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José Manuel L. Saragoça
RESUMO
Ao longo do texto procuramos clarificar a forma como esta ciência social se foi
desenvolvendo, fruto do trabalho de inúmeros sociólogos que nem sempre estiveram
(e continuam a não estar) de acordo em relação a aspectos epistemológicos
fundamentais, tais como questões de natureza metodológica, a relação sujeito-
investigador, ou mesmo a definição do próprio objecto de estudo.
1
Texto publicado em 2004 na Revista Economia e Sociologia, nº.77, pp. 67-86.
Universidade de Évora, Departamento de Sociologia
1
INTRODUÇÃO
Nascida no século XIX, num contexto marcado por um novo tipo de sociedade e por
um modo original de pensamento e de prática, a sociologia, embora progressivamente
reconhecida como ciência, fruto da sua consolidação metodológica e de recorte do
objecto de estudo, parece estar hoje mergulhada numa «crise». Uma «crise» a que
não é alheio o estado das demais ciências sociais, e em certa medida, todo o
conhecimento científico (Castells, 1973; Santos, 1999; Boudon, 1971) 2, e que data do
final do século XIX.
Esta crise é justificada por duas ordens de razão: a) por aspectos intrínsecos à
ciência, tais como a possibilidade de fundamentar o rigor e a objectividade do
conhecimento científico, ou a aceitação dos limites deste conhecimento; b) por um
contexto mais geral que tem a ver com o questionamento das consequências sociais
da ciência. Expliquemos. A «ciência moderna», ao permitir conhecer as relações entre
os fenómenos e a sua aplicação na transformação do próprio mundo, vai proporcionar
um poder tecnológico cada vez maior aos seres humanos para intervirem sobre a
natureza e o próprio homem. Assim, quanto maiores os avanços da ciência, maior a
consciência das limitações do Homem e da dificuldade em controlar os avanços da
ciência e da tecnologia. Deste modo, o Homem vê-se obrigado a fazer opções de
mudança, o que implica que se tenha consciência dos fundamentos teóricos e dos
valores que orientam essa mudança.
Acontece que, desde o final do século XIX, e especialmente neste século, a ciência
parece ter frustrado muitas das esperanças nela depositadas, por exemplo, as
relativas à promessa de uma sociedade mais justa e livre assente na criação da
riqueza tornada possível pela conversão da ciência em força produtiva, a qual
redundou na expoliação do terceiro mundo e na criação de um conflito Norte/Sul que
não cessa de se agravar, de par, aliás, com o aumento crescente das desigualdades
sociais no interior dos países do norte (Santos, 1999). Tal situação levou a uma
ruptura de valores e ao início de uma crise que, em várias vertentes, se prolonga até
ao momento actual.
2
O epistemólogo Gaston Bachelard, que procurou denunciar a filosofia existente e fornecer à ciência a
filosofia que alegadamente merece, não parecia, no início da década de 70, preocupado com o futuro do
conhecimento científico. A sua obra A Epistemologia, contém excertos de um discurso que efectuou num
Congresso Internacional de Filosofia, em que afirmou: "na qualidade de homens de ciência, sabeis
melhor do que ninguém que a ciência não se destrói, que nenhuma crise interna pode deter o seu
progresso, que o seu poder de integração permite-lhe aproveitar aquilo que a contradiz. Uma modificação
das bases da ciência produz uma expansão no seu cimo. Quanto mais se escava a ciência, mais ela se
eleva." (Bachelard, 1981: 139)
3
Crítico do estado da ciência, Boaventura Sousa Santos considera que a ciência moderna, além de
moderna, tem sido também ocidental, capitalista e sexista, pelo que exige-se um novo tipo de
conhecimento.
2
naturais, ciências exactas e ciências humanas deixa de fazer sentido. Boaventura de
Sousa Santos vai ainda mais longe. Para este sociólogo, a grande confrontação actual
da ciência só pode ser ultrapassada com a emergência de um novo paradigma
científico: o paradigma da pós-modernidade, fundado na ideia de que todo o
conhecimento científico-natural é científico-social, e que todo o conhecimento é
«local», «total», «auto-conhecimento» e visa «constituir-se em senso comum»
(Santos: 1999).
