua identidade,

percebendo-se diferente dos outros e ao mesmo tempo buscando integrar-se com os outros.

Nesse processo a auto-estima e a auto-realização desempenham um papel muito

importante. Através do desenvolvimento da auto-estima ela aprende a se aceitar como é, com

suas capacidades e limitações. As atividades musicais coletivas favorecem o desenvolvimento da

socialização, estimulando a compreensão, a participação e a cooperação.

Dessa forma a criança vai desenvolvendo o conceito de grupo. Além disso, ao expressar-

se musicalmente em atividades que lhe dêem prazer, ela demonstra seus sentimentos, libera suas

emoções, desenvolvendo um sentimento de segurança e auto-realização.

É importante salientar a importância de se desenvolver a escuta sensível e ativa nas

crianças. Mársico (1982) comenta que nos dias atuais as possibilidades de desenvolvimento

auditivo se tornam cada vez mais reduzidas, as principais causas são o predomínio dos estímulos

visuais sobre os auditivos e o excesso de ruídos com que estamos habituados a conviver.

Por isso, é fundamental fazer uso de atividades de musicalização que explorem o

universo sonoro, levando as crianças a ouvir com atenção, analisando, comparando os sons e
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buscando identificar as diferentes fontes sonoras. Isso irá desenvolver sua capacidade auditiva,

exercitar a atenção, concentração e a capacidade de análise e seleção de sons.

As atividades de exploração sonora devem partir do ambiente familiar da criança,

passando depois para ambientes diferentes. Por exemplo, o educador pode pedir para que as

crianças fiquem em silêncio e observem os sons ao seu redor, depois elas podem descrever,

desenhar ou imitar o que ouviram. Também podem fazer um passeio pelo pátio da escola para

descobrir novos sons, ou aproveitar um passeio fora da escola e descobrir sons característicos de

cada lugar.

O educador também pode gravar sons e pedir para que as crianças identifiquem cada um,

ou produzir sons sem que elas vejam os objetos utilizados e pedir para que elas os identifiquem,

ou descubram de que material é feito o objeto (metal, plástico, vidro, madeira) ou como o som foi

produzido (agitado, esfregado, rasgado, jogado no chão).

Assim como são de grande importância as atividades onde se busca localizar a fonte

sonora e estabelecer a distância em que o som foi produzido (perto ou longe).

Para isso o professor pode pedir para que as crianças fiquem de olhos fechados e

indiquem de onde veio o som produzido por ele, ou ainda, o professor pode caminhar entre os

alunos utilizando um instrumento ou outro objeto sonoro e as crianças vão acompanhando o

movimento do som com as mãos.

Posteriormente o educador pode trabalhar os atributos do som:

• Altura: agudo, médio, grave.


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• Intensidade: forte, fraco.

• Duração: longo, curto.

• Timbre: é a característica de cada som, o que nos faz diferenciar as vozes e os

instrumentos.

Os atributos do som podem ser trabalhados por meio de comparação, diferenciando um

som agudo de um grave, forte de um fraco, ou longo de um curto.

Mas é mais interessante o uso de jogos musicais, como por exemplo, o Jogo do Grave e

Agudo (baseado no Morto Vivo, só que usa um som agudo para ficar em pé e um grave para

abaixar, o som pode ser produzido por um instrumento, por apitos com alturas diferentes ou pela

voz).

O jogo de Esconde-Esconde onde as crianças escolhem um objeto a ser escondido, e uma

delas se retira da classe enquanto as outras escondem o objeto. A criança que saiu retorna para

procurar o objeto e as outras devem ajudá-la a encontrar produzindo sons com maior intensidade

quando estiver perto, e menor intensidade quando estiver longe.

O som poderá ser produzido com a boca, palmas, ou da forma que acharem melhor. Essa

brincadeira leva a criança a controlar a intensidade sonora e desenvolve a noção de espaço.

Para trabalhar a noção de duração o educador pode pedir para que as crianças desenhem o

som. Não é desenhar a fonte sonora, mas sim descrever a impressão que o som causou, se foi

demorado ou breve, ascendente ou descendente.


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Por fim, para se trabalhar o timbre o educador pode pedir para que uma criança fique de

costas para a turma enquanto estes cantam uma canção, ao sinal do professor todos param de

cantar e apenas uma criança continua, a que estava de costas deve adivinhar quem continuou.

Estas são apenas sugestões, existem diversos outros jogos que podem ser realizados.

