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UNIVERSIDADE FEEVALE

HISTÓRIA DA AMÉRICA PRÉ - COLONIAL E COLONIAL

WILLIAN MICHEL SCHNEIDER

ANÁLISE DA OBRA CERIMÔNIAS DE POSSE NA CONQUISTA EUROPÉIA


DO NOVO MUNDO (1492-1640) DA AUTORA PATRICIA SEED

NOVO HAMBURGO

2011
Cerimônias de Posse na Conquista Européia do Novo Mundo (1492-
1640) é um livro escrito por Patricia Seed especializada em história da
cartografia e navegação. Patricia Seed é uma das maiores autoridades sobre o
tema da latitude no que se refere ao histórico de uso de mapas na exploração
marítima. Suas especialidades incluem história do início da era moderna e eras
coloniais européias, especialmente em relação às culturas Espanhola e
Portuguêsa.

Esta obra foi publicada originalmente na Universidade de Cambridge no


ano de 1995, sobre o titulo de „Cerimonies Of Possessions In Europe’s
Conquest Of The New World, 1492-1640’. A edição na qual eu fiz a leitura foi
por Lenita R. Estevez e publicada no Brasil pela Editora UNESP no ano de
1999. O livro nos apresenta de forma minuciosa o modo como os europeus
demonstraram sua autoridade política sobre os povos, terras e bens existentes
na “América” ou na língua dos europeus o novo mundo, dentro dos anos de
1492 e 1640.

Embasado num rico material bibliográfico, a autora demonstra neste livro


as convicções que os membros europeus possuíam para persuadir tanto os
nativos como os outros colonizadores. O livro como a própria autora descreve
na pagina 11 e 12, sendo como uma obra que “Não constitui, portanto, uma
história de primeiros contatos; nem é um relato das muitas expedições
comerciais e pesqueiras que ligaram Novo Mundo e o Antigo” e sim nos
apresentará “As tentativas iniciais de possuir o Novo Mundo, e de reivindicá-lo
para a Inglaterra, a Espanha, Portugal, a frança e a República Holandesa”.

No decorrer dos capítulos vemos os meios que os ingleses usaram para


implementar a sua posse colonial, ainda nos é apresentado às abordagens
anticerimoniais inglesas com as praticas usuais francesas, as origens e
implicações da prática do discurso formal que justificava a ação militar contra
aqueles que não se submetessem, também encontramos as reivindicações
portuguesas de posse e suas alegações e ainda encontramos abordagens das
reivindicações portuguesas de governar um império marítimo. Com o inicio das
colonizações no novo mundo vemos o quão frágil estavam algumas civilizações
européias que a qualquer instante acreditavam que aconteceria uma invasão
de outros colonizadores, o que fez com que todas as cinco civilizações
européias que vieram colonizar a América se preocupassem em demonstrar
para o mundo que elas que possuíam a posse de determinados locais de
descobrimento, vemos isto claramente nas formas que cada um tentou
demonstrar a sua posse.

Os ingleses declaravam sua posse por meio de construção de casas que


além de serem de uso comum demonstravam que os ingleses ali pretendiam
ficar, alem desta forma usada pelos ingleses, podia se constatar outros dois
meios de se identificar a tentativa de demonstrar a posse inglesa no Novo
Mundo era eles a construção de cercas e jardins. Os ingleses não utilizavam
cerimônias de desembarque mapeamento de estrelas ou criação de
cartografias como os outros quatro povos colonizadores, eles construíam seu
direito de posse por meio de alicerces muito mais familiares em termos
históricos e culturais, o que segundo analisado demonstrava uma semelhança
com o aspecto real de colonização. Dispor de objetos físicos como casas para
estabelecer o direito a terra era uma das características singulares da
sociedade inglesa.

Segundo a autora os ingleses foram uma das primeiras civilizações


européias a criar um sistema de propriedade privada na América, que foi
decorrente das subdivisões das terras e obrigação de cercar e fechar sua terra
para evitar invasões e demonstrar a legitimidade de posse do local fechado.
Isso nos mostra que os ingleses ocuparam o Novo Mundo fixando seus
próprios símbolos nas propriedades e o asseguravam com a produção agrícola.
Enquanto os espanhóis foram atraídos pelo ouro, os portugueses pelas
especiarias, os holandeses pelo comércio e os Franceses pela expansão os
ingleses foram atraídos pelos jardins.

Os franceses ao contrário dos outros europeus, segundo subentendesse


na escrita da autora foi um dos únicos povos que buscou uma aliança e
aprovação dos próprios nativos para sua colonização, que por meio de duas
grandes cerimônias consagravam a posse. Para os franceses tomarem posse
da região amazônica era necessária uma encenação teatral no qual os próprios
nativos tiveram uma participação, mas antes desta procissão os franceses
precisavam de sinceridade e boa afeição dos índios aprovando isso. Na
primeira procissão os índios (tupis) haveriam de prometer abraçar o catolicismo
e uma aliança com os franceses. A persuasão francesa foi muito eficaz, sendo
que na primeira cerimônia os próprios nativos ficaram a cruz ao solo,
simbolizando abraçar a religião francesa, porem só isto para os franceses não
bastava para simbolizar sua completa posse da região amazônica, ainda
deveriam concluir uma segunda cerimônia que seria estritamente política.
Nesta procissão os próprios indígenas cravaram o estandarte Francês ao solo,
passando assim a posse dela ao rei e declarando que todos ali viveriam e
morreriam pela majestade francesa.

