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PIORISMO E MELHORISMO

Já observamos os conceitos equivocados de alguém poder ser "melhor ou pior".


Mas as pessoas também avaliam suas próprias vidas como sendo "piores ou melhores".
Tratam a vida como a si mesmas, e por isso materializam nela todas as suas crenças
mentais, inclusive essas. Mas o que é a vida, senão a situação presente, atual, o
momento? O passado, que já existiu, ou que existe apenas como a memória do que foi
vivido, individual ou coletivamente, não existe mais agora, como algo a que se possa
chamar vida. Como pode ter vida algo que não pode mais ser mudado, nem tocado, não
se mexe, não se move, nem respira... O passado é a história do que foi a vida, e nem
mesmo essa história é verdadeira, pois que já se apresenta filtrada, interpretada,
distorcida pela memória, pelos livros ou mesmo pelos filmes... Já é "estória".
Quanto ao futuro, conceito abstrato do seguimento que sabemos em nossa fé que
a vida terá, não existe ainda! Então, a vida é só o presente. A situação atual, o momento.
Não precisamos entrar em sofismas metafísicos como, por exemplo... O segundo que o
relógio sinalizou é o passado, e não mais existe; o próximo segundo ainda não existe,
portanto, o presente é só este segundo, ou este décimo de segundo ou este milésimo de
segundo! A vida é agora: 4hs 16min e 57s... ops! Mas não deu tempo nem de escrever, e
nem de pensar... Como não somos o computador de bordo de uma Ferrari, não
precisamos desse exagero. Aliás, nessa questão, é melhor esquecermos o relógio. O
nosso tempo (humano) é registrado pela nossa consciência, e nossa consciência do
momento se compõe de "blocos de consciência" de diferentes tamanhos cronológicos,
que se sucedem, mais rapidamente ou mais devagar. Esse processo depende de como
estão atuando os neurotransmissores dentro do seu cérebro, como a dopamina e a
serotonina, acelerando ou retardando os processos mentais. Mas mesmo isso é
secundário. Alterando esses hormônios, pelo uso de drogas, por exemplo, ou pela
simples administração de luz sobre a retina, podemos alterar esses processos. Se fumar
maconha, a mente fica mais lenta e contemplativa, e o tempo parece desacelerar. Se
cheirar cocaína, tudo fica mais rápido, e você começa a andar rápido e a disparar
palavras e idéias como uma metralhadora. Mas tudo é desnecessário, são artifícios que
desequilibram o ritmo da natureza em que estamos inseridos (cada vez menos!).

Os blocos de consciência de situação que, sucedendo-se, determinam o tempo


psicológico, ocorrem simultaneamente em muitos diferentes níveis da consciência,
misturando-se e sobrepondo-se. Existem blocos de consciência que duram (no tempo do
relógio) apenas alguns segundos, enquanto que outros podem durar muitos anos...
Acredito que alguns esquizofrênicos vivam a vida inteira presos a um único desses
blocos de consciência, gerado por um trauma, tão imperativo e avassalador que blocos
de consciência de outros níveis (embora estejam sendo experimentados, como por
exemplo, o sabor de um doce) nem sejam percebidos por quem os observa, e por isso
parecem vegetar...
Mas vamos ser menos trágicos e exemplificar com algo bem banal. Estou
concentrado no trabalho interessantíssimo de uma jornada de 8 horas, e estou no
intervalo, em pleno ato de almoçar um delicioso filé ao molho madeira, quando passa
um colega querido e me cumprimenta jovialmente, ao que retribuo com um sorriso e um
gesto de "é isso aí!".
Pelo menos 3 blocos de consciência de situação de diferentes medidas
cronológicas sobrepuseram-se na situação narrada:
1. A satisfação em realizar a tarefa que me foi destinada neste dia, e o trabalho
de fundo da mente cuidando dos detalhes que restam a executar no período da tarde
(bloco de 8 horas);
2. O prazer de saciar a fome degustando um prato que me agrada imensamente
(bloco de 40 minutos);
3. A alegria de receber e responder ao afeto de um amigo que me cumprimenta
alegremente (bloco de 30 segundos).

Nesse exemplo, 3 diferentes noções de tempo, 3 diferentes consciências


(profissional, prazerosa e social) se misturaram num só momento. Três diferentes
presentes:
1. O "presente" da atual ou presente tarefa profissional;
2. O "presente" do prazer alimentar que está presente nos meus sentidos físicos;
3. O "presente" de uma amizade que está presente na minha vida talvez durante
alguns anos, reforçada em um gesto de poucos segundos.
Então?
Onde está o presente?
Em todos esses presentes.

