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- TRILHA DO GRANDE LAGO -

ESTUDO PARA IMPLANTAÇÃO DE TRILHA DE LONGA DISTÂNCIA NA


FAIXA DE PROTEÇÃO DO RESERVATÓRIO DE ITAIPU

Valdemar Hugo Zelazowski1 e Fernanda Helena Fedrigo 2

1- MARC APOIO – Consultoria e Treinamento - hzela@click21.com.br


2- CONSÓRCIO ESCALADA CÂNION IGUAÇU - ferfedrigo@yahoo.com.br

Resumo
O trabalho apresenta uma proposta para a implantação de uma trilha de longa distância
ao longo da Faixa de Proteção do Reservatório de Itaipu com aproximadamente 1.400
Km, ligando os Parques Nacionais do Iguaçu e de Ilha Grande, tendo por objetivos
proporcionar através da implantação de um atrativo ecoturístico o desenvolvimento
socioeconômico sustentado e a promoção da educação e conscientização ambiental na
região lindeira ao Lago de Itaipu. São apresentadas diretrizes para o processo de
implantação da trilha proposta. Ao longo do trabalho são levantadas as diferentes
possibilidades de uso que se pode dar a trilha explorando o potencial turístico da região.

Palavras-chave: Trilha ecológica, Faixa de Proteção e Reservatório de Itaipu.

Abstract
This paper presents a proposal for the implantation of a wilderness trail following the
Protection Belt of the Itaipu Reservoir, with a length of approximately 1,400km linking the
National Parks of Iguaçu and of Ilha Grande. The objectives of the project are to provide,
by means of an ecotouristic attraction, the sustained socioeconomic development, and
the promotion of ecological education and of environmental awareness in the region
bordering the Itaipu Lake.
The paper presents guider lines to be employed in the process of implanting the
proposed trail. Throughout the length of the work, different possibilities are discussed
regarding the use that may given to the trail in exploiting the tourist potential of the
region.
Key-words: Long-distance ecological trail, Itaipu Protection Belt and Reservoir.
1. Introdução:
O desenvolvimento do turismo em áreas naturais cresceu nas últimas décadas
estimulando a realização de projetos ecoturísticos, como conseqüência, os locais que
apresentam potencial para o desenvolvimento de atividades turísticas em áreas naturais
têm se utilizado deste para desenvolver social e economicamente e em alguns casos
gerando recursos para a proteção das áreas naturais. No entanto há um outro lado, o
uso insustentado da atividade turística em áreas naturais trouxe conseqüências
danosas e, em muitos casos, irreversíveis ao meio ambiente, visualizada em
empreendimentos turísticos no mundo todo. O amadorismo e muitas vezes a falta de
ética ambiental acabam transformando bons atrativos ecoturísticos em desastrosos
investimentos com a deterioração do meio ambiente. Para tanto a profissionalização e a
adoção de uma nova consciência ambiental passa a ser primordial para a sociedade
contemporânea, fazendo-se necessário para implantação de projetos ecoturísticos
sustentáveis o planejamento com ações embasadas em técnicas de mínimo impacto.
O planejamento adequado de uma trilha é importante, pois permite, para cada situação
específica, a escolha da técnica mais adequada de intervenção, minimizando os
impactos negativos e maximizando os positivos para a conservação do meio natural.
Independente da amplitude e do objetivo de uma trilha, definir seu traçado, conhecer
seu público alvo, dentre outros aspectos envolvem ações existentes no planejamento,
sendo este momento imprescindível que antecede a implantação de uma trilha.
Segundo AGATE (1983), o planejamento de trilhas deve levar em consideração fatores
como: variação das condições da região em decorrência das estações do ano,
informações técnicas (mapas, fotografias, etc.) já existentes sobre a região, volume de
uso futuro e quais são as características de drenagem, solo, vegetação, habitat,
topografia, uso e exeqüibilidade do projeto. Estes fatores são determinantes para a
implantação de uma trilha e devem ser avaliados dentro de uma visão multidisciplinar
por profissionais especializados.
O Brasil destacado por seus amplos recursos naturais, tem aberto as portas para o
desenvolvimento do turismo em várias regiões do país. No Paraná, a cidade de Foz do
Iguaçu juntamente com a região lindeira ao Lago de Itaipu tem despertado a atenção
para seus atrativos naturais e gerado demanda no turismo nacional e internacional. O
turismo nesta região, denominado de Costa Oeste, passa por um processo de
conscientização e há interesse no desenvolvimento do turismo sustentável,
demonstrado nos projetos de turismo desenvolvidos nos municípios.
O uso de seus recursos naturais de forma consciente pode criar uma nova imagem ao
turismo da região e proporcionar alternativas de renda para a população. As áreas de
interesse são muitas, a destacada neste projeto refere-se a Faixa de Proteção do
Reservatório de Itaipu, uma área de 29.475 ha e aproximadamente 1.400 Km de
extensão com matas que são vizinhas de vários municípios com potencial turístico. O
uso do potencial turístico regional é pouco explorado e as atividades turísticas ainda
não se consolidaram, o que demonstra oportunidades e espaço para o desenvolvimento
de projetos turísticos.
A proposta da implantação de uma trilha ao longo da Faixa de Proteção do Reservatório
de Itaipu “Trilha do Grande Lago”, tem em vista a promoção do potencial ecoturístico da
região através da trilha com objetivos de desenvolvimento socioeconômico sustentável
e de educação e conscientização ambiental dos turistas e da comunidade envolvida,
oportunizando o conhecimento da biodiversidade regional através do uso da trilha.
Neste trabalho apresentamos os estudos e diretrizes necessárias para implantação
desta trilha bem como algumas sugestões de roteiros que poderão ser explorados.

