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Senhor Primeiro-Ministro
Excelências:
Os professores abaixo assinados da Escola Secundária com 3º Ciclo Quinta das Flores, de
Coimbra, após reuniões de grupo e departamento, realizadas entre 20 e 27 de Outubro, vêm
contestar o actual modelo de avaliação de professores, o seu lançamento de imediato e as
actuais condições de trabalho na escola.
Vivemos um tempo de mudança. Sabemos que qualquer mudança digna desse nome provoca
instabilidade, encontra resistências, causa apreensões. Daí, a necessidade e a importância de
pensar em conjunto sobre os problemas, de tentar perceber a fundamentação dos
pressupostos e sua operacionalização.
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Embora considerando o actual modelo de avaliação de professores um processo burocrático,
exigente em termos de tempo e organização, que não serve os objectivos declarados no artº 3º
ponto 2 do Decreto Regulamentar 2/2008 (A avaliação de desempenho do pessoal docente
visa a melhoria dos resultados escolares dos alunos e da qualidade das aprendizagens e
proporcionar orientações para o desenvolvimento pessoal e profissional no quadro de um
sistema de reconhecimento do mérito e da excelência, constituindo ainda seus objectivos os
fixados no n.º 3 do artigo 40.º do ECD), a escola organizou-se para dar cumprimento às
orientações da tutela e para produzir os instrumentos de registo normalizados e demais
documentos necessários.
• Nova auscultação;
• Versão ainda não definitiva dos instrumentos normalizados relativos à avaliação pelo
Director;
Contudo, quanto mais se trabalha a avaliação de professores, mais dúvidas surgem e mais
consciência se tem da sua perversidade e da impossibilidade de aplicar o sistema tal como
está concebido.
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• Onde e como recolher informação para distinguir níveis de desempenho em pontos
como “apoio aos alunos”, “função de avaliador”, “participação em projectos”,
“coordenação do departamento curricular”
• A análise de dados relativos à avaliação dos alunos, sobretudo no que diz respeito à
observação directa, só é possível com um trabalho de registo muito bem organizado e
estruturado que é muito difícil de conseguir quando o professor tem 4, 5, 6 turmas; em
alternativa teria o avaliador que confiar nos registos pontuais, apoiados pela explicação
oral do avaliado que não serviriam de prova em situação de eventual desacordo ou
reclamação.
• Na distribuição do serviço de avaliação, a lei prevê que cada avaliador tenha no seu
horário 1 hora para cada quatro avaliados, o que, embora manifestamente pouco,
ainda não foi concretizado em termos de distribuição de serviço, nem é fácil fazê-lo,
dada a prioridade estabelecida no Projecto Educativo de apoio aos alunos em
dificuldades.
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• Além disso, a insegurança quanto ao que será considerado pelos avaliadores como
objecto da avaliação e a forma como se processará essa avaliação tem perturbado os
momentos de trabalho em grupo, surgindo dúvidas e questões a que os avaliadores
não são, neste momento, capazes de responder;
Os factos acima apontados estão a gerar cansaço e ansiedade no corpo docente e verifica-se
que os alunos e as suas necessidades estão a passar para segundo plano na hierarquização
das prioridades, o que constitui a negação do dever profissional e o afastamento do objectivo
declarado desta avaliação.
Por fim, o recente anúncio pelo Ministério de uma aplicação informática de suporte à avaliação
de desempenho, que pretende contribuir para agilizar procedimentos e apoiar avaliadores e
avaliados, designadamente no preenchimento das fichas de avaliação e de autoavaliação e na
qual a escola já inscreveu os coordenadores de departamento, faz-nos temer que o centro
nevrálgico da avaliação de desempenho deixe de ser a escola e passe a ser o Ministério da
Educação, e que seja feita tábua rasa das decisões aprovadas em Conselho Pedagógico com
total desrespeito pela autonomia da escola.
O trabalho que ainda falta fazer – conclusão dos instrumentos de registo normalizados,
definição de metas para o Projecto Educativo, sua aprovação pelo Conselho Geral Transitório,
aprovação do Plano Anual de Actividades, delegação de competências em outros professores
avaliadores, aferição de critérios e procedimentos entre todos os avaliadores, clarificação de
procedimentos perante todos os intervenientes - impede o cumprimento do cronograma
aprovado em Conselho Pedagógico de 1 de Outubro de 2008, pelo que
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Escola Secundária com 3º Ciclo de Ensino Básico Quinta das Flores, 31 de Outubro de 2008