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Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo

Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura
Boletim Técnico

Editores:
Eng. Agr. M.Sc. Ronaldo Trecenti
Eng. Agr. M.Sc. Maurício Carvalho de Oliveira
Eng. Agr. Günter Hass

Brasília
2008
© 2008 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total


dessa obra, desde que citada a fonte.

Catalogação na Fonte
Biblioteca Nacional de Agricultura BINAGRI

Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


Integração lavoura-pecuária-silvicultura : boletim técnico / Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento
Agropecuário e Cooperativismo; Ronaldo Trecenti, Maurício Carvalho de
Oliveira e Günter Hass (Editores). Brasília : MAPA/SDC, 2008.
54 p.

1. Lavoura. 2. Pecuária. 3. Sistema de produção. 4. Silvicultura. I. Secretaria


de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. II. Trecenti, Ronaldo. III.
Oliveira, Maurício Carvalho de. IV. Hass, Günter. IV. Título.

AGRIS F08
CDU 631.151
Apresentação

Esta publicação, produto do esforço do


Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento-MAPA, em parceria com a
Fundação Casa do Cerrado, é dirigida a
técnicos que atuam em atividade de fomento, INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-SILVICULTURA 2
assistência técnica e assessoria a produtores
rurais e que desejam ter acesso a Objetivos da integração lavoura-pecuária-silvicultura 3
experiências com os sistemas de Integração
Lavoura-Pecuária-Silvicultura (ILPS). Benefícios da integração lavoura-pecuária-silvicultura 5

Ao longo do texto são apresentados os Alternativas de integração lavoura-pecuária 9


conceitos básicos da ILPS e os principais
benefícios gerados pela adoção desses Estratégias para validar e difundir a tecnologia de
Integração lavoura-pecuária-silvicultura 12
sistemas. O boletim sugere ainda, estratégias
para que o técnico implante, valide e divulgue
resultados de projetos que tenham por Como implantar um projeto de integração lavoura-
pecuária-silvicultura 13
fundamento os princípios de ILPS, bem como
apresenta resultados de experiências de Resultados obtidos em sistemas de integração lavoura-
implantação da ILPS na região do Cerrado. pecuária 16

Este boletim aborda também algumas


INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA (ILPF)
experiências regionais com o intuito de
SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAF`s) 20
oferecer aos técnicos, informações essenciais
para nortear seus trabalhos de orientação aos Espécies recomendadas - região Noroeste de Minas 21
produtores rurais.
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA NO NOROESTE
Pretende-se ainda, incentivar os profissionais DE MINAS GERAIS 26
para que busquem, continuamente, incorporar
ao processo produtivo, melhorias no que se INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA NOS CERRADOS
refere ao manejo dos recursos naturais e na DO PIAUÍ E MARANHÃO 30
gestão do negócio agrícola que resultem em
A PECUÁRIA DE LEITE NA INTEGRAÇÃO
ganhos de produtividade, qualidade e LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA 37
competitividade ao longo das cadeias
produtivas derivadas desses sistemas. CONSÓRCIO DE MILHO COM BRAQUIÁRIA: PRODUÇÃO
DE FORRAGEM E PALHADA PARA O PLANTIO DIRETO 44
Outro aspecto relevante é conhecer o
mercado, pois já não basta produzir bem. É FINANCIAMENTO PARA PROJETOS DE
necessário antecipar-se às suas demandas e INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA 51
exigências para garantir lucratividade e
permanência no negócio. Fontes Consultadas 54

Em resumo, esta publicação não pretende


esgotar o tema em pauta, mas apresentar um
panorama geral do processo de recuperação Editores
de pastagens degradadas com a utilização de
sistemas de ILPS e despertar o interesse dos Eng. Agr., M.Sc. Ronaldo Trecenti
profissionais das ciências agrárias para a Eng. Agr., M.Sc. Maurício Carvalho de Oliveira
Eng. Agr. Günter Hass
necessidade de se pensar a produção rural
sob o ponto de vista da sustentabilidade
econômica, social e ambiental. Brasília, abril de 2008
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-SILVICULTURA
Ronaldo Trecenti¹
Maurício Carvalho de Oliveira²
Günter Hass³

A Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura (ILPS), consiste de diferentes


sistemas produtivos de grãos, fibras, madeira, carne, leite e agroenergia,
implantados na mesma área, em consórcio, em rotação ou em sucessão,
envolvendo o plantio de grãos, de pastagens e de cultivos arbóreos associados.

Os sistemas de ILPS possibilitam a recuperação de áreas degradadas por meio


da intensificação do uso da terra, potencializando os efeitos complementares ou
sinergéticos existentes entre as diversas espécies vegetais e a criação de
animais, proporcionando, de forma sustentável uma maior produção por área.
Esses sistemas otimizam o uso do solo, com a produção de grãos em áreas de
pastagens, e melhora a produtividade das pastagens em decorrência de sua
renovação pelo aproveitamento da adubação residual da lavoura, possibilitando
maior ciclagem de nutrientes e o incremento da matéria orgânica do solo.

A ILPS é uma alternativa vantajosa para o produtor rural uma vez que abre
oportunidades para a diversificação das atividades econômicas na propriedade,
especialmente com a inserção do componente florestal, que gera uma renda
extra ao produtor na forma de madeira ou energia e, ao mesmo tempo, cria um
microclima favorável para a pastagem, que se mantém verde por mais tempo na
entressafra e proporciona condições de bem-estar animal.

O plantio de lavouras para reduzir os custos da recuperação de pastos


degradados não é novo. Pelo contrário, é uma alternativa usada há alguns anos

A formação de palhada é condição essencial para utilização do sistema plantio direto.


¹ Eng. Agr., M.Sc.,Campo Consultoria e Agronegócios Ltda. E-mail: trecenti@campo.com.br
² Eng. Agr., M.Sc., Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA/SDC.
E-mail: mauricio.oliveira@agricultura.gov.br
³ Eng.Agr., Campo Consultoria e Agronegócios Ltda. E-mail: hass@campo.com.br
2
para, com a receita produzida pelas culturas anuais, amortizar, pelo menos em
parte, os gastos com a recuperação da capacidade produtiva de um pasto
degradado. A novidade é que hoje isto pode ser feito com a adoção de técnicas
combinadas que geram altas produtividades. Uma dessas técnicas é o Plantio
Direto, que minimiza os impacto da agricultura sobre o meio ambiente na
implantação dos sistemas produtivos.

Os sistemas de ILPS proporcionam a formação de palhada em quantidade e


qualidade, e viabilizam a rotação de culturas, que são condições essenciais para
o Plantio Direto, contribuindo para a redução dos custos de produção e dos riscos
climáticos e para a melhoria da qualidade ambiental.