Ao longo desta reflexão, operaremos com várias categorias epistemológicas, pelo que
importa, desde já, atendermos ao seu significado, por forma de evitarmos desvios em
relação ao que pretendemos transmitir.
3
assumi-los como todo e qualquer "elemento ou processo extra-científico que,
intervindo no interior de uma prática científica, trava, impede ou desvirtua a produção
de conhecimentos" (Castells, 1975: 20). Mas, "na formação de um espírito científico, o
primeiro obstáculo é a «experiência inicial, é a experiência situada antes e acima da
crítica, que é necessariamente um elemento integrante do espírito científico"
(Bachelard, 1981: 170), pelo que fazer ciência é “conviver”, desde a primeira hora e
permanentemente com desafios à objectividade que é preciso ultrapassar.
As ciências sociais têm em comum o objecto real de estudo, uma vez que todas elas
se dedicam ao estudo da realidade, «una e indivisível», conforme preconizou Georges
Gurvitch. Essa unidade do objecto real das ciências sociais começou a ser
reconhecida com base na noção de «facto social total» 7, já que se considera hoje que
todos os fenómenos ocorridos na sociedade são fenómenos sociais totais, isto é, têm
implicações simultaneamente em diversos níveis em diferentes dimensões do real-
social, sendo portanto susceptíveis, pelos menos potencialmente, de interessar a
várias, quando não a todas as ciências sociais (Nunes, 1984:22) 8.
6
A descontinuidade histórica refere-se ao efeito produzido pelo surgimento de uma nova disciplina
científica na história do saber ou, ainda, pela reformulação dos axiomas fundamentais de uma ciência já
constituída, enquanto que a descontinuidade epistemológica respeita à consequência produzidas pelas
«evidências» da percepção e do senso comum no trabalho científico (Castells, 1975: 13).
7
O conceito é atribuído a Marcel Mauss.
8
As ciências sociais distinguem-se não em termos do objecto real de estudo mas empiricamente, em
temos da óptica de análise, do objecto científico de estudo. Adérito Sedas Nunes aponta quatro níveis, ao
considerar empiricamente, na sua visibilidade imediata, a forma como as diversas ciências sociais
nomotéticas se diferenciam umas das outras, a saber: a) os fins ou objectivos da investigação; b) a
natureza dos problemas de investigação que os investigadores seleccionam; os critérios utilizados pelos
investigadores ao fazerem a selecção das variáveis relevantes do estudo dos problemas; e, por último, os
métodos e técnicas de pesquisa empírica e de interpretação teórica que os investigadores consideram
adequados para trabalhar com as variáveis escolhidas (Nunes, 1984: 26).
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A metodologia das ciências sociais (nas quais obviamente se inclui a Sociologia),
realiza a função de garantir a objectividade de uma «descoberta» utilizando como
critério a maior ou menor proximidade que esta apresenta relativamente ao modelo de
acção designado como científico. (Castells, 1975:27). Assumindo que a verdade
provém do objecto e não tanto do sujeito (o objecto predomina sobre a verdade, ou
seja, pressupõe-se que o conhecimento reside nos factos e é deles extraído através
da prática científica) e que os investigadores sociais não conseguem trabalhar com
indicadores e com instrumentos de análise totalmente objectivos/válidos para extrair
dos dados todo o conhecimento, deixando uma margem de manobra à interpretação
do investigador, o empirismo assume-se como o obstáculo dominante nas ciências
sociais.
De qualquer forma, mesmo admitindo que todos os dados são «construídos», que todo
o conhecimento é «abstracção» e «construção» (Nunes, 1984), "o empirismo não tem
«inimigos» nas ciências sociais" (Castells, 1975: 34). Terá, isso sim, e ainda segundo
Manuel Castells, um «concorrente» representado pelo modelo formalista, nas suas
diversas variantes. Em todas elas, se exclui "pelo menos, um dos dois momentos
necessários a toda a investigação científica, seja porque se concebe que a prática
científica está limitada à elaboração de construções especulativas (primeira variante),
seja porque se considera a reflexão teórica como suficiente, pelas virtudes da sua
coerência interna e rigor lógico, para suscitar proposições empíricas tão evidentes que
podem dispensar o processo de experimentação (segunda variante)" (Castells, 1975:
35).
