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oCOMERCIO
INTER-INSULAR
NOS SÉCULOS XV E XVI

MADEIRA, AÇORES E CANÁRIAS


REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

o COMERCIO
I N T E R - lN S U LA R
NOS SÉCULOS XV E XVI

MADEIRA, AÇORES E CANÁRIAS

(ALGUNS ELEMENTOS PARA O SEU ESTUDO)

ALBERTO VIEIRA

SECRETARIA REGIONAL DO TURISMO E CULTURA

CENTRO· DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO

1 987
Capa, gráficos e mapas: VIRGfLIO GOMES

Fotografia: Esc. MANUELA ARANHA


ABREVIATURAS

A.A.P.D. Arquivo da Alfândega de Ponta Delgada.


A.C.M.R.G. Arquivo da Câmara Municipal da Ribeira Grand.e.
A.C.M.V. Arquivo da Câmara Municipal das Velas (S. Jorge).
A.E.A. Anuário de Estudos Atlânticos.
A.H.M. Arquivo Histórico da Madeira.
A.H.P.L.P. Arquivo Histórico e Provincial de Las Palmas.
A.N.T.T. Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
A.R.M. Arquivo Regional da Madeira.
B.C.R.C.A. Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores.
B.I.H.I.T. Boletim do Instituto Histórico da Ilha' Terceira.
B.P.A.A.H. Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo.
B .P.A.P.D. Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada.
C.C. Corpo Cronológico.
C.H.C.A. Colóquio de História Canário-Americana.
J.R.C. Julgado de Resíduos e Capelas.
Ma Misericórdia.
N.A. Núcleo Antigo.

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PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
INTRODUÇÃO

A abordagem e conhecimento das sociedades insulares tem sido, em certa medida, um


domínio de investigação histórica muito solicitado nas últimas décadas. Desde Fernand
Braudel, Pierre Chaunu, A. Rumeu de Armas, Frédéric Mauro, T. Bentley Duncan e
Magalhães Godinho reconheceu-se a necessidade de um estudo atento da história insular,
como componente basilar do conhecimento do processo histórico atlântico-europeu. Daí a
valorização dos fundos arquivísticos regionais e o seu aproveitamento para a explicitação da
análise da expansão atlântica.
Os autores supracitados exerceram uma acção muito importante na análise global ou
comparativa deste restrito mundo insular, como forma de clarificar os vectores dominantes
do seu processo histórico. Assim as ilhas atlânticas que até então mereciam, apenas,
monografias delimitadas espacio-temporalmente, passam a ser encaradas no contexto mais
amplo do Atlântico, destacando-se aí como principal área da influência nos séculos XV e
XVI. Neste contexto valoriza-se o seu inter-relacionamento com o litoral africano, americano
e europeu, passando a ser consideradas corno pontos-chave para a afirmação da hegemonia
no Atlântico.
Em síntese, a historiografia insular ou pró-insular ultrapassou a fase introspectiva,
mediante o impulso teórico-metodológico externo, mantendo-se até ao momento, em parte
arreigada a essas perspectivas de análise impostas pela historiografia europeia. Tal cir-
cunstância terá condicionado a proliferação de títulos bem como uma maior atenção por este
domínio hístoriográfico. Aí valoriza-se quer o desenvolvimentó do processo histór!co, num
âmbito restrito, quer, num campo mais vasto, o seu inter-relacionamento com o Velho e o
Novo Mundo. Pouca ou nenhuma atenção foi dada às conexões internas do mundo das ilhas
que deveras marcaram a vivência destas sociedades insulares. Só muito recentemente com
os trabalhos de Artur Teodoro de Matos e Manuel Lobo Cabrera foi posta em destaque esta
nova e importante faceta da História Insulana. e)
Gaspar Frutuoso (1522-1591), pela sua importante obra sobre a História dos arquipé-
lagos atlânticos (Canárias, Cabo Verde, Madeira e Açores), pOderá ser considerado o

et) Artur Teodoro de Matos, "Las relaciones entre Azares, Canarias y America Espaiiola en los siglas XVI
y XVII .. , in V C.H.C.A .. Las Palmas, 1982 (no prelo); Manuel Lobo Cabrera, "Gran Canaria y los contactos com
las islas portuguesas atlanticas: Azores Madera, Cabo Verde y Santo Tomé.. , in Congresso lnlemacional de
Historia Maritima. Las Palmas, 1982 (no prelo) Manuel Lobo Cabrera. Elisa Torres Santana, "Aproximación 'de
las relaciones entre Canarias y Azares em los siglas XVI y XVII .. , in Os Açores e o Atiam/cD (séculos XVI-XVII).
Angra do Heroísmo, 1984,352-375. Manuel Lobo Cabrera e Margarida I. Martín Socas. «Emigracion y comercio
entre Madeira y Canarias en el siglo XV)", in ihidem, 678-700.

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pioneiro desta inovadora perspectivação da realidade histórica insular. Ele terá sido ainda o
pioneiro a evidenciar e delinear os traços comuns destas sociedades nascentes, tanto ao nível
geográfico, como ao administrativo e económico (2). Na realidade não estava equivocado
quando tentou essa abordagem, pois os referidos arquipélagos pertencem à Macaronésia ao
mesmo tempo que fazem parte de um conjunto, que é o Atlântico.
A perspicácia e pormenor das suas descrições atestam, por um lado, o conhecimento
profundo que havia destas ilhas em finais do século XVI e, por outro, as possibilidades ou
assiduidade dos contactos entre as diversas ilhas. Para escrever os referidos relatos Gaspar
Frutuoso terá percorrido algumas delas, apoiando-se, ainda, no testemunho oral do viajante
e do mercador que frequentavam a ilha de S. Miguel e).
Talvez o facto de ser filho do
mercador Frutuoso Dias, natural de Ponta Delgada, tenha contribuído para essa familia-
rização com os arquipélagos vizinhos, com que os açorianos mantinham contactos assíduos (4).
Para além desta tentativa de análise comparada e de conjunto dos arquipélagos
atlânticos, o texto frutuosiano poderá ser considerado ainda como a primeira memória atenta
que preserva o cotejo do inter-relacionamento destes arquipélagos, dando conta do movi-
mento migratório e comercial entre a Madeira, os Açores e as Canárias.
Todavia o seu apelo para a fundamentação da sociedade e economia insulares e do
sistema de inter-conexões maJ;lteve-se no esquecimento por várias gerações, sendo apro-
veitado, apenas, no nosso século.
Partindo das tentativas já referenciadas e cientes da importância desse tipo de abordagem
lançamos mãos, em 1982, de um projecto de estudo do Mediterrâneo Atlântico nas suas
peculiaridades, fazendo-o incidir nas relações entre estes três arquipélagos, situados. às
portas do Atlântico Sul. Aqui conclui-se a primeira fase desse plano, cujo objectivo
primordial é o conhecimento da realidade histórica insular. Assim, esta monografia define-
-se pelo seu carácter introdutório ao tratamento do tema.
As lacunas da documentação nos três arquipélagos são imensas, pelo que fomos
impossibilitados de estabelecer as séries cronológicas necessárias para um estudo desta
índole. Deste modo o tratamento do comércio inter-insular ficou muito limitado em termos
documentais e expositivos, não pela sua importância no contexto económico insular, mas
sim pelas referidas lacunas. Todavia, a informação respigada nessa documentação, ainda
que diminuta em termos numéricos, é suficientemente elucidativa para podermos afirmar a
sua importância na economia insular. .
Além disso os reflexos da compartimentação geográfica, aliados à dificuldade de
contactos com as ilhas fizeram-se sentir, de modo evidente, neste primeiro resultado da
investigação em curso. Assim, a dispersão geográfica da documentação açoriana, em
consonância com a impossibilidade material de uma adequada permanência no arquipélago
canário, impossibitaram-nos de um maior aprofundamento destes arquipélagos. Se nas
Canárias essa lacuna foi colmatada parcialmente pela riquíssima produção historiográfica
deste século, nomeadamente da Universidade de La Laguna e da Casa Colón (Las Palmas),
nos Açores apenas podemos ficar agradecidos ao brilhante e minucioso trabalho de recolha
de Ernesto do Canto, reproduzido parcialmente no Ar.quivo dos Açores.
Uma maior familiarização com o riquíssimo acervo documental madeirense, aliada à
importância deste arquipélago no sistema de inter-conexões insulares, levaram-nos a apostar
nessa documentação e partir dela para a análise pretendida. Além disso, porque reconhecemos
ter sido a Madeira a ilha onde se lançou a primeira experiência de ocupação atlântica, com

e) Rodrigo Rodrigues. «Notícia biográfica do Dr. Gaspar Frutoso .. , in Saudades do da Terra, L.0 I, Ponta
Delgada, 1984, XV-CVX; Manuel Lobo Cabrera «Aproximacion a las relaciones entre Canarias y Azores ... ",
354-356.
(3) Rodrigo Rodrigues, arl. cit., XL-XLI, LXIV.
(4) Idem, Ibidem. XXVI, LXVII.

8
implicações nas ilhas vizinhas, estruturámos a nossa exposlçao a partir daí. associando
depois os Açores e as Canárias. Aliás, a Madeira contribuiu em muito para o arranque da
ocupação e valorização sócio-económica desses arquipélagos vizinhos. Este impacto madei-
rense terá condicionado o desenvolvimento das suas sociedades, evidenciando a similitude
de processos, técnicas e produtos. Neste sentido poderá considerar-se o colono madeirense
como o principal obreiro desta sociedade e economia insulares.
A concretização deste estudo não seria possível sem a prestimosa colaboração de
instituições, amigos e mestres a quem agradecemos vivamente. De entre estes distinguimos
o contributo do Professor Doutor Manuel Lobo Cabrera, que nos encaminhou pelas sendas
da investigação arquivística e bibliográfica canária, e o Professor Doutor Artur Teodoro de
Matos, timoneiro deste cruzeiro atlântico, pela orientação e impulsionamento dado a este
trabalho.
Para a presente edição deste nosso trabalho estamos gratos a todos os elementos da
Comissão Instaladora do Centro de Estudos de História do Atlântico por nos confiarem a
honra da primeira edição desta instituição. Ao Professor Doutor Luís de Albuquerque o
nosso especial agradecimento pelos sábios conselhos dados, quando da preparação do texto
para edição, e pelo empenho e acompanhamento da impressão.

Ponta Delgada, Janeiro-Maio de 1985

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2
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
PRIMEIRA PARTE
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
o ATLÂNTICO E AS ÁREAS INSULARES

1. A ECONOMIA INSULAR

O processo de ocupação do mundo insular atlântico surge, nos séculos XV e XVI,


como um movimento ímpar da expansão e da colonização do Ocidente. A expectativa do
Novo Mundo aliada aos incentivos da nova economia de mercado condicionaram a
valorização, não só destas ilhas, mas do Atlântico em geral. Os arquipélagos da Madeira,
Açores e Canárias, porque próximos da Europa e posicionados estratégicamente nos rumos
da navegação atlântica, surgem desde muito cedo como pólos importantes para o domínio
do Atlântico. Talvez por isso mesmo Frédéric Mauro não hesite em afirmar: «iles sans
doute, mais iles aussi important que des continents» e).
A sua ocupação e valorização sócio-económica faz parte de uma estratégia do
Ocidente, marcada pela paulatina desvalorização do mercado mediterrânico em favor do
novo mercado atlântico. Esta transmutação de centros de influência foi responsável pela
valorização dos arquipélagos atlânticos. Talvez por isso mesmo certa historiografia ocidental
não hesitou em denominar este Novo Mundo insular de Mediterrâneo Atlântico. Pierre
Chaunu vai mais longe e divide o Atlântico em duas áreas de influência perfeitamente
definidas: o Mediterrâneo Atlântico e o Americano CZ).
A imagem do Mediterrâneo como centro dominante das trocas comerciais, exóticas ou
não, domina o imaginário dos ocidentais na expansão do litoral insular, africano e
americano e). A tudo isso vem juntar-se a constante presença de gentes ribeirinhas da bacia
mediterrânica, interessadas em impôr as suas técnicas de negócio, o seu capital, os seus
produtos (4). ,
As ilhas dos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias situadas às portas do Novo
Mundo e, porque próximas do velho centro de comércio surgem, nos séculos XV e XVI,
como o último resquício mediterrânico e a esperança dõ novo centro atlântico. Daí o
referido epíteto que sintetiza as aspirações dos europeus na alvorada de uma nova era.
Esta premência e constância do Mediterrâneo nos primórdios da expansão atlântica
poderá ser corresponsabilizada pela dominante mercantil das novas experiências de arrotea-
mento nesta área inexplorada. Certamente os povos peninsulares e ribeirinhos da bacia

e) De,\' produit,\' et de,\' hommes. Paris. 1972. 53


(2) Sevilla y América. Siglos XVI y XVII. Sevilha. 1982, 43
(3) Frédéric Mauro. La XVI". siécle européen. A,\'pects économiqlles, Paris. 1970. 103; Femand Braudel,
La Mediterranée et le monde Mediterranéen ( ... ), vol. I, Paris, 1976, 141-142.
(4) Manuel Nunes Dias. O capitalismo monárquico português. vaI. II. Coimbra, 1964, 171, 179. 182,

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meditelTânica, ao comprometerem-se com o processo de expansão atlântica, não puseram de
parte a sua tradição agrícola, incentivadora das trocas comerciais. Por isso na bagagem dos
primeiros cabouqueiros insulares eram imprescindíveis as cepas, as socas de cana, alguns
grãos do precioso cereal, de mistura com os artefactos de uso corrente.
O processo de ocupação e domínio do Atlântico foi, deste modo, definido por uma
transplantação material e mental de que os colonos peninsulares foram os principais
obreiros. Mais do que uma tentativa de recriação do velho rincão natal, este processo foi a
primeira experiência de ajustamento das arroteias às directrizes da nova economia de
mercado (5). Assim, a aposta preferencial de cultura irá incidir nos produtos em falta na
Europa e naqueles mais valorizados nessa economia nascente, como o açúcar e o pastel.
A sociedade e economia insulares surgem na confluência destes vectores externos em
consonância com as condições mesológicas do multifacetado mundo insular. Todavia, a sua
distribuição e a sua valorização não foram simultâneas nem obedeceram aos mesmos
princípios organizativos, mercê da sua repartição pelas coroas peninsulares e senhorios
ilhéus. Na Madeira e nos Açores o arranque sócio-económico dependeu, de modo uniforme,
da intervenção da coroa e senhorio (1433-1497), enquanto nas Canárias os mesmos agentes
tiveram uma acção diversificada e localizada em ilhas. Nesta última situação o processo de
integração do arquipélago foi muito moroso e variou de ilha para ilha, sendo comum
distinguir as ilhas realengas das senhoriais. Não obstante esta forma diversificada de
direcção e domínio, é notória a dominância dos princípios definidores da nova economia de
mercado, visível na selecção das culturas e no incentivo que lhes foi dado.
As Canárias, pela riqueza dos seus recursos humanos e naturais surgiu, desde o século
XIV, como primeiro alvo preferencial dos povos peninsulares e mediterrânicos. Todavia o
seu processo de conquista e ocupação foi retardado pela disputa entre Portugal e Castela,
bem como, pelo afrontamento da população guanche. Deste modo, a Madeira e o Porto
Santo irão assumir a posição dianteira neste processo, surgindo, desde princípios do século
XV, como importantes focos de recepção e materialização das necessidades e dos anseios
sociais, políticos e económicos do Ocidente. O arquipélago açoriano, colocado nllma
posição excêntrica em relação ao principal pólo de atracção atlântica nas primeiras décadas
do século XV e, mercê da premência dos fenómenos sísmicos e vulcânicos, não se
apresentava muito favorável a esse desenvolvimento inicial. Apenas na segunda metade do
século este espaço multifacetado atrairá as atenções dos peninsulares e até dos descontentes
com a situação madeirense. Assim, a partir da década de 70 as ilhas açorianas surgem como
uma concorrente da Madeira, galvanizando as atenções de madeirenses e peninsulares. A
experiência adquirida pelos colonos imigrantes da Madeira foi importante para a valorização
sócio-económica deste arquipélago bem como do canúrio.
A Madeira, que se encontrava a pouco mais de meio século da sua existência como
sociedade insular, estava já em condições de oferecer contingentes de colonos preparados
para o lançamento de novas arroteias e culturas nas ilhas vizinhas. Assim terá sucedido com
a transplantação da cana-de-açúcar para as ilhas de Santa Maria, S. Miguel, Terceira, Oran
Canaria e Tenerife. Deste modo o arquipélago madeirense, posicionado estrategicamente
nesse mundo de ilhas, dominará todas as conexões atlântico-insulares; será um intermediário
entre os dois arquipélagos do extremo ocidental e oriental e um importante veículo que
assegurará a unidade e a vizinhança, e aproximará as parcelas deste Novo Mundo; pelo seu
lado, ambos os arquipélagos vizinhos integrarão a Madeira nos circuitos comerciais do
litoral africano e americano.
A aproximação e vizinhança das ilhas que compõem o Mediterrâneo 'Atlântico serão

(5) José V. Torres, lntrodução à História Económica e Social da Europa. Coimbra, 1983, 83-85; Maria
Olímpia da Rocha Gil, .. Os Açores e a nova economia de mercado (séculos XVI-XVII)>>, in Arquipélago, série
Ciências Humanas, vol. III, 1981, 371-375; Pierre Chaunu, Sévil/e et I'Atlalltique, vol. VIII. 79.

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corresponsabilizadas por esta identidade, bem como pelas assimetrias e complementaridades
do seu desenvolvimento económico. Estas características dominantes do mundo insular são
o único meio estabilizador dos mecanismos sócio-económicos insulares, uma vez que
criaram as condições necessárias à resolução dos problemas quotidianos e à valorização das
potencialidades locais. Foi, certamente, a única possibilidade da economia insular se
afirmar em face da premência e dominância da Europa Ocidental; assim sucedeu com os
cereais que, produzidos ápenas em algumas ilhas, foram suficientes, em condições normais,
para satisfazer as necessidades da dieta local. Esta conjugação de interesses marcará, por
todo o século XVI, as linhas complicadas das conexões insulares.
O afrontamento das economias das ilhas aparece apenas no domínio das culturas
coloniais - pastel, açúcar, vinho - impostas pelo Ocidente com a única finalidade de
suprir as suas carências; tal imposição externa, dominante em todo esse mundo, conduziu a
um afrontamento e a uma crítica desarticulação da economia insular. Todos estes produtos
são o suporte mais poderoso do domínio europeu na economia das ilhas (6).
O açúcar na Madeira, Gran Canaria, Tenerife, La Palma e o pastel, em S. Miguel,
Terceira, exerceram uma acção devastadora do equilíbrio da exploração económica local,
retirando o espaço agricultado às culturas similares. Tal circunstancionalismo culminou
sempre numa situação de forte dependência em relação ao mercado externo que, para além
de consumidor exclusivo destes produtos, surge como o principal fornecedor dos produtos
ou artefactos que os povos das ilhas carecem. Qualquer eventualidade que pusesse em causa
a produção dessas culturas era o prelúdio da estagnação do comércio e da fome. Assim
sucedeu em 15]3 na ilha de Tenerife com a acção do bicho da cana que destruiu grande
parte das fazendas de açúcar que, segundo reclamação dos seus vizinhos, «es lo principal de
la isla., (). De igual modo se poderá definir a situação madeirense, na segunda metade do
século XVI, mercê da concorrência do açúcar brasileiro que abateu o comércio do «da ilha
que he o fruito e comercio principal dclla e remedio dos lavradores., (8).
Terá sido com base nesta ambiência que Fernand Braudel defendeu, em 1949, para
estas ilhas um regime produtivo de monocultura e).
No entanto nesse mesmo ano Orlando
Ribeiro esclarecia o carúcter de não monocultura do regime de exploração agrícola
madeirense eo). E, volvidos vinte anos, Elias Serra Rafols respondia a Francisco Marales
Lezcano, enunciando que nas Canárias nunca existiu um regime de monocultura, uma vez
que a economia canária foi dominada por uma variedade de culturas, cuja actuação não é
unifonne no tempo e no espaçoet 1). Mais tarde, Frédéric Mauro, secundado por Vitorino
Magalhães Godinho, retomam a questão, enunciando que a economia insular se definiu
apenas por um regime de produtos dominantes e não de monocultura (12).

(6) Femand Braudel, ibidem. I, 182, Pierre Chaunu, ibidem. vol. VIII, 79.
ç7) Acuados dei Cabildo de Tenerife, III. 277-283, n.O 42, .. Capitulaciones que presenta ai Rey la isla de
Tenerife por mano de mensagero ...
(8) A. R. M., C. M.F., Tombo Velho, fi. 178, 5 de Dezembro de 1598.
(9) Ob. cit .• ed. de 1949, 123.
eo) L'fie de Mlldere ( ... ), Lisboa, 1949, 67.
(11) .. E! gofio nuestro de cada dia .. , in Estudios Canarios, XIV-XV, 1969-1970,97-99; corroborado por
M. A. Ladero Quesada (Espana en 1492, Madrid, 1978, 205-218), Eduardo Aznar Vallejo (La illfegración de las
islas Canarias en la ('(}rona da ,Castilla, La Laguna, t983, 455) e Fernando Clavijo Hernandez .. Los documentos
de tletamentos ( .. ')'" in IV C. H. C. A.. vol. 1,36. A tese de Victor Morales Lezcano, baseada em F. Braudel
surgiu pela primeira vez em Sillfesis de la historia economicá de Canarias, Tenerife, 1966. sendo depois reforçada
em Las relaciones mercantiles entre Inglaterra y los archipélagos allallfico ibéricos ( ... ) La Laguna, 1970 e em
.. Cultivos dominantes y ciclos agrícolas en la historia Modema de las islas Canarias .. , in Historia General de las
Islas Cal/arias, IV, 11-22.
e 2 ) Frédéric Mauro, Le Portugal el I'Allantique au XVlle. siecle( ... ), Paris, 1960 50 I; Idem, ",c0njoncture

économique et structure sociale en Amérique latine depuis I'époque coloniale .. , in COl/jol/ctllre Economique.
Structure Sociales, Hommage à Ernest Labrousse, Paris, 1974,237-251; Vitorino Magalhães Godinho, "A divisão
da história de Portugal em períodos .. , in Ensaios !l, 2." cd., Lisboa, 1978. t2-14.

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Deste modo, e em face de uma análise aturada da economia insular, parece-nos que a
mesma não se rege por princípios exclusivistas, de acordo com a premência das solicitações
externas. Antes pelo contrário, o seu desenvolvimento sócio-económico processou-se de
forma variada, sendo a exploração económica dominada por esses vectores dominadores,
confrontados com as condições e recursos do meio, com solicitações da economia de
subsistência. É difícil, senão impossível, conseguir definir um ciclo em que impere a
monocultura de exportação, num espaço amplo e multifacetado como é o mundo insular, ou
em cada arquipélago em particular. O espírito de inter-ajuda atrás enunciado é a prova cabal
disso. Os modelos, embora perfeitamente delineados, não se ajustam à realidade sócio-
-económica, que é extremamente variada e enriquecida de múltiplas matrizes. Embora
alguns produtos, como o trigo, o açúcar, o vinho e o pastel, surjam em épocas e ilhas
diferenciadas como os mais importantes e definidores das trocas externas, não são os únicos
na economia insular. A análise dos produtos na exploração agrícola comercial do mundo
insular comprovará esse facto.

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2. AS ÁREAS INSULARES A EXPANSÃO E O COMÉRCIO NO ATLÂNTICO: AS
ROTAS DE NAVEGAÇÃO E COMÉRCIO

A valorização do Atlântico nos séculos XV e XVI conduziu a um intrincado liame de


rotas de navegação e de comércio que ligavam o Velho Continente ao litoral atlântico e).
Esta multiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e de formas de
exploração adoptadas. Se é certo que esses vectores geraram as referidas rotas, não é menos
certo que as condições mesológicas deste oceano, dominadas pelas correntes, ventos e
tempestades, delinearam o seu rumo e).
As mais importantes e duradouras de todas as
traçadas neste mar foram sem dúvida a da Índia e a das Índias, que galvanizaram as
atenções dos monarcas, da população europeia e insular, dos piratas e corsários. e).
No traçado de ambas situava-se o Mediterrâneo Atlântico com uma actuação primordial
na manutenção e apoio à navegação atlântica. As ilhas da Madeira e das Canárias surgem
nos séculos XV e XVI como entrepostos para o comércio no litoral africano, americano e
asiático. Os portos principais das ilhas da Madeira, Gran Canaria, La Gomera, Hierro,
Tenerife e Lanzarote animam-se de forma diversa com o apoio a essa navegação c comércio
nas rotas da ida, enquanto os Açores, com as ilhas de Flores, Corvo, Terceira e S. Miguel,
surgem como a escala necessária e fundamental da rota de retomo.
Segundo Pierre Chaunu a rota das Índias de Castela assentou em quatro vértices
fundamentais: Sevilha, Canárias, Antilhas, Açores (4). Nesse traçado, portanto, a Madeira
mantinha-se numa posição excêntrica, pois apenas servia as rotas portuguesas do Brasil e da
costa africana.
As dificuldades do espaço entre as Canárias e Castela, devido ao golfo de las Yéguas
(ou golfo das Éguas), em consonância com o prolongado percurso até às Antilhas, fizeram
das Canárias uma escala obrigatória e imprescindível para a carreira das Índias (5). Aí as

e) Avelino Teixeira da Mota, «As rotas marítimas portuguesas no Atlântico de meados do século XV ao
penúltimo quartel do século XVJ.>, in Do Tempo e da História, III, 1970, 18-19: Frédéric Mauro, «Les routes
océaniques et la domination de I' Atlantique", in Études SUl' /' expansion portllgaise 1500-1900, Paris, 1970,
98, 106,
(2) Pierre et Hughette Chaunu, Séville et /'Atlamique, t. VII, 18-21; t. VIII, 349; Joaquim Navarro y
Morgado, Navegación dei ocea/lO Atlantlco( , , ,), Madrid, 1876: Derrotero de las islas Cl/Ill/rias y archlpiélago
de la Madera, Madrid. 1864; Glyn Daniel, The Atlantlc Seaways (as rotas do Atlântico), Lisboa, 1961, sep. do
«Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa". Julho-Setembro de 1961: Ed. le Danais, L' Atlantiqlle. Histolre et
vle d'un océan. Paris, 1939, 150-184,
e) São múltiplas as obras e estudos sobre as carreiras da Índia e Índias. Sobre a carreira da Índia e rotas
portuguesas no atlântico citaremos: Gabriel Pereira, Roteiros portllgueses de Lisboa fiíndia /lOS séculos XVI e
XVII. Lisboa. 1898: Frazão de Vasconcellos, Subsídios para a história da carreira da Indla ao tempo dos Filipes.
Lisboa, 1960. António da Silva Rego, "Viagens portuguesas à Índia no século XVI», in. Aliais da Acad;mlll
Portuguesa de História, " série. vaI. V. 1951. \09-242; Virgínia Rau, "Les escates de la carreira de India
(XVo-XVIIIo siécle) ... in X Colloque Maritime. Bruxelas. 1968; Avelino Teixeira da Mota, Jorge Borges de
Macedo c Frédéric Mauro. «Les routes portugaises de I'Atlantique. in Allluzrlo de Estlldos Americanos XXV, 1968.
129-151: José Robcrto do Amaral Lapa. "Variação triangular da rota do Cabo (séculos XVI, XVII, XVIII). in
Ibidem, XXV. 1968.507-513: Luís de Albuquerque. "Escalas da carreira da Índia .. , in Revista da UI/iversidade de
Coimbra. XXV\, 1978. 137-144, Sobre a Carrera de las índias veja-sc: Pierre Chaunu, art. dI.; Francisco
Morales Padrón ... Sevilla, Canarias y América". in Historia General de las islas Cal/ar/as, fl, 225-240: Augustin
Guimerá Ravina. "Canarias en la Carrera de Índias 1564-1778 .. , in Ibidem. II, 169-174, Uma primeira análise
comparativa das duas rotas foi feita por Artur Teodoro de Matos. "As carreiras da Índia e Índias no século XVI.
Esboço de estudo comparativo ... in VI Coloquio de Historia CWlllrlo-Ame";cana, Las Palmas, 1984 (no prelo),
(4) Sel'illtt" América, SIglo,l' XVI -" XVI!. 43-48,
(5) Ibldem.'43-54: Francisco Mora1es Padrón. "Canárias en los cronistas de Índias .. , in A.E,A .. X. 1964.

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3
naus faziam aguada, procediam aos necessários reparos e se reabasteciam de lenha e géneros
imprescindíveis para a longa caminhada de um a dois meses. As ilhas de Tenerife, Gran
Canaria, Hierro, La Gomera e Lanzarote eram favorecidas com essa escala técnica, pois
para além de poderem escoar os seus produtos no abastecimento das naus, estava facilitada a
sua intervenção no comércio americano (6).
O arquipélago canário, nomeadamente a ilha de Tenerife, mereceu também a preferência
dos navegadores portugueses nas suas viagens ao Brasil, à costa africana e à Índiae).
Assim terá sucedido, por várias vezes, no século XVI, sendo de referir em 1530, a escala da
armada de Martim Afonso de Sousa em Tenerife e, em 1563, a viagem do jesuíta Sebastião
de Pina(8).
As ilhas Canárias surgem, pois como uma importante base de aprovisionamento para as
naus portuguesas com destino ao Brasil, Cabo Verde, Guiné e Angola e, mesmo, como
relevantes entrepostos do comércio ilegal de escravos na costa africana (9).
Os ingleses serviram-se igualmente das Canárias como o ponto de apoio para as suas
navegações de comércio e corso nas costas africana e americana. Entre 1524 e 1600
contam-se treze viagens em que aportaram a este arquipélago, sendo de salientar a de John
Hawkins em 1564 e a de Francis Drake em 1581 eo).
A escala da rota de retorno das principais carreiras oceânicas passava obrigatoriamente
pelos Açores. Este arquipélago surge, desde princípios do século XVI, como o principal
ponto de apoio para essa navegação, sendo para os espanhóis as «Canárias de los
retomas» (11).
Ambas as escalas são imprescindíveis à navegação e comércio atlântico. As dificutdades
e delongas da viagem de retorno implicavam uma paragem retemperadora em pleno oceano,
onde fosse possível reparar os danos das embarcações, fazer o aprovisionamento de víveres
e de água. Por vezes os portos açorianos apresentavam-se como o reduto seguro para a
protecção e defesa de qualquer assalto corsário. Tudo isso oferecerá a praça de Angra, onde
a càroa portuguesa centralizou serviços e infraestruturas de apoio, como a Provedoria das
Armas, a partir de 1527et2 ).
Segundo o testemunho de viajantes, na segunda metade do século XVI a cidade de
Angra, mercê de uma forte rede de fortificações e de bom porto de abrigo, era o principal
entreposto comercial do tráfego oceânico na rota de retorno. Pompeo Arditi, em 1567,
refere que "à ilha afluem muitos navios por ser mais cómodo à navegação do que qualquer
das outras; por isso nela tocam todos os vindos das Índias orientais e ocidentais, do Brasil,
São Tom6; Mina e Cabo Verde, a abastecer-se de mantimentos, parecendo que Deus põe
milagrosamente esta ilha no meio de tão grande oceano para salvação dos míseros

211-213; Manuel Lobo Cabrera, "Oran Canaria y Indias ( ... h in IV C.H.C.A., vol. I, 111-128; Clarence H.
Haring, Comercio y navegación entre Espana y las fndias. México, 1979, 23.
(6) Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L.o I. 87) refere que o comércio, do vinho em Las Palmas se
desenvolveu pela necessidade que havia dele para abastecer os navios da carreira de Indias; veja-se infra II. a parte,
cap. II, sobre o comércio canário-americano.
n Pierre Chaunu, Séville et I'Atlantique. T. VIII, 378-380.
(8) J. G. Salvador, Os cristãos novos e o comércio atlântico meridional. S. Paulo, 1978, 241-242.
(9) Enriqueta Vila Vilar, "Las Canarias como base de aprovisionamento de navios portuguêses", in II
C.H.C.A .. vaI. I. 1977, 287, 293; Idem, Hispanoamerica y el comercio de esclavos. Sevilha, 1977.
e o) Richard Hakluyt, The Principal navegations ( ... ), 12 vais., Glasgow, 1903-1905 (reedição de 1982),
t. VIII, 160, 297, 310, 407; t. IX, 361, t. X, 11-12,98, 184,204,452; t. XI, 44, 278, 384; J. W. Blake,
Europeans in West A/rica. 1450-1560. voI. II, Londres, 1946, 250; Antonio Rume~ de Annas, Pirater~as y
ataques Iwvales col1lra las islas Canarias, 5 vais., Madrid, 1947-1950; Idem, Los vwges de John Hawkl1ls a
Canarias. Sevilha, 1947.
(11) Pierre Chaunu, Sevilla y America. Siglos XVI y XVII. 44, 55-58.
(12) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Annadas da Ilha Terceira e a carreira da Índia no
século XVI, in /I Seminario Internacional de Historia Indo-Portuguesa (no prelo).