2. Metodologia:
O estudo realizado para criação da proposta de implantação enfocou três abordagens:
i) Fundamentos para implantação de uma trilha numa área de preservação, apontando
para pontos positivos e sua melhor forma de uso; ii) Caracterização da área onde se
propõe a implantação da trilha e da região lindeira ao lago, abordando os aspectos
físicos, econômicos, sociais, culturais e ambientais com enfoque no potencial turístico e
iii) Elaboração de diretrizes para implantação da trilha.
O trabalho foi realizado através de levantamento de dados, tanto de fontes primárias
quanto secundárias, utilizando-se da obtenção e observação dos dados através de
visitas e pesquisas de campo efetuadas através de conversas com representantes de
órgãos de turismo e ambientais regionais e consulta bibliográfica.
Com base nos dados obtidos, em virtude das dimensões consideradas, e otimizando o
processo de implantação, também foram levantadas como propostas na implementação
da trilha a criação de pequenos roteiros em municípios lindeiros envolvendo trechos da
“Trilha do Grande Lago”. Estas propostas se restringem a quatro municípios (São
Miguel do Iguaçu, Itaipulândia, Santa Helena e Entre Rios do Oeste) onde, pelos dados
obtidos, se verificou relevante o desenvolvimento da atividade. Os roteiros propostos
não apresentam estrutura rígida e podem ser adaptados.

3. Resultados e Discussão:
• Fundamentos:
O estudo das alterações ocasionadas ao meio pelo homem em vista da dinâmica
econômica e social da atividade turística e do conceito de sustentabilidade, o turismo
em áreas naturais, visto de maneira otimista, traz uma perspectiva positiva que pode
resultar em alterações benéficas para três diferentes esferas, são elas: i) Meio
ambiente, através das receitas geradas pelas atividades turísticas nas áreas naturais há
um aumento na arrecadação de recursos financeiros que podem ser destinados à
pesquisa, proteção, conservação e preservação. Outro fator importante, porém com
aspecto subjetivo, seria a aproximação homem com a natureza no sentido de maior
compromisso, respeito e envolvimento, ii) Desenvolvimento econômico, este se dá
através da geração de empregos, arrecadação de impostos, dentre outros, e iii)
Comunidade, o benefício se dá na comunidade dentro dos dois aspectos acima citados,
pois implica em melhor qualidade de vida diante de um ambiente natural conservado e,
melhores condições e oportunidades de renda.

Como aspecto subjetivo têm-se os intercâmbios socioculturais proporcionados pelo


turismo. Um exemplo da boa aceitação do turismo em áreas naturais vem da iniciativa
de órgãos ligados ao meio ambiente como é o caso do IBAMA, que lançou, em 1.999,
um Projeto de Concessões em Unidades de Conservação. No Parque Nacional do
Iguaçu, em Foz do Iguaçu-PR, o modelo vem sendo implantado e conta com quatro
concessionárias. As atividades relacionadas ao uso público e turismo da Unidade são
realizadas por empresas privadas, as concessionárias, que são fiscalizadas pelo
IBAMA.

