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TÍTULO VIII
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA
COMENTÁRIOS
1 GENERALIDADES.
251, § 3º; art. 252, § único; art. 254; art. 256, § único; art. 259, § único; art. 260, § 2º; art. 261, § 3º;
art. 262, § 2º; art. 267, § 2º; art. 270, § 2º; art. 271, § único; art. 272, § 2º; art. 273, § 2º; art. 278, §
único; art. 280, § único todos do Código Penal).
Quando o crime de perigo comum for doloso e dele resultar lesão corporal de natu-
reza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resultar morte é aplicada em
dobro. No crime de perigo comum culposo e que dele resulta lesão corporal, a pena aumenta-se
da metade; se do fato resulta morte, aplica-se a pena cominada ao crime de homicídio culposo,
aumentada de um terço (CP, art. 258).
CRIME DE PERIGO DOLOSO SE RESULTA EM: * LESÃO CORPORAL
GRAVE PENA AUMENTADA DE METADE / * MORTE PENA DOBRADA
CRIME DE PERIGO CULPOSO SE RESULTA EM: * LESÃO CORPORAL
PENA AUMENTADA DE METADE / * MORTE APLICA-SE PENA DO HOMICÍDIO
CULPOSO + 1/3
Neste Título também encontramos crimes de perigo abstrato e crimes de perigo con-
creto. Crimes de perigo abstrato são aqueles em que não é necessária a comprovação do efetivo
risco ao bem jurídico protegido, sendo suficiente a realização da conduta. Podemos citar como
exemplo destes delitos o tipo penal do art. 253 do CP (Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse
ou Transporte de Explosivos ou Gás Tóxico ou Asfixiante). Crimes de perigo concreto são aque-
les que exigem a demonstração do efetivo risco ao objeto jurídico protegido no caso em concreto
(ex.: o art. 250 do CP – Incêndio).
Incêndio
Art. 250. Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º. As penas aumentam-se de um terço:
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em pro-
veito próprio ou alheio;
II - se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada à habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência so-
cial ou de cultura;
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COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido é a incolumidade pública que consiste nos vários bens
jurídicos protegidos (vida, integridade física, patrimônio, etc.) de um número indeterminado de
pessoas.
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua
ocorrência qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O caput prevê a conduta básica do delito que é a causação do incêndio que expõe a
risco a vida, integridade física e patrimônio de um número indeterminado de pessoas. O § 1º es-
tabelece causas de aumento de pena subjetivas (inciso I) e objetivas (inciso II). Por fim, o § 2º
define o incêndio realizado de forma culposa (negligência, imprudência ou imperícia)
3 SUJEITOS DO DELITO.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, tratando-se de delito comum. Pode
ser autor inclusive o proprietário que incendeia objeto material que lhe pertence, expondo a peri-
go um número indeterminado de pessoas.
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1 Magalhães Noronha (xxxx: p.322) conceitua incêndio da seguinte forma: “Incêndio não é qualquer fogo, mas tão só o que
acarreta risco para pessoas ou coisas. É mister, pois, que o objeto incendiado seja tal que exponha a perigo o bem tutelado”.
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duta do agente a princípio não tem relevância, salvo se for um daqueles locais descritos no inciso
II, § 1º deste artigo, que apresenta uma causa de aumento de pena em face da natureza do local
incendiado.
NÃO IMPORTA A NATUREZA DA COISA INCENDIADA – PODE CONS-
TITUIR UMA CAUSA DE AUMENTO DE PENA
Por ser um delito que deixa vestígios, a materialidade será comprovada por meio de
exame de corpo de delito, conforme estabelece os art. 158 e 173 ambos do Código de Processo
Penal.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o
perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais
circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
O delito se consuma com o perigo comum causado pelo incêndio, não sendo rele-
vante a extensão ou a duração do fogo. Trata-se de crime de perigo concreto, no qual se deverá
comprovar em cada caso a efetiva situação de perigo. Admite-se tentativa, exceto na modalidade
culposa.
CONS. NO MOMENTO QUE OCORRE O PERIGO COMUM (DECOR-
RENTE DA COMBUSTÃO), DEVENDO SER VERIFICADO CASO A CASO / TENTA-
TIVA É ADMISSÍVEL NA FORMA DOLOSA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
9 MODALIDADES DERIVADAS.
A pena do incêndio é aumentada de 1/3 (um terço) quando o agente comete o in-
cêndio com o intuito de obter vantagem de natureza financeira em proveito próprio ou de ou-
trem. É irrelevante que o agente obtenha a vantagem. Desta forma, concordamos com Guilher-
me S. Nucci (2003, p.729) que entende que a promessa de recompensa conhecida pelo agente é
suficiente para tipificar a causa de aumento de pena. Damásio de Jesus (1999, p.260) posiciona-se
de forma diferente, pois entende que a simples promessa, não tem o condão aumentar a pena,
respondendo o sujeito ativo pela conduta descrita no caput do artigo.
Agindo o agente com o fim de obter o valor de seguro, responderá por um só delito:
incêndio qualificado, que absorve o estelionato. Neste sentido Damásio de Jesus (1999, p.260) e
Mirabete (2004, p.96-97). Entendemos de forma diversa, pois consideramos ocorrer concurso
formal ou material (dependendo da forma em que a conduta foi realizada) entre os crimes de
incêndio com aumento de pena e estelionato.
Edifício público é aquele onde está sediado qualquer órgão público pertencente à
administração pública direta ou indireta, bem como os prédios ocupados pelo poder legislativo e
judiciário. Edifício destinado ao uso público é aquele imóvel em que há uma grande circulação
de pessoas, independentemente se de origem pública ou privada. Ex.: bibliotecas, casas de shows,
etc. Edifício destinado a obra de assistência social ou de cultura tem como finalidade pres-
tar auxílio à comunidade e também onde se realiza eventos de natureza cultural. Ex.: Asilos, cre-
ches, teatros, galerias de arte, cinemas, etc.
EDIFÍCIO É O UTILIZADO PELO ESTADO – A CAUSA DE AUMENTO
DE PENA INCIDE POR CAUSA DE SUA IMPORTÂNCIA SOCIAL E DO EVENTUAL
PREJUÍZO Á SOCIEDADE COM A PARALISAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO.
b.3) Em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo, independentemente de esta-
rem sendo utilizados no momento do fato (alínea “c”)
Embarcação é o meio de transporte aquático. Aeronave é o meio de transporte aé-
reo. Comboio ou veículo de transporte coletivo seriam os meios de transporte terrestres, co-
mo por exemplo, trem de ferro, metrô, ônibus, etc. Como é afirmado no tipo penal, o aumento
de pena é aplicável ao agente, independentemente da conduta ser realizada quando o meio de
transporte não está sendo utilizado.
TRANSPORTE COLETIVO EMBARCAÇÃO, AERONAVE OU COMBOIO
(TRANSPORTES TERRESTRES) – NÃO IMPORTA SE ESTÃO SENDO UTILIZADOS
NO MOMENTO DO INCÊNDIO.
b.4) Em estação ferroviária ou aeródromo (alínea “d”).
Estação ferroviária é o local destinado para o embarque e desembarque de pessoas,
bagagens e cargas nos meios de transporte ferroviários (trem de ferro). Aeródromo, mais comu-
mente nomeado por aeroporto, é o local destinado para o embarque e desembarque de pessoas,
bagagens e cargas do meio de transporte aéreo (aeronaves). Dúvida que surge a esta modalidade
típica é se ela se estenderia a outros locais destinados para o embarque e desembarque de passa-
geiros, como, por exemplo, rodoviárias, estações de metrô, portos, e etc. Cezar Roberto Biten-
court defende a interpretação extensiva do tipo penal para abranger tais locais (2004, p.170). En-
tendemos, entretanto, que aplicar a causa de aumento de pena quando o incêndio for praticado
nestes lugares somente seria possível com a aplicação de analogia in malam partem, vez que o tipo
não faz referência aos mesmos. Porém, acreditamos que a conduta possa ser punível na situação
típica da alínea “b”, deste inciso II, já que rodoviárias, portos e estações de metrô são locais desti-
nados ao uso público, podendo, portanto, enquadrar a conduta realizada nestes lugares perfeita-
mente. ESTAÇÃO FERROVIÁRIA OU AEROPORTO.
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O incêndio pode ser praticado de forma culposa, quando o agente com inobservân-
cia do dever objetivo de cuidado (por negligência, imprudência ou imperícia) causa a combustão
não intencionalmente.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
(I) Se o agente além do incêndio quis intencionalmente matar ou causar lesões corpo-
rais em pessoa(s) determinada(s) responderá pelos crimes em concurso formal ou material, de-
pendendo da forma como a conduta for realizada.
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(II) Se o imóvel incendiado pelo agente está localizado em local deserto ou distante
de outras edificações, configurará apenas o delito de dano, pois não houve criação de um perigo
comum e concreto para um número indeterminado de pessoas.
(III) Se o agente ao matar uma determinada pessoa com emprego de fogo (art. 121,
parágrafo 2º, inc. III), também expôs a perigo concreto a vida, a integridade física e o patrimônio
de um número indeterminado de pessoas, responderá por homicídio qualificado em concurso
formal com o delito de incêndio (art. 250, caput, do CP).
(IV) O agente que ao provocar um incêndio gera perigo comum e concreto e cuja fi-
nalidade seja o recebimento de indenização ou valor do seguro, deverá responder pelo delito do
art. 250, caput em concurso material com o do art. 171, parágrafo 2º, inc. V, ambos do Código
Penal. (obs.: questão controversa na doutrina e jurisprudência).
12 JURISPRUDÊNCIA.
“Para a caracterização do crime de incêndio é indispensável a criação de efetiva situação de perigo pa-
ra a vida, a imunidade física ou patrimônio de outrem. É este delito, pela nossa lei, de perigo concreto, e não presu-
mido. Se o agente visa a expor a perigo apenas uma pessoa certa e determinada, o crime será o do art. 132 do CP
(perigo para a vida ou saúde de outrem). Só haverá o delito do art. 250 se o incêndio acarretar perigo para número
indeterminado de pessoas ou bens” (TJSP – AC 75013-3 – Rel. Celso Limongi – RT 658/271).
“Nos crimes de perigo concreto exige-se a constatação do perigo real, ao contrário do que ocorre nos
crimes de perigo presumido ou abstrato. Sem as provas nos autos de perigo real ao bem jurídico tutelado, que é a
incolumidade pública, não se pode condenar ninguém pelo crime de incêndio em qualquer de suas modalidades:
dolosa ou culposa” (TJCE – AC 11463 – Rel. Cláudio Santos – Jurisp. e Doutrina 137/237).
“Sem o dolo de perigo, que se objetiva com a criação de uma situação de perigo de dano a um inde-
terminado número de pessoas, o delito de incêndio não se aperfeiçoa” (TJSP – AC – Rel. Hoeppner Dutra – RT
430/348 e RJTJSP 17/518).
“Se o fato, por circunstâncias alheias à vontade do agente, não chega a comunicar-se à coisa visada,
ou comunicando-se, vem a ser imediatamente extinto, não chegando a concretizar-se o perigo comum, o que se tem
a identificar é a simples tentativa” (TJSP – AC – Rel. Weiss de Andrade – RT 507/360).
“Acusado que, afirmando pretender incendiar o caminhão da vítima, mune-se de uma lata de gasolina e dele se aproxi-
ma, sendo, no entanto, obstado a prosseguir a ação – Se a intenção do réu de incendiar o veículo da vítima ficou nos atos
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meramente preparatórios, sendo obstado a prosseguir na sua ação, não se pode falar em tentativa” (TJSP – AC – Rel.
Alves Braga – RT 453/356).
“Se o incêndio provocado não gera perigo comum, tipifica-se o delito de dano qualificado” (TJSP –
AC 54316-3 – Rel. Ângelo Gallucci – RT 623/280 e RJTJSP 108/480).
“Demonstrando que a intenção do réu, embora agindo imprudentemente, não era a de causar incên-
dio em propriedade alheia, a ausência do dolo específico possibilita a desclassificação da infração para a modalidade
culposa” (TJSP – Rev. – Rel. Rezende Junqueira – RT 562/319).
“Não há crime de incêndio, se o fogo não teve pontecialidade para expor a perigo a vida, a integridade
física ou o patrimônio de um indeterminado número de pessoas. Resta configurada a prática de crime de dano quali-
ficado (art. 163, parágrafo único, inciso II, do CP), se o incêndio limitou-se a atingir a motocicleta da vítima, visando
o agente somente à destruição daquele bem” (TJMG, Processo 1.0686.02.054609-5/001[1], Relª. Beatriz Pinheiro
Caires, pub. 3/5/2005).
O que distingue o crime de incêndio do de estelionato previsto no art. 171, § 2º, n.º V, do Código Pe-
nal é o perigo comum, indiferentemente a este tipo penal (TJRJ, Ap. 1993.050.000843, Rel. Adolphino Ribeiro, j.
4/11/1993).
Explosão
Art. 251. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de ou-
trem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de
substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º. Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:
Pena - reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Aumento de pena
§ 2º. As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses
previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enu-
meradas no nº II do mesmo parágrafo.
Modalidade culposa
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COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido é a incolumidade pública que consiste nos vários bens
jurídicos protegidos (vida, integridade física, patrimônio, etc.) de um número indeterminado de
pessoas.
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua
ocorrência qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O caput descreve a conduta básica do delito, consistente nas condutas de causar a ex-
plosão, arremessar artefato explosivo ou simples colocação de engenho de substância explosiva,
colocando em risco a vida, a integridade física e o patrimônio de um número determinado de
pessoas. O § 1º define uma privilegiadora, quando a substância empregada pelo agente na prática
do fato não for dinamite ou explosivo de efeitos análogos. O § 2º estabelece causas de aumento
de pena de natureza subjetiva e objetiva, seguindo a mesma estrutura do delito de incêndio. O §
3º descreve a modalidade culposa comum (explosão provocada por dinamite ou substância de
efeitos análogos) e a privilegiada (causada por substância diversa da dinamite ou explosivo de
efeitos análogos).
3 SUJEITOS DO DELITO.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime, tratando-se de delito comum. Pode
ser autor inclusive o proprietário que causa a explosão do objeto material que lhe pertence, ex-
pondo a perigo um número indeterminado de pessoas.
SA QUALQUER PESSOA (INCLUSIVE O PROPRIETÁRIO DA COISA
INCENDIADA)
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Sujeito passivo é a coletividade, que tem seus bens jurídicos expostos a risco de dano
em face da conduta do agente. Também é sujeito passivo aquele que diretamente sofre o risco
sobre seu bem jurídico. Este crime é classificado como sendo de sujeito passivo vago, pois tem
como vítima a coletividade, que não possui personalidade jurídica.
SP COLETIVIDADE
2 No final deste dispositivo o legislador fez uso da interpretação analógica quando fala de “... ou substâncias de efei-
tos análogos”.
3 Nelson Hungria (1958, p.38) apresenta uma série de substâncias explosivas e de efeitos análogos: “Há grande varieda-
de de substâncias explosivas com efeitos identicos aos da dinamite: os derivados da nitrobenzina (belite), do nitrotolueno (trotil ou tolite),
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do nitrocresol (cresilite), da nitro naftalina (schneiderite), a chedite, a sedutite, a ruturite, a grisuline, a melinite, as gelatinas explosivas, os
explosivos TNT, os explosivos à base de ar líquido etc, etc.”.
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7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
9 MODALIDADES DERIVADAS.
Circunstância típica de caráter objetivo que tem como finalidade a diminuição dos
limites abstratos (mínimo e máximo) de pena, quando o agente utiliza substância que não é
dinamite ou explosivo de efeitos análogos (ex: gasolina, solventes, pólvora).
A pena do delito é aumentada de 1/3 (um terço) quando o agente comete a explosão
com o intuito de obter vantagem de natureza financeira em proveito próprio ou de outrem. É
irrelevante que o agente obtenha a vantagem. Desta forma, concordamos com Guilherme S.
Nucci (2003, p.729) que entende que a promessa de recompensa conhecida pelo agente é sufici-
ente para tipificar a causa de aumento de pena. Damásio de Jesus (1999, p.260) posiciona-se de
forma diferente, pois entende que a simples promessa, não tem o condão aumentar a pena, res-
pondendo o sujeito ativo pela conduta descrita no caput do artigo.
Agindo o agente com o fim de obter o valor de seguro, responderá por um só delito:
explosão qualificada, que absorve o estelionato. Neste sentido Damásio de Jesus (1999, p.260) e
Mirabete (2004, p.96-97). Entendemos de maneira diversa, pois consideramos ocorrer concurso
formal ou material (dependendo da forma em que a conduta foi realizada) entre os crimes de
explosão com aumento de pena e estelionato.
n.º 9.605/98, esta modalidade na explosão não sofreu modificação, vez que a referida lei não
mencionou qualquer figura típica que o modus operandi do agente fosse explosão ou alguma situa-
ção congênere. Lavoura é o cultivo da terra com o fim de exploração econômica. Pastagem é a
vegetação utilizada pelos seres humanos para alimentar os animais. Mata é a reserva florestal
mantida com o objetivo de garantir o equilíbrio ecológico de uma determinada região. Floresta é
a grande e extensa área de vegetação de grande, médio e pequeno porte.
O crime de explosão pode ser praticado de forma culposa, quando o agente com i-
nobservância do dever objetivo de cuidado (por negligência, imprudência ou imperícia) causa a
explosão não intencionalmente. As penas da modalidade culposa variam de acordo com a subs-
tância utilizada, se dinamite ou substâncias de efeitos análogos ou não.
A explosão simples (caput) é punida com pena de reclusão, de três a seis anos, e mul-
ta. A explosão com aumento de pena é punida com as penas cominadas à explosão simples, au-
mentadas de um terço (§ 2º). A explosão privilegiada é punida com pena de reclusão, de um a
quatro anos, e multa (§ 1º). Se da explosão dolosa advém lesão corporal de natureza grave, a pena
privativa de liberdade é aumentada da metade; se resulta morte, é aplicada em dobro (CP, art.
258).
A explosão culposa é punida com pena de detenção: a) de seis meses a dois anos, se a
explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos; b) de três meses a um ano, nos demais
casos. Se do fato culposo resulta lesão corporal de qualquer natureza, a pena aumenta-se da me-
tade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo aumentada de um terço
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11 QUESTÕES RELEVANTES.
(I) Se o agente além da explosão quis intencionalmente matar ou causar lesões corpo-
rais em pessoa(s) determinada(s) responderá pelos crimes em concurso formal ou material, de-
pendendo da forma como a conduta for realizada.
12 JURISPRUDÊNCIA.
“Para que a infração do art. 251 do CP se consubstancie não é preciso que a explosão se constate, bas-
tando a perspectiva do perigo para a vida, a integridade física, ou mesmo o patrimônio de outrem, sendo que, se do
delito de perigo comum, doloso ou culposo, resulta morte, a infração assume o caráter qualificado” (TACRIM-SP –
AC 585961/0 – Rel. Roberto de Almeida – RJDTACRIM 5/82).
“Pratica o delito do art. 251, do CP, quem explode bombas para abater peixes, perto de outras embar-
cações ocupadas por terceiros” (TRF – AC 8016 – Rel. William Paterson – JTRF-Lex 77/317).
“Crime de explosão – Inocorrência – Lançamento de artefato usado em festas juninas no interior de um salão, repleto de
pessoas – Impacto que não se coaduna, por inexpressivo, ao tipo penal inscrito no art. 251” (TJSC – AC 21510 – Rel. Aloysio de
Almeida Gonçalves – JC 54/425).
“Comete o delito de explosão, previsto no art. 251 do CP aquele que enterra no chão bombas de di-
namite, expondo a perigo evidente de vida, a integridade física e o patrimônio de outrem” (TJSP – AC – Rel. Tho-
maz Carvalhal – RT 393/243).
“Explosão culposa – Substância de efeitos análogos aos da dinamite – Inteligência do art. 251, § 3º, do CP – A simi-
litude de substância à dinamite se apura no tocante aos efeitos do material explosivo, isto é, sua força ou efeitos
produzidos quando de sua explosão” (TACRIM-SP – Rev. 203118/8 – Rel. Marrey Neto – RJDTACRIM 12/221).