18
navegantes, que muitas vezes lá chegam sem mastros nem velas, ou sem mantimentos e aí
e
se fornecem de tudo» 3 ). Vinte anos volvidos Mosquera de Figueiroa corrobora esse
movimento do porto de Angra, dizendo que «es mucho el comercio com las Índias
Orientales y Ocidentalis, por ser escala importantissima para el refresco y refugio de sus
armadas, por tener en si agua en abundancia muy delgada y saludable» 4 ). e
A participação madeirense na carreira das Índias foi esporádica. justificando-se esta
ausência pela posição marginal em relação à sua rota. Todavia a Madeira representa um
porto de escala muito importante para as navegações portuguesas para o Brasil, Golfo da
e
Guiné e Índia s ). Desde o século XV que ficou demarcada essa posição da escala
madeirense para as explorações geográficas e comerciais dos portugueses na costa ocidental
africana. Esta opção pela Madeira adveio dos conflitos latentes com Castela pela posse das
Canárias. A expansão comercial de finais do século XV, com a abertura da rota do Cabo,
veio valorizar mais uma vez esta escala aquém equador, surgindo inúmeras referências, em
e
roteiros e relatos de viagens. à escala madeirense 6 ). Os mesmos ingleses que utilizaram as
Canárias tocavam com assiduidade a Madeira, onde se proviam de vinho para a viagemet 7).
A Madeira, como as Canárias, muito raramente foi escolhida como escala de retorno
- uma vez que essa missão estava, por condicionalismos geográficos, reservada aos
Açores. Todavia verificou-se ocasionalmente a escala das embarcações vindas da Mina.
Índia e Índias na Madeira. Em 1520 o monarca determinava o modo de transporte de carga
da nau de D . Diogo de Lima, originário da Índia, para o reino, enquanto em 1528 André
Soares. capitão de uma nau oriunda de Mina, reclamava ao provedor da fazenda . Aí
atacavam não só as naus do comércio americano e índico, mas também as embarcações do
comércio insular 1581, mas de acordo com a opinião de Filipe II essa prática era assídua
nestas últimas décadas do séculoe 9 ).
A posição demarcada do Mediterrâneo Atlântico no comércio e na navegação atlântica
fez com que as coroas peninsulares investissem aí todas as tarefas de apoio, defesa e
controle do trato comercial. As ilhas eram os bastiões avançados, suportes e símbolos da
hegemonia peninsular no Atlântico. A disputa pela riqueza em movimento neste oceano será
feita na área definida por elas, pois para aí incidiam piratas e corsários ingleses, franceses e
holandeses, ávidos das riquezas em circulação nas rotas americanas e índicas. Uma das
maiores preocupações das coroas peninsulares terá sido a defesa das embarcações que
sulcavam o Atlântico em relação às investidas dos corsários europeus. A área definida pela

e 3
) "Viagem de Pompeo Arditi ... », in B./B./.T., VI, 1968, 179.
e 4) "Conquista da Ilha Terceira em 1583», in Arquivo dos Açores. IV, 281. Idêntica é a opinião de J. H.
Linschoot cm 1589 ("História da Navegação ( ... )>>, in B.l.H./.T.. I, 1943, 154) de Gaspar Frutuoso (Ob. cil ..
lo" VI, 1963, 13) c do Pe. Manuel Luis Maldonado (Phoenix AnW'ense, cit. por Hélder Lima, Os Açores na
economia atlântica ( ... ), Angra do Heroísmo, 1978, 125-127). Veja-se ainda Marcelino Lima, Anais do
Município da Horta, Famalicão, 1940, 629; Cesareo Fernandez Duro, La conquista de los Açores ell /583,
Madrid, 1886, p. 9; Maria Olímpill dll Rochll Gil, «O porto de Ponta Delgada e o comércio açoreano no
século XVII ( ... )>>, in Do Tempo I' d" HistlÍria, III, 1970, 67-70.
e s ) Pierre Chaunll, Séville et I'Atlantique. t. VIII. 442-448; José Gonçalves Salvador, ob. cil .. 242.
e 6
) Em 1508 a armadll de Jorge de Aguiar com destino il Índill pllSSOU pelll MlIdeim (José RlImos Coelho,
Alf(un.\' documentos do Arquivo NlIciorlul da Torre do Tombo acerca das NllVef(ações dos Portllgllêses. Lisboll,
1892. 197), Veja-se Luis de Albuquerque, m·t, cit,. 142; António dll Silva Rego. art. cil .. 81; Frédéric Mauro. Le
Portllfial l't I'Atlmltiqlle ali XVlle sil\'le, 490-491.
(17) J, W. Blake. Ellropeans in West A/rica. /450-/560, vol. II, Londres, 1942,250,327-328,361,398;
Richllrd HlIkluyt, ob, cil .. l. VIII, 424, t. X, 11-12, 93, 266.
e s ) A.N.T.T .. C.C .. II. 89-137. carlll régia de 26 de Abril de 1520, /bidem, II, 153-26, auto de
requerimento de 17 de Dezembro de 1528.
(19) Joel Serrão, "Holandeses e ingleses em portos de Portug1l1 no domínio filipino». in D.A.H.M.,
n.O 3, 9-13.

19
Península Ibérica, Canárias e Açores era o principal foco de intervenção do corso
europeu eo)sobre os navios que transportavam açúcar ou pastel ao velho continente 1 ), e
Sendo o ouro, a prata e as especiarias orientais os principais alvos da cobiça dos
corsários, lógico será admitir que a intervenção destes se fizesse em particular entre os
Açores e o Cabo de S, Vicente (22), Foi tendo em conta essa insegurança das embarcações e
das ilhas açorianas que, em 1543, Bartolomeu Ferraz traçou um plano de fortificação desse
arquipélago, justificado, segundo ele, "porque as ilhas Terceiras importarão muito assy pelo
que per ssy valem como por serem o velhacoute e socorro muy principal das naos da Índia e
os franceses sserem tão dessarrozoados que justo vel injusto tomão tudo que podem» 3 ). e
Outra e não menos importante preocupação das referidas coroas incidia sobre o comércio
ilegal que aí se fazia com as mercadorias do Novo Mundoe 4 ). Deste modo as necessidades
da defesa e da vigilância, bem como da guarda e da protecção das armadas ou frotas
implicaram a criação de estruturas capazes de manter com segurança e vantagem o
monopólio comercial ibérico.
Desde o início da escala das rotas que esta situação de insegurança se evidenciará, pelo
que ambas as coroas delinearam, em separado, um plano de defesa e apoio às suas
~mbarcações. Da parte portuguesa promulgara-se em 1520 o regimento para as naus da
lndia nos Açores, no qual se estabelecem as formas de intervenção à chegada das naus da
Índia ao arquipélago. Define-se nesse diploma o modo de segurar a mercadoria das mãos do
contrabando e corso, o abastecimento necessário para a viagem até Lisboae s ). A insu-
ficiência destas prerrogativas tornou necessária e urgente a Provedoria das Armadas da
Índia, Brasil e Guiné, sendo seu provedor, desde 1527, Pera Anes do Canto. Depois, a
partir da década de 30, procurou-se delinear um plano de defesa das principais ilhas do
arquipélago, com particular incidência para os portos de apoio de Angra, Ponta Delgada e
Horta.
Ao provedor competia a superintendência de toda a acção de defesa e abastecimento
das embarcações em escala ou em passagem pelos mares açorianos 6 ). Além disso a sua e
acção de apoio alargava-se à Armada das Ilhas, criada expressamente para comboiar, desde
o Corvo até Lisboa, as embarcações vindas do Brasil, Índia e Mina, e a fiscalização do mar
dos Açores. No período de 1536 a 1556 há notícia de pelo menos doze armadas terem sido

eo) Avelino Teixeira da Mota, "As rotas marítimas portuguesas ... »,28.
e l
) Só em meados do século XVI os corsários franceses tomaram 30 navios espanhóis e portugueses
carregados com açúcar para Flandres; M. Mollat, Le commerce maritime normand ( ... ), 502. Veja-se António
Rumeu de Armas, oh. cit., Frédéric Mauro, oh. cit., 447; Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores
110 século XVII ( ... ), 307-352; Elias Serra Rafols, «Introdución», in Amerdos dei Cabildo de Tenerife, IV,
pp. IV-V; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutierrez. 11-12; "Defesa da navegação de Portugal contra os
Franceses 1552 •• , in Arquivo Histórico Português, VI, 1908, 161-168; v. Fernandez Asis, Epistolario de Filipe /I,
Madrid, 1943, passim; Antónia Haredia Herrera, Catálogo de las consultas dei Consejo de lndias, 2 vaIs.,
Madrid, 1972.
(22) Há notícia da presença francesa ao largo dos Açores em 1543, 1551, 1552, 1553, 1557-1561, 1571,
1577, 1581, 1583, 1587, 1590-1591. Veja-se nota 21 e A.G.I. Real Ratronato-gobiernd. leg. 268, fls. 283-90
"Arehivo General de Índias .. , in Boletim de Fi/moteca Ultramarina Portuguesa, n.o 26, 1964, 68-70; A.G.I..
Secretaria de Estado leg. 371. doe. 84, lhidem. n.O 45, 1971,260,
e 3 ) A.N.T.T., Cartas Missivas, maço 3, n.o 205, s.d., earta de Bartolomeu Ferraz, pubI. in Arquivo dos

Açores, V, 364-367.
e 4 ) Eufemio Lorenzo Sanz. oh. cit., voI. II, 123, 127. 330-342.

e s ) A.N.T.T., Leis, maço 2, n.O 167, publ. in Arquivo dos Açores, II, 29-33.
e 6
) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas da ilha Terceira ( ... )>>

20
enviadas nessa missãoe 7 ). E, entre 1531-1535, Duarte Coelho era capitão-mar da armada
no Atlântico, tendo-se deslocado em Abril de 1535 com os seus navios aos Açores, onde
permaneceu até Julhoe s).
Por vezes essa armada não chegava atempadamente aos Açores ou os poucos navios
que aí chegavam eram insuficientes para a defesa das frotas, pelo que o provedor era
forçado a armar ou fretar embarcações para a referida missão. Assim sucedeu entre 1532 e
e
1555 por onze vezes 9 ). Esta incerteza da vinda da armada das ilhas e a presença constante
dos corsários franceses levaram o provedor, em 1537, a apresentar ao monarca um plano de
construção de caravelas para a referida armada nas ilhas eo). Aliando a este projecto de
criação de uma armada insular surge, em 1543, o plano de defesa dos Açores, traçado por
Bartolomeu Ferraz, como forma de dissuasão aos corsários francesese 1 ). Todavia só muito
mais tarde, em face do agravamemto da acção dos corsários nórdicos e franceses, se tornou
possível a concretização desse plano de fortificação das ilhas, com a construção dos castelo
de S. Brás (1553) no porto de Ponta Delgada, do Castelo de S. Sebastião (1572) na baía do
Porto Pipas (Angra) e de um baluarte (1572) na baía da Horta (32).
Sendo a Terceira o mais importante porto de escala da Carreira das Índias, os monarcas
espanhóis viram-se, por diversas vezes, na necessidade de solicitar o apoio do provedor das
armadas às embarcações espanholas que por aí passavame 3 ). Mas o menosprezo português
ou a necessidade de uma guarda e uma defesa mais eficazes das armadas da América
exigiram uma reorganização do sistema de frotas da Carreira de las Indias. Assim desde
1521 estas passaram a representar uma nova estrutura organizativa e defensiva, primeiro
com a criação do sistema de frotas anuais armadas ou ocasionalmente escoltadas por uma
armada protectora, depois, a partir de 1555, com o estabelecimento de duas frotas anuais
para o tráfico americano: Nueva Espãna e Tierra Fiermee 4 ). Para além desta regulamentação
rigorosa das frotas definira-se, desde 1521, a necessidade da sua escolta na área definida
pelo Cabo de São Vicente, Canárias e Açores. A partir de então as armadas espanholas
passaram a surgir com frequência nos Açores, a aguardar as naus da Índiae S ).

(27) Ihidem; conhecem-se os regimentos dados em 1572 e 1575 a Pedro Correia de Lacerda, veja-se Artur
Teodoro de Matos. Os Açores e a carreira das Índias no século XVI, 965.
Para o conhecimento da acção desta armada confronte-se Gaspar Frutuoso, oh. cit .. 1.0 IV, cap. XXI; Maria
Olímpia da Rocha Gil, O Arquipélago dos Açores no século XXVII, 350-352.
es) Avelino Teixeira da Mota, "Duarte Coelho, capitão mor de armadas no Atlântico (1531-1535)", in
/I Colóquio Luso-Brasileiro de História do Brasil, publ. in Revista das Çiéncias do Homem, vaI. IV, série A,
Lourenço Marques, 1972, 301-352.
(29) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das armadas da ilha Tereeira( ... )"
eo) A.N.T.T., C.C., 1-49-91, carta régia de 1 de Setembro de 1532, publ. in Arquivo dos Açores, I,
120-121.
e t
) Documento já citado na nota 24.
e 2 ) A.N.T.T., C.C. rV-37-12, 23-III-155I, carta de Manuel Nunes Ribeiro ao rei, publ. in Arquivo dos

Açores, III, 18; B.A.P.D. Fundo Ernesto do Canto, ms 10, "Extractos de documentos michaelenses", vol. VIII,
n.o 219, carta régia de II de Julho de 1572; Francisco Ferreira Drumond, Anais da !lha Terceira, 1,649; Gaspar
Frutuoso, oh. cil., 1.° vr, 23; G. Perbellini, "Fortificazioni delle isole di Sâo Miguel e Terceira nell'archipé1ago
delle Açores", in R. Castel/um. n.o 13, Roma, 1971.
C3 ) Assim sucedeu em 1518, 1547, 1548 e 1571; veja-se Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira
das índias no século XVI, 100-101. No período de 1518 a 1598 há notícia da escala e assistência, por quarenta
vezes, à armada da América na Terceira, tendo-se guardado em terra, por dezoito vezes, ouro e prata. Veja-se
ainda Manuel Gonçalves da Costa, "Mártires jesuítas nas águas das Canárias (1570-157]) .. , in A.E.A., V, 1959,
445-482.
e 4
) Eufemio Lorenzo Sanz, oh. cit .. vol. II, 275-282.
CS ) Há notícia da presença de uma armada real n~s Açores em 1530-1532, 1537, 1539, 1552, 1554-1557,
1559.1561,1571,1572,1579-1581,1583,1587, 1590-1598; veja-se Antónia Heredia Herrera, oh.. cit., vaI. I,

21
A escolta das frotas das Índias espanholas mereceu maior atenção da coroa peninsular
nas duas últimas décadas do século XVI, mercê do reforço das investidas dos corsários
franceses, holandeses e ingleses. Depois da invasão de Portugal pelas tropas de Filipe II,
importantes almirantes da armada espanhola passaram a surgir com assiduidade no mar
açoreano a capitanear armadas de defesa e protecção das referidas frotas. Assim, foram
incumbidos dessa missão Don Álvaro Bazan (1580, 1590-1591), D. Pedro de Valdés (1581)
e o Marquês de Santa Cruz (1587)(36).
Conhecida e sistematizada a importância destes arquipélagos na navegação e comércio
Atlântico, importa discernir qual o impacto deste movimento na sociedade insular e qual a
paricipação dos insulares nesse trato de mercadorias, sob a forma de contrabando ou não.
Muitos estudiosos têm afirmado o reduzido proveito de algumas ilhas que desempenharam
um papel de relevo neste trato, como sejam as ilhas açorianas. Todavia as principais
contrapartidas económicas da intervenção destas ilhas assentam, fundamentalmente, na
prestação de serviço a essas rotas. Se a partir da Madeira e das Canárias estava facilitada a
actuação dos insulares com o Novo Mundo, por meio da produção local do vinho, cereais e
queijo, nos Açores apenas se verificava uma intervenção de apoio ou então uma intromissão
no contrabando das especiarias, açúcar, ouro e pratae 7 ). As possibilidades de comércio
directo esbarravam com um apertado sistema de vigilância e limitação criadas pelas coroas
peninsulares, que impossibilitava seu desenvolvimento. Deste modo para o ilhéu o maior
benefício terá resultado de uma remuneração indirecta por meio do abastecimento das
embarcações em escala, da faina de apoio e reparo das mesmas. Pelo menos esta era a
situação que se vivia na ilha Terceira, como nos retrata Pedro Frias em finais do
século XVI: «a gente desta Ylhas eram inclinadas a seu jnteresse do qual vjvjam e se
sostentavão êj era vemderem has armadas de Castela e de Portugal, as crjações, os frutos,
que Recolhjam e os oficjaes suas obras que tjnham p.to pera o tempo das frotas e nam
podjam vjver sem esta comunjcaram» e s ).
O aprovisionamento das naus das diversas frotas que sulcavam o Atlântico era uma
preocupação constante das coroas peninsulares, pelo que nos diversos regimentos para as
referidas frotas e para as estruturas de apoio nestas criadas nos arquipélagos era dada a
especial importância a esse serviçoe 9 ).
Os arquipélagos madeirense e canário tiveram uma acção muito influente no aprovi-
sionamento das naus da Índia em vinho, legumes frescos, carne, água e lenha. No caso das
Canárias essa situação é-nos descrita, de modo exemplar, por Gonzalo Fernándes de Oviedo

103, 141, 323-326; vol. II, passirns; V. Fernandez Asis, oh. cit., pp. 34-35, 59-60, 63-64, 148, 349; Artur
Teodoro de Matos, ibidem. pp. 100-102.
e 6
) V. Fernandez, oh. cit., /z.o 673,686,704, 1802, 136, 142; Antónia Heredia Herrera, ob. cit .. vol. I,
n.o 870, 872-873 (23 a 24 de Maio de 1581); Archivo General de Simaneas, Guerra Antigua, Legajo 104, doe.
13,17,18,25,148,241 (Junho a Julho de 1580); ibidem, legajo 250, doe. 10,23-27 (Julho a Agosto de 1589). A
armada que saíu a 8 de Abril de 1581 era composta de sete navios. dirigindo-se cinco para São Miguel, um para a
Terceira e o outro à Madeira ("Archivo General de Simancas» in Boletim da Filmoteca Ultramarina POrtl/fil/l',I'lI,
n.o 38 a 40, 1969, 29-31).
e 7
) Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das Índias 110 século XVI, 105-106; Idem. "A
Provedoria das Armadas da ilha Terceira ..... ; Maria Olímpia da Rocha Gil. ibidem 339-364.
eH) Pedro Frias, Crónica dei-Rei D. António. Coimbra, 1955, 31.
e 9
) Tenha-se em consideração o regimento para as naus da Índia nos Açores de 1520, bem como o
regimento da armada capitaneada por Fernão Soares (A.N.T.T. Gavetas, 15-20-1. cit, por José Ramos Coelho,
ob. cit.• 1160-1183). Segundo Luis de Figueiredo Falcão (Livro em que contem toda a fazenda ( ... ), Lisboa,
1859, 200 e 205) o mantimento e apetrechos de uma nau de quinhentas e cinquenta toneladas com duzentos e
cinquenta soldados e cento c doze tripulantes orçava em trezentos e cinquenta e quatro mil reis. Sobre a
alimentação a bordo veja-se: Moreira Braga, "Perspectiva sobre a alimentação a bordo de uma caravela portuguesa
no século XVI», in Aliais do Clube Militar Naval. n.o 113, 1983.381-390; Jean Merrien, A vida quotidiana dos
Marinheiros no tempo do Rei-Sol. Lisboa, s.d., 87-90.

22
em 1534: «Tornando el viaje deste camino de muestro Índias, digo pues que de una destas
siete islas en especial de Gran Canaria, o la Gomera, o la Palma (porque estan en mas
derecha derrota y alproposito, e som fertiles a abundan de abastimentos y de lo que
conviene a los que esta larga navegación haccen tomam alli los navios refresco agua e lena e
pau fresco e gallinas, e pescados sallados e pagos que las naos saean de Espana» (40).
Na Madeira habitualmente faziam escala as naus portuguesas da rota da Mina, Brasil e
Índia, que aí se abasteciam de vinho e lenha; por vezes, muitas embarcações espanholas
também apartavam à ilha antes do habitual refresco das Canárias. Assim sucedeu em 1498
com a expedição de Colombo (41). Esse serviço de apoio às embarcações portuguesas era
assegurado e pago pelo provedor da Fazenda da Ilha (42). Dele apenas se referencia, em
1517, a entrega de oitenta arrobas de lenha a uma nau que se dirigia à Índia e do envio ao
reino, em 1531, de duzentas pipas de vinho para a frota da Índia (43). Por vezes as
embarcações escalavam a ilha para tomar o vinho necessário para a viagem. Aliás não foram
só os portugueses que utilizaram o vinho madeirense na ementa das naus que sulcavam o
Atlântico, pois também os ingleses o fizeram por diversas vezes; é o caso, em 1533, da
escala de Richard Eraen na sua viagem à Guiné, que tomou algumas pipas de vinho no
Funchal (44). A Madeira também provia as embarcações de retomo que por aí passavam;
assim sucedeu em 1528 com uma nau régia capitaneada por André Soares, procedente de
Mina, que recebeu do provedor da fazenda biscoito, pescado, azeite e vinho para sustento
dos dezoito tripulantes, no período de vinte dias de viagem até Lisboa (45).
As embarcações régias que iam à Madeira carregar açúcar para o reino ou principais
praças italianas e flamengas eram igualmente abastecidas pelo almoxarifado dos quartos e
quintos conforme a duração da viagem e número de tripulantes (46). De acordo com o
regimento de 1520 o almoxarifado do Funchal deveria assegurar o reparo e abastecimento
dos navios. Esse aprovisionamento era atribuído de acordo com a demora do percurso;
assim, os que se dirigiam ao reino recebiam mantimentos para vinte dias, sendo de quarenta
dias para poente e sessenta para o levante (47); esses mantimentos consistiam em carne,
peixe, biscoito e vinho e eram distribuídos em rações individuais à tripulação. Em 1508 há
informação da ração completa da nau «S. Martinho» com quarenta e cinco tripulantes que se
dirigia para o levante; cada tripulante recebeu duas arrobas de biscoitos, dois almudes e
meio de vinho, duas pescadas e meia e uma arroba de carne (48).
Nos Açores, desde 1520 que o referido abastecimento às naus da Índia, Brasil, Mina e
Guiné fora regulamentado, ficando essa missão a cargo do provedor das armadas. O dinheiro
para essas despesas era retirado das receitas do almoxarifado de Angra, tendo-se fixado em
1539 no valor de quarenta mil reais o quantitativo máximo a despender nesse serviço (49).

(40) G. Fernandez de Oviedo, I, lib. 2, cap. 9, p. 36, cit. por Pierre Chaunu, Séville et 'At/antique. t. VIII,
vol. I, 354(4).
(41) Bartolomeu de Las Casas, História de Las índias, vol. I, México. 1981, 496-497.
(42) A.N.T.T., C.C .. 11-87-162. 20 de Fevereiro de 1520. treslado do regimento do almoxarife e oficiais
dos contos.
(43) lbidem. II, 69-71, 25-IV-1517; ibidem. 11-166-13. 9-XII-1530.
(44) J. W. Blake, ob. cit.. vol. II. 314.
(45) A.N.T.T., C.C .. II-I 53-26, 17-XII-1528.
(46) Idem. NA .. n. o 903, foI. 12; Idem, C.C., II-72-Il. 20-VII-1508; /bidem. II-15-52, 30-VIII-1508;
lbidem, II-159-28, 7-X-1529.
(47) lbidem. II-87-162, 20-II-1520.
(48) lbidem, I1-15-52, 30-VIII-1508.
(49) B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms 78, t. I. l.a parte. fls. 2-2 v.o e I. I, 2. a parte, fls. 42-43,
provisões de II de Agosto de 1539 e 19 de Maio de 1548. Por vezes há até grandes dificuldades no pagamento.
Veja-se Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas na ilha Terceira ... "

23
Em 1523 o refresco da caravela "Santo António», capitaneada por Pedro Camelo, custou
quatro mil e seiscentos reais, tendo o dito recebido seis carneiros, duas dúzias de galinhas,
uma arroba de azeite, pão fresco, madeira e lenha (50).
A assiduidade da escala terceirense, a partir do fim do segundo quartel do século XVI,
aliada à conjuntura difícil da produção cerealífera terceirense, vieram causar dificuldades à
acção de reabastecimento das naus. As insuficiências de gado, pescado e trigo na Terceira
obrigavam o provedor das armadas a adquirir estes produtos nas ilhas vizinhas, designa-
damente em S. Miguel, S. Jorge, Faial e Pico (51).
Em certa me-dida, e de acordo com a opinião do Pe. Manuel Luis Maldonado, esta
escala apresentava-se proveitosa para o burgo angrense, uma vez que com ela se adquiriram
moeda e metais preciosos a troco de carne, panos, fruta, pão, vinho, legumes e peixe (52).
Todavia, a imposição da obrigatoriedade do fornecimento das naus em escala da armada das
ilhas apresentava-se como um pesado encargo para os açorianos.

(50) A.N.T.T" C.C., III-7-111, 27 de. Julho de 1523, carta de Pero CaroeHo Pereira ao contador, com
recibo, publ. Arquivo dos Açores, II, 42.
(51) Gaspar Frutuoso, oh. cit., L,o VI, 13,57-59, Artur Teodoro de Matos, «A Provedoria das Armadas da
ilha Terceira ..... ; Alberto Vieira, «A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII (,. ')", in Arquipélago,
série História e Filosofia, vol. VII, 1985, 135-136, 142-143.
(52) B.P.A.A.H., Fenix Angrense, alento 3. 0 , fl. 96, cit por Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a
carreira das índias no século XVI, 104; B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms. 29, fls. 7-21, 28-II-1574,
carta do colégio de Angra para as mais províncias.

24
SEGUNDA PARTE

4
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
o COMÉRCIO INTER-INSULAR

I. FACTORES

O comércio no mercado insular depende da intervenção de múltiplos factores, activa-


dores ou não do sistema de trocas. Assim, se os produtos surgem como o elemento
justificativo e vitalizador das trocas comerciais, não são por si só suficientes para a sua
manutenção. Torna-se, pois, necessário a criação de condições que as favoreçam, como os
meios e vias de comunicação adequados, agentes habilitados para os diversos serviços e
instrumentos de pagamento ajustados ao volume e duração de trocas.
O comércio surge neste contexto como uma consequência lógica de todos esses
condicionalismos e o seu nível de desenvolvimento dependerá em muito do estádio atingido
por esses factores. Nesse sentido o comércio é, ao mesmo tempo, consequência e causa do
desenvolvimento da sociedade e economia insulares, pois resulta de um determinado estádio
de desenvolvimento dos factores assinalados e, simultaneamente, influencia estes, bem
como a sociedade insular, em geral. Terá sido o surto do comércio açucareiro que, na
Madeira e nas Canárias, condicionou o desenvolvimento de infraestruturas portuárias e a
valorização patrimonial dos principais centros urbanos. O mesmo sucedeu na ilha de
S. Miguel com o surto do pastel.
Esta actividade, que mereceu a adesão dos ilhéus e encontrou os mecanismos adequados
a um elevado nível de desenvolvimento, não era alheia às venalidades da economia
atlântica, bem como aos obstáculos naturais e humanos. O europeu impõe e domina os
circuitos de troca, fazendo desta área uma região periférica definida como um mercado de
reserva para as suas necessidades mercantis. Além disso as coroas peninsulares, empe-
nhadas num comércio monopolista, intervêm, com assiduidade, por meio da regulamentação
exaustiva das actividades económicas, delimitando o campo de manobra dos agentes aí
intervenientes. Esse excessivo intervencionismo, as intempéries, as tempestades marítimas,
a peste, a pirataria e o corso foram os principais responsáveis pelo bloqueamento dos
circuitos comerciais em determinadas épocas das centúrias em análise.

I. I Regulamentação das actividades económicas

O comércio, bem como as mais actividades económicas estavam sujeitos a um controle


e regulamentação por parte das coroas de Portugal e Castela. Para isso contribuiu, em
primeiro lugar, a necessidade de preservar o monopólio real do comércio de determinados
produtos em áreas definidas. Em segundo e, em termos restritos das novas áreas de
ocupação atlântica, essa intervenção constante da coroa e dos municípios tinha como meta o
abastecimento local, bem como a definição dos produtos adequados que merecessem uma
troca valio$a no mercado atlântico-mediterrânico. Aí, a coroa, por meio de repartições

27
adequadas (almoxarifado, provedoria da fazenda) e com a colaboração das instituições
locais (a vereação) exercia esse controle e ditava as medidas necessárias ao cumprimento e
manutenção da sua política económica.
Tendo em conta que a primeira situação mereceu já tratamento adequado por especia-
listas de renome, apenas nos deteremos sobre a segunda, encarada, é certo, ao nível do
mercado insulare).
A economia insular, como vimos, estrutura-se na consonância dos vectores marcantes
da política expansionista europeia, com as diferenças ou as assimetrias resultantes da
estrutura do solo, do clima e do seu posicionamento geográfico. Todo este conjunto de
factores definirá um processo peculiar de cada grupo destas ilhas. De acordo com esse
dimensionamento teremos a definição e regulamentação das actividades económicas da
sociedade insular. Há necessidade, por parte das administrações central e insular, de exercer
um estrito controle destas actividades nos seus múltiplos aspectos, no sentido de assegurar o
cumprimento de uma dada política, acima referida.
Esta preocupação é constante e abrange todos os sectores de actividade. As autoridades
municipais e régias intervêm na produção, no processo transformador das matérias-primas,
na distribuição e no comércio dos produtos locais e estrangeiros. O município legisla sobre
a forma de postura e de acórdão, regulamentando com minúcia todas as actividades
sectoriais acima enunciadas; a coroa, por sua vez, através das instituições próprias, intervém
por meio de regimentos e alvarás. Deste modo os produtos e as actividades que definem a
economia de subsistência e de mercado sujeitavam-se ao intervencionismo municipal e
régio; esta actuação regia-se pelos princípios básicos da comunidade insular de provisão,
qualidade, preço, peso e medida adequados desses produtos.
As repartições régias surgem, muitas vezes, como mecanismos coarctivos, tendo como
finalidade básica a defesa do património real. A sua acção tem como princípio impedir a
vigência e generalização de práticas fraudulentas e lesivas desse património. O contrabando
surge, neste circuito, ao mesmo tempo como causa e consequência deste apertado sistema
de controle de produtos no mercado insular, pois, como é bem sabido, a excessiva
regulamentação dos mecanismos de troca, para além de entorpecer e de retardar esta, cria 0'1
toma inevitável o aparecimento de circuitos paralelos. Ao mercador insular e europeu não
satisfazem estas medidas intervencionistas da coroa e do município, pois limitam o seu
restrito campo de manobra e oneram a sua acção; daí que ele actue de modo a poder ter uma
intervenção activa na formulação das normas, ao mesmo tempo que se serve de subterfúgios
para contrariar as leis e normas vigentes.
Como atrás enunciamos, este intervencionismo é geral, uma vez que atinge os vários
sectores de actividade: produção, actividade artesanal ou transformadora e comércio. De
seguida daremos conta dessa intervenção, de modo separado, de acordo com os referidos
sectores de actividade e com os produtos, ou seja, com as componentes da economia
insular.

Produção

A intervenção das autoridades inicia-se com a distribuição das terras para arrotear, em
que se define não só o proprietário, a forma de sucessão e os limites das arroteias, mas
também os produtos adequados para o seu cultivo e).
Esta última situação resultava, em

e) Para Portugal veja-se Fernando Navais, Estrutura e Dinâmica do Sistema Colonial (séculos XVI-XV/lJ.
Lisboa, 1978; Manuel Nunes Dias, O capitalismo monárquico portllguês, 2 vaIs, Coimbra, 1964. Para Espanha
temos: C. H. Haring, Comercio y navegación entre Espana y las Índias. 2." edicão, México, 1979; Francisco
Morales Padron, EI comercio canario americano (siglas XVI. XVlI Y XVlIl) , Sevilha, 1955: Idem. Sevilha
Canarias y America, Oran Canana, 1970, Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana com America en la época
de Filipe 1/, 2 vols. Valladolid, 1979-1980.
e) Acerca da repartição das terras veja-se Fernando Jasmins Pereira, A ilha da Madeira no período

28
primeiro lugar, de política expansionista europeia e, em segundo, da necessidade de
assegurar a subsistência das ilhas. No primeiro caso salienta-se o lançamento de produtos
coloniais, componentes fundamentais do comércio atlântico: o açúcar e o pastel. O mesmo
sucede no segundo, com a transplantação dos componentes fundamentais da dieta europeia-
-mediterrânica: a vinha e os cereais.
De acordo com estes dados temos conhecimento de algumas situações bem claras.
Assim, na Madeira, em 1492, recomendava-se o plantio das terras aráveis com trigo ou
cevada enquanto, em 1508, se ordenava que «se nam rompa em toda essa ylha terra pera se
em ella se aver de lavrar e semear pam nem pera outra alguiía cousa somente pera se
fazerem canaveaes pera açuquares» e).
Na ilha de S. Miguel definira-se, em 1532, que as
terras de cultura estavam reservadas para o trigo e pastel, principais produtos da economia
micaelense (4). No que respeita às Canárias é significativa a actuação dos governadores de
Tenerife e Gran eanaria, o primeiro apostado na cultura da cana do açúcar e o segundo num
conjunto de culturas capazes de assegurarem a subsistência e um comércio rendoso (5).
O incentivo à produção açucareira, na Madeira e nas Canárias, derivava das facilidades
do seu rápido escoamento e, igualmente, da criação de condições para o normal andamento
das tarefas agrícolas e da laboração dos engenhos; por isso se regulamentou o uso das águas,
a construção de levadas, o corte e o transporte da lenha e o reparo dos engenhos (6).
Definido o proprietário, o regime de exploração e o produto adequado ao solo e às
necessidades do momento, não estava ainda concluída a intervenção das autoridades, uma

hellriquillo, Lisboa. 1959. Sep. de Ultramar; Id .. AlgU/lS elementos para (1 eSludo da Hislória económica da
Meuleira (copilallio do FUllchol. século XV). Coimbra. 1959, pp. 87-115; Eduardo Aznar Vallejo, La inlegración
de las islas Call1lrios e/l la <'01'0110 de Caslil/a (/478-1526), La Laguna, 1983; Elias Serra Rafais, Las doIas de
Tellcr!fc, La Laguna. 1974, Elias Rafols e Leopoldo de La Rosa, Rejormación deI repartimienlo em Tenerife em
1506. La Laguna de Tenerife, 1963; Sebastún Jiménez Sanchez, Primeros repartimienlos de lierras y aguas en
Grall CO/loria, Las Palmas, 1940.
e) A.R.M. C.M.F" Ri'gislo gemI, t. I, fls. v. O ; 291. Regimelllo sobre a lenha dado à Madeira em J8 de
Agoslo de 1508, puh!. iII A,H.M" Vol. XVIII, 1974, p. 508.
(4) B.r.A.p.D., C.P.A" L.0 3 de registo, fi. 98 v.o. Note-se que em 1576 o elevado preço de carne em
Ponta Delgada era justificado por seu termo ser «caje toda a terra delle aproveitada de pastes e terras de pam",
(Id., ihieiem, L. "4 11. 83 v.", «capítulo de uma carta régia àcerea do talbo da carne", publ. in Arquivo dos Açores,
vol. III, p. 55).
(5) Veja-se Emma González Yanes, "Importación y exportación en Tenerife, durante los primeros anos de la
conquista (l497-1503)", in Revista de lIisl(Jriq, n.O 101-104. pp. 79-91; Leopoldo de La Rosa «EI repoblamiento
do los Reinos de kod y Daute", in ESludios Omarios XIV-XV, 1968-1970, 35-43 Manuela Marrero, «Los
l1amengos en los comienzos hispânicos de Tenerife", in Sludi ln memoria di Frederigo Melis, t. 1II,1978, pp.
587-588; idem, «Algunas consideraeiones sobre Tenerife en el primer tercio dei siglo XV]", in A.E.A" n.O 23
1977, pp. 373-374.
As datas de terra em Tenerife documentam de modo esclarecedor essa situação. Veja-se Elias Serra RafaIs,
Las datas de Tel/er(fe, La Laguna, 1974.
(6) Na Madeira a regulamentação do corte de árvores foi estabelecida pelos regimentos de 15 de Janeiro de
1515,27 de Agosto 1562 (Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações" in Saudades da Terra. Funchal,
1873, 436-471). As posturas da eâmara do Funchal de 1587 apresenta um título sobre os engenhos cm que se
regullllllenta o transporte de lenha e madeiras para os engenhos (A.R.M., C.M.F" Livro de Posturas, 11. 68-71).
O mesmo sucede em Tenerife e Gran Canaria. Veja-se Miguel Angel Ladero Quesada, "Ordenanzas municipales
y regulacion de la actividade ecónomica en Andalucia y Canarias. Siglos XIV-XVII", in II C.H.C.A" vaI. II,
pp. 142-156. Quanto às águas, na Madeira e regulamentação da sua distribuição e aproveitamento fez-se desde os
iníeios do povoamento com o Infante D. Fernando, em 1461, seguindo-se outras medidas legislativas no mesmo
sentido. Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, ob cil., p. 673; Fernando Augusto da Silva, ',Águas" in
Elucidario Madeirense, vol. I, 1940, pp. 24-25; lei" "Levadas" in oh cil. vol. II, 1945,242-243. Nas Canárias
estas mereceram igual atenção das autoridades locais, tendo-se regulamentado a sua distribuição por posturas.
Veja-se Marcos Guimení Peraza, Regimen jurídico de Las agulls en Callarias, La Laguna de Tenerife, 1960;
Francisco Morales Padron, Ordcnallzas deI cimcejo de Grall CallarÍll (l53/), Las Palmas, 1974, 30; José Peraza
de Ayala, Las Ordel/allZIIS de Te/wrife ( ... ), Santa Cruz de Tenerife, 1976, V, 12, VII, VIII, 6; X 1 a 27. Em
Tenerife, o cabildo definira em 1508 não só o modo de funcionamento dos engenbos, por meio de ordenança, mas
também a forma de upanhar II cana de açuear. (Acl/erdos dei cahildo de Tellerife, II, 1952, n.o 1, p. 1, acórdão de
27 de Muio de 1508; ihid" 13, p. 9, acôrdão de II de Agosto de 1508).