Através dessas atividades o educador pode perceber quais os pontos fortes e fracos das

crianças, principalmente quanto à capacidade de memória auditiva, observação, discriminação e

reconhecimento dos sons, podendo assim vir a trabalhar melhor o que está defasado. Bréscia

(2003) ressalta que os jogos musicais podem ser de três tipos, correspondentes às fases do

desenvolvimento infantil:

• Sensório-Motor (até os dois anos): São atividades que relacionam o som e o

gesto. A criança pode fazer gestos para produzir sons e expressar-se corporalmente

para representar o que ouve ou canta. Favorecem o desenvolvimento da

motricidade.

• Simbólico (a partir dos dois anos): Aqui se busca representar o significado da

música, o sentimento, a expressão. O som tem função de ilustração, de sonoplastia.

Contribuem para o desenvolvimento da linguagem.

• Analítico ou de Regras (a partir dos quatro anos) : São jogos que envolvem a

estrutura da música, onde são necessárias a socialização e organização. Ela precisa

escutar a si mesma e aos outros, esperando sua vez de cantar ou tocar. Ajudam no

desenvolvimento do sentido de organização e disciplina.


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A duração das atividades deve variar conforme a idade da criança, dependendo de sua

atenção e interesse. Além disso, vale lembrar que é preciso respeitar a forma de expressão de

cada um, mesmo que venha a parecer repetitivo ou sem sentido. É importante que a criança sinta-

se livre para se expressar e criar.


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2 - O PAPEL DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO

Snyders (1992) comenta que a função mais evidente da escola é preparar os jovens para o

futuro, para a vida adulta e suas responsabilidades. Mas ela pode parecer aos alunos como um

remédio amargo que eles precisam engolir para assegurar, num futuro bastante indeterminado,

uma felicidade bastante incerta.

A música pode contribuir para tornar esse ambiente mais alegre e favorável à

aprendizagem, afinal “propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial

da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e

recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente” (SNYDERS, 1992,

p. 14).

Além de contribuir para deixar o ambiente escolar mais alegre, podendo ser usada para

proporcionar uma atmosfera mais receptiva à chegada dos alunos, oferecendo um efeito calmante

após períodos de atividade física e reduzindo a tensão em momentos de avaliação, a música

também pode ser usada como um recurso no aprendizado de diversas disciplinas.

O educador pode selecionar músicas que falem do conteúdo a ser trabalhado em sua área,

isso vai tornar a aula dinâmica, atrativa, e vai ajudar a recordar as informações. Mas, a música

também deve ser estudada como matéria em si, como linguagem artística, forma de expressão e

um bem cultural.
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A escola deve ampliar o conhecimento musical do aluno, oportunizando a convivência

com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do

que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico. Conforme Mársico (1982,

p.148) “[...] uma das tarefas primordiais da escola é assegurar a igualdade de chances, para que

toda criança possa ter acesso à música e possa educar-se musicalmente, qualquer que seja o

ambiente sócio-cultural de que provenha”.

As atividades musicais realizadas na escola não visam a formação de músicos, e sim,

através da vivência e compreensão da linguagem musical, propiciar a abertura de canais

sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a

formação integral do ser.

A esse respeito Katsch e Merle-Fishman apud Bréscia (2003, p.60) afirmam que “[...] a

música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na

aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades lingüísticas nas crianças”.

Além disso, como já foi citado anteriormente, o trabalho com musicalização infantil na

escola é um poderoso instrumento que desenvolve, além da sensibilidade à música, fatores como:

concentração, memória, coordenação motora, socialização, acuidade auditiva e disciplina.

Conforme Barreto (2000, p.45):

Ligar a música e o movimento, utilizando a dança ou a expressão corporal, pode

contribuir para que algumas crianças, em situação difícil na escola, possam se adaptar (inibição

psicomotora, debilidade psicomotora, instabilidade psicomotora, etc.). Por isso é tão importante a

escola se tornar um ambiente alegre, favorável ao desenvolvimento.


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Gainza (1988) afirma que as atividades musicais na escola podem ter objetivos

profiláticos, nos seguintes aspectos:

Físico: oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões devidas à

instabilidade emocional e fadiga;

Psíquico: promovendo processos de expressão, comunicação e descarga emocional

através do estímulo musical e sonoro;

Mental: proporcionando situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o

sentido da ordem, harmonia, organização e compreensão.

Para Bréscia (2003, p. 81) “[...] o aprendizado de música, além de favorecer o

desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar

dos alunos e contribui para integrar socialmente o indivíduo”.