Claro que existem muitos níveis na nossa vida presente, bem como muitos
subníveis em cada nível, e assim por diante. Por isso, quando os latinos diziam "carpe
diem", isto é, "viva o dia", lema-epifania do filme "Sociedade dos Poetas Mortos", não
estavam se referindo ao dia de 24 horas. Mas a cada um desses presentes, mesmo que
durem anos. Caso contrário, ninguém conseguiria construir uma casa... As filosofias
orientais têm uma consciência mais nítida disso quando ensinam que devemos fazer
uma coisa só por vez, ou seja: se estamos comendo, então vamos sentir só a comida...
Mas será que alguém consegue fazer isso, mesmo um chinês karatê-kid ou um iogue?
Será que todo o resto da humanidade se compõe de esquizofrênicos que não sentem a
vida jamais? Claro que não, ao contrário, existe até uma espécie de ciência meditativa
chamada de sinestesia, isto é, "sentir junto". Testes estatísticos comprovam que estudar
matemática ouvindo valsas vienenses é mais produtivo do que ouvindo qualquer outro
estilo musical e também -- vejam bem -- mais produtivo do que fazê-lo em silêncio! A
prática meditativa sinestésica consiste em encontrar combinações de estilos para cada
sentido físico que permitem obter o máximo prazer e proveito. Por exemplo: conversa
íntima, comida francesa, música de violinos, champanhe, luz de velas... O que lhe
sugere? Assim, nada de radicalismos sofísticos ou místicos.

Viver o presente depende de que presente estamos falando. Se você está


questionando sua vida profissional e trabalha há 15 anos numa repartição pública e sua
função é cacete, tediosa, chata... O seu "presente" profissional são dois:
1. Se você está em pleno expediente: o seu presente profissional é simplesmente
essa jornada de trabalho que se encerra às 18hs; então, FAÇA O MELHOR POSSÍVEL
JÁ QUE VOCÊ CERTAMENTE NÃO VAI SE DEMITIR HOJE!!!
2. Mas se você está em plena consulta com aquele consultor vocacional,
astrólogo, numerólogo, ou mesmo aquele amigão, discutindo sua vida profissional,
nesse caso o seu presente profissional começou há 15 anos (ou quando a coisa ficou
feia) e se estende até hoje. ENTÃO, SEJA SINCERO CONSIGO MESMO, ENCARE
SEUS MEDOS E TOME UMA ATITUDE NESSA VIDA!
Conclusão da situação 1: não adianta xingar o chefe, a empresa, o governo, a
vida ou a si mesmo: já que você está lá, trabalhando, cumprindo esse compromisso
(pelo menos por enquanto), faça o melhor possível (pro chefe, prá empresa, pro
governo, prá vida e prá si mesmo). Se você fizer o melhor, vai exercitar sua mente e sua
criatividade, sua gentileza e seu bom humor. Vai tratar bem o presente que a vida lhe
deu, e a vida vai lhe tratar bem de volta, possivelmente trazendo um trabalho melhor,
desde que você se disponha. Se você preenche bem uma função, uma hora você
transborda a função, você transcende, e alguém (o chefe ou Deus) arranja um jeito
melhor de aproveitar você... Isso é MELHORIA e não MELHORISMO. Se você, ao
contrário, fizer nas coxas, empurrar com a barriga, ficar rezingando pelos cantos, você
nunca vai sair de lá, e é bem capaz de criar um câncer no seu corpo... Viver o presente
nesse caso significa adotar a melhor postura até as seis da tarde.

Conclusão da situação 2: Já que você buscou conselho, ajuda, terapia ou apenas


desabafo, não importa; aproveite essa consciência elástica de tempo, esse blocão de
consciência de uma situação que perdura há muitos anos, e mude a sua vida, porque só
você pode fazer isso. Os astros não o farão por você, nem as cartas do tarô, nem
nenhum ritual mágico, nem o terapeuta, nem Jesus e nem Deus. Só você pode fazê-lo!
Análises e terapias podem ajudar no diagnóstico da situação e na limpeza das energias
estagnadas por tanto tempo e é bom usá-los, afinal, dizer que só você pode fazer não
quer dizer que você esteja desamparado neste mundo. Ninguém é Robinson Crusoé e
nenhum homem é uma ilha.