Explosão – Pedreira – Culpa – “A circunstâncias de ser a pedreira uma atividade industrial autorizada
não afasta a hipótese de fato punível por que o crime não é a explosão propriamente dita mas o perigo a que se ex-
põe a vida, a saúde ou o patrimônio de alguém. Se a explosão, embora autorizada, não foi cercada dos cuidados ne-
cessários para não causar dano a outrem, houve negligência e se o responsável por ela utilizou, por exemplo, carga
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excessiva, caracteriza-se a imperícia. A modalidade culposa (art. 251, § 3º, do CP) é qualificada em razão de ter a
vítima sofrido lesão corporal de natureza grave (art. 258, segunda parte, do mesmo Código) (II TARJ – AC – Rel.
Genarino Carvalho – DJRJ 30.6.82, p. 51).
“Se a substância utilizada pelo agente não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos, e desde que se-
ja de eficácia explosiva menor, como a pólvora, o crime configurado não será descrito no caput do art. 251, mas o
previsto no seu § 1º (TJMG, Processo n.º 1.0702.03.093288-4/001[1], Rel. Paulo Cezar Dias, pub. 1/2/2005).
COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido neste delito é a incolumidade pública, que consiste na tute-
la da vida, integridade física ou patrimônio de um número indeterminado de pessoas.
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua
ocorrência qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O tipo penal no caput define a conduta básica que consiste no uso do gás tóxico ou
asfixiante. O parágrafo único prevê a modalidade culposa do delito.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Trata-se de tipo penal comum, no qual qualquer pessoa pode ser sujeito ativo.
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SA QUALQUER PESSOA
Sujeito passivo é a coletividade, que tem seus bens jurídicos expostos a risco de dano
em face da conduta do agente. Também é sujeito passivo aquele que diretamente sofre o risco
sobre seu bem jurídico. Este crime é classificado como sendo de sujeito passivo vago, pois tem
como vítima a coletividade, que não possui personalidade jurídica.
SP COLETIVIDADE
4 Nelson Hungria (1958, p.42-43) cita como exemplos de gases tóxicos e asfixiante os seguintes: “São considerados
tóxicos, dentre outros, os gases provenientes do ácido cianídrico, amoníaco do anidro sulfuroso, benzina, iodacetona, cianuretos alcalinos de
potássio e sódio. Asfixiantes são os gases de cloro, bromo, bromacetona, clorossulfato de metila, cloroformiato de triclorometila, fosgeno
etc.”.
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O tipo exige a realização da conduta do agente com dolo de perigo comum genérico,
direto ou eventual. Não há previsão de qualquer elemento subjetivo específico ou especial. No
caso do agente ter agido com a intenção de intoxicar ou envenenar pessoa ou pessoas determina-
das, pode-se configurar do delito de perigo para a vida ou saúde de outrem.
CONDUTA CONTRA UM NÚMERO CERTO OU DETERMINADO DE PES-
SOAS ART. 132 E NÃO ART. 252 CP
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
naturalístico que seria a intoxicação ou o sufocamento não precisa ocorrer, bastando apenas que
o agente pratique a conduta que é o uso do gás.
9 MODALIDADES DERIVADAS.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
(I) Se o agente usa gás tóxico ou asfixiante para matar pessoa determinada, responde
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pela prática do art. 121, § 2º, III do Código Penal (homicídio qualificado pelo envenenamento ou
asfixia). Caso o agente além do animus necandi tenha querido expor um número indeterminado de
pessoas a risco, responderá pelos crimes em concurso material ou formal, dependendo da forma
em que realizou a conduta.
(II) Quando provocar a emissão de gás que não seja tóxico ou asfixiante poderá res-
ponder pela contravenção penal descrita no art. 38 do Decreto-Lei n.º 3.688/41 (Lei de Contra-
venções Penais).
Emissão de fumaça, vapor ou gás.
Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fumaça, vapor ou gás que possa ofender ou molestar al-
guém: pena – multa.
(III) O emprego de gás lacrimogêneo pela polícia não configura crime, desde que esta
esteja agindo em legítima defesa, ou no estrito cumprimento do dever legal. Se houver excesso,
este será punido.
12 JURISPRUDÊNCIA.
“Não caracteriza o crime previsto no art. 252, do CP a conduta de quem adapta veículo automotor e
com ele transita, acionando o gás liquefeito de petróleo, em face da ausência de prova, na espécie, de perigo concre-
to” (TJSP – AC 41626-3 – Rel. Gentil Leite – RJTJSP 101/461).
Indiciamento de diretores de empresa pela emissão de gases tóxicos asfixiantes – “O princípio da responsabilidade
subjetiva, base do Direito Penal moderno, determina que só deve responder pela prática de infração quem tenha
agido com dolo ou culpa, em sentido estrito. Não basta que alguém seja sócio ou diretor de uma empresa para res-
ponder criminalmente por ato penalmente típico praticado no exercício de atividades da mesma. Só serão responsá-
veis criminalmente os que lhe tenha dado causa, ainda que indiretamente com dolo ou culpa” (TACRIM-SP – HC
152374-1 – Rel. Cineu Ferreira – RT 612/319).
COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido é incolumidade pública, que consiste na tutela da vida, in-
tegridade física e patrimônio de um número indeterminado de pessoas.
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência
qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADE TÍPICA.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O delito é comum no qual pode ser sujeito ativo qualquer pessoa. Sujeito passivo é a
coletividade, que tem seus bens jurídicos expostos a risco de dano em face da conduta do agente.
Também é sujeito passivo aquele que diretamente sofre o risco sobre seu bem jurídico. Este cri-
me é classificado como sendo de sujeito passivo vago, pois tem como vítima a coletividade, que
não possui personalidade jurídica.
Tipo penal de conteúdo misto ou variado, o legislador descreve cinco verbos núcleos
que indicam como o agente praticará o crime: fabricar (manufaturar, construir, produzir); forne-
cer (abastecer, prover de forma onerosa ou gratuita); adquirir (comprar de forma onerosa ou gra-
tuita); possuir (ter em seu poder pessoal ou à disposição); e, transportar (levar, conduzir de um
lugar para outro). As condutas previstas indicam um comportamento comissivo ou omissivo im-
próprio (garante – art. 13, parágrafo 2º, do CP).
São objetos materiais: engenho explosivo é o objeto confeccionado para a explosão
que contém dinamite ou substância de efeitos análogos. Damásio (1999:266) define “dinamite’
como nitroglicerina misturada com areia. Substância de efeitos análogos à dinamite são outros
28
materiais explosivos que possuem alto grau de lesividade, e que se aproxime da capacidade de
destruição que ela tem. Gás tóxico é o que provoca envenenamento. Gás asfixiante é o que
causa sufocamento. Material destinado a fabricação pode se entender como as substâncias que
serão empregadas para a produção daqueles (ex.: acetona, pólvora, etc.).
Para a configuração da materialidade do delito é exigível a realização de exame perici-
al para demonstração da potencialidade do objeto material (art. 158 e art. 175 do Código de Pro-
cesso Penal). Não se comprovando a eficácia da substância em consonância com o tipo penal, a
conduta será atípica.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se
Ihes verificar a natureza e a eficiência.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
10 QUESTÃO RELEVANTE.
(I) Se o fabrico de explosivo é meio para a prática do delito de dano qualificado (art.
163, § único, II) não se verifica o concurso material, mas sim a absorção deste delito por aquele
(dano qualificado). A questão, porém é controversa, existindo entendimento no sentido contrá-
rio.
(II) Rogério Greco (2010, p.706) entende que ocorreu a revogação parcial do art. 253
do Código Penal, concernentemente aos núcleos fabricar e possuir substância ou engenho explosi-
vo, devendo-se aplicar o inciso III, do parágrafo único do art. 16 da Lei n.º 10.826/2003.
11 JURISPRUDÊNCIA.
“Para a caracterização do crime previsto no art. 253 do CP, é desnecessário que tenha sido colocada
em risco a segurança de pessoas, bastando a existência de substância ou engenho explosivo, sem que porte o agente a
competente licença da Autoridade Federal, vez que a punição inerente à figura decorre do perigo abstrato que repre-
senta, dispensada a ocorrência de perigo concreto ou efetivo” (TACRIM-SP – AC 793617-5 – Rel. Silvério Ribeiro –
RJDTACRIM 22/191).
Transporte de explosivos ou gás tóxico ou asfixiante – “No art. 253 do CP o legislador fala em substância ex-
plosiva e como tal deve ser entendida a substância tecnicamente tal ou especificamente destinada a explodir, median-
te sua própria desintegração, sendo melhor doutrina” (TARS – AC 290024876 – Rel. Luiz Felipe Vasques de Maga-
lhães – JTARS 74/66).
Explosivos (posse) – Competência – justiça comum – CP, art. 253 – “A fiscalização da produção comércio de
substâncias e engenhos explosivos atribuída ao exército não tem o efeito de fazer recair o crime capitulado no art.
253 do CP na competência da justiça Federal” (STF – RE – Rel. Rafael Mayer – RTJ 95/297).
“O delito do art. 253 do CP é daqueles que deixam vestígios. A natureza “explosiva” da substância
adquirida ou possuída deve ser comprovada por exame de corpo de delito, direto ou indireto. Inexistente essa prova,
impõe-se a absolvição do acusado” (TACRIM-SP – AC – Rel. Cunha Camargo – JUTACRIM 52/169).
“Agente a possuir explosivo em sua residência quando da realização de busca e apreensão de entorpe-
cente. Objeto periciado e constatada a eficácia do artefato. Crime caracterizado” (TJRS, Ap. Crim., 70011076437, 7ª
Câm. Crim. Rel. Alfredo Foerster, j. 23/6/2005).
Inundação
Art. 254. Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa, no caso de dolo, ou deten-
ção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, no caso de culpa.
COMENTÁRIOS
O bem jurídico protegido é a incolumidade pública, que consiste na tutela da vida, in-
tegridade física e patrimônio de um número indeterminado de pessoas.
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua
ocorrência qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADE TÍPICA.
O legislador previu no art. 254 do Código Penal apenas a figura típica prevista no
caput. Dever-se-á observar, entretanto, que a conduta descrita vale para as modalidades dolosa e
culposa, vez que no preceito secundário há previsão expressa de pena para ambas.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Por se tratar de crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o
proprietário do local inundado.
SA CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA
O sujeito passivo como nas modalidades típicas anteriores é a coletividade. Desta
forma, este delito também é classificado como crime de sujeito passivo vago (crime vago).
Também será sujeito passivo a pessoa diretamente prejudicada pela conduta do agente.
SP COLETIVIDADE
6 Nelson Hungria (1958, p.49) traz as seguintes informações sobre a conduta típica: “Hungria esclarece o conceito de inun-
dação dizendo: ‘Entende-se por inundação, o alagamento de um local de notável extensão, não destinado a receber águas. As águas são
desviadas de seus limites naturais ou artificiais, expandindo-se em tal quantidade que criam perigo de dano a indeterminado número de
pessoas ou coisas. Como observam Liszt-Schmidt, não basta, para o crime de inundação, qualquer alagamento ou transbordamento: é
necessário que não esteja mais no poder do agente dominar a força natural das águas, cujo desencadeamento provocou, criando uma situa-
ção de perigo comum, a que se refere o legislador como a uma das características do crime’”.
32
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
O crime se consuma com a criação do perigo concreto e comum causado pela inun-
dação provocada pelo agente. Admite-se tentativa para a maior parte da doutrina, porém enten-
demos ser inadmissível em face das condutas típicas do art. 255 do Código Penal (perigo de i-
nundação) punir os atos preparatórios deste delito.
DOUTRINA MAJORITÁRIA ADMITE A OCORRÊNCIA DA TENTATIVA
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O artigo 254 do Código Penal é classificado como crime: comum (qualquer pessoa
pode praticá-lo), doloso ou culposo, de perigo concreto e coletivo (perigo deve ser comprova-
do e atinge um número indeterminado de pessoas), plurissubsistente (a conduta se fraciona em
vários atos), comissivo (delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição
de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal), unissubjetivo (basta uma pessoa para realizá-lo).
33
Luiz Regis Prado (1999, p.797) classifica este delito como pluriofensivo (pois vários bens jurídi-
cos são protegidos simultaneamente), de conteúdo variado ou misto alternativo (legislador
prevê mais de uma conduta, respondendo o agente uma única vez, independentemente da quan-
tidade de verbos realizados no fato) e não transeunte (é crime que deixa vestígios).
PLURIOFENSIVO ATINGE A VÁRIOS BENS
10 QUESTÕES RELEVANTES.
(I) Regis Prado (1999, p.797) diz que não há que se confundir a tentativa de inunda-
ção com o crime de perigo de inundação (art. 255). A distinção entre ambos é feita pelo elemento
subjetivo, “pois no perigo de inundação o agente não quer o alagamento, nem assume o risco de
produzi-lo”. Como pode se ver, este posicionamento contraria o adotado ao tratarmos da tentati-
va de inundação.
TENTATIVA DE INUNDAÇÃO (AGENTE QUER A INUNDAÇÃO) É DI-
FERENTE DE PERIGO DE INUNDAÇÃO (AGENTE SÓ QUER O PERIGO E NÃO
INUNDAR)
(II) Ocorrerá concurso formal de homicídio qualificado por meio de asfixia (art. 121,
parágrafo 2º, inciso III, do CP) com o delito de inundação (art. 254, caput,), se esta causou um
perigo concreto para um número indeterminado de pessoas (vida, integridade física e patrimô-
nio).
(III) Se o alagamento não produzir risco para um número indeterminado de pessoas,
o agente responderá apenas por dano (art. 163, do CP).
(IV) Quando o agente atua com o fim de desviar ou represar, em proveito próprio ou
alheio, águas alheias, responderá pelo delito de usurpação de águas (art. 161, inc. I, do CP).
11 JURISPRUDÊNCIA.
Construção de barragem que vem a romper-se provocando danos expressivos – “Se o laudo pericial cingiu-se a cri-
ticar deficiências várias na construção, mas não se mostrou conclusivo quanto às causas do rompimento e seus por-
34
menores objetivos, tornado impossível saber-se se isso ocorreu em razão de altura demasiada ou de deficiência ou
defeito da parede, não há como provar a contribuição culposa do agente” (TACRIM-SP – AC – Rel. Djalma Lofrano
– JUTACRIM 70/340).
Perigo de inundação
Art. 255. Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expon-
do a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou
obra destinada a impedir inundação:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
COMENTÁRIOS
Protege-se neste tipo penal a incolumidade pública (vida, integridade física e patri-
mônio).
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência
qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADE TÍPICA.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito, portanto, trata-se de crime comum.
SA CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA PODE SER SUJEITO ATIVO
O sujeito passivo como nas modalidades típicas anteriores é a coletividade. Desta
forma, este delito também é classificado como crime de sujeito passivo vago (crime vago).
SP COLETIVIDADE
35
Trata-se de crime de conteúdo misto ou variado alternativo que prevê três modalida-
des de ações: remover (retirar, deslocar), destruir (fazer desaparecer) no todo ou em parte ou inu-
tilizar (tornar imprestável ou sem utilidade). O objeto material é o obstáculo natural ou obra des-
tinada a impedir inundação (construção humana). Como descrito no tipo, tais obstáculos prote-
gem um número indeterminado de pessoas do risco de inundação.
VERBOS NÚCLEOS DO TIPO: REMOVER, DESTRUIR E INUTILIZAR.
OBJETOS MATERIAS: OBSTÁCULO NATURAL OU FRUTO DA CRIAÇÃO
HUMANA
Os verbos núcleos do tipo supracitados indicam que o delito é de ação ou comissivo,
porém, poderá ser também omissivo impróprio, se o agente tiver a condição de garante (art. 13,
parágrafo 2º, do CP).
Por ser crime que deixa vestígios, mister se faz o exame de corpo de delito, conforme
expressa o art. 158 do Código de Processo Penal.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
O delito será praticado com dolo de perigo concreto e comum genérico, direto ou
eventual.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
10 QUESTÃO RELEVANTE.
Neste delito o sujeito ativo não quer a inundação, apenas expor a risco um número
indeterminado de pessoas. Existe uma corrente doutrinária que entende que a superveniência da
inundação faz com que o agente responda pelo delito do art. 255 em concurso formal com a mo-
dalidade do art. 254, porem, não comungamos com este posicionamento, vez que o delito do art.
254 (inundação) seria postfactum impunível do art. 255 do Código Penal (perigo de inundação).
Desabamento ou desmoronamento
Art. 256. Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida,
a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Modalidade culposa
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano.
37
COMENTÁRIOS
Protege-se neste tipo penal a incolumidade pública (vida, integridade física e patri-
mônio).
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa ou culposa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua
ocorrência qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADES TÍPICAS.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito, tratando-se de crime comum. O
proprietário do imóvel que sofre o desabamento ou desmoronamento também pode ser agente
do crime.
SA COMUM – QUALQUER PESSOA PODE SER SUJEITO ATIVO
O sujeito passivo como nas modalidades típicas anteriores é a coletividade. Desta
forma, este delito também é classificado como crime de sujeito passivo vago (crime vago).
Também será sujeito passivo a pessoa diretamente prejudicada pela conduta do agente.
SP COLETIVIDADE
O verbo núcleo do tipo indica a ocorrência de uma conduta comissiva, porém, ele
também ser omissivo impróprio, desde que o agente tenha a condição de garante (art. 13, pará-
grafo 2º, do CP).
O objeto material é o morro, o barranco, o prédio ou similar.
Por ser crime que deixa vestígios, mister se faz o exame de corpo de delito, conforme
expressa o art. 158 do Código de Processo Penal.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
9 MODALIDADE DERIVADA.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
(I) Caso não sobrevenha risco à incolumidade pública, poderá o desabamento carac-
terizar a contravenção prevista no art. 29 da Lei de Contravenções Penais.
SE NÃO CAUSAR RISCO À INCOLUMIDADE PÚBLICA ART. 29 DA LCP
(II) O desabamento ou desmoronamento causado por uso de explosivo é absorvido
pelo delito de explosão se a intenção principal do agente foi causar esta (art. 251 do Código Pe-
nal). Se o agente usa de explosão sem que esta provoque perigo comum e concreto com o fim de
que ocorra desabamento ou desmoronamento responderá ele pelo presente delito (art. 256 do
Código Penal).
(III) Se o agente visa apenas atingir um bem pertencente a uma pessoa específica, e
não coloca em perigo a vida, a integridade física e o patrimônio de um número indeterminado de
pessoas responderá apenas pelo delito de dano (art. 163 do CP).
(IV) Ocorrerá concurso formal de homicídio qualificado por meio de asfixia (art.
121, parágrafo 2º, inciso III, do CP) com o delito de desabamento ou desmoronamento (art. 256,
caput,), se este causou um perigo concreto para um número indeterminado de pessoas (vida, inte-
gridade física e patrimônio).
40
12 JURISPRUDÊNCIA.
“Em todo desabamento está ínsita a idéia de danificação. Esta só configurará o crime previsto no art.
256 do CP, se houver comprometimento estrutural da construção, ainda que parcial. Se ao contrário, a estrutura
mantiver-se indene, apesar de visada ou atingida, não há cogitar de infração contra a incolumidade pública” (TA-
CRIM-SP – AC – Rel. Ercílio Sampaio – RT 592/351).
“Para a caracterização do delito de desabamento não basta simples ameaça, o perigo de que ele possa
ocorrer; é imprescindível a ocorrência efetiva da queda do prédio ou de parede, com ameaça concreta a pessoas e
coisas” (TARS – Rec. – Rel. José Silva – RT 208/318).
COMENTÁRIOS
Protege-se neste tipo penal a incolumidade pública (vida, integridade física e patri-
mônio).
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência
qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADES TÍPICAS.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito, tratando-se de crime comum.
SA CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA PODE SER SUJEITO ATIVO
O sujeito passivo é a coletividade. Desta forma, este delito também é classificado
como crime de sujeito passivo vago (crime vago).
SP COLETIVIDADE
O caput do art. 257 do Código Penal se divide em duas modalidades típicas, isto é, na
primeira parte há previsão de uma conduta típica, e na segunda de outra. O que elas têm em co-
mum é que ambas incidirão por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, desastre ou calamida-
de pública. Estas situações podem ter sido criadas de forma dolosa, culposa ou caso fortuito.
Na primeira modalidade as condutas descritas são: subtrair (tirar às escondidas), ocul-
tar (esconder ou sonegar) ou inutilizar (fazer perder a utilidade, tornar inútil). O objeto material é
o aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo (ex.: extintor de
incêndio, escadas, mangueiras), de socorro (ex.: medicamentos, kits de socorros) ou salvamento
(ex.: macas, telefones). Esclarecemos que qualquer uma das condutas pode ser realizada de forma
temporária.
