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DISCIPLINA: Português
NOMES: Ayeska, Guilherme Caetano, Mariana Gabriela, Mariana Miriam, Maria Luíza, Roger
Highlander.
TURMA: Química 2A
Belo Horizonte
22/06/2010
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INTRODUÇÃO
“Esaú e Jacó” é um romance do grande escritor brasileiro Machado de Assis e, dentre estes, um
dos mais abstratos devido às inúmeras teorias que podem ser levantadas em torno do
relacionamento dos irmãos gêmeos Paulo e Pedro.
A obra se passa no Rio de Janeiro, então capital do império e posteriormente da república,
tendo a proclamação da república relatada do ponto de vista do narrador, um antigo diplomata e
figura bem vista na sociedade da época, o conselheiro Aires.
Pedro é um grande defensor das idéias conservadoras da época, tendo como herói o primeiro
imperador brasileiro, D. Pedro I, já Paulo é liberal e impulsivo e essas diferenças foram razão de
inúmeras brigas entre os irmãos ao decorrer da obra.
O título é extraído da Bíblia, remetendo-nos ao Gênesis: à história de Rebeca, que privilegia o
filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendo-os inimigos irreconciliáveis.
RESUMO DA OBRA
Agostinho Santos nasceu pobre, mas por ser um homem de visão política e econômica logo
se torna um dos homens mais importantes da capital do império. Casou-se com Natividade, uma
bela e integra mulher e dedicada esposa. Juntos tiveram apenas dois filhos frutos de uma única
gestação sendo gêmeos idênticos.
Durante a gestação Natividade sentiu um movimento brusco no seu ventre e intrigada com
isso poucos dias após se recompor do parto foi consultar a mais falada cartomante da época e esta
lhe revela que o que houve no seu ventre foi uma briga entre seus filhos e ambos se
desentenderiam sempre, mas que se seriam grandes homens apesar de rivais.
Os garotos cresceram e suas idéias quanto à política se formaram e se provaram opostas,
sendo Pedro um conservador defensor do império e Paulo um liberal republicano. Seus pais se
tornaram Barão e Baronesa e os conflitos continuaram. Paulo decidiu se mudar para São Paulo
para estudar direito, enquanto Pedro permaneceu no rio estudando medicina.
A rivalidade dos gêmeos também se provou no amor, onde ambos se apaixonaram durante a
juventude pela mesma moça Flora, de quem ambos gostam, se entretém com um e outro, sem se
decidir por nenhum dos dois: a moça é retraída, modesta, e seu temperamento avesso a festas e
alegrias, isso levou o Conselheiro Aires a dizer que ela era "inexplicável".
Temendo um grande desastre na sua família, Natividade pede ajuda a um grande e velho
amigo, Aires intervém na relação dos gêmeos como um eficiente apaziguador, mostrando a ambos
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as qualidades de um e de outro e mostrar um caminho racional para ambos seguirem lutando
honesta e dignamente pelo amor de Flora.
Batista, o pai de Flora, recebeu o cargo de presidente da província. Sabendo da nomeação, Pedro
disse à Flora que para onde o pai dela fosse ele iria atrás. Pensando, Flora viu que não queria sair
da corte e pediu ao conselheiro Aires, amigo das duas famílias, que fizesse com que o pai negasse
o cargo. No entanto nada aconteceu, ele foi feito presidente da província ao norte.
Quando o império cai, a situação política da época se torna bastante delicada e imprevisível,
Flora e a família Batista retornam ao Rio, Paulo se torna radiante de felicidade e Pedro um poço de
tristeza, entretanto ambos não entram em atrito mantendo a tranqüila relação existente até então.
As tribulações amorosas de Flora entristecem a moça, então Aires para amenizar a pressão
sobre a ela sugere que esta vá morar com sua irmã Rita no Andaraí, afastando assim os gêmeos e
os sofrimentos da moça.
Este afastamento tornou o relacionamento dos gêmeos conturbado e delicado fazendo com
que ambos evitassem um ao outro. Pedro saiu do quarto que dividia com o irmão e se alojou em um
muito parecido. Durante as refeições ambos nem trocavam palavras se reunindo apenas quando
iam visitar Flora no Andaraí.
