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PUCRS – FSS – PPGSS - MESTRADO

Disciplina: A Questão Social e as Políticas Sociais – 2011/1


Professora: Dra. Idília Fernandes
Mestranda: Márcia Chaves Moreira

Síntese das Principais Idéias do Artigo: “Questão Social, Serviço Social e Direitos de
Cidadania”,
de Potyara A. P. Pereira. In: Revista Temporalis...

1- Introdução: Ponto de Partida da Reflexão: a autora inicia o texto trazendo o debate


contemporâneo acerca de uma “nova questão social”, bem como a necessidade de seu
enfrentamento no marco das transformações da sociedade capitalista. Questiona a
existência desse fenômeno e deixa claro que sua dúvida diz respeito não só ao termo
“nova”, mas também ao emprego do substantivo “questão” “para designar problemas e
necessidades atuais (...) que se impõe sem problematizações de peso, e, portanto, sem
enfrentamentos à altura por parte das forças sociais estratégicas” (p.51).

2. A Questão da Questão Social: busca clarear o conceito de questão social, explicitando que
expressa a relação dialética entre ESTRUTURA E AÇÃO. Nessa relação, os sujeitos
estrategicamente situados assumiram papéis políticos fundamentais para transformar
NECESSIDADES SOCIAIS em QUESTÕES (p.51).

Para que?

Para que elas fossem incluídas (incorporadas) na agenda pública e nas arenas decisórias.

Então, a autora questiona:


DE QUE QUESTÃO ESTAMOS FALANDO HOJE?

Argumenta afirmando que OS RISCOS E NECESSIDADES CONTEMPORÂNEOS AINDA CARECEM


DE EFETIVA PROBLEMATIZAÇÃO. Problematiza trazendo o questionamento se não estaríamos
diante de uma QUESTÃO LATENTE que ainda não foi EXPLICITADA dada a posição desigual
dos setores progressistas na atual correlação de forças (p.51). Afirma a existência de
desafios atuais, que produzem efeitos devastadores, porém, o contexto é de fraca
articulação de atores políticos estratégicos. Não que estes estejam apáticos, mas sem
condições objetivas para impor uma superestrutura favorável (p.52).

Afirma seu entendimento de que essas forças “continuam fazendo parte do âmago processo,
o qual ao mesmo tempo que as enfraquece, as alimenta como oponentes”. Assim, diz que a
falta de forças sociais com efetivo poder de pressão ocasiona o que se tem hoje, ou seja, não
propriamente uma “questão social” explícita, mas, sim uma incômoda e complicada questão
social latente.

A explicitação desta é o principal desafio das forças sociais progressistas (p.52). Traz o
caso do DESEPREGO ESTRUTURAL – sua instauração está no CENTRO de uma MUDANÇA
CIVILIZACIONAL (p. 52).

Como assim?

Porque rompe com uma civilização baseada em valores herdados do iluminismo


(IGUALDADE, LIBERDADE, JUSTIÇA SOCIAL, GARANTIAS DE DIREITOS SOCIAIS E
TRABALHISTAS) e entra em outra civilização, na qual esses valores são rejeitados / repelidos
e...

Material produzido para auxiliar no seminário sobre Questão Social. Os grifos são da mestranda.
“o desemprego deixa de ser acidental ou expressão de uma crise conjuntural, porque a
forma contemporânea do capitalismo não prevê mais a incorporação de toda a sociedade no
mercado de trabalho e de consumo” (Chauí, 1999, p.29, citada por Pereira,....p. 52).

Com isso ocorre...

- esvaziamento da sociedade salarial


- perda do poder de pressão e de contra-regulação social dos sindicatos
- desmantelamento dos direitos sociais
- aumento da pobreza relativa e absoluta

Nesse mesmo caminho temos a SUBSTITUIÇÃO DE UM PERFIL HISTÓRICO DE PROTEÇÃO


SOCIAL que tinha como pilares:

- pleno emprego
- políticas sociais universais
- extensão dos direitos sociais

POR OUTRO PERFIL:

- com plena ocupação com desemprego - ambos crescentes


- insegurança social

Nesse novo perfil os empregados e desempregados são responsáveis pela sua segurança
social e de sua família(p.53).