Na segunda forma, o legislador define como típica a conduta do agente que impede
(não permitir, obstruir) ou dificulta (cria embaraços) a prestação de serviço de combate ao perigo,
de socorro ou salvamento. Para impedir ou dificultar o agente pode fazer uso de qualquer meio
de conduta: violência, fraude ou grave ameaça.
DUAS FIGURAS TÍPICAS: 1- SUBTRAIR, OCULTAR E INUTILIZAR / 2- IM-
PEDIR, DIFICULTAR (VIOLÊNCIA, FRAUDE OU GRAVE AMEAÇA)
O objeto material é o aparelho ou qualquer material destinado ao serviço de combate
ao perigo, de socorro ou salvamento.
As condutas típicas indicam que o delito é comissivo, porém se o agente tinha a fun-
ção de garante poderá responder pela forma omissiva imprópria (art. 13, parágrafo 2º, do CP).
42
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
O crime se consuma na primeira figura com a realização de qualquer dos verbos nú-
cleos do tipo (subtrair, ocultar ou inutilizar) em relação aos objetos materiais descritos. Admite-se
tentativa.
Na segunda figura, o crime se consuma quando o agente impede ou dificulta a pres-
tação do serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento. Regis Prado (1999, p.803)
admite tentativa nas duas formas de conduta, entretanto, discordamos do referido autor por en-
tendermos que a tentativa só seria possível na forma dificultar, pois a nosso ver, tentar impedir
seria o mesmo que dificultar, e, portanto, o crime já estaria consumado.
CONSIDERAMOS QUE NA CONDUTA IMPEDIR NÃO SE ADMITE TEN-
TATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
impróprio (se o agente tinha função de garante – art. 13, parágrafo 2º, do CP) e não transeunte
(é crime que deixa vestígios).
10 QUESTÕES RELEVANTES.
(I) O comportamento omissivo, por si só, não caracteriza esse crime, a menos que o
omitente tenha o dever legal de impedir a produção do resultado (art. 13, § 2º).
(II) Se o incêndio, inundação ou naufrágio foi resultado de conduta do agente, res-
ponderá pelo delito em concurso material com o presente crime.
(III) Caso o sujeito ativo tenha subtraído ou danificado o aparelho ou material alheio
destinado ao socorro ou salvamento, responderá pelo delito de furto (art. 155) ou dano (art. 163),
em concurso material, desde que tenha o animus definitivo em relação à coisa.
FORMA OMISSIVA SÓ SE FOR COMISSIVO POR OMISSÃO
(IV) Rogério Greco, entende que se da conduta do agente não se produziu o perigo
coletivo e concreto, o agente não responderá pelo delito do art. 257 do Código Penal (entendi-
mento minoritário).
COMENTÁRIOS
1 GENERALIDADES.
44
2 QUESTÕES RELEVANTES.
Havendo várias vítimas, responderá o agente apenas por um delito qualificado pelo
resultado, excluindo-se o concurso formal. Se do crime resulta morte e lesão corporal aplica-se a
qualificadora morte, por ser mais grave.
VÁRIAS VÍTIMAS – NÃO HÁ O CONCURSO FORMAL / CONCURSO DE
MORTE E LESÃO APLICA-SE A CAUSA DE AUMENTO DE PENA MAIS GRAVE
(MORTE)
45
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O caput do artigo descreve a modalidade básica dolosa. O parágrafo único descreve a for-
ma culposa da conduta.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito, trata-se de crime comum.
SA QUALQUER PESSOA – CRIME COMUM
O sujeito passivo é a coletividade. Desta forma, este delito também é classificado
como crime de sujeito passivo vago (crime vago). Também será sujeito passivo a pessoa
diretamente prejudicada pela conduta do agente.
SP COLETIVIDADE
46
A conduta típica é difundir (propagar, espalhar, irradiar) doença ou praga que possa
gerar dano à floresta, plantação ou criação de animais. Na definição de Julio Fabbrini Mirabete
(2004, p.117) doença é o processo patológico que provoca a morte, destruição ou deterioração de plantas ou
animais (ex.: febre aftosa, raiva, peste suína, salmonelose, a difteria, a peste das aves, sama, brucelose etc.) e
praga é um mal que não representa o processo, e desenvolvimento mórbido da doença mas traduz antes um surto
maléfico e transeunte, semelhante à epidemia (ácaros, piolho e outros). Se a doença se dirigir a ser
humano, o delito praticado será o previsto no art. 267 do Código Penal (Epidemia).
O verbo núcleo do tipo indica que a conduta é praticada por meio de uma ação
(comissivo), mas também pode ser omissivo impróprio, desde que o agente tenha a posição de
garante (art. 13, parágrafo 2º, do CP).
O objeto material é a doença ou praga difundida pelo sujeito ativo.
Floresta é a grande e extensa área de vegetação de grande, médio e pequeno porte.
Plantação que é sinônimo de lavoura é o cultivo da terra com o fim de exploração econômica.
Animais com utilidade econômica são aqueles que possuem valor econômico apreciável,
independentemente de serem domésticos ou não.
É crime de perigo abstrato não sendo necessária a comprovação do efetivo risco aos
bens protegidos. Esta característica do tipo penal está expressa nas elementares “que possa causar
dano”.
CRIME DE PERIGO ABSTRATO NO QUAL O RISCO AOS BENS
PROTEGIDOS NÃO PRECISA SER COMPROVADO
Trata-se de uma norma penal em branco, pois será necessário a completação do tipo
para se buscar a significação dos termos “praga” e “doença”.
É o dolo de perigo abstrato e coletivo genérico, direto ou eventual. O crime também será
realizado na forma culposa, quando a conduta realizada for praticada com a quebra do dever ob-
jetivo de cuidado (art. 18, II do Código Penal).
47
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
O delito previsto art. 259 do Código Penal se consuma com a difusão da doença ou
praga, desde que sejam potencialmente lesivas, ainda que não causem risco efetivo aos objetos
materiais protegidos (floresta, plantação e animais com utilidade econômica). A tentativa é
admissível.
CRIME DE PERIGO ABSTRATO – EXIGE-SE APENAS QUE A DOENÇA E
A PRAGA SEJAM POTENCIALMENTE LESIVAS
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
9 MODALIDADE DERIVADA.
Aplica-se ao parágrafo único (culpa) o disposto no art. 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é
pública incondicionada.
11 QUESTÃO RELEVANTE.
Entendemos que o presente artigo foi revogado tacitamente pelo art. 61 da Lei n.º
9.605/98. Tal revogação se deu em face deste dispositivo ser mais recente que o previsto no Có-
digo Penal, mais benéfico, pois excluiu a modalidade culposa, e também pela sua especialidade
em face do artigo do CP.
TACITAMENTE REVOGADO ART. 61 DA LEI 9.605/98
Art. 61 da Lei n.º 9.605/98: Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar
dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)
anos, e multa.
12 JURISPRUDÊNCIA
“Falsificar certificado de imunização não se inclui entre os crimes contra a incolumidade pública, co-
mo o de difusão de doença (aftosa) que possa causar dano a animais de utilidade econômica; mas está compreendido
entre os crimes contra a fé pública, como a falsificação de documento público” (TJRS – AC – Rel. Mário Boa Nova
Rosa – RJTJRS 44/42).
“Difusão de doença ou praga – Infrator que não teria observado determinação de órgão da Secretaria de Agricultura pa-
ra que não colhesse nem comercializasse frutas cítricas de sua propriedade atingidas por cancro cítrico, até erradicação dos focos da doença
– Delito não caracterizado” (TJSP – AC – Rel. Vanderlei Borges – RJTJSP 130/439).
1. Deixará de ocorrer o crime do artigo 252 do CP, que é contra a incolumidade pú-
blica, se apenas uma pessoa indeterminada for exposta ao uso de gás tóxico ou asfixiante (agente
só quer atingir uma pessoa)? Justifique.
2. Exemplifique de que forma o delito do art. 252 do CP poderá ocorrer na modali-
dade culposa.
3. A licença da autoridade exclui a tipicidade do artigo 253 do CP? Justifique sua res-
posta.
49
RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO
1. Não, porque a objetividade jurídica protegida pelo delito, visa a proteção da inco-
lumidade pública, isto é, a proteção a um número indeterminado de pessoas, e não apenas de
uma conforme estabelece o enunciado do art. 252 do CP. Também não responderá pelo crime do
art. 132 do CP, pois este determina que seja exposta ao perigo uma ou várias pessoas determina-
das.
2. Um exemplo cabível de forma culposa do art. 252 do CP, seria o de o agente esto-
car gás tóxico e asfixiante em compartimentos que ele percebeu não estarem em condições sufici-
entemente boas para tal, e estes acabam por realmente vazar e expor a perigo um número inde-
terminado de pessoas, em razão de sua negligência.
3. Sim, vez que o legislador inseriu o elemento normativo “sem licença da autorida-
de”, portanto, se o agente realiza qualquer das condutas do tipo acobertado por uma licença da
autoridade, sua conduta será atípica.
4. Sim, o crime de inundação do artigo 254 admite a sua prática por qualquer meio de
execução, seja ele comissivo ou omissivo. A conduta será comissiva, quando o agente através de
uma ação, destrói a parede de uma barragem. E será omissiva, se ele percebendo que a barragem
está para romper-se a qualquer momento, nada faz para evitar que isto ocorra.
5. No artigo 254 o legislador previu o crime de inundação, ou seja, neste o agente ge-
rou a efetiva inundação que causou perigo a um número indeterminado de pessoas. Em contra-
partida, o tipo do art. 255, punirá a conduta do agente que gera o perigo de inundação, e não esta
efetivamente.
50
CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICA-
ÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS
§ 3º. Para os efeitos deste artigo, entende-se por estrada de ferro qualquer via
de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de
cabo aéreo.
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O caput do art. 260 prevê a forma básica dolosa que consiste no impedimento ou per-
turbação do serviço ferroviário. O § 1º descreve a figura qualificada pelo resultado quando o a-
gente efetivamente causa o desastre ferroviário. O § 2º apresenta o tipo culposo, que somente se
configura com o acidente ferroviário. Por fim, o § 3º traz uma norma penal explicativa definindo
o que é estrada de ferro e as situações equiparadas para fins penais.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O delito é praticado com o dolo de perigo concreto e coletivo genérico (sem finali-
dade especial), direto (vontade) ou eventual (assentimento). O tipo penal não prevê nenhuma
finalidade específica por parte do agente.
O fato do condutor da composição imprimir velocidade superior a permitida não
configura em si o delito de perigo de desastre ferroviário. Se desse excesso de velocidade um aci-
dente ocorre o agente responderá apenas pelos resultados eventualmente causados (morte ou
lesões corporais culposas nos passageiros).
6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O delito de perigo de desastre ferroviário é crime comum (no qual qualquer pessoa
pode ser o sujeito ativo); material para Damásio (1999, p.302) e Bitencourt (2004, p.203) (pois
exige resultado naturalístico que é a comprovação do perigo de desastre) ou formal no entendi-
mento de Guilherme Nucci (2003, p.741) (prevê o resultado naturalístico que não precisa ocorrer.
Caso haja o dano, este será mero exaurimento do delito); comissivo (delito de ação) ou omissi-
vo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal); ins-
tantâneo (cuja consumação é imediata); de perigo concreto e coletivo (perigo deve ser de-
monstrado e expor a risco um número indeterminado de pessoas e coisas); unissubjetivo (neces-
55
9 MODALIDADES DERIVADAS.
O parágrafo primeiro do art. 260 prevê a forma qualificada pelo resultado quando a
conduta do agente resulta no desastre ferroviário. Desastre ferroviário é o acidente grave e com-
plexo em uma estrada de ferro que produz risco a um número indeterminado de pessoas e coisas.
Damásio (1999, p.301-302) entende que este resultado agravador pode ocorrer de maneira culpo-
sa (preterdolo) ou dolosa. Isto significa que o acidente pode ter sido causado pelo agente pela
quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia) ou intencionalmen-
te. Bitencourt (2004, p.203) e Rogério Greco (2010, p.716) defendem que o resultado agravador
somente pode ser culposo, ou seja, a modalidade do parágrafo 1º é exclusivamente preterdolosa.
§ 1º CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO DESASTRE. ESTE RE-
SULTADO + GRAVE PODE VIR CULPOSA OU DOLOSAMENTE
Não é admitida a tentativa quando a conduta for preterdolosa. Entretanto, se o resul-
tado agravador também foi querido pelo agente, a tentativa é admissível
11 QUESTÕES RELEVANTES.
Rogério Greco (2010, p.717) defende que se o sujeito vier a sabotar os trilhos de uma
linha férrea com o escopo de que os passageiros que nele se encontrem venham a morrer em
virtude do descarrilamento, deverá responder por homicídio consumado ou tentado, e não pelo
crime de perigo de desastre ferroviário, ou pelo de desastre ferroviários. Entendemos de forma
diversa, considerando que neste caso ele responderá por homicídio consumado ou tentado (art.
121, caput) em concurso material ou formal (dependendo da forma de execução) com o de desas-
tre ferroviário (art. 260, parágrafo 1º)
12 JURISPRUDÊNCIA.
Surfista ferroviário – “A possibilidade, remota e indireta, de poder o passageiro que viaja sobre o teto da
composição, na hipótese de cair, vir a causar acidente, pelo arrastamento e lançamento de componentes na linha, ou
desastre ferroviário, não caracteriza o crime de perigo de desastre ferroviário. Atipicidade da ação e ausência do
elemento subjetivo ou tipo subjetivo”. (TJRJ – AC – Rel. Antônio Carlos Amorim – TJRJ 12:339).
Indivíduos que colocam o obstáculo na linha de trem, arrancando, outrossim, as tabuletas de avisos – Hipóteses em que
não houve perigo de desastre, por ter sido removido o obstáculo – Condenação, entretanto, dos mesmos pela infração prevista no art. 163,
parágrafo único, III do CP – “Não é certo que o simples fato de colocar obstáculo na linha configura o delito do art.
260, IV, do CP. É necessária a real ocorrência de perigo objetivo” (TJSP – AC – Rel. Acácio Rebouças – RT
444/308).
“O maquinista que imprime à locomotiva velocidade superior à permitida pelo regulamento, dando
causa ao descarrilamento da mesma e ferimentos nos seus passageiros, responde pela infração do art. 129, § 6º, do
CP, e não a do art. 260 do citado estatuto, demonstrando que agiu apenas culposamente e não com o propósito de
praticar ato de que pudesse resultar o desastre” (TACRIM-SP – AC – Rel. Adriano Marrey – RT 252/353).
“O dolo, na infração prevista no art. 260 do CP, consiste na vontade consciente e livre e na intenção
de praticar o fato que põe em perigo a segurança dos transportes públicos, pouco importando que o agente tenha ou
não o escopo de fazer surgir o perigo ou de ocasionar o desastre, porque a ocorrência do perigo é um requisito obje-
tivo” (TJSP – AC 49.978 – Rel. Thrasybulo de Albuquerque – RT 251/170).
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O crime é comum, no qual qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o propri-
etário ou funcionário da empresa que presta o serviço de transporte público.
SA QUALQUER PESSOA / CRIME COMUM
Sujeito passivo é a coletividade. Por ser vítima ente que não possui personalidade ju-
rídica o crime é classificado como de sujeito passivo vago. No caso de sinistro também será sujei-
to passivo a pessoa atingida pela conduta do agente.
SP COLETIVIDADE / CRIME VAGO
Por depender de definição legal, o meio de transporte aeronave pode ser apontado
como elemento normativo do tipo. Apresentamos a definição legal de aeronave nos elementos
objetivos do tipo (art. 106 do Código Brasileiro de Aeronáutica).
O agente atua com o dolo de perigo concreto e coletivo genérico, direto ou eventual.
No parágrafo segundo há um elemento subjetivo especial contido na expressão “com o intuito de
obter vantagem econômica”.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
ser comprovado e a conduta deve expor a risco um número indeterminado de pessoas e coisas);
unissubjetivo (exige para a realização da conduta apenas um agente); plurissubsistente (condu-
ta praticada por meio de vários atos); conteúdo variado (pode ser praticado por mais de uma
forma, mas a realização de mais de uma delas dentro do mesmo fato não caracteriza concurso de
crimes); e, não transeunte (é crime que deixa vestígios).
9 MODALIDADES DERIVADAS.
O parágrafo primeiro do art. 261 prevê a forma qualificada pelo resultado quando a
conduta do agente resulta no sinistro (desastre) em transporte marítimo, fluvial ou aéreo. Desas-
tre ou sinistro é o acidente grave e complexo que produz risco a um número indeterminado de
pessoas e coisas. Damásio (1999, p.306) entende que este resultado agravador pode ocorrer de
maneira culposa (preterdolo) ou dolosa. Isto significa que o acidente pode ter sido causado pelo
agente pela quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia) ou in-
tencionalmente. Bitencourt (2004, p.206), Nucci (2003, p.744) e Rogério Grecco (2008, p.83-84 e
2010, p.719) defendem que o resultado agravador somente pode ser culposo, ou seja, a modali-
dade do parágrafo primeiro é exclusivamente preterdolosa.
O legislador define as seguintes situações como resultado qualificador no caso de
embarcações: naufrágio (perda ou inutilização da embarcação), submersão (afundamento) ou
encalhe (ficar presa sem a possibilidade de deslocamento). Em relação às aeronaves o tipo penal
fala de queda (descida brusca ou cair) ou destruição (fazer desaparecer).
O caput prevê pena de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. No caso da forma quali-
ficada pelo resultado (§ 1º) a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Agindo o agente
com a finalidade de obtenção de vantagem econômica para si ou para outrem (§ 2º), a pena de
multa será aplicada cumulativamente com a privativa de liberdade. No sinistro culposo (§ 3º), a
pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Aplica-se a forma culposa as disposições
dos artigos 60, 61 e 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
Quando a conduta do sujeito ativo visar atingir a segurança nacional não responderá
por este delito, mas pelo previsto no art. 15 da Lei n.º 7.170/83.
Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de
transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. § 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b)
dano, destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou
serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o
dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem com a pena
deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.
63
O agente que pratica a conduta matando pessoa determinada que se encontre no in-
terior do meio de transporte e que também atua visando causar perigo comum e concreto para
um número indeterminado de pessoas responderá pelo concurso de delitos previsto na parte final
do art. 70 do Código Penal (concurso formal impróprio).
12 JURISPRUDÊNCIA.
“Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios, incluídos os
praticados contra a segurança do transporte marítimo. Inteligência do art. 109, IX, da Constituição Federal” (STJ –
RHC 1386 – Rel. Fláquer Sacartezzini – JSTJ e TRF-Lex 32/307).
“Atentado contra a segurança de transporte marítimo (caso Bateau Mouche) – Pena – Subjetivismo da decisão judicial
– Aplicação de agravantes em crimes culposos – Admissibilidade – “Se a sentença ao acertar, à luz da prova, a versão do fato
delituoso, enuncia claramente da pena, não é de exigir-se que a menção dessas circunstâncias seja explicitamente
repetida no capítulo dedicado especificamente à dosimetria da sanção aplicada: a base empírica do juízo de valor que
induzir à exasperação da pena pode resultar do contexto da motivação global da sentença condenatória: por isso, não
pode ser considerada inidônea, quanto à motivação da pena a decisão que, além de aludir, no item específico, às
circunstâncias e gravíssimas conseqüências do crime – que são dados objetivos irretorquíveis do caso – ao funda-
mentar a condenação, já se esmerara em demonstrar a existência e a extrema gravidade da culpa, que, para o acórdão,
chega a tangenciar o dolo eventual: são motivos explicitados de exasperação que, em seu conjunto, guardam congru-
ência lógica e jurídica com a severíssima qualificação da pena-base. Não obstante a corrente afirmação apodítica em
64
contrário, além da reincidência, outras circunstâncias agravantes podem incidir na hipótese de crime culposo: assim,
as atinentes ao motivo, quando referidas à valorização da conduta, a qual, também nos delitos culposos, é voluntária,
independentemente da não voluntariedade do resultado: admissibilidade, no caso, da afirmação do motivo torpe – a
obtenção de lucro fácil – que, segundo o acórdão condenatório, teria induzido os agentes ao comportamento impru-
dente e negligente de que resultou o sinistro” (STF – HC 70.362-3 – Rel. Sepúlveda Pertence – RT 730/407).
