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CORRUPÇÃO OU POLUIÇÃO DE
ÁGUA POTÁVEL

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48.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

Dispõe o art. 271 do Código Penal: “corromper ou poluir água potável, de uso
comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à saúde: Pena –
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos”.

Esta norma do Código Penal, contudo, foi revogada, tacitamente, pelo art. 54 da Lei
nº 9.605/98, que está assim redigido:“Causar poluição de qualquer natureza em níveis
tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena – reclusão, de 1 (um)
a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a
1 (um) ano, e multa. § 2º Se o crime: (...) III – causar poluição hídrica que torne
necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; (...):
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.”

Não pode haver dúvidas quanto à revogação tácita. A norma da lei especial alcança
integralmente a descrição típica do preceito do Código Penal, como se demonstra a seguir, na
análise que será feita de ambos os tipos penais, o segundo apenas no que diz respeito à água
potável, que é o objeto material do delito do art. 271.

O bem jurídico protegido é a segurança da população em relação à água que


consome, é a saúde pública, a incolumidade pública.

Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar a conduta típica. Sujeito passivo é o
Estado, a coletividade, a comunidade.
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

48.2 TIPICIDADE

48.2.1 Conduta e elementos do tipo

O tipo do art. 271 emprega os verbos corromper e poluir. Corromper é adulterar, é


alterar a composição da água potável. A norma especial utiliza fórmula mais ampla: causar
poluição de qualquer natureza. Poluir é sujar, é conspurcar, é também corromper, porque
quem suja, quem polui modifica a composição natural de alguma coisa.

O objeto material do art. 271 é água potável particular ou de uso comum. Água
destinada ao consumo das pessoas. O tipo exige que, com a realização da conduta de
corromper ou poluir, a água potável se torne imprópria para consumo ou nociva à saúde.
Imprópria quer dizer inadequada. Nociva é a que ofende a saúde.

A norma especial é mais abrangente, pois incrimina a causação de poluição de


qualquer natureza que resultar ou possa resultar em danos à saúde humana. Basta que, em
razão da poluição causada pelo agente, a água potável atingida tenha potencialidade para
causar quaisquer danos à saúde humana, para que se considere causada a poluição.

As duas normas descrevem condutas dolosas. O agente deve estar consciente da


conduta que realiza, bem assim da corrupção ou poluição da água potável, dos danos que
poderá causar aos que a consumirem e agir com vontade livre de realizá-la sem qualquer
outra finalidade especial.

A norma do Código Penal contém pena mais severa que a cominada ao crime de
poluição, daí a importância da demonstração de sua revogação tácita.

Na lei especial, se a poluição importar na “interrupção do abastecimento público


de água de uma comunidade”, a pena será reclusão, de um a cinco anos. Assim, se o agente
causar poluição de água potável, em manancial ou em reservatório, e, em razão dela, a
autoridade pública decidir, ainda que por pouco tempo, a interrupção do fornecimento à
população, a pena será mais severa.

48.2.2 Consumação e tentativa

É crime de perigo abstrato, presumido. Consuma-se com a efetiva poluição da água


potável. Basta que ela se torne potencialmente danosa à saúde, para se ter o crime como
consumado. Desnecessária qualquer lesão à saúde de quem quer que seja.
Corrupção ou Poluição de Água Potável - 3

A tentativa é possível, quando o agente não consegue concluir a ação material de


poluir, ou, ainda, quando a conclua, a água não fica poluída, por circunstâncias alheias a
sua vontade.

48.2.3 Forma culposa

O § 1º do art. 271 do Código Penal prevê a forma culposa, punida com detenção, de
dois meses a um ano. Na Lei dos Crimes Ambientais, a forma culposa é punida com
detenção, de seis meses a um ano.

São condutas realizadas com negligência, imprudência ou imperícia, as quais,


numa situação de previsibilidade objetiva, poderiam ter sido evitadas pelo agente se tivesse
adotado as cautelas exigidas pelo dever geral de cuidado objetivo. Não tendo desejado,
nem aceitado a causação da poluição, será punido a título de culpa.

48.2.4 Formas qualificadas pelo resultado

Incidem, segundo o art. 285 do Código Penal, as formas qualificadas pelo resultado
descritas no art. 258. Se da corrupção ou poluição da água potável resultar lesão corporal
de natureza grave, a pena será aumentada de metade. Se resultar morte, será aplicada em
dobro.

Se do crime culposo, em qualquer das modalidades típicas, resultar lesão corporal –


leve, grave ou gravíssima –, a pena será aumentada de metade. Se resultar morte, será
aplicada a pena do homicídio culposo, aumentada de um terço.

O art. 58 da Lei dos Crimes Ambientais determina que o crime doloso de poluição com
resultado lesão corporal de natureza grave terá a pena aumentada de um terço até metade. Se
a morte for o resultado, a pena será aumentada até o dobro.

São formas qualificadas pelo resultado preterdolosas. Se o agente quis ou aceitou


qualquer desses resultados, poderá haver apenas lesão corporal grave ou homicídio,
quando visava a determinada ou determinadas pessoas, ou concurso formal, se visava a um
número indeterminado de pessoas.

48.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.


4 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

Quando o crime for culposo, incidente o tipo do Código Penal, inclusive a forma
qualificada pelo resultado lesão corporal, ou o da Lei Ambiental, a competência é do
juizado especial criminal. A suspensão condicional do processo penal é possível também
nas formas dolosas da Lei nº 9.605/98 (art. 54, e seu § 2º), não qualificadas pelo
resultado, com as modificações previstas no art. 28 da mesma lei.

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