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Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024): por uma outra política educacional
Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024): por uma outra política educacional
Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024): por uma outra política educacional
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Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024): por uma outra política educacional

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About this ebook

Este livro trata da política educacional brasileira examinada pelo ângulo das medidas regulamentadoras da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, entre as quais certamente a mais significativa e de maior alcance é o Plano Nacional de Educação (PNE).
Nesta quinta edição a obra foi atualizada e ampliada incorporando as medidas de política educacional do segundo Governo Lula e do primeiro mandato presidencial de Dilma, acrescentando-se mais um capítulo que trata do novo PNE. Por isso seu conteúdo já não se contém nos limites demarcados pelo título Da nova LDB ao Fundeb que figurou nas edições anteriores. Fez-se, pois, um ajuste no título que passa a ser Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024). Com efeito, o limite inicial continua a ser a LDB que, entretanto, já não mais é nova, pois estará completando, neste ano de 2016, vinte anos de vigência. E o termo final já não é mais o Fundeb, que entrou em vigência em 2007, mas se estende até a entrada em vigor do novo PNE 2014-2024.
A cada tópico analisado são anexados os textos legais correspondentes, providência que permite, além do uso desse material no trabalho pedagógico com os alunos em sala de aula, que tanto os educadores quanto os leitores de modo geral tenham à mão um meio ágil de acesso aos dispositivos legais cuja consulta pode tornar-se necessária às vezes em circunstâncias inesperadas
Tornando acessíveis os documentos legais, este livro contribui para o exercício da cidadania dos leitores na defesa de seus direitos educacionais, ao mesmo tempo em que viabiliza aos movimentos organizados "conhecimento de causa" indispensável à sua luta contra os efeitos negativos da política educacional.
LanguagePortuguês
Release dateSep 1, 2019
ISBN9788574964324
Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024): por uma outra política educacional

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    Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024) - Dermeval Saviani

    capacapa

    Coleção Educação Contemporânea

    Esta coleção abrange trabalhos que abordam o problema educacional brasileiro de uma perspectiva analítica e crítica. A educação é considerada fenômeno totalmente radicado no contexto social mais amplo e os textos desenvolvem análise e debate acerca das consequências dessa relação de dependência. Divulga propostas de ação pedagógica coerentes e instrumentos teóricos e práticos para o trabalho educacional, considerado imprescindível para um projeto histórico de transformação da sociedade brasileira.

    Conheça mais obras desta coleção, e os mais relevantes autores da área, no nosso site:

    www.autoresassociados.com.br

    capa

    Copyright © 2019 by Editora Autores Associados Ltda.

    Todos os direitos desta edição reservados à Editora Autores Associados Ltda.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Saviani, Dermeval

    Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024) [livro eletrônico] : por uma outra política educacional / Dermeval Saviani. – Campinas, SP : Autores Associados, 2019.

    2 Mb ; ePub

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-7496-432-4

    1. Educação - Leis e legislação - Brasil 2. Educação e Estado - Brasil I. Título.

    Índice para catálogo sistemático:

    CIBELE MARIA DIAS - BIBLIOTECÁRIA - CRB-8/9427

    Ebook – setembro de 2019

    Conversão EPub – Bookwire

    (versão impressa: 1. edição – maio de 2007 | 1. reimpressão – maio de 2019 | 5. edição revista e ampliada – setembro de 2016 | ISBN 978-85-7496-373-0)

    EDITORA AUTORES ASSOCIADOS LTDA.

    Uma editora educativa a serviço da cultura brasileira

    Av. Albino J. B. de Oliveira, 901

    Barão Geraldo | CEP 13084-008

    Campinas - SP

    Telefone: +55 (19) 3789-9000

    E-mail: editora@autoresassociados.com.br

    Catálogo on-line: www.autoresassociados.com.br

    Conselho Editorial Prof. Casemiro dos Reis Filho

    Bernardete A. Gatti

    Carlos Roberto Jamil Cury

    Dermeval Saviani

    Gilberta S. de M. Jannuzzi

    Maria Aparecida Motta

    Walter E. Garcia

    Diretor Executivo

    Flávio Baldy dos Reis

    Coordenadora Editorial

    Érica Bombardi

    Revisão

    Aline Marques

    Mariana Rodrigues

    Diagramação e Composição

    Maisa S. Zagria

    Érica Bombardi

    Capa

    Fotografia do Congresso Nacional

    (reflexo na água).

    © Fabio Columbini (Fotógrafo)

    http://www.fabiocolombini.com.br/

    Arte-final

    Maisa S. Zagria

    Érica Bombardi

    Para Maria Aparecida e Benjamim,

    estímulos e testemunhas do compromisso social

    com a construção de uma outra

    qualidade educativa.