Além do desemprego estrutural cita outros problemas:

- ameaça bélica, com o término da guerra fria;


- deterioração do meio ambiente;
- aprofundamento da desigualdade social, que vem dando margem ao aparecimento de
teorias que tratam os pobres como subclasses e insiram políticas sociais minimalistas,
domesticadoras, punitivas da pobreza, integradoras
- globalização da pobreza
- acirramento do racismo e das lutas étnicas
- desmonte dos direitos sociais

Fala que são problemas AGUDIZADOS pela economia global e pela hegemonia do liberalismo
de mercado.

Assim, embora existam problemas com impactos negativos sobre a humanidade, eles ainda
não foram DECISIVAMENTE PROBLEMATIZADOS e TRANSFORMADOS em QUESTÕES
EXPLÍCITAS. “Ainda não foram alvo de correlações de forças estratégicas a ponto de
abalarem a hegemonia da ordem dominante e permitirem a imposição de um projeto contra-
hegemônico”(p.53).

Daí, fala dos pressupostos e condições que considera indispensáveis à explicitação da


QUESTÃO SOCIAL:

- a relação entre ESTRUTURA E SUJEITOS: se traduz pelo confronto entre NECESSIDADES


(engendradas pela própria contradição fundamental do sistema capitalista) e ATORES
SOCIAIS (estrategicamente situados e com poder de pressão para desnudar e amaldiçoar
publicamente as forças que os oprimem) (p.54).

MAS, para isso é preciso que haja uma superestrutura minimamente favorável:

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- com presença de um Estado com capacidade de regular e garantir direitos
- existência de regras democráticas susceptíveis à luta política

JUSTAMENTE
Por isto a autora diz que NÃO considera O
osQUE ESTÁ SENDO
problemas atuais com aspectos explícitos ou
DESMANTELADO!
traços da QUESTÃO SOCIAL capitalista. Ou seja, aquela questão social constituída na Europa
do século XIX, no marco da revolução industrial (p. 54).
Por que?

Porque esta QUESTÃO foi assim denominada por expressar contundente EMBATE POLÍTICO.

Considera que os problemas atuais são produtos da mesma contradição que gerou essa
QUESTÃO, mas que hoje, ainda não foram suficientemente politizados. Assim, conclui:

“Questão Social NÃO é sinônimo da contradição entre capital e trabalho e entre forças
produtivas e relações de produção – que geram pobreza, desigualdades, desemprego e
necessidades sociais - , mas de embate político, determinado por essas contradições” (p.54).

3. Quanto ao Adjetivo “Nova” Questão Social: também discorda dessa qualificação pelo fato
de ela se referir às manifestações contemporâneas de problemas que são engendrados
pelas contradições fundamentais e de propugnar métodos de gestão social cuja principal
novidade é de serem diferentes dos adotados pelo Walfare State keynesiano (p.54).

Que conjuntura é essa?

- Estão se esgotando os fatores e condições que transformaram o Estado-nação moderno,


em meados do século XX, em grande agente regulador e mediador das relações entre
capital e trabalho e no garante de direitos de cidadania, especialmente os sociais.
- Com globalização e reestruturação da economia, desnacionalização do capital o próprio
Estado-nação viu-se afetado na sua soberania e na sua capacidade decisória interna.
- A unidade de classe que contribuiu para o sucesso dos movimentos organizados em sua
luta pela extensão da cidadania e pela melhoria das condições de vida e de trabalho da
classe trabalhadora, agora está abalada e minada por uma pluralidade de interesses. A
influência do pensamento de esquerda que fortalecia o ideário da liberdade com justiça
social está debilitada.

Mas estruturalmente esse quadro é determinado pelo confronto entre forças produtivas e
relações de produção. ISTO É, O FUNDAMENTO OCULTO DE TODO O EDIFÍCIO SOCIAL E QUE
ESTÁ NA BASE DA QUESTÃO SOCIAL (SEJA NOVA, VELHA, POTENCIAL OU EFETIVA). “(...) no
âmbito da estrutura econômica o fator determinante das mudanças são as forças produtivas,
identificadas com o desenvolvimento da maquinaria, descoberta das novas tecnologias,
aperfeiçoamento da educação e as modificações fundamentais no processo de trabalho”
(p.55).

“São essas inovações que vão criar contradições na ordem prevalecente, forçando
mudanças nas relações de produção (econômicas, políticas e sociais) e gerando desafios ou
problemas que vão requerer a substituição de paradigmas e alterações significativas na
relação capital/trabalho, Estado/sociedade (p. 55).