“Para se caracterizar o delito do art. 261 do CP, é imprescindível que se trate de aeronave destinada ao
transporte coletivo, caso contrário não identifica o ‘perigo comum’” (TACRIM-SP – Rev. – Rel. Jonas Vilhena – RT
287/174 e RF 189/298).
“Compete a justiça federal processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios, incluídos os pra-
ticados contra a segurança do transporte marítimo (STJ, RHC 1386/RJ, Rel. Min. Edson Vidigal, 5ª T., RSTJ 28,
p.161).
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O artigo 262 do Código Penal em seu caput descreve a modalidade básica da conduta
dolosa, quando o agente expõe a perigo meio de transporte público, impede ou dificulta seu
funcionamento causando um perigo concreto. No parágrafo primeiro há a previsão da figura
qualificada pelo resultado desastre. Por fim, o parágrafo segundo prevê a forma culposa quando
da ocorrência do desastre.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O crime é comum, no qual qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o propri-
etário ou funcionário da empresa que presta o serviço de transporte público.
SA QUALQUER PESSOA / CRIME COMUM
Sujeito passivo é a coletividade. Por ser vítima ente que não possui personalidade ju-
rídica o crime é classificado como de sujeito passivo vago. No caso de sinistro também será sujei-
to passivo a pessoa atingida pela conduta do agente.
SP COLETIVIDADE / CRIME VAGO
O objeto material é o meio de transporte público não abrangido pelos artigos antece-
dentes.
O art. 262 do Código Penal pode ser realizado de duas formas diferentes, tratando-se
de crime misto alternativo ou de conteúdo variado. As condutas previstas pressupõem um com-
portamento comissivo ou omissivo impróprio.
O legislador descreve as seguintes condutas típicas:
a) Expor (colocar) a perigo concreto e coletivo outro meio de transporte público.
São os meios de transportes não tutelados nos artigos 260 e 261 do Código, utilizando-se o crité-
rio da exclusão. Por exemplo: os meios de transportes terrestres e o lacustre.
EXPOR A PERIGO CONCRETO E COLETIVO OUTRO MEIO DE TRANS-
PORTE PÚBLICO (EX.: LACUSTRE E TERRESTRE)
b) Impedir (obstar, fazer cessar) ou dificultar (atrapalhar) o funcionamento de outro
meio de transporte criando um perigo concreto e coletivo.
66
O agente atua com o dolo de perigo concreto e coletivo genérico, direto ou eventual.
Não há nenhum elemento subjetivo especial por parte agente em qualquer das modalidades deri-
vadas.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
terminado de pessoas) e formal para Guilherme Nucci (2003, p.745) (consumando-se com a rea-
lização das condutas, sendo o sinistro exaurimento do delito); de forma livre (admite qualquer
meio de execução); comissivo (delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a
posição de garante – art. 13, § 2◦ do Código Penal); instantâneo (a consumação ocorre de forma
imediata); de perigo concreto e coletivo (perigo precisa ser comprovado e a conduta deve ex-
por a risco um número indeterminado de pessoas e coisas); unissubjetivo (exige para a realiza-
ção da conduta apenas um agente); plurissubsistente (conduta praticada por meio de vários
atos); conteúdo variado (pode ser praticado por mais de uma forma, mas a realização delas den-
tro do mesmo fato não caracteriza concurso de crimes); e, não transeunte (é crime que deixa
vestígios).
9 MODALIDADES DERIVADAS.
O parágrafo primeiro do art. 262 prevê a forma qualificada pelo resultado quando a
conduta do agente resulta no sinistro (desastre) em outro meio de transporte público. Desastre
ou sinistro é o acidente grave e complexo que produz risco a um número indeterminado de pes-
soas e coisas. Damásio (1999, p.310) entende que este resultado agravador pode ocorrer de ma-
neira culposa (preterdolo) ou dolosa. Isto significa que o acidente pode ter sido causado pelo
agente pela quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia) ou in-
tencionalmente. Bitencourt (2004, p.210), Nucci (2003, p.745) e Rogério Greco (2008, p.91) de-
fendem que o resultado agravador somente pode ser culposo por ser incompatível nos crimes de
periclitação o agente também atuar com dolo de dano, ou seja, a modalidade do parágrafo 1º é
exclusivamente preterdolosa.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
Quando a conduta do sujeito ativo visar atingir a segurança nacional não responderá
por este delito, mas pelo previsto no art. 15 da Lei n.º 7.170/83.
Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de
transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. § 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b)
dano, destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou
serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o
dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem com a pena
deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.
12 JURISPRUDÊNCIA.
“Comete o crime de perigo contra transporte coletivo quem se põe a dirigir ônibus ciente de que não
sabe fazê-lo, resultando em lesões corporais a passageiros que saltam do coletivo em movimento, atemorizados na
superveniência de mal maior” (TACRIM-SP – AC – Rel. Barreto Fonseca – JUTACRIM 96/132).
“O art. 262 do CP tutela a incolumidade pública e especialmente os meios de transporte. Expõe a pe-
rigo por meio de transporte quem, de forma rudimentar e caseira, adapta seu veículo a GLP. Havendo na adaptação
69
feita ‘pequenos vazamentos’ de gás no interior do veículo (perigo real), é o que basta para tipificar o crime do art. 262
do CP, pois, porventura ocorrendo explosão, o crime é outro mais grave” (TACRIM-SP – AC – Rel. Brenno Mar-
condes – JUTACRIM 87/402).
Forma qualificada
Art. 263. Se de qualquer dos crimes previstos nos artigos 260 a 262, no caso de
desastre ou sinistro, resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o disposto no artigo 258.
COMENTÁRIOS
O art. 263 do Código Penal é classificado como um tipo penal remetido, pois ape-
nas indica que aos artigos antecedentes deste capítulo (art. 260 a 262) aplicar-se-á o disposto no
artigo 258 do Código Penal que estabelece as causas de aumento de pena nos casos de morte e
lesões corporais para os delitos de perigo comum ou coletivo.
ART. 263 ART. 260 A 262 HAVENDO SINISTRO, RESULTANDO EM
MORTE OU LESÃO, APLICA-SE ART. 258 DO CÓDIGO PENAL
Apenas a título de esclarecimento, o artigo 263 do Código Penal (leia-se art. 258) es-
tabelece causas de aumento de pena, apesar de usar a expressão “formas qualificadas”. Aos deli-
tos previstos no capítulo II (arts. 260 ao 262) qualificados pelo resultado morte ou lesão corporal,
seja doloso ou culposo, aplicar-se-á o disposto no art. 258 do CP.
O presente artigo prevê a sanção para o resultado agravador culposo, cuja conduta
antecedente pode ser dolosa (dolo + culpa = preterdolo) ou culposa (culpa + culpa = culposo
qualificado pelo resultado agravador culposo).
Havendo lesão corporal simples na modalidade dolosa, ocorrerá concurso formal de
crimes. Cezar Roberto Bitencourt (2003, p.196) também possui o mesmo entendimento.
LESÃO CORPORAL DOLOSA SIMPLES CONCURSO FORMAL
A primeira parte do artigo descreve o delito qualificado pelo resultado culposo ou
preterdoloso, em que o resultado agravador lesão corporal de natureza grave ou morte é imputa-
da ao agente do crime doloso contra a incolumidade pública a título de culpa. A segunda parte
trata de lesão corporal (culposa) ou morte (culposa) provocada pelo atuar culposo do sujeito ati-
vo do delito de perigo comum. A parte inicial do artigo 258 comina pena privativa de liberdade
aumentada de metade no caso de lesão corporal de natureza grave e aplicada de dobro se resulta
morte. Na parte final do artigo determina que em se tratando de lesão corporal, a pena é aumen-
70
tada de metade, e, na hipótese de morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, au-
mentada de um terço.
2 QUESTÕES RELEVANTES.
Havendo várias vítimas, responderá o agente apenas por um delito qualificado pelo
resultado, excluindo-se o concurso formal. Se do crime resulta morte e lesão corporal aplica-se a
qualificadora morte, por ser mais grave.
VÁRIAS VÍTIMAS – NÃO HÁ O CONCURSO FORMAL / CONCURSO DE
MORTE E LESÃO APLICA-SE A CAUSA DE AUMENTO DE PENA MAIS GRAVE
(MORTE)
Arremesso de projétil
Art. 264. Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao
transporte público por terra, por água ou pelo ar:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses.
Parágrafo único. Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de detenção, de 6
(seis) meses a 2 (dois) anos; se resulta morte, a pena é a do artigo 121, § 3º, aumentada de
um terço.
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O tipo penal estabelece duas disposições. O caput descreve a figura básica dolosa que
consiste no arremesso de projétil contra veículo de transporte público em movimento. No pará-
grafo único estão as modalidades qualificadas pelo resultado culposo (preterdolosas), quando a
conduta resultar em lesão corporal ou morte.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O crime é comum, no qual qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o propri-
etário ou funcionário da empresa que presta o serviço de transporte público.
SA QUALQUER PESSOA / CRIME COMUM
Sujeito passivo é a coletividade. Por ser a vítima ente que não possui personalidade
jurídica o crime é classificado como de sujeito passivo vago. No caso de lesões corporais ou mor-
te também será sujeito ativo a pessoa atingida pela conduta do agente.
SP COLETIVIDADE / CRIME VAGO
O verbo núcleo do tipo é “arremessar” (lançar ou atirar alguma coisa com força de
forma manual ou por meio de aparelho), que descreve uma conduta comissiva, mas para Rogério
Greco (2010, p.723) também um comportamento omissivo impróprio. O instrumento do crime
será “projétil” que é qualquer corpo sólido e pesado, que se move no espaço, depois de receber
um impulso. Para Guilherme Nucci (2003, p.746) também se inclui o projétil arremessado por
arma de fogo. Discordamos do referido autor, por entendermos que o arremesso, que significa
“disparo” de projétil no caso de arma de fogo, configura o tipo penal do art. 15 da Lei n.º
10.826/03 (Estatuto do Desarmamento).
Art. 15 da Lei n.º 10.826/03: Disparar arma de fogo ou acionar munição em qualquer lugar habitado
ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a
prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
O tipo exige que o projétil seja arremessado contra veículo em movimento, indepen-
dentemente da velocidade em que se encontra. Dever-se-á no caso deste artigo compreender que
estar o veículo em movimento é ele se encontrar no trânsito ainda que momentaneamente parado
(p. ex.: estar o ônibus parado no sinal vermelho aguardando o sinal verde). Se o arremesso do
projétil ocorrer contra veículo estacionado, a conduta será atípica. É relevante frisar que o veículo
72
precisa estar a serviço de transporte coletivo (público ou privado), não sendo relevante o modo
de tração, ou seja, se mecânico ou animal.
MEIO DE TRANSPORTE PARADO (ESTACIONADO) NÃO É PROTEGI-
DO, SOMENTE AQUELE QUE SE ENCONTRA EM MOVIMENTO AINDA QUE TEM-
PORARIAMENTE PARADO (EX.: AGUARDANDO A ABRIR O SINAL VERDE)
Não é qualquer projétil que pode ser lançado, mas somente aquele que tenha a capa-
cidade de expor a risco um número indeterminado de pessoas ou coisas. Para Damásio (1999,
p.316) o crime é de perigo presumido. Noutro sentido, Rogério Greco (2008, p.96) entende que o
delito é de perigo concreto, vez que o projétil lançado deve ter o condão de criar o perigo para
um número indeterminado de pessoas e coisas.
O objeto material do crime é o veículo em movimento, o qual o agente arremessa o
projétil.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
Para os autores que defendem que o crime é de perigo abstrato (Bitencourt 2004,
p.213 e Damásio 1999, p.316), a consumação ocorre com o lançamento do projétil ainda que o
agente não consiga atingir o veículo (crime de mera conduta). Como não é necessário que o pro-
jétil atinja o veículo e que se crie o perigo concreto, não se admite tentativa.
PERIGO ABSTRATO E CRIME DE MERA CONDUTA – NÃO SE ADMITE
TENTATIVA
73
Aos autores que defendem que o crime é de perigo concreto (Rogério Greco
2008:96), a consumação ocorrerá com o arremesso do projétil capaz de gerar perigo para um
número indeterminado de pessoas e coisas (crime formal). Admite-se a tentativa.
PERIGO CONCRETO E CRIME FORMAL – ADMITE TENTATIVA
Em virtude do tipo penal não exigir expressamente a ocorrência do perigo concreto,
apenas que o projétil seja arremessado, nos filiamos a primeira corrente doutrinária.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O delito do artigo 264 do Código Penal é classificado como: comum (qualquer pes-
soa pode praticá-lo); de perigo abstrato (se exige apenas que o agente arremessa o projétil inde-
pendentemente do perigo causado) ou de perigo concreto (entende-se que o arremesso do pro-
jétil tem que criar perigo efetivo que deverá ser comprovado); de perigo coletivo (tipo penal
protege a incolumidade pública); mera conduta (prevê apenas a conduta, não exigindo a ocor-
rência de qualquer resultado naturalístico) ou formal (consuma-se com a prática da conduta, ape-
sar de prever um resultado naturalístico que não precisa ocorrer); de forma livre (admite qual-
quer meio de execução), para Rogério Greco (2010, p.722), o crime é de forma vinculada (pois
o legislador determina que a conduta seja praticada mediante arremesso de projétil); comissivo
(delito de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, §
2◦ do Código Penal, e para aqueles que defendem ser o crime material); instantâneo (a consuma-
ção ocorre de forma imediata); unissubsistente (para aqueles que defendem não ser possível a
tentativa, isto é, o agente arremessa ou não o projétil, não se admitindo o fracionamento da con-
duta) ou plurissubsistente (para quem defende que é admissível a tentativa, vez que a conduta
pode ser fracionada); unissubjetivo (basta uma única pessoa para praticá-lo); e, não transeunte
(é crime que deixa vestígios).
9 MODALIDADE DERIVADA.
O parágrafo único do art. 264 do Código Penal prevê uma qualificadora e uma causa
de aumento de pena em face do resultado agravador culposo, isto quer dizer que ambas as moda-
lidades são previstas de forma preterdolosa (dolo na conduta antecedente arremesso, e culpa na
conseqüente, resultado lesão corporal ou morte). A pena será de detenção, de 6 (seis) meses a 2
74
(dois) anos se do arremesso do projétil resultar lesão corporal culposa; e, aplicar-se-á a pena do
art. 121, § 3º do Código Penal (homicídio culposo) aumentada de um terço se resultar em morte.
RESULTADO AGRAVADOR PRETERDOLOSO
QUALIFICADORA: ARREMESSO (DOLO) + LESÕES CORPORAIS (CULPA)
CAUSA DE AUMENTO DE PENA: ARREMESSO (DOLO) + MORTE (CUL-
PA)
Ocorrendo lesões corporais ou morte, em face de caso fortuito ou força maior, o a-
gente responderá apenas pela sanção prevista no caput do artigo.
11 QUESTÕES RELEVANTES
Caso o agente queira atingir pessoa determinada deverá ser responsabilizado pelo art.
121 ou art. 129, devendo-se constatar qual foi sua intenção.
Não importa não quantas pessoas sofram lesões corporais ou faleçam na forma do
parágrafo único, o agente responderá uma única vez pelo resultado agravador.
No concurso de morte e lesões aplicar-se-á ao sujeito ativo apenas o aumento de pe-
na previsto para a morte, isto é, incide o aumento de pena apenas para o resultado mais grave.
O agente que pratica a conduta matando pessoa determinada que se encontre no in-
terior do meio de transporte e que também atua visando causar perigo comum para um número
indeterminado de pessoas responderá pelo concurso de delitos previsto na parte final do art. 70
do Código Penal (concurso formal impróprio).
Quando a conduta for dirigida à veículo particular, o sujeito ativo pratica o delito de
dano (art. 163 do Código Penal)
75
12 JURISPRUDÊNCIA
Agente que arremessa pedra contra coletivo – Alegação de que o mesmo não estava em movimento – “O preceito legal
do art. 264 do CP pressupõe trânsito em termos de transporte de passageiros, já que estes, e não a coisa material, são
objeto da proteção penal”. (TACRIM-SP – AC 352.191 – Rel. Gomes de Amorim).
“Não exclui o crime do art. 264 do CP a escusativa de legítima defesa sem comprovação, como não o
exclui, também, a afirmação do agente de não ter tido a intenção de atingir pessoalmente o motorista do coletivo,
alvo de uma pedrada. Crime de perigo que se esgota com arremesso de uma pedra para causar dano a veículo de
transporte urbano. Quando o objeto atinge a outrem, no veículo, caracteriza-se a forma qualificada da infração”
(TARJ – AC – Rel. Erasmo do Couto – RT 500/389).
COMENTÁRIOS
1 BEM JURÍDICO. RESULTADO NORMATIVO.
O bem jurídico protegido é a incolumidade pública, que neste delito está vinculada
aos serviços de utilidade pública (água, luz, força ou calor, ou qualquer outro imprescindível, com
exceção do serviço de telefonia que se enquadrará no art. 266 do Código Penal). Tutela-se
indiretamente a vida, integridade física e patrimônio de um número indeterminado de pessoas.
O resultado normativo é a a efetiva afetação ao bem jurídico protegido, resultado de
uma conduta dolosa oriunda de um incremento de risco. É irrelevante para a sua ocorrência
qualquer resultado naturalístico.
2 MODALIDADES TÍPICAS.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Por se tratar de crime comum, pode ser sujeito ativo qualquer pessoa, inclusive
funcionário ou o responsável pelo fornecimento do serviço de utilidade pública.
SA CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA
Sujeito passivo é coletividade. Portanto, trata-se de crime de sujeito passivo vago.
Também será vítima a pessoa prejudicada na forma prevista no parágrafo único.
SP COLETIVIDADE – CRIME VAGO
O tipo do artigo 265 do Código Penal não prevê nenhum elemento normativo do ti-
po.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
O crime do art. 265 do Código Penal se consuma com qualquer ato atentatório con-
tra a segurança e funcionamento dos serviços de utilidade pública tutelados. Por considerarmos
ser o delito de perigo abstrato basta ao agente a realização da conduta independentemente do
risco efetivamente produzido. Bitencourt (2004, p.215) e Damásio (1999, p.320) admitem a tenta-
tiva apesar de considerá-la de difícil ocorrência. Guilherme Nucci (2003, p.749) é contrário a sua
possibilidade, por entender que o ato de “tentar atentar” já indica consumação do delito.
CONSUMAÇÃO COM A CONDUTA ATENTATÓRIA (PERIGO ABSTRATO)
DIVISÃO NO ENTENDIMENTO EM RELAÇÃO À TENTATIVA
78
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
9 MODALIDADE DERIVADA.
O parágrafo único deste artigo 265 do Código Penal foi inserido pela Lei n.º
5.346/67, desta forma não constava na redação original do dispositivo.
O texto do parágrafo define uma causa de aumento de natureza jurídica dolosa que
eleva a pena do caput de 1/3 (um terço) até a 1/2 (metade) com a ocorrência do dano (é crime de
dano) em face da subtração (retirar da posse do proprietário e possuidor sem autorização) de
materiais essenciais (fundamentais) ao funcionamento dos serviços protegidos.
CAUSA DE AUMENTO DE PENA – SUBTRAÇÃO QUE CAUSA DANO E-
FETIVO
79
Damásio (1999, p.321) defende a idéia de que a causa de aumento somente se confi-
gura se da subtração praticada pelo agente acontecer o dano efetivo, caso contrário, responderá
apenas pelo caput do artigo.
Nucci (2003, p.748) afirma que esta causa de aumento de pena é de natureza culposa
(dolo antecedente + culpa conseqüente = preterdolo), vez que o agente age com dolo de perigo
na conduta antecedente (atentar), não sendo possível também atuar na conduta conseqüente
(subtração e dano) com dolo de dano. Discordamos deste posicionamento, pois não consegui-
mos vislumbrar como a subtração pode ocorrer de forma culposa.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
ou serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena au-
menta-se até o dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem
com a pena deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.
12 JURISPRUDÊNCIA
“Não se inclui entre os serviços de utilidade pública amparados pelo art. 265 do CP o que diz respeito
ao funcionamento de escolas” (TJSP – HC – Rel. Sylvio Barbosa – RT 298/69).
