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Representatividade*
RESUMO
INTRODUÇÃO
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Professora Mestre do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá-UEM e Membro do
Núcleo Local UNITRABALHO – Paraná. E-mail: mnculti@uem.br
* Trabalho apresentado no Tercer Congreso Europeo de Latinoamericanistas, em Amsterdam-Holanda, 3-6 de
julho de 2002.
1
patamar em 1995 (4,64%), atingindo 7,10% em 2000. Segundo o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômico-DIEESE, estas taxas seriam,
respectivamente, 7,20%, 9,00% e 11,00%2 quando, segundo os dados levantados por NETO
(2001: 56-63), a “taxa média de desemprego na União Européia(UE) permaneceu
praticamente estabilizada em torno de 10% em 1998 (OIT, 1998) e 9,6% em 1999
(Eurostat, La Comissión Européenne, 2000)”. A informalização já atinge 50% da população
economicamente ativa com tendência a aumentar. A quantidade dos trabalhadores
temporários e subcontratados já é maior que o número de empregados das grandes
empresas, com jornadas de tempo integral, com salários e condições de trabalho melhores.
O desemprego de longa duração (mais de seis meses) no Brasil tem acompanhado a
tendência internacional. Os salários, comparados com muitos outros países, são para a
grande maioria dos trabalhadores especializados ou não, baixíssimos. Segundo o
DIEESE(1996-1997), o custo da mão-de-obra na industria brasileira (2,68 US$/hora) é
cerca de seis a oito vezes mais baixo que nos países mais desenvolvidos (16,40 nos EUA;
19,26 na Áustria; 24,87 na Alemanha), cerca da metade do valor pago na Coréia do Sul
(4,93) e em Portugal (4,63), sendo similar ao México (2,41).
Para flexibilizar ainda mais o já desregulado mercado de trabalho brasileiro, em
1998 entrou em vigor lei que autoriza as empresas manterem até 20% da força de trabalho
durante dois anos com encargos sociais bastante reduzidos. Medida Provisória editada no
mesmo ano criou o “desempregado temporário”, onde o trabalhador que seria demitido,
passa a receber pela empresa um salário mínimo e, durante cinco meses, fica fazendo
cursos de qualificação com a possibilidade de não ser demitido ao final deste período.
Portanto, o que temos visto de maneira geral, é o aumento da instabilidade para os
trabalhadores, pois as transformações tecnológicas próprias do processo de acumulação de
capital, mudam também o significado social do trabalho à medida que imprimem um
caráter provisório a muitos postos de trabalho e ocupações no processo produtivo e
organizacional e, conseqüentemente, nas posições delas decorrentes, denotando ausência de
perspectiva e lugar seguro na sociedade. O processo de desenvolvimento globalizado do
capitalismo que vem gerando crescente desemprego e aumentando a concentração de renda,
desigualdade e exclusão social, é inerente ao modelo de desenvolvimento capitalista, que
vem apenas tomando novas formas em períodos históricos diferentes. Hoje se fala de
riqueza e pobreza em toda parte do sistema capitalista, crescendo mais a última.
No Brasil em particular, o que se vê através da distribuição de renda é um alto grau
de concentração e crescimento do desemprego e pobreza. Segundo o Relatório do
Desenvolvimento Humano de 2001 da Organização das Nações Unidas(ONU), elaborado
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Penud), que apresenta dados
de 162 países, publicado em 10 de junho de 2001, o Brasil fica em má colocação no mais
novo índice criado, o chamado Índice de Conquistas Tecnológicas-TAI, 43º colocado entre
72 países. Este índice enquanto parte do Relatório sobre Desenvolvimento Humano, visa
“capturar como um país está criando e difundindo tecnologia e construindo uma base de
capital humano – refletindo sua capacidade para participar nas inovações tecnológicas”.
Nele, o Brasil figura no penúltimo bloco, chamado “adotadores dinâmicos”de tecnologia,
só à frente não por acaso, dos chamados “marginalizados”. E, também não por acaso, o
índice mostra que o País perde no item capacidade humana (anos significativos de
2
O DIEESE inclui em suas pesquisas que medem o desemprego, mais duas categorias como desempregados,
além do desemprego aberto que é o “oculto por trabalho precário” e o “oculto por desalento”.