Segundo LOS (1997), citado por Ake Bernard van der Vinne, é possível enumerar
formas alternativas de integração da lavoura com a pecuária:
 Introdução de forrageiras num sistema agrícola com culturas anuais para
formação de palhada;
 Introdução de cultivos agrícolas para recuperação de áreas sob
exploração pecuária; e
 Recuperação de solos agrícolas com a introdução de pastagens.

De acordo com Márcio Scaléa, Especialista em Plantio Direto, a adoção dos


sistemas ILPS abre uma perspectiva revolucionária para o Brasil. Scaléa justifica
seu entusiasmo afirmando que com a adoção da ILPS, o País pode responder às
acusações internacionais sobre derrubadas indiscriminadas de florestas para a
expansão da fronteira agrícola, pois basta incentivar a implantação desses
sistemas sobre os mais de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas no
Cerrado para verticalizar a produção agropecuária sem derrubar uma árvore
sequer.

Objetivos da Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura

No passado, a produção de grãos integrada com a atividade pecuária nos


trópicos limitava-se a poucas opções. Hoje são inúmeras as ofertas tecnológicas
aplicáveis às mais diversas situações socioeconômicas e ambientais.

Os principais objetivos da Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura podem ser


enumerados como se segue:

 Recuperar ou reformar pastagens degradadas

Nesse sistema, as lavouras são utilizadas a fim de que a produção de grãos


pague, pelo menos em parte, os custos da recuperação ou da reforma das
pastagens. Na pastagem degradada, cultiva-se grãos por um, dois ou mais anos,
e volta-se com a pastagem, que vai aproveitar os nutrientes residuais das
lavouras na produção de forragem.

3
Para evitar outro ciclo de degradação, é necessário, entretanto, elaborar um
cronograma de adubação de manutenção da pastagem recém-implantada
(Alvarenga, 2004). Após um período de 3 a 5 anos, sem a adubação de
manutenção, a pastagem sofre novo ciclo de degradação devido ao esgotamento
dos nutrientes que entraram no sistema via adubação das lavouras. Para tanto, é
necessário cultivar lavouras novamente na área para a reposição de nutrientes
(Moraes, 1993).

Pastagem recuperada por meio da integração lavoura-pecuária. Observa-se a gramínea dominando


o campo de pastejo após a colheita do milho.

 Melhorar as condições físicas e biológicas do solo com pastagem


em área de lavoura

As pastagens deixam quantidades significativas de palha na superfície e de


raízes no perfil do solo. Isso resulta no aumento do teor de matéria orgânica, que é
fundamental para a melhoria de sua estrutura física. A palha também é fonte de
carbono para os organismos do solo.

Segundo Bennema, 1996, citado por Souza, D. M. G., observou-se que 88% da
Capacidade de Troca Catiônica (CTC) dos solos de Cerrado advêm da matéria
orgânica. Além disso, a decomposição das raízes cria uma rede de canalículos no
solo que facilita as trocas gasosas e a movimentação descendente de água
(Moraes, 1993, Macedo e Zimmer, 1993), contribuindo para a redução do
processo erosivo e para a maior retenção de água no perfil. Esse novo ambiente
criado no perfil do solo pela ILPS é fundamental para garantir maior
sustentabilidade e maior produtividade do sistema agropecuário.

 Produzir pasto, forragem e grãos para alimentação animal na


estação seca

A ILPS possibilita a produção de grãos consorciados com forragem para silagem,


e o aproveitamento desta mesma área para pastejo durante a estação seca. A
correção do perfil de solo proporciona melhor desenvolvimento do sistema
radicular da forrageira que, assim, aprofunda-se no perfil e absorve água e
nutrientes a maiores profundidades (Alvarenga, 2004).
4
 Reduzir os custos, tanto da atividade agrícola quanto da pecuária

A ILPS possibilita ganhos de produtividade, tanto das lavouras quanto das


pastagens, pela menor demanda por agrotóxicos devido a redução de pragas,
doenças e plantas daninhas, pelo melhor aproveitamento da mão-de-obra, de
máquinas e equipamentos em função da diversificação das atividades na
propriedade, o que resulta na redução dos custos de produção (Alvarenga, 2004).

 Diversificar e estabilizar a renda do produtor

Os sistemas de ILPS demandam rotação de culturas e diversificação de


atividades que resultam em aumento de produtividade e conferem maior
estabilidade de renda e de fluxo de caixa na propriedade, uma vez que diminuem
a sazonalidade e os riscos inerentes ao cultivo de uma única cultura (Alvarenga,
2004).

Benefícios da Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura


Os benefícios da ILPS podem ser assim sintetizados: agronômicos, pela
recuperação e manutenção da capacidade produtiva do solo; econômicos, pela
diversificação da produção e obtenção de maiores rendimentos por unidade de
área; ecológicos, em virtude da diminuição do uso de agrotóxicos decorrente da
redução de pragas, doenças e plantas daninhas, além da redução da erosão dos
solos, da maior recarga de aqüíferos e seqüestro de carbono; e, sociais, pela
produção de alimentos seguros e geração de empregos nos diferentes elos das
cadeias produtivas.

Os benefícios dos sistemas de ILPS, podem ser enumerados em:


1-Benefícios da pecuária para a lavoura;
2-Benefícios da lavoura para a pecuária;
3-Benefícios do Plantio Direto para os sistemas de ILPS;
4-Benefícios da silvicultura para a lavoura e para a pecuária; e
5-Benefícios da lavoura e da pecuária para o cultivo de árvores.

O consórcio de cultura anual com pastagem proporciona maior retorno econômico para o produtor e melhoria
na qualidade do solo.
5
1 - Benefícios da pecuária para a lavoura

A palhada, oriunda da pastagem dessecada, soluciona um dos problemas da


agricultura sob Plantio Direto, que é a deficiência desse “insumo” básico para o
sucesso de qualquer programa que adota essa técnica. Outros benefícios que a
pecuária traz para a lavoura dentro da ILPS são:
 Supressão de pragas, doenças e plantas daninhas;
 Ciclagem de nutrientes ( de camadas profundas do solo para as
superficiais); e
 Incremento da matéria orgânica do solo (com melhoria de suas
propriedades químicas, físicas e biológicas).

O sistema radicular das gramíneas possui capacidade de extrair nutrientes das camadas mais
profundas do solo, promovendo a ciclagem de nutrientes.

2 - Benefícios da lavoura para a pecuária

Uma lavoura implantada e bem conduzida sobre uma área de pastagem


degradada, gera uma receita que paga parte dos custos da lavoura ou até mesmo
deixa sobras, amortizando, em meses, o que a pecuária levaria um período maior
para pagar.