    PREFÁCIO À 5ª EDIÇÃO

    PREFÁCIO À 4ª EDIÇÃO

    PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO

    PREFÁCIO

    INTRODUÇÃO

    Capítulo Um – A LDB E A LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR

    1. Redefinição do lugar da União na organização da educação nacional

    a) Iniciativas do Governo FHC

    b) Iniciativas do Governo Lula

    c) Iniciativas do Governo Dilma

    Anexo 1 – Lei n. 9.131, de 24 de novembro de 1995

    Anexo 2 – Lei n. 9.192, de 21 de dezembro de 1995

    Anexo 3 – Decreto n. 3.860, de 9 de julho de 2001

    Anexo 4 – Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004

    Anexo 5 – Decreto n. 5.773, de 9 de maio de 2006

    Anexo 6 – Lei n. 11.096, de 13 de janeiro de 2005

    Anexo 7 – Decreto n. 5.493, de 18 de julho de 2005

    2. Educação básica

    a) Iniciativas do Governo FHC

    b) Iniciativas do Governo Lula

    c) Iniciativas do Governo Dilma

    Anexo 8 – Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996

    Anexo 9 – Lei n. 9.424, de 24 de dezembro de 1996

    Anexo 10 – Lei n. 11.114, de 16 de maio de 2005

    Anexo 11 – Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, acompanhada da Mensagem n. 65, de 6 de fevereiro de 2006

    Anexo 12 – Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006

    Anexo 13 – Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007, acompanhada da Mensagem de veto n. 402, de 20 de junho de 2007

    Anexo 14 – Decreto n. 6.253, de 13 de novembro de 2007, modificado pelo Decreto n. 6.278, de 29 de novembro de 2007

    Anexo 15 – Emenda constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009

    Anexo 16 – Lei n. 12.796, de 4 de abril de 2013

    3. Educação profissional

    a) Iniciativas do Governo FHC

    b) Iniciativas do Governo Lula

    c) Iniciativas do Governo Dilma

    Anexo 17 – Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997

    Anexo 18 – Portaria MEC n. 646, de 14 de maio de 1997

    Anexo 19 – Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004

    Anexo 20 – Lei n. 12.513, de 26 de outubro de 2011

    4. Ensino religioso

    Anexo 21 – Lei n. 9.475, de 22 de julho de 1997

    Capítulo Dois – A LDB E O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

    1. A organização da educação nacional na LDB

    2. Plano Nacional de Educação: antecedentes históricos

    3. A proposta do MEC para o primeiro Plano Nacional de Educação pós-LDB de 1996

    Anexo 22 – Metas do Plano Nacional de Educação elaborado pelo MEC

    Capítulo Três – POR UMA OUTRA POLÍTICA EDUCACIONAL

    1. Limites da atual política de educação e necessidade de uma outra política educacional

    2. Proposta alternativa para o Plano Nacional de Educação

    Anexo 23 – Diretrizes e metas do Plano Nacional de Educação proposto pela oposição

    Capítulo Quatro – O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO 2001-2011

    1. Dos princípios educacionais ao plano de educação, pela mediação do sistema educacional

    2. A fixação dos princípios educacionais na organização do Estado brasileiro

    3. Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação

    4. O Plano Nacional de Educação 2001-2011

    Anexo 24 – Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001

    Anexo 25 – Objetivos, prioridades e metas do Plano Nacional de Educação

    Anexo 26 – Mensagem n. 9, de 9 de janeiro de 2001

    Capítulo Cinco – O NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO 2014-2024

    1. O projeto e o texto aprovado do novo Plano Nacional de Educação

    2. Implicações do Plano Nacional de Educação para as instâncias federativas e para o conjunto das escolas

    3. Sistemas e planos municipais de educação

    CONCLUSÃO

    REFERÊNCIAS

    SOBRE O AUTOR

    Como esclareço no prefácio à primeira edição, este livro surgiu da reelaboração e ampliação da obra Da nova LDB ao novo Plano Nacional de Educação, publicada em 1998, cuja quinta edição se esgotou em 2006.

    Lançada a primeira edição do novo livro em maio de 2007, esgotou-se em menos de seis meses, o que ensejou nova atualização com o acréscimo de novos anexos por ocasião do lançamento da segunda edição no final de 2007.

    Chegados agora em 2016, diante do fato de ter-se esgotado a quarta edição, necessitamos providenciar mais uma ampla atualização incorporando as medidas de política educacional do segundo Governo Lula e do primeiro mandato presidencial de Dilma, o qual se iniciou com o esgotamento da vigência do Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em 9 de janeiro de 2001 e encerrou-se com a entrada em vigor, em 25 de junho de 2014, do novo PNE 2014-2024.

    É esta a nova versão que entrego aos leitores por ocasião desta quinta edição, cujo conteúdo também já não se contém nos limites demarcados pelo título anterior. Em consequência, procedi a um ajuste no título que passa a ser Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024). Com efeito, o limite inicial continua a ser a LDB que, entretanto, já não mais é nova, pois completa vinte anos de vigência neste ano de 2016. E o termo final já não é mais o FUNDEB, que entrou em vigência em 2007, mas estende-se até 2014 com a entrada em vigor do novo PNE. Em suma, este é, de fato, um novo livro, pois, além de ampliar o primeiro capítulo completando a análise das iniciativas do Governo Lula e incluindo as inciativas do Governo Dilma, acrescenta um novo capítulo dedicado à análise do PNE 2014-2024, complementando, assim, a abordagem efetuada no livro Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação: significado, controvérsias e perspectivas, publicado em 2014.