2
escolarização e matrícula universitária em áreas como ciência, matemática e engenharia).
Em anos de escolaridade empata com nações muito pobres da América Latina como
Honduras e República Dominicana. O relatório aponta que a tecnologia poderia ser um
instrumento valioso para o desenvolvimento humano e diminuir a pobreza, entretanto, não
existe uma receita única que evite o aprofundamento da diferença entre ricos e pobres,
alegando inclusive, que o mercado “é uma poderosa máquina de progresso tecnológico,
mas não é poderoso o suficiente para criar e difundir as tecnologias necessárias para
erradicar a pobreza”. Apesar de um pequeno avanço no IDH-Índice de Desenvolvimento
Humano, que passou de 0,746 para 0,750, a desigualdade de renda continua alta. Os 10%
mais ricos consomem 46,7% enquanto os 10% mais pobres ficam com o equivalente a
apenas 1% do total.
De fato, o desenvolvimento tecnológico não é para o benefício de todos, mas apenas
para uma minoria. Não gera emprego na mesma proporção e tempo que o destrói, mas faz
aumentar uma massa cada vez maior de desempregados e subempregados, excluídos
totalmente ou parcialmente da riqueza produzida. Na melhor hipótese, permitem condições
de trabalho em tempo parcial, tempo determinado, atividades no mercado informal e
autogeridas. (CULTI, 2001).
Nesse sentido, nos parece improdutivo apenas lutar para conservar e fazer crescer o
número de empregos. Nossa condição histórica atual é de procurar criar e apoiar
oportunidades ou formas de trabalho sociais reinventadas para propiciar trabalho e renda à
população excluída, que estamos vendo despontar nas últimas décadas, através da chamada
economia solidária.
3
consumidores e trabalhadores. Enquanto trabalhadores se organizam em associações,
cooperativas ou empresas de autogestão. As experiências de organizações econômicas
populares que surgem dos excluídos ou mais pobres constituem uma iniciativa real em
desenvolvimento. São formas econômicas solidárias nas quais o trabalho assume posição
central.
A economia solidária é, portanto, uma economia que surge do povo, de maneira
espontânea ou por indução de agentes externos que o apóiam, fazendo emergir o poder
público, a iniciativa privada e uma gama variada de ONGs-Organizações não-
governamentais sem fins lucrativos, que não correspondem às formas de comportamento
tratadas pelas teorias econômicas convencionais. Na perspectiva de SINGER (2000:7-28), a
economia solidária é formada por uma constelação de formas democráticas e coletivas de
produzir, distribuir, poupar e investir. Suas formas clássicas formadas por unidades
produtivas autogestionárias datam do século passado. São as cooperativas de consumo,
crédito e de produção. A origem do pensamento cooperativo está nos grandes autores
socialistas chamados “utópicos” da primeira metade do séc. XIX (Owen, Fourier, Buchez,
entre outros). Segundo o citado autor, a economia solidária não poderia preceder o
capitalismo industrial, mas o acompanha como uma sombra em toda a sua evolução, visto
que ela é uma “criação em processo contínuo de trabalhadores em luta contra o
capitalismo” (p.13). Diz ainda que,
O modo solidário de produção e distribuição parece à primeira vista um híbrido entre o capitalismo e
a pequena produção de mercadoria. Mas, na realidade, ele constitui uma síntese que supera ambos. A
unidade típica da economia solidária é a cooperativa de produção, cujos princípios organizativos são:
posse coletiva dos meios de produção pelas pessoas que as utilizam para produzir; gestão
democrática da empresa ou por participação direta (quando o número de cooperadores não é
demasiado) ou por representação; repartição da receita líquida entre os cooperadores por critério
aprovados após discussões e negociações entre todos; destinação do excedente anual (denominado
“sobras”) também por critérios acertados entre todos os cooperadores. A cota básica do capital de
cada cooperador não é remunerada, somas adicionais emprestadas à cooperativa proporcionam a
menor taxa de juros do mercado (p.13).
