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Resumo
O trabalho apresenta uma proposta para a implantação de uma trilha de longa distância
ao longo da Faixa de Proteção do Reservatório de Itaipu com aproximadamente 1.400
Km, ligando os Parques Nacionais do Iguaçu e de Ilha Grande, tendo por objetivos
proporcionar através da implantação de um atrativo ecoturístico o desenvolvimento
socioeconômico sustentado e a promoção da educação e conscientização ambiental na
região lindeira ao Lago de Itaipu. São apresentadas diretrizes para o processo de
implantação da trilha proposta. Ao longo do trabalho são levantadas as diferentes
possibilidades de uso que se pode dar a trilha explorando o potencial turístico da região.
Abstract
This paper presents a proposal for the implantation of a wilderness trail following the
Protection Belt of the Itaipu Reservoir, with a length of approximately 1,400km linking the
National Parks of Iguaçu and of Ilha Grande. The objectives of the project are to provide,
by means of an ecotouristic attraction, the sustained socioeconomic development, and
the promotion of ecological education and of environmental awareness in the region
bordering the Itaipu Lake.
The paper presents guider lines to be employed in the process of implanting the
proposed trail. Throughout the length of the work, different possibilities are discussed
regarding the use that may given to the trail in exploiting the tourist potential of the
region.
Key-words: Long-distance ecological trail, Itaipu Protection Belt and Reservoir.
1. Introdução:
O desenvolvimento do turismo em áreas naturais cresceu nas últimas décadas
estimulando a realização de projetos ecoturísticos, como conseqüência, os locais que
apresentam potencial para o desenvolvimento de atividades turísticas em áreas naturais
têm se utilizado deste para desenvolver social e economicamente e em alguns casos
gerando recursos para a proteção das áreas naturais. No entanto há um outro lado, o
uso insustentado da atividade turística em áreas naturais trouxe conseqüências
danosas e, em muitos casos, irreversíveis ao meio ambiente, visualizada em
empreendimentos turísticos no mundo todo. O amadorismo e muitas vezes a falta de
ética ambiental acabam transformando bons atrativos ecoturísticos em desastrosos
investimentos com a deterioração do meio ambiente. Para tanto a profissionalização e a
adoção de uma nova consciência ambiental passa a ser primordial para a sociedade
contemporânea, fazendo-se necessário para implantação de projetos ecoturísticos
sustentáveis o planejamento com ações embasadas em técnicas de mínimo impacto.
O planejamento adequado de uma trilha é importante, pois permite, para cada situação
específica, a escolha da técnica mais adequada de intervenção, minimizando os
impactos negativos e maximizando os positivos para a conservação do meio natural.
Independente da amplitude e do objetivo de uma trilha, definir seu traçado, conhecer
seu público alvo, dentre outros aspectos envolvem ações existentes no planejamento,
sendo este momento imprescindível que antecede a implantação de uma trilha.
Segundo AGATE (1983), o planejamento de trilhas deve levar em consideração fatores
como: variação das condições da região em decorrência das estações do ano,
informações técnicas (mapas, fotografias, etc.) já existentes sobre a região, volume de
uso futuro e quais são as características de drenagem, solo, vegetação, habitat,
topografia, uso e exeqüibilidade do projeto. Estes fatores são determinantes para a
implantação de uma trilha e devem ser avaliados dentro de uma visão multidisciplinar
por profissionais especializados.
O Brasil destacado por seus amplos recursos naturais, tem aberto as portas para o
desenvolvimento do turismo em várias regiões do país. No Paraná, a cidade de Foz do
Iguaçu juntamente com a região lindeira ao Lago de Itaipu tem despertado a atenção
para seus atrativos naturais e gerado demanda no turismo nacional e internacional. O
turismo nesta região, denominado de Costa Oeste, passa por um processo de
conscientização e há interesse no desenvolvimento do turismo sustentável,
demonstrado nos projetos de turismo desenvolvidos nos municípios.