Interrupção de energia elétrica – Réus que a provocam, ao praticarem o furto dos fios – Delito da competência da Justiça
Federal – “Não há dúvida de que o fornecimento de energia elétrica é serviço federal. Está dito no art. 8º, XV, b, da
Constituição do Brasil, que compromete à União explorar, diretamente ou mediante autorização ou concessão, os
serviços e instalações de energia elétrica e qualquer origem ou natureza. Se, ao furtarem os fios elétricos, provocarem
os réus a interrupção do fornecimento da eletricidade, incidiram no art. 265 do CP, cuja apreciação e julgamento
compete à Justiça Federal (TJSP – CJ – Rel. Acácio Rebouças – RT 400/140).
“Para a configuração do crime do art. 265 do CP, é preciso que tenha como elemento material um agir
que se apresente de maneira mais ou menos extensa, vindo a perturbar aqueles serviços mencionados de maneira
expressa no texto legal” (TJSP – AC – Rel. Onei Raphael – RJTJSP 9/607).
“Comete o delito de atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública aquele que frustra o
esquema de consultas e atendimento estruturado pelo Posto do INSS, promovendo tumultos em frente ao prédio,
furando a fila de distribuição das fichas e arrancando-as das mãos da funcionária que estava distribuindo, impedindo,
assim, que as pessoas necessitadas e que já estavam na fila há algum tempo conseguissem obter fichas (TJRS, Ap.
Crim. 70011262623, 4ª Câm. Crim., Rel. José Eugênio Tedesco, pub. 21/10/2005).
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o responsável pela prestação do
serviço, tratando-se de crime comum.
SA CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA
O sujeito passivo é coletividade, por esta razão assim como os delitos anteriores
também é classificado como crime de sujeito passivo vago (crime vago). Também será sujeito
passivo a pessoa diretamente prejudicada em virtude da conduta do agente (parágrafo único).
SP COLETIVIDADE – CRIME VAGO
pelas duas condutas em concurso de crimes, vez que o impedir ou dificultar o restabelecimento
seria postfactum impunível da primeira conduta.
CRIME DE CONTEÚDO VARIADO OU MISTO (HÁ DIVERGÊNCIA SO-
BRE SER ALTERNATIVO OU CUMULATIVO)
O delito do artigo 266 do Código Penal é praticado com dolo de perigo abstrato e
coletivo genérico, direto ou eventual. Não é exigida nenhuma finalidade especial por parte do
agente e inexiste a modalidade culposa.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
9 MODALIDADE DERIVADA.
co). Aplica-se ao caput do artigo, a suspensão condicional do processo prevista no art. 89 da Lei
n.º 9.099/95.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
Quando a conduta praticada visar atingir a segurança nacional, o delito será o do art.
15 da Lei n.º 7.170/83.
Art. 15 - Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de
transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres. Pena:
reclusão, de 3 a 10 anos. § 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b) dano,
destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou serviços
públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o dobro; c)
morte, a pena aumenta-se até o triplo. § 2º - Punem-se os atos preparatórios de sabotagem com a pena deste artigo
reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave.
12 JURISPRUDÊNCIA
“O agente que permanece em linha telefônica, perturbando com dolo intenso o serviço telefônico da
Polícia Militar, pratica o delito previsto no art. 266 do CP, bastando, para a caracterização do referido delito o perigo
de dano presumido” (TACRIM-SP – AC 792.771-0 – v.v do Juiz José Valério – RJDTACRIM 23/252).
Interrupção ou perturbação de serviço telefônico – Crime não configurado – Ausência de dolo específico – Instalação de
aparelhos clandestinos – Caso de furto de energia elétrica – Inteligência dos arts. 155, § 4º, e 226 do CP – “É essencial à configu-
ração do crime previsto no art. 266 do CP o dolo específico consistente em desejar o agente interromper ou pertur-
bar o serviço telefônico ou telegráfico” (TJSP – AC – Rel. Vasconcellos Leme – RT 203/95).
“Perturbação de serviço telefônico. O agente que liga para o n.º 190, a fim de passar um trote, ofen-
dendo os policiais militares que lá trabalham, não comete o crime previsto no art. 266 do CP, que exige a presença
do dolo específico, qual seja, a vontade livre e consciente de perturbar o serviço telefônico. Absolvição decretada.
(TJRS, Ap. Crim. 700008081531, 4ª Câm. Crim., Rel. Constantino Lisbôa de Azevedo, j. 6/5/2004).
86
CAPÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
COMENTÁRIOS
O Capítulo III do Título VIII da Parte Especial do Código Penal protege a Incolu-
midade Pública, relacionada ao bem jurídico Saúde Pública. Entende-se por Saúde Pública a so-
matória de vários bens jurídicos vinculados ao ser humano, como a vida, a integridade física e
mental de um número indeterminado de pessoas. Estes crimes estão definidos nos arts. 267 a 285
do Código Penal.
SAÚDE PÚBLICA = VIDA + INTEGRIDADE FÍSICA E MENTAL.
É relevante explicar que a saúde nestes tipos penais não é protegida de forma indivi-
dual. Quando esta for o bem jurídico que o sujeito ativo pretende lesionar, poderá estar configu-
rado um dos delitos previstos no capítulo dos crimes de periclitação da vida e da saúde (arts. 130
a 136 do CP). Os crimes contra Saúde Pública também são crimes de perigo coletivo que será
abstrato ou concreto, conforme formos estudando os dispositivos.
CONDUTA VISA PESSOA DETERMINADA CRIMES DE PERICLITA-
ÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE / CRIMES DE PERIGO COLETIVO: ABSTRATO OU
CONCRETO.
Epidemia
Art. 267. Causar epidemia, mediante a propagação de germes pa-
togênicos:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos.
§ 1º. Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
§ 2º. No caso de culpa, a pena é de detenção, de 1 (um) a 2 (dois)
anos, ou, se resulta morte, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O tipo penal do art. 267 do CP possui três disposições típicas. No caput o legislador
apresenta a forma básica dolosa, que consiste na causação da epidemia de forma intencional (dolo
direto ou eventual). O parágrafo primeiro prevê uma causa de aumento de penal em face do re-
sultado agravador culposo (preterdolosa), quando a epidemia criada pelo agente causa a morte
não intencional de uma ou mais pessoas. Por fim, o parágrafo segundo na parte introdutória de-
fine a epidemia culposa; e na sua parte final prevê uma qualificadora pelo resultado (crime culpo-
so com resultado qualificador culposo), quando da epidemia provocada pelo agente de forma não
intencional resulta na morte de uma ou mais pessoas.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa (crime comum), independente-
mente de estar contaminada ou não pelos germes patogênicos. O sujeito passivo é a coletividade
(sociedade) que será atingida diretamente pela propagação da doença. Bitencourt (2004, p.222)
afirma que o Estado é o sujeito passivo imediato, por entender que este se confunde com a cole-
tividade.
SA QUALQUER PESSOA – CRIME COMUM / SP É A COLETIVIDADE
A conduta típica é causar que tem o sentido de provocar, gerar epidemia. O verbo
“causar” tem o sentido de ação, mas também pode ser realizada via omissão imprópria. O concei-
to de epidemia apresentado por Bitencourt (2004, p.222) fruto da elaboração de Bento de Faria é
88
“o surto de uma doença acidental e transitória, que ataca um grande número de indivíduos, ao mesmo tempo, em
determinado país ou região”. Rogério Greco (2010, p.726) assim define epidemia, “por epidemia deve ser
entendida uma doença que surge rapidamente em determinado lugar e acomete simultaneamente grande número de
pessoas”.
CAUSAR EPIDEMIA FAZER COM QUE UMA DOENÇA PROPAGUE
RAPIDAMENTE EM VÁRIAS PESSOAS.
O objeto material são os germes patogênicos. Conforme o tipo penal descreve, a epi-
demia será causada pela propagação (disseminação, espalhar, difundir) de germes patogênicos. Gui-
lherme Nucci (2003, p.750) conceitua germes patogênicos como sendo “os microorganismos capazes de
gerar doenças, como os vírus e as bactérias”.
PROPAGAÇÃO GERMES PATOGÊNICOS.
GERMES PATOGÊNICOS ORGANISMOS CAPAZES DE CAUSAR MO-
LÉSTIAS (VÍRUS E BACTÉRIAS).
O delito do art. 267 somente estará configurado se um número indeterminado de
pessoas forem contaminadas pelos germes patogênicos causadores da doença. Se a intenção do
agente é provocar a doença em apenas uma pessoa determinada, responderá pelo delito do art.
131 do Código Penal (perigo de contágio de moléstia grave).
VÁRIAS PESSOAS TÊM QUE SER ATINGIDAS PELA DOENÇA.
AGENTE VISA ATINGIR UMA ÚNICA PESSOA DETERMINADA – ART.
131 DO CÓDIGO PENAL.
É importante esclarecer que epidemia não se confunde com pandemia e endemia. Pande-
mia é disseminação de uma doença em vários lugares de um país ou no planeta. Já endemia é a do-
ença que surge freqüentemente ou permanentemente em um determinado lugar e ai se mantém.
DIFERENÇAS ENTRE EPIDEMIA, PANDEMIA E ENDEMIA.
O tipo penal no caput é praticado com dolo de perigo coletivo e concreto genérico
que pode ser direto ou eventual. Entretanto, encontramos na doutrina entendimento de que o
perigo neste delito é abstrato (não precisa ser demonstrado), ao invés de concreto.
89
Guilherme Nucci (2003, p.750) considera que o tipo penal não possui elemento sub-
jetivo especial ou específico. Contrariamente a este entendimento, encontramos Cezar R. Biten-
court (2004, p.222) que entende que o fim especial de agir do sujeito ativo está contido na inten-
ção de causar a epidemia mediante a propagação de germes patogênicos. A nosso ver assiste razão à Gui-
lherme Nucci, pois a utilização dos germes patogênicos para a propagação da epidemia é meio
material usado pelo agente e não uma intenção específica.
O erro quanto à potencialidade infecciosa dos germes patogênicos exclui o dolo e,
conseqüentemente, o crime (erro de tipo).
ERRO QTO À CAPACIDADE INFECCIOSA EXCLUI O DOLO E O CRI-
ME.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O crime de epidemia é classificado como crime: comum (qualquer pessoa pode pra-
ticá-lo); material para Damásio (1999, p.331) e Guilherme Nucci (2003, p.750) (exige um resul-
tado naturalístico que ocorre com a propagação da doença para um número indeterminado de
pessoas), e formal para Bitencourt (2004, p.223) (por entender que a conduta do agente não cau-
sa transformação no mundo exterior, ou seja, não possui um resultado naturalístico); instantâ-
neo (a consumação ocorre com a contaminação das pessoas); comissivo (delito de ação – verbo
núcleo é causar) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, §
2◦ do Código Penal, e desde que definido como crime material); de perigo concreto (parte da
90
doutrina entende que se deverá demonstrar o perigo efetivo) ou de perigo abstrato (para aqueles
que o perigo não precisa ser comprovado, sendo necessária apenas a realização da conduta – vide
Delmanto (1991, p.415); unissubjetivo (basta um agente para realizá-lo); plurissubsistente (a
conduta do agente é fracionável em vários atos). Guilherme Nucci considera que também pode
ser unissubsistente (quando a epidemia for provocada por meio de um único ato. Neste caso
seria inadmissível a tentativa). O crime ainda é classificado como de forma vinculada (o legisla-
dor descreve a forma genérica de praticar a conduta “causar epidemia”, e depois explicita de forma
particularizada como esta ocorrerá “mediante a propagação de germes patogênicos”). Por fim, o crime é
definido como não transeunte (é crime que deixa vestígios).
9 MODALIDADES DERIVADAS.
A pena do agente será dobrada quando este em virtude da epidemia provocada cau-
sar a morte de uma ou mais pessoas. Este resultado agravador é gerado de forma culposa (quase
sempre com culpa consciente). Não há a incidência de concurso de crimes neste caso, uma vez
que o legislador define que o aumento de pena se dará em virtude do resultado morte, não deli-
mitando sua quantidade. Se, entretanto, o agente quis causar a morte responderá pelo concurso
formal ou material de crimes (dependendo do modus operandi).
RESULTADO AGRAVADOR CULPOSO (MODALIDADE PRETERDOLOSA)
11 QUESTÕES RELEVANTES.
12 JURISPRUDÊNCIA.
Em temas de crimes contra a saúde pública, sem laudo pericial afirmando que a substância se tornara
nociva à saúde descabe ação penal, posto não haver crime a punir. (TJSC, RCr. 8104, Rel. Tycho Brahe, RT617,
p.333).
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADE TÍPICA.
O tipo penal traz apenas a figura básica dolosa prevista no caput do artigo.
3 SUJEITOS DO DELITO.
“Art. 1º Para efeitos da disposição da Lei a. 6.259, de 30 de outubro de 1975, e de sua regulamentação, constituem
objeto de notificação compulsória as doenças a seguir relacionadas:
1 — Em todo o território nacional: cólera, coqueluche, dengue, difteria, doença meningocócica e outras meningites, doença
de Chagas (casos agudos), febre amarela, febre tifóide, hanseníase, leishmaniose tegumentar e visceral, oncocercose, peste,
poliomielite, raiva humana, rubéola e síndrome de rubéola congênita, sarampo, sífilis congênita, síndrome de imunodefici-
ência adquirida (Aids), tétano, tuberculose, varíola, hepatites virais.
II — Em áreas específicas: esquistossomose (exceto nos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Alagoas, Pernambuco e Sergipe), filariose (exceto Belém), malária (exceto na região da Amazônia Legal).
Art. 2º Outras doenças poderão ser consideradas de notificação compulsória, no âmbito da unidade federada que assim
as considere, mediante prévia justificativa, submetida ao Ministério da Saúde.
Art. 3º A sistemática referente ao fluxo da notificação, a investigação epidemiológica e às medidas de controle das doen-
ças medicadas obedecerá às normas estabelecidas pela Fundação Nacional de Saúde, consultados os órgãos competentes
do Ministério da Saúde”.
O presente tipo penal somente pode ser praticado com dolo de perigo coletivo abs-
trato genérico e direto, pois se exige que o agente não queira notificar às autoridades sanitárias ou
de saúde a doença de notificação obrigatória no prazo determinado legalmente. Não há elemento
subjetivo especial ou específico, e o delito não pode ser realizado de forma culposa.
DOLO SEM FIM ESPECIAL / INEXISTE MODALIDADE CULPOSA
95
6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
9 QUESTÃO RELEVANTE.
Como vimos no tipo penal do artigo 269 do Código Penal, o médico é obrigado a
notificar a existência de determinadas doenças à autoridade competente, em virtude da exigência
legal. Quando se estuda este delito, surge a dúvida se ele não estaria com conflito com o tipo pe-
nal do art. 154 do Código Penal (violação de segredo profissional). A doutrina pátria é unânime
em afirmar que não, vez que a descrição típica deste artigo fala em revelação do segredo “sem
justa causa” (elemento normativo). Em face da obrigatoriedade da notificação estará afastado o
elemento normativo e o médico em conseqüência não pratica o delito.
O MÉDICO NÃO QUEBRARÁ O SIGILO PROFISSIONAL, POIS TERÁ
“JUSTA CAUSA” P/ INFORMAR À AUTORIDADE SOBRE A DOENÇA
10 JURISPRUDÊNCIA
“Omissão de notificação de doença – Febre Tifóide – Imputação a farmacêutico – “A denúncia à autoridade públi-
ca de doença cuja notificação é compulsória só é exigível do médico e não também do farmacêutico” (TACRIM-SP
– AC – Rel. Rafael Granato – RT 492/355).
“Desobediência – Delito caracterizado em tese – Médico que, em nome do sigilo profissional, se recusa a fornecer esclare-
cimento à Justiça, acerca de crime de que fora vítima a sua paciente – Inquérito, entretanto, instaurado por solicitação desta – Ausência,
pois, de constrangimento ilegal – “Habeas corpus” – Denegado – Inteligência dos arts. 330, 269 e 154 do CP – “O dever de guar-
dar segredo profissional não é absoluto. O que a lei proíbe é a revelação ilegal, a que tenha por móvel a simples levi-
andade, a jactância, a maldade” (TJSP – HC – Rel. Márcio Bonillha – RT 515/316).
97
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, tratando-se de delito comum. Também po-
de ser autor do delito o proprietário da água potável ou das substâncias destinadas ao consumo.
SA QUALQUER PESSOA – CRIME COMUM.
O sujeito passivo é a sociedade ou a coletividade. Desta forma o presente delito pode
ser classificado como crime de sujeito passivo vago, pois tem como sujeito passivo entidade que
não possui personalidade jurídica. Também será vítima a pessoa eventualmente atingida pela
conduta do agente.
SP COLETIVIDADE.
Se a intenção do agente era a de matar, responderá pelo crime do art. 121, § 2º, III do
Código Penal (homicídio qualificado pelo emprego de veneno).
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O tipo penal possui as seguintes classificações: crime comum (qualquer pessoa pode
ser sujeito ativo); formal (a maior parte da doutrina entende que o crime se consuma com o en-
venenamento do objeto material independentemente do resultado que é a causação do dano pelo
consumo do veneno) ou material (posição que adotamos, que entende que é necessária a criação
do perigo efetivo para um número indeterminado de pessoas para se consumar); de forma livre
(admite qualquer forma de execução); perigo coletivo (expõe a perigo a saúde pública, bem jurí-
dico atinente a um número indeterminado de pessoas); perigo abstrato (para aqueles autores que
entendem que basta introduzir o veneno na água potável ou substância destinada ao consumo
independentemente de comprovação do perigo) ou perigo concreto (para quem defende a ne-
cessidade de comprovação do perigo efetivo para um número indeterminado de pessoas com a
realização da conduta); instantâneo (consuma-se imediatamente com a prática da conduta ou
101
9 MODALIDADES DERIVADAS.
Responderá pela mesma sanção prevista no caput, o agente que entrega ao consumo a
título oneroso ou gratuito ou mantém em depósito para ser distribuída (colocada no mercado
consumidor) a água potável envenenada ou as substâncias alimentícias ou medicinais envenena-
das.
RESPONDE PELAS PENAS DO CAPUT, QUEM ENTREGA A CONSUMO
OU MANTÉM EM DEPÓSITO A ÁGUA POTÁVEL OU AS SUBSTÂNCIAS JÁ DESCRI-
TAS.
Se o sujeito envenena a água ou substância e, depois a entrega a consumo, responde
apenas pela primeira conduta em virtude do princípio da consunção (a segunda conduta é exau-
rimento impunível).
SE O ENVENAMENTO DA ÁGUA OU DA SUBSTÂNCIA É REALIZADO
PELO AGENTE P/ DEPOIS ENTREGAR, A 2ª CONDUTA SERÁ IMPUNÍVEL.
de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Aplica-se ao parágrafo segundo as disposições dos artigos 60, 61
e 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
12 JURISPRUDÊNCIA.
“O conceito de potabilidade para os fins do art. 270 do CP é relativo e dado em função do uso que as
populações fazem da água” (TRF – AC. 6.710 – Rel. Dias Trindade – JTRF-Lex 59/318).
“O objeto da tutela jurídica no delito do art. 270 do CP é a saúde pública, que se protege contra o pe-
rigo de envenenamento. O crime que se consuma independentemente do resultado só se aperfeiçoa quando o perigo
103
atinge a vida ou a saúde de um número indefinido de pessoas, não apenas um número limitado delas” (TJSP – AC. –
Rel. Humberto da Nova – RT 453/355).
“Envenenamento de substância alimentícia – Leite – “Assim como o envenenamento de uma fonte de água,
do uso público pode acarretar o perigo comum, justificando a punição, também a fonte animal de produtos alimentí-
cios, quando envenenada, reclama igual repressão. O que predomina no enquadramento penal é o sentido mais alto
da proteção da saúde pública” (TJSP – AC – Rel. Martins Ferreira – RT 270/136).
Apesar de se tratar de poço situado em propriedade particular, verifica-se que o consumo da água era
destinado a todos os que a ele tinha acesso, de modo que eventual envenenamento dessa água configuraria, em tese,
o crime do art. 270 do Código Penal, cuja ação penal é pública incondicionada, nos termos do art. 100 do Código
Penal (STJ, Processo 200600449378, HC/PI, Rel.ª Laurita Vaz, pub. 7/2/2008).