A lavoura na integração oferece os seguintes benefícios para a pecuária:

 Aproveitamento do resíduo das adubações da lavoura;


 Produção de forragem de melhor qualidade;
 Recuperação da produtividade da pastagem;
 Menor custo na implantação de uma nova pastagem;
 Aumento da produtividade de leite e de carne (abate com 18 arrobas aos
24 meses de idade); e
 Ganho de peso dos animais, mesmo na época seca.

6
3 - Benefícios do Plantio Direto para os sistemas de ILPS

Os benefícios do Plantio Direto para a ILPS são de ordem econômica,


agronômica e ambiental, conforme apresentado a seguir:

a) Aspectos econômicos:

Segundo Landers e outros, o Plantio Direto em relação ao plantio convencional


reduz em 48% a necessidade de máquinas, reduz a necessidade de mão­de-
obra em até 70% e de óleo combustível de 60 a 70%. O Plantio Direto promove
ainda o controle de plantas daninhas, com a conseqüente redução de capinas
mecânicas ou químicas. Tudo isso somado se traduz em menor custo de
produção e menor aporte de capital para viabilizar a implantação e manutenção
do sistema ILPS.

b) Aspectos agronômicos:

Pela adição de palha, o Plantio Direto proporciona o aumento de matéria orgânica


do solo, tanto em quantidade, como em qualidade, com efeitos diretos na
melhoria da sustentabilidade do agroecossistema. Os sistemas convencionais de
plantio, baseados em aração e gradagens, são responsáveis pelo quadro de
degradação ambiental verificado nas diversas regiões do País.

Observa-se a camada de palha sob plantio de cultura anual em sistema de plantio direto. A palha
proporciona maior retenção de umidade e aumenta o teor de matéria orgânica no solo.

c) Aspectos ambientais:

O Plantio Direto reduz a compactação e controla a erosão do solo em decorrência


do aumento da infiltração de água e da redução do escorrimento superficial pela
camada protetora de palha que se forma na superfície do solo. Outros aspectos
relevantes do plantio direto são: maior retenção de umidade e menor evaporação
de água do solo, redução do assoreamento e da contaminação dos cursos d'água
e maior aporte de água ao lençol freático, entre outros.

7
O plantio de lavoura anual sobre a palhada dessecada protege o solo, reduz a erosão e fornece
nutrientes para a cultura subseqüente.

Tabela 1 - Perda de solo em latossolo vermelho com textura argilosa em terreno


com 10% de declividade.

Fonte: Anais do 8º Encontro de Plantio Direto no Cerrado, 2005, Tangará da Serra, Mato Grosso.

Plantio direto na palha reduz falhas no stand mesmo com pequenos períodos de estiagem no pós-
plantio, vez que retém maior umidade no perfil do solo.

8
4 - Benefícios da silvicultura para a lavoura e para a pecuária

Os benefícios da silvicultura para a lavoura são basicamente servir como quebra-


vento, reduzindo, de forma significativa, a evapotranspiração das culturas e os
danos causados pelas geadas, além de atuar como barreira contra a
disseminação de pragas e doenças.

Para a pecuária, a silvicultura tem um papel relevante na formação de um


microclima favorável à pastagem, o que mantêm as forrageiras verdes por um
período mais prolongado durante a seca, reduz o estresse e proporciona
melhores condições de bem-estar animal, com reflexos positivos no ganho de
peso, na produção de leite e na taxa de natalidade.

5 - Benefícios da lavoura e da pecuária para o cultivo de árvores

A lavoura e a pecuária deixam um residual de fertilidade e promovem a melhoria


das propriedades físicas e biológicas do solo que favorecem o desenvolvimento
das espécies florestais, além de possibilitar o controle mais efetivo de pragas
como formigas e cupins e de plantas daninhas.

Alternativas de Integração Lavoura-Pecuária


As principais alternativas de integração lavoura-pecuária na região do Cerrado,
considerando as condições edafo-climáticas, são:

1) Integração em áreas com pastagem e solo degradados

 Consórcio de culturas anuais com forrageiras:

A recuperação de pastagem degradada em solo degradado pode ser feita com o


cultivo de arroz com forrageiras dos gêneros Brachiaria sp, Andropogon e
leguminosas forrageiras, em solos de baixa fertilidade, utilizando tecnologia
recomendada para a cultura anual. Em solo previamente corrigido com calcário,
preferencialmente com seis meses de antecedência, pode-se consorciar milho,
sorgo, girassol ou milheto com forrageiras dos gêneros Brachiaria, Andropogon,
Panicum e leguminosas forrageiras (Oliveira et al., 1996; Kluthcouski et al., 1999).

 Sucessão lavoura-pastagem anual e/ou perene:

A sucessão de culturas anuais com forrageiras anuais tem sido utilizada para
recuperar pastagem e solo degradados quando o objetivo é produzir forragem
para ensilagem ou pastejo, principalmente na entressafra. Refere-se, quase
sempre, à sucessão anual de cultura de verão (soja, feijão), seguida de cultivo de
espécie forrageira na safrinha, especialmente milheto ou sorgo pastejo,
semeados em fevereiro-março ou milho em consórcio com forrageiras.

9
Rotação pastagem-feijão em sistema de plantio direto. Observa-se a boa cobertura do solo após a
dessecação da pastagem.
2) Integração em áreas com pastagem degradada

Incluem-se aqui as áreas que, depois de devidamente corrigidas, principalmente


em relação à acidez do solo, tenham sido transformadas em áreas de pastagem,
onde, com o passar do tempo, foi exaurida a reserva de um ou mais nutrientes do
solo. Nestas condições, com o objetivo de restabelecer um bom índice de
produtividade da pastagem, podem ser adotadas as modalidades de integração
relacionadas a seguir:

 Consórcio de culturas anuais com forrageiras:

Pastagem degradada pode ser recuperada por meio do consórcio de culturas


anuais (milho ou sorgo) com Brachiaria e Panicum, estabelecidos no início do
período chuvoso, e soja com Brachiaria em sobressemeadura na fase
reprodutiva, R-5 (início do amarelecimento das folhas da soja). Com isso, após a
colheita da cultura anual, a forrageira ainda terá chuva suficiente para o seu pleno
estabelecimento.

Consórcio cultura anual com forrageira. Observa-se que não há competição entre o milho e a
Brachiaria.

10
Rotação/sucessão de culturas anuais com forrageiras:
·

Nesta situação, recomenda-se que pastagens degradadas em solos não


degradados, sejam recuperadas pela rotação com soja. O procedimento consiste
na adubação do solo, conforme recomendação com base em sua análise, e
semeadura direta da soja sobre a palhada da forrageira. Caso seja necessário
melhorar a fertilidade do solo, pode-se manter a rotação por mais de um ano,
plantando-se culturas anuais no verão, consorciadas com forrageiras para
pastejo na entressafra.