29
vez que estas pretendiam não só assegurar a sua manutenção, mas também a qualidade e
preços condignos.
A defesa e manutenção da qualidade do produto colhido no solo insular é uma das
constantes da actuação das autoridades régias e locais, atingindo especialmente os produtos
da exportação: o vinho, o pastel e o açúcar. A todos se definiam, por regimentos
específicos, as tarefas de cultivo, do cuidado e da laboração final do produto, de modo a
que este se apresentasse nas condições e quantidades necessárias para a sua comercialização.
Assim, para o pastel aparece nos Açores o regimento de 1536, em que se estabeleciam
normas para a sua cultura e laboração, ao mesmo tempo que se criavam cargos de
aldeadores para assegurar o seu cumprimento e).
Idêntica é a situação na Madeira e nas
Canárias com o açúcar, que é alvo de constantes regulamentações e de um controle assíduo
dos aldeadores para o efeito eleitos em vereação (8). Deste modo, o monarca D. Manuel,
para garantir a boa qualidade do açúcar madeirense de exportação e assegurar o seu crédito
no mercado europeu, ordenara, em 1485, que todo o mestre de açúcar deveria ser
examinado e aprovado por três homens bons, ao mesmo tempo que estipulava a obrigato-
riedade de uma vistoria qualitativa ao açúcar, após a sua laboração, por oficiais competen-
tes: os aldeadores(9).
O engenho, estrutura industrial complexa e fundamental para a laboração do açúcar,
era o centro de toda a actividade açucareira e mantinha-se activo os doze meses do ano.
Enquanto durava a safra, de Janeiro a Junho, tinha intensa actividade com a laboração do
açúcar; nos restantes meses aproveitava-se a disponibilidade para as necessárias reparações,
abastecimento de lenha e víveres para a safra seguinte. Uma mão de obra especializada
assegurava as principais tarefas da sua laboração: mestre de açúcar, caldeireiro, purgador,
espumeiro, refinador, caixeiro, etc.; entretanto um grupo numeroso de almocreves garantta
a referida laboração, fornecendo as canas e lenha eo).
Deste grupo numeroso de assalariados dependia o funcionamento do engenho e bem
assim a qualidade do produto laborado. Daí que as autoridades municipais tenham acautelado
esta situação ao regulamentarem exaustivamente, por postura, as principais tarefas. Ao
mesmo tempo exigia-se que os ofícios empenhados nessas actividades fossem examinados e
aprovados pelas autoridades competentes (11). Francisco Morales Padron refere, a propósito,
que nas ordenanças de Gran Canaria (1531) tudo gira em torno do açúcar 2 ). e
(7) L. 0 de registo, 1568-1603, fis. 191-195, 13 de Outubro de 1536, «Regimento sobre o beneficiar do
pastel e enleição dos lealdeadores» , publ. por Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os Açores e a IIOW/ economia de
mercado (séculos XVI-XVl/) , in Arquipélago, III, 1981, Série Ciências Humanas, pp. 393-400. Veja-se ainda
Francisco Carreiro da Costa, A cultura do pastel nos Açores. Subsídios para a sua história, Ponta Delgada, 1966,
Sep. do B.C.R.C.A .. n. o 4 (1966).
(8) Para a Madeira veja-se Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos para a História Económica da
Madeira ( ... ), pp. 107-115, 129-138; Maria do Carmo Jasmins Pereira Rodrigues, O açucarna ilha da Madeira
(século XV/), Lisboa, 1964, pp. 38-46. Para as Canárias temos; Maria Luisa Fabrellas, "La produción de açzucar
en Tenerife .. in Revista de História, n. o 100 (1952),468-469; Guilhermo Camacho y Perez Galdós, "EI cultivo de
la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) .. in A.E.A .. n. o 7, 1961, 37-38.
(9) A.P.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fi. 219, 17 de Dezembro de 1485, Regimento sobre aldeamento do
açucar, publ. in A.H.M.. XV, pp. 192-195. Para o conhecimento da orgânica de funcionamento desta prática
veja-se Fernando Jasmins Pereira, ibid., 134-137; Maria do Carmo Jasmins Pereira Rodrigues, ob. cit., pp. 40-46.
A negligência dos aldeadores e da população em geral obrigaram D. Manuel I a recomendar com assiduidade esta
prática e enviar novo regimento em 1501 (A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. l, fls., 185 v. 0 -187, publ. in
A.H.M., XV, pp. 416-417. Ao mesmo tempo impunham-se pesadas penas aos infractores, que iam até à perda do
açúcar.
eo)' Veja-se Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ob cit., 35-39; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 392-401.
(11) Para a Madeira foi regulamentado por postura de 1587 (A.R.M, C.M.F .. L.0 de Posturas, fis. 68-71).
Nas Canárias temos idênticas posturas em Gran Canaria (Francisco Morales Padron, ibid.. 27 e 40) e Tenerife
(José Peraza de Ayala. ibid., XVI).
(12) Ibidem,pp. 26-27.

30
As actividades artesanais

As actividades artesanais estavam organizadas em ofícios, sendo estes regulamentados


por leis e pragmáticas régias e ordenanças concelhias (13). Esta intervenção das autoridades,
e especialmente a das concelhias, tinha como finalidade assegurar a qualidade de matéria-
-prima, dos ingredientes e dos métodos usados na sua laboração, de modo a que o artefacto
se apresentasse no mercado com a qualidade desejável; ao mesmo tempo a vereação actuava
no sentido de evitar a especulação, definindo uma tabela de preços para os serviços a prestar
aos artefactoset 4 ). Além disso, todo o oficial mecânico deveria ser examinado por um juíz
do referido ofício sendo, depois, obrigado a apresentar anualmente fiança e juramento
perante a vereação et 5 ).
O município, mercê deste apertado sistema de regulamentação, exarado nas posturas,
tinha sob controle todos os ofícios, bem como todas as actividades artesanais e transfor-
madoras. Destas algumas houve que, pela sua importância para a vida do burgo, mereceram
uma constante vigilância por parte dos almotacés: o moleiro, as padeiras, os vendeiros, as
regateiras, os carniceiros sujeitavam-se ao rigoroso controle destes oficiais concelhios et 6 );
esta era uma fonna de assegurar o fornecimento dos produtos essenciais para a vida do
burgo.

(13) Miguel Angel Ladero Quesada, ob. cit .. 153-154; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit .. 357-360. Leopoldo
de La Rosa Oliveira, "Los orígines de la vida municipal en Canárias», in História General de las islas Canarias.
m. pp. 155-172.
et 4
) Para a Madeira temos nas posturas de 1587 um título de "Sapateiros. tauxa; alfaytes; boieiros;
ferradores; oleiros; barbeiros; carniceiros», (A.R.M., C.M.F.. L,0 de Posturas, fls. 60 v. u -68). Nos Açores essas
actividades mereciam idêntica atenção do município, veja-se Urbano de Mendonça Dias, A vida de nossos avós.
vol. VIII. Vila Franca do Campo, 1948. 21-133; António dos Santos Pereira, "A administração municipal na Vila
das Velas na segunda metade do século XVI". in Os Açores e o Atlântico, séculos XIV-XVlf, pp. 714, 725-726;
A,C,M.R.G" L," 4 de Acôrdlios, /599, fi. 45-46 v.o, 24 de Novembro.
et 5 ) Na Madeira temos um "Título das examinações fianças. juramentos». A.R.M.• C.M.F., L.0 de
Posturas, fls, 31-32 v.o. Nos registos das vereações deparamos com uma referêneia à eleição em vere'ação dos
examinadores dos mestres de açucar, A.R.M,. C.M.F.. n." 1302, 1497, fi. 98-100 v.o, vereação de 18 de Janeiro
de 1497. O juiz para o exame dos ofícios era eleito entre os membros de cada corporação ou então pelos oficiais de
câmara. A 31 de Dezembro de 1596. na Ribeira Grande procedeu-se à eleição do juiz dos sapateiros (A.C.M.G.R.
L,°2 dos Acôrdüos, /596, fi. 34). Além disso a aprendizagem do ofício era igualmente autorizada pelo município
(A.C.M.R.G .• L,0 3 de Acôrdüos, /578, fls. 139 v.", 18 de Outubro). Veja-se ainda. Urbano de Mendonça Dias.
ob. cit., vol. VIII, pp, 40, 47-48, A questão da examinação dos ofícios na Ribeira Grande deu azo a acesa
polémica a respeito dos moleiros; o litígio surgiu em 1578 em face das reclamações da população e dos moleiros
contra Manuel Afonso; a vereação tomou primeiro a iniciativa de sugerir ao dito Manuel Afonso que solicitasse ao
juiz dos moleiros, Afonso Luis. os necessários ensinamentos, e depois, de acordo com as posturas, passou a
prover os moleiros para os vários moinhos da vila (A.C.M.R.G .• L, ° 3 de Acórdâos, /578, fls., 101-106. 28 de
Julho; ibid, fls. 119 v,o 122. 3 de Setembro); para impedir qualquer desvio recomenda ainda ao juiz examinador
que o exame se faça na presença de vereação (ibid. fi, 122 v.o, 13 de Setembro). Saliente-se que os moleiros
constituiam um estrato sócio-profissional muito importante no município da Ribeira Grande, pois esta era uma das
principais zonas de produção de trigo e aí estavam sediados a maior parte dos moinhos da ilha, Sobre as fianças
veja-se A,R,M., C.M.F .. n.o 1297, fls. 44 v.o-45, 20 de Abril de 1482; lbidem, n. u 1298, fls. 154 v.o-156;
/bidem, n.o 1299, fls. 124-128; /bidem, n,o \300. fls. 234-247; A.C.M.R.G .• L,o 3 de Acórdãos. fls. 12 v. o-14.
19-28 v. o. Idem, L," 2 de Acórdâos, fls. 40-60; Idem, L.O 4 de Acórdcios. fls, 74-139.
et 6 ) Na Madeira temos uma postura para os moleiros e outra para as padeiras. A.R.M .• C.M.F .. L.0 de

Posturas. fls. 25-30 v. o, 16 v.o-25. Nos Açores há igualmente referência a essa actuação, nomeadamente na vila
da Ribeira Grande, A.C.M.R.G., L,0 3 de Acôrdâos, /578, fls. 101-106.28 de Julho; /bid., fls. 119 v.o-I21, 3 de
Setembro. O mesmo sucede na Vila elo Topo em S. Jorge; A. Santos Pereira, ob. cit., p. 714. Para as Canárias
veja-se Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit" pp. 389-391.

31
o comércio

As coroas de Portugal e Castela exerceram um rigoroso controle sobre o comércio com


as s~as colónias no AtI~ntico. Através de Lisboa e Sevilha os dois impérios atlânticos
mantInham um regular sistema de controle das rotas e do comércio. As ilhas atlânticas
posicionadas estrategicamente nesse trama de relações económicas, viram assim toda ~
economia condicionada por uma política intervencionista e proibitivaet 7 ).
Deste modo nas Canárias, área charneira para o relacionamento com as Índias de
Castela, a coroa, por intermédio da Casa de Contratacción de Sevilha, exercía um assíduo e
rigoroso controle nas ligações entre este arquipélago e o novo continente. O seu objectivo
era impedir a quebra do monopólio andaluz e evitar o contrabando de nacionais e
estrangeiros, com o ouro, prata e açúcar das Índias. Até 1564, altura em que foi criado o
lugar de juiz de registo, o comércio feito a partir das Canárias estava sujeito a autorizações
especiais, por um determinado períodoet s). Idêntica é a situação relativamente à Madeira e
aos Açores, em relação ao comércio no litoral atlântico e, nomeadamente, com o Brasil a
partir do século XVII. No período da união das duas coroas tornou-se possível nos três
arquipélagos uma política concertada de defesa do exclusivo comercial hispânico et 9 ).
O mercado insular, pela sua importância no contexto da economia europeia-atlântica,
mereceu igualmente a intervenção da coroa: esta, por meio das diversas repartições régias
existentes nas ilhas, exerceu um rigoroso controle sobre o movimento de troca entre o
próspero mercado destas e o da Europa mediterrânica e atlântica; tal intervenção não deriva
só da necessidade de assegurar a arrecadação dos d.ireitos reais, mas também do exercício do
domínio exclusivo do comércio insular. Assim a fiscalidade e a tendência monopolista-
-intervencionista ditaram o aparecimento de instituições próprias: o almoxarifado e a
alfândega, o primeiro com a superintendência de arrecadação dos direitos reais e a segunda
com a finalidade de regular as entradas e saídas e de arrecadar os respectivos direitoseo).
A alfândega surge como a mais importante instituição para regular e controlar as actividades
de troca, sendo uma das vias mais adequadas para o controle do comércio insular. Na
Madeira a alfândega surge, desde 1477, como uma necessidade de organizar a actividade
e
fiscal e de regular o trânsito de mercadorias 1 ). A infanta Dona Beatriz organizou naquele
ano os serviços de fisco, criando duas alfândegas, uma na capitania do Funchal e outra na

e 7
) Fréderic Mauro, Le portugal et l'Atlantique ali XV/Je siecle ( ... ), Paris, 1960, 433-448; Viclor
Morales Lezcano, Relaciones Mercantiles entre Inglaterra y los archipélagos dele Atlantico ( ... ), La Laguna,
1970.
e s ) A primeira autorização data de 1535, tendo-se pennitido a carga dos produtos locais por um período de
dois anos (Reales Cédulas, 2, n.o 52, 1535) sumariado por Leopoldo de la Rosa, «Catálogo dei Archivo
Municipal de La Laguna.. , in Revista de História, n.' 101-40 3 115-116; Fransisco Morules Padron, «Fundos
Canarios en el Archivo de Índia», in A.E.A., n.O 24-25; Idem, Cedúlario de Canarias, 3 vais. Sevilha, 1970;
Eduardo Aznar Val1ejo, ob. cit., pp. 315-317; Francisco Morales Padron «Las relaciones comerciales canario-
-americanas», in Historia General de las islas Canarias, III, pp. 317-329. As referidas ordenanças, leis e
regimentos foram condenadas no livro VIII título XXXXI «Dei comercio, y navegacion de las islas de Canaria",
in Reconpilación de leya de los regnos de las Indias, UI!. Madrid. 1943, 498-508. .
(19) Veja-se Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a ca"rreira das Índias no século XVI: Lisboa, 1983, Sep.
de Estudos de História de Portugal, vol. n, séculos XVI-XX. Note-se que em 1595, 1598 e 1629 o monarca
proibira a descarga das naus das Índias no Funchal (A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. III, fls. 216 e 253; t. VI,
fls. 22 v. °-23).
e 9
)Urbano Medonça Dias, A vida de nossos avós, vaI. II, Vila Franca do Campo, 1964, 57-110; Eduardo
Aznar Val1ejo, ob. cit., pp. 121- 141. O primeiro foral e regimento doalmoxarifado da Madeira data de 4 de Julho
de 1499, a que se seguiu o foral novo de 1515. Veja-se Utbano de Mendonça,Dias, Ibidem, pp. 11-44.
e l
) Femando Jasmins Pereira, ob. cit., pp. 183-193; Álvaro Rodrigues da Azevedo, ob. cit., pp. 596-601.

32
de Machico; entre esta data e 1483 estes serviços adquirem uma orgânica adequada ao
volume das trocas madeirenses 2 ). e
Em finais do século XV e princípios do seguinte o desenvolvimento do comércio do
açúcar implicou a criação de novas alfândegas na Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calhetae 3 ).
Com a alfândega nova no Funchal, a partir de 1508, todo o serviço de exportação do açúcar
passará a fazer-se por aíe 4 ). O monarca, ao estipular esta medida, em 1512, aduzia em seu
favor a perda que a coroa tinha com a arrecadação dos direitos em diversas localidades s ). e
Até princípio do último quartel do século XV o movimento de carga e descarga, no
calhau do Funchal, fazia-se na presença dos oficiais do duque ou dos seus rendeiros; desde
então o juíz da alfândega, com os almoxarifes e os escrivães, passará a controlar toda essa
actividade, lançando os direitos de acordo com o regimento; a partir de 1497 o despacho dos
navios era supervisionado por um juíz e vereador da câmara do Funchal 6 ). e
Se os alvarás e os forais concediam aos naturais o privilégio de isenção da dízima das
mercadorias de e para o reino, o mesmo já não sucedia com os estrangeiros que, para além
de estarem sujeitos ao pagamento desse direito, viam limitada a sua acção com as medidas
proibitivas da coroae 7 ). Assim, para além da interdição de vizinhança, estes viram
restringidas as suas possibilidades de comércio pelos contingentes de 1483 e 1485; de facto,
os referidos mestres ou mercadores eram obrigados a descarregar a sua mercadoria num
prazo de três e, depois, cinco dias, pagando a respectiva dízima; caso contrário perdiam a
mercadoria; esteve-lhes também vedada até 1508 a carga na ilha, pois apenas o podiam
fazer os naturais s ).e
Nos Açores a arrecadação dos direitos reais fazia-se do mesmo modo que na Madeira,
regendo-se as referidas repartições pelos regimentos das suas similares do Funchal 9 ). No e
entanto aí elas adquiriram nesse caso uma estrutura mais complexa, e não só também mais
adequada à realidade geo-humana como igualmente ajustada à sua importância no contexto
da economia açoreana e atlântica.
Nas Canárias a fazenda real, transplantada de Castela, organizou-se de acordo com as
circunstâncias das ilhas após a conquista e o seu posicionamento no traçado das rotas

e
2 ) A.R.M., Registo Geral, l. I, 11. 231-238 v.o, Beja, de 15 de Março de 1477, .. Apontamentos da Infanta

D. Biatriz», pubI. in A.H.M., vol. XV, pp. 79-88.


e
3 ) A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, T. I, fi. 8, Beja, 23 de Julho de 1481, «carta do principe sobre a

pensam que levam hos esprivães quando despacham os açuquares na alfândega», publ. in A.H.M., vaI. XV,
p. 116; ibidem, t. I, fls. 238 v.o-249, Tomar, 12 de Novembro de 1483, «Resposta do Duque e alguüs
apomtamentos sobre hos Dereytos», publ. in A.H.M., vol. XV, pp. 147-156; lbidem, t. I. fls. 270-256, /20 de
Março de 1485/, .. Apontamentos dei Rey dom Manuell semdo Duque pera esta ylha Da madeyra» pub. in
A.H.M., vol. XV, 147-156, lbidem, l. I, I1s. 270-256 v.o /20 de Março de 1485/, .. Apontamentos deI Rey dom
Manuell semdo Duque pera esta ylha Da madeyra», pubI. in A.H.M., vol. XVIII. pp. 495-497.
(24) Sobre a construção da alfândega do Funchal veja-se José Pereira da Costa, A construção da alfandega
nova do Funchal, Lisboa, 1978, Sep. da .. Revista da Universidade de Coimbra»; António Aragão, Para a História
do Funchal. Pequenos Passos para a sua História, Funchal, 1979, 103-112.
(25) Fernando Augusto da Silva, .. Alfândega .. , inElucidário Madeirense, vaI. I, p. 38. Não obstante já em
3 de Abril de 1509 o monarca em carta ao provedor ordenara a proibição de descarga em Machico, passando esta
a fazer-se apenas no Funchal (A.R.M., C.M.F .. Registo Geral, t. I, 66 v.o). Salienta-se que a alfândega da
capitania de Machico tinha assento em Santa Cruz e manteve-se em funcionamento todo o século XVI. Não
sabemos, é certo, qual a sua forma de organização e actuação após estas medidas centralizadoras.
e6 ) A.R.M., C.M.F., n. O 1302, fl. 108 v.o, vereação de 15 de Fevereiro de 1497.

(27) Jerónimo Dias Leite, Descobrimento da ilha da Madeira ( ...), Coimbra. 1947, 30; Álvaro Rodrigues
de Azevedo, ob. cit., notas XX-XXI. Por carta régia de 1 de Junho de 1439 o monarca concedera a isenção do
pagamento da dízima, (Chancelaria de D. Afonso V, L.0 19, fi. 77 v. o, publ. J. M. Silva Marques, Os
descobrimentos portuguêses. I, n. o 314, p. 400).
es ) A.R.M., D.A .. ex. I, doe. 92.
e9 ) Urbano Mendonça Dias, ob. dt .. 11, pp. 9-10; Francisco Ferreira Drumond, Anais da ilha Terceira, 1,

481-90 e 550-551; Arquivo dos Açores, VI, 271-280; Maria Olímpia da Rocha Gil, O Porto de Ponta Delgada e o
comércio açoriano no século XVll ( ... ), pp. 58-60 e 72-73.

33
5
comerciais do Atlântico. Assim, o regime fiscal não se apresentou gravoso, pois a coroa
concedera ao arquipélago um regime idêntico ao que se fizera na Madeira e nos Açores,
várias isenções e privilégios incentivadores da sua ocupação e do seu desenvolvimento
económico eo). Todavia a grande preocupação do legislador castelhano neste arquipélago
incidia mais sobre o comércio canário-americano do que sobre o comércio canário em geral.
Disto resultaram as constantes ordenanças e instruções da Casa de Contratacción de Sevilha
aos oficiais régios das ilhas deste arquipélago (31).

Legislação

A regulamentação do comércio no mercado insular e deste com as restantes áreas do


Atlântico era uma das competências que os municípios não descuravam na sua acção
governativa. Esta intervenção resultava da necessidade de assegurar o abastecimento do
mercado local dos produtos essenciais para o quotidiano da comunidade insular; para isso os
oficiais eleitos definiam medidas, exaradas ou não sob a forma de posturas, que vão desde a
proibição de exportação de produtos locais ao reajustamento e à regulamentação dos
circuitos de distribuição e venda, e, mesmo, à proibição de entrada de produtos lesivos da
economia concelhiae 2 ). Em síntese, a sua intervenção incidia, fundamentalmente, nos
seguintes domínios:
- definição dos locais de compra e venda: a praça pública com o' seu numeroso grupo
de lojas e tendas;
- controle dos preços, por meio do tabelamento do preço de venda dos produtos
agrícolas, dos artefactos e dos serviços prestados pelos vários oficiais mecânicos;
- controle de pesos e medidas por intermédio de vistorias assíduas dos almotacés;
- proibição de saída dos produtos considerados essenciais para subsistência da
comunidade insular: trigo, gado e derivados, presunto, azeite, cera, cebo, fruta seca
e verde, madeiras, pipas vazias, tecidos e artefactos de importaçãoe 3 ).

A venda de qualquer produto deveria fazer-se em praça pública, nas lojas e tendas,
sendo proibida a venda em casa ou de porta em porta, como era hábito dos bufarinheiros 4 ). e
Os vinhos e a comida no Funchal, em 1541, apenas poderiam ser vendidos nas ruas do

eo) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., pp. 121-122 e 144; Eduardo Aznar Vallejo e Miguel Angel Ladem
Quesada, «La Hacienda Real en Canarias( ... )>>, in IV, C.H.C.A., I, Las Palmas, 1980,79·108; Pedro Cullen dei
Castillo, Incorporacion de la islas y fuero y privilegio concedidos a Oran Canaria. Las Palmas, 1978.
(31) Em 1573 enviado à ilha de La Palma um oficial real com as necessárias instruções para a carga de
mercadorias para as Índias (F. Morales Padron, .. Fondos Canarios en el Archivo de Indías», A.E.A., n,o 28, doe.
n.o 8, p. 424). Veja-se Idem, Cedulario de Canaris, 3 vais., Sevilha, 1970.
e 2
) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit.. 51 e 313-317.
(33) Cf. Elias Serra Ráfols e Leopoldo de La Rosa, Acuerdos dei cabildo de Tenerife, 3 vais., La Laguna,
1949, 1952, 1970: Eduardo Aznar Vallejo, ob.cit., 108,313-317 e 323; José Peraza de Ayala, ob. cit.; Francisco
Morales Padron, Ordenanzas del concejo de Oran Canaria, Las Palmas, 1974; A.R.M., C.M.F., L.0 de Posturas;
Urbano Mendonça Dias, A vida de nossos avós. VaI. III, Vila Franca do Campo, 1944.
e 4
) Em 6 de Junho de 1489 a vereação Funchalense proibe os bufarinheiros de venderem a retalho pelas
casas, só o permitindo em lugares e lojas públicas (A.R.M., C.M.F.. n.o 1299, fi. 103 v.O). Ao mesmo tempo o
talhar"e vender da carne só era permitido no talho (ibidem, n.O 1300, fi. 82, vereação de 12 de Maio de 1492),
mas apenas ao sábado e domingo, pois a sua venda nos restantes dias da semana estava sujeita a uma licença
especial, (ibidem. n.O 1306, fls. 37 v.o·38 v.o, vereação de 28 de Abril de 1531). Em Tenerife a venda de
mantimentos por miudo fazia-se apenas nas tendas montadas nas praças públicas dei Adelantado e de La
Concepcion. Veja-se Acuerdos dei cabildo de Tenerife, III, n.o 277, pp. 154-155,24 de Janeiro de 1522; Ibidem,
I, n.o 108, p. 216, 14 de Agosto de 1523; Leopoldo de La Rosa, «Catalogo deI Archivo Municipal de La Laguna»,
in Revista de História, n.o 101-104, pp. 249 e 251, cédulas de 1530 e 1533; lbidem, n.o 115-116, p. 110, cédula
de 1564; Eduardo Aznar VaIlejo, ob. cit.. p. 313.

34
Matoso, dos Peixes e Direita CS ). Idêntica é a situação dos artífices que vêem reduzida a sua
disseminação no burgo com a obrigatoriedade de assentarem a sua tenda num arruamento
determinado pela vereação. Esta situação facilitava a actividade do município na fiscalidade,
inspecção e controle das lojas e tendas.
O controle sobre os agentes do mercado local mais se amplia com a obrigatoriedade de
pagamento de fiança por todos os oficiais mecânicos e intervenientes nas actividades da
praça pública: vendeiros, regatões, carniceiros, etc. Muitas vezes o município vedava o
acesso a estas actividades como forma de evitar o roubo. Assim, no Funchal, os escravos e
moços solteiros que viviam de sua soldada não podiam exercer o ofício de vendeiro ou
e
regatão Ó ).
A venda dos produtos de importação estava sujeita a uma regulamentação especial, de
modo a evitar-se o açambarcamento e a especulaçãoC 7 ). Assim, só era permitida a sua
venda a retalho nove ou quinze dias após a sua entrada, respectivamente em Tenerife e no
Funchal; além disso a sua venda só se poderia efectuar após vistoria dos deputados e sua
subsequente licença, ficando o infractor sujeito a pesadas penas s). e
Nas Canárias duas particularidades evidenciam uma similar orgânica do mercado
interno. Assim, entre 1521-1522, funcionou em Tenerife um mercado franco, uma vez por
semana, que foi encerrado pelo dano que acarretava às rendas do concelhoC 9 ). Ao mesmo
nível funcionaram no século XVI feiras locais com carácter sazonal. Além disso em Gran
Canaria, Tenerife e La Palma a venda de determinados produtos de consumo em áreas
definidas era muitas vezes entregue, em regime de monopólio, a determinados moradores;
as casas de venda eram conhecidas por bodegones(40).
O controle das entradas fazia-se de acordo com as carências locais, tendo-se em vista a
necessidade de evitar a concorrência dos produtos do estrangeiro ou das ilhas vizinhas, bem
como a sua utilização como represália para com as nações inimigas; no primeiro caso temos
como exemplo a actuação do cabildo de Tenerife ao proibir a entrada de vinhos de fora e ao
incentivar a cultura da vinha(41); no segundo temos as represálias mútuas entre Portugal e
Castela, na década de 70, que surgem nas Canárias em ordens de 1476 e 1480 e na Madeira
em 1471 (42). Além disso há referência a represálias nas Canárias em 1592 contra a França e

es ) A.R.M, C.M.F., n.o 1308, fls. 5-6 v.o. Vereação de ( ... ) Janeiro de 1547.
e Assim o determinavam as posturas de 1497 e 1596. A.R.M., C.M.F., n.O 1302, f1s. 54 v.o, vereação
Ó)

de 18 de Outubro de 1497; Ibidem, fi. 69, vereação de 31 de Outubro de 1497; Ibidem. n.o 1312, f1s. 41 v.0-42,
vereação de I de Junho de 1596. Para Tenerife essa interdição abrangia apenas os escravos; Leopoldo de La Rosa.
Ibidem. n.O 101-104. doe. n. o 24, p. 262, cédula de 1560.
e 7 ) Esta é uma das preocupações constantes da vereação Funchalense e do Cabildo de Tenerife que

deliberam com assiduidade sobre isso. As penas impostas denunciam o empenho do município e a gravidade com
que estes encaravam estas situações. Veja-se A.R.M .. C.M.F.• n.o 1297, f1s. 44 v.0-45, 20 de Abril de 1482;
Ibidem. o." 1385. f1s. 42, 27 de Fevereiro de 1527; AClIerdos dei cabi/do de Tenerife. IV, n.O 373, p. 184,20 de
Fevereiro de 1523; Ibidem, n.o 374 p. 209. I de Julho de 1523.
e s ) Nas Canárias esta prática estava definida nas posturas de Tenerife e Oran Canaria; Francisco Mora1es
Padroo, ob. cil .. p. 16; Jose Peraza de Aya1a, ob. cil.; Acuerdos dei cabildo de Tellerife I, n.o 707, p. 151. 12
de Fevereiro de 1507. O mesmo sucede na Madeira a partir de 1482; A.R.M., C.M.F., n.o 1297, f1s. 45 v.o, de
26 de Abril de 1482; Ibidem. n. ° 1301, fls. 195 v.o, II de Maio de 1492.
e 9 ) AClIerdos dei cabildo de Teller!fe. IV. 0.° 261, p. 112, de 15 de Novembro de 1521; Ibidem. n. ° 263,

pp. 113-115, 18 de Novembro de 1521; Ibidem, n.o 276, pp. 122-123, 10 de Janeiro de 1522; n.o 282, Ih idem ,
p. 127, 21 de Fevcreiro de 1522. Elias Serra Rafols comenta, a propósito desta criação efémera: "se dita una
amplia ordeoanza que nos deja atónitos por su franquia y libertad tan contrarias ai habitual y minucioso
ordenancismo de la época .. (" Introducción" in ACllerdos dei cabildo de Tenerife, IV. p. XI).
(40) Eduardo Aznar Val1ejo, oh. cit., p. 108.
(41) AClIerdos dei cabildo de Tellerife, 111, 0.° 179, p. 181,22 de Dezembro de 1516; Ibidem, m, n.o 201,
p. 199,4 de Setembro de 1517; Ibidem. IV, n.O 44, p. 21, 18 de Maio de 1519; Ibidem. IV, n.o 65, p. 30,15 de
Abril de 1519; Ibidem, IV, n.O 66, p. 30, 18 de Abril de 1519; Ibidem, IV, n.o 153, p. 58, 1 de Junho de 1520;
Ibidem. IV, n.o 332, p. 160. 18 de Agosto de 1522; José Peraza de Ayala, ob. cit., p. 108.
(42) Eduardo Azanar Vallejo, Documentos Callarios ( ... ). La Laguna, 1981, pp. 1-11 does. n. o 1, 6, 24.