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O tipo penal do artigo 272 contém quatro figuras típicas diversas. No caput há a pre-
visão da forma básica dolosa quando o agente pratica condutas dirigidas às substâncias alimentí-
cias destinadas ao consumo, tornando-as maléficas à saúde ou diminuindo seu valor nutritivo. O
§ 1º-A traz um tipo penal doloso equiparado ao do caput prevendo outras modalidades de condu-
tas não abrangidas por ele. O § 1º também descreve um tipo penal doloso equiparado ao do caput,
mas protege especificamente aqui, as bebidas com ou sem teor alcoólico. Finalmente, no § 2º o
legislador fez previsão da conduta típica culposa.
105
3 SUJEITOS DO DELITO.
O crime do art. 272 no seu caput é um tipo penal misto ou de conteúdo variado alter-
nativo (independentemente da quantidade de condutas realizadas pelo agente, ele responderá uma
única vez pelo delito), pois prevê quatro verbos núcleos. Estas condutas descritas são: corromper
(estragar, tornar podre); adulterar (contrafazer, deformar ou deturpar para pior); falsificar (imitar
fraudulentamente, modificar para iludir); e, alterar (mudar, modificar, transformar).
VERBOS NÚCLEOS CORROMPER (ESTRAGAR) / ADULTERAR (MO-
DIFICAR) / FALSIFICAR (IMITAR) / ALTERAR (MODIFICAR).
Damásio (1999, p.350) afirma que os núcleos “corromper” e “adulterar” podem ser
cometidos de forma comissiva ou omissiva própria, e o verbo “falsificar”, somente poderá ocor-
rer comissivamente. Ele nada diz sobre o verbo alterar. Concordamos com o autor que o verbo
“corromper”, por também ter o sentido de estragar, pode ser praticado comissivamente, porém,
na forma omissiva, só na imprópria. Entretanto, em relação a “adulterar” e “alterar”, acreditamos
que ocorre comissivamente ou na forma omissiva imprópria, desde que o agente tenha a função
de garante. Na modalidade omissiva própria estas condutas não seriam possíveis.
DAMÁSIO DE JESUS: - CORROMPER E ADULTERAR COMISSIVO OU
OMISSIVO PRÓPRIO / - FALSIFICAR SÓ COMISSIVO
O objeto material do delito é “a substância ou produto alimentício destinado a con-
sumo”. Estas substâncias e produtos são aqueles cujo objetivo é nutrir o organismo de um núme-
ro indeterminado de pessoas. Porém, não é suficiente que a substância ou produto alimentícios
sofram as condutas previstas no tipo, é fundamental que se transformem em substâncias nocivas
à saúde da coletividade. Guilherme Nucci (2003, p.757) define substâncias ou produtos nocivos
à saúde: “significa algo prejudicial às normais funções orgânicas, físicas e mentais. Destaque-se que a nocividade à
saúde não diz respeito às condutas típicas, mas sim ao produto alimentício destinado a consumo, de modo que este
106
somente se torna objeto do crime quando for prejudicial às funções orgânicas, físicas e mentais, do ser humano.
Delmanto (1991, p.420) também entende que só haverá o delito, se a substância for efetivamente
nociva, caso contrário, não.
OBJETO MATERIAL: SUBSTÂNCIA OU PRODUTO ALIMENTÍFICO DES-
TINADO AO CONSUMO DE UM NÚMERO INDETERMINADO DE PESSOAS.
O OBJETO MATERIAL TAMBÉM PRECISA SER NOCIVO À SÁUDE DESTE
NÚMERO INDETERMINADO DE PESSOAS.
Além de substâncias nocivas à saúde, o crime também se configura com a redução do
valor nutritivo dos alimentos. Redução do valor nutritivo é a perda das propriedades existentes na
substância ou produto que servem para alimentar, sustentar e satisfazer as necessidades vitais do
indivíduo que são obtidas por meio destes bens de consumo.
Por ser delito de perigo coletivo, é imprescindível, que o produto ou as substâncias
alimentícias sejam destinados ao consumo de um número indeterminado de pessoas.
SUBSTÂNCIA DEVE SER DESTINADA AO CONSUMO DE VÁRIAS PES-
SOAS – PERIGO COLETIVO.
Se a corrupção, alteração, adulteração ou falsificação forem dirigidas à produtos ali-
mentícios de uma ou pessoas determinadas, o crime praticado pelo agente não será este do art.
272, mas sim o crime de perigo para vida ou saúde de outrem, descrito no art. 132 do Código
Penal.
UMA OU POUCAS PESSOAS VISADAS PELO AGENTE ART. 132 (PERI-
GO P/ VIDA OU SAÚDE DE OUTREM)
Por ser crime que deixa vestígios a nocividade ou a perda do valor nutritivo do ali-
mento deve ser verificada pericialmente (art. 158 do Código de Processo Penal).
NOCIVIDADE DEVE SER COMPROVADA PERICIALMENTE.
As modalidades equiparadas dos §§ 1º-A e 1º serão analisadas no item relativo às
modalidades derivadas.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
O crime do art. 272 do Código Penal se consuma com a criação do perigo concreto
para um número indeterminado de pessoas, em face da conduta praticada pelo sujeito ativo (cor-
romper, adulterar, falsificar e alterar). Desta forma, é necessária a demonstração e causação do
perigo, entendemos ser o crime material.
CONSUMAÇÃO: CAUSAÇÃO DO PERIGO CONCRETO PARA UM NÚME-
RO INDETERMINADO DE PESSOAS.
É mister esclarecer que este entendimento não é uniforme na doutrina, pois Gui-
lherme Nucci (2003, p.757) classifica este delito como sendo de perigo abstrato (não precisa ser
demonstrado) e formal (o resultado que é dano à saúde está previsto, mas não é necessário ocor-
rer). Discordamos, entretanto, desse autor, em virtude da compreensão de que a nocividade e a
perda do valor nutritivo dos alimentos têm que ser demonstrados pericialmente, e por que as
condutas realizadas têm que gerar um perigo concreto e efetivo para um número indeterminado
de pessoas. A simples prática de qualquer das condutas seria insuficiente para a consumação do
delito. Admite-se em todas as formas a tentativa.
ADMITE-SE A TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O delito do art. 272 do Código Penal é classificado como: crime comum (qualquer
pessoa pode realizá-lo); material (para aqueles que entendem que o resultado perigo concreto
108
precisa ocorrer para se consumar) ou formal (para os autores que defendem que o resultado que
é o dano à saúde de um número indeterminado de pessoas, não é exigido para a consumação do
delito); perigo concreto (majoritária – o perigo ao bem jurídico tem que ser comprovado) ou
perigo abstrato (minoritária – não exige a comprovação do perigo, sendo necessária apenas a
realização da conduta); perigo coletivo (tem que expor a risco o número indeterminado de pes-
soas); conteúdo variado alternativo (prevê mais de uma forma de praticar, respondendo o a-
gente uma única vez, independentemente de quantas condutas realize); instantâneo (a consuma-
ção ocorre no momento da realização da produção do perigo) e permanente (nas modalidades
“exposição à venda” e “manter em depósito” previstas no § 1º-A); comissivo (delito de ação) e
omissivo próprio (para Damásio, o verbo “corromper” descrito no caput também pode ser reali-
zada por uma ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art.
13, § 2º do Código Penal, se considerar o delito como material); forma livre (admite qualquer
forma de execução); plurissubsistente (a conduta é praticada por meio de vários atos); unissub-
jetivo (exige-se uma única pessoa para a realizar qualquer das condutas típicas previstas); não
transeunte (é crime que deixa vestígios)
9 MODALIDADE DERIVADA.
O § 1º-A traz uma figura típica equiparada ao caput, pois prevê as mesmas penas que
a ele foram cominadas quando o agente: “fabricar” (fazer, manufaturar), “vender” (alienar, ceder
por preço correspondente), “expõe à venda” (oferecer ou manter em exposição para vender),
“tem em depósito para vender” (guardar, estocar com a finalidade de vender); “distribuir” (espa-
lhar, repartir), “entregar a consumo” (oferecer ao mercado consumidor a título oneroso ou gra-
tuito).
CONDUTAS TÍPICAS: FABRICAR, VENDER, EXPOR À VENDA, TER EM
DEPÓSITO PARA VENDER, DISTRIBUIR, ENTREGAR A CONSUMO (ONEROSO OU
GRATUITO).
O objeto material descrito é a “substância ou produto falsificado, corrompido ou a-
dulterado”, isto é, os mesmos bens descritos no caput do artigo.
OBJETO MATERIAL: SUBSTÂNCIA OU PRODUTO – FALSIFICADO /
CORROMPIDO / ADULTERADO.
Este parágrafo foi inserido pela Lei n.º 9.677/98.
109
Outra norma equiparada à figura típica do caput também inserida pela Lei n.º
9.677/98. O legislador neste parágrafo prevê as mesmas modalidades de conduta, apenas diferen-
ciando o objeto material do delito, que são as bebidas alcoólicas ou não alcoólicas. Entendemos
que o objetivo para a elaboração desta figura típica, foi o de coibir a falsificação principalmente
de bebidas alcoólicas, que é uma prática absolutamente comum em nosso país (p.ex.: falsificação
de whisky, vodca e etc.).
PARÁGRAFO INSERIDO PELA LEI N. 9677/98 ESPECIALIZAÇÃO DO
DELITO EM RELAÇÃO ÀS BEBIDAS ALCOÓLICAS E NÃO-ALCOÓLICAS.
O crime do art. 272, § 2º do Código Penal também é punido a título de culpa (inob-
servância do dever objetivo de cuidado por negligência, imprudência e imperícia), seja nas moda-
lidades previstas no caput (exceto “falsificar”), naquelas do § 1º-A (exceto “fabricar”) ou do § 1º.
Damásio de Jesus (1999, p.351-352) faz uma interessante observação sobre a realiza-
ção da conduta culposa em relação aos chamados “alimentos enlatados”: “Às vezes, tal verificação
torna-se impossível de ser feita. Exemplo disso é a venda de enlatados. Obviamente, o comerciante não pode, ao
receber tal mercadoria, abrir as embalagens para verificar o estado no qual se encontram os produtos nelas contidos.
Nesta hipótese, não se poderá falar de culpa de quem vende o produto alterado, uma vez que a abertura das emba-
lagens inutilizaria a mercadoria para venda. Mas a responsabilidade do industrial, fabricante de substâncias ven-
didas em invólucros fechados, poderá estar caracterizada, se presentes as demais elementares da figura típica dolo-
sa”.
O tipo penal prevê as mesmas penas para o caput, § 1º-A e § 1º do art. 272 do CP. A
pena é cumulativa de reclusão, de quatro a oito anos, e multa. Na modalidade culposa a pena é
cumulativa de detenção, de um a dois anos, e multa (§ 2º). Aplicam-se a este dispositivo, os arti-
gos 60, 61 e 89 da Lei n.º 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.
110
11 QUESTÕES RELEVANTES.
Guilherme Nucci (2003, p.757) faz uma observação importante sobre a despropor-
cionalidade da pena prevista para aquele que torna a substância ou o produto nocivo para o con-
sumo e aquele que diminui o valor nutritivo do alimento, in verbis: “o tipo penal prevê punição, idêntica
para aquele que torna prejudicial à saúde a substância alimentícia e para quem apenas lhe diminui o valor nutriti-
vo, embora, neste último caso, possa não existir, em grande parte das vezes, qualquer perigo imediato e razoável
para a saúde. Aliás, tal modificação, introduzida pela Lei 9.677/98, também alterou a pena, que era de reclu-
são, de dois a seis anos, e multa, para reclusão, de quatro a oito anos, mantendo-se a multa”.
Quem falsifica e vende o produto, responderá apenas pela conduta descrita no caput
do artigo em decorrência da aplicação do princípio da consunção, pois o bem jurídico já foi lesio-
nado com a primeira conduta, tornando-se a segunda um post factum impunível (exaurimento).
Se não configurar crime de perigo comum, o agente poderá responder pelas figuras
típicas do art. 2º, incisos III e V da Lei n.º 1.521/51 (crimes contra a economia popular).
Art. 2º da Lei n.º 1.521/51. “São crimes desta natureza: III - expor à venda ou vender mercadoria ou
produto alimentício, cujo fabrico haja desatendido a determinações oficiais, quanto ao peso e composição; V - mistu-
rar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, expô-los à venda ou vendê-los, como puros; misturar gêneros e
mercadorias de qualidades desiguais para expô-los à venda ou vendê-los por preço marcado para os de mais alto
custo; (...)”.
12 JURISPRUDÊNCIA.
“O bromato de potássio adicionado em pequena quantidade à massa crua do pão não o torna nocivo à
saúde” (TJSP – AC. 38.682-3 – Rel. Cunha Bueno – RT 600/3007).
“O dolo do agente, em crimes tais, além da vontade dirigida a qualquer de tais ações (corromper, adul-
terar, falsificar) deve compreender a ciência e consciência das referidas destinação e nocividade” (TJSP – Rev. – Rel.
Onei Raphael – RJTSP 14/481).
“O delito do art. 272, § 1º, do CP consuma-se com o ato da venda, e não com a entrega do produto
deteriorado, sendo, pois, dispensável a tradição da coisa; assim, é competente para julgamento do delito a Justiça do
lugar em que se completou a venda” (TJSP – AC – Rel. Dantas de Freitas – RF 230/350).
“Para configuração do delito do art. 272 do CP/40, é de fundamental importância saber-se qual a
quantidade de bromato de potássio que foi encontrada na massa do pão colhida para amostra, para exame pericial.
Muito embora seja ele crime de perigo presumido ou abstrato, não se presume a nocividade positiva da substância,
que será sempre constatada através de perícia” (TJSP – AC – Rel. Cid Vieira – RT 598/296).
111
“Inadmissível a alegação de insuficiência de prova quando o próprio réu admitiu incluir substância lí-
quida em gomas de mascar, adulterando, por conseguinte, sua composição original, sendo que tal ato foi presenciado
por testemunhas, e, ainda, laudo pericial a confirmar a presença de substância química tóxica no alimento apreendi-
do” (TJSP – Ap. 177.637-3/5 – Rel. Franganiello Maierovich – RT 737/591).
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O delito do art. 273 do Código Penal se divide em cinco modalidades típicas diferen-
tes. O caput traz a figura básica dolosa, que consiste na falsificação, corrupção, adulteração e alte-
ração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. No § 1º o legislador prescreve uma
forma dolosa equiparada à do caput para o agente que importa, venda, expõe à venda, tem depósi-
to para vender, distribui ou entrega para o consumo qualquer um dos objetos materiais da figura
anterior. O § 1º-A é um norma penal explicativa, na qual o legislador define o que são produtos
para fins terapêuticos e medicinais. O § 1º-B traz um figura penal equiparada à do § 1º, para outro
rol de produtos não previstos naquele tipo penal. Por fim, o § 2º prevê a modalidade culposa,
quando o agente realiza a conduta com inobservância do dever objetivo de cuidado.
3 SUJEITOS DO DELITO.
113
O crime do art. 273 no seu caput é um tipo penal misto ou de conteúdo variado alter-
nativo (independentemente da quantidade de condutas realizadas pelo agente, ele responderá uma
única vez pelo delito), pois prevê quatro verbos núcleos. As condutas descritas pelo dispositivo
legal são: falsificar (imitar fraudulentamente, modificar para iludir); corromper (estragar, tornar
podre); adulterar (contrafazer ou deturpar para pior); e, alterar (modificar, transformar).
VERBOS NÚCLEOS DO TIPO FALSIFICAR (IMITAR) /CORROMPER
(ESTRAGAR) / ADULTERAR (MODIFICAR) / ALTERAR (MODIFICAR).
Damásio (1999, p.350) afirma que os núcleos “corromper” e “adulterar” podem ser
cometidos de forma comissiva ou omissiva prórpio, e o verbo “falsificar”, somente poderá ocor-
rer comissivamente. Ele nada diz sobre o verbo alterar. Concordamos com o autor que o verbo
“corromper”, por também ter o sentido de estragar, pode ser praticado comissiva, mas, a forma
omissiva somente é comissiva por omissão. Entretanto, em relação a “adulterar” e “alterar”, a-
creditamos que ocorre comissivamente ou de forma omissiva imprópria, desde que o agente te-
nha a função de garante. De maneira omissiva própria estas condutas não seria possíveis.
DAMÁSIO DE JESUS: - CORROMPER E ADULTERAR COMISSIVO OU
OMISSIVO / - FALSIFICAR SÓ COMISSIVO
O objeto material do delito é o produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
O referido produto consiste em toda substância, líquida ou sólida, que tem como finalidade o
alívio da dor, tratamento, cura ou a prevenção de doenças ou enfermidades.
OBJETO MATERIAL: PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS
114
OU MEDICINAIS.
Bitencourt (2004, p.243) citando Heleno Cláudio Fragoso afirma que o produto para
fins medicinais e terapêuticos têm uma “nocividade negativa”. Para trazer mais claramente tal
idéia reproduziremos os comentários do autor sobre esta questão: “Heleno Fragoso observava, a res-
peito desse artigo, que nele se prevê a nocividade negativa, ou seja, alteração que, sem tornar a substância nociva à
saúde, prejudica seu valor nutritivo ou terapêutico: ao contrário da nocividade positiva, que é a introdução no remé-
dio de substância alimentícia ou medicinal nociva”.
NOCIVIDADE NEGATIVA: É A MODIFICAÇÃO QUE SEM TORNAR A
SUBSTÂNCIA NOCIVA À SAÚDE, PREJUDICA SEU VALOR NUTRITIVO OU TERA-
PÊUTICO.
Por ser crime que deixa vestígios a nocividade deve ser verificada pericialmente (art.
158 do Código de Processo Penal).
NOCIVIDADE DEVE SER COMPROVADA PERICIALMENTE.
Os elementos normativos são previstos no § 1º-B deste artigo. Deixaremos para tecer
os comentários necessários sobre estas elementares, quando tratarmos do supramencionado dis-
positivo.
O caput do art. 273 é realizado com dolo de perigo coletivo abstrato (corrente majori-
tária) genérico, direto ou eventual. Damásio (1999, p.356) afirma que na verificação concreta da
modalidade típica do caput, o sujeito ativo realiza o delito com a finalidade de lucro. Porém,
quando analisamos o tipo penal, verificamos claramente que não é exigido qualquer elemento
subjetivo especial ou específico.
No § 1º do art. 273 do Código Penal, as condutas também são praticadas com o dolo
de perigo coletivo abstrato (majoritariamente), genérico, direto ou eventual. Ocorre que na moda-
lidade “ter em depósito”, o sujeito ativo tem que agir com o “fim de vender”, que é o elemento
subjetivo especial ou específico. Desta forma, podemos dizer que em relação a esta modalidade o
delito é tendência.
NA CONDUTA “TER EM DEPÓSITO” O TIPO PENAL EXIGE UM ELE-
MENTO SUBJETIVO ESPECIAL OU ESPECÍFICO.
115
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O crime do art. 273 do Código Penal é classificado como: crime comum (qualquer
pessoa pode ser sujeito ativo do delito); formal (para Bitencourt, 2004, p.244 e para Guilherme
Nucci, 2003, p.760, que justificam seu posicionamento dizendo que não há a exigência de ocor-
rência do resultado naturalístico, que seria a geração de um dano para alguém) ou de mera con-
duta (pois não conseguimos identificar o resultado naturalístico que supostamente estaria previs-
to. Diferentemente do artigo antecedente que diz que a conduta do agente torna a substância
nociva para saúde ou perde as propriedades nutritivas, o legislador silenciou-se neste delito); ma-
terial (para os que defendem que o delito é de perigo concreto); de conteúdo misto ou variado
alternativo (independentemente da conduta do agente incidir em mais de um verbo do tipo no
caput ou no § 1º, ele responderá uma única vez pelo delito); de forma livre (admite qualquer for-
ma de execução) ou de forma vinculada (no entendimento de Cezar R. Bitencourt, 2004, p.244);
comissivo (crime de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante
– art. 13, § 2º do Código Penal); instantâneo (a consumação se dá com a realização de qualquer
uma das condutas típicas) e permanente (nas modalidades do § 1º, “expõe à venda” e “tem em
depósito para vender”); de perigo coletivo (coloca em risco a saúde de um número indetermina-
116
do de pessoas); de perigo abstrato (para a configuração do delito, exige-se apenas que o agente
realize as condutas típicas, independentemente de qualquer comprovação do perigo real); unis-
subjetivo (é necessário apenas um agente para realização do delito); plurissubsistente (a condu-
ta do agente se fraciona em vários atos), e não transeunte (é crime que deixa vestígios – art. 158
CPP).