Durante certo tempo essa medida se tornou eficaz, entretanto a jovem caiu adoentada e
faleceu. Os gêmeos juram no leito da moça retornar ao bom convívio.
No mês de aniversário da morte Flora os dois saíram cedo e foram ver o túmulo. Pedro
primeiro, Paulo depois. Rezaram e choraram. Os dois então foram eleitos deputados, um fazia
oposição ao outro, nesses tempos Natividade estava velha e no momento antes de morrer teve
uma conferência com os filhos, os fez jurar que para sempre seriam amigos. Morreu. E assim foi o
primeiro ano na política, eram amigos fiéis, todos se impressionavam. No ano da morte de Flora
choraram.
A câmara fechou em dezembro e reabriu em maio do outro ano. Só Pedro apareceu, Paulo estava
a passeio em Minas. Mas quando voltou todos viram a diferença nos gêmeos. Odiavam-se. Muitos
perguntaram a Aires que era amigo da família o que aconteceu para que os irmãos mudassem,
Aires apenas afirmou que eles eram os mesmos, continuando, portanto, a se odiar.
Esaú e Jacó surgiu no fim do Realismo (1904) estando fora da fase áurea desse período
brasileiro e da ficção machadiana (1880-1900). Assim, é difícil enquadrar a obra nos moldes
realistas. Porém é possível encontrar certas características realistas em Esaú e Jacó:
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Enfoque do tempo presente: nessa obra, há enfoque para o tempo presente, a vida
contemporânea, justificando a ironia e a crítica utilizada pelos escritores realistas para “combater”
as devassidões morais da sociedade.
Análise: há uma análise profunda relacionada aos aspectos psicológicos dos personagens.
Machado de Assis, em Esaú e Jacó, analisa a complexidade dual do ser humano.
Objetividade a impessoalidade: o escritor não interfere nas ações de seus personagens. Nessa
obra, Machado de Assis narra os fatos apenas como observador, deixando isso explícito em
algumas passagens do livro: “Ao cabo, não estou contando a minha vida, nem as minhas opiniões,
nem nada que não sela das pessoas que entram no livro [...]”.
Narrativa lenta com descrição de pormenores: como há análise dos fatos e dos personagens o
processo narrativo é lento. Os pormenores, detalhes aparentemente dispensáveis, contribuem para
o retrato da realidade que se quer expor.
Fidelidade na descrição: os fatos e os personagens são descritos com máxima fidelidade, pois quer
se mostrar a realidade direta e objetiva, procurando o que é, não o que deve ser, como os
românticos.
Análise dos elementos da narrativa: foco narrativo, tipo de narrador e ponto de vista;
espaço, tempo, personagens e enredo.
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Nóbrega. É o irmão das almas que aparece no inicio do livro tirando esmola para a missa das
almas. Depois fica rico sem fazer muito esforço, por causa grande esmola de Natividade e pela
política do “encilhamento” do Brasil. Foi um dos pretendentes de Flora.
Plácido: É “doutor em matérias escusas e complexas”, que procura explicar a rivalidade dos
gêmeos. Morre desenvolvendo a teoria da “correspondência das letras vogais com os sentidos do
homem”.
Perpétua: Irmã de Natividade e tia dos gêmeos. É a responsável pelos nomes dos meninos. É
também amiga e confidente desta.
Rita. É a irmã do Aires com quem Flora vai passar uma temporada, em cuja casa acaba
morrendo. Era viúva e se vangloriava de “ter cortado os cabelos por haver perdido o melhor dos
maridos”.
O núcleo central da história gira em torno da rivalidade entre os dois gêmeos, sendo de
fundamental importância a presença de Flora, que existe porque os gêmeos existem. Pedro e
Paulo, os gêmeos, filhos de Natividade e Santos, nascem sob uma profecia: seriam rivais na vida,
mas seriam grandes: “coisas futuras” - como previu a cabocla do Castelo. Nascem e crescem com
uma rivalidade de irmãos, tal como Esaú e Jacó ou os apóstolos Pedro e Paulo. Acabam amando a
mesma mulher, Flora, filha do Batista e de D. Cláudia. Flora que também os ama os dois acaba
morrendo como solução da discórdia entre os dois. Depois de Pedro formado médico e Paulo
formado advogado, chegam às “coisas futuras”, tornando-se deputados.