2. A EPISTEMOLOGIA DA SOCIOLOGIA
5
aprendizagem (socialização). Em segundo lugar, é de admitir que nem sempre o
interesse individual preside sempre à conduta humana. Finalmente, dir-se-á que os
indivíduos são diferentes entre si, pelo que não se pode negligenciar o contexto social
que influencia aos comportamentos
6
2.2. AS SINGULARIDADES EPISTEMOLÓGICAS DA SOCIOLOGIA
Uma terceira singularidade, que decorre das consequências da segunda, tem a ver
com a possibilidade de uma sociologia "assim ", uma sociologia crescentemente
«empírica», poder produzir teorias; ou seja emerge a questão de (im)possibilidade de
propor teorias a partir de dados empíricos, necessariamente contextualizados.
Uma vez que, também na linha de Boudon (1971), este «polimorfismo» da sociologia
não se deverá apenas à sua hesitação entre a sociografia e a sociologia propriamente
dita, mas igualmente a factores institucionais e epistemológicos, importa analisá-los. É
o que fazemos de seguida.
9
Segundo Adérito Sedas Nunes, são ciências sociais nomotéticas aquelas que "procuram enunciar leis
científicas e recorrem a métodos de verificação que sujeitam os esquemas teóricos ao controlo dos «factos
de experiência» (Nunes, 1984: 17).
7
fictícias ao mesmo tempo que as condições da sua credibilidade" (Bourdieu, 1999: 23).
Efectivamente, quando abordamos o estudo da sociedade em geral e dos factos de
consciência individuais e colectivos, em particular, não nos deveremos esquecer que:
- o indivíduo é, por essência, social, e que, tal como preconizava Piaget, a sociologia
deve encarar a sociedade como um todo, ainda que esse todo, bem distinto da soma
dos indivíduos, nada mais seja do que o conjunto das relações ou das interacções
entre esses indivíduos;
- a vida social e histórica é um conjunto estruturado de comportamentos de indivíduos
agindo de forma consciente, em certas condições de meio natural e social;
- a estruturação resulta de facto de que dos indivíduos e os grupos sociais procuram
dar respostas unitárias e coerentes ao conjunto dos problemas colocados pelas suas
relações com o meio ambiente;
- a existência de qualquer grupo social constitui um processo de equilibração entre um
sujeito colectivo e um meio social e natural (Goldmann, 1981: 335-336).
Sem outra possibilidade que não seja estar vigilante, o sociólogo deve, para cada caso
particular de estudo, determinar o grau específico de identidade entre o sujeito e o
objecto, e, desse modo, o grau de objectividade acessível à pesquisa.
Como a generalidade dos cientistas sociais aceita hoje, este epistemólogo esclarece
que a "objectividade científica só é possível depois de termos rompido com o objecto
imediato, de termos recusado a sedução da primeira escolha, de termos parado e
contradito os pensamentos que nascem da primeira observação" (Bachelard, 1981:
129) e que, ao partir para a investigação, o sociólogo " tem que começar por criticar
tudo: a sensação, o senso comum, até a prática mais constante e a própria etimologia,
pois o verbo, que é feito para cantar e seduzir, raramente vai ao encontro do
pensamento. Em vez de deslumbrar, o pensamento objectivo deve ironizar"
(Bachelard, 1981: 129). Bachelard conclui que sem esta vigilância desconfiada, nunca
alcançaremos uma atitude verdadeiramente objectiva.
8
uma «descoberta»" (Riutort, 1999: 19), ao mesmo tempo que deve fazer um "esforço
para conhecer e fazer conhecer aos outros as suas valorizações, indicando-as
explicitamente, pois este esforço ajudá-lo-á a atingir um máximo de objectividade
subjectivamente acessível no momento em que escreve" (Goldmann, 1981: 338).