O uso de seus recursos naturais de forma consciente pode criar uma nova imagem ao
turismo da região e proporcionar alternativas de renda para a população. As áreas de
interesse são muitas, a destacada neste projeto refere-se a Faixa de Proteção do
Reservatório de Itaipu, uma área de 29.475 ha e aproximadamente 1.400 Km de
extensão com matas que são vizinhas de vários municípios com potencial turístico. O
uso do potencial turístico regional é pouco explorado e as atividades turísticas ainda
não se consolidaram, o que demonstra oportunidades e espaço para o desenvolvimento
de projetos turísticos.
A proposta da implantação de uma trilha ao longo da Faixa de Proteção do Reservatório
de Itaipu “Trilha do Grande Lago”, tem em vista a promoção do potencial ecoturístico da
região através da trilha com objetivos de desenvolvimento socioeconômico sustentável
e de educação e conscientização ambiental dos turistas e da comunidade envolvida,
oportunizando o conhecimento da biodiversidade regional através do uso da trilha.
Neste trabalho apresentamos os estudos e diretrizes necessárias para implantação
desta trilha bem como algumas sugestões de roteiros que poderão ser explorados.
2. Metodologia:
O estudo realizado para criação da proposta de implantação enfocou três abordagens:
i) Fundamentos para implantação de uma trilha numa área de preservação, apontando
para pontos positivos e sua melhor forma de uso; ii) Caracterização da área onde se
propõe a implantação da trilha e da região lindeira ao lago, abordando os aspectos
físicos, econômicos, sociais, culturais e ambientais com enfoque no potencial turístico e
iii) Elaboração de diretrizes para implantação da trilha.
O trabalho foi realizado através de levantamento de dados, tanto de fontes primárias
quanto secundárias, utilizando-se da obtenção e observação dos dados através de
visitas e pesquisas de campo efetuadas através de conversas com representantes de
órgãos de turismo e ambientais regionais e consulta bibliográfica.
Com base nos dados obtidos, em virtude das dimensões consideradas, e otimizando o
processo de implantação, também foram levantadas como propostas na implementação
da trilha a criação de pequenos roteiros em municípios lindeiros envolvendo trechos da
“Trilha do Grande Lago”. Estas propostas se restringem a quatro municípios (São
Miguel do Iguaçu, Itaipulândia, Santa Helena e Entre Rios do Oeste) onde, pelos dados
obtidos, se verificou relevante o desenvolvimento da atividade. Os roteiros propostos
não apresentam estrutura rígida e podem ser adaptados.
3. Resultados e Discussão:
• Fundamentos:
O estudo das alterações ocasionadas ao meio pelo homem em vista da dinâmica
econômica e social da atividade turística e do conceito de sustentabilidade, o turismo
em áreas naturais, visto de maneira otimista, traz uma perspectiva positiva que pode
resultar em alterações benéficas para três diferentes esferas, são elas: i) Meio
ambiente, através das receitas geradas pelas atividades turísticas nas áreas naturais há
um aumento na arrecadação de recursos financeiros que podem ser destinados à
pesquisa, proteção, conservação e preservação. Outro fator importante, porém com
aspecto subjetivo, seria a aproximação homem com a natureza no sentido de maior
compromisso, respeito e envolvimento, ii) Desenvolvimento econômico, este se dá
através da geração de empregos, arrecadação de impostos, dentre outros, e iii)
Comunidade, o benefício se dá na comunidade dentro dos dois aspectos acima citados,
pois implica em melhor qualidade de vida diante de um ambiente natural conservado e,
melhores condições e oportunidades de renda.