É importante observar, em meio a dados animadores, que as alterações negativas nas


áreas naturais turisticamente exploradas, não apresentam dados concretos, e em geral
não são levantados. O que ocorre é que muitas destas áreas estão deterioradas ou em
processo acelerado, devido à ação, muitas vezes, devastadora do turismo. No entanto o
processo inverso vem ocorrendo em muitos países, demonstrando que a proteção da
natureza associada ao turismo é necessária e vantajosa.
Outro aspecto a ser considerado é a demanda existente e a em potencial. Não há como
combater esta massa, mas sim reeducá-las. Segundo WELLS apud Lindber e Hawkins
(2001), um exemplo é Butão, neste país controla-se o turismo exigindo que os visitantes
gastem U$200/dia, além de limitar o número de turistas a cada ano. Há outras restrições
para controlar a escala e a intensidade do desenvolvimento. No Brasil também já temos
alguns exemplos de controle de turistas, no Parque Nacional Marinho de Fernando de
Noronha é controlado o número de pessoas no aeroporto e no porto, já em Bonito – MS
o controle é feito com a limitação de visitantes em cada atrativo em função da
capacidade de carga.
A massa em busca de áreas naturais deve ser conhecida e compreendida pelos
envolvidos no desenvolvimento do ecoturismo, uma vez que assim como os recursos
naturais, representam a força motriz do desenvolvimento da atividade.

• Caracterização da área de abrangência do projeto:


O Reservatório da Hidrelétrica de ITAIPU localiza-se entre os paralelos 24º05’ e
25º33’de latitude sul e entre os meridianos 54º e 54º37, de longitude oeste de Grw.
Pertencente ao 3º Planalto Paranaense, denominado Planalto de Guarapuava e é
caracterizado pela uniformidade geológica, com a presença de grandes lençóis de lavas
vulcânicas basálticas. A altitude varia de 200 a 400 m sobre o nível do mar, sendo a
cota mínima em Foz do Iguaçu e a máxima em Marechal Cândido Rondon. A
temperatura apresenta uma média anual entre 20 e 21ºC, em Foz do Iguaçu, com uma
ligeira elevação em Guaíra. O mês mais quente (fevereiro) com a média entre 24 e 25ºC
e a média do mês mais frio (junho), entre 14 e 15ºC.
A precipitação anual varia de 1.200 a 1.300 mm em Guaíra e 1.600 a 1.700 mm, com o
trimestre mais chuvoso (dezembro, janeiro, fevereiro) com uma precipitação média
trimestral entre 400 a 450 mm e o trimestre menos chuvoso (junho, julho, agosto), com
uma precipitação média entre 150 mm e 250 mm.
Os solos característicos da região são os latosois vermelho escuro e roxo, podzol
vermelho amarelo, solos hidromórficos e solos orgânicos.
A Faixa de Proteção, com largura que varia entre 100-500m compreende a faixa de
segurança às oscilações de nível e a de preservação permanente. Do lado brasileiro a
Faixa localiza-se entre Foz do Iguaçu e Guaíra, tendo 1.395 km de extensão, com área
de aproximadamente 29.475 ha. Acoplado a Faixa, prevendo-se a necessidade de
áreas contínuas maiores, foram também criados os Refúgios Biológicos para abrigar
animais silvestres procedentes do resgate por ocasião do enchimento do reservatório.
Segundo KLEIN et all (1977), originalmente, a região onde se inseriu o Reservatório de
ITAIPU era totalmente formada por uma floresta sub-tropical, que deu lugar, na margem
brasileira, a um acelerado processo de colonização agrícola, independente da
implantação de ITAIPU, baseado nas culturas de soja e trigo, a região sofreu a
erradicação quase total da floresta natural.
A fauna terrestre e aquática em harmonia com a paisagem constitui atrativo
fundamental e interagem com a trilha ecológica possibilitando a maior interações
homem x natureza, possibilitando diversa atividades tais como: observação de animais
terrestre, aquáticos, pesca desportiva (torneios pesque e solte), dentre outros.
Classificou-se a fauna que ocupa a área do reservatório da seguinte forma: Fauna
Aquática e Fauna Terrestre.
Segundo estudos desenvolvidos pela Itaipu Binacional em convênio com a
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (1977), a ictiofauna do Reservatório de
Itaipu, na área de abrangência do projeto é composta por 114 espécies de peixes,
distribuídas em 27 famílias e 8 ordens.
Em relação à fauna terrestre, devemos considerar que antes da formação da faixa de
proteção, os ambientes naturais já haviam sido profundamente alterados, provocando o
desaparecimento de habitats específicos, dos quais dependiam inúmeros animais.
Como agravante o ecossistema alterado encontrava-se em seu estado primitivo
praticamente desconhecido. O levantamento da fauna terrestre na área de interesse
desse estudo está baseada nos levantamentos citados no Relatório especial n. 4 da
ITAIPU BINACIONAL(1973), e nos estudos desenvolvidos por ZOTZ et all (1987) e
PEREZ et all (1987), com base nestes trabalhos foi possível constatar a existência de
18 espécies de mamíferos pertencentes a 13 famílias, 31 espécies de rapteis
pertencentes a 13 famílias, 331 espécies de aves pertencentes a 58 famílias e 22
espécies de anfíbios pertencentes a 5 famílias de ocorrência na região , e associando
estes dados , aos apresentados na “Red Data BooK” da INTERNATIONAL UNION FOR
THE CONSERVATION OF NATURE (1971), foi possível estabelecer a ocorrência na
área de 20 espécies ameaçadas de extinção.