35
em 1596 contra a Inglaterra, o mesmo sucedendo na Madeira em 1485 contra a Escócia e
Bruges (43).
Mas se os produtos de fora não deparavam com grandes entraves à entrada, o mesmo já
não sucedia à saída; nesse caso o concelho exercia um controle rigoroso sobre esse
movimento, no sentido de coibir a saída dos produtos proibidos, porque neéessários ao
burgo; deste modo para todo o produto cuja exportação fosse autorizada, o mercador deveria
solicitar ao concelho a necessária licença de saída. O trigo, as madeiras, a carne e as
verduras faziam parte desse grupo de produtos prescritos. A sua exportação só se fazia em
condições específicas e mediante licença dos oficiais do concelho (44); e, muitas vezes, só
em condições muito especiais era facultada a sua saída (45).
Na Madeira nos séculos XV e XVI, o açúcar galvanizou as atenções das autoridades
madeirenses e régias. Este produto era, então, uma componente importante dos réditos da
ilha e da coroa e, como tal, estava sob vigilância constante do senhorio, da coroa, do
almoxarifado e da vereação. Segundo Vitorino Magalhães Godinho «o regime do comércio
[do açúcar] vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida pela intervenção quer da
coroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro,
posteriormente um conjunto de monopólios cada qual em relação com uma escápula de
outra banda» (46). Assim, desde 1469 e até princípios do século XVI, o comércio do açúcar
madeirense fazia-se num apertado circuito sob controle da coroa e de um reduzido grupo de
mercadores estrangeiros.
As tentativas levadas a efeito pelo Infante D. Fernando para fazer vigorar o contrato de
monopólio mereceram a oposição declarada e firme dos vizinhos do Funchal (47); somente
conseguiu vigorar, a partir de 1487, o monopólio régio de exportação deste produto para o
levante, um dos principais mercados do açúcar madeirense (48); e, finalmente, em 1498,
D. Manuel I, em face da difícil situação de crise comercial, limita esse comércio,
estabelecendo um máximo de produção e os contingentes para as diversas escápulas (49).
Esta situação foi revogada em 1503, mas o comércio deste produto não obteve a necessária
liberalização, pois o escoamento passou a faZer-se sob o regime de contrato entregue, na sua
maioria, a estrangeiros ou seus agentes (50).
Ao invés, nas Canárias, e mesmo nos Açores, o comércio do açúcar não suscitou a
mesma atenção e intervenção da coroa, pois que esse trato foi aí deixado à iniciativa do
grupo de mercadores nacionais ou estrangeiros; no caso das Canárias o seu comércio era
quase exclusivo dos mercadores genoveses e flamengos.
Mais do que o açúcar, o trigo e outros cereais serão o alvo primordial da intervenção

34, 47; A. Cioranescu, História de Santa Cruz. I. p. 376 (nota 44); Victor Morales Lezcano, Sinlesis de la
História economica de Canarias, Tenerife, 1966, pp. 23-24.
(43) A.R.M, C.M.F .. n. o 1296,fls. 24-24 v. o , s.d., (1471); [bidem, n. o 1298, fis. I-I v. o , 23 de Junho de
1485.
(44) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, [ n. o 529, pp. 100-101, 20 de Julho de 1506.
(45) É o caso do fornecimento das naus e armadas das rotas das índias, Índia e Brasil nos três arquipélagos.
Veja-se 1. a parte.
(46) Os Descobrimentos e a economia mundial, IV, p. 87.
(41) Ernesto Gonçalves, ..João Afonso do Estreito", in D.A.H.M.. n. O 17, 1954, pp. 4-8; Fernando Jasmins
Pereira, Alguns elementos para o estudo da história económica da Madeira, pp. 144-162; Maria do Carmo
Jasmins Pereira Rodrigues, O açucar na ilha da Madeira, pp. 91-101.
(48) Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit.. IV, p. 87; A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. I, fis. 65 v. 0 -75
v. o, Saragoça, 21 de Agosto de 1698. Apontamentos do Rei sobre o açucar, pubI. in A.H.M., XVII, pp. 372-380;
[bidem, fi. 293 v. 0 -294, Lisboa, 18 de Janeiro de 1499, carta régia, pubI. in A.H.M" XVII, pp. 382-383.
(49) Fernando Jasmins Pereira, O açucar madeirense ( ... ), pp. 56-57.
(50) A.R.M .. C.M.F., Registo Geral, t. I, fls. 288-288 v. o, Lisboa, 28 de Agosto de 1503, alvará régio
sobre a carga do açucar para Portugal, pubI. in A.H.M., XVII, pp. 445-446; Fernando Jasmins Pereira, [bidem;
Virginia Rau e Jorge de Macedo, O açucar da Madeira no fim do século XV ( ... ), Funchal, 1962, pp. 25-33.

36
assídua do município. Sendo produtos básicos da dieta alimentar insular, lógico será admitir
que os vereadores, tendo a seu cargo o regimento da terra, estivessem preocupados e atentos
ao fornecimento do cereal no mercado local (51). Numa breve passagem pelas vereações dos
séculos XV e XVI existentes para os três arquipélagos verifica-se que esta questão
atemorizava e preocupava constantemente os oficiais da Câmara quando se reuniam em
vereação duas vezes por semana (52).
A actuação de cada concelho será feita de acordo com as peculiaridades e a conjuntura
específica da área a que se circunscreve. Podemos considerar para os três arquipélagos uma
linha de conduta que, na globalidade, apresenta muitos pontos comuns. Assim, teremos para
a Madeira e Açores a sua inspiração na administração de Lisboa e, para as Canárias, a
transplantação e adaptação do modelo andaluz (53). Embora com raíz diferente essa actuação
dos municípios insulares poderá definir-se do seguinte modo:
- controle da produção e dos circuitos de abastecimento e conservação de cereal.
- controle/regulamentação/proibição do comércio e transporte do cereal no mercado
interno e externo.

Isto é, toda a acção concelhia é orientada no sentido da regulamentação e do controle


da produção e do comércio do cereal, por meio dos exames na Madeira e nos Açores e da
tazmia ou cala y cata nas Canárias, das medidas limitativas ou proibitivas da sua
exportação. A sua aplicação variava de concelho para concelho consoante a prioridade fosse
dada à produção ou à importação; assim nos concelhos de Ponta Delgada, Vila Franca do
Campo, Ribeira Grande, Angra, São Sebastião, do arquipélago dos Açores, e em Santa
Cruz de Tenerife e de La Palma e certamente nos cabildos de Lanzarote e Fuerteventura,
predominam as ordenanças e posturas regulamentadoras da produção do referido cereal,
assentes no princípio básico de assegurar as necessidades do consumo local. No Funchal,
Las Palmas de Gran Canaria dominam as ordenações facultativas da importação do precioso
grão, quer por meio da abertura do mercado a todo o que a ele concorresse, quer por meio
de medidas aliciadoras (como sejam, no Funchal, o pagamento da descarga, dos sacos e da
loja), quer ainda por meio de medidas proibitivas à sua saída.
A concretização da primeira medida da referida política definia-se nos Açores pelo
trigo dos exames, isto é, o trigo resultante do exame da produção e dos stocks de
abastecimento dos granéis concelhios ou particulares, necessário para o fornecimento à
população em momentos de penúria. Segundo o regimento régio de 26 de Junho de 1507 a

(51) Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit" p. 253, A. Cioranescu, ob. cit .. I, p. 318, Frédéric Mauro, Ibidem.
pp. 300 e 306. Saliente-se que esta ambiência não é típica das ilhas, pois as mesmas preocupações dominam em
Coimbra e Algarve; veja-se António Oliveira, A vida económica e social em Coimbra ( ... ). II, 1972,
pp. 122-130 e 162; Joaquim Antero Romero Magalhães, Para o estudo do Algarve económico durallte o
século XVI. Lisboa, 1970, pp. 66-70.
(52) Fizemos um largo tratamento da questão cerealífera em alguns trabalhos já publicados. ,,0 comércio de
cereais dos Açores para a Madeira no século XVII», in Os Açores e o Atlântico (Séculos XIV-XVII), Angra do
Heroísmo, 1984, sep. do B.I.H.I.T.. vol. XLI, (1983), pp. 651-677; "A questão cerealífera nos Açores nos
séculos XV-XVII (elementos para o seu estudo)>> in Arquipélago. História e Filosofia. vol. VII, n.o 1, 1984,
pp. l23-201; ,,0 comércio de ccreiais das Canárias para a Madeira nos séculos XVI-XVII, in VI C,H.CA., Las
Palmas, 1984 (no prelo).
(53) Veja-se Urbano de Mendonça Dias, A vida de nossos avós, vaI. III, Vila Franca do Campo, 1944,
idem, A Vila, Vila Franca do Campo, 1927, vaI. VI; Maria Teresa Campos Rodrigues, A administração do
município de Lisboa no século XV. separata dos n.OS 101-9 da Revista Municipal. pp. 83-110; Miguel Angel
Ladero Quesada, "Ordenanzas municipales y regulacion de la actividad em Andalucia y Canarias siglas
XIV-XVII», in II Colóquio Canario-Americano, 1977, Orã Canária, II, pp. 143-56, Eduardo Aznar Vallejo,
Integracion de las islas Cana rias en la carona de Castilla (1478-1526), Sevilha, La Laguna, 1983; Emma
Conzalez Yanes, "Importación y exportación en Tenerife durante los primeros anos de la conquista (1497-
-1503)>>, in Revista de História. La Laguna, n.o 101-4, pp. 70-9i.

37
vereação tinha a incumbência de fazer, no início do Verão, por altura das colheitas, o
orçamento do trigo necessário ao consumo e à sementeira até à nova colheita, armazenando-o
depois em granéis à sua guarda, de modo a poder distribui-lo na altura da carência. A partir de
1561 juntar-se-à um quarto dos valores exportados. Para dar cumprimento a estas medidas a
vereação ordenará que toda a exportação só deveria ser feita mediante licença sua após
vistoria dos granéis a cargo do oficial dos exames (54).
Nas Canárias, e mais propriamente em Tenerife, encontramos definida a mesma
orientação sob a designação do tazmia ou cala y cata. O cabildo em momento de penúria,
antes de autorizar a saída do cereal, procedia ao exame dos granéis e ao arrolamento da
população, de modo a avaliar o trigo necessário ao consumo concelhio e assegurar a reserva
satisfatória (55). Esta prática derivava das primeiras medidas proibitivas exaradas em finais
do século XV e do correcto dimensionamento da política cerealífera pelo cabildo em
princípios do século XVI (56). Enquanto no primeiro período apenas se estipulava a
proibição de saída, no segundo, ao pressentir-se a ineficácia dessa actuação, alarga-se o seu
âmbito. Assim, em 1505, em face da falta de pão, ordena-se a vistoria às principais casas da
ilha para, no ano imediato, se promulgar a ordenança sobre o pão, onde se definia o modo
de actuar (57). A partir de então esta prática institucionaliza-se, tomando-se um hábito
corrente na vida municipal (58).
Não obstan~e as medidas proibitivas terem maior força de lei em momentos de maior
penúria, o certo é que em anos de abundância estas apresentavam-se como prejudiciais aos
vizinhos das ilhas produtoras: Tenerife, La Palma e Fuerteventura. Pior era, no entanto, a
situação dos mercadores, obrigados à troca das suas mercadorias por trigo. Daí a reivindi-
cação dos moradores do direito de exportar metade da sua colheita, no que a coroa apenas
concordou com um terço (59). Mesmo assim o cabildo passou a exercer um controle rigoroso
sobre esta parte, ao definir como obrigatória a solicitação de licença para exportar e,
mesmo, revogando essa regalia em momentos de penúria, como sucedeu em 1522 (60).
O cabildo de Tenerife perante a contingência da conjuntura de crise e do movimento
demográfico conclui que os dois terços não são suficientes para o sustento da população,

(54) Esta questão foi tratada em estudo que elaborámos sobre .. A questão cerealífera nos Açores ( ... )>>,
pp. 144-158. Veja-se Urbaoo Mendonça Dias, A vida de nossos avós, voI. III, pp, 32-8, 489, 62-63.
(55) Conhece-se uma tazmia de 1552,publicada por F. Moreno Fuentes, ..Tazmia de la isla de Tenerife em
1552 .. , in Anuario de Estudios Atlanticos. n.o 25, pp. 411-92.
(56) Eduardo Azoar Vallejo, Documentos Canarios ( ... ), La Laguna, 1981, does. n.o 156,440,568, 652,
727, 883. 892, 916. 986. 1193; Acuerdos dei mbi/do de Tenerife. I, n.o 270, p. 48, 28 de Juoho de 1502.
(57) Ibidem. I. n.o 436-437, p. 81. 10 de Dezembro de 1505; Ibidem, n.O 540. pp. 103-108.8 de Novembro
de 1506; Ibidem. n.o 600-601. pp. 116-117; 12 de Fevereiro de 1507.
(58) A primeira referência à cala y cata de 1511 (/bidem. 0.° II, n. ° 185, p. 134. 5 de Dezembro)
seguindo-se esta prática em 1514 {/bidem. III, n.O 12, p. 5, 28 de Abril; {bidem. III. n.O 21, p. 18, 16 de Junho;
{hidem. III, n.O 22, p. 18, 21 de Julho) e em 1522 ({bidem. IV, n.o 276, p. 123, 17 de Janeiro).
(59) A primeira reclamação foi exarada em reunião de Tenerifc em I de Setembro de 1508 (/bidem. II,
n.o 15. p. 12) mas só em 28 de Fevereiro de 1512 ê atendida (/bidem. II, n.o 33, pp. 264-265). Não obstante não
satisfaz as pretensões dos tenerifenhos (/bidem. n.O 42, pp. 277-283, «capitulaciones que presenta ai rey la isla de
Tenerife por mano de mcosagero,,). Veja-se Manuel Marrero, «Algunas viages atlanticos de los veeinos de
Tenerife eo el primer tereio deI siglo XVI", II, C.H.C.A .. vol. I, 1977, pp. 64-65. Veja-se, Pierre e Huguette
Chaunu. Seville et I'Atlantique, Paris, 1959. t. VIII, vol. I, p. 370; Sebastiao Jimenez Sanchez, «EI trigo uno de
los alimentos de Oran Canarios prehispanicos". in Revista de História, La Laguna, n. ° I, p. 213; J. Perez Vida/,
«Aportacion portuguesa a la poblacion de Canarias". in Anilaria de Estlldios Atlanticos, n.o 14, pp. 65-6:
E. Gonzalez Yanes. ob. cil .. p. 85; Leopoldo de La Rosa, «Catálogo dei Archivo Municipal de La Laguna", in
Revista de História, La Laguna. n.o 10 1-104. pp. 256. 261; idem. ibidem, n.o 113-4, assim; Manuela Marrero,
«Alguoos viages atlaoticos de los vecioos de Teoerife en el primer tereio dei siglo XVI", io II Colóquio de
História Canllrio-Americana. Las Palmas, 1977. vol. I, pp. 64-5;. Idem. «Algunas consideraciones sobre
Tenerife .. , in Anilaria de estudios Atlanticos. n.o 23. p. 379.
(60) Acuerdos dei cabi/do de Tenerife, IV, n.o 314, p. 150, II de Julho de 1518; {bidem. n.o 335, p. 161.
29 de Agosto de 1522. Ibidem. n.o 337. p. 161.5 de Setembro de 1522; Ibidem. n.o 343, p. 165,26 de Setembro
de 1522, Ibidem, n.o 380. p. 189. 26 de Março de 1523.

38
pelo que ordena, a partir de Julho de 1522, que de todo o trigo a exportar deveria ficar uma
reserva de dez por cento às ordens da câmara, a fim de ocorrer aos momentos de falta (61).
De modo a controlar-se o cumprimento desta ordenação regulamentara-se a obrigatoriedade
do registo do cereal a exportar e a solicitação da respectiva licença ao cabildo, ao mesmo
tempo que se estabeleciam guardas de vigia nos portos (62).
Quer em S. Miguel, quer em Tenerife, os produtores e mercadores, entre os quais se
colocavam o capitão donatário, o senhorio e alguns funcionários concelhios e régios,
usavam de todos os subterfúgios para fazer sair o seu trigo, agravando deste modo a
situação de penúria cerealífera (63).
No mercado consumidor carente toda a política cerealífera incidia a dois níveis no seu
comércio: primeiro procurando assegurar o normal abastecimento de trigo, por meio de
incentivos à sua introdução; depois através do controle dos circuitos de fornecimento de
mercado local, evitando a sua saída, sob a forma de grão ou de biscoito. Ao nível da
Madeira define-se a actuação da vereação funchalense; primeiro, com o estabelecimento de
contratos com alguns mercadores para meterem anualmente o trigo necessário ao provimento
dela, pagando-se a descarga, os sacos e a loja; depois, com a abertura total do mercado à
sua introdução, por meio da isenção da dízima de entrada (64). Caso estas medidas não
fossem suficientes, então a vereação punha em prática o seu plano de emergência, que
consistia na actuação junto dos mercadores e mestres de navios, obrigando-os a descarregar
o trigo que conduziam ao reino ou às Canárias, ou então forçando-os a irem buscar o trigo
aos Açores ou outras partes (65). A esta orientação aliavam-se as ordenações régias de 1508
a 1521, que tomavam obrigatória a rota de fornecimento de trigo açoriano ao mercado
madeirense (66).
Assegurados os circuitos de abastecimento do mercado funchalense, tomava-se neces-
sário controlar e regulamentar os circuitos internos de distribuição e venda, de' modo a
evitar-se o açambarcamento e a especulacão. Neste caso a vereação actuava com medidas
drásticas, quer por meio do exame das lojas pelos almotacés, quer lançando pesadas multas
aos infractores (67). Ao mesmo tempo, desde 1496 proibira-se a saída deste cereal, até
mesmo para o fornecimento de naus que escalavam a ilha pois, segundo se dizia, estas
deveriam vir devidamente providas de Lisboa (68).
Idêntica situação encontra-se definida no arquipélago canário nas ilhas da Gran
Canaria, La Gomera, onde estava regulamentada a proibição de saída, e medidas de apoio
aos circuitos e rotas abastecedoras com origem em Lanzarote, Tenerife ou Fuerteventura (69).

(61) lbidem, n.o 317, p. 15\, 18 de Junho de 1522.


(62) Leopoldo de La Rosa, ob. cit., n.o 101-4, p. 261 (n.o 1-3); 264 (n.o 18); E. Gonzalez Yanes, oh. cit..
p. 88.
(63) E. Gonza1ez Yanes, ibidem, p. 87; e o nosso estudo supracitado.
(64) A.R.M., C.M.F., n.o 1297, fls. 17 v.0-8, vereação de 4 de Março de 1481; idem lhidem, fls.
23-23 v.o, vereação de 8 de Junho de 1481; idem, lbidem, fls. 27-27 v.o, vereação de 4 de Agosto de 1481; idem,
ibidem. fls. 49 v.o, vereação de 21 de Janeiro de 1486; idem, lbidem, fi. 62, vereação de 11 de Fevereiro de 1486;
idem, lhidem, fi. 78, vereação de 20 de Março de 1486; idem, /hidem. fi. 130, vereação de 14 de Maio de 1486;
idem, ibidem, fls. 138-141, vereação de 5 de Julho de 1486; idem, ib idem, n.o 1301, fi. 48 v.o, vereação de 10 de
Agosto de 1496. A referida despesa era assegurada por 2/3 da renda da imposição do vinho, /bidem, fi. 141, carta
de 5 de Dezembro de 1581.
(65) A.R.M., C.M.F., n.o 1302, fi. 23, vereação de 31 de Agosto de 1496; idem, ibidem, fi. 27, vereação
de 7 de Setembro de 1496; idem, ibidem, f1s. 111-2, vereação de 21 de Fevereiro de 1497.
(66) Veja-se o nosso estudo "O comércio de cereais ... », já citado.
(67) A.R.M., C.M.F .. n. o 1298, fi. 38 v.o, vereação de 28 de Dezembro de 1485; idem, ibidem, n.o 1301,
fi. 48 v.o, vereação de 17 de Outubro de 1495; idem, ibidem 1308, fi. 8, vereação de (7) de Janeiro de 1547;
idem, ibidem, n.o 1309, f1s. 26 v.o, vereação de 13 de Abril de 1550.
(68) Idem, ibidem, n.o 1302, fls. 46-46 v.o, vereação de 26 de Setembro de 1496; idem, ibidem, n.o 1313,
fls. 43 v.o, vereação de 20 de Setembro de 1597; idem, ibidem. n.o 1313, fIs. 47 v.0-48, vereação de 8 de Outubro
de 1597.
(69) Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., pp. 51, 251-2, 313.

39
A ilha de Gran Canaria tinha em Tenerife o celeiro de abastecimento anual, mas tal como
sucedia na Madeira em relação aos Açores, esse provimento despoletou vários litígios entre
as duas ilhas no período de 1531-1603, devido à segunda se negar a esse fomecimento(o);
pelo que respeita a La Gomera, o trato foi assegurado por cédula de 1521 (71).
Se é certo que as medidas atrás enunciadas atestam o interesse do concelho em
assegurar o normal funcionamento dos circuitos de abastecimento de modo a evitar-se
qualquer situação de penúria ou de fome, também é verdade que as mesmas documentam,
de modo evidente, a premência da crise, resultante do esgotamento do solo e, acima de
tudo, do aumento da população insular. Assim, ao nível das áreas produtoras, as medidas
regulamentadoras do comércio do cereal surgem com maior acuidade, apontando para uma
nítida tendência da sua proibição. Tal como sucede nos Açores, desde a década de 30 do
século XVII e, em Tenerife, a partir de 1564-65, evidenciando-se nesta última a partir de
princípios do século XVII. Deste modo se as crises de 1502, 1506, 1521 e 1546 surgem
como fenómenos isolados, articulando-se com as más colheitas, ocasionadas por factores
sazonais, o mesmo já não se poderá dizer em 1574, 1604, 1616, 1625, em que se nota uma
marca evidente da crise estrutural, cujo agravamento se salienta de modo periódico em
ciclos decenais (2). Esta situação da economia cerealífera das Canárias repercutir-se-á de
modo evidente no mercado madeirense, que tinha nesse arquipélago uma fonte importante
de abastecimento, em 1589 e 1596(3).

(0) Leopoldo de la Rosa, ob. cit., Revista de História, n. o 113-4; p. 84 (n. o 41) 85 (n. o 72); lbidem,
n. o 101-104, p. 251 (n.o 12), 253 (n.o 3); lbidem, n.O 115-6 (1958), p. III (n. o 108).
(71) lbidem, n. o 101-4, p. 246 (n.o 5).
(72) Veja-se nosso estudo, ,,0 comércio de cereais ... já citado; P. Chaunu ob. cit., pp. 371-373.
>l,

(3) A.R.M., C.M.F., n.O 1311,!l. 142 v.o, vereação de 20 de Fevereiro de 1596, idem, ibidem, n. o 1311,
f1s. 16-17 v. o , vereação de 4 de Fevereiro de 1589.

40
1.2 Técnicas

A NAVEGAÇÃO

A navegação no mundo insular deriva não só de factores implicítos ao próprio meio


geográfico, mas de igual modo da premência de vectores e solicitações externas, resultantes
do posicionamento desta área no mercado colonial e do estádio de desenvolvimento dos
meios e téenicas de navegação. Os acidentes mesológicos serão perfeitamente ultrapassáveis
mediante o avanço da tecnologia naval.
Sendo esta vasta área insular dominada pelo oceano Atlântico, seria inevitável que a
vivência ribeirinha incidisse fortemente no ilhéu e, ao mesmo tempo se verificasse um
domínio das vias de comunicação marítimas, inclusive contactos internos. O mar será assim
o elo de ligação e separação. O ilhéu viverá sob o fascínio desta enorme massa de água.

Vias de comunicação e meios de transporte

As vias de comunicação e os meios de transporte são factores determinantes do


desenvolvimento sócio-economico de uma dada região; tais factores são, de certo modo, os
aferidores do estádio da sua evolução. É, por outro lado, evidente a interconexão entre eles
e as actividades económicas, pois o valor mercantil implica a existência de meios e circuitos
adequados para o seu escoamento; além disso, a facilidade de contacto ou de transporte
poderá condicionar de modo positivo o nível e desenvolvimento da economia de áreas
determinadas. A este propósito é muito esclarecedora a análise comparativa que Gaspar
Frutuoso faz das ilhas açorianas e das Canárias: «A ilha de Tenerife dizem que foi a quárta
conquistada e é logo a segunda ilha depois de Gran Canária, principal de todas as outras,
ainda que a Palma o seja nas armadas e navegações, como, entre estas ilhas dos Açores, a
mais rica e principal é esta ilha de S. Miguel, pois ela rende só mais que todas as outras
juntas, mas a ilha Terceira, além de s.er mais principal por ser a cabeça do bispado, o é
também por a razão das escalas, armadas e navegações que ali vão ter em diversos
tempos» e).
Para o mundo insular o mar é o elo de ligacão e meio de comunicação mais importante.
No caso do Mediterrâneo Atlântico esta permissa toma-se mais clara em virtude da
descontinuidade e heterogeneidade do solo e costa. Num parco espaço terreste disseminado
por dezoito ilhas com um solo acidentado e uma costa alta e escarpada, não é difícil de
compreender a dificuldade que aí se depararam nas comunicações internas e externas e).
Elias Serra Rafols, a propósito desta realidade, enuncia de modo esclarecedor: "Para
compreender esta vida insular, hay que tener siempre presente esto: que se trata de islas

e) Saudades da Terra, L,0 I, Ponta Delgada, 1984, p. 91.


(2) Fernando Augusto da Silva (Pela His/oria da Madeira, Funchal, 1947, p. 83) conduz-nos a esta
realidade ao falar da sociedade madeirense nos seus primórdios: ,,- A torturante nostalgia dos mais antigos
povoadores e as suas constantes preocupações no árduo trabalho das explorações agrícolas seriam bastantemente
agravadas com a falta de notícias de tudo o que saudosamente tinham deixado nos limites do seu sempre tão
lembrado rincão natal. Dizem as velhas crónicas que somente de ano a ano havia notícias pela queda de estio,
porque então não se navegava no Inverno. E assim devera ser".

41
6
( ... ) todo tiene que venir de fuera o ha de salir pera fora. El camino deI mar lo es todo,
vida material espiritual, riqueza y saber; en eI tiene todo su origen y su fin» e).
Sendo certa a importância primordial do Oceano Atlântico nas comunicações insulares
e deste com o litoral afro-europeu-americano, não menos o serão em termos restritos das
vias de comunicação terrestres, pois é por seu intermédio que se escoam os produtos para os
mercados ou postos do litoral, a partir dos quais entram nos circuitos comerciais locais e
internacionais. Não obstante o interesse das autoridades municipais na abertura e preservação
dos caminhos, nota-se em todo o mundo insular a insuficiência de vias de comunicação
terreste e a ineficácia das referidas ordenações (4)
A importância das comunicações por terra no espaço insular relaciona-se com a
formação orográfica de cada ilha. Assim, enquanto na Madeira elas são relativizadas, em
S. Miguel, Terceira, Tenerife e Gran Canaria apresentar-se-ão como fundamentais para a
economia local. Na Madeira os meios e vias de comunicação terrestres apenas ganham
importância a partir de finais do século XVIII, sendo assim relativa a actuação dos
carreteiros, dos boieiros e, mesmo, de bestas de carga na vida local (5). Toda a economia
madeirense é dominada pelo mar e define-se pela litoralidade da sua implantação sácio-
-geográfica.
O mesmo não sucede nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife, onde há a preocupação de
traçar uma rede viária que ligue os canaviais aos engenhos e estes aos portos de cabotagem
ou de exportação (6). Assim, deparamo-nos nestas ilhas com uma elevada valorização dos
agentes de transporte, sendo numeroso o grupo de carreteiros, de almocreves, de cameleiros,
bem como de bestas de carga C). Estas profissões e actividades mereceram uma regu-
lamentação constante por parte dos cabildos (8). Pelas mesmas razões é elevado o número de
reclamações dos carregadores da ilha de S. Miguel pela abertura e pela reparação de
caminhos (9). Aliás estes eram um importante meio de contacto entre o principal porto de
comércio com o exterior - Ponta Delgada - e as áreas produtoras' de pastel e trigo. Os
contactos com a Ribeira Grande faziam-se por via terrestre e eram assíduos, havendo para o
efeito um numeroso grupo de carreiras eo).

e) «Introducción», in Acuerdos dei cabildo de Tenerife, II, P. IV.


(4) Maria Luisa Fabrelas.. , "La producion de azúcar em Tenerife», Revista de Histâria. n. o roo,
pp. 473-474; Eduardo Aznar Vallejo, La integraciân de las islas Canarias en la Corona de Castilha. p. 333-334;
Luis Ribeiro "influência das Sesmarias no povoamento da Terceira.. , in Açoreana. IV, 1946-1949, p. 93, Urbano
Mendonça Dias, A Vila, IV, 1927, pp. 54, 59-60 e 66-67; Iolanda Silva, "Resenha Histórica.. , in Transportes //lI
Madeira, Funchal, 1983, pp. 25-46.
(5) Nos testamentos da Misericórdia do Funchal e do Julgado de Resíduos e Capelas há inúmeras
referências ao número de bestas de carga.
(6) Maria Luísa Fabrellas, Ib/dem. 474-474; Guilhermo Camacho y Perez Galdós, ob. cit., 22-24; Eduardo
Aznar ValIejo, ob. cit., 333-334.
(') Nos protocolos de Gran Canaria e Tenerife, econtram-se inúmeras referências. Veja-se Maria [sidra
Coelho Gomez, Margarita Rodriguez Gonzalez e Avelino Parrilla Lopes, Protocolos de Afonso Gutierrez
(/522-1525), Santa Cruz de Tener/fe, 1980; Fernando Clavijo Hernandez, Protocolos de Hermán Guerra
(1510-1511), Santa Cruz de Tenerife, 1980: Manuela M~rrero Rodriguez e Emma González Yanes, Protocolos dei
esa/bano Hérman Guerra, La Laguna, 150S-1510, La Laguna, 1958, Protocolos de Afonso Gutierrez (/520-
-1521), Tenerife, 1979; Idem, Indices y extractos de los protocolos de Hérman Gonzalez y de Luis Fernandez
Rasco, escrbiano de Las Palmas (1550-1552), Las Palmas, 1980; Manuels Marrero Rodriguez, Protocolo dei
escribano luan Ruiz de Berlanga, La Laguna, 1507-150S, Tenerife, 1974.
(8) Miguel Angel Ladero Quesada, ob. cito
(9) Urbano de Mendonça Dias, A Vila, VI. 54, 58-60.
eo) A Câmara da Ribeira Grande zelava pelos interesses económicos do município ao investir na definição e
no regulamento deste circuito. Em 1599 a câmara concederá licença a 60 almocreves no transporte de farinha e
trigo para Ponta Delgada (A.C.M.R.G.• L.0 4 de acârdãos, fI. 41, 13 de Novembro). A necessidade da reparação
dos caminhos era exarada na vereação que ordenava e orientava o serviço, executado por todos os moradores.
A.C.M.R.G., L.o I de acórdãos. fi. 25 v. 0 -26. 26 de Março de 1555; Ibidem. p. 38, 23 de Abril de 1555: Ibidem,
fi. 80 v.o, 9 de Novembro de 1555; Idem, L.0 2 de acórdãos. fi. 17-18,6 de Junho de 1596; Idem, L.o 4 de
acórdãos. fi. 31 v.o, 29 de Julho de 1599.