------------------------------------------------------------------------REVISEI ATÉ AQUI-----

O CONCEITO DO PIORISMO

Agora que já sabemos o que é o presente, consideremos o fato de que as pessoas


tendem a julgar cada presente de suas vidas como julgam a si mesmas. Estendem para a
vida , para a situação da vida neste mundo ao seu redor as mazelas que criam acerca de
si mesmas. A vida de cada um nada mais é que a materialização daquilo que ela tem na
mente. Das crenças e valores em que ela acredita. Primeiro, porque ela escolhe a vida de
acordo com o valor que dá a si mesma. Quer ver um exemplo?
Mariazinha vive sozinha. Ganha pouco e gasta R$200 por mês com comida.
Come arroz, feijão, salsicha e cuscuz com sardinha enlatada. Gasta uns 6 reais por mês
em latas de sardinha. R$72 por ano. Nunca comeu salmão, nem sabe que gosto tem...
Salmão custa R$18 o quilo. Mal sabe ela que sardinha enlatada custa MAIS DO QUE
ISSO, POR QUILO. Gasta R$2400 por ano em comida, mas nem uma única vez no ano
usa R$9 para comprar meio quilo de salmão... Salmão é caro, é coisa de rico, ela é
pobre, quem é ela prá comer essas coisas...
(!!!!!!!!)
Isso é só um exemplo corriqueiro, mas emblemático.
A pessoa reproduz na vida o que tem na mente: pobreza, neste caso.

Por outro lado, a vida reproduz para a pessoa o que esta tem na mente. Todo
mundo já ouviu falar no poder da mente. Pensar, mentalizar, acreditar, são formas de
energia, que se materializam na vida. Não é mágico, mas é real. Se você tem um Fusca,
e fica a noite toda na posição do lótus, cantando mantra e mentalizando que tem um
carrão, certamente, de manhã, NÃO vai encontrar um Porsche na sua garagem... Isso
serve para muitos céticos desmentirem o poder da mente e escarnecerem dele,
orgulhosos da racionalidade materialista que os mantêm pobres e infelizes...
No entanto, se você tem um Fusca, e desfruta dele alegremente, com gratidão
por não ter que tomar condução, cada vez que o dirige, e cuida dele com amor e carinho,
preenchendo sua função de "dono", certamente logo vai poder trocá-lo por outro Fusca
mais novinho, ou por um carro melhor. Claro que você vai investir seu tempo e seu
trabalho, claro que você precisa ser objetivo e usar de inteligência. Claro que sua atitude
mental precisa ser de MELHORIA. Cuido do que tenho e melhoro a cada dia. Esse mês,
calotas novas; mês que vem, instalar um som, etc. Isso é MELHORIA.
Mas se você fica no PIORISMO, nada feito.
PIORISMO é quando você está dirigindo, ouve um barulhinho diferente e logo
pensa: "só falta essa merda pifar bem agora!" "eu sabia que essa porcaria não ia durar
muito tempo!" "bem que eu desconfiei que essa lata velha ia me deixar na mão!"...
Você sabe, você desconfia, você acha que só falta piorar...
Afinal, Fusca é pior que Porsche.
Você é pior que seu vizinho.
Você só pode piorar...

PIORISMO é quando algo está muito bom, então logo a gente imagina que vai
piorar a qualquer momento. Quando se antecipam desgraças para anular progressos.
Quando se prevê (espírito prevenido, o homem prevenido vale por dois...) que
algo negativo pode acontecer. Algumas pessoas chamam isso de "realismo"!
Tava bom demais prá ser verdade.
Eu sabia!
Eu não falei?!
Eu tava desconfiando...
Desgraça pouca é bobagem.
Quando a esmola é muita o santo desconfia.
Bem que eu não tava acreditando...