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sem deixar de serem trabalhadores. A importância do sistema reside no fato de não ter por
base a exploração do trabalho de outros trabalhadores e que, “uma dupla estratégia de
mercado é necessária: uma orientada para o mercado capitalista, onde a regra é a
competição feroz e agressiva; a outra, com respeito ao mercado intercooperativo, que
também chamamos de mercado solidário, no qual o desafio é criar sistemas e práticas
comerciais baseadas na cooperação e na complementaridade, em vez da competição, e
estabelecer sistemas de preço que eliminem a exploração do comprador/consumidor”.
Não há ainda no Brasil, um recenseamento sistemático e abrangente sobre o total e
os tipos de empreendimentos solidários existentes3. Entretanto, estudos e estimativas
setoriais indicam um notável desenvolvimento de novos segmentos no cooperativismo,
além do agropecuário e de consumo, como o de trabalho e serviços, com uma grande
diversificação de iniciativas em regiões rurais e urbanas. Além das cooperativas
identificadas mais facilmente por já existir um recenseamento sistemático nacional através
da OCB-Organização das Cooperativas Brasileiras, há hoje outras iniciativas econômicas
solidárias ao longo de todo o País e abrangem inúmeras associações informais e formais, os
negócios de caráter familiar, pequenas industrias artesanais e microempresas não
formalizadas legalmente. Existem também os chamados “Clubes de Trocas”, que
combinam reciprocidade e formas não monetárias de organização social. Todos compondo
a chamada economia popular e solidária.
Como já indicado, apesar de não se dispor de dados abrangentes já publicados que
possibilite dimensionar a economia solidária no Brasil, podemos inferir que ela é
representativa quando observamos o surgimento de espaços ou organizações agregadoras
das atividades econômicas coletivas como a ANTEAG-Associação Nacional de
Trabalhadores em Empresas Autogestionárias, o MST-Movimento dos Trabalhadores sem
Terra, as ITCPs-Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, a ADS-Agencia de
Desenvolvimento Solidário, a FETRABALHO-Federação das Cooperativas de Trabalho
entre outras, que aparecem diferenciando-se por Estados da Federação. Estas entidades
surgem da demanda crescente de trabalhadores que buscam formar empreendimentos
solidários, os quais estão se multiplicando em todo o País. Elas, por outro lado,
desempenham um papel importante, à medida que se torna um espaço de troca de
experiências em autogestão e autodeterminação na consolidação desses empreendimentos.
Elas ajudam a consolidar estratégias para conectar empreendimentos solidários de
produção, serviços, comercialização, financiamento, consumidores e outras organizações
populares que possibilitam um movimento de realimentação e crescimento conjunto auto-
sustentável. Também desempenham um importante trabalho de educação e qualificação dos
trabalhadores por meio dos cursos e seminários que propiciam ou oferecem, voltados à
autogestão, solidariedade, trabalho coletivo, entre outros temas, que orientam suas ações,
tanto no nível individual, coletivo como no social.
3
Um levantamento amplo e inédito da economia solidária no Brasil foi realizado pela UNITRABALHO-Rede
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho em seis Estados (SP, MG, DF, RS, CE e PA) com
resultados ainda não publicados. Para as cooperativas, já existe em separado, o levantamento realizado pela
OCB-Organização das Cooperativas Brasileiras.
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BREVE RESGATE HISTÓRICO SOBRE O PENSAMENTO
COOPERATIVISTA E O COOPERATIVISMO NO BRASIL
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fundada a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea (Coopfer). Em
1917, os ferroviários fundaram cooperativas de consumo.
Até 1930 o cooperativismo no Brasil caminhava muito lentamente. A crise
econômica mundial estimulou a emergência de cooperativas, especialmente no sul do país.
