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Eu sou a videira verdadeira

Alcenir Oliveira

31 de agosto de 2008

João 15:1-12

Jesus Cristo usava sempre recursos de linguagem e de costume da época para


facilitar a compreensão dos seus ensinos. Às vezes em parábolas ou em discurso direto,
mas sempre procurava imagens que retratavam as relações de trabalho, fatos da economia
da época, questões políticas e na maior partes das vezes de relações sociais.

Expressões que ficaram famosas como “vinde após mim e eu vos farei
pescadores de homens”. Jesus Cristo estava dialogando com pescadores, portanto a
linguagem deles é relacionada com aquilo que eles mais sabem fazer: pescar.

A importância da água. Nem seria necessário divagarmos sobre o valor da água


na economia e na sociedade hoje, mas naquela época não havia nada semelhante às redes
de distribuição de água de hoje e principalmente em regiões semi-desérticas a água era
um bem muito precioso. O acesso ao lençol freático era feito através de sisternas, técnica
que ainda é muito usada até hoje. Jesus ao encontrar a mulher samaritana junto ao poço
diz “todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que
eu lhe der jamais terá sed. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água que
jorrará até a vida eterna”.

O trigo por outro lado era de muita importância porque o pão era um alimento
básico da sociedade na Palestina da época de Jesus. Assim Jesus usa mais uma metáfora:
“eu sou o pão da vida”. De certa forma a expressão torna-se até reduntante, pois
dependemos do pão para a viver.

A videira. Hoje nós vamos refletir um pouco sobre a videira. O vinho ou os


produtos provenientes da uva eram essenciais na vida dos povos da palestina e outras
regiões do oriente médio. Era também o cultivo que sobrevivia melhor as características
de clima da região. O pão e o vinho, que vem a se tornar dois dos símbolos mais fortes do
cristianismo, são partes indispensáveis da mesa dos povos da época.
A árvore da uva é uma coisa fantástica. Quem já trabalhou no campo conhece
uma variedade de produtos como café, arroz, feijão, milho, hortaliças. Sabemos que esses
produtos têm tempo certo para o agricultor preparar o campo, plantar, cuidar, colher e
beneficiar. Todo um processo que nós devemos observar para obter boa colheita.

Mas há duas coisas que não podemos fazer nada a respeito: a chuva e o sol – esses
quem os dá é Deus. Exceto por algumas alterações climáticas, eles também acontecem no
tempo certo. A videira, como esses produtos, exige também grande cuidado.

A poda. Quem trabalha com landscape sabe o que é. Além de se observar todos os
momentos da estação para os procedimentos que ela requer, tem que haver a poda. A
poda é considerada a mais importante. A razão é que os ramos que não dão fruto, por
alguma razão – têm ranhuras ou cicatrizes, é debilitado -, também usam os mesmos
nutrientes que vão para os galhos que produzem normalmente. Assim há um desperdício
de nutrientes. Cortando esses galhos a ceiva economizada vai alavancar a produção dos
galhos bons.

Se considerarmos a sociedade vamos encontrar muitos grupos onde existem


aqueles que produzem resultados nos grupos e outros que apenas consomem. Em
empresa, todos têm que produzir; quem não produz conforme o que se requer deles é
demitido.

Jesus Cristo faz uma declaração muito muito apropriada. Eu sou a videira e vós os ramos.
Aquele que está em mim e não dá fruto é cortado e lançado fora para ser queimada.

A videira verdadeira: Jesus

a. A Velha Videira Israel

Jesus vai mais longe: a videira verdadeira. Qual a razão da afirmação? Israel, o povo
escolhido, é considerado no VT a videira de Deus, como diz Isaías. 5:7 “Pois a vinha do
Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas
delícias; e esperou que exercessem juízo, mas eis aqui derramamento de sangue; justiça,
e eis aqui clamor.”

Aqui Jesus está falando de duas videiras que metaforicamente representam dois
grupos diferentes. Um no VT e outro no NT. No povo de Israel ou videira do Senhor
como diz Isaías não houve ramos que prestassem, não deram frutos ou deram frutos que
diferentes do que se esperava.