2. 1 - O Ensino de Arte e a Educação Musical

O ensino de Arte vem se transformando e ganhando outras conotações, dentro desse

aspecto, o papel da música vem se tornando foco de muitos debates sobre as práticas e teorias

educativas.

Dessa forma, entender a história da Arte e de seu ensino é importante para que

possamos entender a contextualização da educação musical em cada época e sua influência das

práticas e concepções até os dias atuais.


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A partir das décadas do século XX até os dias atuais ocorreram transformações

significativas grandes transformações nos métodos pedagógicos musicais, essas transformações

estão relacionadas também às transformações nas concepções de educação em geral e de ensino

da Arte. Concordamos com FUSARI & FERRAZ (1993, p.18) quando afirmam que

A formulação de uma proposta de trabalhar a arte na escola exige que se esclareça quais
posicionamentos sobre arte e educação escolar estão sendo assumidos. Por sua vez, tais
posicionamentos implicam, também, na seleção de linhas teórico – metodológicas.
(FUSARI & FERRAZ, 1993, p.18)

No final da do século XIX, o ensino de Artes era centrado na fixação e repetições de

exercícios pré-definidos em uma relação de ensino autoritária, centrada na figura do professor e

era voltada para a transmissão dos conteúdos reprodutivistas.

Isso ocorria porque, a concepção estética vigente, priorizava a reprodução daquilo

que era considerado “a obra de arte”, padrão entre as produções artísticas e digna de ser imitada,

reproduzida pelos aprendentes de arte.

No ensino de música dava-se ênfase a prática de instrumento, o ensino de teoria

musical e história da música, sem contextualização para os alunos, ou seja, geralmente o

conteúdo se restringia aos clássicos não havendo preocupação do professor em a ambiência

musical dos alunos.

A aula de música era meramente reprodução de obras, não sendo consideradas as

experiências e criatividade dos alunos, assim sendo, o aluno era obrigado a dominar certas

práticas (dominar algum instrumento clássico, a teoria musical) e habilidades (execução) sobre

música.
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Em oposição ao pensamento tradicional de ensino de Artes, surge o movimento da

Escola Nova. Esse movimento tem suas origem no final do século XIX na Europa e Estados

Unidos, mas só chega ao Brasil por volta de 1930, mas somente entre as décadas de 50 e 60 se

tornará uma pedagogia amplamente difundida entre educadores brasileiros.

Norteados por ideais democráticos, os educadores escolanovistas acreditavam que as

relações entre as pessoas na sociedade poderiam ser diferentes se a educação escolar conseguisse

adaptar os estudantes ao seu ambiente social.

Isso ocorreria se os educandos vivenciassem experiências cognitivas em que suas

motivações e interesses individuais fossem considerados. Portanto considerava-se importância à

expressão do indivíduo (espontaneidade) nas realizações de suas atividades e atentando-se para

os processos de aprendizagem.

Na educação musical temos como representante da vertente escolanovista o músico e

educador suíço Émile Jaques Dalcroze (1865-1950). Este educador foi responsável pela difusão

da educação rítmica. Para Dalcroze o rítimo é o componente musical que mais atinge a

sensibilidade da criança, pois ele é objeto de representação corporal.

Dessa forma, este método parte do princípio de que todas as propriedades musicais

(altura, intensidade, timbre, rítimo, etc.) estão intrinsecamente relacionadas aos movimentos

corporais, por isso, o trabalho musical parte da rítmica corporal.

Contrapondo-se ao ensino de música voltado a repetição mecânica e artificial e muitas

vezes sem usar a sensibilidade dos alunos, Dalcroze, a partir de observações das crianças em

brincadeiras criou a Eurritmia.


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A eurritmia é um método que se utiliza de exercícios rítmicos que auxiliavam os trabalhos

de reconhecimento das estruturas musicais, propondo a percepção rítmica através da

sensibilidade.

Contudo, por enfatizar a rítmica o método de Dalcroze não favorecia a formação musical

global do aluno no sentido de vivenciar outras propriedades da música de forma contextualizada.

Dessa forma, este método parte do princípio de que todas as propriedades musicais

(altura, intensidade, timbre, ritmo, etc.) estão intrinsecamente relacionadas aos movimentos

corporais, por isso, o trabalho musical parte da rítmica corporal.

Entre décadas de 60 e 70 (BARBOSA, 1991), nos EUA e Inglaterra, arte-educadores

preocupados em devolver a Arte a escola questionam as práticas pedagógicas espontaneístas e

articulam proposta de ensino da arte que considerem tanto a emoção quanto à cognição.

