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Perdas Magnéticas
J. V. Filardo, UFPR

que isso também é válido para os átomos de uma estrutura


Resumo- Este documento permite demonstrar , avaliar e medir cristalina. Esses dois elétrons têm spins opostos e, como
as perdas magnéticas apresentadas em materiais segundo a cada elétron, quando girando em torno de si mesmo, é equi-
norma ASTM valente a uma carga se movendo, cada elétron atua como um
magneto extremamente pequeno, com os correspondentes
Palavras-chave—Histerese, Foucault, quadro de Epstein, Ana- pólos norte e sul.
lisador de potência, materiais magnéticos

I. INTRODUÇÃO

A habilidade de certos materiais - notadamente o ferro, o


níquel, o cobalto e algumas de suas ligas e compostos - de
adquirir um alto e permanente momento magnético, é de
grande importância para a engenharia elétrica. As aplicações
de materiais magnéticos são muitas e fazem uso de quase
todos os aspectos do comportamento magnético.
Existe uma variedade extremamente grande de diferentes Fig. 2.1 Magnetismo atômico. (a) Diamagnético. (b) Magnéti-
tipos de materiais magnéticos e é importante saber primeiro co.
porque estes e somente estes materiais possuem proprieda-
des magnéticas e em seguida saber o que leva a comporta- De uma maneira geral, em um elemento o número de elé-
trons que tem um certo spin é igual ao número de elétrons
mento diferentes nestes materiais, por exemplo porque um
que tem o spin oposto e o efeito global é uma estrutura mag-
material carrega um momento permanente enquanto outros
neticamente insensível. Entretanto, em um elemento com
não.
subníveis internos não totalmente preenchidos, o número de
As pesquisas por materiais magnéticos com melhores ca- elétrons com spin num sentido é diferente do número de elé-
racterísticas são motivadas pela possibilidade de redução trons com spin contrário (Fig 2.1). Dessa forma esses elemen-
nas dimensões dos equipamentos e diminuição de limitações tos têm um momento magnético global não nulo.
no desempenho devido à saturação e perdas, principalmente Como os átomos ferromagnéticos adjacentes se alinham
por Histerese e Foucault mutuamente, de forma a terem suas orientações numa esma
direção, um cristal ou grão contém domínios magnéticos. Os
II. REVISÃO DE CONCEITOS MAGNÉTICOS domínios geralmente não têm dimensões superiores a 0.05
mm.
Em um material magnético desmagnetizado os domínios
A. Comportamento Magnético
estão orientados ao acaso, de forma que seus efeitos se can-
celam. Entretanto, se os domínios são alinhados por um
Alguns materiais, tal como o ferro, são marcadamente mag- campo magnético, o material se torna magnético (Fig 2.2). O
néticos, enquanto que outros não o são. De fato, uma das alinhamento de todos os domínios em uma direção origina
técnicas mais simples de separação de materiais ferrosos dos um efeito aditivo, o qual pode ou não permanecer após a
nãoferrosos é através da comparação de suas propriedades retirada do campo externo
magnéticas.
A importância histórica e comercial do ferro como um materi-
al magnético deu origem ao termo ferromagnetismo, para
englobar as intensas propriedades magnéticas possuídas
pelo grupo do ferro na tabela periódica.
O ferromagnetismo é resultado da estrutura eletrônica dos
átomos. Relembremos que no máximo dois elétrons podem
ocupar cada um dos níveis de energia de um átomo isolado e

