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NOGUEIRA, Natania
(E. M. Judith Lintz Guedes Machado)
natanianogueira@yahoo.com.br
Introdução
Segundo Moysés Alves (2001), o uso dos quadrinhos nas escolas pode ajudar
a despertar nas crianças o gosto pela leitura, pois permite desenvolver nas
crianças, por exemplo, o hábito de “brincar sozinho”, desenvolvendo a
criatividade da criança e ajudando a desenvolver seu raciocínio desde bem
cedo, abrindo caminho para a exploração de textos mais complexos, sem que o
ato da leitura se torne algo cansativo.
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2 – A implantação do projeto
Nossa experiência com o uso dos quadrinhos nas escolas tomou corpo com a
criação de uma Gibiteca Escolar, um projeto realizado a médio prazo e que
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Neste primeiro momento a maior parte as doações foram feitas por pessoas de
outras cidades e mesmo, de outros Estados. O processo de instalação da
gibiteca durou cerca de um ano e contou com a ajuda de membros da
comunidade, que doaram seu trabalho para ajudar a decorar e organizar a
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O passo seguinte foi levar nossa idéia para outras escolas. Para fazer isto, foi
organizado I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, com apoio da
Secretaria Municipal de Educação, tendo como público-alvo professores da
educação infantil e do ensino fundamental. O objetivo era demonstrar que o
uso das histórias em quadrinhos podia ser um caminho para o processo de
ensino/aprendizagem e que elas poderiam ser usadas em todos os conteúdos,
não sendo apenas prerrogativa das séries iniciais.
Durante o ano de 2007 procuramos tornar o espaço da Gibiteca cada vez mais
atraente. Para tanto conseguimos a doação de computadores feita por
empresas particulares, Ongs ou por membros da nossa comunidade.
Atualmente contamos com seis computadores em funcionamento, onde os
alunos podem ler e criar gibis. Firmamos no início do ano uma parceria com o
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Super- Álbuns Infantis Mangás Inglês Educativas Raridades Repetidas Suspense Total
heróis
1243 200 443 149 92 220 50 166 57 2620
Uma das preocupações que tivemos durante o ano de 2007 foi de tentar
manter um registro daquilo que nossos alunos estavam lendo. A cada semana,
quando eram realizados os empréstimos de revistas em quadrinhos, os alunos
assinavam o livro de empréstimos e nele era registrado o título da Hq que
estava sendo emprestada. A partir destes dados pudemos verificar as
preferências dos alunos, levando em conta as doações que eram recebidas.
Para facilitar o estudo, dividimos os meses de maio a novembro em três
períodos, como pode ser verificado na tabela abaixo:
No último período conseguimos recursos para comprar mangás, que até então
eram em número muito reduzido, mas cuja leitura estava aumentando
gradativamente. O aumento do acervo, no mês de novembro, fez com que
muitos alunos se interessassem mais por este gênero. Ao adquirir os títulos
levamos em conta a preferência dos alunos: as meninas gostavam de Sakura e
Vídeo Girl AI, enquanto que os meninos queriam Dragon Ball e Cavaleiros do
Zodíaco. Tendo em visto o curto período em que este material ficou disponível,
o crescimento da leitura pode ser considerado muito significativo.
A segunda experiência foi realizada pela Roseane Peres Rocha, que decidiu
tornar as avaliações de matemática mais divertidas para os alunos da 5ª série
do Ensino Fundamental. Ela utilizou tirinhas da Turma da Mônica para montar
problemas matemáticos e desafiando os alunos a fazerem o mesmo. Para a
professora, o uso dos quadrinhos nas atividades desperta a atenção dos
alunos, que inclusive preocupam-se com pequenos detalhes quando
preenchem os balões: "Eles colocam a fala errada do Cebolinha e sublinham
as palavras que estão erradas”.
Outra professora que investiu nos quadrinhos foi Mary Ângela Carraro Dibo,
que trabalha com a disciplina língua portuguesa. Preocupada com os péssimos
resultados dos alunos da 6ª série, nas primeiras avaliações do 2º bimestre -
notadamente erros de ortografia e interpretação - a professora decidiu mudar a
rotina das suas aulas. Uma vez por semana dividia os alunos em dois grupos.
Uma metade fica na biblioteca e a outra é encaminhada à Gibiteca, sendo que
em cada semana os grupos se alternam. Lá os alunos faziam uma aula de
leitura livre. Além dos alunos terem melhorado seu desempenho nas aulas e
nas avaliações, até a disciplina da turma - que tinha muitos problemas desde o
início do ano – também mudou.
A oficina dura cinco dias e está sendo desenvolvida com a ajuda da professora
eventual. Nela os alunos aprendem a montar HQ´s e a produzir materiais
diversos como a TV quadrinhos e o Porta Gibis, e são incentivados a terem sua
mini-gibiteca em casa. O interesse dos alunos pela atividade é grande e tem
sido desenvolvida na 2ª e 3ª séries do fundamental.
Cabe ao professor avaliar a melhor forma de utilizar as HQ’s com seus alunos.
Alguns autores sugerem que os quadrinhos podem ser trabalhados de três
formas básicas: a) através da análise critica da história; b) incentivando a
criação de histórias em quadrinhos pelos próprios alunos; c) utilizando os
quadrinhos como um meio de expressão e conscientização política.
Conclusão
Para muitas pessoas que tomam conhecimento do projeto, usar as HQ’s nas
escolas, como instrumento de ensino pode parecer uma novidade. Mas não é
bem assim. Já existem no Brasil e mesmo no exterior várias iniciativas de
aproximar o leitor – jovem ou adulto – das histórias em quadrinhos. Em
Portugal, por exemplo, temos a Bededeteca de Lisboa (lá as HQ’s são
chamadas de banda desenhada, nos países de língua francesa elas são as
bande dessinées), na França há no Museu de Angoulème a Fanzinothèque de
Pottiers.
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Pode parecer, a primeira vista, que o uso de HQ’s e a criação de gibitecas nas
escolas esteja sendo apresentado como uma solução milagrosa para os
problemas que enfrentamos no ensino. Este equívoco talvez seja responsável
pela resistência de muitos profissionais do ensino em aceitar os gibis e outras
mídias nas escolas. Elas não substituem o professor nem são suficientes para
formar nossos estudantes. Mas são instrumentos didáticos importantes que
podem auxiliar neste processo.
ler. Ela também age na auto-estima dos professores. Eles passam a dar mais
valor ao seu trabalho. O professor redescobre junto com o aluno o prazer da
leitura e acaba promovendo sua auto-formação, construindo seu conhecimento,
aprimorando suas metodologias de trabalho, deixando de ser apenas um
profissional do ensino, mas sobretudo um educador.
Referências
FIORIN, José Luis, SAVIONI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura
e redação. - 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1991.