O projeto da Trilha abrange 16 municípios lindeiros ao lago de Itaipu sendo eles


demonstrados no quadro 1.
Quadro 1. Relação dos municípios lindeiros ao lago e número de habitantes.

POPULAÇÃO ESTIMADA
MUNICÍPIO (1998)

1. Diamante d` Oeste 4.878

2. Entre Rios do Oeste 3.328

3. Foz do Iguaçu 267.671

4. Guaíra 28.659

5. Itaipulândia 6.836

6. Mercedes 4.608

7. Medianeira 35.000

8. Marechal Candido Rondon 41.007

9. Missal 10.433

10. Pato Bragado 4.049

11. São José das Palmeiras 4.102

12. Santa Helena 20.491

13. Santa Terezinha de Itaipu 16.051

14. São Miguel do Iguaçu 18.251

15. Terra Roxa 17.000

Fonte: IBGE (1998)

A região oeste, ocupada pelos municípios lindeiros ao lago movimenta os três setores
da economia: primário (agricultura), secundário (indústria e comércio) e terciário
(prestação de serviços), e apresenta baixos índices de cobertura florestal. Segundo a
Secretária de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos a meso região oeste
paranaense conta com apenas 4% de florestas em estágio avançado e 18,5% de
estágio inicial e médio, tendo como maiores áreas ambientais protegidas o Parque
Nacional do Iguaçu (Foz do Iguaçu), a Faixa de Proteção Florestal do Reservatório de
Itaipu e o Parque Nacional de Ilha Grande (Guaíra). As demais áreas são pequenas e
de menor valor na sua biodiversidade. Estas áreas, no entanto são usualmente
atacadas por caçadores e palmiteiros da região. A região não apresenta um quadro de
preservação e conservação ambiental adequado, porém alguns projetos estão sendo
realizados nos Municípios Lindeiros, sendo destinados à proteção do meio ambiente e a
educação ambiental.

Os atrativos atualmente mais significativos da região e que ainda apresentam grande


potencial de exploração turística são:
- Parque Nacional do Iguaçu: uma das maiores reservas florestais da América do Sul,
tombado pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade. É no interior do Parque
que se localiza o complexo natural das Cataratas do Iguaçu, atração turística de maior
representatividade no Estado;
- ITAIPU Binacional: é a maior usina hidroelétrica do mundo em capacidade de geração
de energia, que atende a uma demanda significativa de visitantes (370 mil
visitantes/ano).
- Lago de Itaipu: a implantação da usina ocasionou a formação de um grande lago
artificial, com extensão de 135.000 ha, o Lago de Itaipu, cujas águas se estendem por
vários municípios situados na denominada Costa Oeste, constituindo um recurso
turístico de grande potencial.
- Parque Nacional da Ilha Grande; unidade de conservação que guarda o último trecho
livre de represamento das águas do Rio Paraná, localizado no extremo norte da região
e que constitui um enorme potencial para o desenvolvimento do ecoturismo.
-Marco das Três Fronteiras: obelisco construído em pedra e cimento e pintado com as
cores nacionais, que mostra onde o Brasil se encontra com a Argentina e o Paraguai.
- Complexo Turístico de Itaipu: o complexo é formado por quatro áreas temáticas de
visitação, identificadas como unidades interpretativas revitalizadas sendo a Usina
Hidrelétrica de Itaipu, o Ecomuseu, o Refúgio Biológico Bela Vista – RBBV e o Canal de
Migração de Peixes.