Uma nova árvore. Aqui Jesus Cristo aponta para uma nova árvore que surgiu. A
árvore anterior era Jacó ou Israel. Os ramos ou as tribos de Israel desviaram da justiça do
Senhor, não deram bons frutos. Jesus então aponta o dedo para eles os representantes da
igreja velha, da velha videira, e diz vocês são ramos que não deram frutos, portanto serão
cortados e queimados.

b. A Nova Videira: A Igreja de Cristo

Ao mesmo tempo Jesus diz aos seus discípulos que agora está nascendo a nova
videira, a igreja. E prestem bem atenção: os ramos que estão em mim e dão frutos
permanecerão. Aqueles que estão em mim mas não dão frutos esses serão cortados e
queimados. Jesus não se refere apenas ao Israel que o estava rejeitando, e que tinha sido
rejeitado por Deus como mostra Isaías. Ele está falando da igreja.

c. Meu Pai é o Lavrador

Eu fui lavrador. O lavrador conhece o comportamento das plantas que cultiva.


Sabe quais suas necessidades, qual o terreno mais apropriado, quanto de água de
irrigação ou de chuva. E não há nada que dá mais alegria ao lavrador do que passar pela
sua lavoura e ver que a plantação está viçosa e prometendo grande colheita.

Por outro lado sua tristeza é grande quando por alguma razão as plantas não cresceram
bem, estão fragilizadas, e mostra claramente que não haverá boa colheita. Em muitos
casos o lavrador arranca essas plantas para abrir espaço para as que vão produzir.

Um recado aos judeus. Aqui Jesus Cristo manda um recado aos Judeus, a igreja
da época, vocês foram cortados, porque agora eu sou a nova videira, a verdadeira. O
lavrador cortou os ramos que não prestavam.

A madeira da árvore da uva. A videira não dá madeira que preste. Não serve
nem para fogo interno, dentro de casa. Os ramos cortados tem que ser queimados porque
não tem mais utilidade. E são queimados em fogueira externa.

A maior punição. Segundo a psicologia a maior punição que alguem pode dar a
uma pessoa é tirar todo o significado que ela tem na vida, a identidade de alguém que é
economicamente ativo, produtivo, que contribui positivamente para a sociedade, é
querido de muitos muitos, amados por outros, que sentem falta dele quando está ausente.
Quando todos esses valores desaparecem, quando sua identidade é perdida é como estar
vivo, mas ao mesmo tempo morto.

Na Jordânia quando pegam um criminoso que não se qualifica para a pena de


morte, ou prisão, dão a ele uma punição que é como “o ramo da videira que é
queimado”, ou seja retiram a identidade dele, apagam o nome dele dos registros
nacionais, ele se torna um vivo morto.

Aqui nos Estados Unidos as pessoas que não se envolvem num processo de
qualificação para ser aceito na sociedade, se especializando em alguma área profissional
e, assim, conseguindo gerar uma economia individual e ser reconhecido no meio que
vive, recebe o estereótipo de “loser”, o perdedor.

d. A Justiça de Deus e a Justiça dos Homens

Esse é o julgamento de Deus para os que optaram pela justiça dos homens. Quem é que
exerce esse julgmento. Vamos para a declaração seguinte: o meu pai é o lavrador.

Deus é o lavrador e Cristo, a igreja, é a videira. Aqueles que permanecem na igreja e não
dão frutos o pai corta e os lança fora, na fogueira.

Mas Deus é justo. Aos ramos que dão frutos ele cuida e os poda para que dê
ainda mais frutos. Nos versos seguintes ele Jesus diz: “Ele já cuidou de vocês, podando-
vos para que tenham mais vigor e utilidade, graças aos ensinamentos que vos dei. Um
ramo não pode dar fruto quando separado da videira. Por isso não poderão dar fruto
afastados de mim. Aquele que viver em mim e eu nele produzirá muito fruto. Pois sem
mim nada podem fazer.”

Atitude estratégica. Essa declaração tem um grande ensino para a igreja. Tem
ensino até para quem é empresário secular. É o que nós chamamos de “atitude
estratégica”. Isso é traduzido na expressão vestir a camisa, vestir a camisa da empresa,
vestir a camisa da igreja. Esse ensino estratégico de Jesus é de que cada um de nós, com
nossas habilidades, talentos, conhecimentos somados aos dons espirituais que nos são
dados estamos cientes dos propósitos da igreja, conhecemos as funções da igreja para
alcançar esses propósitos. Nós assumimos nossa posição de ramos da videira capacitados
para dar frutos. Sendo líderes, mestres, pastores, ministros em geral na igreja temos nosso
papel que é muito importante. Entretanto, tão importante quanto essas funções sãoaqueles
mais humildes crentes servos do Deus Altíssimo, pois cada um tem a sua função no corpo
de Cristo.