    Juntamente com A lei da educação: trajetória, limites e perspectivas, cuja 13ª edição revista, atualizada e ampliada está sendo lançada também neste ano de 2016; PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação: análise crítica da política do MEC, lançado em 2009; e Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação: significado, controvérsias e perspectivas, publicado em 2014, este livro forma um conjunto imprescindível à compreensão global da ordenação jurídico-política da educação brasileira nos últimos vinte anos. Colocando nas mãos dos leitores os documentos contendo os textos legais acompanhados da exposição de seu conteúdo analisado criticamente, espero estar contribuindo para elevar a qualidade do trabalho pedagógico de todos que militam no campo da educação, em especial os professores e gestores da educação básica.

    Dermeval Saviani

    Este ano de 2010 é um marco importante na história da educação brasileira. Nele se realizou, entre 28 de março e 1º de abril, a Conferência Nacional de Educação (CONAE).

    Considerando esse tema em perspectiva histórica, verificamos que os eventos correspondentes às conferências de educação no Brasil aparecem com três formas de denominação: Conferência Nacional de Educação, Conferência Brasileira de Educação e Congresso Nacional de Educação.

    Conferência Nacional de Educação (CNE) foi a denominação predominante na série de treze conferências organizadas entre 1927 e 1967 pela Associação Brasileira de Educação (ABE), criada em 1924. Não obstante, nessa mesma série aparecem três conferências, a VII, realizada em 1935, a VIII, em 1941 e a IX, em 1945, que receberam o nome de Congresso Brasileiro de Educação.

    Conferência Brasileira de Educação (CBE) foi a denominação da nova série de seis conferências organizadas entre 1980 e 1991 pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd), Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) e Associação Nacional de Educação (ANDE). Constatamos, assim, que, se a partir da década de 1920 a Associação Brasileira de Educação (ABE) organizou as Conferências Nacionais de Educação, na década de 1980 a Associação Nacional de Educação (ANDE) em conjunto com ANPEd e CEDES organizou as Conferências Brasileiras de Educação.

    Congresso Nacional de Educação (CONED) foi a denominação da série de cinco organizados entre 1996 e 2004 pelas entidades sindicais como Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior (ANDES), Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) e similares, reunidas no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública.

    Essas três modalidades de eventos nacionais do campo da educação foram de iniciativa das organizações situadas no âmbito da chamada sociedade civil.

    Constata-se, porém, que desde o Império foi prevista a realização de conferências ou congressos de educação por iniciativa estatal, embora de rara efetivação prática. No período da Primeira República, dada a questão do federalismo, houve algumas iniciativas do governo federal e de alguns governos estaduais de organizar congressos de educação. Mas foi nos governos autoritários que se buscou institucionalizar a realização de conferências nacionais de educação.

    No início de 1937, portanto antes ainda da decretação do Estado Novo, foram instituídas por lei as Conferências Nacionais de Educação, de iniciativa do Ministério da Educação, a serem realizadas anualmente ou, pelo menos, a cada dois anos. Mas nessa modalidade foi realizada apenas uma, denominada I Conferência Nacional de Educação, em 1941. Na ditadura civil-militar instituída em 1964 determinou-se, pelo Decreto n. 54.999, de 13 de novembro de 1964, a realização anual da Conferência Nacional de Educação, convocada pelo governo federal e presidida pelo ministro da educação. Daí decorreu uma série de cinco conferências de iniciativa do governo militar. Destas, porém, foram realizadas quatro: a I Conferência Nacional de Educação, em Brasília, em 1965; a II, em Porto Alegre, em 1966; a III em Salvador, em 1967; a IV em São Paulo, em 1969. A V deveria ser realizada em Manaus, mas o próprio governo acabou cassando essa conferência e, em lugar das conferências, passaram a se realizar os Encontros dos secretários de educação dos estados e territórios com o ministro.

    No contexto indicado vê-se que as conferências educacionais de iniciativa da sociedade civil e de iniciativa da sociedade política ocorreram paralelamente, de forma distinta e, mesmo, contrapondo-se entre si.

    Diferentemente da trajetória histórica sumariada, a particularidade da CONAE-2010 é que, embora de iniciativa governamental (sociedade política), incorporou a participação das organizações representativas dos diferentes segmentos da comunidade educacional (sociedade civil).

    A CONAE teve como eixos a organização do Sistema Nacional de Educação e a elaboração do novo Plano Nacional de Educação.

    A inclusão do Plano Nacional de Educação na agenda da CONAE se impôs não apenas tendo em vista sua estreita relação com o Sistema Nacional de Educação, mas deveu-se, também, a uma razão prático-política ligada ao fato de que o atual PNE, aprovado para vigorar por dez anos, esgotará seu período de vigência no dia 9 de janeiro de 2011. Daí, a urgência de se elaborar uma nova proposta a ser encaminhada ao Congresso Nacional na forma de projeto de lei para discussão e aprovação.

    Ora, a questão do Plano Nacional de Educação é elemento central do conteúdo deste livro, ocupando três de seus quatro capítulos. Situando historicamente a questão do PNE no Brasil e analisando a proposta do MEC para o PNE apresentada em 1997 (Cap. 2); mostrando os limites da política educacional e examinando a proposta de PNE aprovada no II Congresso Nacional de Educação realizado em 1997, que se converteu no projeto da oposição (Cap. 3); e efetuando a análise crítica do PNE aprovado em 9 de janeiro de 2001, que se encontra no último ano de vigência (Cap. 4), este livro traz importantes subsídios para a discussão e formulação do novo Plano Nacional de Educação.