POPULAÇÃO ESTIMADA
MUNICÍPIO (1998)
4. Guaíra 28.659
5. Itaipulândia 6.836
6. Mercedes 4.608
7. Medianeira 35.000
9. Missal 10.433
A região oeste, ocupada pelos municípios lindeiros ao lago movimenta os três setores
da economia: primário (agricultura), secundário (indústria e comércio) e terciário
(prestação de serviços), e apresenta baixos índices de cobertura florestal. Segundo a
Secretária de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos a meso região oeste
paranaense conta com apenas 4% de florestas em estágio avançado e 18,5% de
estágio inicial e médio, tendo como maiores áreas ambientais protegidas o Parque
Nacional do Iguaçu (Foz do Iguaçu), a Faixa de Proteção Florestal do Reservatório de
Itaipu e o Parque Nacional de Ilha Grande (Guaíra). As demais áreas são pequenas e
de menor valor na sua biodiversidade. Estas áreas, no entanto são usualmente
atacadas por caçadores e palmiteiros da região. A região não apresenta um quadro de
preservação e conservação ambiental adequado, porém alguns projetos estão sendo
realizados nos Municípios Lindeiros, sendo destinados à proteção do meio ambiente e a
educação ambiental.
•Diretrizes:
A implantação da Trilha do Grande Lago possui características especiais, pois se trata
de um projeto que para se consolidar deve envolver uma série de municípios num só
objetivo, o desenvolvimento do turismo sustentável. Sua implantação não define local
para o início, que poderá ser feita em qualquer local com a participação de um ou de
vários interessados.
Para a implantação da Trilha do Grande Lago se estabeleceu uma série de diretrizes
que poderão ser seguidas e são imprescindíveis para a sua realização. É importante
elucidar que as diretrizes aqui abordadas não são definitivas, e podem ser adequadas
de acordo com cada caso. Cada trecho da trilha necessitará de adaptações ou mesmo
de novas diretrizes, estas diretrizes possibilitarão a implantação da trilha o
conhecimento dos caminhos a serem trilhados.
As diretrizes para a implantação da trilha foram divididas em 4 fases: levantamento, pré-
execução, execução e avaliação. Estas diretrizes podem ser utilizadas para a
implantação de toda a extensão da trilha – 1.400 Km – ou de trechos da mesma.
Fase de Levantamento: Esta primeira fase é primordial, pois permite uma visualização
da área para que desta forma seja possível realizar uma projeção da trilha, composta
das seguintes ações:
- Avaliação da oferta e da demanda turística da área;
-Verificação dos aspectos legais (legislação ambiental, leis estaduais e municipais);
-Consulta a comunidade local.
Com base nos levantamentos realizados foram levantadas como propostas para o
desenvolvimento do ecoturismo nos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu a criação de
pequenos roteiros envolvendo trechos da “Trilha do Grande Lago”. As propostas
restringem-se a quatro municípios onde se verificou relevante apelo natural e oferta de
infra-estrutura já consolidada. É importante salientar que as oportunidades de
exploração da área não se isolam no plano do ecoturismo, mas também permitem
serem ampliadas para a exploração de esportes radicais e náuticos, dentre muitas
outras oportunidades que podem surgir. Os dois roteiros propostos são chamados de
Roteiro 1 e Roteiro 2 para facilitar didaticamente a abordagem.
Os roteiros poderão ser acrescidos de novos pontos atrativos, variando de acordo com
o desenvolvimento da região e do surgimento de novos empreendimentos. Um exemplo
é o município de Santa Helena onde está sendo construído um atrativo de caráter
religioso, a estátua de Cristo com 25 metros, que poderá se tornar mais um ponto de
passagem no roteiro. Outra possibilidade de roteiro seria estender o percurso proposto
no sentido da bacia hidrográfica do Rio São Francisco Falso chegando no local histórico
da ponte queimada, onde está localizado o “Memorial Coluna Prestes”, que liga os
municípios de Santa Helena e Diamante do Oeste, destacando os aspectos histórico-
culturais da região.
Além de incentivo ao visitante, o boton ou qualquer outro objeto que seja criado
simbolizando a caminhada de um trecho da trilha pelo visitante, pode ser uma
alternativa de renda para a população local. O objeto pode explorar características
físicas e culturais do trecho realizado pelo visitante.