Os objetos da Arte podem e devem ser o conteúdo de seu ensino isto significa dizer que

essa área deve ser abordada em situações de ensino e aprendizagem que tenham as peculiaridades

de suas linguagens como conteúdo principal e não somente as questões psicológicas.

Essas novas concepções sobre a Arte e seu ensino ganham maior repercussão no Brasil

nas últimas décadas do século XX, especialmente com os trabalhos de Ana Mae Barbosa.

Na educação musical alguns educadores foram influenciados pelos ideais

contemporâneos de ensino da Arte, considerando as influências da ambiência cultural na

construção de situações de acesso a produção musical.

Salientamos a produção de Shafer, Koollreuter e Teca Brito pela inter-relação entre

suas concepções de educação musical e pela difusão de seus trabalhos no Brasil, tendo suas

idéias presentes nos documentos curriculares nacionais.


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Murray Shafer, compositor e músico canadense, desenvolveu seus estudos e pesquisas a

respeito do som ambiental, observando suas características e modificações desses sons no

decorrer dos tempos.

Propondo um estudo na “escuta pensante”, Shafer nos diz que é necessário aprender a

ouvir a paisagem sonora como uma composição musical.

Dentro desta perspectiva de estudar os sons, pois estamos expostos a todos os tipos de

sons no nosso ambiente, surgiu o termo “soundscap1” criado por Shafer que significa “paisagem

sonora2”, essa expressão nos explica que é necessário ampliar o ambiente sonoro para que

possamos desenvolver nossa percepção auditiva, fazendo seleções musicais de qualidade.

Portanto, aguçar o sentido da audição para uma nova postura do ouvir.

Trazendo para realidade da educação infantil vemos que já podemos trabalhar e

desenvolver com as crianças o conceito de paisagem sonora, fazendo assim o que Sheffer chama

de “limpezas do ouvido”, onde o trabalho seria, portanto, de percepção dos sons que existem em

nosso ambiente.

Assim sendo, a importância de se valorizar a musicalização infantil se justifica por

oferece as crianças, novas ferramentas para lidar com o mundo. É também necessário valorizar o

que as crianças trazem de casa, suas músicas e oportunizar o fazer, o construir e o apreciar.

Koellreutter, compositor e educador de origem alemã, em 1937 naturalizou-se brasileiro e

em 1938 foi responsável por um importante movimento Música Viva, para Koellreutter “música

é, em primeiro lugar, uma contribuição para o alargamento da consciência e para a modificação

do homem e da sociedade” (BRITO, 2003. p. 26)


1
O termo soundscape foi traduzido para o português com o significado de paisagem sonora no ano de 1991 quando
foi feita a versão do livro “O ouvido pensante” no Brasil.
2
Shafer define a paisagem sonora como um conjunto de sons ouvidos num determinado lugar.
25

Com uma visão contemporânea Koellreutter visa a construção de novos paradigmas para a

formação e exercício da cidadania, uma formação integral do ser humano, dentro de um trabalho

interdisciplinar, integrando a música as outras áreas de conhecimento, destacando em seu

trabalho a criação musical como elemento primordial na educação.

Para ele a valorização da vida humana é primordial no ensino da arte, dessa forma a

educação viva (contextualizada) deve está em função de uma sociedade a qual a educação está

voltada.

Dentro desta visão podemos dizer que os pedagogos musicais contemporâneos como

Koellreutter, Shaffer e outros buscam em suas pesquisas um ensino de música voltado para a

formação integral do homem.

A proposta de BRITO para se trabalhar a música na educação infantil vem se

desenvolvendo há 20 anos na sua carreira de educadora musical, possuindo várias pesquisas

sobre o assunto, tendo, portanto, colaborado na elaboração dos Referenciais Curriculares de

Iniciação Musical do MEC.

Em todo seu trabalho BRITO, traz uma proposta didática da musicalização infantil, onde a

música como atividade lúdica, se recorta como um jogo, cuja dinâmica é caracterizada por uma

escuta que se enriquece da aprendizagem, motivando, criando necessidades e despertando

interesses.
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3 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DO PROFESSOR


NA EDUCAÇÃO INFANTIL
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Durante muito tempo na história da educação do homem, confundiu-se “ensinar” com

“transmitir” e, dentro desse contexto, o aluno era visto como um agente passivo da aprendizagem

e o professor um transmissor do conhecimento, não atendendo as necessidades dos alunos.