•Diretrizes:
A implantação da Trilha do Grande Lago possui características especiais, pois se trata
de um projeto que para se consolidar deve envolver uma série de municípios num só
objetivo, o desenvolvimento do turismo sustentável. Sua implantação não define local
para o início, que poderá ser feita em qualquer local com a participação de um ou de
vários interessados.
Para a implantação da Trilha do Grande Lago se estabeleceu uma série de diretrizes
que poderão ser seguidas e são imprescindíveis para a sua realização. É importante
elucidar que as diretrizes aqui abordadas não são definitivas, e podem ser adequadas
de acordo com cada caso. Cada trecho da trilha necessitará de adaptações ou mesmo
de novas diretrizes, estas diretrizes possibilitarão a implantação da trilha o
conhecimento dos caminhos a serem trilhados.
As diretrizes para a implantação da trilha foram divididas em 4 fases: levantamento, pré-
execução, execução e avaliação. Estas diretrizes podem ser utilizadas para a
implantação de toda a extensão da trilha – 1.400 Km – ou de trechos da mesma.
Fase de Levantamento: Esta primeira fase é primordial, pois permite uma visualização
da área para que desta forma seja possível realizar uma projeção da trilha, composta
das seguintes ações:
- Avaliação da oferta e da demanda turística da área;
-Verificação dos aspectos legais (legislação ambiental, leis estaduais e municipais);
-Consulta a comunidade local.

Fase de Pré-Execução: É a segunda etapa e têm importância fundamental no bom


desenvolvimento da implantação da trilha, pois será a facilitadora na execução dos
trabalhos futuros. Só inicia após a concretização de todas as ações da primeira fase e
com o respaldo da comunidade. A pré-execução inclui as seguintes ações:
- Formação da equipe técnica;
- Delimitação da área da trilha;
- Detalhamento do projeto (estabelecimento de projetos e prazos);
- Determinação de funções e responsabilidades.

Fase de Execução: É a fase do levantamento de dados técnicos a campo propriamente


dito, fundamental que já tendo sido determinado na fase anterior toda a delimitação da
área da trilha, sendo necessária a execução das seguintes ações:
- Avaliação topográfica;
- Definição do traçado;
- Definição de estruturas;
- Estudo de Capacidade de carga.
Fase de Avaliação: Esta etapa é fundamental para garantir a sustentabilidade do
projeto, sendo necessário e implementação das seguintes ações:
- Monitoramento ambiental;
- Manutenção da trilha;
- Controle e avaliação da qualidade dos bens e serviços.

•Sugestões de roteiros na “Trilha do Grande Lago”:

Com base nos levantamentos realizados foram levantadas como propostas para o
desenvolvimento do ecoturismo nos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu a criação de
pequenos roteiros envolvendo trechos da “Trilha do Grande Lago”. As propostas
restringem-se a quatro municípios onde se verificou relevante apelo natural e oferta de
infra-estrutura já consolidada. É importante salientar que as oportunidades de
exploração da área não se isolam no plano do ecoturismo, mas também permitem
serem ampliadas para a exploração de esportes radicais e náuticos, dentre muitas
outras oportunidades que podem surgir. Os dois roteiros propostos são chamados de
Roteiro 1 e Roteiro 2 para facilitar didaticamente a abordagem.

Roteiro 1- Trecho Santa Helena / Entre Rios:

O primeiro roteiro envolve os municípios de Santa Helena e Entre Rios o segundo, os


municípios de Itaipulândia e São Miguel do Iguaçu. Os pontos de partida dos dois
roteiros propostos podem ser o ponto de saída sugerido ou mesmo o ponto proposto
como chegada. Os roteiros poderão ser realizados de acordo com as condições físicas
do indivíduo, irá depender das expectativas e dos objetivos de cada um.