A depressão de 1929 fez o governo se interessar pelo cooperativismo, especialmente como
instrumento de política agrícola. Foi a partir de 1932, com a implantação do Decreto nº
22.239, do governo Getulio Vargas, que se regulamentou a organização e funcionamento
das cooperativas, verificando-se nesta época, um surto relativamente apreciável do
cooperativismo brasileiro. A partir de 1945, o governo passa a oferecer vários incentivos
materiais e fiscais às cooperativas e, em 1951, foi criado o Banco Nacional de Crédito
Cooperativo (BNCC), extinto recentemente no governo Collor. A partir de 1966, o
cooperativismo perde muitos incentivos fiscais e liberdades já conquistadas, levando ao
fechamento de muitas cooperativas.(SCHNEIDER:1982, p.31-2)
Apesar das dificuldades encontradas, o sistema cooperativo brasileiro apresentou
um fortalecimento como setor relevante dentro da sociedade no governo Médici, com o
Decreto-Lei 5.764 de dezembro de 1971, que regulou o funcionamento das cooperativas até
hoje e criou a OCB-Organização das Cooperativas Brasileiras, órgão nacional de
representação das cooperativas existentes no Brasil. A partir do governo Collor, além do
cooperativismo ligado a iniciativas de grande e médio porte, que na prática agem como
empresas capitalistas, desponta um outro cooperativismo, que já começa a ser mencionado
como instrumento de geração de emprego e renda, passando a incorporar-se como
preocupação no FAT-Fundo de Amparo ao Trabalhador. Surgem também os PROGER-
Programa de Geração de Emprego e Renda, urbano e rural e emergem as cooperativas de
trabalho. Hoje são inúmeras as iniciativas voltadas para a construção de cooperativas
autogestionárias, chamadas de cooperativismo popular, onde se engajam grande parte dos
trabalhadores excluídos do mercado de trabalho através da formação de cooperativas de
trabalho, onde se busca intercâmbios solidários para propiciar, por esta via, a construção de
redes de economia solidária.
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contava com 715 sócios, ficando logo famosa por muitos trabalhos executados, entre estes
o cemitério de Musocco”.
No Brasil as cooperativas de trabalho começaram a surgir a partir de 1932, e
sofreram grande influência das características das cooperativas operárias de produção
européias, visto que lá já eram bem desenvolvidas. A partir de 1965 começaram a surgir
novos tipos de cooperativas de trabalho, principalmente no sudeste e sul brasileiro. Até
então, os cooperados eram freqüentemente de mão-de-obra semi-qualificada, trabalhadores
braçais como transportadores de carga, motoristas de caminhão, artesão, pescadores,
trabalhadores em edifícios. Outros profissionais como médicos, dentistas, professores
universitários, cientistas sociais, jornalistas, escritores, músicos, cineastas, radialistas,
artistas, etc, também começaram a se reunir em cooperativas, a fim de solucionar os
principais problemas do mercado de trabalho (PINHO, 1982:146). Desse período em
diante, as cooperativas de trabalho passaram a prosperar e a expandir-se para fazer frente às
necessidades da população urbana brasileira que, segundo Scheneider (1982:33), já era em
1960, 67,57% do total da população.
Esse tipo de cooperativa é até hoje, uma realidade acessível a todos os trabalhadores
qualificados ou não que, mediante a associação, desejam encontrar uma forma de trabalho
para gerar renda e fonte de subsistência ou também se emancipar do sistema de salários. É
uma forma de produzir atraente visto que nela, o lucro que o empresário obtém do trabalho
contratado desaparece e o trabalhador associado traz para o grupo uma fonte de renda que
passa a ser investida nela e distribuída entre os membros, visando melhoramento das suas
condições de vida e seu futuro profissional. Os princípios de funcionamento são
democráticos e de solidariedade. Elegem seus dirigentes entre os associados trabalhadores
formando assim, um grupo aceito e não imposto. Buscam a satisfação de seus membros não
só nos aspectos econômicos, mas também no social, educativo e humano, investindo em
educação básica e formação profissional.
Semisa, citado por Oliveira (1982:139), faz uma compilação de algumas definições
e características das cooperativas de trabalho. Segundo ele,
a) uma cooperativa de trabalho é uma associação de pessoas que reúnem para trabalhar em comum,
com o esforço conjugado de todos, com o fim de melhorar sua situação social e econômica,
deixando de ser assalariadas para transforma-se em donas de seu próprio destino, pondo o capital
e o trabalho ao serviço do homem, revertendo a modalidade de outros tipos de empresa;
c) uma cooperativa de trabalho é a união de vontades postas ao serviço de uma causa comum que
respira a liberdade humana e objetiva conseguir condições de trabalho justas, participação e
responsabilidade integral na marcha de sua empresa e de seus resultados econômicos e sociais,
dentro da prática da mais pura democracia, que assegura o respeito individual, a ação conjunta, a
justiça e a liberdade.
