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“Era endereçada a meu pai [carta sobre o suicídio]. Não havia raiva nem
loucura: somente amor e um desejo de paz. Segurando a carta na mão, pela
primeira vez senti-me próximo àquele ser humano estranho, distante e
infeliz que fora minha mãe” p.19
“Eu tinha apenas a mais vaga idéia da geografia por trás de um sutiã – aos
21 anos eu ainda era virgem, e dos mais ignorantes. (no colégio eu
acreditava que olhar uma garota com muita admiração podia deixá-la
grávida).”p.65
“caro professor Von Hayek – esta foi uma conferencia linda, maravilhosa,
muito erudita e eu o respeito por ela. Não entendi uma só palavra.”p.75
“Eu amava Edeltrud, mas era atraído pelas muitas damas bem vestidas e
cuidadosamente maquiladas que acrescentavam beleza, elegância e um
toque de malícia aos vários eventos.”p.87
“Uma filosofia, no fim das contas, não é como uma peça musical que pode
ser fruída por si mesma. Espera-se que ela nos oriente por meio da confusão
e talvez proporcione um esquema para a mudança.”p.98
“Como antes, eu não queria viver só pelo pensamento. Retomei o canto com
um excelente professor e inspecionei a cena teatral”p.101
“De fato, eu sempre hesitava quando se tratava de fazer declarações de fé.
Privadamente, e ainda mais em público. O Falsificacionismo, eu parecia
dizer a mim mesmo, pode ser correto; mas por quê por exemplo, eu deveria
citar Popper em cada página e em cada nota de rodapé de tudo o que
escrevia?” p.104
“no que me dizia respeito, o amor era um dom que se trocava livremente e
não uma obrigação baseada em contratos ou promessas.”p.143
As instituições científicas não são “objetivas”: nem elas nem seus produtos
estão diante das pessoas como uma rocha ou uma estrela. Elas
freqüentemente fundem-se com outras tradições, são por elas afetadas e as
afetam. Movimentos científicos decisivos foram inspirados por sentimentos
filosóficos e religiosos (teológicos). Os benefícios materiais da ciência não
são óbvios. Há grandes benefícios, é verdade. Mas eles trazem também
grandes desvantagens. E o papel da entidade abstrata “ciência” na
produção dos benefícios não é nada claro. ”p.151
“Ao ler as resenhas, pela primeira vez deparei com ignorância no estado
puro. Não me dei conta daquilo de imediato. Tendo esquecido os detalhes de
minha colagem e sendo muito preguiçoso para conferir, eu frequentemente
aceitava a palavra de meus críticos. Assim, quando um autor escrevia
“Feyerabend diz x”, e então atacava x, eu supunha que de fato dissera x e
tentava defender-me. Mas em muitos casos eu não dissera x, mas o
contrário. ”p.151-152
“Eu mesmo seguira este conselho no passado – mas agora estava sozinho,
presa de um tipo desconhecido de aflição, minha vida privada estava uma
confusão e eu estava sem defesas. Muitas vezes desejei nunca ter escrito a
porra daquele livro.” P.155
Numa certa medida, esta concepção coincidia com a dos antropólogos que,
tentando entender a confusa complexidade da existência humana a
dividiam em domínios não coalescentes, auto-suficientes e
autoconservadores. Mas as culturas interagem, mudam, tem recursos que
ultrapassam que ultrapassam seus ingredientes estáveis e objetivos ou,
melhor, aqueles ingredientes que (alguns) antropólogos condensaram em
regras e leis culturais inexoráveis.
“Grazia queria ter filhos: disse-me no primeiro dia de nossa relação. Eu disse
não. Não só isto – a coisa toda soava como uma mensagem de outro mundo.
Eu? Uma família? Filhos? Não neste planeta!”p.183
“Pouco a pouco fui mudando de atitude. A razão nada teve a ver com isto.
Pelo contrário, a razão produziu e continua produzindo excelentes
argumentos contra tornar-se um pai. Mas eu parecia entender, de uma
maneira direta e intuitiva, o que significava ter filhos para Grazia e comecei
a sentir-me quase como ela. Foi ressonância emocional e não intelectual, de
compreensão. Casamo-nos em maio de 1989 em Berkeley.”p.183
“Estou numa posição muito melhor para começar minha vida do que estava
há apenas uma década – mas estou no fim dela, toma lá dá cá uns poucos
anos: cinco anos talvez, dez se tiver sorte. Isto me faz pensar. E por quê?
Não porque eu gostaria de viver para sempre, e certamente não por causa
dos livros e ensaios importantes que podem deixar de ser escritos, mas por
que eu gostaria de envelhecer com Grazia, porque eu gostaria de amar seu
rosto velho e enrugado como amo seu rosto jovem hoje, porque eu gostaria
de ajudá-la em suas dificuldades e fruir com ela seus momentos felizes.
Estes pensamentos que começam a reclamar atenção toda vez que reflito
sobre o resto de minha vida deixam claro pra mim que, apesar de tudo, há
forte inclinações, não são sobre coisas abstratas como solidão ou
realizações intelectuais, mas sobre um ser humano vivo que, finalmente
aprendeu o que significa amar uma pessoa. Certamente mudei.”p.185
Eu achava que dar aulas e escrever ensaios era uma coisa, e que viver era
outra, e aconselhava meus alunos a procurar seus centros de gravidade fora
de qualquer profissão que escolhessem.
“Estes devem ser os últimos dias. Nós os sorvemos um por um. Minha
ultima paralisia veio de algum sangramento dentro do cérebro. Eu queria
que depois de minha partida ficassem algumas coisas minhas, não escritos,
não declarações filosóficas finais, mas amor. Espero que isto fique e não
seja muito afetado pela maneira de minha partida final, que eu gostaria que
fosse tranqüila, na forma de um coma, sem luta contra a morte e más
lembranças deixadas atrás. O que quer que aconteça agora, nossa pequena
família pode viver para sempre – Grazia, eu e nosso amor.