À esquerda, a pastagem sucederá o milho após a sua colheita, mantendo-se a cobertura do solo e
garantindo alimentação para o rebanho na época seca. À direita, soja que receberá a
sobressemeadura da Brachiaria para pastejo na entressafra.

3) Integração em áreas de lavoura em solo corrigido

Em solos corrigidos, sob exploração de lavouras, as alternativas de integração


visam principalmente a produção forrageira na entressafra. Por tratar-se de áreas
destinadas à produção de grãos, as opções de integração não devem interferir no
cronograma de atividades de exploração das culturas anuais no período de
verão.

Consórcio de culturas anuais com forrageiras:


·

No consórcio de culturas anuais com forrageiras, são possíveis as associações


de milho e sorgo, graníferos e forrageiros, com Brachiaria e Panicum, e soja com
Brachiaria.

Sucessão anual cultura anual-forrageira anual:


·

A sucessão anual de culturas anuais com forrageira objetiva, temporariamente, a


produção forrageira para a entressafra ou período seco. Consiste em semear
forrageira anual como o sorgo pastejo, a braquiária ou o milheto, na safrinha,
após a colheita da cultura de verão, particularmente a soja ou feijão.

11
Estratégias para validar e difundir a tecnologia de Integração
Lavoura-Pecuária-Silvicultura
Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura representam uma
mudança no modelo de exploração e gestão da atividade agropecuária. Para que
esses sistemas sejam implantados de forma generalizada, os órgãos de fomento
deverão demonstrar aos produtores rurais os ganhos econômicos, ambientais e
sociais dessas alternativas.

Uma forma de acelerar a difusão desses sistemas é a implantação de Unidades de


Observação e de Demonstração visando a validação e a implementação da
alternativa tecnológica mais adequada às características da exploração
conduzida pelo produtor rural.

Instalação de Unidades de Demonstração

Recomenda-se utilizar este método de extensão rural para comprovar, no local em


que será aplicado o sistema de ILPS, as tecnologias geradas e testadas que
tiveram êxito em outros lugares e verificar sua adaptação sob o ponto de vista
socioeconômico e ambiental em uma área específica. Neste sentido, o técnico
deverá buscar apoio de instituições de ensino e de pesquisa, cooperativas,
sindicatos rurais, empresas do setor, entre outras, e celebrar parcerias envolvendo
o produtor rural para dinamizar o processo de adoção do sistema na região.

As Unidades de Demonstração possibilitam testes de alternativas tecnológicas ainda não difundidas


em sua região.

12
Acompanhamento técnico e avaliação das Unidades de Demonstração

Durante todo o ciclo do sistema produtivo o técnico deverá avaliar a Unidade de


Demonstração, ocasião em que serão observadas a germinação, o
desenvolvimento vegetativo, a evolução do experimento, o monitoramento de
pragas, doenças e plantas daninhas, os aspectos climáticos, a produção final e a
avaliação econômica, visando a sua validação tecnológica regional. Para tanto é
imprescindível que o produtor rural acompanhe todas as etapas do processo
produtivo em teste.

A Unidade Demonstrativa, como o próprio nome diz, é implantada para


demonstrar as tecnologias desenvolvidas pela pesquisa. O técnico, com o apoio e
orientação institucional implantará, em comum acordo com os produtores rurais
multiplicadores, as unidades que servirão de pólos irradiadores do sistema de
ILPS.

Unidade Demonstrativa de ILP na AGROBRASÍLIA 2008 com milho e sorgo consorciados com
braquiária e feijão guandu.

Como implantar um projeto de Integração Lavoura-Pecuária-


Silvicultura

Para implantar um projeto de ILPS, o profissional deverá realizar o diagnóstico


da propriedade e definir com o produtor qual o sistema mais adequado às suas
necessidades e condições socioeconômicas e ambientais, e elaborar um projeto
técnico, que deverá contemplar, dentre outros aspectos, o assessoramento ao
produtor rural com, inclusive, o monitoramento ambiental e econômico do projeto
durante o período de sua maturação.

13
Fluxograma para implantação do projeto

PASSO 2
PASSO 3

Planejamento

Elaboração
PASSO 1 do Projeto

Diagnóstico da
Propriedade

PASSO 4

Implantação,
Acompanhamento e Avaliação
do Projeto
Passo 1
Diagnóstico da propriedade

O técnico deverá visitar a propriedade onde será implantado o sistema de ILPS


para levantar a situação atual das atividades desenvolvidas na mesma. O
diagnóstico nada mais é do que uma radiografia da propriedade que permitirá a
identificação das potencialidades e limitações existentes. É este diagnóstico que
vai possibilitar o planejamento e, conseqüentemente, o estabelecimento de
objetivos, metas, cronograma de atividades e avaliação dos resultados do
sistema de ILPS.

Para fazer o diagnóstico da propriedade, o técnico deverá munir-se de um roteiro


para nortear o levantamento das informações necessárias para elaborar o
projeto, de forma a obter, dentre outras informações, a infra-estrutura disponível,
os índices técnicos das principais atividades desenvolvidas na propriedade, as
práticas tecnológicas e o nível de gestão do empreendimento.

No que se refere às características físico-químicas dos solos, recomenda-se que


seja feita análise do material (amostra de solo), coletado em diferentes
profundidades dos perfis (0 a 20cm e 20 a 40cm). A quantidade de amostras
deverá ser representativa da área e das características do terreno, conforme
metodologia agronômica disponível sobre o assunto.

14
Um diagnóstico detalhado da propriedade possibilita um bom planejamento de
uso da terra. A aptidão de cada gleba é um princípio básico a ser considerado no
planejamento do sistema de ILPS a ser implantado.

Passo 2
Planejamento de uso e exploração da propriedade

Ao final do diagnóstico o técnico e o produtor terão as informações básicas


necessárias à avaliação dos negócios desenvolvidos na propriedade, tanto do
ponto de vista técnico quanto econômico. Assim, munidos dessas informações
poderão elaborar o planejamento de uso e exploração da propriedade, de forma a
contemplar os aspectos socioeconômicos e ambientais.

O planejamento de uso da propriedade é realizado para cada unidade produtiva


e para cada produtor, considerando as condições do ambiente e os objetivos de
cada indivíduo em particular. Esse planejamento deve priorizar a utilização da
infra-estrutura disponível na propriedade e prever as demandas de recursos
humanos e materiais para a adequada implantação do projeto.

O produtor e o técnico deverão estar cientes de que a ILPS envolve o cultivo de


diferentes espécies vegetais numa mesma área, e a criação de animais que, por
isso, exigirá novos processos de gestão técnica e empresarial, vez que esse
sistema aumenta o número e a complexidade das tarefas na propriedade.