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“administradora” dos serviços fornecidos pelos seus cooperados”(SCHEIDER e VICENTE,
1996:40). Enfim, as cooperativas de trabalho se apresentam como uma alternativa que
possibilita a inserção, especialmente para aqueles excluídos do mercado de trabalho e sem
renda e que, ao mesmo tempo, criam espaços de autonomia e de protagonistas no processo
produtivo e empresarial.
Atualmente as cooperativas de trabalho são impulsionadas predominantemente, por
duas situações. Uma, para evitar a perda de mais postos de trabalho diante da situação em
que as empresas empregadoras entram em processo de falência ou extinção, os
trabalhadores se organizam e sob orientação dos sindicatos que os representam, pleiteiam
junto aos patrões ou ministério público específico, o controle do patrimônio da empresa
para mantê-la produzindo evitando assim, o desemprego iminente, tornando-se um
empreendimento autogestionado pelos trabalhadores. Nestes casos, o empenho dos
trabalhadores é grande. Entretanto, podem contar hoje com uma instituição bastante
conhecida que oferece apoio e orientação aos grupos interessados, chamada ANTEAG-
Associação de Trabalhadores de Empresas Autogeridas ou de Participação Acionária, além
de alguns sindicatos que também apóiam essas iniciativas.
A outra situação, é a que visa possibilitar a reinserção na produção, pessoas que já
foram dela excluídas. Como já mencionamos, com a reestruturação e reorganização do
setor produtivo, predominantemente industrial, e a não absorção pelos setores comercial e
de serviços de todo ou grande parte do contingente desempregado, assim como daqueles
que chegam pela primeira vez ao mercado de trabalho, desenvolvem-se as alternativas
econômicas solidárias, como os projetos comunitários alternativos que são associações de
produtores, em geral pequenas demais para registrar como cooperativas e as cooperativas
populares ou de trabalho. Estas iniciativas produtivas também contam com apoio para sua
formação e desenvolvimento, das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares,
criadas em importantes Universidades públicas, hoje em torno de 14 incubadoras. Também
a UNITRABALHO-Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho,
assistem estes empreendimentos através dos Núcleos Locais distribuídos hoje em 17
Universidades em todo o país. A Rede Unitrabalho como um todo, interliga atualmente 86
universidades e instituições de ensino superior, que se agrupam em sete regionais e seus
respectivos Núcleos Locais multidisciplinares. Nesta situação estão incluídas também as
cooperativas formadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) nos assentamentos
de reforma agrária.
Como já indicamos, estas cooperativas se diferenciam pelo caráter operário e
democrático e vem em resposta a crise do trabalho. Crise esta que leva, não só os
trabalhadores menos qualificados ou despreparados como também os de mais elevada
qualificação, como os profissionais liberais, unirem-se em cooperativas pela dificuldade de
manterem suas estruturas de funcionamento de forma individual.
O crescimento desses empreendimentos vêm chamando a atenção também dos
poderes públicos municipais e estaduais, que passam a apóia-los e às entidades que
assistem as associações e cooperativas. Todos estes esforços se multiplicam à medida que
cada vez mais, excluídos descobrem na autogestão e na solidariedade, formas coletivas de
reinserção produtiva.
Avaliando o desenvolvimento das cooperativas de trabalho mais recentemente, vê-
se que elas vêm crescendo gradativamente em número. No período de 1975 a 1980 elas
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cresceram 72%, passando de 181 para 313. Crescimento significativo para um período tão
curto. Veja na tabela 1 a seguir como se deu o desenvolvimento por região e no total.
Região Norte 0 4 9
Região Nordeste 29 47 58
Região Sudeste 104 126 156
Região Sul 41 52 75
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mercado de trabalho, a encontrar uma saída em relação aos seus problemas de emprego,
trabalho e geração de renda, formando associações e cooperativas.
É importante assinalar, que também na década de 90 se observa o surgimento e
desenvolvimento das organizações e instituições que apóiam, agregam e articulam todo tipo
de empreendimento associativo e cooperativo, como as já citadas: ANTEAG, MST,
Incubadoras de Cooperativas Populares, as Federações das Cooperativas de Trabalho
(FETRABALHO), Cáritas, além das oficiais já existentes ligadas a esfera governamental,
como a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Organizações de Cooperativas
Estaduais (OCES). Os sindicatos até a década de 90 adotavam uma postura de resistência a
este tipo de atividade, por entender que ficariam enfraquecidos, mas esta resistência vem
sendo gradativamente quebrada e alguns deles já apóiam abertamente esses
empreendimentos econômicos. Segundo Schneider & Vicente (1996:46), “Hoje vários
sindicatos se empenham na formação e articulação de grupos, visando à criação de
cooperativas habitacionais, de trabalho ou de serviços”.