Por outro lado, ainda, o sociólogo deve, ainda, ter presente que não desenvolve a sua
actividade desligado de um determinado contexto, ou seja, que toda a vida psíquica
está estreitamente ligada com a praxis, e que, como tal, fruto do processo de
socialização que vivenciou, ele transporta para o contexto da investigação as
chamadas "visões do mundo", resultado de um processo de estruturação bastante
lento e complexo resultante da praxis das gerações anteriores. Estas visões do mundo
são a «consciência colectiva» de um grupo e predominam nas consciências individuais
dos seus membros, embora com algumas diferenças resultantes de diferentes
processos de estruturação de que foram alvo, e estão na base das suas maneiras de
agir. O sociólogo, ao fazer investigação, deve procurar o equilíbrio nas «consciências
colectivas» dos grupos. Não esqueçamos que ao sociólogo interessa, não a descrição
e explicação do individual mas do colectivo; ele estuda os grupos sociais, em
articulação uns com os outros, e deve ter cuidado para não transferir para a
investigação as suas ideias, a sua «consciência».
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As ideologias "são produtos culturais colectivos que se formam nos grupos, nas classes sociais, nas
sociedades e que aí se encontram difundidos, como formas de ler o real-social" (Nunes, 1984: 96) e não
têm autores individualmente designáveis, como têm, por exemplo, as doutrinas.
9
Abordando a questão da objectividade na sociologia, Weber fala-nos também da
necessidade de termos como fim último a «neutralidade axiológica», isto é, impõe-se
uma separação nítida entre os juízos morais próprios do investigador e a sua análise
científica. Esta separação não é, no entanto, fácil de garantir, já que o sociólogo não
está separado do real, da prática, ele é originário de um meio social, possui «gostos»
e «repulsas» particulares (Riutort, 1999:30). Conforme sustenta Rosenthal, "alguns
estudos de psicologia social têm mostrado que, mesmo em padrões aparentemente
muito cuidadosos, as atitudes e expectativas dos investigadores têm efeitos marcantes
sobre os resultados" (Coulson, 1979:18), pelo que o sociólogo ganha em esclarecer a
distância ou a proximidade que mantém com o objecto de estudo.
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Conforme preconizava Émile Durkheim.
12
Jean Piaget, entendendo que a metodologia não pode separar-se da epistemologia, soube notar que a
reflexão epistemológica surge sempre a propósito de «crises» de uma ou outra ciência, e que estas
«crises» resultam da incapacidade dos métodos anteriores para serem ultrapassados graças à invenção de
novos métodos (Blanché, 1976: 28). É por isso que ele integra a análise dos métodos científicos na
epistemologia.
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desse modo romper mais facilmente com as prenoções (que constituem obstáculos
epistemológicos). No entanto, o sociólogo deve procurar certificar-se sobre a forma
como os dados analisados foram recolhidos, uma vez que a neutralidade das técnicas
se afigura uma ilusão. O sociólogo deve evitar a "armadilha" do artefacto, que pode
definir-se como "um fenómeno artificial produzido pelo analista por força de um
controlo insuficiente das técnicas utilizadas" (Riutort, 1999: 34). Ao fazer uso de
métodos quantitativos o investigador social deve ainda considerar que (Riutort, 1999:
35):
a) a multiplicação de dados estatísticos recolhidos a partir de critérios
combinados não constitui uma garantia suficiente e corre-se o risco de poder conduzir
a um demissão da parte do sociólogo se ele optar por refugiar-se atrás da aparente
neutralidade das informações recolhidas;
b) os indicadores são, em muito casos, «dados» pré-construídos, isto é
apresentam interferências sociais, pelo que remete para outra questão, que é a da
indeterminação social (relativa) dos indivíduos em questão;
c) a classificação dos semelhantes, isto é, a elaboração de nomenclaturas
levanta o problema de saber se as categorias serem suficientemente "sólidas" para
permitirem as comparações e a adaptação às evoluções da estrutura social, de modo
a produzir agrupamentos dotados de um elevado grau de realidade;
d) a técnica das sondagens exige um saber específico, já que existem os riscos
de erro susceptíveis de serem introduzidos em cada etapa do inquérito (duas notas
apenas: pode haver enviesamentos durante a condução dos inquéritos, e podem
obter-se respostas que não correspondem à prática efectiva dos indivíduos, por
inúmeras razões).
