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A caneca de chá

Era uma vez... um homem que se dizia muito inteligente. Considerado -


pelo próprio -tão inteligente, ao ponto de não admitir que existisse alguém que
fosse mais inteligente do que ele. sobre qual assunto ou tema fosse, ele
prontamente se dizia saborear:era o melhor em ciências, matemática,
astrologia, conhecia como ninguém os aspectos do conhecimento humano,
estava atualizado em todos os conceitos de informática, as pesquisas
cientificas lhe eram claras e as denominavam todas, era fluente em diversos
idiomas e conhecia profundamente as culturas e os povos mais variados. Enfim, ele era,
realmente, muito bom em tudo.
Com essa forma de ser, ao longo de sua vida, ele sempre se conduziu com arrogância
e auto-suficiência. Duvidava e desafiava, portanto, que alguém pudesse ser melhor ou mais
inteligente do que ele.
Num certo dia, entre uma estória e outra da sua vida de tanta sabedoria, ele se deparou
com um outro homem, que se aproximou e lhe falou, tranquilamente:
"-Você sabia que eu conheço um homem que é muito melhor do que você"?
Imaginemos a reação dele - ficou grosso, irritado, começou a falar alto... "Não é
possível!!! Eu duvido que esse , ou qualquer outro cara ,possa conhecer alguma coisa a mais
do que eu. Afinal, eu sou muito bom. Eu sou o melhor!"
O outro homem, mais uma vez, lhe disse calmamente:
"_Pois bem, eu vou lhe dizer como chegar até ele e ai vocês se duelam e decidem, finalmente,
quem é o melhor."
_ “Então, diga logo, porque eu vou lá e mostro que ele não é de nada.” _retrucou.
Após colher todas as informações de onde chegar até onde morava o “tal melhor do que
ele”, o homem preparou-se todo, reciclou-se, fez revisão no seu carro e escolheu o dia de sua
viagem. Era uma manhã de sol, muito bonita, temperatura suave , quando ele pegou sua pouca
bagagem,entrou no seu carro e dirigiu por várias horas. Lá por volta do meio dia, estancou num
local, ás margens de um rio, onde teve que alugar um barco, para continuar sua viagem.
Navegou pouco mais de uma hora, desembarcou ,procurou um lugar que tivesse uma boa
refeição e, após descansar um pouco, continuou seu trajeto. Desta vez a cavalo. Cavalgou
quase duas horas _subindo e descendo montanhas, atravessando planícies... Tudo muito
verde e bonito.
Ao entardecer, ele chegou, finalmente, a um bem descampado, poucas árvores, onde
ele só ouvia o som do vento, o canto dos pássaros e o barulho das águas de um riacho. Apeou
do cavalo, por alguns momentos, inspirou-se profundamente aquele ar puro, lavou-se do
cansaço nas águas límpidas do riacho, montou, de novo, no seu cavalo e se dirigiu para o
local que, supostamente, poderia ser a moradia do tal homem. O vento soprava um pouco
mais frio.
Avistou, numa montanha um pouco á frente, um pequeno casebre, onde percebeu
fumaça e deduziu confiante; "_Deve ser ali." Aos poucos, foi se aproximando e falando
consigo: "Morar num lugar desses... tá certo que é muito bonito tranqüilo... mas, é longe de
tudo, de todos_da tecnologia, das pessoas, da TV, dos shoppings, da praia, das festas, enfim,
morar num lugar desses só sendo muito burro alienado”!
Com esse pressuposto, foi chegando perto da casa e constatou que havia uma fogueira
acesa, sobre o fogo uma chaleira bem preta pela fumaça, ao lado da fogueira um tronco de
árvore, sobre o tronco uma única caneca bem surrada e, perto do fogo, percebeu, também
pelas costas, um homem assentado no chão, aparentando uma ideia já avançada, bem
agasalhado e de chapéu. A poucos metros, ainda sobre o cavalo, foi falando:
"_Ei, você! Eu vim aqui saber em que você é melhor do que eu"!
O homem, mesmo assentado, virou-se, lentamente, e lhe sugeriu:
"_Você não gostaria de descer do seu cavalo?"
Ele desceu e,arrogante, repetiu:
"Olhe aqui, eu não posso perder tempo. Me disseram que você é muito inteligente,sábio e eu
vim pra saber onde em que você mais inteligente do que eu".
Outra vez, com a mesma calma, o homem sugeriu:
"_Você não quer sentar um pouco?"
"_Sentar...onde? Aqui não tem nenhuma cadeira!"_ironizou.
"_Sente aqui, no chão, perto de mim"_respondeu o homem.
Ele aceitou o convite, mas foi logo falando a razão de estar ali. Dissecou e dissertou sobre tudo
o que supostamente sabia. Falou minutos a fio, sem parar, e o velho homem apenas ouvido
Concluiu, finalmente, dizendo:
"_Bem, agora que eu já lhe disse parte do que eu sei e sou, gostaria que você ousasse dizer
algo que provasse ser melhor do que eu, porque, como já lhe afirmei, eu sou melhor do que
você.
Mantendo a mesma tranqüilidade de antes, o velho, desta vez, lhe sugeriu:
"_Você não gostaria de tomar um chá comigo?"
"_ Tomar em quê?! Só tó vendo esta caneca velha e surrada aqui."
_retrucou, apontando para a caneca sobre o tronco.
"_Tomemos neste mesmo” _respondeu.
Assim, o velho lhe entregou a caneca, pegou a chaleira de chá, fervendo, e começou a
derramar o chá na caneca. E foi derramando, derramando, derramando... até que transbordou
e molhou o visitante, queimando-o até. Ele se levantou, irritado e esbravejou:
"_Eu bem que sabia. Vim aqui em busca de um homem sábio, inteligente, capaz e olha só o
que encontro: um velho maluco, sujo, esclerosado, que não sabe, sequer, servir uma caneca
de chá para um visitante."

De novo, com muita serenidade e prudência, o velho homem lhe esclareceu:

"Pois é... você está exatamente igual a esta caneca de chá: está tão cheio.
transbordando de coisas que sabe ou pensa que sabe que não dá chance a você
próprio de aprender coisas novas ou admitir que existem pessoas que lhe podem
enssinar algo. Esvazie-se .
Oportunize a você a chance de esvaziar um pouco da sua caneca interior e, com certeza,
novos aprendizados reencherão a sua caneca.”

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