O processo de crescimento das cooperativas de trabalho na década de 90 pode ser
visualizado com os dados da Organização das Cooperativas Brasileiras que apresentamos a
seguir.
Ramo/Anos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Agropecuário 1.400 1.438 1.402 1.393 1.334 1.378 1.403 1.449 1.408 1.437 1.448
Consumo 344 335 327 311 261 256 241 233 193 191 184
Infraestrutura 204 202 206 196 191 194 209 206 187 184 188
Educacional 112 103 112 101 105 106 176 187 193 210 225
Trabalho 528 566 598 629 825 986 699 1.025 1.334 1.661 1.949
Habitacional 136 161 177 190 176 174 190 231 202 216 222
Crédito 716 724 726 788 809 834 859 882 890 920 966
Saúde 468 530 585 698 757
Especial/Mineral/
Produção/Turism 71 108 110 135 145
Total 3.440 3.529 3.548 3.608 3.701 3.928 4.316 4.851 5.102 5.652 6.084
Obs.: de 1990 a 1995 as cooperativas médicas faziam parte do ramo de trabalho. A partir de 1996, elas foram excluídas daquele
ramo.
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Evolução do Número de Cooperativas registradas na OCB,
desde 1990
2.500
2.000
1.500
1.000
500
-
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Agropecuário Consumo
Infraestrutura Educacional
Trabalho Habitacional
Crédito Saúde
Especial/Mineral/Produção/Turismo
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Taxa de Desemprego e nº de Cooperativas de Trabalho
2.500 14,00
12,00
2.000
10,00
Numero de Cooperativas
Taxa de Desemprego
N.º Cooperativas de Trabalho
1.500
8,00
Taxa (%) Dieese SP
4,00
500
2,00
- -
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema capitalista à medida que se desenvolve, gera cada vez mais modernização
tecnológica, aumenta e concentra riqueza ao mesmo tempo em que dissemina a pobreza. Os
vitimados por este processo, precisam de alguma forma, ganhar a vida e reintegrar-se a
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divisão social do trabalho. Atualmente, os meios encontrados com freqüência pelos
trabalhadores apontam para as atividades econômicas informais e aquelas associativas e
coletivas, que se transformam em empreendimentos onde são proprietários e trabalhadores
e que vão competir no mercado com as empresas capitalistas tradicionais. As linhas
determinantes da economia popular solidária ainda estão em processo, mas se apresentam
como caminhos possíveis. Segundo SINGER (2000:14-5), no processo de construção da
economia solidária, os assalariados também se associam entre si e com pequenos
produtores, com fins de consumo, poupança, fundos, empréstimos, etc., objetivando
melhorar sua qualidade de vida. São também iniciativas de não-capitalistas ou pessoas
possuidoras de meios individuais de produção e distribuição, que apenas ganham a vida
com a venda de seus produtos e aqueles que vendem sua força de trabalho e dela dependem
para a sua manutenção e sobrevivência. O ponto em comum entre as duas categorias de
trabalhadores, é que eles dependem das suas atividades produtivas para sobreviverem. Vale
lembrar, como disse o citado autor, que a solidariedade é maior entre os pobres que entre os
ricos. Portanto, há uma perspectiva positiva nesse processo, que pode explicar inclusive, a
expansão recente das atividades econômicas associativas em vários campos e que poderá se
estender a todos os campos do sistema econômico.
Pelas investigações e atividades já realizadas, indica-se que o trabalho associado
proporciona uma situação de estabilidade aos envolvidos, há muito não sentido nem mesmo
pelos trabalhadores empregados, que vêm passando por situações de insegurança pela
ameaça sempre presente do desemprego iminente. Também sentida, e ainda mais, por
aqueles que estão em postos flexíveis de trabalho, onde se sabe que é temporário e, ora
estão integrados ora não, no mercado de trabalho. Para os que já estão na informalidade,
tudo passa a depender de seu único esforço, sentindo-se sozinho e à própria sorte, com o
peso inclusive da culpa por se encontrar nesta situação, como já apontou Viviane Forrester
em seu bestseller O Horror Econômico.