    À vista do exposto, resulta oportuna a decisão da Editora Autores Associados de manter em circulação a presente obra por meio do lançamento de uma nova edição. Só me resta, então, esperar que sua leitura ajude os responsáveis pela condução da política educacional e os parlamentares, evidentemente com a colaboração do conjunto dos educadores, a dotar nosso país de um novo Plano Nacional de Educação à altura das necessidades educacionais do povo brasileiro.

    Dermeval Saviani

    Lançado em maio do corrente ano de 2007, não deixa de ser gratificante constatar, ante a necessidade de ser providenciada uma segunda edição em menos de seis meses, a boa receptividade que este livro teve junto aos leitores.

    Ao ensejo desta nova edição, aproveito para incluir um aspecto não contemplado na edição anterior. Trata-se do ensino fundamental de nove anos, com início aos 6 anos de idade, que foi objeto das Leis n. 11.114, de 16 de maio de 2005, e 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, cujos textos e respectivas mensagens de veto o leitor poderá conferir nos Anexos.

    Considerando que a regulamentação da Emenda Constitucional n. 53, que criou o FUNDEB, se deu mediante a Medida Provisória n. 339, de 28 de dezembro de 2006, sua transformação na Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007, impõe que se proceda à substituição, nos Anexos, da referida Medida Provisória pelo texto integral da mencionada Lei que passa a ser o dispositivo legal definitivo de regulamentação do novo fundo. Na verdade, a Lei n. 11.494 mantém integralmente o conteúdo da Medida Provisória já que as poucas alterações ou acréscimos nela contidos se limitam a tornar mais clara a redação ou a explicitar melhor determinados aspectos, sem alterar o espírito que presidiu a redação da Medida Provisória. Considerando-se, ainda, que a referida lei foi sancionada com três vetos, acrescentou-se, no mesmo Anexo, o texto da Mensagem n. 402, de 20 de junho de 2007, em que são reproduzidos os dispositivos vetados com as respectivas justificativas. Como a execução da Lei n. 11.494, por sua vez, foi regulamentada pelo Decreto n. 6.253, de 13 de novembro de 2007, impõe-se igualmente a inclusão de um novo Anexo com o texto desse Decreto, cuja ementa dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), regulamenta a Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007, e dá outras providências. Todavia, esse Decreto também foi objeto de modificações efetivadas mediante o Decreto n. 6.278, de 29 de novembro de 2007. Assim, para maior clareza do leitor, optei por incluir no Anexo a versão do Decreto n. 6.253 em que os dispositivos modificados aparecem riscados, seguidos da nova redação dada pelo Decreto n. 6.278.

    Em 2001, portanto ainda no Governo FHC, foi editado o Decreto n. 3.860, de 9 de julho de 2001, que substituiu os Decretos n. 2.026, de 10/10/1996, e n. 2.306, de 19/8/1997. Como o teor do novo Decreto é fundamentalmente o mesmo dos dois anteriores, não foi necessário alterar a análise efetuada no corpo do primeiro capítulo, especificamente no tópico referente à redefinição do lugar da União na organização da educação nacional. No entanto, já que no novo Decreto o conteúdo se encontra mais bem distribuído e mais bem ordenado, decidi excluir os anexos correspondentes aos Decretos n. 2.026 e 2.306, substituindo-os por um único anexo constituído pelo Decreto n. 3.860.

    Aproveito, também, esta oportunidade para registrar que, em 24 de abril de 2007, foi baixado o Decreto n. 6.091 que, como consta em sua ementa, define e divulga os parâmetros anuais de operacionalização do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), para o exercício de 2007. Como se trata de uma medida operacional que aplica os critérios definidos na Medida Provisória n. 339, substituída pela Lei n. 11.494, para efeitos de distribuição dos recursos no ano de 2007, que já está findando, não vejo necessidade de reproduzir o teor integral desse Decreto no corpo do livro.

    Encontramo-nos ainda no primeiro ano de vigência do FUNDEB. Portanto, não se faz necessária, nesta segunda edição, nenhuma alteração no que se refere ao conteúdo básico desta obra. No entanto, à vista das declarações do presidente da República e do ministro da Educação por ocasião do anúncio oficial, em 20 de junho de 2007, da sanção da Lei n. 11.494 associado ao lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), considero conveniente acrescentar à apreciação que faço do FUNDEB à p. 92 o seguinte comentário:

    Ao sancionar a mencionada lei aquelas autoridades enfatizaram que, com a entrada em vigor do FUNDEB, o número de estudantes atendidos pelo fundo passa dos 30 milhões (que eram atendidos pelo FUNDEF) para 47 milhões. E o montante do fundo eleva-se correspondentemente de R$35,2 bilhões para R$48 bilhões. À primeira vista essas cifras provocam a impressão de um incremento bastante significativo. No entanto, um simples cálculo mostra que, enquanto a população atendida se ampliou em 56,6%, os recursos componentes do fundo aumentaram em apenas 36,3%. Portanto, proporcionalmente houve uma diminuição dos investimentos e não um aumento, como vem sendo apregoado. De fato, a contribuição de estados e municípios passou de 15% para 20%, ou seja, um incremento de um terço (33,33%), enquanto o número de estudantes atendidos aumentou em 56,6%. Além disso, também a complementação da União não implicou acréscimo. Com efeito, antes a União deveria entrar com pelo menos 30% de seu orçamento, devendo ser observado que o Governo FHC nunca cumpriu esse dispositivo da legislação que ele mesmo fizera aprovar. Ora, o orçamento do MEC para 2007, após o corte de R$610 milhões imposto pela Fazenda, é de R$9 bilhões e 130 milhões. Logo, 30% corresponderiam a R$2 bilhões e 739 milhões. No entanto, a importância prevista como complementação da União para 2007 foi estipulada em R$2 bilhões.