Sabe-se, hoje que não ocorre ensino sem que ocorra a aprendizagem, e esta não acontece

senão pela transformação, pela mediação do professor, do processo de busca do conhecimento,

que deve partir dos interesses das crianças para ampliar o seu repertório cultural.

Nesse sentido, o professor atua como um mediador e articulador do acesso das crianças às

produções culturais da arte em situações que levem as crianças a desenvolverem o seu

conhecimento artístico e estético (PONTES, 2001). Dessa forma, vemos a necessidade de um

repensar nas práticas educativas e também a necessidade de valorização das influências culturais

da sociedade no novo ensino da Arte. No entanto, esse posicionamento não exclui outras

dimensões formativas possibilitadas pelas vivências de artes. Concordamos com Pontes (2001, p.

29) quando afirma que

Embora se enfatize a necessidade de ações cognitivas na construção do pensamento em


Arte, em contraponto ao espotaneísmo oriundo do entendimento de Arte somente sobre
o viés da emoção, defender a Arte como um conhecimento não exclui as suas outras
dimensões. (PONTES, 2001, p. 29)

Destacando o ensino contemporâneo de música vemos que as novas tendências para

este ensino têm sido marcadas pela valorização das experiências cotidianas dos alunos, dessa

forma, o professor deve valorizar as vivências sonoro-musicais das crianças.

O professor ao trabalhar com a música na educação infantil deve buscar vê-la como

linguagem e conhecimento fundamental para a formação integral da criança, pois como afirma

Pontes (2001, p.172)


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A construção do simbolismo é fundamental para o desenvolvimento infantil nesse


período, o que nos leva a inferir que o trabalho com linguagens assume um papel
importante na organização das ações dos professores. As linguagens, entre elas as
artísticas, são instrumentos de expressão e comunicação usados pelas crianças para
compreender o mundo a sua volta, estabelecendo relações e resolvendo conflitos. Mas,
como não há linguagem sem conteúdo, esta pode também ser observada como um
objeto de conhecimento que possui um repertório construído culturalmente e ao qual a
criança pode ter acesso. (PONTES, 2001, p. 172)

Entretanto, sabemos que o profissional pedagogo que trabalha na educação infantil

não esta sendo habilitado nas instituições de ensino superior a formação musical, apesar de

trabalharem com música diariamente na rotina da educação infantil. Essa falha na formação

inicial é refletida na atuação docente, pois a concepção de Arte que esses profissionais têm, vem

dos ensinos anteriores a sua formação de nível superior.

Dessa forma, é importante que ele busque caminhos referentes como trabalhar a música

(respeitando as peculiaridade do desenvolvimento das crianças), construindo um pensamento de

que a música é importante e deve fazer parte da educação infantil.

Para Pontes (2001, p. 173), “a organização de propostas pelos professores, seja qual for a

especificidade da linguagem artística, observa a relação entre as características do pensamento

infantil, a estrutura da área de conteúdo e a dinâmica pedagógica”. Nesse sentido é necessário que

o professor conheça o conteúdo especifico das áreas e saiba articular intervenções que

considerem as peculiaridades do desenvolvimento infantil e o contexto em que as situações de

ensino e aprendizagem são propostas.

Com este novo olhar, percebemos que existe a necessidade de uma formação, inicial e

continuada, em ensino de Arte para que assim, os profissionais da educação infantil que não

tiveram acesso à Educação Musical, construam saberes e fazeres docentes considerando a Arte
29

musical como linguagem e como conhecimento. Concordamos com Bellochio (2004,p 125)

quando afirma que

[...] ser pedagogo, com identidade na docência em níveis de escolarização, implica um


identidade complexa de exercícios profissional, que não está acabada, isolada e, por isso,
requer constante reflexão e auto-reflexão crítica, individual e coletiva

Não desconhecendo a importância das práticas musicais, isto é do fazer musical, o

professor deve ir em busca de aprofundar os seus conhecimentos, pois é preciso como afirma

Fusari & Ferraz, (1993), saber arte e saber ser professor de Arte.

4 - REPERTÓRIO MUSICAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL


30

A seleção de escolhas de músicas para a construção e ampliação do repertório musical

infantil tende-se a estender para escolhas de cantigas de rodas, não sendo, portanto uma

ampliação para a escuta das crianças de outros gêneros musicais. Dessa forma, desprezam-se os

clássicos, pois se pensa que este não pode atingir o gosto da criança, ou porque o professor não

está acostumado a ouvir este tipo de musica e não sabe como trabalhar com as crianças da

Educação Infantil.