Esse processo já aconteceu em outros momentos da história e está acontecendo novamente,


mas hoje está ocorrendo de forma muito intensa e acelerada. Identifica-se com uma
verdadeira revolução tecnológica chamada por uns de terceira revolução. (dando origem a
era informacional em substituição a industrial) (p.55).

Material produzido para auxiliar no seminário sobre Questão Social. Os grifos são da mestranda.
Ora, a máquina-ferramenta que impulsionou a o desenvolvimento da civilização industrial,
está sendo substituída por máquinas de controle numérico e robôs que afetam todas as
atividades da vida humana. Isso não muda o fato objetivo de que as máquinas constituem a
base tecnológica da produção capitalista. Por isso que o NOVO é questionável. O que há de
novo para qualificar a questão social? (p.55)

A autora também questiona a novidade nas atuais formas de regulação e gestão social – as
chamadas políticas sociais de nova geração (veiculadas pelo ideário neobliberal), que se dão
por falta de alternativas ao pacto interclassista, ditas pluralistas, que na prática
responsabilizam mercado e sociedade pela provisão social (p. 55).
A autora pondera que os estados de bem estar sempre foram pluralistas, no sentido de
incorporar grande variedade de provedores (estado, mercado, agências voluntárias, redes
informais de prestação de ajuda) e que, de fato, o que se quer com esses arranjos modernos
é a criação de uma via para a privatização das políticas públicas com o conseqüente
desmonte dos direitos sociais, que só o Estado pode garantir.

4. Comentários Críticos e Céticos: “isso explica a defesa neoliberal de princípios e critérios


de gestão social que reintroduzem na pauta das prioridades sociais programas e atividades
voluntaristas, incertos, seletivos e focalizados na pobreza extrema ao estilo de séculos
atrás” (p.56). “Explica também a recente difusão de concepções equivocadas que afirmam a
existências de subclasses como fruto do inexorável processo de exclusão social e da cultura
da pobreza cultivados pelo Welfare State Keynesiano (vem dos EUA)” (p. 56).

Essa idéia difunde que para corrigir essa distorção e livrar as subclasses da cultura da
dependência do Estado paternalista, estas concepções se apóiam em um paradigma que
vincula a proteção social à contrapartida do trabalho e aposta na criatividade empresarial e
na autonomia dos consumidores para imprimir um estilo meritocrático às políticas sociais.
“Daí, visando a redução dos gastos sociais e o enquadramento dos pobres na ordem social
dominante em troca de qualquer trabalho e salário”. Para justificar esse enquadramento
alega-se que essas subclasses são portadoras de desvios de comportamento que as
impedem de adaptar-se a uma nova realidade da qual o paternalismo foi banido. (p.57).

A autora diz que essa é uma velha história cujas raízes estão nos defensores do darwinismo
social com um elemento inusitado, ou seja, a formação de um pensamento que articula o
nível macro (econômico) com o micro (moral). Por esta lógica as deficiências de
comportamento que definem as chamadas subclasses e as diferenciam dos pobres
merecedores (os incapacitados para o trabalho) são sintomas de uma crise moral, geradora
de um círculo vicioso da cultura da dependência ou da pobreza. – conceito dos anos 60 que
reforça a exclusão social (p. 57)

Por isso tudo a autora questiona a pertinência do adjetivo nova para qualificar a essência
dos problemas atuais, então, pergunta:

- não seriam os problemas atuais um ponto de partida ou precondições constituintes da


explicitação da questão social, explicitação essa que iria desnudar as contradições
fundamentais do sistema capitalista?
- e a transformação desses problemas em QUESTÃO não seria uma importante tarefa dos
setores progressistas, incluindo as profissões – uma tarefa talvez mais urgente e complexa
do que procurar encontrar respostas técnicas para os males causados por eles? A autora vê
o SS como uma das poucas profissões afeitas a abraçar essa tarefa (p. 57).

5. Desafios Epistemológicos para o Serviço Social: percebe que para muitos AS a questão
social não está clara. É vista genericamente como a representação das crises, tensões,
desafios, riscos, vulnerabilidades, desconstruções, aporias. Esse quadro coloca desafios
epistemológicos sérios para o SS, pois a profissão tem na Questão Social o seu foco

Material produzido para auxiliar no seminário sobre Questão Social. Os grifos são da mestranda.
privilegiado de interesse científico e político e se esse foco não está teoricamente definido,
corre-se o risco de tomá-lo analiticamente como um fato inespecífico, caindo no relativismo
ou como um fenômeno espontâneo desfalcado de protagonismo político (p.58).