Os roteiros poderão ser acrescidos de novos pontos atrativos, variando de acordo com
o desenvolvimento da região e do surgimento de novos empreendimentos. Um exemplo
é o município de Santa Helena onde está sendo construído um atrativo de caráter
religioso, a estátua de Cristo com 25 metros, que poderá se tornar mais um ponto de
passagem no roteiro. Outra possibilidade de roteiro seria estender o percurso proposto
no sentido da bacia hidrográfica do Rio São Francisco Falso chegando no local histórico
da ponte queimada, onde está localizado o “Memorial Coluna Prestes”, que liga os
municípios de Santa Helena e Diamante do Oeste, destacando os aspectos histórico-
culturais da região.

A divisão da “Trilha do Grande Lago” em roteiros busca facilitar e incentivar o uso da


trilha, além de permitir o intercâmbio entre os municípios vizinhos. Os roteiros podem
ser importantes agentes de estímulo ao usuário a percorrer toda a trilha e conhecer a
região do Reservatório de Itaipu.

Em geral os clubes de montanhismo, grupos de escoteiros ou simplesmente pessoas


adeptas a prática do trekking podem ser estimuladas a percorrê-la como um desafio. Na
Trilha dos Apalaches, uma trilha de 3.380 km, os visitantes recebem botons referentes
ao trecho da trilha percorrida, como forma de incentivo, o mesmo pode ser feito com a
“Trilha do Grande Lago”.

Além de incentivo ao visitante, o boton ou qualquer outro objeto que seja criado
simbolizando a caminhada de um trecho da trilha pelo visitante, pode ser uma
alternativa de renda para a população local. O objeto pode explorar características
físicas e culturais do trecho realizado pelo visitante.

Os roteiros também podem ser caracterizados explorando aspectos da cultura da


região, como a gastronomia e a colonização dos imigrantes. As propriedades rurais
próximas à trilha podem oferecer serviços de alimentação com pratos típicos, pousadas,
camping, além de vender produtos locais.

Roteiro 2 -Trecho São Miguel/Itaipulândia:


O roteiro sugerido para os municípios de São Miguel e Itaipulândia propõe a saída da
trilha na praia de Vila Ipiranga, São Miguel do Iguaçu. O Terminal turístico de São
Miguel se constitui em área de lazer com bosques, churrasqueiras, restaurante,
banheiros, área gramada para camping, quadras poliesportivas, campo de futebol,
calçadão para caminhadas, atracadouro de barcos etc.
O local é de grande beleza, sobressaindo-se piscina natural com aproximadamente
5000 m² com mini-tobogã e pedalinhos e praia artificial com 600 m de areia formada
pelo Lago de Itaipu. Foi inaugurado em 1984 e tem uma área total de 30,32 ha. É
bastante utilizado pela população regional, sendo palco de vários eventos culturais e
esportivos, principalmente no verão. Completam a infra-estrutura hotéis com chalés e
supermercados, situados nas imediações do terminal.
Da praia de Vila Ipiranga inicia a caminhada que será de aproximadamente 15Km até o
Morro da Santa em Itaipulândia. No alto do morro foi construída a imagem de Nossa
Senhora Aparecida com 12 metros de altura. Além do apelo religioso e cultural, pode-se
explorar a localização da imagem que permite ter uma visualização ampla da paisagem
local. Após a passagem pelo Morro da Santa a caminhada segue até a base náutica de
Itaipulândia num percurso de mais 27km. A base náutica possui infra-estrutura
disponível para a prática de esportes náuticos.
O total do percurso deste trecho da trilha é de aproximadamente 42 Km que pode ser
percorrido no período de um ou dois dias.
O roteiro dá outras opções ao visitante como a exploração das ilhas formadas pelo lago,
onde se pode passear de barco, caiaque ou outras embarcações. E como segunda
opção a prática da observação de aves que pode se dar como um atrativo a mais na
exploração das ilhas.
A implantação do roteiro, sendo este um pequeno trecho da Trilha do Grande Lago,
possui potencial para trazer benefícios à região, que vem buscando fomentar o turismo
como alternativa econômica.
Na Figura 1 foram levantados os benefícios previstos provenientes da implantação do
roteiro nos municípios de São Miguel e Itaipulândia. Os benefícios levantados abrangem
as esferas econômicas, socioculturais e ambientais e são passivos de alterações que
inclua mais itens, conforme seja desenvolvida a atividade turística na região.