    Como se vê, apesar do avanço representado pelo FUNDEB ao procurar equacionar a questão do financiamento de toda a etapa da educação básica, ainda estamos longe de uma solução adequada e inteiramente satisfatória a esse secular problema cuja protelação vem cassando o futuro do país ao privar nossas crianças e nossos jovens de uma educação de qualidade à altura do nível já atingido pelo desenvolvimento da humanidade. Com essa mensagem entrego aos leitores esta nova edição na esperança de que este livro continue a desempenhar seu papel de instrumento de compreensão crítica e de transformação dos mecanismos que regem a política educacional brasileira.

    Dermeval Saviani

    Esgotada a 5ª edição do livro Da nova LDB ao novo Plano Nacional de Educação, a editora se propôs a lançar a 6ª edição e me consultou sobre a eventualidade de eu desejar, além da revisão, introduzir eventuais modificações.

    Debrucei-me, então, sobre o conteúdo, que foi inteiramente revisto, ampliado e atualizado, incorporando as medidas tomadas pelo Governo Lula ao longo de seu primeiro mandato concluído em 31 de dezembro de 2006.

    Em consequência, acrescentou-se ao primeiro capítulo a referência às iniciativas do governo presidido por Luiz Inácio Lula da Silva nas áreas da educação superior, educação básica e educação profissional.

    Em consonância com a ampliação do primeiro capítulo, a ele foram adicionados sete novos anexos:

    1. Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004, que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (S INAES ) e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (E NADE ).

    2. Decreto n. 5.773, de 9 de maio de 2006, que regulamentou a implantação do S INAES e do E NADE .

    3. Lei n. 11. 096, de 13 de janeiro de 2005, que criou o Programa Universidade para Todos (P RO U NI ).

    4. Decreto n. 5.493, de 18 de julho de 2005, que regulamentou a implantação do P RO U NI .

    5. Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006, que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (F UNDEB ) em substituição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (F UNDEF ).

    6. Medida Provisória n. 339, de 28 de dezembro de 2006, que regulamentou a implantação do F UNDEB .

    7. Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004, que deu nova organização à educação profissional.

    Além da ampliação do capítulo I, o livro ganhou um capítulo inteiramente novo versando sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) promulgado em 9 de janeiro de 2001. Trata-se do capítulo IV, que vem acompanhado de mais três anexos: o texto da Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que instituiu o PNE (Anexo XXI); o texto Objetivos, prioridades e metas do Plano Nacional de Educação (Anexo XXII); e a Mensagem n. 9, de 9 de janeiro de 2001, que vetou nove dispositivos do PNE (Anexo XXIII).

    Vê-se que, de fato, trata-se de um novo livro, pois ademais das atualizações; além dos acréscimos referentes às análises das iniciativas levadas a efeito pelo Governo Lula; e da adição de um capítulo inteiro, o texto foi enriquecido com dez novos anexos que reproduzem os documentos fundamentais da política educacional que vem sendo implantada em nosso país, compondo um instrumento de grande utilidade. Isso porque, além do uso desse material no trabalho pedagógico com os alunos em sala de aula, os leitores de modo geral terão à mão um meio ágil de acesso aos dispositivos legais cuja consulta pode tornar-se necessária às vezes em circunstâncias inesperadas. Em consequência, empenhei-me em tornar disponível o teor completo dos textos legais. Apenas no caso do PNE, dada a natureza e a dimensão desse tipo de documento, não foi possível, nem necessária, a sua reprodução completa. Com efeito, o texto do Plano estende-se nas considerações relativas ao diagnóstico e às diretrizes orientadoras e justificadoras das opções adotadas, parte esta que guarda certa analogia com a exposição de motivos e o relatório que precedem a formulação das leis. Claro que o que tem força de lei são os dispositivos prescritivos apresentados na forma de títulos, capítulos, artigos, incisos e alíneas; e não as considerações que se fazem em torno deles. Assim, no caso do PNE, a parte que tem caráter prescritivo, isto é, se expressa com força de lei, é aquela que enuncia os objetivos e metas a serem alcançadas. Eis por que o anexo correspondente ao texto do PNE se limita a transcrever os objetivos e metas.

    Terminado o trabalho que resultou no novo livro, observei que o título anterior se tornou inteiramente ultrapassado. Com efeito, o conteúdo do livro não mais se restringe ao primeiro ano que sucedeu à aprovação da LDB, isto é, 1997, quando foram tomadas as primeiras medidas de regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Tais medidas culminaram nos projetos de Plano Nacional de Educação, da oposição e da situação, que deram entrada no Congresso Nacional respectivamente nos dias 10 e 12 de fevereiro de 1998. A nova obra já não se continha nos limites evocados pela denominação do livro anterior (Da nova LDB ao novo Plano Nacional de Educação), pois incorporou as medidas tomadas no primeiro mandato do Governo Lula, que teve seu ponto alto e fecho cronológico na aprovação do FUNDEB em 29 de dezembro de 2006. Impôs-se, em consequência, o novo título: Da nova LDB ao FUNDEB.