42
8 Ponos de exponaç;o
~01\O sa.\'\\.O

• Portos de cabotagem

Rotas de cabotagem

Caminhos

~
lH VIAS DE COMUNICAÇÃO E PORTOS NA MADEIRA. Século XVI
A insuficiência das comunicações terrestres evidencia a importância de actuação das
vias marítimas materializadas numa teia complicada de rotas de cabotagem. A sua prefe-
rência é muitas vezes relativizada em face dos acidentes e adversidades da costa e do mar,
pois os ventos e as correntes maritimas dificultam a sua utilização (11). A Madeira, devido
aos condicionalismos de ordem geográfica e climática, apresentava reduzidas possibilidades
para o desenvolvimento das vias e meios de comunicação terrestres e marítimas 2 ). Esta e
condição limitou as possibilidades de desenvolvimento económico, fazendo restringir essa
actuação à faixa litoral sul entre Machico e a Calheta, espaço recheado de enseadas e
calhetas para o necessário movimento de cabotagem. Assim surgem portos em Machico,
Santa Cruz, Funchal, Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta (13). O transporte da produção
de açúcar da Calheta do ano de 1509 para o Funchal fez-se por barqueiros, em conjunto ou
individualmente; executava-se ao longo de todo o ano, mas habitualmente no periodo da
safra e de maior exportação, entre Março e Julho.
Até 1508 todo o movimento de contactos com o exterior era feito a partir do Funchal.
Daí que existisse um contínuo movimento de cabotagem, entre este porto e os restantes da
ilha, para o escoamento do açúcare 4 ). A partir de então, ao ser permitida a carga e

Transporte do açúcar de Calheta para o Funchal

BARQUEIRO ARROBAS
DATA
DE AÇÚCAR

Agostinho Fernandes 1509-V a XII 507


Gonçalo Rodrigues 1509-V a XII 7 145,5
Afonso Luís 1509-VI a XII 1 399,5
Pero Lourenço 1509-III a XII 5202,5
1510-1-28
João Gonçalves 1509-VI a XII 6518,5
1510-1-9
Joana Aires 1509-III a Xl 7963,5
João de Amorim 1509-V a XI 1 820
Pedro Martins 1509-VI a XI 2092,5
Diogo Gonçalves 1509-IV a X J 962
Domingos Fernandes 1509-IV a XI 719
Pedro Farinha 1509-VIII a XI 854
Gil Afonso 1509-X-4 16,5
Nuno Gonçalves 1509-V-25 6
Galego 1509-VI a IX 234
Batel de Ferreira 1509-VI-5-23 145,5
Camtanhede 1509-VII a X 129,5
Francisco Homem 1509-V-14 8
Manuel Franca 1509-VII-26 12
Gil Piris 1509-VIII-31 13
Baroc as l509-XI-7 100
Francisco Fernandes 1509-VII-18 6

Fonte: A.N.T.T., N.A., n.o 903'B

(11) Cannen G. Galero Martin, Las comunicaciones maritimas interinsulares, Las Palmas, 1979, pp. 8-9.
Veja-~e supra, primeira parte.
(12) Veja-se em Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L.0 II, 1979, caps. XV-XVII) a descrição da costa da
ilha da Madeira. O porto do Funchal era considerado, no século XVI, muito perigoso para a navegação; Valentim
Fernandes em 1506 dizia a esse propósito: «em o Funchal nenhum navio não pode estar no tempo que começa de
ventar até sudeeste por banda do sul. Por isso é mandado do capitão que quantos navios estejam abertos com suas
velas e vergas altas para partir quando quer que aqueles ventos ventem" (Manuscrito de Valentim Fernandes.
Lisboa, 1940, p. 110). Idêntica é a opinião de Giulio Landi em 1534 e de Hans Sloane em 1687. (António Aragão,
A Madeira vista por estrangeiros,Funchal, 1981, pp. 83. 168).
(13) A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fIs. 272-272, Almeirim, 21 de Janeiro de 1511, carta régia sobre
a carga pelos mercadores estrangeiros, pubI. in A.H.M. XVIII, 531-532.
e 4 o
) [bidem. fi. 260-261 v. ; [8 de Setembro de 1507] Regimento sobre a arrecadação dos quintos, pubI.
in A.H.M., XVIII, 395-396; Idem, C.M.F., Foral da cidade (1515-1736), fIs. 25 v. o-26.

44
• Porto de Cabotagem

@ Porto de Exportação

Rotas de Cabotagem

---- Caminhos

Vilil Franca

.j>. VIAS DE COMUNICAÇÃO EM S. MIGUEL


UI
descarga para a exportação do açúcar, contribuiu-se para a valorização dos portos das p~rtes
e
do fundo em detrimento do Funchal s ). Esta situação manteve-se por pouco tempo, pOIS no
ano imediato a medida foi revogadaet 6 ).
O porto do Funchal surge no dealbar do século XVI como o principal entreposto
e
madeirense do comércio atlântico 7 ). A zona ribeirinha do burgo funchalense, em redor da
alfândega nova, era o principal pólo de animação. Aí convergiam mercadores, carreteiros,
barqueiros, mareantes e curiosos. No calhau havia-se instalado em 1488 o cabrestante, cuja
exploração foi concedida em regime de monopólio a João Fernando Mauzinho, com o foro
anual de cem reais et s). Desde 1568 a sua exploração seria entregue a uma sociedade,
passando em finais do século a ser explorado por diversos mareantes que aí construíram um
número variado de cabrestantes.
O município aforava não só a instalação do cabrestante, mas também as casas e os
chãos necessários para a actividade desses mareantes e barqueiros. O foro de um cabrestante
variava entre duzentos a trezentos reais, enquanto o de um chão ou casa se cifrava em
trezentos reais.

Cahrestantes do porto do Funchal(19)

CABRESTANTES

PROPRIETÁRIO 1583 1585 1587 1592 1595 1597·1598

N." PREÇO N." PREÇO N." PREÇO N.O PREÇO N." PREÇO N." PREÇO

Miguel Fernandes I 300 I 300


António Lourenço 2 500 2 500
Um Barqueiro (?) I 200 250
Afonso. do Vale 200 250 250 250
Gonçalo Fernandes 200 200
Vicente Fernandes 200 300 I 300 I 300
Amador Fernandes 2 500 2 500 2 500
Fernão Dinis I 300
Simão Fernandes 300
João Leitão 300

O arquipélago açoriano, compartimentado por novas ilhas, define-se por diversas


assimetrias, evidenciadas pelo relevo, pela estrutura e pelo clima, que conduziram a um
desenvolvimento sócio-económico desarticulado e variado. A diversidade bem como a
complementaridade da estrutura sócio-económica açoriana conduziram à definição de uma
rede complicada de rotas de cabotagem nas ilhas e entre elas. Deste modo as comunicações
marítimas serão de uma importância primordial na sua economiaeo). Aliás,

es) A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. I, fI. 193 v. o, Sintra, 17 de Agosto de 1508, carta régia, publ. in
A .H.M.. XVIII, p. 541.
e
6 o
) Ibidem, fls. 201-201 v. , Lisboa, 15 de Janeiro de 1512, carta régia sobre a carga as naus; publ. in
A.H.M., XVlll, p. 543.
e7 ) Gaspar Frutuoso (ob. cil .. p. 109), em finais do século XVI, referia a propósito: " ... há pela costa
calhau miúdo e areia, o qual é o porto da cidade, onde ancoram naus e navios, que ali decarregam, tão povoado e
crusado sempre deles, com tanto tráfego de carregações e descarregas, que parece outra Lisboa...
eB) A.R.M., C.M.Foo n. o 1299, fls. 13 v. 0 -14, ver~ação de 31 de Julho de 1498. Veja-se Álvaro Manso de
Sousa,«Os Cabrestantes .. , in D.A.H.Moo Supl. ,,0 JornaJ", n. O 5029, 17 de Abril de 1969 pp. 183-184
e9
) A.R.M., C.M.F., n. O 698-720, 866-868. " .
(~O) Não o~stante, a costa açoriana não se apresentava muito propícia a essa navegação de cabotagem, pois
era mUlto alta e dIspunha de poucas enseadas ou baías. Veja-se sobre isto a descrição,feita por Gaspar Frutuoso em
as Saudades da Terra. L. 0 III, IV e VI, da costa açoriana. Cf. com Sarmento Rodrigues, Ancoradouros das ilhas
dos Açores. Lisboa, 1970. Em 1589 Linschot dava conta dessa situação, anotando quanto ao porto de Angra: "Mas
tem o inconveniente de não ter quaisquer portos de abrigo e sendo necessário que os navios, em caso de

46
o próprio arrumar das culturas nas ilhas foi comandado por esta importante via de comu·
nicaçãoe 1 ).
O desenvolvimento das infraestruturas portuárias do arquipélago fez-se de acordo com
a importância das ilhas na economia insular e atlântica. Por estas razões vemos desenvolver-
-se no século XVI dois portos importantes: Ponta Delgada e Angra, o primeiro para servir o
comércio do pastel e dos cereais de S. Miguel e o segundo para o apoio à navegação
atlântica. Além disso, em ambos existe uma clara intervenção nos circuitos de redistribuição e
escoamento do mercado açoriano 2 ) e
Tal como na Madeira, no arquipélago das Canárias o movimento de cabotagam está
e
dificultado pelas condições geo-climáticas da área 3 ); não obstante este meio era preferido
ao terrestre, pois o transporte de produtos dentro das diversas ilhas fazia-se habitualmente
por mar e4)~ por isso o cabildo de Gran Canaria e Tenerife apostavam mais na construção e
reparo dos portos locais de cabotagem do que nos caminhos de penetração.
Lobo Cabrera refere que o mundo do mar galvanizou os canários e que essa navegação
marítima surgiu e se alicerçou nas pescarias, no comércio de cabotagem e de longa
e
distância s ). O mesmo autor define ao nível das infraestruturas portuárias dois tipos de
portos, de acordo com o seu vocacionamento: portos de destino e de despacho; aliás,
adquiriram variadas designações, de acordo com a dominância de determinados sectores de
actividade e das áreas geográficas com que se relacionavam.
A existência desta variedade de portos nas Canárias não implica uma acção descentra-
lizadora dos circuitos comerciais, pois tanto em Tenerife, como em Gran Canaria surge um
porto que se afirma com entreposto ou área charneira, para onde convergem os rotas de
cabotagem e donde divergem os circuitos dos principais produtos, como o açúcar e
6
e
cereais ). Assim em Gran Canaria o Puerto de Las Isletas e de la Luzyem Tenerife o
Puerto de Santa Cruz e Garachicoe 7 ). Nos registos de fretamento do século XVI (1507-

tempestade, se afastam da costa e se metam ao mar para evitarem o perigo, o que não se poder fazer na Terceira, e
por causa disso os navios de frequência vão à ilha de S. Miguel .. (.. História da navegação do Holandes 1. H.
Linschot .. , B.l.H.l.T.. I. 1943, 154-155). Gonzalo de Murga (Derrotem dei arquipélago de las Azore.\· o
Terceras, Madrid, 1866) refere que .dos Azares son tierras de serrania muy alta, cuya configuración es varia e
raral ... I las costas terminam en general por bananas ó fontones cortados a pique y de mucha elevación, a cuyo
pié rara vez aparece playa de arena. Además todo el archipélago carece de puertos y fondeadores abrigados, lo
mal prejudica mucho a su comercio. Para levasse generalmente es preciso aprovechar [os terreles ... Por sua parte
Luis Bernardo d'Athayde (Reminiscências da vida antiga em S. Miguel. Ponta Delgada, 1921, 168-176) refere que
o mar influencia a definição e vivência do ilhéu sendo .. para o açoriano, motivo de maior encanto e a mais
deslumbrante das maravilhas .. (p. 171).
e 1 ) Em 1565 justificava-se o concerto do cais de Ponta Delgada "por ser hum dos principais portos das

ilhas dos Açores e onde concorrem muitas armadas e navios asy de meus reinos como de fora deles .. (L. o de
registos de alfandega de Ponta Delgada, 1568-1603, fi. 242 v. o, ciL por Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de
Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XVJl ( ... ), p. 77)
(22) Veja-se Alberto Vieira, A questüo cerealífera fIOS Açores I ...1, 167-168; Maria Olímpia da Rocha Gil,
O arquipélago dos Açores no século XVII. p. 252.
e 3 ) Pierra Chaunu (Séville et I'Atlalltique, t. VIII, vaI. I, p. 358) comenta a propósito: "Mais d'ile, de porl

cn port, de cabotage est aussi malaise. Les Canaries - c'est le sont spuvent des archipels à la cohésion médiocre
_ communiquement mieaux avec I'Espanhe ou les Indes, qu'elles communiquement entre el1es ... Veja-se Maria
Luisa Fabrel1as, "Naves y marinas en los comienzos hispanicos de Tenerife», in Revista de História, n. o 105-108
(\954),38-39; Manuel Lobo Cabrera, "E\ mundo de! mar en Gran Canaria I ... 1», in A.E.A., n. o 26 (1982),
322-327; Alejandro Cioranescu, História de Santa Cruz, I (1977), 218-223; Carmen Calero Martin, ob. cil"
pp. 7-10.
(24) Fernando Clavijo Hemandez .. Los documentos de fretamentos/ .. .1», in C.H.C.A" vaI. I, 1980, p. 44.
e s ) ob. cit .. 322-327.
e 6
) Ibidem; Pierre Chaunu ob. cil., t. VIII, vaI. [, p. 360, nota I.
(27) lbidem; t. VIII, vaI. i, p. 361, nota 4 a 7; Maria Luisa Fabrellas, ob. cit" p. 38-39; Alejandro
Cioranescu. oh. cit., I, p. 218-223. Este último refere que ..el puerto de Santa Cruz es la obra politica dei cabildo,
en lucha mas bian en la colaboración con el1a.. (lbidem. p. 220),

47
.j:>.
00

Graciosa

Á Porto de exportação
Rotas de Comércio inter-ilhas
Rotas de cabotagem
Porto de cabotagem

ROTAS E PORTOS DE COMÉRCIO NOS AÇORES


-..J

Lisboa, Cádiz, Anvers, Génova, Funchal, Faial


AI.
1
I
I
I
/

~puertode La Estaca
~ •
@
Portos Cabotagem
Portos exportação
Rotas exportação
ROTAS E PORTOS DE COMÉRCIO NAS CANÀRIAS Rotas cabotagem

.j::>
\D
-1551), já publicados, esta situação surge com certa evidência: No global temos 64% com
origem em Santa Cruz e 26% em Las Isletas, sendo apenas 10% dos restantes portos de
Gran Canaria e Tenerife s). e
A partir dos principais portos processa-se todo o movimento comercial da ilha, pois os
portos secundários apenas surgem como escalas intermédias para se proceder à carga; elas
aparecem em 33 % dos fretamentos em causa, circunscrevendo-se aos portos de Taganana,
Sardina, Agaete, Garachico, Abona, La Orotava e Taoro.
Por vezes as embarcações de cereal ou de açúcar para exportação faziam o circuito de
cabotagem para carregarem o produto, voltando depois aos portos de Las Isletas ou Santa
Cruz donde seguiam o rumo definido. Em Tenerife, das quarenta e sete embarcações saídas
de Santa Cruz, entre 1507 e 1520, seis fizeram esta escala nos portos de Taoro, Abona,
Garachico e Taganana. Em Gran Canaria apenas se verifica a escala na rota nos portos de
Agaete e La Orotava, mas sem o retomo ao ponto de partida. De um modo geral nesta ilha
as referidas embarcações não fazem qualquer escala de carga, pois ao porto de Las Isletas
vinham parar todos ou quase todos os quantitativos de açúcar de exportação.
Nas restantes ilhas do arquipélago os portos existentes serviam apenas o movimento de
cabotagem, fazendo escoar os seus produtos para os principais centros de comércio em Las
Palmas e Santa Cruz. Apenas as ilhas de La Palma e Gomera contrariam esta tendência,
mercê da sua actuação como portos de escala para as naus das rotas atlânticas 9 ). e
A construção naval

Sendo o mar o meio de comunicação mais usual e importante da comunidade insular,


teremos de admitir que a construção naval tenha aí adquirido grande relevo; ela surge não
apenas com a finalidade de assegurar o fornecimento de embarcações de cabotagem, mas
também para dar apoio à navegação atlântica, no reparo das embarcações fustigadas pelos
acidentes ou pelas tempestades oceânicas.
Os estaleiros de construção e reparação naval proliferavam nas principais ilhas do meio
insular, sendo esta actividade transformadora regulamentada e apoiada pelas autoridades
locais e centrais, que, por exemplo, asseguravam as licenças necessárias para o corte das
madeiras e definiam as dimensões e capacidade das embarcações a construir.
As madeiras da ilha da Madeira foram muito apreciadas no século XV na construção
naval, no reino e na ilha eo). O seu uso imoderado nestas e noutras actividades conduziu à
paulatina desarborização da ilha, pelo que as autoridades concelhias actuaram no sentido da
defesa do parque florestal madeirense, restringindo o uso das madeiras a sectores essenciais
e
da vida local 1 ). Deste modo proibiu-se a exportação de tabuado e limitou-se a construção
naval à construção de caravelões a barcas ,'pera serviço e maneo das cousas e negocias da
ylha ... » (32). Em 1515 especificava-se que a madeira apenas deveria satisfazer as necessi-
dades da pesca e carreto, sendo interdita a sua venda para forae 3 ). Por esta razão em 1541

CZB) Vejam-se quadros n. os 12 e 13.


(29) P. Chaunu, oh. cit., VIII, voI. I, p. 364, nota 295; A. Cioranescu, Thomas Nichals / ... /, La Laguna,
1963, p. 118. Thomas Nichols, em 1583, referia a propósito que «Esta isla tiene uma ciudad propria lIamada
Gomera, que tiene un puerto a obra muy para navios endonde muchas veces las armadas que von a las Indias
toman refrescos para su viaje".
eo) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, Ponta Delgada, 1968, p. 84; A. Sarmento, A Madeira e as
praças de África. Funchal, 1932, pp. 39-41.
e 1
) Fernando Augusto da Silva, «Madeiras", in Elucidaria Madeirense, II, 1949. pp. 323-324.
(32) A.R.M .• C.M.F" Registo Geral. t. I, fls. 299 v. 0 -300. Lisboa, 4 de Maio de 15403, publ. in A.H.M"
XVIII. 440-44 I.
e 3
) lbidem, t. I, fls. 123-126, Almeirim, 5 de Março de 1515, «Regimento dei Rey nosso Senor açerqua de
cortar madeyra e lenha e outras cousas". publ. in AR.M., XVIII, pp. 563-564.

50
é incriminado André Lourenço, mestre de moinhos de açúcar em Santa Cruz, por ter
construído uma embarcação de maiores dimensões do que as permitidas no regimento C4 ).
OS estaleiros de reparação e construção naval da Madeira situar-se-iam no Funchal,
principal porto da ilha e em Machico sede da capitania norte, onde as madeiras eram
abundantes CS).
Nos Açores promovera-se, desde o início da sua ocupação, a construção naval C6 ).
Esta actividade ganhou importância nos séculos XV e XVI, nomeadamente nas ilhas de
S. Miguel e TerceiraC 7 ). Gaspar Frutuoso na sua crónica das ilhas refere-nos a existência
de vários estaleiros de construção naval em S. Miguel: Fenais da Luz, Porto Formoso,
Lagoa, Porto dos Bateis, Ponta Delgada e PovoaçãoC s). Para a Terceira alude apenas aos
estaleiros de Porto de Pipas e Prainha, dizendo que na cidade de Angra eram cinquenta os
carpinteiros de ribeira C9 ).
Este numeroso grupo de estaleiros, apenas nas duas ilhas, atesta a importância que esta
actividade assumiu nos Açores no século XVI. No entanto as dificuldades no fornecimento
de madeiras conduziram à sua delimitação em 1594, altura em que se restringiu a sua
construção apenas a embarcações até 40 toneladas e, ao mesmo tempo, se interditava a sua
venda para fora (40).
Nas Canárias a construção naval teve idêntico relevo nas actividades transforma-
doras (41). A riqueza de madeiras e as necessidades da navegação de cabotagem e das rotas
atlânticas fortaleceram esta arte. Mas num segundo momento as dificuldades no abaste-
cimento de madeiras e pez, em consonância com os problemas de desarborização, conduziram
à sua limitação. Os cabildos de Tenerife e Gran Canaria passam a controlar o corte de
madeiras mediante a passagem de licenças (42).
As limitações impostas à construção naval nesta ilhas conduziram à aquisição de
embarcações nos estaleiros navais da Península. Assim, no caso das Canárias, mais
propriamente em Tenerife, há notícia da compra de vinte e sete embarcações, na sua maioria
~ ·Põrtugal. O preço destas variava de acordo com o tipo, a tonelagem e a capacidade da
embarcação (43).

e 4) Carta de perdão de D. João III de 27 de Junho referenciada por A. Sarmento, ibidem, p. 41.
(35) Gaspar Frutuoso (ob. cit .. p. 204) refere-nos a construção. em finais do século XVI, de uma galé com
17 remos por bordo, em Machico. por ordem de Tristão Vaz de Veiga para uso na defesa da costa.
e 6 ) O almoxarífado dos Açores de 2 de Julho de 1437 dizia: «Quem nessa ilha fizer algum navio ou navios

a mim me praz de lhe quitar a dízima do taboado, e madeira que por eles fizeram. e isto enquanto a mim
aprouver .. (F. F. Drummond. Anuis da ilha Terceira, .1. pp. 167-168). Veja-se Luis Bernardo Leite d' Athayde,
Notas sobre lIrte. 1915, pp. 176-178); Francisco Carreiro da Costa, «Antigos estaleiros navais dos Açores .. , in A
Ilha. n. O 1600,6 de Outubro de 1962; Miguel de Figueiredo Corte Real, A constl'llçcio naval da /lha de S. Miguel
nomeadamente /Ia Ribeil'll da Povoaçüo fIOS séculos XVI e XVIl. Ponta Delgada, 1982, pp. 7-19; José Augusto do
Amaral Frazão de Vasconcelos. Leandro Raiz. CO/lstrutor naval micaelense dos séculos XVI e XVIl. Lisboa. 1962.
(37) Luis Bernardo Leite d'Atahyde, ibidem; Idem, Reminiscencias da vida antiga em S. Miguel, Ponta
Delgada, 1929. pp. 61-79; Luis da Silva Ribeiro, «Formação histórica do povo dos Açores .. , in Obras de História,
Angra do Heroísmo, 1983, p. 75.
e B) Saudades da Terra, L.0 IV, caps. XXXI. XXXIX, XLIV, XLVII, LXXVII.
e 9 ) Ibidem, L.0 VI, (1963), pp. 23-24; Urbano de Mendonça Dias. História dos Açores. p. 172.

(40) 1..03 da alfandega de Ponta Delgada, fls. 9 v.o-IO. 28 de Abril de 1594, publ. por Luis Bernardo Leite
d'Athayde, Notas sohre arte, pp. 178-179.
(41) P. Chaunu, Ibidem. VIII, vaI. i, 367-369 e 355; E. Aznar Vallejo, ob. cit .. 331-332; Manuel Lobo
Cabrera, El mundo dei mar en Gran Cana ria / ... /, 318-322; A. Cioranescu, oh. dt .. l, 244-245.
(42) Em I de Julho de 1623 o juiz Gallinato solicitou licença ao cabildo para o corte de madeIra de pinho e
pau branco a fim de mandar construir uma caravela e um barco de pesca (Acuerdos dei cabi!do de Tenerije, IV,
n. O 399. p. 210).
(43) Manuel Lobo Cabrera, ob. cil., pp. 310-313.

51
lPreç" das emba.caçães século XVI

LOCALIDADE DATA TIPO DE EMBARCAÇÃO PREÇO

Tenerife 1507 Caravela 46 ducados


1509 Caravelão 22,5 ducados
1510 Caravela 240 fanegas de trigo
chalupa 300 fanegas de trigo
1/2 caravela 110 ducados
navio 190 ducados
navio 40 ducados
caravela 80 ducados
1518 1/2 caravela latina de 60 tonel. 60 ducados de ouro
1519 navio redondo de 60 toneladas 520 dobras
Funchal 1520 batel 277 ducados
Tenerife 1526 navio português 145 dobras
1529 1/2 caravela 90 dobras
1553 1/2 navio português 80 ducados
1546 nau 3500 ducados
1553 caravela de 30 toneladas 180 ducados
1/2 navio de 70 toneladas 200 dobras
1/2 caravela de 35 toneladas 150 ducados
1554 2/3 navio com aparelhos 115 dobras de ouro
2/3 caravelão 60 ducados
1555 navio de 55 toneladas 550 ducados
caravela 450
navio de 35 toneladas 300
1556 naveta 140
caravela 400
caravela latina de 60 toneladas 800
.. 1592
caravela de 55 toneladas
navio de 40 toneladas
350
1100
navio de 40 toneladas 1100
1596 barco de 75 toneladas 3500

o frete

o contrato de frete, lavrado junto do notário sob a forma de carta de fretamento ou


conhecimento, definia as fonnalidades do contrato, a capacidade e o volume da mercadoria
a carregar, os portos de destino e de escala, o tempo de demora e a forma e o local de
pagamento, O seu preço era estabelecido de duas fonnas: no global ou de acordo com a
tonelada, pipa, caixa ou carga. Variava de acordo com uma diversidade de factores:
finalidade e destino da viagem, tonelagem da embarcação e a carga a transportar (44);
juntavam-se-Ihes variações sazonais e anuais (45). O pagamento fazia-se à altura do embarque
na moeda da terra, ou no porto de destino.
Nas Canárias os contratos de frete, com o objectivo de resgate e comércio na costa
ocidental africana adquiriram outra forma. Assim, a embarcação era fretada na totalidade
por períodos de um mês, ficando o fretador sujeito ao pagamento das averias, da soldada e

(44) Fernando Clavijo Hernandez, .Los documentos de fletamentos / ... /. IV C.H.C.A" 1,45-46 e 51;
Idem. Protocolos dei esaibano Hermán Guerra, Tenerife, 1980, pp. 21-23 Manuel Lobo Cabrera, EI mundo dei
mar en Ta Gran Canaria / .. ./, 307, 310: Idem, Protocolos de Alansa Glltiérrez, Tenerife, 1979. p. 37: Maria
Olímpia da Rocha Gil, .. Açores. Comércio e Comunicações nos séculos XVI e XVIf". in Arquipélago, série
Ciências Humanas, IV. ([983) 349-415.
(45) O preço de frete variava consoante a estação do ano e com o decorrer dos anos. No percurso de Santa
Cruz de Tenerige e Cádiz o (rete custava. em 1509. 300 maravedis por tonelada, passando em [522 para o dobro
(F. Clavijo Hernández. ibidem. 45-46).

52
do mantimento da tripulação. O frete variava entre os cinco mil setecentos e sessenta e os
trinta e cinco mil trezentos e setenta maravedis.
Ao nível do movimento de cabotagem o custo do transporte dos produtos variava de
acordo com a distância, a mercadoria e o período do ano em que se assentava. Na Madeira,
em 1503, o frete de um batel para ir aos lugares de baixo (Calheta-Ponta de Sol-Ribeira
Brava) orçava os trezentos e cinquenta reais, passando em 1516 para quatrocentos reais (46).
E em 1505 o transporte de passageiros entre a Ribeira Brava ou Calheta orçava os cento e
cinquenta reais cada (47). O aumento significativo do seu custo só se fazia sentir nas ligaçóes
com a costa norte, mercê da demora e das dificuldades do percurso. Em 1517, por exemplo,
o transporte de um mastro de barbusano ao Funchal ficou por dois mil e quinhentos
reais (48).
Toma-se possível em 1591 a comparação do tarifário dos serviços de cabotagem na
Madeira e nos Açores, mercê do registo de despesa da visita do inquisidor do Santo Ofício
às Ilhas:
Preço do transpllrte do inquisidor cm 1591

ITINERÁRIO PREÇO

Funchal - Machico 800 reais


Machico - Santa Cruz 360 reais
Calheta - Câmara de Lobos 1000 rs
Santa Cruz - Funchal 600 rs
Funchal - Calheta 1570 rs
Calheta - Porta de Sol 1000 rs
Ponta de Sol - Ribeira Brava 500 rs
Funchal - do Calhau ao Navio 300 rs
Funchal - Ribeira Grande 70000 rs
Ponta Delgada - Vila Franca 600 rs
S. Miguel - Terceira 25 680 rs
Terceira - Lisboa 70000 rs

Fonte: A.N.T.T., Inquisição de Lisboa. 146-6-287. fis. 63-74 v.O

Saliente-se que os trezentos reais que em 1505 davam para uma viagem do Funchal à
Calheta, em 1591 apenas dão para despesas de transbordo no calhau do porto do Funchal.
Esse percurso ficará então por cinco vezes mais (49).
Nas Canárias há, igualmente, conhecimento do custo do frete no comércio de cabotagem
entre as diversas ilhas do arquipélago, nos anos de 1509 e 1523:

Preço do frete nas Canáll"ills

DATA PERCURSO FRETE MERCADORIA

15D9-XI-16 Santa Cruz - Isletas 1 1/2 real/caixa 1000 caÍltas


1511-IX-4 Santa Cruz - Gomera 6000 mrs 500 fs de trigo
1517-1II-14 Agando - La Palma 10 250 mrs 2 barcas pedra e cal
1521-VII-2 Santa Cruz-Tangana-Telde 500 mrs/pau 200 xaprõcs madeira
1523-V-3D Santa Cruz - Lanzarote I 1/2 real fanega 300 fs de trigo e
35 mrsl quintal 300 t. biscoito
1523-Vi-30 Jerez - Gran Canaria 47 dobras ouro 47 bolas de vinho
1523-XII-26 Isletas-Orotava-Gáldar 24 dobras ouro madeiras

Fonte: F. Calavijo Hemandez, "Los documentos de fietamentos ..... , 56-75.

(46) A.N.T.T.• C.C .. 1I-7-16. 18 de Janeiro de 1503, mandado do contador da fazenda para o recebedor so
almoxarifado da alfândega; Idem, Ibidem, 1I-66-66, 30 de Setembro de 1516. mandado do provedor de fazenda.
(47) Idem. N.A, n.o 903 B, fis. 13-16.
(48) Idem. C.C.. 1I-69-144, mandado de 12 de Maio de 1517.
(49) lbidem. II-69-71, 25 de Abril de 1517.

53
As relações entre os três arquipélagos eram assíduas, mercê dos contactos estabelecidos
para o transporte de produtos e passageiros. Entre as Canárias e a Madeira mantem-se uma
rota de fornecimento de pez e trigo. Os custos de transporte de pez variavam entre
quinhentos e setecentos maravedis a tonelada e do trigo entre trinta e três e quarenta e cinco
maravedis o quintal. No global o frete do navio oscilava entre os doze mil e os dezassete mil
e quinhentos maravedis. Note-se que em 1511 se mantinha o mesmo preço por tonelada de
cevada a exportar para o Funchal e Faial. O trigo açoriano com destinolJo Funchal era
onerado entre mil e mil e seiscentos e cinquenta reais por tonelada.

Preço do freie na Madeira

DATA ROTA FRETE MERCADORIA

1509-XI-15 Santa Cruz (Tenerife) - Funchal 12000 mrs Pez


151O-II-26 Sanla Cruz (Tenerife) - Funchal 33 mrs/fs., ql. 300 qts pez e 40 gts de trigo
1511-VI-7 Santa Cruz (Tenerife) - Faial 500 mrs/tonelada 200 fs. trigo e 100 de cevada
1511-VII-7 Santa Cruz (Tenerife) - Funchal 500 mrs/tone1ada 1000 fs. cevada
1520-VII-31 Santa Cruz (Tenerife) - Funchal 271/2 ducados trigo e passageiros
I523-I1I-2 1 Sanla Cruz (Tenerife) - Funchal 700 mrs fanegas e 130 fs trigo e
45 ao quintal 400 fs. dc pez
1524-VIII-16 Angra- Funchal 700 mrs tonelada 600 fs. de trigo
1552- VI-20 Angra-Funchal I 000 reais trigo
1552- VI-21 Angra-Funchal I 450 reais trigo
1552-VII-II Angra-Funchal 1 650 reais trigo
1591 Funchal-Ribeira Grande 70000 rs. Inquisidor

Fonte: F. CaIavijo Hernandez, Ibidem; Maria Olimpia da Rocha Gil, ibidem. A.N.T.T., Inqtlisiçtio de Lisboa.
ms 146-6-287.

Nos contactos com o exterior o preço do frete variava de acordo com o porto do destino
e o número de escalas intermédias. Assim, da Madeira e dos Açores ao reino o frete custava
em 1591 setenta mil reais. Das Canárias para o mesmo destino ele poderia oscilar, em
1520-1521, entre os quatrocentos e sessenta maravedis por tonelada para Lisboa e Setúbal e
os quinhentos para Aveiro (50). De Tenerife para Castela, em 1510-1511, o frete variava entre
os seiscentos e cinquenta maravedis para Galiza e os quinhentos e cinquenta e quatro para
Cádiz (51). O açúcar transportado desde Las Isletas até Cádiz era contabilizado a quatro reais
de prata em 1511,e seis e meio em 1572, à caixa. Para Génova ficava em um ducado de
ouro a caixa (em 1519), chegando a atingirem 1531 a quantia de quinze reais de prata. Para
Anvers o seu preço cifrava-se, em 1533-1534, em cinco ducados ouro.

Meios de pagamento

A:J moeda e os usuais meios de pagamento são um factor importante e activador do


movimento de troca. Aliás o progresso da actividade comercial depende, em última
instância, de situação monetária e das condições de crédito(52). No caso concreto das ilhas

(50) Manuel Lobo, Protocolo de Alonso Gutiérrez. p. 37.


