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Quando nos mudamos pr’aquela casa, fiquei com todas as

chaves, menos a daquele cômodo, que você insistia que fosse


só teu e ao qual eu não tinha nenhum acesso. No início isso não
me incomodava de nenhum jeito, mas ao passo que você ia se
recolhendo cada dia mais para dentro daquele quarto, cuja
dimensão eu desconhecia, passei a sentir saudade de seus
passos pelo corredor, que foi ficando cada dia mais com cor de
solitude.
Acho que você nunca abria nem mesmo as janelas, quando ali
se trancava e eu ficava passando por perto tentando ouvir os
sons que te cercavam ali dentro. Em vão. Por vezes, cheguei a
dormir à sua porta, mas você nunca percebia que eu tinha
estado ali a noite toda de vigília e me dizia um bom dia cada dia
mais distante, me provocando alguns continentes de saudades
tuas.
E pelo resto da casa, eu ia pendurando cortinas desenhando
com cores e luzes pelos cômodos restantes, espalhava flores e
livros, mas nada disso era capaz de capturar um segundo de
atenção. Todo dia você se trancava ali naquele cômodo e eu
ficava olhando a lua pela janela, tentando entender coisas que
não tinha explicação. Nem razão...

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