Evangelismo. Quanto a isso estavamos discutindo em aula sobre uma questão


muito séria na igreja, o evangelismo. Muitas vezes a igreja é confrontada a evangelizar, e
de forma tão radical, que certas pessoas se sentem humilhadas e culpadas a vida inteira
porque não conseguem evangelizar. Esses líderes esquecem que evangelismo é dom e
dons são distribuídosa cada um diferentemente. Esquecem que há pessoas que não
receberam certos dons, dentre eles evangelismo.

Conselho de Paulo para ser frutífero. Paulo dá um ensinamento muito


importante sobre isso, dizendo em Efésios 6:13-17, sobre nosso papel na igreja e a
ousadia e coragem com que devemos agir:“13 Portanto tomai toda a armadura de Deus,
para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, permanecer firmes. 14 Estai,
pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da
justiça, 15 e calçando os pés com a preparação do evangelho da paz, 16 tomando,
sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do
Maligno. 17 Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a
palavra de Deus;”

Interpretação errada da Justiça de Deus no VT. A Justiça de Deus era


interpretada no VT como o cumprimento da Lei. Entretanto, é aí que erraram e acabaram
no exílio porque a justiça de Deus é diferente da justiça dos homens. A justiça de Deus
vem do coração é mais do que o simples cumprir a lei, é a lei do amor, é a generosidade,
a misericórdia, o perdão, a hospitalidade.

Conclusão: o mandamento de Jesus para sermos ramos que dão fruto

Jesus aponta três lições para sermos frutíferos:

Primeiro, Jesus diz: continuem em mim e obedeçam aos meus mandamentos.


Ao mesmo tempo ele nos diz qual é o resultado dessa decisão: tudo que pedirmos nos
será concedido.

Ele continua dizendo que os verdadeiros discipulos, aqueles que permanecem


nele, produzem muito fruto, o que traz grande glória ao meu Pai.

Segundo, Jesus diz que se guardarmos os seus mandamentos vamos viver no seu
amor, assim como ele obedeçe ao meu Pai e vive no seu amor. Não há maior grandeza,
maior privilégio do que viver no amor de Deus.

Terceiro ensinamento de Jesus é para tomarmos consciência de que a nossa


salvação, a nossa inclusão na família de Deus não é por ato nosso, pelas nossas obras,
mas por que é ele nos escolheu e nos nomeou para irmos e produzirmos fruto. Fruto que
perdure, de modo que o Pai nos dê tudo o que lhe pedirmos em nome de Jesus Cristo.

Quarto e último ensinamento é de que os mandamentos de Jesus Cristo é para


que “nos amemos uns aos outros”.

Prática hipócrita da lei. Jesus Cristo na maioria dos seus ensinamentos confronta
a prática hipócrita da lei. Os mestres da lei e toda os religiosos da época observavam tão
rigidamente a lei a ponto de proibir que doentes fossem curados no sábado. No entanto
eram despidos de misericórdia, de hospitalidade, de espírito perdoador, de solidariedade,
de paz. Entretanto, tudo isto é a base da lei. O povo de Israel foi para o cativeiro por
causa da sua hipocrisia. Aplicavam a lei nos mínimos detalhes, em favor dos mais ricos e
os pobres, escravos, estrangeiros, viuvas eram explorados.

Nascer de novo é mudança de atitude. Vimos no sermão passado que o nascer


de novo é uma mudança de atitude. Cumprimos a lei não porque somos obrigados, mas
porque o amor nos impele a isto. Diante do jovem rico Jesus aponta o maior de todos os
mandamentos amar a Deus, acima de todas as coisas; amar a si próprio e ao próximo
como se ama a si mesmo.

Amor tridimensional. Aqui eu volto a declarar o que eu chamo de amor


tridimensional. O amor tridimensional é a marca de Cristo: Amar a Deus; amar a si; e
amar ao próximo.
A nossa igreja é uma igreja comprometida com o mandamento de Jesus Cristo:
nos amamos uns aos outros, amamos ao próximo como a nós mesmos e a Deus acima de
todas as coisas.

Amém

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