A implantação do projeto poderá ser gradativa para evitar transtornos


operacionais ou econômicos ao produtor, devendo ser iniciada em uma parte da
propriedade e ir anexando novas glebas até que seja implantado em toda área
destinada à produção agropecuária.

Passo 3
Projeto técnico de ILPS

O projeto técnico de ILPS é função das características da propriedade, obtida a


partir do diagnóstico feito anteriormente. Nesta etapa, o técnico e o produtor rural
deverão eleger o sistema produtivo a ser adotado. Em função das condições
locais (solo, água, clima, infra-estrutura, mercado etc), e dos objetivos
estabelecidos no projeto, mais de um sistema de ILPS poderá ser implantado na
propriedade.

O técnico poderá também buscar mais informações sobre as tecnologias


aplicadas a cada um dos sistemas, acessando os centros de referência da sua
região e, caso o produtor deseje recorrer às linhas de financiamento disponíveis
para a sua implantação, o projeto deve atender às exigências dos agentes
financeiros.

15
Passo 4
Implantação, acompanhamento e monitoramento do projeto

O técnico deverá estar atento para o cumprimento de todas as etapas previstas


na implantação do projeto, conforme preconizado pelo sistema de ILPS a ser
implantado.

A efetividade da implantação do projeto deverá ser avaliada continuamente e de


acordo com as metas estabelecidas, envolvendo o técnico e o produtor, o que
permitirá a correção de rumos em tempo hábil e, assim, evitar prejuízos e
frustrações econômicas ao produtor, descrédito no técnico assessor e no próprio
sistema produtivo.

Resultados obtidos em sistemas de Integração Lavoura-


Pecuária

A tabela 2 mostra os benefícios da integração ao comparar os índices


zootécnicos nacionais com os índices obtidos no sistema de integração lavoura-
pecuária na região de Campo Grande-MS.

Tabela 2 - Índices zootécnicos médios do rebanho nacional e em sistemas


tecnológicos mais evoluídos, em Campo Grande-MS.

Média Sistema Otimizado


Índice Brasileira Integração lavoura-pecuária
Natalidade 60% 85%
Mortalidade até a desmama 8% 2,7%
Taxa de desmama 54% 80%
Mortalidade pós desmama 4% 1%
Idade por ocasião da 1º cria 4 anos 2 anos
Intervalo entre partos 21 meses 12 meses
Idade ao abate 4 anos 1,5 anos
Taxa de abate 17% 40%
Peso da carcaça 200 Kg 230 Kg
Rendimento da carcaça 53% 55%
Fonte: Embrapa Gado de Corte (2000).

16
No gráfico abaixo pode-se observar o resultado do cultivo da soja em Plantio
Direto em área de pastagem degradada de braquiária.
+14%

3500 Soja Contínua


3000
Soja após 2 anos
2500 de pasto
2000
1500 -73%
1000
500
0
Produtividade Consumo
(kg/na) Defensivos
(%)

Fonte: Márcio Scaléa.

Resultados econômicos obtidos em pastagens reformadas com o Plantio Direto

A adoção do Plantio Direto agrega valores do ponto de vista social, econômico e


ambiental ao sistema de Integração Lavoura­Pecuária e pode proporcionar a
redução de 10 a 25% nos desembolsos com a reforma da pastagem. Além disso,
devido à rapidez do processo e à maior eficiência técnica, permite a amortização
dos investimentos já no primeiro ano.
A tabela abaixo mostra um estudo comparativo de custos para renovação de
pastagem de Brachiaria brizantha feita a partir do plantio da soja em sistema
convencional e em sistema plantio direto.
Tabela 3 - Custo e receitas comparativas da renovação de uma área de Brachiaria
brizantha com a utilização do plantio convencional versus plantio direto (cultura
de soja).
Insumo e operações Plantio Plantio Direto
mecânicas Convencional (US$/ha) (US$/ha)
Sementes 34,75 42,62
Adubos 104,92 109,25
Herbicidas 11,33 126,34
Tratamento de sementes 4,30 3,40
Inseticidas 26,50 21,68
Máquinas 117,26 39,17
Colheita 24,22 22,74
CUSTO TOTAL 383,28 365,30
Produtividade da soja (saca/ha) 58,90 60,60
Receita total (US$/ha) 523,03 538,12
Receita líquida (US$/ha) 139,75 172,92
Fonte: Kichel et al., 2003.
17
Resultados obtidos em consórcio de grãos com pastagem

Com o objetivo de avaliar técnicas de recuperação de pastagens em consórcio,


Yokoyama et al. (1999), realizaram experimento em módulos, T1 (milho +
Brachiaria brizantha), T2 (arroz + B. brizantha) e T3 (arroz + B. brizantha +
Calopogonium mucunoides), renovados de acordo com o preconizado pelo
sistema Barreirão. O módulo T4 foi formado de acordo com método convencional
da região, com B. brizantha. Os módulos T5 e T6 foram selecionados nas
proximidades dos demais módulos como testemunhas, predominando a B.
humidicula no módulo T5, e B. humidicula e B. decumbens no módulo T6.

A avaliação econômica foi baseada na produção de grãos, no ganho de peso e na


lotação animal. Observa-se que a produção de grãos nos módulos T1, T2 e T3
amortizou o custo de produção da renovação da pastagem em 49%, 82% e 95%,
respectivamente (Tabela 4).

Tabela 4 - Custo de produção (US$/ha) da formação de pastagem em consórcio


com culturas anuais (T1, T2 e T3) e formação de pastagem convencional (T4).

ITENS Módulo T1 Módulo T2 Módulo T3 Módulo T4


(US$/ha) (US$/ha) (US$/ha) (US$/ha)

Preparo do solo 31,06 31,06 31,06 31,06


Plantio 259,16 202,24 237,33 70,43
Tratos culturais 136,71 62,64 62,64 -
Colheita 44,33 48,25 50,29 -
Administração 15,43 11,20 11,20 2,81
CUSTO TOTAL 486,69 355,39 392,52 93,93
Receita com a cultura 238,68 292,50 374,40 -
Custo líquido da
248,01 62,89 18,12 -
formação da pastagem
% DE AMORTIZAÇÃO DA
49 82 95 -
PASTAGEM
Fonte: Adaptado de Yokoyama et al. (1999) T1 (milho + Brachiaria brizantha); T2 (arroz + B.
brizantha); T3 (arroz + B. brizantha + Calopogonium mucunoides); T4 (B. brizantha solteira).

Os resultados dos módulos T1, T2, T3 e T4 demonstram que a exploração da


pecuária bovina de corte, em pasto recuperado, é uma atividade
economicamente lucrativa, e que os módulos T1, T2 e T3 apresentam vantagem
comparativa, devido à produção de grãos, que cobre parte dos custos de
formação de uma pastagem de qualidade superior comparada às testemunhas
T5 e T6 (Tabela 5).