No romance, é marcante a figura do Conselheiro Aires, pai espiritual dos gêmeos. Sua
presença acaba por ofuscar as demais, passando de personagem secundária a principal. Ele
parece uma voz da consciência das personagens.
O drama central do livro é um triângulo, onde os gêmeos assumem posições opostas e buscam a
mesma mulher, que tenta unir os irmãos. Entre eles se põe o Aires, que ocupa o centro do triângulo
e do livro, como guia e pai espiritual dos três.
Embora Esaú e Jacó apresente a juventude de Flora e dos gêmeos e a idade de Aires,
marcada pela serenidade e sabedoria, o núcleo principal do romance é a dualidade do ser humano.
Machado de Assis também faz um retrato do momento político brasileiro, em que o Brasil passa de
Império a República.
A dualidade do ser humano está explicita no próprio título do livro: Esaú e Jacó, figuras bíblicas,
filhos de lsaac e Rebeca, que se caracterizaram pela rivalidade. “Como as crianças lutasse no seu
ventre, ela disse: ‘ Se assim é porque me acontece isso?’ E ela foi consultar o senhor, que lhe
respondeu: ‘Tens duas nações no teu ventre; dois povos se dividirão ao sair de suas entranhas. Um
povo vencerá o outro, e o mais velho servirá ao mais novo’ “ [Gênesis, Capítulo 25, versículos 22 e
23]. Os irmãos têm nome de Pedro e Paulo, nome de dois apóstolos que tinham alguns choques na
bíblia, já que um era o oposto do outro. Isso também é dito por Plácido, durante a história.
Pedro e Paulo não são indivíduos autônomos, se completam, são símbolos, representação duma
dualidade radical no homem, desde a criação, como faz sugerir a expressão “desde o útero” e a
“flor eterna” do Aires, no final do livro: “...não quis repetir que eles eram os mesmos, desde o útero.
Preferiu aceitar a hipótese, para evitar debate, e saiu apalpando a botoeira, onde viçava a mesma
flor eterna...” É como se o homem nascesse assim, é assim, e será eternamente assim.
O caso psicológico e humano abordado no livro é o de os gêmeos serem dois e não um. As
duas personalidades, uma de Pedro e a outra de Paulo, que deveriam nascer em um, nascem em
dois. Os dois aspectos que deviam estar numa só pessoa estão em duas separadas.
Machado preferiu isolar os dois componentes básicos do ser humano: coração (Paulo) e espírito
(Pedro), e usar Flora como a conexão. Isolados em dois é mais fácil a análise do ser humano e a
sua complexidade.
É isso que o livro nos mostra: todos nós temos dois gêmeos dentro de nós. Todos nós temos
um Pedro (espírito) e um Paulo (coração). Ora somos inquietos, como Paulo, ora dissimulados,
como Pedro; ora liberais como Paulo, ora conservadores como Pedro. Por isso que Flora os
confundia numa só pessoa: Pedro era o lado que faltava em Paulo, e Paulo era o lado que faltava
em Pedro; um completava o outro, porque cada um deles não era uma pessoa completa: “Flora
sentiu a falta de Pedro, como sentira a de Paulo na ilha; tal era a semelhança das duas festas.
Ambas traziam a ausência de um gêmeo”. Também nesse sentido está aquele desenho de Flora,
“em que estavam desenhadas duas cabeças juntas e iguais”, que o Aires identificou com os
gêmeos, observando que “as duas cabeças estavam ligadas por um vínculo escondido” [Cap. C –
Duas Cabeças]
Na narrativa aparecem vários fatos políticos da história do Brasil: a abolição da escravatura, em
1888, vem mencionada rapidamente, mas serve para Paulo falar a respeito do sentido republicano
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“A abolição é a aurora da liberdade; esperemos o sol; emancipado o preto, resta emancipar o
branco”.