    É, pois, com alegria que entrego aos leitores este novo livro que, ao substituir o anterior, continuará sendo um valioso auxiliar do trabalho docente. Espero, com o esforço feito, estar fazendo jus à confiança que venho recebendo de grande número de professores espalhados pelo imenso território deste nosso país.

    Dermeval Saviani

    Este é um estudo de política educacional brasileira. Diz respeito, pois, às medidas que o Estado, no caso, o governo brasileiro, toma relativamente aos rumos que se devem imprimir à educação no país. No âmbito do organograma governamental, essas medidas situam-se na chamada área social, configurando, pois, uma modalidade da política social.

    Mas qual o significado desta expressão política social? Se a política é a arte de administrar o bem comum, toda política não é necessariamente social?

    Em verdade, como se explicitará no capítulo III, essa denominação decorre das características da sociedade capitalista cuja forma econômica se centra na propriedade privada dos meios de produção, o que implica a apropriação privada dos bens produzidos coletivamente. Com isso, a produção social da riqueza fica subordinada aos interesses privados da classe que detém o controle dos meios de produção.

    Na medida em que esse tipo de sociedade constitui, como seu elemento regulador, um Estado, consequentemente capitalista, a política econômica impulsionada por esse Estado, tendo em vista o desenvolvimento e a consolidação da ordem capitalista, favorecerá os interesses privados sobre os interesses da coletividade. Configura-se, assim, o caráter antissocial da política econômica cujos efeitos, entretanto, contraditoriamente, atuam no sentido de desestabilizar a ordem capitalista em lugar de consolidá-la. Para contrabalançar esses efeitos é que se produz, no âmbito do Estado, a política social, abrangendo ações nas áreas da saúde, previdência e assistência social, cultura, comunicações e educação, a qual nos interessa particularmente neste trabalho.

    Minha análise incidirá, pois, sobre a política social, limitando-se, porém, ao aspecto específico relativo à política educacional. Esta será, por sua vez, examinada num recorte particular, isto é, as medidas regulamentadoras da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, entre as quais avultam o Plano Nacional de Educação e a criação de mecanismo específico de financiamento do ensino que no Governo FHC se expressou no FUNDEF, substituído no Governo Lula pelo FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação acrescidos de um conjunto de ações agrupadas sob a sigla PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação.

    As referidas medidas regulamentadoras configuram aquilo que se poderia denominar legislação complementar à LDB, já que, no geral, elas se expressam através de mecanismos legais formalmente denominados leis ou decretos.

    Considerando-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional como a lei maior da educação no país, por isso mesmo chamada, quando se quer acentuar a sua importância, de carta magna da educação, ela situa-se imediatamente abaixo da Constituição, definindo as linhas mestras do ordenamento geral da educação brasileira. Dado esse caráter de uma lei geral, diversos de seus dispositivos necessitam ser regulamentados por meio de legislação específica de caráter complementar. E é precisamente nesse contexto que se vai processando, por iniciativas governamentais, o delineamento da política educacional que se busca implementar.

    Ora, à luz do exposto, vê-se claramente que, do ponto de vista lógico, a aprovação da LDB necessariamente precederá a aprovação da legislação específica destinada a regulamentar aqueles dispositivos que explícita ou implicitamente a própria LDB remete à elaboração de uma legislação complementar. Entretanto, como já reconhecia a Associação Brasileira de Educação em 1950, os pontos de vista rigorosamente lógicos nunca prevalecem na organização do nosso ensino (BRASIL, 1955, p. 2.333). Assim, em que pese a evidência apontada, o certo é que a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional começou a ser regulamentada antes mesmo de ser aprovada.

    O leitor não deverá estranhar, portanto, ao constatar no primeiro capítulo desta obra, o qual trata da LDB e legislação complementar, a existência de dispositivos legais aprovados antes da LDB, como é o caso da Lei n. 9.131, de 24 de novembro de 1995, e da Emenda Constitucional n. 14, aprovada em setembro de 1996, por sua vez regulamentada pela Lei n. 9.424/96, que tramitou concomitantemente à LDB, tendo sido promulgada em 24 de dezembro de 1996. Incluem-se nessa mesma situação a Lei n. 9.192/95, que disciplina a escolha de dirigentes universitários, e o Decreto n. 2.026, de 10 de outubro de 1996, que trata da avaliação de cursos e instituições de nível superior.