(51) F. C1avijo Hernández, Protocolo dei escriba/Jo Herman Guerra. p. 21-23.
(52) CF. Kristof. Glamann. "El comercio europeo (1500-1750)" in Historia Eco/lomica da Europa (2) .I'iglos
XVI Y Vil. Barcelona, 1981, 397-409: Frédéric Mauro, ob .. cit .. pp. 395-432: Eduardo Aznar Vallejo, oIJ. cit ..
334-337; Miguel Angel Ladero, Espaiia em 1492. Madrid, 1979,215; Enrique Olte, "Canarias: plaza bancaria
europea 1 .. .1, in IV C.H.C.A., I, 159-165; A. Cioranescu. 'História de Sallla Cruz, 1,273-277; José Gentil da
Silva, .. As ilhas dos Açores e os metais preciosos e a s\jculação monetária I . .. I" in Os Açores e o Atlântico
(séculos XIV-XVI/), Angra do Heroísmo. 1984, p. 596-61j.,

54
atlânticas, onde se afirmará uma ec'onomia colonial, o instrumento de troca tem uma acção
primordial na estrutura económica insular.
A moeda e seus substitutos são necessários para a compra de manufacturas de
importação e aquisição dos bens essenciais de que a sociedade insular carece, pois os
produtos dominantes não perfazem nem contrabalançam essa entrada, A situação monetária
das ilhas não se apresentava diferente. pois que em todas é dominante a falta do metal
amoedável e da sua circulação. Esta é. assim, a característica dominante da sociedade
insular, que condiciona de modo vincado as operações financeiras e contribui para o
entorpecimento das relações de troca,
Esta falta crónica de moeda tornou necessária a criação de novas formas de pagamento
e condicionou o aparecimento de novos instrumentos de troca, Assim, ter-se-ia generalizado
nestas ilhas o pagamento em géneros, a troca produto a produto e, em circuitos mais
amplos, o crédito, a letra de câmbio e o trespasse de dívidas,
Como medida padrão do sistema de troca produto a produto vigora em cada área e em
cada época o produto ou produtos dominantes e mais importantes em termos sócio-
-económicos, Este câmbio-vertical da moeda apresentava-se muito prejudicial aos insulares,
uma vez que os mercadores nacionais e estrangeiros. que detinham o controle dos circuitos
de importação, apresentavam os seus produtos a um preço mais favorável em relação aos
produtos de troca locais: pastel, trigo e açúcar. A dominância desta tendência monocultural
e a dependência dela decorrente em relação ao mercado externo contribuiram para o reforço
da posição estrangeira, o aumento especulativo dos produtos eá'as suas transacções, e o
agravar da situação financeira.
A moeda corrente nas ilhas era a mesma do mercado hispânico continentaL As coroas
de Portugal e Castela mantiveram sempre como privilégio seu a cunhagem da moeda (53).
Esta situação não invalida a existência de cunhagens especiais com destino às ilhas, bem
como a circulação uniforme de moeda portuguesa e castelhana nos três ar~uipélagos.
, A
primeira situação surge apenas nas Canárias em 1511 e 1513 com a cunhagem da moeda em
Sevilha(54); a segunda aparece desde os primórdios destas sociedades como resultado das
interconexões sócio-políticas e económicas dos três arquipélagos. A moeda de prata
castelhana, porque se apresentava como a moeda forte, alastrará a todo o mundo atlântico,
dominando todas as relações de troca; circulou com abundância no mercado madeirense
desde princípios do século XVI (55). As autoridades locais tendo em atenção essa situação
regulamentaram desde meados do século o seu valor corrente. que passaria a ser de trinta e
seis reais (56). Nas Canárias, ao invés, circulavam os ceutis portugueses, que invadiam o
mercado financeiro canário em face da valorização da moeda de ouro e prata espanhola (57);
as transacções do mercado interno implicavam a existência de uma moeda fraca e o ceutil
português era a mais indicada. .
As questões e soluções adequadas para o sistema financeiro insular não er~ um~or­
mes; pelo contrário, entre as ilhas portuguesas e espanholas apresentavam-se aSSlmetnas.
Assim, enquanto nas Canárias se procedia à valorização da moeda (1500-1509, 1521), como
forma de assegurar a estabilidade do mercado financeiro, na Madeira e nos Açores,

(53) O donatário das ilhas portuguesas não tinha o direito de cunhar moeda, pois D. Duarte, na doação de 26
de Setembro de 1433, o reservara para a coroa. Fernando Augusto de Silva «Moeda» in Elucidaria Madeirense. /I
(1945), 377; Bernardino José de Sena Freitas, "Memória Histórica sobre a moeda nos Açores.. , in Arquivo dos
Açores. IX (1887),292-413. A moeda castelhana vinha de Sevilha; veja-se Eduardo Aznar, Docllmentos Cwwrios
/ ... / n.o 962, p. 193, Valaladolid, la de Maio de 1513.
(54) Eduardo Aznar Vallejo, La integración de las islas CCl/laris en la corolla de Caslillw f . ,./. 334.
(55) José Madurell Marimón, «Los Seguros maritimos y el comercio en las islas de la Madera y eanarias.. ,
in A.E.A .. n.o 5, 507-509, II de Abril de t500, seguro marítimo para transporte de moeda de Andaluzia à
Madeira a troco de açúcar.
(56) A.R.M., C.M.F.. n. O 1309, fls. 85 v.0-86 v.o, 30 de Dezembro de 1500.
(57) Eduardo Aznar Vallejo, ibidem, 335; A. Cioranescu, Ibidem. I, 275.

55
mercê de política financeira portuguesa, actuava-se no sentido inverso, com consecutivas
desvalorizações (58).
A incidência da questão financeira no mercado insular foi igualmente preocupação dos
municípios, que intervinham no sentido de assegurar a estabilidade do mercado monetário
local, procurando colmatar os problemas derivados da urgente falta de moeda. Em Tenerife,
desde finais do século XV, o respectivo cabildo, definiu a sua política financeira, que
assentava nas seguintes directrizes:
(li Açúcar mercadoria de tlroca na Madeira
1508-1509

MERCADOR DATA AÇÚCAR/DINHEIRO MERCADORIA

João Francisco Affaitati 1508 II 470 arrobas e 19 arrateis 454 quintais, 2 arrobas e 6 arrateis
de pimenta
1509 1 I 470 arrobas e 19 arrateis 454 quintais, 2 arrobas e 6 arrateis
de pimenta
8 282 arrobas e 27,5 arrateis dívidas diversas
Claaes 1509-1510 10 000 arrobas 198 quintais, 17 arrobas e 4 arrateis
de pimenta
1507 659 524,5 reais de açúcar mercadoria
1506 273 908 reais de açúcar mercadoria
1508 979 818 reais de açúcar mercadoria de latão e cobre
1509 988 arrobas e II arrateis mercadoria de latão e cobre
Tristão da Cunha 1509 6000 arrobas 240 quintais, 3 arrobas, 19 arrateis
e 3 onças de pimenta
Rui Freire 1508 143 arrobas e 14 arrateis 47 340 reais de pimenta
Marchionni 1508-1509 40 000 arrobas 2 636 quintais, 2 arrobas, 6 arra-
teis e 2 onças de pimenta
·Álvaro Pimentel 1508 12 000 arrobas trato de tenças e casamentos
1509 12 000 arrobas trato de tenças e casamentos
1510 7 936,5 arrobas trato de tenças e casamentos
Lucas Rem 1508 12000 arrobas e a dízima de saída476 quintais, 2 arrobas, 6 arrateis
e 2 onças de pimenta
Hutra Deli Rio 1505 I 326 arrobas e 22 arrateis 199 moios de trigo

- aumento da produção da riqueza local por meio do incentivo à produção com valor
mercantil,
- incentivo à fixação de artesãos como forma de contrabalançar o movimento de troca
com o exterior, considerado a principal causa de sangria monetária,
- dinamização e institucionalização do sistema de trocas por produtos (cereais,
açúcar) de acordo com um tabelamento de preços pré-estabelecidos nas posturas e
acórdãos,
- obrigatoriedade dos mercadores efectuarem os seus pagamentos em moeda e de
arrecadarem as dívidas locais em produtos, de acordo com o preço estabelecido,
- proibição de saída da moeda (59).

Em finais do século XV e princípios do século XVI o cabildo ordena que os cereais e o


gado sejam considerados como moeda de troca, tendo os mercadores de os aceitar a troco

(58) Eduardo Aznar Vallejo,La integración de las islas Canarias en la corona de Castil/a, 335-336: Maria
José Ferro Tavares, "A moeda de D, João II aos Filipes (1481-1640)" in História de Portllga/. IV. 1984.273-290.
Na Madeira em 1568, segundo ordenação régia, o real sofreu uma quebra de 70%: veja-se A.R.M., C.M.F.,
RegislC) Geral, 1. m. fl5. 133 v.o-134 V.O
(59) Eduardo Aznar Vallejo. [b/dem. pp. 52, 315 e 33-337: A. Cioranescu, [bidem, I. 273-277: Enrique
Otte, /h idem, 159-160; Elias Serra Rafais "Introduccion" in Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, II, pp. XV-XVI.

56
dos seus produtos (60). A valorização soclo-económica do açúcar obrigou .a uma nova
reformulação do sistema de trocas, passando este produto a actuar como medida, a partir de
1508 (61). Nesse sentido poderá considerar-se que os cereais e o açúcar se mantiveram por
todo o século XVI como os principais produtos e instrumentos de troca(62). Na Madeira e
nos Açores a situação financeira é idêntica e, de igual modo, os produtos dominantes terão
uma acção fundamental na organização do sistema de troca. Os cereais, o pastel, o açúcar e
o vinho surgirão em cada época como moeda de troca (63).
Na Madeira, a dominância de cultura da canasacarina até a primeira metade do
século XVI, fará com que o açúcar seja utilizado como meio de pagamento no mercado
local e internacional; o açúcar era usado não só no pagamento de soldadas e dos serviços de
lavra e safra açucareira, mas também para pagar o trigo e cevada importados dos Açores.
A coroa, por vezes, servia-se dos seus réditos para fazer os pagamentos, em pimenta da
casa da Índia, das despesas da coroa e das comendas (64).
O lavrador e o proprietário do engenho serviam-se usualmente do produto da sua safra
para o pagamento da mão de obra assalariada de que necessitavam. Entre 1509 e 1537 há

Pagamentos em açúcar na Madeira, 1509·1537

AÇÚCAR
ASSALARIADOS NÚMERO
ARROBAS MÉDIA

Albardeiro 2 10 13
Alfaiate 6 4,5 0,75
Almocreve 7 32,5 4,64
Barbeiro [ 4 4
Botidrio 1 6 6
Caixeiro 1 3,5 3,5
Caldeireiro 2 4 2
Canavieiro 2 6 3
Feitor 1 2 2
Ferreiro 7 93,5 13
Mestre 1 8 8
Moleiro 1 3 3
Ortelão 1 1 I
Pedreiro 3 9,5 3
Pescador I 2 6
Purgador 2 11,5 5,75
Refinador 1 [ I
Sapateiro 6 105,5 17,5
Tacheiro 1 4 4
Tanoeiro 2 8 4
Trabalhador 15 54,5 3,6

Fonte: A. N. T. Too Ntícleo Antigo. Livros do quarto e quinto do açúear da Madeira. 1509-1537

(60) ACllerdos dei cabildo de Tellerife. t. I, n.o 49,52,62,74, 112, 189,325,462,464, de 15 de Maio de
1498 a 24 de Julho de 1503.
(61) lbidem. n.o 685, 688, 713, 8 a 10 de Janeiro e I de Março de .1507.
(62) O pagamento em espécie institucionalizou-se, sendo a prática eorrente e dominante em Tenerife e Gran
Canaria. Segundo Gentil da Silva, entre 1509-1510, em Tenerife 32,5 % dos pagamentos foram feitos em moeda e
68,5 % em espécie, sendo, destes últimos, 59.6 % em açúcar, 6,9 % em cereais, 0.6% em gado. (José Gentil da
Silva. "Échanges et troe; l'exemple des Canaries au début do XVI" siécle», Annaies, Economiques, So ciétés,
CivilisatÍons . . n.o 5, 1691. 1003-1011. Clavijo Hernández (los documentos de jietamentos I ... 1, 33-41)., ao
estudar as obrigações de pagamentos entre 1507-1511 e 1520-1523. conclui pela dominância destes produtos, com
especial saliência para os cereais.
(OJ) José Gentil da Silva, As ilhas dos Açores e os metais preciosos I .. .1. 602-603; Veja-se Gaspar
Frutuoso, Saudades da Terra, L.o IV, II, 18-23.
(64) Fernando Jasmins Pereira, O a~'lÍcar madeirense I ... 1, pp. 61-91.

57
8
referência a diversos pagamentos em açúcar por serviços prestados na lavoura e na
laboração do engenho e, mesmo, na compra de qualquer manufactura ou prestação de
serviço artesanal.
Os pagamentos aos serviços da safra do açúcar atingem 31%, sendo 17% no cultivo e
apanha da cana e o restante nos serviços, sendo dominados pelos sapateiros (28%) e
ferreiros (25 %) .
As obrigações do pagamento do trigo açoriano com açúcar surgem apenas entre 1509 e
1519. No global temos 43% em moeda e 57% em açúcar(65). Neste curto período de dez
anos movimentaram-se 946,5 arrobas de açúcar em troca de 235,5 moias de trigo, o que dá
em média quatro arrobas de açúcar por maio de trigo, avaliado em cerca de mil reais.

Obrigações de pagamento do trigo dos Açores

AÇÚCAR DINHEIRO
ANOS
NÚMERO ARROBAS NÚMERO REAIS

1509 I 42
151O 22 618 e 8 35200
1511 22 288 e 24
1512 13 24 e 30 I 15000
1513 40 1995459
1514 I 65000
1519 2

Esta característica da economia e das finanças das ilhas não era a mais conveniente
o
para desenvolvimento do comércio externo do mercado insular; para além de entorpecer os
circuitos de troca e de prejudicar os habitantes das ilhas e os estrangeiros, conduziu à
paulatina subordinação da economia ao mercado europeu que aí surgia em condições
vantajosas com as suas manufacturas. O ilhéu, não dispondo destas e perante a penúria da
moeda, via-se obrigado a recorrer à venda antecipada e às hipotecas ou empréstimos. Desta
forma os mercadores adquiriam as manufacturas a preços elevados e sujeitavam-se a
entregar os cereais e o açúcar a preços inferiores.
Perante tal exorbitância dos mercadores estrangeiros, os municípios actuaram no
sentido de regularizar a situação, traçando normas de conduta mais convenientes. Primeiro
estabeleceram o preço porque deviam ser vendidos os produtos, depois coibiram os
mercadores de tais práticas fraudulentas (66).
As dificuldades do sistema monetário não implicaram apenas os recurso à troca produto
a produto, mas de igual modo a procura de outras formas de pagamento substitutivas da
moeda, então em voga na Europa: a carta ou letra de câmbio e o trespasse de dívidas em
dinheiro ou produtos (67).
Segundo Enrique OUe, Las Palmas surge no século XVI como uma importante praça
bancária, situando-se ao nível das de Medina dei Campo e Valência (68). Os genoveses
detinham aí a maior parte do movimento de cédulas.

(65) A.N.T.T., C.C.. II, Maços 5, 21-29, 33, 36-8, 41-43, 46, 79, 185.
(66) Acuerdos dei cabildo de Tenerije I, n. o 356, pp. 33-34, 25 de Maio de 1509; Ibidem, IV, n. o 396,
p. 206, 15 de Junho de 1523: Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos paro o estudo da História económica
da Madeira, pp. 149-151.
(67) Eduardo Aznar Vallejo, Ibidem. 336-337; A. Guimerá Ravina, "La financiacion del comércio de
Garachico con las Indias (1566-1612).. , in II C.H.C.A, I., 1977, pp. 266 e 274.
(68) Enrique Olte, ob. cit., pp. 157-173.

58
Na Madeira, como nos Açores, a letra de câmbio teve igual importância nas transacções
comerciais com o exterior. Este meio de pagamento activou o trato do açúcar, sendo usual
nas trocas com o reino, nomeadamente Lisboa (69). A existência de uma importante
comunidade de italianos e de flamengos, ligados ao comércio do açúcar com as principais
praças europeias, contribuiupara a generalização desta fonna de pagamento. Os florentinos,
experientes nas transacções financeiras, surgiram também com grande evidência, sendo
particulannente importante a acção de Feducho Lamoroto e de Francisco Lape (0).

Companhias e Sociedades Comerciais

A empresa comercial no atlântico, pelo investimento do capital que implicava, pelas


dificuldades e longas viagens entre as principais praças, pelo risco constante a que sujeitava
homens e haveres, não poderia ser uma iniciativa isolada dos interessados. Apenas com uma
redistribuição equitativa de capital investido, perdas e lucros, se toma possível a manuten-
ção desta rede de negócios. Assim, especializam-se as tarefas e surgem os tratantes, os
transportistas, os seguradores e o societário. Ao mesmo tempo adaptaram-se a este
movimento as estruturas que fundamentam o comércio mediterrâneo-europeu. Surgem,
assim,as sociedades comerciais, os contratos de frete e o sistema de seguros, a dar
cobertura a essa aspiração de segurança, estabilidade e expansão da burguesia comercial e
marítima europeia (1).
A sua divulgação e institucionalização ficaram a dever-se aos mercadores italianos e
alemães que chegavam às ilhas atraídos pelo comércio do açúcar, do pastel e da urzela. Já
instalados nas praças de Lisboa, Sevilha e Cádiz, alargavam a sua acção às principais
cidades portuárias insulares: Funchal, Ponta Delgada, Angra, Las Palmas, Santa Cruz
(Tenerife) e Garachico. Subestabeleciam as tarefas a desempenhar em familiares ou
concidadãos com o estatuto de societários, de agentes ou de procuradores. Os Welsers, por
exemplo, tinham um feitor em Lisboa (Lucas Rem) e vários agentes subestabelecidos no
Funchal e em La Palma (72).
A fonna mais divulgada de associação e de aiargamento da rede de negócios foi a
companhia ou sociedade comercial, nas suas diversas modalidades. Estas definiam-se, de
um modo geral, pelo seu carácter familiar, pela eventualidade da sua acção e por uma
composição variada de intervenientes, que investiam o seu capital ou o seu trabalho.
Geralmente são empresas familiares, servindo-se os seus componentes dos laços de
parentesco para assegurar a permanência da sua acção, a solidariedade e comunhão de

(69) A.R.M .• Misericórdia do FUllchal, L.o 710. fls. 234-236 v.o. 26 de Junho de 1547, testamento de
Fernão Raiz mercador; Ibidem, L. ° 41, fls. 280-284, 24 de Outubro de 1559, procuração de Brás Pires a Baltasar
Gonçalves mercador; Idem L.0 de lIotas de .foi/o Tavira, fls, 43.45 v,o. 6 de Setembro de 1597, auto de venda de
fo['()s.
e o) Feducho Lamoroto, mercador florentino. vizinho do Funchal, entregou em 1512 três letras suas no
valor de 403 DOO rcais a João Saraiva (A.N.T.T., C.C. 11-41-120); e em 1517 enviou sob a mesma fonna
., 10 000 rs. a André da Silveim (Iii idem , 11-71- 131). Francisco Lape. igualmente florentino, passou uma letra de
300 000 rs. a João Francisco Affaitati, que lhe foi entregue por Francisco Pessoa, tesoureiro do dinheiro do reino e
morlllJias (fMliem, 11-7-77: 8-96). Temos, ainda em 1512, referência a duas operações de igual índole. a primeira
de João Dias, mercador tlamengo. residente no Funchal, que passou uma letra no valor de 100000 reais e a
segunda de Nicolosso Justinhom, genovês, no valor de 106900 reais (lliidem, 11-41-120),
e') Krislo Glamann, "E! comercio europeo (1500-1750)0. in Historia Económica da Europa (2) siglos XV/
I' XVI/o Barcelona, 1981, 387-409 Valentim Vasquez Prada, História ecollómica mundial/. Porto, 1977,302-312:
'Maria Olímpia da Rocha Gil, .. Açores-Comércio e comunicações nos séculos XVI e XVII .. , in Arquipélago. série
Ciências Humanas. IV, 1982, 351-357,
(72) Maria Thereza Schorer, .. Notas para a história das relações dos banqueiros alemães, .. ". in Revista dll
História, XV, S, Paulo, 1977, 277-355.
59
interesses (73). Quando tal se tomava impossível recorria-se aos compatrícios avizinhados
nas principais praças. Esta última forma surgiu com assiduidade na Madeira.
Não obstante as companhias familiares terem à partida uma tendência perdurável, de
modo geral a associação de mercadores assume um carácter temporário ou eventual. Todas
as companhias são formadas por um período determinado, e surgem com frequência nas
transacções comerciais entre as Canárias a Andaluzia e as Índias (4): na Madeira assumem a
mesma condição definidas para a compra do açúcar das escápulas, dos direitos reais e
também para o arrendamento desses direitos por períodos determinados.
O relacionamento dos intervenientes nestas sociedades fazia-se de acordo com o
investimento na empresa: capital e trabalho. Quando um dos societários apenas intervém
com o seu trabalho poderá ser definido como agente ou feitor (s). Por vezes esses laços são
de menor dimensão surgindo assim o procurador que, mediante documento notarial, actua
sobre a fazenda do seu parceiro no mercado local, cobrando por isso uma determinada
percentagem (6). Ambas as situações aparecem com grande evidência na praça funchalense,
enquanto nas Canárias se afirma com muita acuidade a segunda.
A rede de negócios funchalense, em tomo do trato do açúcar, foi criada e incentivada
pelo mercador estrangeiro, alemão ou italiano, que aí apartou depois da reconfortante e
vantajosa escala em Lisboa; ele dominou as principais sociedades intervenientes no comércio
açucareiro, não obstante ter morada fixa em Lisboa, Flandres ou Génova (7); o seu domínio
atingiu não só as sociedades criadas no exterior com intervenção na ilha, mas também o
grupo de agentes ou feitores e procuradores subestabelecidos no Funchal. A escolha destes é
criteriosa; primeiro os familiares, depois os compatrícios enraízados na sociedade e, só
depois, os madeirenses ou nacionais.

Sociedades comerciais no Funchal. 1500-1540

AGENTES
SÓCIOS MERCADO TOTAL
PROCURADORES
ORIGEM ~_.'--_.- .. ~"~"--

N.ll 'I, N,o C/r N." '7, N.Q 1J,


'--'-~-~-'-~--~-""-"-

Nacionais 22 42 12 44 3 13 37 36
Estrangeiros 30 58 15 66 21 87 66 64
Total 52 51 27 26 24 23 103

As principais casas intervenientes no trato açucareiro madeirense sob esta forma,


podem ser definidas de acordo com o número de representantes, salientando-se entre eles
Baptista Morelli, B. Marchioni,Welser, Claaes, Charles Correa, Pero de Ayala e Pero de
Mimença (vejam os quadros anexos).
Os Welsers e Claaes intervêm na praça do Funchal por intermédio de agentes
estabelecidos em Lisboa, respectivamente, Lucas Rem e Erasmo Esquet, que na ilha
subestabelecem feitores. O primeiro tinha como seus interlocutores no Funchal, em

(73) Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana con America en la época de Filipe II. I, Valladolid, 1979,
159.
(4) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y lndias I., ,I» IV C,H,C,A" l, 134-135; Francisco Morales
Padron, «Canarias en el Archivo de Protocolos de Sevilha» A.E.A .. n.O lO (1961), 253; Veja-se documento
n.o 176 e 216; Eduardo Aznar Vallejo, ob, ri!" 337-338.
(5) Manuel Lobo Cabrera, lbidem. 134-136.
(6) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII, Castelo Branco, 1979,
357-360.
(7) Virgínia Rau e Jorge de Macedo, O açúcar da Madeira 1, .. 1, 29.

60
princípios do século XVI, João de Augusta, Bono Broxone, Jorge Emdorfor, Jácome
!10lzbuck, Leo Ravenspurger e Hans Schonid. Os produtores e feitores, na sua condição de
mterlocut~res dos mercados europeus, não se ligam a uma única sociedade, mas distribuem
a sua acçao por um grupo numeroso de societários; e estes, por sua vez, não se prendem

~:1:1:1?::1:1:11 Nacionais
30 -

Estrangeiros

25 -

20 -

15 -

10 -

O
Sócios Mercadores AgentelProcurador

SOCIEDADES COMERCIAIS NO FUNCHAL. 1500-1540

apenas a um representante, pois fazem distribuir os seus poderes por um grupo razoável de
feitores e procuradores. Na primeira situação distingue-se Benoco Amatori que representava
B. Marchionni, B. Morelli, Álvaro Pimentel e Jerónimo Sernigi, e, na segunda João
Francisco Affaitati que, entre 1500-1529, estava representado por Gabriel Affaitati, Luca
Antonio, Cristóvão BocoIlo, Capella e CapeIlani, João Dias, João Gonçalves, Matia
Manardi, Mafei RogeIl e Lucas Giraldi (vejam-se os mesmos quadros).

61
Sociedades para o comércio do açúcar

DATA MERCADORIA SOCIEDADE

1471-1473 açúcar da produção local Martim Anes Boa Viagem, Fernão Nunes Boa Viagem, Fernão Pires,
Vicente Gil, Pedro Botelho, Álvaro Esteves, Batista Lomelim, Francisco
Calvo e Micer Leão
1502 escápulas mediterrânicas António Salvago, João Francisco Affaitati, Jerónimo Sernigi, João
Grande Francisco Corvinelli
1520-1521 direitos João Francisco Affaitati e Jerónimo Bicudo
1524 direitos Jorge Lopes Bixorda e Pedro de Minença
1526 direitos Charles Correa e Pedro de Minença
1527 direitos Pedro de Ayala. João de Miranda, João de Odom, Diogo de Torres e
Nuno Henriques
1530 direitos Bernardim de Medina. João Coquet. João Rodrigues Castelhano,
João de Quintana e Afonso de Sevilha
1534 direitos Manuel Mendes e Gabriel Fernandes
1535 direitos Tobias de Marim e Henrique Nunes
1537 direitos Afonso de São Victor e Henrique Nunes

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, O açúcar Madeirense ... 68-93

Sociedades para arrendamento dos direitos

DATA MERCADORIA SOCIEDADE

1506-1508 quartos Martim de Almeida, Fernão Alvares, Benoco Amador, Quirino


Catanho, Alvaro Dias, Feducho Lamoroto. João Lombarda,
Henrique Vamdura
1506-1508 alfandega Martim de Almeida. Benoco Amador, Onésimo Castanho, Alvaro
Dias. João Lombardo, Francisco Viola Maroto
1516-1518 todos Simão Acciaioli, Lopo de Azevedo. Luis Doria. Benedito Morelli,
Antonio Spinola, Duarte Fernandes, Gonçalo Pires Gregório Alvares

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, O açúcar Madeirense .... 68-93

Fora do âmbito do trato açucareiro fonnam-se companhias com objectivos definidos no


comércio ou transporte. Assim em 1597 Rodrigo Fernandes Saía de Veloso, mercador,
morador no Funchal, contrata com Afonso Antunes, mercador, morador em Cabo Verde, o
comércio de chacina (B). Na mesma data surge uma nova sociedade entre Manuel Vieira
Jardim e António Gonçalves d'Araújo, para o transporte e venda de trigo da ilha de São
Miguel (9). No sector dos transportes, área onde o risco era maior, existiam também
companhias, em que intervinham mercadores e mareantes. Em 1597 referencia-se a venda
de uma caravela pertença de uma sociedade composta por António Rodrigues Torzilho,
Domingos António e Diogo Gonçalvez, a uma outra, composta pelos mercadores António
Lopes de Vila Real e Manuel Gomes e pelo mareante Pero Vaz (BO).
O arquipélago açoriano, área privilegiada do comércio transatlântico, foi igualmente
atraído pelas sociedades europeias, portuguesas ou não, .que tinham os seus interesses
nessa área; elas surgem aí, com muita frequência, interessadas nas riquezas locais ou nas
que por aí passavam; estabeleciam contactos com a burguesia e aristocracia locais, que se
lhes associavam com o estatuto de agente ou procurador (Sl).

es ) A.R.M., L.0 de Notas de João Tavira, fi. 2 v,o, 31 de Maio de 1597.


e lbidem, fls. 18 v.0-22, 2 de Agosto de 1597.
9
)
(so) lbidem. fis. 24 v.0-25 v.o, 24 de Julho de 1597.
(81) Maria Olímpia da Rocha Gil, lbidem, 557-560.

62
Na praça de Angra fomos encontrar um mercador inglês, Thomaz Barnes, associado a
um compatrício seu, com interesses nas Canárias (82). E, em Ponta Delgada, Afonso Annes
de Chaves surge associado, em sistema de parceria, com Afonso Pires, vizinho e morador
no Porto (83); o primeiro comprometia-se a enviar ao Porto vinhos, vinagres, castanhas e
sardinhas, enquanto este lhe enviaria couro de cordovão e toalhas de mãos.
Nas Canárias as companhias não surgem apenas no sector comercial, pois esta forma de
associação alarga-se também ao sector produti vo e aos transportes (84); é de referir em
especial, no sector produtivo, a aquisição, em 1513, pelos Welsers, de importantes canaviais
em Tazacorte (La Palma), que depois trespassaram aos seus agentes, Juan Bissan e Jácome
de Monteverde(85). Em Gran Canaria são frequentes os contratos de companhia entre os
lavradores de açúcar e os mercadores ou mesmo entre os primeiros e os canavieiros (86).
As sociedades comerciais canárias actuam de modo diverso em três partes distintas -
mercado europeu nórdico e mediterrânico, no litoral africano e no litoral americano. Nas
praças de Las Palmas, Santa Cruz e Garachico formam-se sociedades, compostas por
mercadores locais e forasteiros, com o objectivo de comerciar nessas três partes. Geral-
mente chegam aí a partir de Sevilha e Cadiz, as principais sociedades europeias que
subestabelecem o tratamento dos seus interesses em feitores ou procuradores (87).
Em 1518 forma-se em Cádiz uma sociedade para comerciar entre Castela e Tenerife,
sendo composta por dois mercadores residentes nesta ilha, Juan Pacho e Gaspar Jorba, e
outro em Castela, mas com larga experiência no comércio canário, Lorenzo Garcia(88).
Quando ela termina, em 1520, dois dos seus intervenientes, Juan Pacho e Lorenzo Garcia,
criam nova sociedade por quatro anos (89). O êxito destas iniciativas, bem como a
possibilidade de alargamento da rede de negócios à Flandres e Berberia, fê-los fundar em
1533 uma nova companhia, conjuntamente com Lucas deI Burgos e Diego Rodrigues eo).
Com os mesmos objectivos surgiu em 1536 outra companhia, fundada por três
mercadores de Barcelonae 1); pretendiam comerciar o açúcar das Canárias e escravos, tendo
Cádiz como centro de redistribuição. A estes seguiu-se, em 1574, nova iniciativa de
mercadores de Barcelona com idêntico objectivo (92).
Nesta trama de relações comerciais entre a Andaluzia e as ilhas Canárias dominam,
acima de tudo, as companhias de familiares, em que se conjugam os laços de parentesco
com os comerciais. As principais famílias italianas, flamengas e andaluzas, organizadas ou
não em sociedade, subestabelecem familiares seus nas principais praças destas ilhas,
nomeadamente em Las Palmas, Garachico e Santa Cruz. Aí encontramos os Sopranis,
Coronas, Veintinigla, etc. (93).

(82) B.P.A.P.D., Livraria Ernesto do Callto. Extractos de Documentos Micaelenses, vaI. IV, p. 28, 26 de
Agosto de 1549, testamento de Thomaz Bames.
(83) Idem, Escrituras 1518-1599, n.O 9, Porto, 16 de Abril de 1518, carta de quitação.
(84) Eduardo Aznar Vallejo, ibidem, 338.
(85) Ibidem. 351, nota 177; José Peraza de Ayala, "Historia de la casa de Monteverde", in Nobiliario de
Callarias, II, La Laguna, 1959, 491-579; Manuel Lobo Cabrera, "Los Vecinos de Las Palmas y sus viages de
pesque ria 1...1" III C.H.C.A., II, 1978, 471.
(86) Guilherme Camacho y Perez Galdós, "E! cultivo de la cana de açúcar I ... I" in A.E.A., n. ° 7 (1961) -
33-34.
(87) Manuel Lobo Cabrera, "Gran Canaria y Indias I .. . /», IV C.H.C.A" I, 143; Manuela Marrero
Rodrigues, "Una sociedad para comerciar en Castilla, Canarias y Flandres en la primera mitad deI siglo XVI". III
C.H.C.A., I, 1978, 161.
(88) Manuel Lobo, Ibidem, 161-173.
(89) Ibidem, 172.
(90) Ibidem, 163-164.
(91) J. M. Madurell Marimon, «Notas sobre el antiguo comercio / .. ./ .. A.E.A., n.o 3, (1957), 563-592;
Idem, "E1 antiguo comercio / ... /», A.E.A., n.o 7 (1961), 71-74.
(92) Idem, «Miscellanea de documentos historicos Atlânticos», A.E.A .. n.O 25 (1979) 224-225, 235-238.
(93) Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ibidem, 52; Eufemio Lorenzo Sanz, ibidem, I, 105-423.

63
1.3 Agentes

Os agentes poderão considerar-se como elemento fundamental e activador de todo o


sistema de trocas. São eles que executam as principais tarefas inerentes ao movimento de
circulação dos produtos.
Numa sociedade nascente, a preocupação primordial dos seus vizinhos assenta na
necessidade de assegurar a subsistência. A criação de excedentes e o recurso aos produtos
com valor mercantil surgem num segundo momento. Só então se fazem sentir as necessidades
decorrentes do sistema de troca, tornando-se necessário viabilizar e institucionalizar uma
estrutura de mercado adequada às dimensões das permutas internas e externas; as autoridades
régias e locais terão nessa fase uma actuação importante.
Numa sociedade essencialmente agricola, em que a maioria da população se dedica
quase em exclusivo à faina do aproveitamento da terra e a actividades artesanais subsidiárias,
torna-se difícil o recrutamento desses novos agentes económicos. A juntar-se a tudo isto
verifica-se o domínio de uma mentalidade ruralizada, a insuficiência de meios e de bens
disponíveis para uma actividade de tal índole.
A sociedade insular define-se pelo seu carácter agrário. A agricultura ocupa a quase
totalidade da sua população. O sector artesanal alia-se, muitas vezes, ao agrário, enquanto o
sector comercial, embora ligado a essa realidade, mantém um certo distanciamento. O grupo
de agentes de transporte e do comércio fixa a morada no burgo ribeirinho, afirmando-se
nesse ,meio como um estrato sócio-económico importante e animador do quotidiano das vilas
e cidades. Não obstante, a sua representatividade na população insular é muito reduzido,
isto é 3 a 4%. Na Madeira essa percentagem atinge os 7%, enquanto nas Canárias não
ultrapassa 3 % e ficando-se nos Açores apenas em 0,5 %. Estes dados comprovam o carácter
marcadamente rural da sociedade açoriana, em contraste com uma tendência mercantilizadora
das sociedades madeirense e canáriaet). A posição dominante da Madeira resulta do
desenvolvimento da estrutura sócio-económica, ao longo do séc. XVI, em que se denota a
constância e a afirmação do sector mercantil. Aliás, toda a exploração agricola, desde
meados do séc. XV, estava subordinada a este sector. Recolher-se-iam produtos, como o
açúcar e o vinho, cujo fim primordial é o fornecimento do mercado externo europeu ou o
americano e o asiático; daí a forte implantação dos agentes de transporte e comércio.
O mesmo não sucederá nos Açores, onde predominará uma agricultura de subsistência, em
aliança com uma produção com valor mercantil: trigo, pastel e). As Canárias, por seu
turno, debater-se-ão entre uma exploração de subsistência e outra de mercado, sendo a
actuação das autoridades régias e locais no sentido de manter um equilíbrio adequado entre
o cereal e o açúcar.

el Convém salientar que a informação encontrada na documentação disponível é muito heterogénea e


desproporcionada, no que concerne aos três arquipélagos, pelo que o resultado poderá surgir muito viciado,
estando muito aquém da realidade. Para a Madeira a existência dos registos paroquiais da freguesia da Sé, desde
1539, e dos testamentos da Misericórdia do Funchal e Julgado de Resíduos e Capelas, facultou um levantamento
exaustivo deste e outros grupos de gentes. Nos Açores a insuficiência de documentação dos séculos XV-XVI não
permitiu uma análise da mesma índole. Nas Canárias, não obstante o valioso acervo documental dos arquivos
provinciais de Las Palmas e Santa Cruz de Tenerife, essa pesquisa foi limitada. Aí privilegiamos a importante
colecção de documentos já publicados, nomeadamente os protocolos que abrangem apenas a primeira metade do
século XVI.
el Veja-se o nosso estudo A questão cerealífera nos Açores / ' .. / .