J.V. Filardo trabalha na Siemens Ltda e estuda engenharia elétrica Fig. 2.2 - Alinhamento de domínios.
na Universidade Federal do Paraná ( e-mail:
juliano.filardo@siemens.com.br )
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Um campo magnético externo pode alinhar os domínios fer- condutor, depende da intensidade da corrente, do compri-
romagnéticos. Quando os domínios estão alinhados, o mate- mento do condutor, da posição deste em relação ao ponto e
rial está magnetizado. de um fator de proporcionalidade µ , que é a permeabilidade
Para designar quando o alinhamento magnético é perma- do meio considerado, a equação abaixo:
nentemente retido ou não, são usados respectivamente os
termos “material magnético duro” e “material magnético B = µ. H (3.1)
mole”; como os materiais mecanicamente duros tendem a ser
magneticamente duros, esses termos são adequados. As fornece a relação entre a densidade de fluxo magnético B
tensões residuais de um material endurecido evitam a redis- (unidade: Tesla) e a força magnetizante H (unidade: A/m).
tribuição ao acaso dos domínios. Um material normalmente Para o vácuo a permeabilidade magnética µ = µ 0 é uma cons-
perde essa ordenação dos domínios magnéticos quando é tante com o valor 4 ð. 10E-7 no sistema internacional; para o
recozido, já que a atividade térmica provoca a desorientação ar, µ é um pouco maior que µ 0 podendo ser admitida igual a
dos domínios. µ 0 nas aplicações práticas.
No entanto, a permeabilidade magnética µ (unidade: H/m)
III. CURVA DE M AGNETIZAÇÃO E HISTERESE não é em geral uma constante, ou seja, B não é uma função
O processo de magnetização de um material ferromagnéti- linear de H para algumas substâncias. Portanto, mais impor-
co sob a influência de um campo externo se reduz a: tante que o valor da permeabilidade, a representação usual
da relação dada pela Eq. 3.1 é através de curvas B x H.
• crescimento daqueles domínios cujos momentos Estas curvas variam consideravelmente de um material
magnéticos formam o menor ângulo com a dire- para outro e para o mesmo material são fortemente influenci-
ção do campo, adas pelos tratamentos térmicos e mecânicos.
Sua obtenção é feita da seguinte forma: Para um material
• rotação dos momentos magnéticos na direção inicialmente não magnetizado, ao aumentar progressivamente
do campo externo. a força magnetizante de 0 até Hmax na Fig. 3.3, obtém-se o
ramo 0a'. Reduzindo-se em seguida H de Hmax até zero, tem-
se o ramo a’b’. Quando H = 0, B = 0b’. Para reduzir B a zero, é
necessário aumenta H em sentido contrário até 0c’, obtendo-
se o ramo b’c’ da curva.
Continuando-se a fazer variar H até -Hmax tem-se o ramo
c’d’. Fazendo-se variar H de -Hmax até zero, em seguida até
Hmax e continuando deste modo, obtém-se sucessivamente
os pontos e’- f’ - a’’- b’’ - c’’ - d’’ -e’’ - f’’ - ...
0a' é a curva de magnetização crescente.
Fig. 3.1 - Esquema de orientação dos spins nos domínios.

A saturação magnética se alcança quando acaba o pro-


cesso de crescimento dos domínios e os momentos magnéti-
cos de todas as regiões imantadas espontaneamente estão
na mesma direção do campo.

Fig. 3.2 - Direções de magnetização fácil, média e difícil


para os cristais de ferro, níquel e cobalto.

Os monocristais das substâncias ferromagnéticas se ca-


racterizam pela sua anisotropia magnética, ou seja a facilida-
de de magnetização dos cristais variam de acordo com a dire-
Fig. 3.3 - Curva da Magnetização
ção do campo aplicado, como se pode ver na Fig. 3.2 para os
cristais de ferro, níquel e cobalto. O processo de magnetiza-
A densidade de fluxo B = 0b’que permanece quando se
ção de um material ferromagnético é caracterizado por suas
anula a força magnetizante H é o magnetismo remanescente.
curvas de magnetização B x H.
Repetindo-se a operação acima descrita (variação de H entre
Lembrando que a densidade de fluxo magnético em um
Hmax e -Hmax) um número suficiente de vezes, obtém-se uma
ponto de um campo devido à circulação de corrente em um
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curva fechada que se repete; o material terá então atingido o IV. FATORES QUE AUMETAM AS PERDAS POR
estado de magnetização cíclica simétrica (curva abcdefg na HISTERESE
Fig.3.3). A esta curva fechada que se obtém quando o mate-
rial se acha em estado de magnetização cíclica dá-se o nome • Ferro e aço submetidos a tratamento a frio tem as
de laço de histerese. perdas por histerese aumentadas
Para um mesmo exemplar de material ferromagnético sub- • Adição de carbono na fabricação do aço aumen-
metido a ensaio o laço de histerese depende do valor máximo ta as perdas por hsiterese
que se dá à força magnetizante H; a Fig 3.4 apresenta vários • Imperfeições ou impurezas dos materiais também
laços de histerese correspondentes a valores máximos diver- aumentam as perdas.
sos de H.
Em qualquer dos laços os valores de B são maiores no
ramo descendente que no ascendente; a substância ferro- V. PERDAS POR CORRENTES PARASITAS DE
magnética tende a conservar o seu estado de magnetização, FOUCAULT
isto é, tende a se opor às variações de fluxo. Essa proprieda-
de tem o nome de histerese.
A curva na Fig. 3.4, que se obtém ligando os vértices dos Já as perdas devido as correntes parasitas de Foucault
laços de histerese simétricos, correspondentes a uma deter- produzem calor pela ação das correntes (parasitas) que são
minada substância ferromagnético é a curva normal de mag- induzidas nas chapas de aço silício.
netização; e é geralmente empregada no cálculo de aparelhos Para melhor explicação deste efeito, será considerado a fi-
e máquinas elétricas. gura 4, onde está representado a seção de um material mag-
nético qualquer sendo atravessado pelas linhas de força de
fluxo estabelecidas no material.
Pelo fenômeno da indução estudado por Faraday-Lens
será estabelecido correntes na superfície da área de seção do
material magnético, conforme indicado na figura 4.