9 MODALIDADES DERIVADAS.
As figuras típicas no § 1º do art. 273 do Código Penal são consideradas como equipa-
radas àquelas previstas no caput do artigo, em virtude de possuírem a mesma espécie e quantum de
pena. O presente dispositivo prevê as seguintes condutas: importar (trazer para o interior de um
país coisas provenientes do estrangeiro); vender (alienar, ceder por preço certo); expor à venda (ofe-
recer ou manter em exposição para vender), ter em depósito para vender (guardar, estocar com a fina-
lidade de vender); distribuir (espalhar, repartir), entregar ao consumo (oferecer ao mercado consumi-
dor a título oneroso ou gratuito). O objeto material neste parágrafo é o resultado das condutas
realizadas no caput, isto é, o produto terapêutico ou medicinal falsificado, corrompido, adulterado ou
alterado.
§ 1º: IMPORTAR, VENDER, EXPOR À VENDA, TER EM DEPÓSITO PARA
VENDER, DISTRIBUIR OU ENTREGAR AO CONSUMO PRODUTO: FALSIFICA-
DO, CORROMPIDO, ADULTERADO OU ALTERADO.
As condutas típicas previstas neste § 1º expressam claramente a necessidade de ocor-
rência das modalidades do caput, pois, como dissemos acima, o produto terapêutico ou medicinal
já sofreu a ação de falsificação, corrupção, adulteração e alteração. Desta forma, podemos conclu-
ir que somente realiza este parágrafo, o sujeito que não praticou anteriormente as condutas des-
critas no caput. Se, portanto, o mesmo agente falsificou o medicamento, e, posteriormente o ven-
deu, responderá apenas pela primeira conduta, em face da aplicação do princípio da consunção (o
ato de “vender” é post factum impunível. O bem jurídico foi lesionado com a ação antecedente
“falsificar”).
§ 1º - MESMA PESSOA ALTERA E DEPOIS VENDE SÓ RESPONDE PE-
LO CAPUT – POST FACTUM IMPUNÍVEL (PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO).
Além disso, se o sujeito ativo realizar mais de uma das condutas do § 1º, responderá
ele uma única vez pelo delito, em virtude deste ser classificado como de conteúdo variado ou
117
misto alternativo.
AGENTE PRATICA VÁRIAS CONDUTAS – RESPONDE POR UM SÓ DELI-
TO.
O § 1º-A do art. 273 é uma norma penal explicativa. Neste parágrafo o legislador e-
quiparou a produto terapêutico ou medicinal:
a) a matéria-prima destinada à fabricação de medicamentos. Matéria-Prima é a substân-
cia principal e essencial de que se faz ou fabrica alguma coisa. Guilherme Nucci (2003, p.761)
esclarece com muita propriedade o conceito exato que matéria-prima possui neste artigo: “É natu-
ral que, neste caso, não se esteja falando de qualquer matéria-prima, mas sim a que serve de base para a constitui-
ção de uma substância destinada a fins terapêuticos ou medicinais. Assim, em essência, já está contida no caput.
Mas, para evitar dissabores na interpretação, fez-se questão de mencionar tanto o medicamento – que contém pro-
duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais – como a matéria-prima – que serve para construir o produto
destinado aos fins expostos. Pode-se, então, concluir que a matéria-prima serve ao produto destinado a fins terapêu-
ticos ou medicinais, que, por sua vez, serve para construir o medicamento”;
b) os insumos farmacêuticos que são os produtos combinados de duas ou mais matérias-
primas;
c) os cosméticos são produtos destinados à limpeza, conservação e embelezamento da
pele e dos cabelos (ex.: xampu, batom, esmaltes);
d) os saneantes: produtos utilizados para a limpeza em geral (ex.: alvejantes); e,
e) os produtos de uso em diagnóstico: têm a finalidade de detectar ou diagnosticar a exis-
tência de uma doença (ex.: reagentes laboratoriais, contrastes, etc.).
Acreditamos que este parágrafo do art. 273 do Código Penal seja o que mais sofre
críticas da doutrina pátria. A razão para as censuras feitas ao dispositivo se refere fundamental-
mente à questão do legislador ter equiparado medicamentos e cosméticos.
E por que existem estas críticas? Primeiro pelo quantum de pena descrito pelo legisla-
dor no caput e § 1º do artigo. Por exemplo, aquele que falsifica um medicamento para o tratamen-
to de câncer e outro que falsificou um batom estão sujeitos a pena de reclusão de 10 (dez) a 15
(quinze) anos. Há na previsão típica uma flagrante violação ao princípio da proporcionalidade.
O segundo motivo de crítica é o de que as figuras típicas previstas no caput, § 1º, § 1º-
A e § 1º-B são classificadas como crimes hediondos, em virtude de sua inserção no art. 1º, inc.
VII-B da Lei n.º 8.072/90 feita pela Lei n.º 9.695/98.
118
Apenas a título de comparação e compreensão mais clara do que está sendo dito, po-
demos dizer que hoje no ordenamento jurídico brasileiro a prática do homicídio simples (art. 121,
caput) ou do roubo simples (art. 157, caput e § 1º) não configura crime hediondo, mas a falsificação
de um xampu é considerada como crime hediondo, e se sujeita às mesmas restrições que os deli-
tos previstos naquela lei sofrem.
Esclarecemos que não estamos querendo dizer que a falsificação de um cosmético não
possa fazer mal a saúde de uma pessoa ou de um número indeterminado de pessoas, mas é com-
pletamente absurda a classificação de um delito deste como hediondo, pois é evidente a violação
de princípios penais básicos (princípio da fragmentariedade, princípio da culpabilidade e princípio
da proporcionalidade).
O § 1º-B apresenta outra figura penal equiparada, mas esta se equipara ao § 1º.
A presente descrição típica prevê alguns elementos normativos que são necessários
para a configuração do delito. Antes de abordá-los individualmente, é mister esclarecer que todas
as situações previstas no parágrafo são normas penais em branco.
No inciso I o tipo penal fala de produtos “sem registro, quando exigível, no órgão de
vigilância sanitária competente”. Neste inciso o legislador exige para a tipificação da conduta, que
o agente realize qualquer um dos verbos do § 1º em relação a um produto que não possui registro
nos órgãos estatais competentes.
No inciso II o produto está “em desacordo com a fórmula constante do registro pre-
visto no inciso I”. O fato nesta situação é basicamente o seguinte: o agente, por exemplo, vende
um medicamento que é fabricado com uma fórmula diferente daquela que consta no registro
feito perante a autoridade sanitária.
O inciso III fala de produto “sem as características de identidade e qualidade admiti-
das para a sua comercialização”. Neste inciso o agente atua de forma diferente daquele que lhe foi
imposta pelas autoridades sanitárias para a comercialização do produto. Por exemplo, ele diminui
a quantidade mínima exigida por dosagem de um determinado remédio.
No próximo inciso (IV), o legislador diz que o agente realiza as condutas do § 1º
“com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade”. Para que um medicamento faça efei-
to, é necessária uma determinada quantidade do seu “princípio-ativo”. Quando o indivíduo dimi-
nui este quantum ele interfere diretamente na eficácia e no potencial de tratamento e cura do re-
médio. Esta é a razão para conduta típica descrita neste inciso.
119
Também são puníveis de forma culposa por inobservância do dever objetivo de cui-
dado (imprudência, negligência e imperícia), as condutas típicas previstas no caput e no § 1º do art.
273 do Código Penal. A única modalidade que não admite a forma culposa é “falsificar” (caput),
pois seria inadmissível a prática de tal ato de maneira não-intencional.
As figuras típicas descritas no caput, § 1º, § 1º-A e § 1º-B estão sujeitas às penas de re-
clusão, de dez a quinze anos, e multa. Se o crime for culposo, aplica-se a pena de detenção, de um
a três anos, e multa. A ação penal é pública incondicionada.
11 QUESTÃO RELEVANTE.
12 JURISPRUDÊNCIA.
“Tipifica, em tese, crime contra a saúde pública a entrega a consumo de complexo vitamínico dolosa-
mente alterado em sua composição normal, da qual foram retirados os componentes ativos em sua maior parte,
diante da nocividade negativa do produto assim provocada” (TACRIM-SP – RO 485.271-1 – Rel. Haroldo Luz – RT
625/315).
“Se o próprio réu admite a existência de impurezas constatadas no laudo, nenhuma importância tem a
não observância, na colheita do produto para análise, das formalidades legais” (TACRIM-SP – AC – Rel. Azevedo Jr.
– RT 304/460).
“Medicamento falso. Ter em depósito para a venda. Entrega de qualquer forma para consumo. O cri-
me definido no art. 273, § 1º do Código Penal, aperfeiçoa-se quando o agente mantém em depósito para venda ou,
de qualquer forma, para entrega a consumo, medicamento falsificado, corrompido, adulterado ou alterado, assim
entendido o que é importado ilegalmente, sem documentação fiscal e sem origem conhecida”. (TJMG – AC – Rel.
Reynaldo Ximenes Carneiro – decisão publicada em 13-jun-2000).
Substância avariada
Art. 279. (Revogado pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990, DOU
28.12.1990)
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O tipo do art. 282 do Código Penal possui duas modalidades típicas. No caput do
dispositivo está prevista a forma básica dolosa, que consiste no exercício das profissões de médi-
co, dentista ou farmacêutico sem autorização da lei ou excedendo-lhe os limites impostos. O pa-
rágrafo único do artigo prevê uma qualificadora de natureza subjetiva, na qual prescreve a pena
de multa além da privativa de liberdade, quando o agente age com a finalidade de lucro.
3 SUJEITOS DO DELITO.
Para se delimitar o sujeito ativo deste delito deve-se ter muito cuidado. O caput do ar-
tigo se divide em duas partes diferentes. Na primeira, o legislador descreve a conduta daquele
indivíduo que exerce qualquer uma das profissões previstas “sem autorização legal”, o que signi-
fica que qualquer pessoa pode simular a condição de médico, farmacêutico ou dentista. Trata-se,
portanto, de crime comum. Na parte final, o tipo descreve a conduta do sujeito que ultrapassa os
limites legais da profissão. Neste caso, somente o profissional da medicina, farmácia e odontolo-
gia pode ser sujeito ativo do delito. O caput do artigo 282 na sua segunda parte é classificado co-
mo crime próprio.
SA – 1ª PARTE CAPUT: CRIME COMUM – QUALQUER PESSOA PODE RE-
ALIZÁ-LO.
SA – 2ª PARTE CAPUT: CRIME PRÓPRIO – SOMENTE O MÉDICO, DEN-
TISTA OU FARMACÊUTICO PODE PRATICÁ-LO.
O sujeito passivo é coletividade ou a sociedade. Também pode ser vítima do delito a
pessoa que eventualmente seja “tratada” pelo agente. Como a vítima, em regra, não possui perso-
nalidade jurídica, este delito como os demais que atingem a incolumidade pública é classificado
como de sujeito passivo vago.
124
O caput do art. 282 do Código Penal prevê duas condutas típicas que serão praticadas
pelo agente do delito de forma habitual. Os crimes habituais são aqueles que para se configurar, o
sujeito ativo precisa realizar repetidamente e continuamente vários atos para caracterizar determi-
nada conduta. Como neste tipo penal o legislador trata de exercício de profissional, parece-nos
evidente que o delito seja habitual.
CRIME HABITUAL – EXECÍCIO DE PROFISSÃO EXIGE REPETIÇÃO DE
ATOS.
Na primeira, o agente exerce (praticar, fazer algo com habitualidade), a título oneroso
ou gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem a devida autorização legal. Co-
mo se pode observar, o legislador não exige que o agente exerça a atividade com a finalidade de
lucro, basta que ele o faça com habitualidade. O tipo penal nesta parte do dispositivo traz um
elemento normativo contido na expressão “sem autorização legal”. Esta elementar indica que o
tipo é uma norma penal em branco, pois o legislador penal não descreve quais são as situações
em que o indivíduo age ou não age com a autorização da lei. De qualquer maneira, pode-se dizer
que para estar autorizado para atuar em qualquer das profissões que consistem no objeto material
do delito (médico, dentista ou farmacêutico), o sujeito ativo precisa de possui habilitação profis-
sional e legal. Isto significa que não basta para o exercício profissional a titulação do curso supe-
rior (diploma), sendo necessário também o devido registro profissional. Para ficar mais claro, o
indivíduo bacharel em medicina somente poderá atuar profissionalmente, quando obtiver o regis-
tro no Conselho Regional de Medicina do Estado da Federação que exercerá a profissão.
EXERCER, AINDA QUE GRATUITAMENTE, AS PROFISSÕES PREVISTAS
SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL / EXERCÍCIO SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL (HABILI-
TAÇÃO PROFISSIONAL E LEGAL).
Na segunda parte do caput, o legislador fala em exercer (praticar, fazer algo com habi-
tualidade), a título oneroso ou gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, exce-
dendo os limites. Nesta hipótese o agente tem a qualificação profissional e está devidamente ha-
bilitado, porém ultrapassa os limites previstos pela lei. Como na modalidade típica anterior, esta
também possui um elemento normativo que está descrito nas elementares “excedendo-lhe os
limites”. Trata-se também de uma norma penal em branco, pois o tipo não descreve quais são os
referidos limites. Apenas a título de exemplificação, citamos a situação do dentista que realiza no
125
paciente uma intervenção cirúrgica que seria privativa de um profissional da medicina fazê-la.
EXERCER, AINDA QUE GRATUITAMENTE, PROFISSÕES DE MÉDICO,
DENTISTA OU FARMACÊUTICO EXCEDENDO-LHE OS LIMITES LEGAIS / O A-
GENTE PODE EXERCER A PROFISSÃO, MAS EXCEDE AOS LIMITES LEGAIS A ELA
IMPOSTOS – EX. MÉDICO EXTRAIR DENTES.
O objeto material é a profissão de médico, dentista ou farmacêutico. Apesar do ver-
bo núcleo ser “exercer”, Rogério Greco (2010, p.750) entende que o delito pode ser realizado de
forma comissiva e omissiva imprópria
Cezar Roberto Bitencourt (2004, p.266) afirma que não há tipicidade na conduta das
“parteiras”, por ser atividade distinta da profissão de médico-obstetra. Por isto, não existe o exer-
cício ilegal da profissão de parteira (Rogério Greco, 2010, p.751)
Por fim, esclarecemos que o sujeito ativo na primeira parte, precisa exercer ilegal-
mente as profissões de “médico”, “dentista” o “farmacêutico”. Se o exercício de qualquer outra
profissão que exija habilitação profissional, como, por exemplo, a de advogado, o agente praticará
a contravenção penal do art. 47 da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n.º 3.688/41).
Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condi-
ções a que por lei está subordinado o seu exercício: Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou
multa.
O caput do art. 282 exige o dolo de perigo coletivo e abstrato, genérico e direto. Gui-
lherme Nucci (2003, p.770) defende posicionamento diverso ao dizer que por ser um crime habi-
tual, o tipo penal também contém um elemento subjetivo especial, que é a vontade de desempe-
nhar usualmente qualquer das profissões previstas. Salientamos o agente só responde pelo caput
se não atuar com a finalidade de lucro.
DOLO – PERIGO ABSTRATO E COLETIVO – DOLO GENÉRICO E DIRE-
TO.
O parágrafo único traz um elemento subjetivo especial que consiste na realização da
conduta descrita no caput com a finalidade de lucro (fim de obtenção de vantagem econômica ou
financeira).
ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL EXERCICIO ILEGAL DA MEDICI-
NA, ARTE DENTÁRIA OU FARMACÊUTICA COM A FINALIDADE DE LUCRO.
Inexiste a modalidade culposa.
126
6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
O delito se consuma com a verificação da conduta habitual e reiterada dos atos priva-
tivos da profissão de médico, dentista ou farmacêutico.
CONSUMAÇÃO REALIZAÇÃO HABITUAL DOS ATOS PRIVATIVOS
DAS PROFISSÕES PROTEGIDAS.
Por ser delito habitual é inadmissível a tentativa. Entende-se que o agente deve reali-
zar reiteradamente os atos profissionais, não sendo possível o seu fracionamento.
TENTATIVA INADMISSÍVEL (CONDUTA NÃO PASSÍVEL DE FRA-
CIONAMENTO) – AGENTE AGE COM HABITUALIDADE OU NÃO PRATICA DO
DELITO.
7 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O crime do art. 282 do Código Penal é classificado como: crime comum na primei-
ra parte (qualquer pessoa pode exercer a profissão de médico, dentista ou farmacêutico sem auto-
rização legal), e próprio na segunda parte (quando se exige que os profissionais da saúde das ati-
vidades protegidas excedam os limites legais de suas respectivas atividades); de perigo coletivo
(precisa colocar em risco um número indeterminado de pessoas); de perigo abstrato (é necessá-
rio apenas que o agente realize a conduta típica prevista independentemente de produção de
qualquer perigo real. O perigo é presumido pela lei); de perigo concreto (no entendimento de
Rogério Greco, 2010, p.749); de forma livre (admite qualquer forma de execução); de forma
vinculada (para Rogério Greco, 2010, p.749, o tipo penal indica o modo pelo qual o delito será
praticado); comissivo (crime de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição
de garante – art. 13, § 2º do Código Penal, desde que classificado como de perigo concreto e ma-
terial); unissubjetivo (é necessário apenas um agente para realização do delito); plurissubsisten-
te (a conduta do agente se fraciona em vários atos); formal (Guilherme Nucci, 2003, p.770, afir-
ma que não há a exigência de ocorrência do resultado naturalístico previsto, que consiste na gera-
ção de um dano para alguém) ou de mera conduta (pois não conseguimos identificar o resultado
que supostamente estaria previsto. O legislador silenciou-se em relação ao resultado naturalísti-
co); e, por fim, o delito também é definido como habitual próprio, pois exige a reiteração de
atos privativos da profissão pelo sujeito ativo, que não tem permissão para fazê-lo. É não-
transeunte (por ser crime que em regra deixa vestígios).
É HABITUAL PRÓPRIO, UMA VEZ QUE SOMENTE A REITERAÇÃO DA
127
8 MODALIDADE DERIVADA.
A pena prevista para o delito é de detenção, de seis meses a dois anos. Se o crime é
praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa (parágrafo único). Aplicam-se a este delito
as disposições previstas nos artigos 60,61 e 89 da Lei n.◦ 9.099/95. A ação penal é pública incon-
dicionada.
10 QUESTÕES RELEVANTES.
O artigo 282 difere do art. 284 (crime de curandeirismo), pois neste delito o agente
realiza atos capazes de enganar a coletividade, isto é, pratica procedimentos que seriam efetiva-
mente utilizados pelos profissionais da medicina, odontologia e farmácia. Enquanto isso no crime
de curandeirismo, as condutas do sujeito ativo são grosseiras e destoam completamente de con-
dutas normais daqueles profissionais da saúde (p.ex.: rezas, benzimentos).
O presente tipo também é diferente do previsto no art. 283, pois neste o agente faz
uso de métodos comuns e usuais da profissão. Já no art. 283, o agente apregoa ou anuncia a reali-
zação de curas por meios secretos (desconhecido por outros profissionais da área) ou infalíveis
(que garantem a cura do problema de saúde existente).
128
12 JURISPRUDÊNCIA.
“O crime do art. 282 do CP só pode ser perpetrado por médico, dentista ou farmacêutico. Não por
veterinário, que só cuida de animais. Nem mesmo por extensão se pode incluí-lo no dispositivo citado. Somente
pode ser sujeito ativo da infração prevista no art. 302 do CP o médico no exercício de sua profissão. Não o veteriná-
rio, eis que a falsidade deve versar sobre a existência ou inexistência de alguma enfermidade ou condição higiênica,
atual ou pretérita, do indivíduo a que se destina o atestado” (TACRIM-SP – HC – Rel. Cardoso Rolim – RT
320/295).