Quanto aos métodos qualitativos, lembramos que, embora disponíveis desde o início
da sociologia, apresentam hoje um renovado interesse. A «crise» do empirismo, isto é,
o arrefecimento nos adeptos dos métodos quantitativos, leva os sociólogos a
recorrerem a técnicas como a observação directa ou participante 13, ou a outras
técnicas de recolha qualitativa de grande proximidade com o objecto de estudo.
Vejamos algumas questões epistemologicamente relevantes:
- o investigador social deve fazer um esforço particular para compreender «o
que se passa» numa comunidade que lhe é social e culturalmente distante, e onde,
além do mais, pode ser visto como perturbador;
- ao obter respostas, por exemplo em entrevistas, como pode o sociólogo estar
seguro da sinceridade das informações que recolhe? Uma das práticas exigidas para
obviar esta dificuldade é efectuar a chamada «triangulação» 14;
- o sociólogo jamais se deve esquecer que a relação de inquirição é uma
relação social como qualquer outra e que, como tal, deve ser questionada. A
linguagem por exemplo, difere em função do meio social;
- a situação de inquérito necessita de uma investigação específica, pois, não
basta dar a palavra qualquer um para que o mesmo a tome espontaneamente, e ainda
menos no sentido procurado pelo investigador.
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comum numa acepção rigorosa e sistemática, torna-se, por isso mesmo, equívoca, já
que deixa de dirigir-se unicamente aos especialistas e presta-se, mais do que qualquer
outra, a utilizações fraudulentas - os jogos de polissemia, possibilitados pelos estreita
e imperceptível afinidade entre os conceitos mais depurados e os esquemas comuns,
favorecem o duplo sentido e os mal-entendidos cúmplices que garantem ao duplo jogo
profético as suas audiências múltiplas e, por vezes, contraditórias (Bourdieu, 1999: 37)
Este é, pois, outro obstáculo epistemológico perante o qual o sociólogo se revela
quase impotente, já que usar a «palavra» para divulgar o seu trabalho é um imperativo
incontornável.
Destas três posições clássicas podem encontrar-se ecos nas diversas correntes de
pensamento da sociologia contemporânea. Todas elas parecem colocar em causa o
próprio objecto epistémico da sociologia: a sua aspiração a construir um conhecimento
de carácter científico. Parece que, após um século do seu nascimento, a sociologia
sofre de contestação radical do objectivo por ele visado.
Jean Michel Berthelot considera que há três temas que emergem recorrentemente nos
diversos contextos de discussão: o universalismo da sociologia; o relativismo e o
pluralismo. Analisemos, ainda que resumidamente, cada uma destas temáticas.
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ocidentais sobre a dos países do terceiro mundo, ao exportar modelos teóricos
inadaptados para estes países. Internacionalização conjuga-se, pois, com dominação,
etnocentrismo e imperialismo (Berthelot, 2000:114).
Ora, mesmo que seja possível desenvolver uma posição intermédia distinguindo
universalismo lógico e universalização fica claro que o contexto da discussão relativo à
internacionalização da sociologia afecta a pertinência do objectivo original: ser um
saber científico. Por outras palavras, a cientificidade da sociologia parece estar refém
das suas condições de produção e esse facto levanta um outro problema: o da
relatividade da sociologia, pois "submeter o conhecimento sociológico à determinação
exclusiva do seu contexto de produção é declará-lo um valor relativo" (Berthelot,
2000:115).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, João Ferreira de, e PINTO, José Madureira (1995), A Investigação nas
Ciências Sociais, Lisboa: Editorial Presença
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CASTELLS, Manuel e IPOLA, Emílio (1975) Prática Epistemológica e Ciências
Sociais, Porto: Edições Afrontamento
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