Fig. 3.4 - Laços de Histerese em Função de Hmax

Figura 4 – Representação das correntes parasitas de Fou-


cault em um material magnético.

Percebe-se que as correntes parasitas induzidas possuem


a liberdade de circular pela superfície do material, sedo limi-
tada apenas pela resistência elétrica do material magnético.
Portanto o quadrado da intensidade das correntes parasitas
multiplicado pela valor da resistência do caminho estabeleci-
do por elas produz calor devido ao efeito Joule. O calor pro-
duzido é indesejável. O ideal será eliminar ou mesmo atenuar
a ação deste calor. As perdas por correntes parasitas podem
ser calculadas através da equação 4 abaixo
Onde:

Equação ( 4.0 )

Fig 3.5 – Laço de Histerese visto de um osciloscópio PF = perdas por eddy-current;

Percebe-se através da análise de (4) que para a redução


das perdas uma das providências necessárias é diminuição
da espessura das chapas. Resultados muito satisfatórios são
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obtidos submetendo o material aos processos de laminação, material magnético. Como houve adição de silício promoveu-
o produto final são finas lâminas de material magnético em de se um aumento na resistividade do material. Estes dois fato-
tal forma a não haver comprometimento nas características res substituídos em (4.1) resultam em um aumento da resis-
mecânicas exigidas ao material. Outra providência refere-se a tência elétrica e conseqüentemente a uma redução significa-
adição de silício na aço provoca um aumento da resistivida- tiva nas correntes parasitas e conseqüentemente uma redu-
de do material e consequentemente um aumento da resistên- ção quadrática das perdas por correntes de Foucault.
cia elétrica do material. Uma última providência pode ainda
ser adotada, ou seja realizar a isolação entre as lâminas do
pacote magnético. O resultado desta ação pode ser verifica- VI. EQUIPAMENTOS PARA DETERMINAÇÃO DE
do na figura 5. PERDAS MAGNÉTICAS

A. Quadro de Epstein 25 cm

Aparelho que consiste de 04 solenóides (cada um tendo


duas bobinas) conformando os quatro lados de um circuito
magnético quadrado e um indutor mútuo para compensar o
fluxo disperso destes solenóides. A distância entre os eixos
centrais de cada par de solenóides em oposição é de 25cm ±
0,03 cm. As quatro bobinas internas, ou de potencial, são
ligadas em série de modo a somar as tensões induzidas em
cada solenóide. As bobinas externas, ou de magnetização,
também são ligadas em série de modo a somar a força magne-
tizante aplicada ao circuito através de uma fonte externa. O
número de espiras primárias é igual ao número de espiras
secundárias, N1=N2. O Quadro Epstein atende a norma
ASTM 343 e é adequado para trabalhar entre 25 e 400 Hz,
N1=N2=700 espiras. O material magnético a ser testado é
colocado no interior dos solenóides na forma de tiras planas
conforme figura 6