“Comete o delito de exercício ilegal da medicina quem se faz passar por ‘Doutor’, sem ter concluído
qualquer curso universitário, mantendo consultório, expedindo receitas e divulgando avisos pelo rádio sobre os dias
em que iria clinicar no interior do município” (TARS – AC – Rel. Wolney Santos – RT 451/467);
“Exercício ilegal da medicina com fins lucrativos e falsidade ideológica - reduzida a pena na instância
revisora é de reconhecer-se a extinção da punibilidade pela prescrição retroativa da ação - falsidade utilizada para
possibilitar a habitualidade do primeiro crime - pelo princípio da consunção, foi o delito do art. 299 absorvido pelo
crime de exercício ilegal da medicina - quando o falso se exaure no exercício ilegal da medicina, sem mais potenciali-
dade lesiva, é por este absorvido. Recurso provido”. (TJMG – AC 1.0145.00.025422-0 – Rel. Sérgio Braga – Decisão
publicada em 19-nov.-2004).
Prática de atos privativos de médicos pelo apelante, que prestava atendimento a diversas pessoas, re-
ceitando medicamentos, requisitando exames, fazendo, inclusive, plantão no hospital. Evidenciando o exercício ilegal
da medicina. O estelionato também restou demonstrado. A fraude consistiu na promessa de descontos em diversos
serviços do convênio de saúde que o réu vendia, os quais não eram concedidos às vítimas (TJRS, Ap. Crim.
70028030765, 4ª Câm. Crim., Rel. Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, j. 23/04/2009).
129
Charlatanismo
Art. 283. Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O tipo penal do art. 283 prevê apenas a conduta básica dolosa descrita no caput, que
consiste na inculcação ou anúncio de cura de doença ou problema de saúde por meio secreto ou
infalível.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum), independentemente de ser
profissional da saúde ou não.
SA QUALQUER PESSOA – CRIME COMUM.
O agente deste delito é chamado de “charlatão”. Charlatão é uma espécie de esteliona-
tário que engana a credulidade da sociedade, se atribuindo a capacidade de realizar curas por mei-
os que sabe serem falsos.
CHARLATÃO É O ESTELIONATÁRIO QUE FAZ FALSAS PROMESSAS DE
CURA.
130
O delito pode ser praticado pelas condutas típicas inculcar (aconselhar, apregoar, re-
comendar) ou anunciar (divulgar, noticiar) a cura (restabelecimento de doenças ou problemas de
saúde) por meio (método) secreto (oculto, desconhecido de outros profissionais) ou infalível (eficaz,
indefectível).
INCULCAR PROPOR OU ANUNCIAR CURA POR MEIO SECRETO OU
INFALÍVEL – MEIO SECRETO QUE NINGUÉM SABE / INFALÍVEL GARAN-
TIDO.
Diferentemente do exercício ilegal de medicina, arte dentária ou farmacêutica o delito
de charlatanismo não é crime habitual, sendo necessária apenas uma única conduta praticada pelo
agente.
NÃO É CRIME HABITUAL.
O objeto material é o anúncio de cura por meio secreto e infalível. Os verbos inculcar
e anunciar indicam que o comportamento é comissivo, mas pode ser praticado de forma omissiva
imprópria.
O caput do art. 283 exige o dolo de perigo coletivo e abstrato, genérico e direto.
DOLO – PERIGO COLETIVO E ABSTRATO – GENÉRICO E DIRETO.
Caso o agente acredite no meio de cura que apregoa ou anuncia estará afastado o do-
lo, tornando atípica a conduta.
AUSÊNCIA DE DOLO ATIPICIDADE DO FATO.
131
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O crime do art. 283 do Código Penal é classificado como: crime comum (qualquer
pessoa pode praticá-lo); de perigo coletivo (precisa colocar em risco um número indeterminado
de pessoas); de perigo abstrato (é necessário apenas que o agente realize a conduta típica previs-
ta independentemente de produção de qualquer perigo real. O perigo é presumido pela lei); de
perigo concreto (Rogério Greco, 2010, p.752, classifica-o desta forma por entender que o perigo
precisa ser comprovado); de forma livre (admite qualquer forma de execução); comissivo (crime
de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente tiver a posição de garante – art. 13, § 2º do
Código Penal, e desde que classificado como de perigo concreto e material); unissubjetivo (é
necessário apenas um agente para realização do delito); plurissubsistente (na forma escrita, pois
conduta do agente se fraciona em vários atos) e unissubsistente (na modalidade oral, vez que a
conduta não admite fracionamento); formal (Guilherme Nucci, 2003:770 e Bitencourt, 2004:270
entendem que não há a exigência de ocorrência do resultado naturalístico previsto, que consiste
na geração de um dano para alguém) ou de mera conduta (pois não conseguimos identificar o
resultado que supostamente estaria previsto. O legislador silenciou-se em relação ao resultado
naturalístico); e, instantâneo (a consumação é imediata, bastando que as pessoas tomem conhe-
cimento da inculcação ou do anúncio); e, não transeunte (pois em regra é delito que deixa vestí-
gios).
132
A pena prevista para o delito é de detenção, de três meses a um ano, e multa. Apli-
cam-se a este delito as disposições previstas nos artigos 60,61 e 89 da Lei n.◦ 9.099/95. A ação
penal é pública incondicionada.
11 QUESTÕES RELEVANTES.
Bitencourt (2004:269) alerta que é permitido o anúncio de meio de cura por médicos
(Decreto-lei n.◦ 4.113/42) e por odontólogos (Lei n.◦ 5.081/76), desde que o método seja conhe-
cido e de comprovada eficiência. A mera promessa de cura sem a característica do segredo e da
infalibilidade não configura o delito.
12 JURISPRUDÊNCIA.
“É preciso apurar sempre um forte resíduo de má fé, para identificar-se o crime de charlatanismo.
Deve-se ter sempre em vista a preocupação de verificar se o fato ocorre com inequívoco dolo” (TACRIM-SP – AC.
– Rel. Henrique Machado – RT 299/434).
“Não constitui charlatanismo divulgação de descoberta de tratamento com a afirmação de ter sido sua
eficiência comprovada, sem inculcar-se infalibilidade de cura” (TACRIM-SP – Rec. – Rel. Mattos Faria – JUTA-
CRIM 16/147).
O charlatanismo e o curandeirismo integram o rol dos crimes contra a saúde pública, ou seja, pratica-
do contra número indeterminado de pessoas. Crimes de perigo concreto (probabilidade de dano). O Direito Penal da
culpa é incompatível com o perigo abstrato, hipótese ocorrente no plano hipotético. O homem responde pelo que
fez ou deixou de fazer. Refute-se a simples suposição. Dessa forma, a denúncia precisa indicar o resultado (sentido
normativo). Caso contrário, será inepta. A liberdade de culto é garantia constitucional, com proteção do local e da
liturgia (STJ, HC 1498/RJ, Rel. Luiz Vicente Cernicchiaro, 6ª T., DJ 16/8/1993, p. 15.994).
Curandeirismo
Art. 284. Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qual-
quer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
133
COMENTÁRIOS
2 MODALIDADES TÍPICAS.
O tipo penal possui duas modalidades típicas. No caput, o legislador descreve a con-
duta básica dolosa que consiste no exercício de atos de curandeirismo. O parágrafo único traz
uma qualificadora de natureza subjetiva, prevendo a aplicação da pena de multa, quando o agente
realiza os atos de curandeirismo mediante remuneração.
3 SUJEITOS DO DELITO.
O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa, tratando-se de crime comum.
SA QUALQUER PESSOA – CRIME COMUM.
O sujeito passivo é a coletividade ou a sociedade. Também será sujeito passivo a pes-
soa eventualmente tratada pela conduta do agente. Como a vítima, em regra, não possui persona-
lidade jurídica, este delito como os demais que atingem a incolumidade pública é classificado co-
mo de sujeito passivo vago.
O art. 284 prevê a conduta típica de “exercer o curandeirismo”. Exercer significa rea-
lizar uma determinada atividade com habitualidade. Curandeirismo é a atividade exercida de forma
reiterada e habitual, na qual o agente por meios não científicos e grosseiros procura realizar a cura
de doenças. A prática de um só ato não configura o delito.
CONDUTA “EXERCER CURANDEIRISMO” (PRATICAR REITERADA-
MENTE) / CURANDEIRISMO CURA ATRAVÉS DE MEIOS GROSSEIROS POR
QUEM NÃO É MÉDICO / A CONDUTA DEVE SER HABITUAL.
Este tipo penal é um crime de forma vinculada, pois o legislador descreve três ações
em que o sujeito ativo deverá incidir para responder pelo delito.
A primeira conduta prevista é aquela em que o agente prescreve (receitar, recomen-
dar, indicar como remédio), ministra (fornecer para ingestão) ou aplica (usar, empregar), habitu-
almente (de forma reiterada), qualquer substância (matéria de origem natural ou artificial cujo
objeto deveria ser o de curar ou prevenir enfermidade) para o sujeito passivo. É completamente
irrelevante para configuração do delito se a substância é nociva para a saúde.
PRESCREVER, MINISTRAR OU APLICAR, HABITUALMENTE, QUALQUER
SUBSTÂNCIA (INCISO I) / É IRRELEVANTE SE A SUBSTÂNCIA É NOCIVA OU NÃO.
O inciso II fala da conduta do agente que “usando gestos, palavras ou qualquer outro
meio” exerce o curandeirismo. Damásio de Jesus (1999:396) define da seguinte forma as ações
que devem ser feitas pelo sujeito ativo, para a tipificação de sua conduta: Gestos são movimentos cor-
póreos, incluindo-se, aqui, os passes. Palavras são manifestações verbais, invocando-se, em geral, o sobrenatural,
para obter-se a pretendida cura. Por qualquer outro meio deve-se entender todo método de cura análogo aos casuisti-
camente citados.
GESTOS MOVIMENTOS CORPÓREOS INCLUINDO OS PASSES A-
FASTADOS DAS RELIGIÕES / PALAVRAS INVOCAÇÃO DE ALGO SOBRENATU-
RAL / QUALQUER OUTRO MEIO ANÁLOGOS ÀS FORMAS ANTERIORES.
Guilherme Nucci (2003:773) entende ser atípica as condutas descritas neste tipo pe-
nal se estas fizerem parte de um ritual religioso pertencente a uma determinada religião. Sob esta
questão o segundo autor justifica seu posicionamento da seguinte forma: “a Constituição Federal
assegura a inviolabilidade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos (art. 5◦,
VI). Assim, não se pode considerar curandeirismo a conduta daqueles que, crendo na ação de espíritos, fazem
gestos com as mãos, nomeados passes, para a cura de males físicos ou psíquicos de alguém, que, por sua vez, acredi-
135
ta no mesmo. Assim, ambas as partes envolvidas estão vinculadas a uma religião, no caso o espiritismo, bem como
a um culto (práticas consagradas para a exteriorização de uma religião ou crença). No mesmo patamar estão ou-
tras religiões que empregam gestos, palavras ou outros meios para curar os males dos seus adeptos, invocando o
nome de espíritos ou de ícones da sua crença, como Jesus Cristo, a fim de exercitarem e colocarem em prática a sua
liturgia”.
Sobre esta questão Rogério Greco diz (2010, p.754): “No meu entender, não devem ser
considerados como tais:
• os ministros da Igreja quando praticam atos de exorcismo, porque são admitidos pelos seus câno-
nes;
• quem pratica ato de qualquer religião ou doutrina, inclusive o espiritismo, desde que não ofenda
a moral, os bons costumes ou faça perigar a saúde pública, ou apenas busque demonstrações em proveito da ciên-
cia”.
Por fim, o inciso III do caput do art. 284 descreve a ação de fazer diagnóstico. Podemos
definir e elementar típica diagnóstico, como a identificação ou a constatação de determinado pro-
blema de saúde pelos seus sintomas exteriorizados.
QUALQUER COMPORTAMENTO QUE IMPORTE EM DIAGNÓSTICO
(DETERMINAÇÃO DA DOENÇA) CONFIGURA O DELITO.
Apesar de apenas no inciso I, o legislador utilizar a expressão “habitualmente”, as
condutas dos incisos II e III também necessitam ser praticadas de forma habitual ou reiterada
para a configuração do delito.
A HABITUALIDADE É EXIGIDA EM TODOS OS INCISOS DO CAPUT,
APESAR DA PREVISÃO EXPRESSA APENAS NO INCISO I.
O objeto material é a substância prescrita, os gestos, as palavras ou os outros meios
empregados no diagnóstico. As condutas do tipo indicam um comportamento comissivo, porém,
parte da doutrina entende que o delito pode ser realizado de forma omissiva imprópria (Rogério
Greco, 2010, p.754)
O caput do art. 284 exige que o agente realize o delito com o dolo de perigo coletivo e
abstrato, genérico e direto.
DOLO – PERIGO ABSTRATO E COLETIVO – DOLO GENÉRICO E DIRE-
TO.
O parágrafo único traz um elemento subjetivo especial que consiste na realização da
conduta descrita no caput mediante remuneração (obtenção de vantagem econômica ou financei-
ra).
ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL EXERCICIO DO CURANDEIRISMO
MEDIANTE REMUNERAÇÃO.
Inexiste punição a título de culpa.
7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA.
O delito se consuma com a prática reiterada das condutas mencionadas nos incisos I
a III do caput. Trata-se, portanto, de crime habitual.
CONSUMAÇÃO PRÁTICA DAS CONDUTAS DOS INCS. I A III – EXIGE-
SE HABITUALIDADE, SEM QUALQUER RESULTADO NATURALÍSTICO.
A tentativa é inadmissível por ser crime habitual, no qual é exigida a repetição de atos
para a sua consumação.
CRIME HABITUAL INADMISSÍVEL A TENTATIVA.
Rogério Greco (2010, p.754) defende ser possível a tentativa em crime habitual, de-
pendendo da forma concreta em que a ação foi realizada.
8 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA.
O crime do art. 284 do Código Penal é classificado como: crime comum (qualquer
pessoa pode ser sujeito ativo do delito); de perigo coletivo (precisa colocar em risco um número
indeterminado de pessoas); de perigo abstrato (é necessário apenas que o agente realize a con-
duta típica prevista independentemente de produção de qualquer perigo real. O perigo é presu-
mido pela lei); de forma vinculada (o legislador apresenta um rol taxativo para a prática do deli-
to. Inicialmente é trazida a forma geral “exercer o curandeirismo” para posteriormente especificar
como será este exercício); comissivo (crime de ação) ou omissivo impróprio (quando o agente
tiver a posição de garante – art. 13, § 2º do Código Penal, e desde que classificado como de peri-
go concreto e material); unissubjetivo (é necessário apenas um agente para realização do delito);
137
9 MODALIDADE DERIVADA.
A pena para o crime do art. 284 do Código Penal é detenção, de seis meses a dois
anos. Se o agente pratica o delito mediante remuneração, além da pena privativa de liberdade
prevista no caput, incidirá à pena pecuniária (parágrafo único). Aplicam-se a este delito as disposi-
ções previstas nos artigos 60,61 e 89 da Lei n.◦ 9.099/95. A ação penal é pública incondicionada.
138
11 QUESTÃO RELEVANTE.
O agente que mediante falsa promessa de cura obtém remuneração sem realizar
qualquer dos atos previstos no caput do art. 284, pratica o delito de estelionato (art. 171 do Códi-
go Penal).
12 JURISPRUDÊNCIA.
“O sujeito passivo do delito previsto no art. 284 do CP. É a saúde pública, razão por que inexiste ne-
cessidade de identificação das pessoas físicas objeto dos passes, gestos ou qualquer outro meio de cura utilizado pelo
acusado” (TJSP – AC – Rel. Acácio Rebouças – RT 395/88).
“Em sendo o curandeirismo crime de perigo abstrato contra a saúde pública, não se exige à sua tipifi-
cação faça a pessoa da prática da profissão, bastando à prova de habitualidade a mera repetição de atos, tais como
receitas, aplicações, rezas ou quejandos, num mesmo dia, para mais de um cliente” (TACRIM-SP – AC – Rel. Aqui-
no Machado – JUTACRIM 26/347).
“O curandeirismo não é crime de dano, mas de perigo. O dolo é representado pela vontade livre e
consciente de realizar os atos inseridos no art. 284 do CP, pouco importando para a conceituação da sanção penal a
ausência de lucro ou proveito, pois não são elementos necessários para a configuração” (TACRIM-SP – AC – Rel.
Hoeppner Dutra – JUTACRIM 1/35).
“O curandeirismo é crime contra a saúde pública, dito de perigo, porque se consuma pelo simples ris-
co a esse bem jurídico comum, visado pelo legislador, sem necessidade de dano concreto” (TACRIM-SP – AC – Rel.
Prestes Barra – RT 386/270).
Prática grosseira de cura por quem não possui nenhum conhecimento de medicina. Não se confunde
com religião porque quem, sob o color de ato litúrgico se propõe a tratar misticamente da saúde alheia usando ges-
tos, palavras ou outros meios, comete o delito do art. 284 que não se confunde com atos de fé de preceito meramen-
te religioso. (TJSC, AC 26521, Rel. José Roberge).
Embora o curandeirismo seja prática delituosa típica de pessoa rude, sem qualquer conhecimento téc-
nico-profissional da medicina e que se dedica a prescrever substâncias ou procedimentos com o fim de curar doen-
ças, não se pode descartar a possibilidade de existência de concurso entre tal crime e o exercício ilegal de arte farma-
cêutica, se o agente também não tem habilitação profissional específica para exercer tal atividade (STJ, HC
36244/DF, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, 5ª T., RSTJ200, p.549).
139
Forma qualificada
Art. 285. Aplica-se o disposto no artigo 258 aos crimes previstos
neste Capítulo, salvo quanto ao definido no artigo 267.
COMENTÁRIOS
O art. 285 do Código Penal é classificado como um tipo penal remetido. Ele possui
esta classificação por determinar que nos crimes contra a saúde pública, com exceção do delito de
Epidemia (art. 267 do CP) aplicar-se-á o disposto no art. 258 deste Código. O art. 258 é inaplicá-
vel ao crime de epidemia, nos termos do art. 285 do CP. Explica-se a exceção: a lesão corporal
constitui elementar do crime de epidemia, não podendo, por conseguinte, configurar causa de
aumento de pena. O evento morte já é previsto como causa de aumento de pena tanto na epide-
mia dolosa (CP, art. 267, § 1º) como na epidemia culposa (§ 2º do mesmo dispositivo).
NÃO SE APLICA A EPIDEMIA LESÕES JÁ CONSTITUEM ELEMENTAR
DO CRIME / EVENTO MORTE É CAUSA DE AUMENTO DE PENA DO DELITO
DOLO OU CULPOSO.
Apenas a título de esclarecimento, o artigo 258 do Código Penal estabelece causas de
aumento de pena, apesar de usar a expressão “formas qualificadas”. Aos delitos previstos no ca-
pítulo III qualificados pelo resultado morte ou lesão corporal de natureza grave, seja doloso ou
culposo, aplicar-se-á o art. 258 do CP (remetido pelo artigo 285).
O presente artigo prevê a sanção para o resultado agravador culposo, cuja conduta
antecedente pode ser dolosa (preterdoloso) ou culposa (culposo qualificado pelo resultado agra-
vador culposo).
QUALIFICADO PELA MORTE OU LESÕES CORPORAIS GRAVES SÃO
CRIMES PRETERDOLOSOS / SE O INCÊNDIO FOR CULPOSO E DELE DECORRER
A MORTE OU LESÕES CORPORAIS ESTE NÃO SERÁ PRETERDOLOSO.
Havendo lesão corporal simples na modalidade dolosa, ocorrerá concurso formal de
crimes. Cezar Roberto Bitencourt (2003:196) possui o mesmo entendimento.
LESÃO CORPORAL DOLOSA SIMPLES CONCURSO FORMAL
A primeira parte do artigo descreve o delito qualificado pelo resultado culposo ou
preterdoloso, em que a lesão corporal de natureza grave ou morte é imputada ao agente do crime
doloso contra a incolumidade pública a título de culpa. A segunda parte trata de lesão corporal
(culposa) ou morte (culposa) provocada pelo atuar culposo do sujeito ativo do delito de perigo
comum. A parte inicial do artigo 258 comina pena privativa de liberdade aumentada de metade
no caso de lesão corporal de natureza grave e aplicada de dobro se resulta morte. Na parte final
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2 QUESTÕES RELEVANTES.
Havendo várias vítimas, responderá o agente apenas por um delito qualificado pelo
resultado, excluindo-se o concurso formal. Se do crime resulta morte e lesão corporal aplica-se a
qualificadora morte, por ser mais grave.
VÁRIAS VÍTIMAS – NÃO HÁ O CONCURSO FORMAL / CONCURSO DE
MORTE E LESÃO APLICA-SE A CAUSA DE AUMENTO DE PENA MAIS GRAVE
(MORTE)