Poucas nações européias realizaram cerimônias tão complexas para


legitimar uma posse quanto os franceses fizeram. Diferentemente dos ingleses
os franceses perceberam que um conjunto diferente de procissões dava-lhes o
direito de posse de forma mais transparente.

A autora nos mostra que os franceses apesar de não terem utilizado a


força para autenticar sua posse, haviam recebido uma ordem da coroa de que
se as relações de forma “pacífica” não demonstrassem um resultado aceitável
à força deveria ser usada. Porem desde as primeiras sugestões da coroa eram
que essa posse deveria ser feita por meios cordiais e amigáveis, mas no final
os franceses, segundo a autora nos apresenta, preferiram criar um colonialismo
consensual que chamavam de “aliança”. Nenhum outro povo europeu buscou
tão diretamente a permissão dos nativos a fim de justificar sua própria
autoridade política, e este consentimento político inicial para os franceses era
uma regra pratica e não uma exceção.

Os espanhóis ao contrário dos franceses que utilizavam cerimônias e os


ingleses que declaravam sua posse por meio de objetos físicos usavam o
discurso como meio de proclamação de posse. Este discurso por eles usado
chamava-se Requerimento (Requirimiento), foi o principal meio pelo qual os
espanhóis sancionaram sua autoridade política sobre o Novo Mundo. Contrário
aos franceses que buscavam o consentimento dos nativos os espanhóis
criavam seus direitos pela conquista. O requerimento era um ultimato que
servia para que os índios reconhecessem a superioridade espanhola e acima
de tudo o cristianismo, caso contrário eles enfrentariam a guerra. Os espanhóis
foram o único estado europeu que criou um protocolo inteiramente ritualizado
para declarar guerra contra povos indígenas.

Sendo criado pela coroa espanhola, o requerimento definia em termos


políticos as formalidades para iniciar uma guerra, onde se fixavam os objetivos
da guerra. No qual se percebe que era um ritual militar, político e religioso.
Porem ainda nos dias atuais, segundo mostra a autora, o requerimento é
considerado por muitos um absurdo, tanto na sua descrição quanto
implementação. Para os espanhóis a conquista da obediência política e
religiosa era a mesma coisa.

Desde o inicio das navegações marítimas holandesas, as suas


embarcações navegaram na trilha dos portugueses, trilhando rotas que os
portugueses haviam criado, comercializando nos portos asiáticos e brasileiros,
onde antes só os portugueses comercializavam. Praticamente tudo que os
holandeses conseguiram no seu império ultramarino foi tomado emprestado
dos portugueses, desde os detalhes das rotas, mapas e embarcações. Devido
a um grande número de pilotos e marinheiros holandeses terem trabalhado em
embarcações portuguesas, fez com que eles adquirissem um grande
conhecimento em técnicas de navegação em alto-mar, mapeamentos,
estratégias comerciais, praticas contábeis e até técnicas e táticas de guerra
naval.

Para os holandeses reivindicarem um território para si, eles não


deveriam encontrar os chamados “sinais certos e indubitáveis” de que cristãos,
já tinham estado num determinado local antes, não encontrando nenhum sinal
de evidência na região eles alegavam então ter descoberto a área. Após as
descobertas os holandeses faziam uma descrição extremamente detalhada e
muito compatível com a dos portugueses. Como os portugueses os holandeses
afirmavam seu direito de propriedade devido aos riscos e custos das viagens
de descoberta e também dos negócios e comércios que giravam entorno
destas descobertas. Embora o modo de provar sua posse fosse à descrição, os
holandeses plantavam alguns objetos físicos como demonstração de posse e
avisos a estrangeiros.
Os portugueses foram os “primeiros” descobridores do novo mundo, no
qual alegaram ter descoberto com novas rotas, correntes, ventos e mares. Com
o grande avanço tecnológico português que veio junto com a ciência Árabe e
Judaica a marinha portuguesa deu grandes avanços e iniciou uma nova era no
velho mundo. Os portugueses após a descoberta do Novo Mundo acreditavam
que podiam adquirir seus direitos através dos números e do mapeamento
estrelar.

Segundo a autora os reis portugueses não exigiam a realização de


práticas interpretadas como rituais ou cerimônias, ao invés disto ele exigia
inicialmente um conjunto de números, a altura do sol e a posição das estrelas,
e com isso era feita a reivindicação da região em virtude da descoberta. Os
ritos astronômicos portugueses exigiam que os membros que estavam
registrando estes dados soubessem medir, calcular, ler e escrever. Alem disto
os portugueses assim como os holandeses acreditavam que objetos físicos
eram secundários em relação a outras maneiras de reivindicar suas posses.

De forma bem detalhada e descrita a autora Patricia Seed nos mostra


vários elementos que cada uma das civilizações européias que participaram da
colonização do novo mundo, principalmente focando as cerimônias que cada
uma delas utilizava. Sendo assim, o livro Cerimônias de Posse na Conquista
Européia do Novo Mundo (1492-1640), é umas das obras de porte inovador no
campo da Conquista e Colonização do Novo Mundo que surgiu ultimamente,
sendo um dos livros com uma grande bagagem de referencia bibliográfica, que
pode ser de grande uso em pesquisas redirecionadas aos assuntos de
Conquista e Colonização ocorridos nos períodos entre 1492 e 1640.

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