18
Tabela 5 - Ganho de peso de carcaça kg/ha/ano, kg/100 ha e arrobas/100ha/ano.

Módulos Kg/ha/ano Kg/100ha Arroba/100ha/ano


T1 699,45 69.945,00 2.005,09 (186%)
T2 610,11 61.011,00 1.748,98 (162%)
T3 673,60 67.360,00 1.930,99 (179%)
T4 619,03 61.903,00 1.774,55 (165%)
T5 387,09 38.709,00 1.109,66 (103%)
T6 375,49 37.549,00 1.076,46 (100%)
Fonte: Adaptado de Yokoyama et al. (1999).

Os dados apresentados na seqüência demonstram que a integração lavoura-


pecuária tem condições de viabilizar uma propriedade, pois proporcionou um
incremento de 27% na rentabilidade da atividade produtiva em sistema de
integração, quando comparada com uma cultura de milho solteiro.

Tabela 6 - Rentabilidade de um sistema de integração em comparação com


lavoura solteira.
MILHO MILHO CONSORCIADO COM
DISCRIMINAÇÃO
SOLTEIRO Brachiaria brizantha
Custo da lavoura (R$) 1.967,00 2.007,00
Receita da lavoura (R$) 2.400,00 2.400,00
Renda da lavoura (R$) 433,00 393,00
Custo do Manejo de Ervas com 40,00 0,00
Roundup (Manejo pós-colheita) (R$)

Custo da Pecuária no Inverno (R$) 0,00 150,85


Receita da Pecuária (R$) 0,00 251,37
Renda da Pecuária (R$) 0,00 101,37
Renda Total (R$) 389,00 (100%) 494,37 (127%)
Fonte: Scaléa M., 1999 - resultados obtidos na Fazenda Boa Fé (Uberaba-MG).

Resultados obtidos em pastagens rotacionadas com a soja

A tabela 7 mostra resultados obtidos em propriedade localizada em Lucas do Rio


Verde-MT, onde a introdução de Panicum maximum cv. Tanzânia, em rotação com
a soja, possibilitou elevar a maioria dos índices zootécnicos do rebanho e,
principalmente, a possibilidade de produção de novilho precoce a pasto.
Tabela 7 - A utilização continuada do sistema de integração lavoura-pecuária
eleva os índices zootécnicos do rebanho.
Fator Observado Pecuária Tradicional Sistema Integração Lavoura-Pecuária
Natalidade (%) 55 85
Mortalidade de Bezerros (%) 10 5
Idade de Abate (anos) 4 2 a 2,5
Peso de Abate (arrobas) 17 16 a 16,5
Intervalo entre Partos (meses) 22 14
Fonte: Kluthcouski e outros, 2003.

19
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA (ILPF)
SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAF’s)
Cláudio Ofugi¹
Luciano Lage de Magalhães¹
Raul César Nogueira Melido¹
Vicente de Paula Silveira¹
Apresentação

Este artigo visa apresentar um resumo dos Sistemas Agroflorestais – SAF’s


desenvolvidos e implantados nas propriedades da Votorantim Metais no
Noroeste do estado de Minas Gerais.

SAF ou ILPF é a combinação de cultivos agrícolas, arbóreos, pastagens e criação


de animais, de forma simultânea e/ou seqüencialmente, que permitem a máxima
produção total.

A ILPF é uma excelente alternativa de uso da terra dentro da trilogia de


sustentabilidade: ser economicamente viável, ecologicamente correto e
socialmente justo.

Existem várias formas de se integrar lavoura, pecuária e floresta numa mesma


área. Uma delas é plantar arroz no ano zero, soja no ano 1 e pastagem a partir do
3º ano. Porém deve-se levar em conta o potencial de cada região, podendo-se
plantar outras culturas tais como: milho, trigo, feijão, sorgo, mandioca, girassol,
amendoim, mamona etc.

ANO 0 ANO 1
Agricultura
Agricultura

ANO 3 p/ Frente ANO 2


Pastagem
Pecuária

3-4m

9 - 10 m
Clone de Eucalipto

¹ Votorantim Metais Unidade Aço Florestal - Fazenda Bom Sucesso, fone: (34) 3813.930) - Vazante-MG
Site: www.vmetais.com.br
20
Preparo do solo

Em áreas virgens faz-se a retirada do material lenhoso, entra-se com


§
gradagem pesada, gradagem niveladora, demarcação de curvas de nível
e construção de terraços se necessários. A área deverá ficar limpa e
nivelada.
Em áreas anteriormente cultivadas e/ou de pastagem, pode-se fazer a
§
dessecação do mato com herbicida na área total, e realizar o plantio do
eucalipto em cultivo mínimo.
Para o eucalipto faz-se a subsolagem + fosfatagem (500 kg/ha de fosfato
§
reativo de Gafsa ou similar), em filete contínuo, localizado na linha de
plantio.

Alguns espaçamentos do eucalipto

Entre plantas Área


Entre linhas (m) Plantas/ha
(m) aproveitada
10 4 250 72%
9,5 3 350 76%
9,5 + 3 (filas duplas) 2 800 58%
6 2 833 60%
6 1,5 1.111 60%

Espécies Recomendadas - Região Noroeste de Minas


Cada região tem suas particularidades e requer recomendações específicas. No
caso das culturas agronômicas de ciclo curto, novas variedades são lançadas
constantemente e por isso o produtor deve buscar as variedades mais produtivas
e adaptadas à sua região. O arroz de sequeiro, por exemplo, muito plantado no
início da década de 90 teve as seguintes variedades testadas e aprovadas:
Carajás, Bonança e Aimorés, já a soja as variedades Conquista, Vitória e
Sambaíba.

No caso do eucalipto as espécies mais plantadas são: Eucalyptus urophylla,


Eucalyptus camaldulensis e alguns híbridos como o E. urograndis. Recomenda-
se usar sempre clones destas espécies já adaptados e comercialmente
plantados pela maioria das empresas da região. Alguns dos principais clones
plantados atualmente no Noroeste de Minas são: GG 100 (Gerdau), I 224 e I 144
(Acesita), Cl 058 e Cl 07 (VM), que são facilmente encontrados no mercado.

É de fundamental importância a obtenção de mudas de qualidade (genética,


vigor, sistema radicular bem formado, madura, livres de pragas e doenças etc).

21
Combate a Formigas

As formigas cortadeiras, saúva e quém-quém, são as piores pragas do eucalipto.


Elas devem ser combatidas no período seco, com isca granulada, no mínimo
duas vezes antes do plantio e um repasse logo após o plantio. Daí em diante um
combate anual é suficiente para manter o controle.

Ano Zero

No período chuvoso, geralmente em novembro, planta-se, por exemplo, o arroz


na entre linha do eucalipto, no espaçamento de 10 m ou 9,5 m de largura,
permitindo assim 16 linhas de arroz com espaçamento de 0,45 m.