A música é uma linguagem, uma linguagem que está por volta de outras linguagens e

principalmente a linguagem corporal, portanto, expressão musical e expressão corporal

caminham juntas no processo de construção e aquisição de um novo conhecimento. Portanto, aos

se ter um grupo de crianças e o professor ao colocar uma música e pedi-las para cantarem e estas

não cantarem, só então balançar o pé, o corpo, ou a cabeça, pode-se ter uma certeza: as crianças

estão cantando, não oralmente, mas, corporalmente. E isto é música, música que pulsa ao ser

internalizada no seu rítimo e melodia e pulsação através da expressão corporal.

A preferência das crianças pelo estilo musical está principalmente influenciada pelos

meios de comunicação de massa. Essas músicas muitas vezes possuem uma linha melódica e

rítimos muito fáceis de ser acompanhada pelas crianças.

Entretanto, o que se destaca mais nesses tipos de músicas sãos os rítimos, pois estes se

encontram mais próximo de sua capacidade de percepção. Um exemplo claro é de quando

colocamos um tipo desses de música, a criança começa logo a dançar, não dança pela melodia,

mas sim pela batida, pelo rítimo que sente que pulsa no seu corpo.

Desta forma, vemos que a criança é um ser que está em desenvolvimento, e se ela só é

acostumada a ouvir músicas populares (de massa), onde se prevalece o rítimo, como o professor

pode ampliar o conhecimento musical e as propriedades musicais na criança?


31

Reconhecer a música como parte integrante da formação do homem é reconhecer que

a ela é essencial. A música como estímulo do mundo exterior de nossa paisagem sonora,

conhecimento na qual a escola é responsável em oferecer às crianças.

Com isso, ensinar as crianças a ouvir música popular, folclóricas, clássica, erudita, é

estimulá-las em sua musicalidade, desenvolvendo seus movimentos psicomotores como o rítimo,

a oralidade, além do conhecimento melódico (capacidade sensorial).

4.1 - Como ampliar o repertório na Educação Infantil

Ampliar o repertório musical na Educação Infantil não é uma tarefa fácil, entretanto

não é impossível. A escola tem este papel, ampliar o conhecimento da criança e por isso procurar

meios de inserir um novo repertório musical. Apresentar estratégias de ensino é uma boa forma

para prender a atenção das crianças pois sabemos que as crianças na Educação infantil,

principalmente nas faixas etárias iniciais não tem muita concentração para parar e ouvir música.

Desta forma, através de estratégias contextualizadas o trabalho com música pode ser
tornar mais prazerosos para as crianças. Portanto, devemos apresentar as músicas
através de jogos, histórias, brincadeiras, dramatizações, danças, motivando a
participação das crianças. (BRITO, 2003, p. 14)

5 - A INTELIGÊNCIA MUSICAL – CONTRIBUIÇÕES DE HOWARD


GARDNER
32

A teoria das inteligências múltiplas sugere que existe um conjunto de habilidades,

chamadas de inteligências, e que cada indivíduo as possui em grau e em combinações diferentes.

Segundo Gardner (1995, p. 21): “Uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas

ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural”.

São, a princípio, sete: inteligência musical, corporal-cinestésica, lógico-matemática,

lingüística, espacial, interpessoal e intrapessoal. A inteligência musical é caracterizada pela

habilidade para reconhecer sons e ritmos, gosto em cantar ou tocar um instrumento musical.

Gardner (1995) destaca ainda que as inteligências são parte da herança genética humana,

todas se manifestam em algum grau em todas as crianças, independente da educação ou apoio

cultural.

Assim, todo ser humano possui certas capacidades essenciais em cada uma das

inteligências, mas, mesmo que um indivíduo possua grande potencial biológico para determinada

habilidade, ele precisa de oportunidades para explorar e desenvolvê-la. “Em resumo, a cultura

circundante desempenha um papel predominante na determinação do grau em que o potencial

intelectual de um indivíduo é realizado” (GARDNER, 1995, p, 47).

Sendo assim, a escola deve respeitar as habilidades de cada um, e também propiciar o

contato com atividades que trabalhem as outras inteligências, mesmo porque, segundo o autor,

todas as atividades que realizamos utilizam mais do que uma inteligência.