A convivência coletiva permite a que os trabalhadores, ao mesmo tempo em que
produzem meio de vida e geram renda, proporciona alguma segurança, visto que deles
depende, em grande medida, o seu futuro e o sucesso de seu empreendimento, não mais de
um patrão ou empregador ao qual deve obediência. Obviamente, há também riscos e
inseguranças, principalmente por tratar-se de situações muitas vezes não vividas ainda, e
por estes empreendimentos estarem conectados com o mercado capitalista. Entretanto,
penso que propiciam a sensação de, minimamente, não serem surpreendidos com decisões
das quais não participam e tampouco tenham acesso e controle. Podem ganhar
autoconfiança, até porque, investem tudo de si em si mesmos, além de compartilhar da
troca de experiência e conhecimentos acumulados, como também o convívio social, a
educação básica e profissionalizante em processo permanente, como é desejável que ocorra.
Outro dado importante a ser considerado neste processo é o fato de outros atores
passarem também a atuar nesse cenário em apoio às alternativas econômicas populares. As
Universidades, neste caso, através das Incubadoras e da Rede UNITRABALHO, põe seu
saber a serviço dos trabalhadores e não do capital, ao menos não diretamente, mas que de
toda forma, o sujeito principal é o trabalhador. Cumpre seu papel social, que é de colocar
seus conhecimentos buscando soluções para os problemas reais das comunidades nas quais
estão inseridas e num plano mais amplo, para os problemas nacionais. Outras instituições
nascidas do próprio sistema coletivo, como a ANTEAG, ADS e Federações de
Cooperativas populares, desempenham um papel agregador e de fortalecimento das
iniciativas econômicas que representam.
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A política neoliberal provocou o efeito desejável ao capital ao exacerbar a
acumulação de riqueza e concentração de renda, mas, por outro lado, também exacerbou a
precariedade das condições de trabalho e de vida para a grande maioria da população. E,
nesse sentido, para que ela mesma tenha um desenvolvimento sustentável, deve deixar de
ter um Estado mínimo, como se apregoou, ou seja, nesta situação, exige-se cada vez mais a
ação do Estado em termos de políticas públicas que atenda a grande massa de excluídos e
de apoio aos empreendimentos produtivos populares. Não se propôs neste texto discutir a
efetividade destas políticas, mas vale assinalar, que avaliações já realizadas apontaram
serem, no geral, mínimas. De qualquer forma, e o que é pior, são recursos públicos
efetivamente gastos, sem o retorno esperado junto à população que dele necessita. Esta
contradição lembra a discussão apresentada por ANTUNES (2001:22-8), referenciada na
síntese realizada por István Mészáros, sobre o sistema de metabolismo social e seu núcleo
constitutivo formado pelo tripé capital, trabalho e Estado4, onde diz que,
é inconcebível emancipar o trabalho sem simultaneamente superar o capital e também o Estado. Isso
porque, paradoxalmente, o material fundamental que sustenta o pilar do capital não é o Estado, mas
o trabalho, em sua contínua dependência estrutural do capital (...). Enquanto as funções
controladoras vitais do metabolismo social não forem efetivamente tomadas e autonomamente
exercidas pelos produtores associados, mas permanecerem sob a autoridade de um controle pessoal
separado (isto é, o novo tipo de personificação do capital), o trabalho como tal continuará
reproduzindo o poder do capital sobre si mesmo, mantendo e ampliando materialmente a regência da
riqueza alienada sobre a sociedade.
4
Segundo Antunes, “O desafio formulado por István Mészáros é superar o tripé em sua totalidade, nele
incluído o seu pilar fundamental, dado pelo sistema hierarquizado de trabalho, com sua alienante divisão
social que subordina o trabalho ao capital, tendo como elo de complementação o Estado político”.
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REFERÊNCIAS
GAIGER, Luiz I.G. & Outros. A Economia Solidária no RS: Viabilidade e Perspectivas.
Cadernos Cedope, São Leopoldo, UNISINOS, ano 10, n.15, 1999.
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