A cultura ocupa 7,2 m, sobrando pouco mais de 1m de cada lado da linha do


eucalipto. Os 7,2 m de largura da lavoura são suficientes para a passagem de ida
e volta de uma colheitadora tradicional. A linha do eucalipto deverá ser mantida
sem mato-competição.

O controle das plantas daninhas poderá ser feito com enxada ou herbicida. O
herbicida pós emergente mais usado tem como princípio ativo o glyphosate,
facilmente encontrado no mercado. Deve-se tomar muito cuidado, pois, ele não é
seletivo para o eucalipto, ou seja, se atingir a planta pode matar da mesma forma
como age nas plantas invasoras. O eucalipto novo não suporta concorrência com
ervas daninhas, principalmente em se tratando de braquiária.

Quando o terreno é plano ou ligeiramente ondulado e não há necessidade de


terraço, planta-se as linhas no sentido leste-oeste para que as entrelinhas
recebam maior insolação possível na maior parte do ano, beneficiando assim as
lavouras e a pastagem.

Cada cultura agronômica tem a sua recomendação técnica variando com o tipo
de solo e região (clima, relevo). No caso do arroz de sequeiro, no Noroeste
mineiro uma recomendação básica é:

Plantio de sementes tratadas (imunizadas);


§
Calagem com 3 t/ha de calcário dolomítico, PRNT 85%;
§
Adubação com 300 kg/ha de NPK 5-25-15 + 3% Zn;
§
Custo de implantação em torno de R$ 850,00/ha; e
§
Produtividade média de 1.670 kg/ha.
§

Para o eucalipto a recomendação básica de adubação no plantio é 150g de NPK


(10-28-06) + 0,4%B + 0,5%Zn + 0,5%S, aplicados e misturados na cova ou em
cobertura, em duas covetas laterais da muda.

22
Ano 1

Nesse ano, na área ocupada pelo arroz planta-se, por exemplo, a soja. Se
necessário, faz-se de 1 a 2 gradagens para limpeza e nivelamento do solo,
porém, sempre que for possível, fazer o cultivo mínimo ou plantio direto, para
evitar exposição excessiva do solo ao sol e às chuvas.

Antes do plantio da soja, o eucalipto está com aproximadamente 10 meses e


poderá ser desramado até 1/3 da sua altura total sem prejuízo para o seu
desenvolvimento. Esta desrama reduz o sombreamento na entrelinha e melhora
a qualidade da madeira para serraria, evitando a formação de nós. Os galhos
podados podem ficar na linha para decomposição.

A linha do eucalipto deverá ser mantida sem mato-competição por meio de


capinas ou aplicações de herbicida pós emergente. Conforme citado no ano zero,
deve-se tomar cuidado para a aplicação de herbicida a base de ghyphosate não
atingir o eucalipto.

No caso da soja de sequeiro no Noroeste mineiro uma indicação básica é:

Plantio de sementes tratadas (imunizadas);


§
Calagem com 3 t/ha de calcário dolomítico, PRNT 85%;
§
Aplicação de herbicida pré-emergente seletivo;
§
Adubação com 500 kg/ha de NPK (2-30-15);
§
Custo de implantação em torno de R$ 1.400,00/ha; e
§
Produtividade média de 2.040 kg/ha.
§

No período chuvoso o eucalipto deverá receber 20g de borogran (10 % de boro)


por planta, distribuídos num raio de 50 a 60 cm do tronco.

Ano 2

O eucalipto estará completando 2 anos e poderá receber uma 2ª desrama. Pode-


se usar foice bem afiada ou serrote com cabo longo, de forma a atingir até 6m de
altura do chão, lembrando que a desrama deve atingir 1/3 da altura total da árvore
e que os galhos deverão ser cortados bem rente ao tronco evitando ferimentos na
árvore.

No período chuvoso o eucalipto deverá receber a 2ª dose de 20g de borogran (10


% de boro) por planta distribuídos num raio de 50 a 60 cm do tronco.

Faz-se uma gradagem leve na entrelinha para receber a semente do capim. A


gramínea que mais se adaptou ao meio sombreamento, para a produção de
forragem e resistência ao pastoreio foi a Brachiaria brizantha ou braquiarão
como é popularmente conhecida.

23
Neste ano, tem-se como opção plantar o milho para silagem consorciado com a
pastagem (Sistema Santa Fé - Embrapa).

Usa-se de 10 a 12 kg/ha de semente mais 300 kg/ha de fosfato reativo de Gafsa


ou similar.

O custo de formação da pastagem fica em torno de R$ 400,00 /ha.

Após 6 meses pode-se colocar os primeiros animais para o pastejo.

Para cercar a área e para a divisão de pastagens utiliza-se a “eucacerca”, que é


uma cerca elétrica com 2 fios de arame liso, os quais são afixados nas árvores por
suportes com rosca e isolante. Este suporte pode ser adquirido no mercado da
região.

Além da cerca é necessário disponibilizar água, por meio de aguadas ou


bebedouros e sal para o gado, de preferência, em cochos cobertos.

A partir do 3º ano até a colheita do eucalipto

Pode-se trabalhar com gado de corte, leite ou outros animais, de acordo com a
tradição de cada região.

Para o gado de corte a média de produtividade é de 8,25 @/ha/ano, sendo a


capacidade de lotação de 1,5 bezerro (8,25 @/ha). Portanto, coloca-se no início
do ano 8,25 @ e retira-se (colhe-se) ao final 16,5 @.

O animal é um componente muito importante no sistema, pois ele gera receitas


anuais ou bianuais melhorando muito o fluxo de caixa e a atratividade do negócio.
As culturas agrícolas também melhoram o fluxo de caixa com entradas e saídas a
curto prazo, contribuem no preparo do solo e melhoram as condições químicas
com suas adubações e resíduos orgânicos.

O menor número de árvores/ha (250 ou 350) e a menor competição entre as


plantas proporcionam ganho mais rápido em diâmetro. Desta forma, já aos 8
anos pode-se colher postes para eletrificação e aos 12 anos toras acima de 30cm
de diâmetro para serraria. Estes produtos têm maior valor agregado que podem
atingir até 6 vezes o da madeira para energia (carvão). Este valor agregado
somado às receitas das lavouras e da pecuária compensam, com folga, o volume
maior de madeira energética produzido no sistema convencional (3 x 2).

Produtividade média do eucalipto no Noroeste de Minas:

No sistema convencional – lenha, escoramento, estacas – 35m³/ha/ano.


§
No SAF – toras, postes, postinhos p/ construção civil, lenha, estacas etc.
§
25m³/ha/ano.