Ao considerar as diferentes habilidades, a escola está dando oportunidade para que o

aluno se destaque em pelo menos uma delas, ao contrário do que acontece quando se privilegiam

apenas as capacidades lógico-matemática e lingüística. Além disso, na avaliação é preciso

considerar a forma de expressão em que a criança melhor se adapte.


33

Campbell; Campbell; Dickinson (2000, p.147) ao comentarem sobre a inteligência

musical, resumem os motivos pelos quais ela deve ser valorizada na escola:

• Conhecer música é importante.

• A música transmite nossa herança cultural. É tão importante conhecer Beethoven e Louis

Armstrong quanto conhecer Newton e Einstein.

• A música é uma aptidão inerente a todas as pessoas e merece ser desenvolvida.

• A música é criativa e auto-expressiva, permitindo a expressão de nossos pensamentos e

sentimentos mais nobres.

• A música ensina os alunos sobre seus relacionamentos com os outros, tanto em sua

própria cultura quanto em culturas estrangeiras.

• A música oferece aos alunos rotas de sucesso que eles podem não encontrar em parte

alguma do currículo.

• A música melhora a aprendizagem de todas as matérias.

• A música ajuda os alunos a aprenderem que nem tudo na vida é quantificável.

• A música exalta o espírito humano.

5.1 - A Música como Meio de Integração do ser


34

Há muito vem se estudando a relação entre música e saúde, conforme Bréscia (2003, p.

41): “A investigação científica dos aspectos e processos psicológicos ligados à música é tão

antiga quanto as origens da psicologia como ciência”. A autora cita ainda os benefícios do uso da

música em diversos ambientes como hospitais, empresas e escolas.

Em alguns hospitais a música tem sido utilizada antes, durante e após cirurgias, os

resultados vão desde pressão sangüínea e pulso mais baixos, menos ansiedade, sinais vitais e

estado emocional mais estáveis, até menor necessidade de anestésico.

A Faculdade de Medicina do Centro de Ciências Médicas e Biológicas da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo realizou uma pesquisa que avalia os efeitos da música em

pacientes com câncer. A pesquisa revela que a musicoterapia pode contribuir para a diminuição

dos sintomas de pacientes que fazem tratamento quimioterápico.

Em empresas o meio mais procurado para se fazer música é o canto coral, pois esta é uma

atividade que permite a integração e exige cooperação entre seus membros, além de proporcionar

relaxamento e descontração. Na opinião de Faustini apud Bréscia (2003, p.61):

A necessidade social do homem de ser aceito por uma organização e de pertencer a um

determinado grupo para o qual contribua com seu tempo e talento, é amplamente satisfeita pela

participação num grupo coral.

Além disso, este grupo lhe dará grande satisfação e prazer em suas realizações artísticas,

beneficentes, religiosas, e desenvolverá nele orgulho sadio, por estar sua pessoa relacionada a um

excelente grupo.
35

Cantar é uma atividade que exige controle e uso total da respiração, proporcionando

relaxamento e energização. Fregtman apud Gregori (1997 p. 89) comenta que: “O canto

desenvolve a respiração, aumenta a proporção de oxigênio que rega o cérebro e, portanto,

modifica a consciência do emissor”.

A prática do relaxamento traz muitos benefícios, contribuindo para a saúde física e

mental. De acordo com Barreto e Silva (2004, p. 64): “O relaxamento propicia o controle da

mente e o uso da imaginação, dá descanso, ensina a eliminar as tensões e leva à expansão da

nossa mente”.

Assim como as atividades de musicalização a prática do canto também traz benefícios

para a aprendizagem, por isso deveria ser mais explorada na escola. Bréscia (2003) afirma que

cantar pode ser um excelente companheiro de aprendizagem, contribui com a socialização, na

aprendizagem de conceitos e descoberta do mundo.

Tanto no ensino das matérias quanto nos recreios cantar pode ser um veículo de

compreensão, memorização ou expressão das emoções. Além disso, o canto também pode ser

utilizado como instrumento para pessoas aprenderem a lidar com a agressividade.

O relaxamento propiciado pela atividade de cantar também contribui com a

aprendizagem. Barreto (2000, p. 109) observa que: “O relaxamento depende da concentração e

por isso só já possui um grande alcance na educação de crianças dispersivas, na reeducação de

crianças ditas hiperativas e na terapia de pessoas ansiosas”.


36

Comenta ainda que crianças com problemas de adaptação geralmente apresentam

respiração curta e pela boca, o que dificulta a atenção concentrada, já que esta depende do

controle respiratório.