A passagem do império para a república é rápida, da noite para o dia [Cap. LIX Noite de 14 e
Cap. LX Manhã de 15], o que o livro ironiza com a “tabuleta do Custódio”, que caía aos pedaços
com a “madeira rachada e comida de bichos”. Era preciso uma reforma, e o Custódio, embora a
contragosto, envia-a ao pintor. Nem bem este tinha acabado a sua obra, estava no d [Cap. LXII –
“Pare no D”], proclama-se a República, sem ao menos avisarem ao homem. Custódio estava
desesperado. Em vão o Aires procura consolá-lo, observando que nem tudo estava perdido.
Poderia perfeitamente trocar de nome. O pintor parara no “d” (“Confeitaria d”). Era fácil acrescentar
“República” (“Confeitaria da República”), e Custódio responde: “Lembrou-me isso, em caminho,
mas também me lembrou que, se daqui a um ou dois meses, houver nova reviravolta, fico no ponto
em que estou hoje, e perco outra vez o dinheiro”. Mas como insinua Aires, agora junto ao Santos,
“nada se mudaria; o regime, sim era possível, mas também se muda de roupa sem mudar de pele
[...]; tudo voltaria ao que era na véspera menos a constituição”.
O tema principal de “Esaú e Jacó”, a rivalidade entre irmãos, é tão antigo quanto atual. O título
do livro já faz referência ao Gênesis, já que carrega os nomes dos gêmeos bíblicos, que sempre
brigavam e já amaram a mesma mulher. Essa rivalidade aparece também no livro “Dois Irmãos” de
Milton Hatoum que “tematiza o incesto, a rivalidade, a revolta, o ciúme e as tantas nuanças que
desajustam a vida de uma família de imigrantes libaneses residente em Manaus” (SAMPAIO, 2007).
O tema também aparece na televisão. Na novela “Viver a Vida”, os irmãos gêmeos Jorge e
Miguel, interpretados por Mateus Solano, sempre brigaram, e tiveram um relacionamento com a
mesma mulher, Luciana (Aline Moraes).
Curiosidades
* Assim como em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o narrador de Esaú e Jacó trava um diálogo
com o leitor da obra.
* O título Esaú e Jacó, como dito anteriormente, não é o nome dos personagens principais do livro.
Ele é um título extraído da bíblia, referente a gênesis.
* Machado de Assis considerava-se apenas um editor do romance, cujo verdadeiro autor / narrador
seria o Conselheiro Aires (No entanto, embora Aires seja ao mesmo tempo narrador e personagem,
observa-se que a narrativa não é contada em primeira pessoa.).
fonte: http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/esauejaco
* Há estudiosos que chegam mesmo a considerar Esaú e Jacó um romance histórico ou político,
centrado exatamente nesse conflito: República X Império; conflito do qual os gêmeos seriam
simbolicamente a personificação. A não-conciliação dos gêmeos representaria, então, a
impossibilidade de se chegar a um regime político ideal.
* O crítico Ivan Teixeira, no livro Apresentação de Machado de Assis, resume bem a ambigüidade
narrativa de Esaú e Jacó: "[...] acabou gerando uma nova dimensão de foco narrativo: nem primeira
nem terceira pessoa. Mas uma coisa diferente, em que um autor imaginário trata-se a si mesmo
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como um ele, uma terceira pessoa, a cuja visão de mundo submete, no entanto, toda a outra
matéria narrada no romance".
Considerações finais
Podemos concluir que um dos aspectos que são comuns nas obras machadianas é a ligação
que há entre os livros, pois os personagens de um também participam de outras obras. Outro
aspecto relevante é a temática, que se assemelha com a sociedade atual, mesmo estes livros tendo
sido escritos a vários anos.
Apesar de Esaú e Jacó ser uma obra-prima pouco lembrada pelos críticos e leitores, nós
gostamos do assunto do livro, apesar de este ser abordado de uma forma um pouco cansativa, e
recomendamos a todos que leiam essa obra ou alguma outra do Machado de Assis, considerado
por muitos o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos maiores escritores do mundo,
enquanto romancista.
Bibliografia
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