24
Considerações Gerais

No SAF as árvores proporcionam uma melhoria climática no ambiente da


pastagem, o capim permanece verde e palatável por mais tempo, inclusive na
época de seca. Os animais têm mais conforto em relação às pastagens abertas e
ficam menos estressados. Devido ao bem-estar animal, o gado responde com
maior produtividade de carne ou leite.

Pesquisas de universidades e centros de estudos correlatos, concluíram que o


eucalipto consome tanto ou menos água que qualquer outra espécie arbórea.
Contudo, nenhuma delas cresce e produz madeira tão rapidamente igual a essa
espécie. Então o mito de que o eucalipto seca a terra não se sustenta. E quase
tudo que o eucalipto retira do solo (galhos, folhas, casca etc.) é devolvido em
forma de matéria orgânica. Portanto, se bem manejado, o eucalipto não esgota a
terra.

Quantidade de água necessária durante um ano ou ciclo da cultura:


Quantidade de água necessária durante um ano ou ciclo da cultura
Cultura Consum o de água (m m )
Cana-de-açúcar 1000-2000
Café 800-1200
Citrus 600-1200
Milho 400-800
Feijão 300-600
Eucalipto 800-1200
Obs: 1 mm (milímetros) corresponde a 1 litro por metro quadrado.
Font e: CA LDER, et al, 1992 e LIM A , W. De P., 1992

Eucalipto consorciado com pastagem no período da seca.

25
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA NO NOROESTE DE
MINAS GERAIS
Luiz Adriano Maia Cordeiro¹
Carlos Justin Iora²

Na região Noroeste de Minas Gerais, os trabalhos pioneiros de Integração


Lavoura-Pecuária (ILP), em áreas de sequeiro foram realizados na Fazenda
Trombas, em Cabeceira Grande-MG (Figura 1).

Nesta propriedade, uma área de 27 ha foi cultivada sob “Sistema Santa Fé –


Tecnologia Embrapa” com Milho + Brachiaria brizantha, na safra de 2002/03.
Com a colheita de milho, observou-se produção semelhante àquela onde foi feito
plantio solteiro de milho sobre palhada de soja, com média de 130 sacas/ha.

Posteriormente, a área foi dividida em três piquetes e pastejada por 72 garrotes


cruzados, com média de 8-9 @/animal. Durante o pastejo na época seca, a taxa
de lotação foi de 8 animais/ha, por 120 dias, com suplementação alimentar (sal
mineral, fosbov, quirera de milho e uréia), sendo que o ganho de peso foi de 800
g/animal/dia. Manteve-se o rebanho nesta área até três semanas antes do plantio
do feijão (novembro) e, em virtude do preço de mercado na época, preferiu-se
manter os animais em outra área com pastagem nativa por mais tempo.

No momento da venda, o peso médio dos animais era de 12-13 @, gerando renda
líquida de R$ 250,00/ha, considerando todas as despesas, depreciação de
cercas e demais custos envolvidos. Em seguida, a cultura do feijoeiro em
sequeiro desenvolveu-se de maneira satisfatória sobre a palhada de milho +
braquiarão (boa cobertura vegetal), salientando-se o bom aspecto fitossanitário
da cultura.

No ano seguinte, alguns produtores da região iniciaram áreas-piloto com ILP,


como por exemplo, a Fazenda São João, no Município de Unaí-MG. O modelo
básico adotado nesta propriedade é o “Sistema Santa Fé” com milho + B.
ruziziensis e milho + B. brizantha. Tanto o pasto de 1º ano como o pasto de 2º ano
de B. brizantha formado após a cultura do milho foram destinados à recria e
engorda de animais mestiços anelorados, com ganhos de peso diários superiores
a 700 g/animal.

A adoção dos princípios de ILP, em áreas irrigadas da região, iniciou-se na Fazenda


São Paulo II, em Bonfinópolis de Minas-MG, com produção de grãos (soja, milho e
feijão), suinocultura de alta tecnologia e bovinocultura de corte. Na safra de 2003/04
foi realizado plantio de milho + B. brizantha em área de pivô central, a qual vinha
apresentando baixos rendimentos do feijoeiro devido a problemas de
fungos de solo. Após a colheita do milho, com rendimentos médios de 135 sacas/ha,
a área foi cercada com cerca elétrica e destinada a recria de bovinos nelore com peso
médio de 8 @/animal.

¹ Eng. Agr., M.Sc., D.S. Professor de Agronomia da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Unaí (FACTU),
Consultor da PLANTAR. Unaí-MG. E-mail: ladriano.cordeiro@gmail.com.
² Eng.Agr., PLANTAR – Planejamento e Assistência Técnica. E-mail: plantar@unacabo.com.br.
26
Devido ao bom ganho de peso animal de 3-4 @ (posteriormente, destinados ao
confinamento), manteve-se este sistema com braquiária por um ano e meio. A
braquiária exerceu diversas funções: pastejo de recria, melhoria da estrutura do
solo, redução ou supressão de inóculo de doenças radiculares do feijoeiro
(rizoctonia, fusariose e esclerotínia), aumento do aporte de resíduos vegetais
(palhada), elevação do teor de Matéria Orgânica do Solo (MOS), bem como seus
efeitos conseqüentes.

Observa-se na Figura 2, que os teores iniciais de MOS em 2003 (Figura 2-A),


variavam de 2,0 a 3,2 %, e em 2006 não ocorreu variação na profundidade de
amostragem (de 0-20) cm. Porém, na profundidade de amostragem de 0-10 cm, a
variação dos teores de MOS foi de 2,6 a 3,6, com maior freqüência entre 3,2 e
3,4% (Figura 2-B).

Esta variação nos teores de MOS, com aumento médio de 0,5%, em alguns
pontos chegando a 1,0% ou mais, confirmam o efeito da adoção da ILP e dos
ciclos de pastejo com braquiarão na melhoria deste importante parâmetro do
solo. Estes resultados corroboram com aqueles obtidos por vários autores, a
exemplo de Vilela, L. (Embrapa Cerrados), em que os teores de MOS evoluíram
de 0,84% a 0,94% (em áreas de lavouras contínuas) para 1,23%, quando se
adotou a seqüência lavoura/pastagem.

Figura 1 – Fazenda Trombas, em Cabeceira Grande-MG: Sistema Santa Fé com milho + braquiarão
(no momento da colheita do milho) (A); animais pastejando resteva de milho + braquiarão (B); e, PD
de feijão sobre resteva de milho + braquiarão após pastejo.
2003 2006 2006

(A) (B)
(A) do Solo em 2003 e em 2006 (A) em amostragem
Figura 2 – Mapas de Matéria Orgânica (B) realizada de
0-20 cm, e, em 2006 (B), em amostragem realizada de 0-10 cm - Fazenda São Paulo II, Bonfinópolis
de Minas-MG.
27

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