BENEFÍCIOS
BENEFÍCIOS
preservação da cultura
local e regional;
- Incentiva o
investimento público em
melhorar e ampliar a
infra-estrutura no
município, melhorando a
Mesmo depois de implantado o roteiro pode, e muitas vezes deve, sofrer alterações a
partir de que sejam observadas necessidades para que isso aconteça. Com o uso da
trilha é possível observar fatores que na fase de implantação não se pode perceber
dado o caráter subjetivo do mesmo ou outros aspectos que não foram levados em
consideração por não se prever tais circunstâncias. Os fatores podem ser relacionados
ao meio ambiente social e natural.
Fatores do meio ambiente levantados:
- Ocupação de uma área da trilha por uma espécie para reprodução em
determinada época do ano; avanço da agricultura em áreas ocupadas pela trilha;
mudança de atividade agropecuária que prejudica o ambiente no local (construção de
pocilgas).
Os pontos levantados como fatores do meio ambiente natural podem apontar para
outros pontos após estudo aprofundado das características físicas e biológicas da área.
Este estudo é relevante para a implantação da trilha, pois muitos fatores naturais podem
inviabilizar a implantação de algum.
Como aspectos do meio social aponta-se: Maior interesse do usuário por áreas
específicas (morros, ilhas, planícies); perfil predominante de um público específico. Este
ponto pode levar a total readequação da trilha, uma vez que o público demande por
maiores desafios, ou o inverso, trechos com menor grau de dificuldade. Este fator não
implica em reabertura de uma área, mas adaptações como redução do percurso de um
roteiro ou aumento do nível de dificuldade. É importante que o critério para estas
adaptações seja o de adequar o visitante à área e não o contrário, priorizando a menor
interferência no meio. A observação dos fatores ambientais e sociais permite uma
otimização do uso da trilha com menores prejuízos ao meio ambiente e maior satisfação
para o usuário. O turismo, em especial o ecoturismo desde que construído nos moldes
do desenvolvimento sustentável, pode trazer benefícios que justifiquem sua promoção
não só nos aspectos econômicos, mas nos benefícios relacionados aos fatores, sociais,
culturais e ambientais. Os benefícios acima descritos podem ser maximizados de
acordo com o desenvolvimento da atividade turística na região. Com o melhor
aproveitamento da área, como se sugere na proposta da grande trilha, pode levar ao
aumento neste número de visitantes e contribuir significativamente no desenvolvimento
do turismo.
4. Conclusões:
A criação de um atrativo ecoturístico associado a uma área de proteção ambiental,
como a implantação da trilha na Faixa de Proteção do Reservatório de Itaipu, só deve
acontecer quando as pessoas envolvidas no projeto sejam profissionais e estejam
comprometidas em salvaguardar todas as questões relacionadas a proteção e
conservação da área.
É importante considerar que a Faixa de Proteção registra atualmente problemas de
vandalismo, caça e outras marcas de degradação ambiental, características existentes
sem o desenvolvimento de atividades turísticas diretas na faixa. A presença de pessoas
(ecoturistas) que estarão proporcionando intercambio cultural com a comunidade,
demonstrando seu interesse e preocupação com a preservação do meio ambiente
poderão trazer uma nova forma de integração das populações locais com a Faixa de
Proteção. Se partirmos da premissa de que só amamos o que conhecemos, podemos
afirmar que esta atividade poderá propiciar à comunidade regional o conhecimento e o
entendimento da sua importância ambiental para a preservação dos recursos naturais
que irão melhorar a qualidade de vida da atual e das futuras gerações.
Nunca é demais insistir na forma como esta proposta poderá ser importante para o
desenvolvimento econômico e cultural desta região: “esta proposta somente será
validada caso atenda aos três princípios básicos do ecoturismo: o recurso natural,
participação da comunidade e recursos econômicos”.
5. Bibliografia:
KLEIN, D.M.; LANGE, R.R. & MULLER, A C. – Projeto Gralha Azul, ITAIPU
BINACIONAL, Diretoria de Coordenação, Departamento de Meio Ambiente, Foz do
Iguaçu, 1977.