    Além dos dispositivos mencionados, que se anteciparam à aprovação da LDB, serão objeto de análise, também no capítulo I, as normas baixadas após a aprovação da referida lei, a saber: o Decreto n. 2.306, de 19 de agosto de 1997, que regulamentou pontos relativos ao sistema federal de ensino; o Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997, relativo à educação profissional, complementado pela Portaria MEC 646, de 14 de maio de 1997; e a Lei n. 9.475, de 22 de julho de 1997, referente ao ensino religioso. Neste último caso, não se trata de regulamentação mas de alteração do que havia sido disposto sobre a matéria na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

    No decorrer da primeira gestão do Governo Lula (2003-2006), foram baixadas novas medidas de política educacional também ligadas à questão da regulamentação da LDB. Por isso, ainda no primeiro capítulo, são abordadas as referidas medidas, consubstanciadas nos seguintes dispositivos legais: Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004, que modificou aspectos relativos ao sistema federal de ensino, e o Decreto n. 5.773, de 9 de maio de 2006, que a regulamentou; Lei n. 11.096, de 13 de janeiro de 2005, que instituiu o PROUNI, e o Decreto n. 5.493, de 18 de julho de 2007, que a regulamentou; Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006, que instituiu o FUNDEB e a Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007 que, substituindo a Medida Provisória n. 339, de 28 de dezembro de 2006, que a regulamentou; Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004, que modificou a regulamentação referente à educação profissional.

    Mas a principal medida de política educacional decorrente da LDB é, sem dúvida alguma, o PNE. Sua importância deriva de seu caráter global, abrangente de todos os aspectos concernentes à organização da educação nacional, e de seu caráter operacional, já que implica a definição de ações, traduzidas em metas a serem atingidas em prazos determinados dentro do limite global de tempo abrangido pelo Plano que a própria LDB definiu para um período de dez anos. Nessas circunstâncias o PNE torna-se, efetivamente, uma referência privilegiada para se avaliar a política educacional aferindo o que o governo está considerando, de fato, prioritário, para além dos discursos enaltecedores da educação, reconhecidamente um lugar comum nas plataformas e nos programas políticos dos partidos, grupos ou personalidades que exercem ou aspiram a exercer o poder político.

    Como se evidencia na análise levada a cabo no capítulo II, os resultados do exame da proposta de Plano Nacional de Educação formulada pelo MEC deixam claro os efeitos da determinação estrutural própria da forma social capitalista sobre a política educacional enquanto modalidade da política social que é tratada separadamente da política econômica e a esta subordinada. Com isso a política social acaba sendo considerada invariável e reiteradamente um paliativo aos efeitos antissociais da economia, padecendo das mesmas limitações e carências que aqueles efeitos provocam na sociedade como um todo.

    Essa situação atinge o seu paroxismo na conjuntura atual, marcada pela hipertrofia dos mecanismos de mercado, em que tudo, desde a visão de sociedade até as decisões mais específicas referentes à vida pessoal dos indivíduos, passa pelo crivo mercadológico.

    Não é de estranhar, pois, que as necessidades sociais, ao serem levadas em conta seja pela sociedade civil, pela imprensa, por exemplo, seja pela sociedade política cujos encaminhamentos configuram a política social, sempre são analisadas sob o crivo da relação custo–benefício. Assim, os direitos sociais conquistados a duras penas pelo povo brasileiro hoje são classificados como custo Brasil. As carências de educação, saúde ou segurança são consideradas seja diretamente como custos, na medida em que impedem ou retardam ou tornam mais onerosos os investimentos no desenvolvimento econômico, seja como custos para a sociedade que, através do Estado, terá que investir recursos para supri-las. E o Estado, submetido a essa mesma lógica, tenderá a atrofiar a política social, subordinando-a, em qualquer circunstância, aos ditames da política econômica.

    Está aí a raiz das dificuldades por que passa a política educacional. As medidas tomadas pelo governo, ainda que partam de necessidades reais e respondam com alguma competência a essas necessidades, padecem de uma incapacidade congênita de resolvê-las. Isto porque a lógica que as preside as torna presas de um círculo vicioso eivado de paradoxos: as crianças pobres teriam melhor rendimento escolar se seus pais participassem mais ativamente da educação escolar dessas crianças; mas para isso eles deveriam ter um melhor e mais alto nível de instrução, precisamente o que lhes foi negado. As crianças pobres teriam êxito na escola se não precisassem trabalhar; mas elas precisam trabalhar exatamente porque são pobres. Esses paradoxos manifestam-se também no próprio campo econômico: os trabalhadores seriam mais produtivos se tivessem maior e melhor nível de instrução; mas para terem maior nível de instrução eles precisariam ser mais produtivos para que a economia do país pudesse gerar os recursos que permitiriam maior investimento em educação. Em outros termos, no limite, o raciocínio acaba sendo o seguinte: o problema seria resolvido se ele não existisse; como o problema existe, então ele resulta insolúvel.

    Há que romper o círculo vicioso por algum ponto. E o ponto básico é o dos investimentos. É necessário, pois, tomar a decisão histórica de definir a educação como prioridade social e política número 1, passando a investir imediata e fortemente na construção e consolidação de um amplo sistema nacional de educação.

    Ora, todos os indicadores apontam na direção de que o governo carece radicalmente da vontade política para tomar essa decisão histórica, em vista da sua subordinação assumida à lógica hegemônica comandada pelos mecanismos de mercado. Reside aí não apenas a debilidade, mas a insuperável impotência da política educacional que vem sendo implantada, o que fica evidente na proposta de Plano Nacional de Educação elaborada pelo MEC em 1997 atendendo à exigência do artigo 87 da LDB que determinava à União a obrigação de encaminhar ao Congresso Nacional o Plano Nacional de Educação no prazo de um ano a partir da publicação da lei, publicação essa que ocorreu em 23 de dezembro de 1996.