64
1 ()()() -
CJ Agentes de Comércio

~ Agentes de Transporte
~

500 -

Madeira Açores Canárias

AGENTES DE TRANSPORTE E COMÉRCIO NAS ILHAS. Sécs. xv a XVI

Esta inadequação ou inapetência do insular para actividades que o desliguem da terra,


aliada à intensificação das relações de troca, conduziram a uma solicitação exterior dos
principais agentes de comércio, e mesmo de transporte. A sociedade insular recebeu nos
séculos XV e XVI 29,8 % dos seus agentes do exterior, sendo 12,1 % no sector dos
transportes e 36,7% no comércio.

65
9
As ilhas da Madeira e Canárias exerceram maior atracção, pois totalizam isoladamente
48 % enquanto os Açores atingem apenas 3 %. Esta situação por si só denuncia a importância
que os dois sectores tiveram na Madeira e nas Canárias, importantes entrepostos do
comércio atlântico.
A presença forasteira é mais clara no sector comercial do que no de transporte, pois no
primeiro atinge 88,5% e no segundo não ultrapassa os 11,5%. Esta presença é justificada
pelo comércio dos produtos de exportação. Além disso ela varia nos três arquipélagos, pois
nos Açores é apenas de 3,4% enquanto na Madeira é de 48,1 % e nas Canárias de 50,5%.
A situação aludida, para além de reforçar a ideia da importante actuação da classe mercantil
forasteira na Madeira e nas Canárias, nos contactos com o exterior, denuncia a sua
predominante intervenção no mercado e comércio local. O açúcar e, depois, o vinho
atraíram mais facilmente a cobiça do mercado europeu do que o pastel ou os cereais. Neste
grupo de estrangeiros evidenciam-se os oriundos do mercado hispânico que representam na
Madeira 47,7% e nas Canárias 44,4%. Verificamos assim que a burguesia comercial e
marítima hispânica mantém uma posição dominante no mercado insular, que desde os
inícios do povoamento atraiu as suas atenções.
A activação dos circuitos de troca no mercado insular deriva da acção dos agentes de
transporte e de comércio. Os primeiros subdividem-se em agentes de transporte terrestre
(carreteiro, boieiro, cocheiro, cameleiro, almocreve) e marítimo (barqueiro, mareante,
piloto e mestre de navio). Os segundos ramificam-se de acordo com a incidência da sua
actividade no mercado local e externo; assim, teremos o mercador propriamente dito, que se
dedicava ao trato por grosso de mercadorias de exportação e importação, e um grupo
numeroso de agentes retalhistas, que asseguram a actividade do mercado local - regatão,
vendeiro, estalajadeiro, peixeira, especiero, carniceiro e vinhateiro.
Numa área onde a economia se define pela litoralidade, em que portanto o transporte
dominante é o marítimo, e onde a troca directa ou indirecta da produção é devida à acção
dos agentes comerciais, esta fica logicamente valorizada; representam 71,7%, predominando a
sua actuação nos três arquipélagos. De acordo com essa situação, o transporte marítimo terá
uma posição primordial, representando os seus agentes dois terços do global do grupo de
transporte.

Transporte marítimo e terrestre

Definida a importância das vias e meios de comunicação na economia insular e


sublinhada a dominância do mar nesse relacionamento, apenas nos interessaremos aqui pela
actuação dos vários agentes de transporte no mercado insular.
Os meios, vias e agentes de transporte terrestre terão a sua acção limitada pela
orografia insular e/ou pela facilidade das comunicações marítimas. Não obstante, terão uma
importância primordial nos contactos entre as áreas produtoras e os portos de exportação,
como acontece em S. Miguel e Gran Canaria.
De entre os agentes sobressaem os almocreves, que já na Europa medieval tinham uma
acção muito importante no transporte e na comunicação entre as várias regiões do
interior e); serão igualmente importantes na economia insular, sendo os principais agentes
de transporte na safra do açúcar. O almocreve tanto transporta a lenha e as canas ao
engenho, como o açúcar aos principais portos de cabotagem ou exportação (4).

e) A. Barquero Moreno, .. A acção dos almocreves / .. '/", in Papel das Àreas Regionais na História de
Portugal. Lisboa, 1975, 185-215; J. Borges de Macedo, .. Almocreve.. , in Dicionário de História de Portugal.
vol. I, Lisboa, 1975, 119-120.
(4) A.R.M., C.M.F .• n.o 1313, fIs. 14-14 v.o, vereação de 5 dc Maio de 1597; R. Diaz Hernandez, EI

66
250 -
o Mareante

~
~ Almocreve

[[]] Barqueiro

f:,~;:.~f'] Mestre de Navio

200 -

150 -

100 -

50 -

o
Madeira Açores Canárias

AGENTES DE TRANSPORTE. Sêculos XV e XVI

67
Na Madeira surgem com maior incidência no século XVI (82,1%), sendo os principais
agentes de transporte na safra do açúcar, onde as condições orográficas o permitiam. A área
do Funchal e arredores, onde se concentravam todas as actividades comerciais, torna-se o
seu principal pólo de acção, seguindo-se a parte ocidental da vertente sul, entre a Ribeira
Brava e Calheta, região onde se situava a maior produção açucareira.
Nos Açores, não obstante a importância que tiveram nas ligações entre Ponta Delgada e
Ribeira Grande e de Angra com a Praia, apenas há notícia de um almocreve (5). Aliás, nos
contactos entre a Ribeira Grande e Ponta Delgada, o transporte terrestre, para além de ser
mais rápido, estava facilitado pelas condições orográficas. Assim no século XVI os
almocreves micaelenses deram um importante contributo à economia cerealífera local,
sendo os principais agentes de transporte de cereais e farinhas da Ribeira Grande e áreas
limítrofes para Ponta Delgada. A câmara da Ribeira Grande preocupa-se com a sua acção,
quer por meio do regimento da sua actividade, quer pela acção de reparo dos caminhos. Em
1599 era autorizada a circulação de 60 almocreves nesse circuito, que deveriam apresentar
anualmente fiança na câmara (6).

Almocreves na Madeira

MORADA N."
'"
Funchal 131 93,57
Santa Cruz I 0,71
Caniço I 0,71
Ribeira Brava 4 2,86
Ponta do Sol 2 1,43
Calheta I 0,71

Nas Canárias, tal como na Madeira, a sua actividade será justificada pela safra do
açúcar.' Deste modo teremos nas ilhas produtoras de açúcar - Gran Canaria e Tenerife -
um numeroso grupo de almocreves. Todavia, apenas são referenciados 52, sendo 13,5% em
Gran Canaria e 86,5% em Tenerife. Destes, quatro são portugueses.
Quanto aos restantes agentes de transporte apenas há a salientar os cameleiros e
carreteiros nas Canárias e os cocheiros e boieiros na Madeira C). Estes últimos surgem na
década de 50, certamente dedicados ao transporte de passageiros. Em Vila Franca do
Campo e S. Miguel existiam, em 1566, 14 carreteiros dedicados ao transporte de produtos
no município e deste com Ponta Delgada e Ribeira Grande (8).
O predomínio dos agentes de transporte marítimo denuncia a cambiante marítima da
sociedade e economia insulanas. As vias e meios de transporte desse tipo são um dos

aZl/car en Callarias, Las Palmas, 1982, p. 27; G. Camacho y Pérez Galdós, ob. cit., 56-58; Eduardo Aznar
ValIejo, oh. cit., 324-326.
(5) B.P.A.P.D., Ernesto do Callfo. ms. 20, Tombo de escrituras de compras e dc cartas de sesmarias,
1482-1515, fi. 32 v.o, Angra, 4 de Junho de 1511, escritura de compra de metade de um chão e casa na Rua
Direita por Pero Anes do Canto e Pero Álvares Andrade, almocreve.
(6) A.C.M.R.G., L.0 de Acórdãos. fls. 31 v.o c 41, vereações de 29 de Junho e 13 de Novembro de 1593.
n Eduardo Aznar Vallejo. ob. cit .. 325-326: A.R.M., Paroquiais. Baptizados da Sé, fi. 85 v.o, 8 dc
Setembro de 1553, Gimena filha de João Martins, cocheiro; ibidem, n.o 10, fl. 14, 17 de Setembro de 1575, Ana,
filha de Gonçaleanes, boieiro; Idem, óbitos-sé; n. ° 68, 25 de Outubro de 1552, Maria Fernandez, Carreira.
(8) A. Teodoro de Matos e Maria de Jesus dos Mártires Lopes, "Subsídios para a História económica e
social do concelho de Vila Franca do Campo no ano de 1566 / ... /0>, in Os Açores e o Atlântico (séculos
XlV~XVll), Angra do Heroísmo, 1984, 550.

68
e· ·

69
sustentáculos da economia dessa sociedade. A vivência ribeirinha fez do ilhéu um mari-
nheiro nato, ele surge como pescador, barqueiro, mareante e, muito raramente, como piloto
ou mestre de navio.

Agentes de transporte marítimo nas Ilhas

BARQUEIRO MAREANTE MESTRE CALAFATE

N." 'il:
N." 'il: N."
'* N."
'*
Madeira 56 95 248 91 2 10 3 60
Açores 12 4 5 4 1 20
Canárias 3 5 13 5 126 95 1 20

Na Madeira dominam os barqueiros (90,8%) enquanto nas Canárias essa pOSlçao é


ocupada pelos mestre de navio (96,9%); entretanto os mareantes, como os pilotos e os
mestres de navio, surgem com maior evidência. Não obstante, há informação mais
esclarecedora sobre arquipélago dos Açores, que aponta uma marcada actuação dos
barqueiros, pois só na Vila Franca do Campo, em 1566, existiam 23 barqueiros (9).
Estes dados indicam que o movimento comercial da Madeira e Açores estava entregue
a um grupo de agentes de transporte forasteiros que, muitas vezes, associavam essa
actividade ao comércio. As ilhas portuguesas não dispunham de uma frota adequada ao
comércio externo, pois as poucas embarcações existentes estavam ocupadas no comércio de
cabotagem; ao visitante do reino ou estrangeiro estava reservada essa actividade. A situação
é de tal modo precária que, ao longo dos séculos XVI e XVII, e vereação funchalense tem
de recorrer às embarcações visitantes para se abastecer de trigo nos Açores eo).
O facto de se documentar uma elevada percentagem de mareantes no Funchal (9%),
não é sinónimo do desenvolvimento da navegação a longa distância nestas paragens, mas
sim da assiduidade desses contactos e do apelo constante à mão de ol;>ra assalariada,
necessária a essa actividade. Em termos globais nota-se que os marinheiros surgem, nos três
arquipélagos, na razão inversa dos mestres e pilotos de navios.

Agentes de transporte marítimo na Madeira

BARQUEIRO MARINHEIRO
ORIGEM
N." N."

Funchal
Santa Cruz
Machico
Campanário
Ribeira Brava
Ponta de Sol
Calheta
Porto Santo
Reino
Canárias

Na Madeira, o principal centro de incidência dos homens do mar situava-se na zona


ribeirinha do Funchal. Aí deparamo-nos com 82, I % dos barqueiros e 97,9% dos mareantes.

(9) lbidem. p. 550. . .


et 0 ) Veja-se o nosso estudo - O comércio de cereais dos Açores para a MadeIra no seculo XVIl. 659.

70
..:
z

II e.· ·

71
Muitos destes encontravam-se lá temporariamente ao serviço de embarcações que aportavam
ao Funchal. Desses 12,2% são do reino, nomeadamente de Tavira, Faro, Lagos, AIcacer do
Sal, Santarém, Buarcos, Porto, Esposende, Sesimbra, Gaia, Viana, Barcelos e Vila do
Conde. Sendo assim, o movimento de embarcações entre a Madeira e os Açores e o reino
era intenso, salientando-se neste último o litoral algarvio, a região de Lisboa e a costa norte.
A existência de mareantes fora do Funchal - Calheta, Santa Cruz, Machico (3,2%) -
evidencia também a existência de contactos dessas embarcações de comércio a longa
distância nestas zonas costeiras.
O mareante e o barqueiro, tal como o pescador, assentaram morada na zona ribeirinha
pelo apego ao mar, junto do burburinho do calhau, onde poderiam ouvir o marulhar das
ondas. A zona dO calhau, hoje Corpo Santo, acolhia o maior número de marinheiros,
barqueiros e pescadores. A sua influência foi dominante nesta área citadina, pois aí
construiu no século XV uma capela para o seu padroeiro S. Pedro Gonçalves Telmo, com
uma confraria para defesa e apoio dos mesmos mareantes (11). Em Machico, Santa Cruz,
Ribeira Brava, Calheta e na ilha do Porto Santo havia igualmente uma diminuta comunidade
de homens do mar com morada fixa junto ao calhau ou aos ancoradouros.
Nos Açores o barqueiro ou mareante surge em todas as ilhas nas áreas costeiras de
maior movimento. Em Vila Franca do Campo, por exemplo, em 1566 a comunidade marítima
representava 5% do grupo, sendo 23 barqueiros, 10 marinheiros e 13 pescadores (12).
A comunidade marítima nas Canárias, embora espalhada por todo o arquipélago, tem
em Gran Canária e Tenerife os principais focos de fixação, e surge anexa aos principais
portos destas ilhas: Las Isletas, Santa Cruz e Garachico. Nestes lugares, onde domina o
tráfico a longa distância nota-se a afirmação dos marinheiros, pilotos e mestres de navio; os
primeiros representam 88% e os últimos apenas 9%.
A maioria dos mestres de navio referenciados actua a partir de Tenerife (80%),
surgindo com maior frequência o porto de Santa Cruz; eram na sua maioria forasteiros. No
total de 125 aduzidos apenas 49 têm a indicação de procedência, sendo 78% estantes e 22%
vizinhos. Nos primeiros sobressaem os portugueses com 13%, seguidos dos castelhanos
(6%) e genoveses (3%)(13). No grupo dos portugueses encontramos dois oriundos da
Madeira e um do Faial, facto demonstrativo das ligações entre as Canárias e os arquipélagos
de Portugal.

Comércio interno e externo

O mercado interno estava sob o domínio do município que delimitava os locais e a


forma de venda a retalho dos diversos produtos, concedendo as necessárias licenças aos seus
agentes, de modo a poder fiscalizar a sua actividade; o tabelamento dos preços, verificação
dos pesos e medidas pelos almotacés estavam ainda no seu campo de intervenção.
Os principais agentes desta actividade sectorial poderão definir-se em duas categorias:
revendedores, isto é, bufarinheiros, regatões, vendeiros que procedem à revenda a retalho
de fruta, hortaliça, queijo, pão, caça, de acordo com as normas elaboradas em postura; e
vendedores, ou sejam, os carniceiros, peixeiras, vinhateiros, especieiros, que vendiam a
carne, peixe e espécies em locais estabelecidos pela vereação.
O município não acolhia de bom grado a actividade dos revendedores, em virtude da
sua apetência para a especulação e acções lesivas do bem comum. Assim, para além da

(11) Fernando Augusto da Silva. "Capela do Porto Santo», in Elucidário Madeirellse, I (1940). 316-317.
ee3) A.Eduardo
2) Teodoro de Matos, ibidem, 550. . . _
Aznar Vallejo (ob. cit .. 327-328) dá conta apenas de trinta e quatro com a 1n~ICaçao de
procedência. Ao nível local dominam os portugueses seguidos dos andaluzes e _bascos e, nas relaçoes com o
exterior, surgem em primeiro lugar os vizinhos e os genoveses. ambos com tres.

72
rigorosa fiscalização exercida sobre eles, através da obrigatoriedade do uso da licença, os
vereadores exararam em postura a faculdade dos vizinhos poderem comprar os seus
produtos directamente ao mercador visitante. Para isso, ordenaram que todo o pr<>duto
deveria ficar retido nove ou quinze dias, respectivamente, em Tenerife e na Madeira, para
os vizinhos poderem adquiri-los ao preço de compra; só após esse prazo se procederia a
revenda de acordo com as posturas 4 ). e
No Funchal há notícia de quarenta e oito vendeiros que se dedicavam a esse comércio a
retalho, dos quais vinte e cinco são de finais do século XV e vinte e três do século XVI. Em
finais do século XV os vendeiros são na totalidade do sexo feminino, pois só na última data
aparecem os do sexo masculino que representam cerca de 70% (quadro n. o 11).
O açougue, a peixaria, a taberna mereceram maior incentivo por parte do município,
que regulamentava com rigor a venda nestes recintos de modo a dissuadir os seus agentes da
especulação eda fraude, e com o fim de garantir as devidas condições de higiene. A venda
dos produtos estabelecidos para essas lojas, considerados essenciais para o quotidiano do
burgo, fazia-se de acordo com as normas e tabelamento de preços, estabelecidos em
vereação. Esta vigilância não derivava apenas da necessidade de assegurar o abastecimento
da população e de evitar as práticas fraudulentas, mas tinha de igual modo o fim de
assegurar o lançamento e arrecadação dos direitos reais e concelhios, como sucedia com o
vinho da Madeira. Aqui a vereação, por intermédio do juíz da referida imposição, auxiliado
por arrieiros e um escrivão, verificava o transporte, a abertura das pipas e a venda do vinho,
lançando, de acordo com o varejo, os direitos a pagareS).
A venda de carne era feita nos açougues municipais que detinham o monopólio do
abate e da venda. Eram arrendados pelo concelho a carniceiros que procediam ao abate e
venda de acordo com as posturas 6 ). e
O comércio externo do espaço insular, pela amplitude e importância que adquiriu no
mercado atlântico-europeu, pelo investimento e organização que implicava, condicionou o
aparecimento de agentes forasteiros, ligados aos circuitos comerciais europeus no Atlântico
e Mediterrâneo. A intervenção destes agentes de comércio neste domínio far-se-á de modo
diverso, adquirindo uma dimensão ou posição de acordo com a amplitude da sua actividade.
Poderemos assim diferenciar três tipos de mercadores: 1. mercador, especializado no
comércio de determinados produtos de importação e exportação; 2. mercador transportista,
que intervem no comércio marítimo internacional, dispondo de meios financeiros e técnicos
para isso; e 3. mercador banqueiro, que se dedica a operações de finanças nos principais
mercados de dinheiro da Europa, tendo uma rede de negócios organizada em todas as
melhores praças europeias, por intermédio de familiares e agentes 1). e
Ao nível insular a presença destes três grupos de mercadores não é uniforme, pois varia
de ilha para ilha de acordo com a importância sócio-económica das praças insulares. Os dois
últimos tipos, na sua maioria estrangeiros, têm uma presença temporária, surgindo apenas
em momentos de exportação dos produtos mais importantes do mercado - vinho, açúcar,
pastel- a fim de estabelecer a sua troca com as manufacturas europeias. Por vezes fazem-no de
modo indirecto, por meio de familiares ou agentes, que se apresentam como filiais das casas

e 4
Veja-se supra 2. n parte, cap. l.1.
)
es ) Problemática abordada em estudo que fizemos sobre O Villho da Madeira fIOS séculos XVIl-XIX. em
vias de publicação.
(16) A.C.M.R.G., L.0 de Acordãos, 1578.11.64 v.0-66 v.o, Vereação de 16 de Abril de 1578; ibidemo' fls.
67-68, Vereação de 19 ele Abril de 1578; Idem L.0 de Acórdãos, 1599,11. 14 v.o, \O ele Abril de 1599; Ibidem. fi.
18,8 de Maio de 1599; lbidem, fi. 27, 12 de Junho de 1599; Vereações de Velas (5. Jorge) 1559-1570-1571,
1984, pp. 28-29: A.R.M., C.M.F., 0.° 1296, fl. 3020 de Outubro de 1470: Ibidem. 0.° 1297, fls. 24; 8 de Juoho
de 1481: ibidem. fi. 27-27 v.o, 28 de Julho de 1481; Ibidem, fl. 39-39 v.o, 3 de Dezembro de 1481; passim.
[17) Frédéric Mauro, Marchand et marchands Banquiers portugais {/li XVI/eme siec/e. Coimbra. 1961.
Separata di! Revista Portuguesa de História. vo1. IX (1961).19-20, Maria Valeotina Cotta do Amaml, Mercadores
estrangeiros em Portugal no reilllldo de D. João 11/, Lisboa, 1967 (lese de licenciatura, policopiada), 19-20 e
72-74.

73
lO
europeias. Além disso, o último tipo só surgirá com grande relevo em Las Palmas, onde a
alta finança europeia monta uma praça bancária especializada no comércio atlântico s). Nos e
Açores e na Madeira não há qualquer informação que aponte para a sua existência; aí tudo
nos indica a presença e o domínio exercido pela praça de Lisboa.
O primeiro grupo será aquele que terá maior representatividade no mercado insular. Ele
surge muitas vezes numa posição subalterna, como agente subestabelecido ou representante
de mercador transportista ou barqueiro; os que nele se inserem, definem a burguesia
comercial com assento nas ilhas, que detém uma posição privilegiada no comércio
inter-insular e nos contactos com a mãe pátria.
A maior parte das operações financeiras, comerciais e, mesmo, de transporte eram
dominadas por estrangeiros, a partir de Génova, Veneza, Anvers e Antuérpia. Uma rede de
negócios e circuitos comerciais assegurava esse domínio. Italianos e flamengos, seus
principais detentores, surgem desde cedo nas praças de Lisboa, Sevilha e Cádiz; a partir daí
tomam a direcção das operações financeiras e comerciais do Mediterrâneo Atlântico,
adquirindo e reforçando essa posição com as regalias e os privilégios concedidos pelas
coroas hispânicas 9 ). e
Factores internos e externos condicionaram essa intervenção de mercadores nacionais e
estrangeiros no mercado insular; em primeiro lugar, o desenvolvimento de culturas, como o
vinho, o açúcar, o pastel, componentes importantes das trocas europeias e americanas; em
segundo, a posição privilegiada dos três arquipélagos e, nomeadamente, das Canárias e dos
Açores, no traçado das rotas do comércio atlântico eo). Alemães, genoveses, venezianos e
judeus disputam entre si o domínio deste mercado e 1 ).
O arruamento dos ofícios e dos locais de venda de artefactos e produtos agrícolas
deriva não só da necessidade de fiscalizar e defender os interesses dos diversos artesãos e
vendedores, mas também da necessária aproximação da alfândega e calhau, de modo a
facilitar as operações de transporte. Por isso nas principais cidades e vilas do mundo insular
existia, sempre uma Rua dos Mercadores, arruamento onde se centrava a maioria deste
grupo, para proceder às suas transacções locais e externas 2 ). e
Na Madeira, de acordo com a informação de Gaspar Frutuoso, toda a actividade
comercial estava centralizada em três ruas anexas à alfândega e calhau: Rua Direita dos
Mercadores, Rua do Poço Novo e Rua do Sabãoe3 ). A primeira é definida pelo autor como a

e 8
) Enrique Otte, ob. cito
e 9
) Maria Valentina Cotta do Amaral, ibidem; Virginia Rau, "Privilégios e legislação portuguesa referente
a mercadores estrangeiros (séculos XV e XV!)" in Estudos de História, Lisboa, 1968, [31-158; H. Gama Barros,
História da Administraçtio Pública em Portllgal, Lisboa, vol. X, [71-205 e 221-280; M. B. Azma[ak, Mercados
comerciais, Lisboa, 1932, 96-98; Hermann Kellenberz, "Os mercadores alemães de Lisboa por volta de 1530», in
Revista Portuguesa de História. vol. IX, Coimbra, 1960, 124.140; Enrique Stols, "Os mercadores flamengos em
Portugal / ... /», in Anais de História, S. Paulo, 1973, 11-54; Charles Verlinden, Les origines de la civilization
atlantique / .. '/' Neuchatel, 1966, 10; Jacques Heers, Gênes au XV e siecle. Paris, 1971, 328-331; Maria Olímpia
da Rocha Gil, "OS Açores e a rede de negócios no atlântico seiscentista" in Açores e o Atlântico (Séculos
XIV-XVII), Angra do Heroísmo, 1984. 555-573.
e ll
) Enrique Otte, ibidem. 28-29.

e 1
) Sobre os mercadores judeus veja-se Meyer Kayserling, História dos judeus em Portugal, São Paulo,
1971; José Gonçalves Salvador, Cristãos-novos e o comércio no Atlântico Meridional, Lisboa, 1978, Maria José
Ferro Tavares, Os Judeus em PortuQal no século XV, Lisboa, 1982; Idem, ..Os Judeus em Portugaln, in História
de Portugal (direcção de José Hermano Saraiva), vol. IV, Lisboa, 1982, 259-272.
e 2
) Em Tenerife existia em 1520, a CaBe Real de Santo Espírito de los mercadores (Acuerdos dei cabildo
de Tenerife, IV. n.o 183, p. 69, 22 de Outubro de 1520). Na Madeira esta Está documentada desde 1469; Veja-se
A.R.M., C.M.F. Registo Geral. t. I, fls. 1 v.0-2 v.o, 25 de Setembro de 1469, carta dos mercadores sobre o
monopólio do comércio do açúcar, pubI. in A.H.M.. xvn, 47-49.
e 3
) Saudades da Terra, L.0 n, Ponta Delgada, 1968, 111-112; mas surgem também nas ruas das Pretas
(Miguel Lopo), Tanoeiros (Diogo de Medina, João Tavira, João Gago, Bartolomeu Pereira), Ponte Cidrão, Nova,
Netos, Pelourinho (João Esmeraldo), Ribeirinho, Ferreiros, Santa Maria, Matoso, do Peixe, Cotijo, Carreira,
Ponte, Conceição, S. Sebastião, Alfândega. do Frias, Marmeleiros, Pinhos e Beco do Baluarte.

74
1000

sec. xv

séc. XVI - 1= metade

D séc. XVI - 2~ metade

mm sem data

500

o
Madeira Açores Canárias

MERCADORES NO MUNDO INSULAR. Séculos XV a XVI

rua «dos mercadores e franqueiras, ingleses e flamengos e outros forasteiros, e de homens


ricos e de grosso trato ...•• ; a segunda estava reservada a «outros de menor trato, com a
fruta, pano de linho e coisas de fancaria, que vêm de fora ... "; a última servia de <<Iogeas e
graneis de trigo».
Esta informação é concordante com a realidade emanente da documentação compulsada.
Assim, em 1469, a Rua Direita é definida como a principal rua, onde residiam os

75
mercadores do trato do açúcare 4 ); no século XVI estava-lhes reservada, em consequência
da obrigatoriedade de os mercadores com casa de aluguer residerem apenas aí, o que
mereceu o protesto dos visados e o pedido da revogação dessa postura s ). Não obstante, e
pela sua localização e costume da actividade comercial, esta rua manteve-se como o
principal arruamento de residência e actividade do mercador, quer local quer estrangeiro.
No século XVI dos oitenta e um mercadores com referência da morada temos 31 % com loja
nessa rua e os restantes nas ruas circumvizinhas da alfândega.

Lojas de Comércio no Funchal

RUA N." %

Direita 31 38,3
Poço Novo 8 9,9
Santa Maria 7 8,6
Tanoeiros 3 3,7
João Tavira 3 3,7
João Esmeraldo 2 2,5
Diogo de Medina 2 2,5
Outros 25 30,8
--
Total 81 100

o grupo de mercadores identificados no mercado insular para os séculos XV e XVI


atinge o total de 1612, sendo a sua maioria oriundos da praça do Funchal; situam-se
maioritariamente no século XVI (88%) e, nomeadamente, na segunda metade do século
(63%), momento de grande movimento comercial no mundo insulare 6 ). No século XV
apenas a praça do Funchal apresentava um avultado número de mercadores, que aumenta,
de modo espectacular, no período subsequente, pois triplica na primeira metade do século
XVI.
Mercadores nas Ilhas
MORADA N." %

Madeira 957 59,2


Açores 546 33,8
Canárias 118 7,0

Mercadores nas Ilhas

sÉc. xv 1500-1550 1551-1600 S;.D.


MORADA
N.' N.'
N."
* N."
* % %

Madeira 139 10,9 459 35,9 679 53,2 7 O, I


Açores I 0,8 180 15,0 1 002 83,3 1 0,8
Canárias 7 1,2 380 67,3 142 25,1 36 5,8

e 4
) Dizia-se nesse documento que ..esta rua dos mercadores que he junto com ho mar esta povoada destes
mercadores do Irauto do açúcar e outros que a esta pertencem ... " (A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fi. I
v.0-2 v.o, já cit.). Veja-se Ernesto Gonçalves, «João Gomes da ilha.. , in A.H.M.. XI, 44, 46; Manuel Juvenal de
Pita Ferreira, "o Infante D. Fernando, terceiro senhor do arquipélago da Madeira, 1460-1470.. , in D.A.H.M.. n. O
39 (1963), 21; Álvaro Manso de Sçmsa, ..Ruas do Funchal (notas para o estudo da toponímia citadina)", in
D.A.H.M.. n.o 5094, 10 de Julho de 1949, 268-269.
e s
) A.R.M., C.M.F .. Registo Geral, t. I, fls. 324 v.0-325 v.o, in A.H.M.. xvm, 536-537.
e s
). A diminuição de 15 % resulta única e exclusivamente de a nossa recolha ter incidido na primeira metade
do século, período para o qual abundam publicações de documentos.

76
150

f~i~i~i~i~i~D Canárias

~
~ M
ado
erra

100
D Açores

:~ ~ ~ ~ ~ ~ ~:
50

li~
Espanha Itália Portugal Flandres França Inglaterra

-..l MERCADORES: ÁREAS DE PROVENTI::NClA


-..l
A razão da sua importância no século XV e do aumento espectacular na primeira
metade do século seguinte deriva da conjuntura sócio-económica madeirense. A Madeira foi
de todas as ilhas do Atlântico a primeira a ser ocupada e a apresentar uma exploração
agrícola com valor mercantil, que despertou a cobiça do mercador nacional e estrangeiro.
Nos Açores e nas Canárias o processo arrastou-se por algumas décadas, e esses arquipélagos
só assumiram idêntica posição no século XVI.
Na Madeira, o açúcar fez atrair desde meados do século XV um numeroso grupo destes
agentes, que se dedicaram quase em exclusivo ao seu comércio. A quebra desta produção na
primeira metade do século XVI não provocou o desaparecimento deste mercador, pois ele
irá adaptar-se às novas realidades e cambiantes da economia madeirense: primeiro substi-
tuindo o açúcar pelo vinho e, depois, por meio da ligação deste mercado às áreas produtoras
brasileiras, o que viabilizava a sua actividade comercial em torno do ouro branco. As ilhas
das Canárias e dos Açores só poderão apresentar essa multidão de agentes económicos
quando usarem do essencial para a sua actividade, isto é, de um mercado vantajoso para as
manufacturas e um conjunto adequado de produtos com valor mercantil. Tal só veio a
suceder para as Canárias no início do século XVI com o açúcar, o pastel e os cereais; nos
Açores essa situação só se definirá na segunda metade do século XVI, exactamente quando
se atinge o maior número de agentes (83%); isso resultará da estabilidade adquirida pelo
mercado açoriano e da sua valorização na economia atlântica, como um porto importante de
escala e').
Como vimos, o mercado insular, pelo seu posicionamento e importância na rede de
trocas no Atlântico e pelas suas potencialidades sócio-económicas, fez atrair as atenções da
burguesia comercial e marítima do velho continente que, por intermédio de Lisboa, Cádiz
ou Sevilha, aí fixa morada ou se faz representar por agentes.

Mercadores, estantes e vizinhos

ESTANTES VIZINHOS
LOCAL
N." % N." %

Madeira 91 9,5 585 61


Açores 6 5,1 15 12
196 310 56
Canárias
--- - -36- 75,6
Total 293 24,4 910

No global nota-se a posição privilegiada do mercador forasteiro ou estrangeiro que


quase sempre repudia o seu carácter nómada para aí se fixar sempre como vizinho,
penetrando e actuando activamente nas estruturas institucionais e económicas do mundo
insular.
As ilhas da Madeira e das Canárias ofereceram maiores garantias à intervenção do
grupo de forasteiros sob o estatuto de vizinho ou de estante. No entanto os forasteiros
temporários surgem com maior frequência nas Canárias; esta situação resulta da sua eficaz
actuação, a partir de Sevilha, Cádiz e Medina deI Campo, por meio de agentes ou de
familiares, o que iIÍviabiliza a necessidade de permanência no arquipélago; além disso
define de modo cabal uma situação peculiar da economia canária, isto é, a sua subordinação
aos interesses e intervenção da burguesia comercial e marítima da região de Andaluzia.
Aliás, entre forasteiros é importante a presença dos agentes com morada fixa no reino:
Castela e Portugal.

e
7
) Veja-se Maria Olímpia da Rocha Gil, O Arquipélago dos Açores no século XVll / ... /, Castelo Branco,
1979.

78
o grupo de mercadores estrangeiros oriundos das principais praças europeias é
dominante nos três arquipélagos, atingindo 14% na Madeira, 9% nos Açores e 31 % nas
Canárias. Nesse grupo sobressaem, na Madeira e nas Canárias, os italianos e os flamengos,
e nos Açores os ingleses.