Figura 1. Benefícios gerados com a implantação do roteiro proposto.

BENEFÍCIOS

ECONÔMICOS SOCIOCULTURAIS AMBIENTAL


• Intensifica o uso da • Promove a consciência
• Geração de empregos;
infra-estrutura ambiental dos visitantes e
• Estímulo à cultura local e
disponível; da população local através
regional;
• Cria demanda para de material informativo;
• Intercâmbio cultural
o investimento em • Estimula na população
• Incentiva o investimento
novas estruturas; local a proteção e
público em melhorar e
• Atrai investidores conservação da área, em
para intensificar a ampliar a infra-estrutura
vista de que esta se
arrecadação de no município, melhorando
impostos e tributos apresenta como sujeito;
no município. a qualidade de vida da
Contribuição dos usuários
população; na fiscalização da área
• Estimula a permanência (podem ser criados
da população local no “disque-denúncias”, livro
campo para registro de impressões
Roteiro 2 : Trecho Santa Helena – Entre Rios
O segundo roteiro sugerido recorta a “Trilha do Grande Lago” no trecho entre a Área de
Lazer de Santa Helena e a praia de Entre Rios, num percurso de aproximadamente 85
Km. Devido ao percurso mais longo da trilha será necessário o período de um a três
dias para percorrê-la. A opção pelo município de Santa Helena foi a apresentação de
uma das mais estruturadas áreas de veraneio do Lago de Itaipu. No local estão
disponíveis áreas de camping, restaurantes, banheiros, vestiários, etc. Em relação ao
município de Entre Rios observa-se que este tem investido na melhoria de suas
estruturas. No município está localizado o Morro dos Sete Pecados com 450 metros de
altitude, que oferece uma vista privilegiada da área alagada e do país vizinho Paraguai,
ideal para a construção de um mirante. Na área existem propriedades rurais que podem
estruturar-se para oferecer serviços de hospedagem e alimentação e pernoite.
A caminhada inicia na praia de Santa Helena seguindo até o Morro dos Sete Pecados
num total de 25Km. Após a passagem no Morro dos Sete Pecados a trilha segue mais
60 Km até a Área de Lazer de Entre Rios que possui estrutura para veraneio. O trecho
exige uma parada para descanso onde o usuário poderá acampar e terminar o trecho
no dia seguinte. Como opção do passeio sugere-se uma visita ao Refúgio Biológico de
Santa Helena com extensão até a Reserva de Limoy. A travessia de barco até Limoy
seria mais uma forma de exploração para a população local e poderia ser feita com
diferentes tipos de embarcações como caiaque, duck ou barco a motor.
A figura 2 traz uma breve citação dos benefícios que podem ser gerados com a
implantação do roteiro proposto.
Figura 2. Benefícios gerados com a implantação do roteiro proposto.

BENEFÍCIOS

ECONÔMICOS SOCIOCULTURAL AMBIENTAL


• Intensifica o uso das • Incentivo a
estruturas disponíveis; capacitação profissional • Promove a consciência
• Cria demanda para o (curso de guias, curso de ambiental dos visitantes
investimento em novas idiomas, curso de e da população local
estruturas (agências de culinária, dentre através de material
viagens, pousadas, outros); informativo;
camping, restaurantes, • Oferece maiores • Estimula na população
entre outros); oportunidades de local a proteção e
• Intensifica a empregos e geração de conservação da área,
arrecadação de impostos e renda complementar, • Contribuição dos
tributos no município; como é o caso dos usuários na fiscalização
da área (pode ser
• Atrai investidores para a agricultores; criados “disque-
região. • Estimula a denúncia”).

preservação da cultura
local e regional;
- Incentiva o
investimento público em
melhorar e ampliar a
infra-estrutura no
município, melhorando a