A autora coloca quatro grandes indagações a serem formuladas para melhor delimitar
histórica e teoricamente a questão social:
a) Qual a diferença entre questão social e suas precondições constituintes
(necessidades, desigualdades, crises)?
b) Qual a relação entre o fenômeno chamado Questão Social, ocorrido no séc. XIX, e a
chamada “Nova Questão Social”, identificada a partir do final da déc. 70 do séc. XX,
no rastro da chamada revolução informacional?
c) Não seriam as precondições constituintes da QS que estariam a exigir maior esforço
cognitivo e ativo do SS para serem decifradas, publicizadas, em busca de decisivos
enfrentamentos? (Não perderíamos o foco na QS, apenas enfocaríamos nas suas
latências para que não se perpetuem sem perturbações).
d) Os AS não estariam utilizando a QS de forma tão genérica a ponto de confundi-la com
questões sociológicas ou questões teóricas? (p.58)

Diz que as respostas a essas indagações pedem algumas considerações a respeito do termo
QUESTÃO.

Questão - pode ser pergunta, interrogação, problema, dúvida, litígio, contenda, desavença,
conflito, aporia.
A ciência e as disciplinas científicas colocam para si mesmas questões desse tipo, cujo
enfrentamento constitui a pedra de toque do processo de conhecimento. Portanto, não
existe conhecimento científico sem a problematização de um conteúdo contida numa
questão de partida (p. 59).
O Serviço Social como disciplina científica também se também adota questões para
investigar. Por isso as questões integrantes de sua agenda, estudos, pesquisas e projetos de
intervenção nem sempre são questões sociais de fato. Podem ser questões problematizadas
a partir de evidências captadas de um amplo espectro de fatos, processos, relações sociais
reais que requerem compreensão e intervenção. Pobreza, violência... esses problemas são
crônicos e embora veiculados na mídia constituem portanto questões não explicitadas que
se perpetuam como tais inclusive graças ao tratamento paliativo que recebem (p.59).

Acrescida do social a palavra questão ganha outro significado: Indica a existência de


relações conflituosas entre portadores de interesses opostos ou antagônicos – dada a sua
desigual posição na estrutura social - na qual os atores dominados conseguem impor-se
como forças políticas estratégicas e problematizar efetivamente necessidades e demandas,
obtendo ganhos sociais relativos (p.59).

Foi com essa caracterização que a QS surgiu na Europa no século XIX. Na sua base estavam
necessidades sociais associadas à pauperização crescente da classe trabalhadora,
determinada pela tendência capitalista de aumentar a taxa de exploração do trabalho
independentemente da produtividade deste. Foram essas necessidades que uma vez
problematizadas por atores de sua situação de exploração e com poder de pressão
propiciaram a passagem do problema da pobreza antes considerado natural, em explosiva
questão social. QS é particular e histórica, não existiu antes da Revolução Industrial (p.59).

PORTANTO, foi uma necessidade social problematizada por atores estratégicos que serviu de
leitmotiv do processo de constituição da questão social. Nesta perspectiva, a QS constitui um
estágio mais avançado, conflituoso e consciente do movimento de reação das classes
subalternas à dominação social capitalista (p.60).

Material produzido para auxiliar no seminário sobre Questão Social. Os grifos são da mestranda.
É perante esse tipo de questão que atores sociais (incluindo as profissões) vão se posicionar
a favor ou contra o seu mérito e participar da formulação e do controle dessas respostas
políticas que serão dadas a ela as arenas decisórias, gestoras e executivas. Mas, até chegar
a esse ponto, é preciso que as calamidades sociais saiam da condição naturalizada que se
encontram. E aí as profissões de conteúdo social, dentre as quais o Serviço Social, tem que
descobrir qual é a sua contribuição e como devem participar da sua problematização. No
bojo dessas transformações os profissionais têm que se questionar, se colocar em causa,
praticar o exercício da autocrítica ao mesmo tempo em que questionam o contexto em que
atuam (p. 60).

Material produzido para auxiliar no seminário sobre Questão Social. Os grifos são da mestranda.

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