B. Analisador de Potência

Medidor digital das grandezas potência ativa, reativa e


aparente, além de outras como corrente, tensão, fator de for-
ma de onda, etc. Além das incertezas menores que apresen-
Figura 5 – Detalhe do material magnético após o processo tam estes analisadores digitais, é que permitem realizar medi-
de laminação. ções simultâneas das várias grandezas requeridas, dispen-
sando instrumentação extra.
A análise matemática dos procedimentos adotados podem Para as medições de perdas específicas e separação de
ser analisados através da equação (4.1) perdas totais em perdas por Histerese e Foucault, os analis a-
Onde: dores NORMA, modelo D5255-T e INFRATEK, modelo 305
A são igualmente adequados. Quando é necessário medir
Permeabilidade de pico, este último apresenta a vantagem de
Equação (4.1) fornecer diretamente o valor de pico da corrente, facilitando a
ajuste da corrente aplicada ao enrolamento de magnetização.
RM = resistência elétrica determinado pelo caminho da Quando este recurso não é disponível, deve ser emprega-
corrente; do um resistor de valor e potência adequados para medir,
ñ = resistividade do material magnético; indiretamente (pelo método da queda de tensão encima deste
l = comprimento do material magnético; resistor) esta grandeza. Neste caso, o valor de pico da queda
S = área da seção do material. de tensão neste resistor é mais facilmente medida com osci-
loscópio digital.
Sabe-se que mantendo-se a tensão constante a corrente
permanece constante se não houver variação na resistência
elétrica. Considerando que as correntes produzidas no nú-
cleo do material magnético são devido ao fluxo nele existente
e que ele permanece constante, o único parâmetro que sofre-
rá variação no processo será a resistência do material. Assim
recorrendo-se a (4.1), percebe-se que para uma diminuição na AMOS
espessura do material equivale a uma diminuição da área do
PRIMÁR
FONTE
~ SECUND

I V QUADRO Montagem das


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• ABNT NBR 9025 - Set / 85 “Produtos planos de


aço para fins elétricos, de grão orientado, total-
mente processados” - Especificação;
• ABNT NBR 5161 - 1977 “Produtos laminados
planos de aço para fins elétricos” - Método de
Ensaio;
Fig. 6. Esquema de ligações pra o ensaio de separação de
• ANSI / ASTM A 343 - 69 (Reaprovada em 1974)
perdas
“ Standard Test Method for alternating-currente
magnetic properties of materials at power fre-
VII. DETERMINAÇÃO DO EXPOENTE DE STEINMETZ E
quencies using wattmeter-ammeter-voltmeter
DOS COEFICIENTES DE FOUCAULT E HISTERESE .
method and 25-cm Epstein Test Frame”;
• Langsdorf, Alexander, S. - “Theory of of Alterna-
Existe uma modelagem clássica para materiais magnéticos. ting Current Machinery” - MacGraw-Hill, 1955
Basicamente, as perdas totais (P) são o somatório das par-
celas correspondentes às perdas por Histerese e por corren-
tes parasitas ou de Foucault. Ou:

P = Kh f Bpx + Kf f2 Bp2

Onde x é conhecido como expoente de Steinmetz. Kh e Kf


são os coeficientes de Histerese e Foucault.
Medem-se as perdas totais em três condições. (1) para a
freqüência f1 e a indução de pico Bp1; (2) para a freqüência
f2 e a induçaõ de pico Bp2; (3) para a freqüência f1 e a indu-
ção Bp2. Chamando de P1, P2 e P3, respectivamente, a estas
três perdas medidas, temos:

P1 = Kh f1 Bp1x + Kf f12 Bp12 (1)


P2 = Kh f2 Bp2x + Kf f22 Bp22 (2)
P1 = Kh f2 Bp2x + Kf f22 Bp22 (3)

A solução deste sistema de equações fornece os valores


de Kh, Kf e x.

 Bp2 ( P2 − a 2 P3 ) 
log  
 ( P2 − aP3 )Bp1 2 − a( a − 1) P1 Bp2 2 
x=
log( Bp2 / Bp1 )

P2 − a 2 P3
Kh =
f 2 (1 − a ) Bp2 x

P2 − aP3 a
Kf = 2
f 2 Bp2 2
a −1

onde
x= coeficiente de Steinmetz
Kh = coeficiente de Histerese
Kf = coeficiente de Foucault

VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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