    Essa proposta de Plano Nacional de Educação tramitou no Congresso Nacional concomitantemente ao projeto da oposição e foi aprovada, com alguns aperfeiçoamentos, pela Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Mas os vetos apostos pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) anularam as melhorias introduzidas no Parlamento. E o Governo Lula, não obstante seus compromissos com a proposta elaborada pelo movimento dos educadores reunidos no II Congresso Nacional de Educação (CONED), não tomou a iniciativa de derrubar os referidos vetos. O PNE que vigorou entre 10 de janeiro de 2001 e 9 de janeiro de 2011 sofreu, portanto, das mesmas limitações que marcaram o governo anterior.

    A sociedade brasileira, por meio de seus segmentos organizados, vem procurando reagir a esse estado de coisas. No entanto, a luta vem revelando-se extremamente árdua. Com efeito, a própria situação de carências vem dando respaldo à continuidade desse quadro político.

    Em contrapartida, apesar dessa constatação, a própria imprensa destacava quase que diariamente as ações do governo dando grande cobertura à política desenvolvida pelo MEC e silenciava totalmente sobre a mobilização da sociedade civil se contrapondo às decisões governamentais. Isto foi posto a nu quando da realização, de 6 a 9 de novembro de 1997, do II CONED, evento realizado com o apoio de 36 entidades, 13 prefeituras e três universidades federais, tendo reunido milhares de educadores com a apresentação de grande número de trabalhos científicos, conferências e mesas-redondas, cujo tema central girava em torno da elaboração do Plano Nacional de Educação e que produziu como resultado um documento de 73 páginas contendo diagnóstico, dados estatísticos e uma proposta de Plano Nacional de Educação contraposta àquela do MEC. Ora, todo esse esforço não recebeu uma linha sequer por parte da grande imprensa. Nada foi noticiado. A imprensa não se dignou nem mesmo a criticar ou contestar aquela iniciativa.

    Essa situação se repetiu quando da realização da I Conferência Nacional de Educação (I CONAE) entre 28 de março e 1º de abril de 2010. A referida CONAE caracterizou-se por uma grande mobilização ostentando grandes números, pois contou com quase quatro mil participantes e seus 3.889 delegados credenciados produziram 5.300 deliberações e 2.057 emendas ao documento-base, encerrando-se o evento com a aprovação na Plenária Final de 677 propostas variando desde a inclusão da temática LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) nos livros didáticos até os 10% do PIB para o financiamento da educação. No entanto, a grande imprensa nada divulgou sobre esse importante evento do campo da educação.

    É diante desse quadro de dificuldades que propus, na conclusão do livro sobre a nova LDB, a estratégia da resistência ativa. E é em consonância com essa estratégia que no terceiro capítulo da presente obra fiz um esforço para apresentar uma proposta alternativa de Plano Nacional de Educação que, ainda que se diferenciasse nos detalhes, convergia com a preocupação central das entidades que organizaram o II CONED com o intuito de resistir ativamente à política educacional em andamento, o que implica apresentar propostas alternativas e lutar para viabilizá-las. Por isso reproduzi como anexo ao terceiro capítulo as Diretrizes e metas do Plano Nacional de Educação proposto pela oposição, originário da proposta elaborada e aprovada no âmbito do II CONED realizado em novembro de 1997 em Belo Horizonte.

    Após tratar, no quarto capítulo, do Plano Nacional de Educação cuja vigência se esgotou em 9 de janeiro de 2011, esta nova edição traz, como acréscimo, o capítulo quinto versando sobre o novo Plano Nacional de Educação que entrou em vigor em junho de 2014. Trata-se de uma exposição sucinta porque esse Plano já foi objeto de uma análise específica contida no livro Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação: significado, controvérsias e perspectivas (SAVIANI, 2014).

    A questão da regulamentação da nova LDB configura uma situação no mínimo curiosa. É que ela não tinha ainda sido aprovada e já estava sendo regulamentada. Assim é que em 24 de novembro de 1995 era aprovada a Lei n. 9.131 alterando artigos da Lei n. 4.024/61, isto é, a LDB anterior, relativos às atribuições da União e, especialmente, ao Conselho Nacional de Educação (CNE). E em 21 de dezembro de 1995 aprovava-se também a Lei n. 9.192, que regula a forma de escolha dos dirigentes de instituições de ensino superior. Além disso, tramitava concomitantemente ao projeto de LDB a Proposta de Emenda Constitucional de número 14, referente ao financiamento do ensino fundamental, aprovada em 12 de setembro de 1996, e a Lei n. 9.424, dela resultante, aprovada em 24 de dezembro de 1996.

    As disposições mencionadas acrescidas daquelas aprovadas no decorrer do ano de 1997 compõem os elementos principais da regulamentação da nova LDB levada a efeito pelo Governo FHC.

    Considerando-se os embates travados entre a comunidade dos educadores e o Governo FHC, cuja orientação de política educacional não contemplava as principais aspirações dos educadores; e levando-se em conta que o movimento dos educadores tendia a encontrar no Partido dos Trabalhadores (PT) um canal político natural de desaguadouro de suas reivindicações, configurava-se a expectativa de que a eventual chegada do PT ao poder federal abriria uma nova era para a educação no país. Finalmente, nas eleições de 2002 essa

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