O PIORISMO é uma modalidade extrema e masoquista da preocupação. Você se


pré-ocupa, se ocupa antes da hora e DEIXA DE VIVER O PRESENTE. E o que é pior
(só poderia ser pior): age como quem espera o pior. E pior ainda: atrai o pior imaginado,
porque você fica vibrando na frequência do pior. Aí entra o pensamento "Leis de
Murphy", que é um livro que satiriza o PIORISMO. Murphy é o maior piorista do
mundo. "Se houver uma única chance de uma coisa dar errado, então com certeza vai
dar errado", diz ele. Claro, se sua mente, que é um software complexo, instalada num
hardware complexo, que é o seu cérebro, que, como qualquer computador, emite um
campo eletromagnético, se sua mente emite uma frequência de "dar errado", e se você
estiver perto de outro campo "dar errado" ambiental, com certeza vai dar errado! Você
atrai! Assim como sintonizar um rádio numa estação: se estiver dentro do raio de
emissão da estação, vai tocar a estação. Então, sintonize merda na sua cabeça e torça prá
não haver nenhuma fossa por perto...
Desculpe...
Mas, não é mais seguro sintonizar coisas boas, ou então, simplesmente, NÃO
SINTONIZAR NADA ?! Apenas viver o presente, curtir o presente, o presente que a
vida lhe deu, o presente que Deus lhe deu ? Eu digo que o PRESENTE é o presente de
Deus, PASSADO e FUTURO são demônios gerados na mente humana. Demônio quer
dizer "daimon", que significa forma-pensamento, uma onda vibratória cristalizada que
pode sair da mente de uma pessoa e ser adotada por outra, e assim ir se reproduzindo
pela sociedade e pelo inconsciente coletivo. É aquilo que o Gasparetto chama de
"ameba".
O futuro é um demônio quando você pioriza, espera o pior, achando que está
sendo previdente. O passado é um demônio porque você se baseia nas "experiências"
negativas passadas prá "prever" o futuro. Gato escaldado tem medo de água fria... Gato
não tem não, porque bicho não cria besteira na cabeça. As plantas e os animais sempre
confiam na vida, só o ser humano, que está apreendendo a utilizar esse software
perigoso chamado "mente" consegue criar esses demônios, consegue ser piorista,
fatalista, negativista, desconfiado, cético, racional, prevenido, pessimista... É como
quando Alziro Zarur dizia que "o diabo nada mais é que a soma das maldades
humanas"; o PIORISMO é a maldade que se faz consigo mesmo, e com os outros, é
claro.
Aliás, é preciso explicar a diferença entre PIORISMO e PESSIMISMO.
Pessimismo é quando se pensa conscientemente sobre as possibilidades de um
projeto ou um acontecimento esperado vir a dar certo, e se opta frequentemente pela
conclusão negativa, fazendo disso um hábito. A causa do pessimismo também é a falta
de fé na vida, em Deus e em si mesmo.
PIORISMO é quando não se pensa e já se adivinha, intui, se espera sempre o
pior, mesmo inconscientemente. É um sobressalto no qual a mente vive, distraindo o
prazer de viver a situação. É uma prevenção da alma, um medo da própria sombra, um
medo não-identificado, uma síndrome de pânico potencial. Síndrome de pânico é
quando o PIORISMO é tão forte que somatiza. Você está absolutamente saudável, e
determinada situação aciona um medo, e você "acha" que vai ter um ataque cardíaco
(por exemplo) e então você tem taquicardia, a pressão cai e você desmaia. Claro que
tudo isso varia de pessoa prá pessoa, porque é a própria pessoa que cria e cada pessoa é
diferente da outra.
Negatividade também é diferente de PIORISMO. Negatividade é quando a
pessoa, em tudo o que vê ou ouve, pensa logo no lado ruim, negativo. É diferente do
pessimista, porque o pessimista avalia o bom e o mau e opta pelo mau; enquanto que o
negativista só vê o mau, insiste em ver o lado mau, prá ele a maldade sempre vence,
tudo termina em desgraça. Ele diz assim: "você vive tantos anos, cura um monte de
doenças, mas, no final, você morre, o que prova que o mal sempre vence, a morte
sempre vence a vida". Ele também sofre de falta de fé, só que nem racional ele é. O
pessimista é (ou pretende ser) racional; o negativista é radical, é niilista, é punk.

DIFERENÇA ENTRE PIORISMO E PRECAUÇÃO

Existe preocupação e precaução. Preocupação é: estou digitando e estou o tempo


todo preocupado porque a energia elétrica pode faltar e eu posso perder o meu texto.
Precaução é quando eu instalo um no-break ou quando me habituo a salvar o texto a
cada 10 minutos. PIORISMO é quando a cada barulhinho ou piscadinha da luz já fico
"achando" que é a corrente elétrica que vai cair.
Preocupação é ver na TV uma entrevista sobre o coração, e ficar dois dias
pensando repetidamente se aquelas características de propensão a um infarto não se
encaixam em você.
Piorismo é achar que pode estar prestes a ter um infarto a cada dorzinha no peito
ou no braço.
Síndrome de pânico é provocar a dorzinha no peito.
PRECAUÇÃO é fazer um check-up a cada seis meses e manter uma vida
saudável e a atitude saudável de confiar na vida.

A precaução, em todas as situações, elimina a preocupação. Mas não


necessariamente o PIORISMO. Porque o PIORISMO, obviamente, transcende toda a
lógica. O PIORISMO nasce do sentimento de culpa. É quando a Mariazinha resolve
finalmente comer camarão e, ao sentar à mesa e aspirar aquele aroma delicioso, fala:
"ai! será que num vai me fazer mal esse negócio, eu num tô acostumada..." O problema
não é falta de costume, o problema é o sentimento de culpa, afinal, por que pobre tem se
meter a grã-fino... Quer saber, é bem provável que faça mal mesmo, por somatização.
O PIORISMO surge do sentimento de não-merecimento, da baixa auto-estima,
da autodesvalorização. O PIORISMO pode ser individual, familiar, de classe social ou
mesmo nacional, o que ocorre no Brasil. É o PIORISMO COLETIVO, de origem
cultural e religiosa. Não vou entrar aqui em profundidades sociológicas, mas certamente
as idéias de pecado, castigo divino, inferno, purgatório, etc. têm muito a ver com o
PIORISMO.

Autor: Lucas Aureli


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