Mesmo depois de implantado o roteiro pode, e muitas vezes deve, sofrer alterações a
partir de que sejam observadas necessidades para que isso aconteça. Com o uso da
trilha é possível observar fatores que na fase de implantação não se pode perceber
dado o caráter subjetivo do mesmo ou outros aspectos que não foram levados em
consideração por não se prever tais circunstâncias. Os fatores podem ser relacionados
ao meio ambiente social e natural.
Fatores do meio ambiente levantados:
- Ocupação de uma área da trilha por uma espécie para reprodução em
determinada época do ano; avanço da agricultura em áreas ocupadas pela trilha;
mudança de atividade agropecuária que prejudica o ambiente no local (construção de
pocilgas).
Os pontos levantados como fatores do meio ambiente natural podem apontar para
outros pontos após estudo aprofundado das características físicas e biológicas da área.
Este estudo é relevante para a implantação da trilha, pois muitos fatores naturais podem
inviabilizar a implantação de algum.
Como aspectos do meio social aponta-se: Maior interesse do usuário por áreas
específicas (morros, ilhas, planícies); perfil predominante de um público específico. Este
ponto pode levar a total readequação da trilha, uma vez que o público demande por
maiores desafios, ou o inverso, trechos com menor grau de dificuldade. Este fator não
implica em reabertura de uma área, mas adaptações como redução do percurso de um
roteiro ou aumento do nível de dificuldade. É importante que o critério para estas
adaptações seja o de adequar o visitante à área e não o contrário, priorizando a menor
interferência no meio. A observação dos fatores ambientais e sociais permite uma
otimização do uso da trilha com menores prejuízos ao meio ambiente e maior satisfação
para o usuário. O turismo, em especial o ecoturismo desde que construído nos moldes
do desenvolvimento sustentável, pode trazer benefícios que justifiquem sua promoção
não só nos aspectos econômicos, mas nos benefícios relacionados aos fatores, sociais,
culturais e ambientais. Os benefícios acima descritos podem ser maximizados de
acordo com o desenvolvimento da atividade turística na região. Com o melhor
aproveitamento da área, como se sugere na proposta da grande trilha, pode levar ao
aumento neste número de visitantes e contribuir significativamente no desenvolvimento
do turismo.
4. Conclusões:
A criação de um atrativo ecoturístico associado a uma área de proteção ambiental,
como a implantação da trilha na Faixa de Proteção do Reservatório de Itaipu, só deve
acontecer quando as pessoas envolvidas no projeto sejam profissionais e estejam
comprometidas em salvaguardar todas as questões relacionadas a proteção e
conservação da área.
É importante considerar que a Faixa de Proteção registra atualmente problemas de
vandalismo, caça e outras marcas de degradação ambiental, características existentes
sem o desenvolvimento de atividades turísticas diretas na faixa. A presença de pessoas
(ecoturistas) que estarão proporcionando intercambio cultural com a comunidade,
demonstrando seu interesse e preocupação com a preservação do meio ambiente
poderão trazer uma nova forma de integração das populações locais com a Faixa de
Proteção. Se partirmos da premissa de que só amamos o que conhecemos, podemos
afirmar que esta atividade poderá propiciar à comunidade regional o conhecimento e o
entendimento da sua importância ambiental para a preservação dos recursos naturais
que irão melhorar a qualidade de vida da atual e das futuras gerações.
Nunca é demais insistir na forma como esta proposta poderá ser importante para o
desenvolvimento econômico e cultural desta região: “esta proposta somente será
validada caso atenda aos três princípios básicos do ecoturismo: o recurso natural,
participação da comunidade e recursos econômicos”.

5. Bibliografia:

AGATE, E. 1983. Footpaths; a practical conservation handbook. Berkshire,


Wembley Press. 192 p.

HAWKINS D. E. LINDBERG, K. Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. 3


ed. São Paulo: SENAC, 2001.

ITAIPU BINACIONAL. IECO/ELC – Estudo do Rio Paraná – Reconhecimento dos


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KLEIN, D.M.; LANGE, R.R. & MULLER, A C. – Projeto Gralha Azul, ITAIPU
BINACIONAL, Diretoria de Coordenação, Departamento de Meio Ambiente, Foz do
Iguaçu, 1977.

PEREZ, N. ,VAN HUBECK,J. ,ORTIZ, J. Estudos Faunísticos Anais do II Seminário


sobre Meio Ambiente, Itaipu Binacional, 1987, v.1, p 117-136.
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Nacional do Caparão/MG/ES, IBAMA, 2003.

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Itaipu. Relatório Anual , Maringá –PR ,1997.
ZOLTZ, C. ,MATSUMOTO,J.,Y.; LOS, M.M.; Levantamento da Mastofauna do refugio
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