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AQUELE IMENSO CÉU AZUL POR DETRÁS DE TI É TEU, NÃO É?

A distância dessa promessa escondida no tempo e distancia entre dois prédios


entre ruas desiguais, localizados. È como aquela água turva de tanto azul,
manchada na superfície pelo ar insolúvel. Como as fachadas desses dois
prédios. Por onde andamos, meu amor. Velhos em água dos céus que escorria
em rio nos nossos ombros entre essas duas ruas. Era – ainda é – o sitio vazio
que infinitas vezes percorremos, embora agora num ouro local com outros
ombros molhados, com outro ar e no mesmo rio, afinal.
De sempre trouxe um livro para sempre. Ficarei com ele. Recados. O meu nome
António Bê é falso.
Por estes dias o vazio persiste, ainda que na memoria enxuta da promessa de
dor tivesses prolongado os sinais-farol às ilhas – como tu – perdidas. E, por
entre, há os escassos minutos de solidão partilhados e o som das tuas palavras
em saudade ou mágoa pela eterna ausência.
Não, não é verdade. Como te disse: antes de ti nunca seremos daqui. Hei-de
regressar sempre do mesmo sitio, aquele lugar manchado a que não fomos.
Não, não é verdade. O meu nome nunca foi António B.

Seria, digo, o jardim ideal para trocarmos de vida. Vender-te-ia a minha e


cederias-me a tua. Rapidamente trocaríamos os mesmos momentos e seríamos
os legítimos donos dessas desimportãncias. No entanto assim o faríamos.
Digo que, essas muralhas vermelhas não foram mandadas construir. Erigiram-
se. E mandar-te ia mil flores no Inverno mais frio.
Colhê-las-ia no jardim que pisamos com as mãos.
Elevo-me então acima, e rodopio infinitamente até ao verde.
Ao verde, novos poetas-verde.
Eram castros erigidos por ti em oferenda um olhar que te persistia/ perseguia.
Queimar.
E a correria que farás quando souberes. Contas e receitas, deitada, descansas.
De mil receberias duas mil flores na primavera.
E mais mil logo a seguir.

Janeiro de 1990.

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