As atividades relacionadas à música também servem de estímulo para crianças com

dificuldades de aprendizagem e contribuem para a inclusão de crianças portadoras de

necessidades especiais.

As atividades de musicalização, por exemplo, servem como estímulo a realização e o

controle de movimentos específicos, contribuem na organização do pensamento, e as atividades

em grupo favorecem a cooperação e a comunicação.

Além disso, a criança fica envolvida numa atividade cujo objetivo é ela mesma, onde o

importante é o fazer, participar, não existe cobrança de rendimento, sua forma de expressão é

respeitada, sua ação é valorizada, e através do sentimento de realização ela desenvolve a auto-

estima. Sadie apud Bréscia afirma que:

Crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à música, quando tudo o


mais falhou. A música é um veículo expressivo para o alívio da tensão emocional,
superando dificuldades de fala e de linguagem. A terapia musical foi usada para
melhorar a coordenação motora nos casos de paralisia cerebral e distrofia muscular.
Também é usada para ensinar controle de respiração e da dicção nos casos em que
existe distúrbio da fala. (BRÉSCIA, 2003, p.50)

Já que a música comprovadamente pode trazer tantos benefícios para a saúde física e

mental porque a escola não a utiliza mais? Incluí-la no cotidiano escolar certamente trará

benefícios tanto pra professores quanto para alunos.

Os educadores encontram nela mais um recurso, e os alunos se sentirão motivados, se

desenvolvendo de forma lúdica e prazerosa.


37

Como já foi comentado, a música ajuda a equilibrar as energias, desenvolve a

criatividade, a memória, a concentração, auto-disciplina, socialização, além de contribuir para a

higiene mental, reduzindo a ansiedade e promovendo vínculos (BARRETO e SILVA, 2004).

Gregori (1997) explica que harmonia, em música, é uma combinação de sons simultâneos

que acompanha a melodia e é construída de acordo com o gosto do compositor.

No cotidiano, inclusive na escola, também se deve buscar harmonizar a síntese dialética

corpo/mente, pois esta também deve propiciar uma maior tomada de conhecimento da

consciência corporal, promovendo o equilíbrio do ser e contribuindo para sua integração com o

meio onde vive, e a música pode contribuir para isto segundo os avanços das neurociências.

6 - CONCLUSÃO
38

Evidenciou-se através desta monografia que as diversas áreas do conhecimento podem

ser estimuladas com a prática da musicalização, sobretudo na Educação Infantil.

De acordo com esta perspectiva, a música é concebida como um universo que conjuga

expressão de sentimentos, idéias, valores culturais e facilita a comunicação do indivíduo consigo

mesmo e com o meio em que vive.

Ao atender diferentes aspectos do desenvolvimento humano: físico, mental, social,

emocional e espiritual, a música pode ser considerada um agente facilitador do processo

educacional.

Nesse sentido faz-se necessária a sensibilização dos educadores para despertar a

conscientização quanto às possibilidades da música para favorecer o bem-estar e o crescimento

das potencialidades dos alunos, pois ela fala diretamente ao corpo, à mente e às emoções.

A presença da música na Educação Infantil auxilia a percepção, estimula a memória e a

inteligência, relacionando-se ainda com habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas ao

desenvolver procedimentos que ajudam o educando a se reconhecer e a se orientar melhor no

mundo.

Ao desenvolver coma as crianças estratégias de ensino explorando as paisagens

sonoras estaremos ampliando o repertório das delas, pois elas estarão adquirindo novos

conhecimentos musicais e desenvolvendo seus potenciais artísticos.

Precisamos em primeiro lugar, ao criar as estratégias, selecionar com objetividade o

repertório que iremos apresentar as crianças. Com isso a escolha dos diferentes gêneros musicais
39

é muito significativo, pois estaremos desenvolvendo em nossas crianças a sensibilidade, a

criatividade e o potencial artístico.

Além disso, a música também vem sendo utilizada como fator de bem estar no trabalho e

em diversas atividades terapêuticas, como elemento auxiliar na manutenção e recuperação da

saúde.

As atividades de musicalização também favorecem a inclusão de crianças portadoras de

necessidades especiais. Pelo seu caráter lúdico e de livre expressão, não apresentam pressões nem

cobranças de resultados, são uma forma de aliviar e relaxar a criança, auxiliando na desinibição,

contribuindo para o envolvimento social, despertando noções de respeito e consideração pelo

outro, e abrindo espaço para outras aprendizagens.

7 - BIBLIOGRAFIA
40

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