Mercadores estrangeiros

MADEIRA AÇORES CANÁRIAS


ORIGEM
N," % N," % N," %

França 32 3,3 5 0,9


Itália 50 5,2 I 0,9 92 16,9
Flandres 36 1,0 3 2,5 53 9,7
Inglaterra 10 1,0 5 4,2 3 0,6
Reino 105 11 5 4,2 139 25,5
Outros 724 75,7 104 88,1 252 46,2

o aparecimento da burguesia comercial e marítima estrangeira na sociedade insular


prende-se com a actuação de determinados factores de ordem conjuntural e estrutural. Uma
multiplicidade de solicitações e de condições de fixação conduziram à sua valorização na
economia e na sociedade insulares.
O conhecimento e a ocupação do vasto espaço atlântico, não obstante a direcção das
coroas de Castela e Portugal, não ficou isento da presença estrangeira. nomeadamente
italiana. Os italianos comprometidos com as navegações atlânticas, aparecem desde o
século XV como o grupo estrangeiro mais influente no Mediterrâneo Atlântico, ligando-
-se às actividades administrativas, produtiva e comercial. Será no seguimento desta vaga
inicial que teremos, em finais do século XVI, a sua implantação em força na Madeira e nas
Canárias, de que resultou a sua posição dominante no grupo de mercadores.
Atraídos pelos lucros do açúcar e do pastel surgem, no século XVI, novas levas de
mercadores oriundos das praças europeias do norte, como os flamengos e ingleses que, ao
contrário dos italianos, se apresentam apenas com o estatuto de mercador-transportista-
banqueiro, e só muito raramente como mercador proprietário.
A Madeira atraíu a primeira vaga destes mercadores forasteiros, mercê da prioridade na
ocupação e exploração do açúcar. Só o impediam as ordenanças limitativas à sua residência
na ilha, resultantes da sua tendência para a rápida fixação e para controle dos circuitos
comerciais madeirenses. .
Em meados do século XV a coroa facultava a entrada e fixação de italianos, flamengos,
franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado
europeu para o açúcares). Mas a presença e a influência desses homens foram lesivas para
os mercadores nacionais e para a coroa, pelo que se tornou necessário impedir que eles
e
pudessem «asy soltamente trautar todos» 9 ); deste modo o senhorio ordena a proibição da
sua permanência na ilha como vizinhos eo). A questão foi levada às cortes de Coimbra de
1472-1473 e de Évora em 1481, reclamando a burguesia do reino contra o monopólio de
facto dos mercadores genoveses e judeus no comércio do açúcar; para isso propunha a sua
exploração nesse regime a partir de Lisboa 1 ), e
(2B) Veja-se nota 19; Alberto Artur Sarmento, A Madeira e as praças de África. Funchal, 1939, 9.
(29) A.R,M., C.M.F., Registo Geral, l. I, fis. 5 v,o·6. Lisboa, 6 de Outubro de 1471. carta régia sobre o
trauto do açúcar, in A,H,M., XV, 57; {bidem, fis, 148-148 v,o, Beja, 5 de Março de 1473, carta da infanta
D. Be(ltriz acerca dos estrangeiros, in A,FI,M" XV. 68,
eu) {lJidem.
e 1) Esta situação surge no senhorio do inf(lnte D. Fernando. Veja-se Manuel Juvenal de Pita Ferreir(l,
ibidem, 22; Joel Serrão, "O Inf(lnte D, Fernnndo e a Madeira (1461-1470) I" .1 .. , in D,A.FI.M" n.o 4 (1950).

79
o monarca, comprometido com essa poslçao vantajosa dos estrangeiros, mercê dos
privilégios concedidos, actua de modo ambíguo, procurando salvaguardar os compromissos
anteriormente assumidos e atender às solicitações dos moradores do reino; por isso
estabelece limitações à residência dos estrangeiros no reino, fazendo-a depender de licenças
e
especiais z ); quanto à Madeira define a impossibilidade da sua vizinhança sem licença sua,
e
ao mesmo tempo que os interdita de revenda no mercado local 3 ); a câmara, por seu turno,
baseada nestas ordenações e no desejo expresso dos seus moradores, ordena a sua saída até
e
Setembro de 1480, no que foi impedida pelo senhorio 4 ); somente em 1489 se reconhece a
utilidade da sua presença na ilha, ordenando D. João II a D. Manuel, então Duque de Beja,
que os estrangeiros fossem considerados como «naturaes e vizinhos de nossos regnos» s ). e
Os problemas do mercado açucareiro da década de 90 conduziram ao ressurgimento
desta política xenófoba. Os estrangeiros passam a dispor de três ou quatro meses, entre
Abril e meados de Setembro, para comerciar os seus produtos, não podendo dispôr de loja e
feitore Ó ); em 1493 D. Manuel reconhece o prejuízo que as referidas medidas causavam à
economia madeirense, afugentando os mercadores, pelo que revoga as interdições anterior-
e
mente impostas 7 ). As facilidades concedidas à estada destes agentes forasteiros conduzi-
rão à assiduidade da sua frequência nesta praça, bem como à sua fixação e à sua intervenção
de modo acentuado na estrutura fundiária e administrativae s ).
A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira estava dominada pela presença
italiana, seguida da dos flamengos e dos franceses; todos surgem aí atraídos pelo tão
solicitado ouro branco.

Mercadores Estrangeiros na Madeira

ORIGEM N." %

Flandres 36 3,8
França. 32 3,3
Inglaterra 10 1,0
Itália 50 5,2
Castela 17 1,8
Alemanha 11 1,1
Holanda 1 0,1
---
Total 157 14,3

15-17; Maria José Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no século XV, Lisboa, 1982,279-80; V. Rau,
O açúcar na Madeira / .. ./, 29-30; Idem, The Setlement Df Madeira and the sugar cane plantations, W., 1964,
8-9; H. Gama Barros, História de Administração Pública em Portugal, X, 149-155; Fernando Augu;;to da Silva,
«Estrangeiros» in Elucidaria Madeirense, I (1940), 419-421; Charles Verlinden, «Les débuts de la production et
exportation du sucre à Madere. Quel rôle y jouerent les italiens", in Studi iII Memoria de Luigi dei Palie, Roma,
1982, 301-310.
(3Z) H. Gama Barros, ibidem. X, 152-153; ibidem, vol. 330; V. Rau, O açúcar na Madeira / ... /. p. 26.
nota 27; Monumenta Henricina, XV, Coimbra, 1974, 87-89.
(33) A.R.M., C.M.F.. n. O 1298, fi. 37, 22 de Dezembro de 1485; ibidem, fi. 68 v. o , 15 de Abril de 1486;
ibidem. fi. 87 v. o , 7 de Junho de 1486.
e 4
) A.R.M" C.M.F., Registo Geral. t. I, fIs. 292-293, Lisboa. 7 de Agosto de 1486.
e s
) A.N.T.T., Gavetas, XV-5-8, Évora, 22 de Dezembro de 1489, sumariado in As Gavetas da Torre do
Tombo, IV. Lisboa. 1964. 169-170.
(36) H. Gama Barros ibidem, X. 155; Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos para o estudo da
História económica da Madeira / , .. /139-162; A.R.M., C.M.F.. Registo Geral. t. I, fls. 262 v. 0 -269 v. o • Torres
Vedras, 12 de Outubro de 1496. in A.H,M.. XVII, 350-358; lbidem, n. O 1302. fIs. 83-83 v. o • 26 de Novembro de
1496.
e 7
) A.R.M., C.M.F" Registo Geral, t. I, fls. 291 v. 0 -292, Lisboa, 22 de Março de 1498 in A.H.M.. XVII.
369. Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações", in Stllldades da Terra. Funchal, 1873. 681-682.
(38) Alberto Vieira. O regime de propriedade na Madeira. O caso do açúcar (1509-1532) (em vias de
publicação).

80
Os italianos, em especial os florentinos e os genoveses, conseguiram implantar-se na
Madeira, desde meados do século XV, como os principais agentes do comércio do açúcar,
alargando depois a sua actuação ao domínio fundiário, por meio da compra e laços
e
matrimoniais 9 ). Na década de 70, mediante o contrato estabelecido com o senhorio da
ilha, detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o efeito, sendo
representados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer Leão (40). No último quartel
do século vêm juntar-se a estes Critóvão Colombo, João António Cesare, Bartolomeu
Marchioni, Jerónimo Sernigi e Luis Doria. A este grupo inicial seguiu-se, em princípios do
século XVI, outro grupo mais numeroso, que alicerçou a comunidade italiana residente;
entravam nele Lourenço Cattaneo, João Rodrigues Castigliano, Chirio Cattaneo, Sebastião
Centurione, Luca Salvago, Giovanni e Lucano Spinola.
Os mercadores-banqueiros de Florença evidenciaram-se nas transacções comerciais e
financeiras do açúcar madeirense no mercado europeu. A partir de Lisboa, onde adquirem
uma posição privilegiada junto da coroa, mantêm e orientam uma extensa rede de negócios
que abrange a Madeira e as principais praças europeias. Primeiro conseguem da fazenda real
o quase exclusivo do comércio do açúcar resultante dos direitos reais por meio do contrato;
depois apoderam-se do açúcar em comércio, tomando o exclusivo dos contingentes estabe-
lecidos pela coroa, em 1498 (41). Assim teremos Bartolomeu Marchioni, Lucas Giraldi e
Benedito Morelli com uma clara intervenção no trato do açúcar, na primeira metade do
século XVI (42). A manutenção dessa rede de negócios fazia-se por meio da intervenção
directa destes mercadores e por meio de procuradores ou de agentes subestabelecidos.
Benedito Morelli, em 1509-1510, tinha na ilha como seus agentes para o recebimento do
açúcar dos quartos Simão Acciaiuolli, João de Augusta, Benoco Amador, Cristóvão Bocollo
e António Leonardo(43). Marchioni, em 1507-1509, fazia-se representar em operações de
idêntica índole por Feducho Lamaroto (44). João Francisco Affaitati, cremonês, agente em
Lisboa de uma das mais importantes companhias comerciais da época, teve uma participa-
ção muito activa nesse comércio entre 1502 e 1526, por meio de contratos de compra e
venda dos açúcares dos direitos reais (1516-1518, 1520-1521 e 1529) e pagamentos em
açúcar a troco da pimenta (45); este mercador actua quer em sociedade com Jerónimo
Sernigi, João Jaconde, Francisco Corvinelli e Janim Bicudo, quer isoladamente, tendo para
o efeito como feitores e procuradores na ilha Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão
Bocollo, Capela de Capellani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi e Maffei Rogell.

e 9
) Virginia Rau comenta, a propósito: "E uma vez que os italianos se aferraram 110 comércio de exportação

do açúcar da Madeira. servidos por uma vasta rede comercial e financeira disponta sobre toda a Europa, fácil lhes
foi também penetrarem com o tempo na posse de terras e transformarem-se então em produtos e proprietário da
ilha da Madeira I , "/ a Madeira terá sido para os italianos, em grande parte,.a ilha de grande comércio de
exportação do açúcar durante a segunda metade do século XV e primeira metade do século XVI, até ao advento e
tempo da grande exportação do açúcar do Brasil em meados deste último século.. (ibidem, 32).
Sobre a presença italiana na Madeira veja-se Charles Verlinden, ob. cit,; M. do Rosario: Genoveses na
História de Portugal, Lisboa, 1977; Prospero Peragallo, Cenni in torno alia colonia italiana in Portogallo nei
Secoli XIV, XV e XVI, Génova, 1882; Domenico Geoffré, "Le relazioni fra genova e Madera nel I decenio deI
secolo XVIo>, in Srudi Colombiani, III, Génova, 1952, 435-483; Carlos Passos «Relações históricas luso-
-italianas .. , in Anais da Academia Portuguesa de História, 2. a série, VII, Lisboa, 1856, 143-240 «Italianos na
Madeira" in A.H.M, V (1937), 63-67; Jacques Heers, Gêlles au XVe siecie, Paris, 1977, 335; Virginia Rau, "Uma
familia de mercadores italianos em Portugal no século XV: os Comellini" in Estudos de História, I, Lisboa, 1968,
33-36,
(40) Virginia Rau, O açúcar na Madeira 1 ... /. 29.
(41) Fernando Jasmins Pereira, O açLÍcar madeirense de 1500 e 1537 / .. ,/, 61-65.
(42) Ibidem. 61-91; Idem, Os estrangeiros na Madeira. 88, 115-117 e 125-128.
(43) Idem, Os estrangeiros na Madeira, 19, 27, 60, 105, passim,
(44) Ibidem. 115-118.
(45) Ibidem, 22-26,

81
11
Venda do açúcar dos direitos na Madeira 1502-1534

MERCADOR DATA AÇÚCAR

João Francisco Affaitati 1502 18000 arrobas de escápulas com Jerónimo Semigi
1504 35 000 arrobas
1587 6000 arrobas
1516 direitos do açúcar branco
1517 direitos do açúcar branco e mel
1520-21 (') direitos do açúcar
Pedro de Ayala 1527e) direitos do açúcar
1528 direitos do açúcar
Jerónimo Bicudo 1527 (') direitos do açúcar
Jorge Lopes Bixorda 1524e) direitos do açúcar
1531 direitos do açúcar
Charles Correa 1526 (4) direitos do açúcar
João Coquet 1530 (5) direitos do açúcar
Francisco Corvinelli 1502 (6) direitos do açúcar
João Jaconde 1502 (6) direitos do açúcar
Nunes Henriques 1527e) direitos do açúcar
Gabriel Fernandes 1534 (') direitos do açúcar
João de Freitas 1512(8) direitos do açúcar
Bach. Bartolomeu Lopes 1520 direitos do açúcar
Marchionni 1507 10 000 e 12 000 arrobas de açtlcar
1512 12 000 arrobas de açúcar
Tobias Marim 1535 (g) direitos do açúcar
Bernardim de Medina 1530 ('0) direitos do açúcar
Manuel Mendes 1534 (') direitos do açúcar
Braz Teles de Menezes 1524 3 000 arrobas de açúcar
1536 3 000 arrobas de açúcar
Pedro de Mimença 1524 e) direitos do açúcar
João .de Miranda 1527 e) direitos do açúcar
Luiz Vaz di Negro 1524 12 000 arrobas de açúcar
Henrique Nunes 1535 (g) direitos do açúcar
1537 ('0) direitos do açúcar
João de Odom 1527 e) direitos do açúcar
João de Quintana 1530 (5) direitos do açúcar
João Rodrigues Castelhano 1530 (5) direitos do açúcar
António Salvago 1502 18 000 de escápulas
João Saraiva 1512 (8) direitos do açúcar
Afonso de São Victor 1537 ('0) direitos do açúcar
Jerónimo Serinigi, com J. F. Affaitati 1502 18 000 de escápulas
Afonso de Sevilha 1530 direitos do açúcar

Fonte: Fernando Jasmins Pereira. O açúcar madeirense... 80-92


I) Janim Bicudo e J. F. Affaitati
2) Pedro Ayala. Nuno Henriques, João de Miranda e João de üdom
3) Jorge Lopes Bixorda e Pedro de Mimença
4) Charles Correa e Pedro de Mimença
5) João Coquet. Bemardim Medina, João Rodrigues Castelhano. Afonso de Sevilha e João de Quintana
6) João Jaconde e Francisco Corvinelli
7) Gabriel Fernandes e Manuel Mendes
8) João de Freitas e João Saraiva
9) Tobias Marim e Henrique Nunes
lO) Henrique Nunes e Afonso de São Victor

A tRenetração deste grupo de mercadores na sociedade madeirense foi muito acen-


tuada (4 ). O usufruto de privilégios reais e o interrelacionamento familiar conduziram à sua
plena inserção na aristocracia terratenente e administrativa; na sua maioria, apresentam-se

(46) Ibidem, 23.

82
como proprietários e mercadores de açúcar, instalam-se nas terras de melhor e maior
produção; e, por meio de compra e laços matrimoniais, tomam-se nos mais importantes
proprietários de canaviais. Assim sucede com Rafael Cattano, Luis Doria, João Esmeraldo,
João e Jorge Lomelino, João Rodrigues Castelhano, Lucas Salvago, Giovanni Spinola, João
Antão, João Florença, Simão Acciaiolli e Benoco Amatori.
A sua intervenção na estrutura administrativa madeirense abrange os domínios mais
elementares do governo, como a vereação e repartições da fazenda, que incidiam sobre a
economia açucareira. Surgem, assim, como almoxarifes e provedores da fazenda; e têm uma
intervenção forte na arrecadação dos direitos reais, aparecendo ainda como rendeiros.

Arrendamento dos direitos reais na Madeira

RENDEIRO DATA RENDA

Jerónimo Rodrigues e Quirino Catanho e) 1503-1506 alfândega


Benoeo Amatori e) 1503 quartos
Martim de Almeida, Benoeo Amatori, Arrnão Alvares e), Quirio
Catanho. Alvaro Dias, Fedueho Lamoroto (4), João Lombardo (5),
Henrique Vandura (6) 1506-1508 quartos
Martim de Almeida, Benoeo Amatori, Quirio Catanho, Atanho, Alvaro
Dias, João Lombardo, Francisco Vio-Viola Lamoroto 1506-1508 alfândega
Rafael Catanho e) 1506 miunças de Machico
Benedito MorelJi (8) 1509-1511 quartos e ai fândega
Simão Aeeiaiolli (9), Lopo de Azevedo, Luis Dória eo), Benedito
Morelli, Antonio Spinola et 1) Gregório Alvares (12), Duarte Fernan-
e
des et 2), Gonçalo Pires 2 ) 15161518 quartos e alfândega

Fonte, Fernando Jasmins Pereira, O açúcar madeirense ... 61-65


I) Genovês, fixou-se na madeira c. de 1500
2) Florentino, tio de Simão Aeciaiolli, casou com Petronila Gonçalves e em 1509 possuia casa em Santa
Cruz e lavoura no Funchal, faleceu em 1517
3) Alemão, mestre em açúcar, estabelecido na Madeira desde o século XV
4) Mercador florentino, residente na ilha desde 1504
5) Mercador residente na Ilha com canaviais na Ponta de Sol
6) Mercador flamengo
7) Irmão de Quirio Catanho, mercador genovês
8) Mercador florentino residente em Lisboa
9) Florentino de família nobre, residente na ilha
10) Genovês, residente na ilha desde 1480
II) Genovês. residente na ilha desde 1505
12) Mercadores de Ponte Lima

Tal como os italianos, os franceses e flamengos surgem na ilha, desde finais do


século XV, atraídos pelo rendoso comércio do açúcar; mas já não se enraizam na sociedade
insular, mantendo a sua condição errante; na verdade, o seu interesse é única e exclusi-
vamente a aquisição do açúcar a troco dos seus artefactos, alheando-se da realidade
produtiva e administrativa locais. Os franceses distinguem-se pelas suas operações de troca
em tomo do açúcar (20%), enquanto os flamengos mantêm uma posição subalterna, mesmo
como grupo interveniente no mercado madeirense; no entanto, aliam a Madeira a rede de
negócios das Canária.s, que surge como ramificação das praças nórdicas e andaluzas; a sua
condição de estantes limitou o seu aparecimento e rastro na sociedade madeirense, pelo que
se torna impossível avaliar da sua importância.
Os mercadores franceses têm uma presença muito activa no comércio do açúcar da
Madeira na primeira metade do século XVI; aparecem com frequência nas comarcas do
Funchal, Ponta de Sol, Ribeira Brava e Calheta, onde adquirem grandes quantidades de

83
açúcar que transportam em embarcações suas. Nesse trato evidenciaram-se mestre António,
Archelem, António Coyros, António Caradas e Francisco Lido (47).
Nos Açores a inexistência de uma forte rede de negócios em tomo do açúcar, bem
como a sua desvalorização em favor do pastel e dos cereais, limitaram as possibilidades de
intervenção da burguesia italiana e castelhana, e abriram as portas à intervenção de
flamengos e ingleses, interessados no comércio do pastel. Linschoot, em 1589, refere que o
comércio do pastel era feito por franceses, ingleses e escoceses (48); quanto a Ponta
Delgada, diz-nos que aí «vão mercadores franceses, ingleses e escoceses buscar o pastel
mais do que vão à Terceira, e que lá levam mais de duzentos _quintais todos os anos" (49).
Esta assídua frequência de mercadores estrangeiros nos portos de Ponta Delgada e de
Angra era considerada pelos seus vizinhos como ruinosa, pelo que solicitaram ao monarca,
em 1557, medidas limitativas da sua actuação(50). No entanto, estas pretensões só foram
atendidas na década de 80, já sob o domínio filipino'; através de uma guerra de represálias
interditou-se o mercado açoriano à sua intervenção, primeiro com a proibição de venda das
suas mercadorias, depois, proibindo a sua actividade nas ilhas (51); todavia, esta proibição
não surtiu o efeito desejado, uma vez que os por ela visados se mantiveram activos,
servindo-se da intervenção de outros mercadores, pelo que em 1590 e 1596 o governo
espanhol reforçou a represália (52).
As Canárias estiveram, ao longo dos séculos XV-XVI, sujeitas à investida de merca-
dores forasteiros, que participaram activamente na conquista e ocupação, relançamento das
bases da estrutura sócio-económica, e também na activação e manutenção dos circuitos
comerciais; primeiro os portugueses e genoveses, depois, os flamengos e franceses.
Os genoveses, fortemente implantados na Andaluzia, tiveram no século XV uma
participação muito activa no comércio da urzela e escravos deste arquipélago. (53). O seu
interesse pelo comércio nesta área comprometeu-os com o processo de conquista, e este
conduziu ao reforço das suas actividades comerciais no arquipélago e na sociedade
nascente (54); desalojados das suas feitorias e cidades no Mediterrâneo, impedidos de aí
comerciar pelos árabes e pelas rivalidades políticas dos seus irmãos, procuraram no
Mediterrâneo Atlântico o lugar ideal para a sua morada; a Madeira, Gran Canaria e Tenerife
serão, assim, nos séculos XV e XVI, a sua pátria atlântica, onde se fixam como vizinhos,
tomando-se em poderosos proprietários, mercadores e prestamistas.

(47) /bidem, 82-83.


8
(4 ) «História da navegação de J. H. Linschoot.. , in B.l.H.l.T., n.o I (1943), 152-154.
(49) /bidem, 154.
(50) Francisco Ferreira Drumond, Anais da /lha Terceira, I, 36; Luis da Silva Ribeiro, «Formação histórica
do povo açoriano» in Obras /I, Angra do Heroísmo, 1983, 58-59. .
(51) B.P.A.P.D., Ernesto do Canto, Extractos de documentos micaelenses, vol. IV; L.0 I da Câmara de
Ponta Delgada, fi. 125. provisão régia de 22 de Junho de 1586; Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de Ponta
Delgada e o comércio açoriano no século XV/I / ... /, 87.
(52) /bidem, p. 87; Idem, Os Açores e a rede de negócios no Atlântico seiscentista / .. '/' 558-559.
(53) A diáspora genovesa em direcção ao Atlântico resulta de causas político-económicas subjacentes às
cidades e feitorias mediterrânicas; veja-se Hipolito Sanch() de Sopranis, «Los Sopranis en Canarias I49?-1620», in
Revista de História, XVII (1951), 319-323; Miguel Angel Ladero Quesada, «Ia economia de las islas canarias a
comienzos dei siglo XVI», in Historia General de las islas Canarias, III, 124-138; Charles Verlinden, «modalités
et methodes de Commerce colonial dans I'empire espagnol au XVle siec1e... in Revista de Índias, n,o 48 (1952).
256-257; Francisco Morales Padron, Sevilha, Canarias y America, Gran Canaria, 1977, 183-187.
(54) Manuela Marrero Rodrigues, «Los genoveses en la colonización de Tenerife (1496-1509) .. , in Revista
da História, XVI (1950), 52-65; Idem, «Los Italianos en la fundación de Tenerife», in Studi in onore di Amintore
Fanfani, vol. V, Milano, 1962,331-337; Manuel Lobo Cabrera. Protocolos de Alonso Gutiérez, Tenerife, 1929,
19-20; Hipolito Sancho de Sopranis, ibidem,' Antonio Rumeu de Armas, Alonso de Lugo en la corte de los Reyes
católicos (/496-/497) Madrid, 1954; Idem, La conquista de Te/lerije, Tenerife. 1975, Leopoldo de la Rosa
Oliveira, "Francisco de Riberol y la colonia genovesa en Canarias», in A.E.A., n.o 18 (1972), 61-198; Idem, "La
varia Fortuna de los Rivarola», in A.E,A., n.o 12 (1966), 167-200; Charles Verlinden, «GIi italiani nell'economia
deiie êanarle alI'inizio delIa colonizazione spagnola», in Economia e Storia, VII, n.o 2 (1960), 140-172; Idem,
«Le influenze italiane nelIa colonizazione iberica (Uomini e metodi)>> in Nllova Rivista Storica. XXXVI (1952).

84
Destes mercadores genoveses poderemos identificar três tipos, de acordo com o seu
modo de fixação: 1. Conquistadores, que tomam parte activa nas conquistas das Canárias,
como guerreiros e financiadores das expedições; 2. Povoadores, que surgem após a
conquista, usufruindo dos incentivos inerentes ao processo de ocupação; e 3. Mercadores,
solicitados peIo desenvolvimento das relações de troca locais, que surgem temporariamente,
dedicando-se ao comércio de manufacturas e açúcar, apoiados pela intervenção dos seus
compatrícios aí residentes.
Conquistadores e povoadores adquirem importância na sociedade nascente, em Tene-
rife e Gran Canaria, tornando-se nos mais importantes hacendados, com uma intervenção
directa e activa na administração, comércio e finança; neste grupo, incluem-se Mateo Vifia,
Cristóbal Ponte e Tomás Justiniano, que surgem em Tenerife como os mais ricos da
ilha (55).
Em Gran Canaria a sua implantação é mais clara e dominadora da economia açucareira
local, pois aí representam 70%, enquanto em Tenerife não ultrapassam os 28%; apesar
disso, Clavijo Hemandez considera que a ilha de Tenerife foi o centro mercantil dos
genoveses (56). A razão dessa implantação em Gran Canaria deriva da sua acção na
conquista, povoamento e lançamento das principais arroteias para os canaviais; de financia-
dores da conquista passam a financiadores de plantação e safra dos canaviais. Incluem-se
neste grupo Francisco Riberol, António Manuel MayueIlo, Bautista Riberol e Jacome
Sopranis (57). A sua importância fica revelada pela posse do patronato de capela maior do
convento de S. Francisco e pela designação de uma rua - calle de los genoveses (58).
Tal como na Madeira, eles intervêm na vida administrativa local, como funcionários ou
rendeiros dos direitos reais; é o caso de Juan Leandro e Luis de Couto, que em 1524 surgem
como arrendatários das terças reais (59).
Sendo certa a fixação de muitos genoveses na sociedade canária, surgindo aí como
componentes importantes da aristocracia fundiária, não é menos certa a sua presença com
carácter temporário; aliás o número de mercadores genoveses referenciados em Gran
Canaria sob o título de estantes, de acordo com a enumeração de Guilherme Camacho y
Pérez Galdos, é quatro vezes superior ao dos vizinhos (60); ao invés, em Tenerife os
vizinhos representam 57%. A primeira situação explica-se pelo facto de a maioria destes
agentes se dedicar ao comércio de exportação de açúcar e de importação de manufacturas, o
que implicava um movimento assíduo nas ilhas e entre estas e a Europa(61); além disso,
esses homens tinham, na sua maioria, as suas casas instaladas na costa andaluza, mantendo
uma rede de negócios em todo o mundo atlântico, com familiares, feitores ou procuia-
dores (62); Francisco Riberol, por exemplo, um dos mais importaI1tes mercadores genoveses,
residia ora em Sevilha, ora em Gran Canaria, tendo, aliás, nesta ilha grandes interesses na
economia açucareira (63).

(55) Manuel Lobo, Ibidem, 19; Manuela Marrero Rodrigues, Los gelloveses ell la orgallizatioll de Tene~ife
/ ... / 57; Eduardo Aznar, ob. cU .. 196; Augustin Guimerá Ravina, .. El repartimiento de Daute (Tenenfe:
1498-1529), in III C.H.C.A .. I, 1978, 127-128, 133-134,
(56) Fernando Clavijo Hernandez, Pr%colos dei e,~crib{/no f1erlláll guerra, 39-40,
(57) Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ob. cit" 41-42, 49-50, 52-54.
(5B) Ibidem. 52. . .
(59) A.H.P.L,P., A. S. Clemellte, n. o 2316, n.
436, Galdar, 22 de Janeiro de 1524, dívida aos arrendatanos
das terças reais. . . h N
(60) Ob. cit .. 524, Este autor referencia oitenta e oito mercadores genoveses, sendo 81,82% VIZI~ ?s, a
nossa recolha das fontes impressas apenas encontrámos cinquenta e quatro sendo 70% estante 29% VIZinhos.
(61) R. Diaz Hernandez, EI aztlcar ell Ca,wria, Las Palmas, 1982, 41.
(62) A. Cioranescu, História de San/a Cruz / ... /, t. I, 1977, 102. Manuel Lobo Cabre~a refere que ..los
mercadores agentes como los capitalistas, residen indiferentemente tanto en el lugar de producclon como en el de
comercialización, anque lo eorriente es que los agentes residan en los primeros y los capitalistas en los segundos..
(EI comercio entre Orall Callaria y Flalldres !Iasta 1558 / .. ./, 47).
(63) Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit., 196; Fernando Clavijo Hernandez, ibidem, 38-40.

85
Em síntese pode-se dizer que o mercador genovês teve uma actuação primordial na
economia canária, dominando quer a exploração dos recursos com v\ilor mercantil (urzela),
quer a produção para troca no mercado europeu (açúcar), quer ainda, a venda de manufac-
turas de importação (64).
Os genoveses surgem na sociedade canária como os mais representativos (91 %) da
comunidade italiana, não obstante a presença activa dos lombardos e dos florentinos nas
operações financeiras; entre estes sobressaem Juanoto Berudo, florentino e conquistador de
La Palma e Jacome de Carminátis, lombarda, que aliava o comércio à agricultura e à
actividade artesanal (65).
A comunidade flamenga será uma componente de quase igual importância na economia
e sociedade canária. Não obstante a intervenção isolada de um ou outro como mercador ou
conquistador no século XV, os flamengos só chegam ao arquipélago nos começos do século
XVI, adquirindo notoriedade a partir da década de 20(66); atraídos pelo comércio do açúcar
e das plantas tintureiras (pastel, urzela), estabelecem uma rota importante para a exportação
desses produtos e de importação da rapa. A sua actividade alargava-se a todos os sectores
do mercado, desde a venda em tenda à concessão de empréstimos em dinheiro e mercadoria,
ao comércio externo das ilhas; estabeleceram deste modo uma importante rede de negócios
no arquipélago, a partir das ilhas de Gran Canaria, La Palma e Tenerife(67). Esta última
atraiu maior número de mercadores dos países baixos, tendo-se afirmado como principal
pólo de fixação e manobra; aí apartaram 57% dos mercadores flamengos, enquanto a Gran
Canaria apenas chegaram 32% e La Palma um reduzido grupo de 8%.
O mercador flamengo que aparece nas ilhas de Tenerife e Gran Canaria é na sua
maioria visitante, sendo reduzido o número com morada fixa (15%); na primeira temos 87%
como estantes e na segunda 76%. As suas operações, por que se circunscreviam ao domínio
comercial-financeiro e de transporte, não implicavam uma permanência constante no
arquipélago; a sua estada é temporária, limitando-se ao tempo necessário para a venda da
rapa e' a compra ou troca do açúcar para a viagem de retorno; apenas quando as dificuldades
e as delongas das suas operações lhe impossibilitavam o retomo rápido o mercador se via

(64) O comércio de manufacturas en Gran Canaria estava sob controle dos mercadores genoveses e
flamengos, salientando-se, nos primeiros, Sebastián Burón, Jerónimo de Franquez, Juan Batista ViRa e, nos
segundos, Lamberto Broque; Veja-se A.H.P.L.P., Roque de COlitO. n.o 857, passim; Manuel Lobo Cabrera,
Indices y extractos / .. ./, 16.
(65) Manuela Marrero Rodrigues define de modo exemplar esta predomináncia e trifuncionalidade dos
genoveses: .. Los mercadores que no desdénan modalidad alguna de negocio y ai miesmo tiempo forrcn sus
capitales tento en operaciones muy lucrativas como en otras menos brillantes y de menos rendimiento.
Los genoveses, vecinos de Tenerife, son empresarios agrícolas con capital y haciendo que demonstram'
saber valorizar la tierra más ingrata que les he tocado en repartimiento. Además sou mercadores venden los
productos de su plantación y traten de ampliar 5U actividad comercial, sin oluidar su condición de pustamistas pera
la actividad de los genoveses es doble. Unos participan tanto de la producción corno de la distribuicción, miutros
oIros se dedicam como actividad única a Ia prestación de servicios". (Pr%colos del escriballo Juan Roiz de
Berlanga. Tenerife, 1974, 40-41; Eduardo Aznar Vallejo, oh. ci/., 197-198.
(66) Para o conhecimento de colónia flamenga nas Canárias veja-se Manuela Marrero Rodrigues, «merca-
dores flamengos / ... / ", IV C.H.C.A .. 1(1980), 599-614; Idem .<Ios flamengos en los comienzos hispánicos de
Tenerife", in S/udi in memoria Frederigo Mellis, UI, 1978,587-593; Enrique Stols, «Les Canaries et I'expansion
Coloniale / .. ./'" in IV C.H.C.A .. II (1980). E também: F. Oonnet, His/oire de I' hablissemen/ des Allversois lll/X
Canaries llU XVI siecfe. Anvers, 1895; Joseph Van Cappellen, «Los Van de Valle des Flandres", in Revis/a de
His/o.ria Canaria 141-148 (1963-1964), 45-55; J. A. Van Honlte e E. Stols, .. Les Pays-Bas et la Mediterrané
atlantique au XVI siêcle», in Melanges en l'honneur de Fernand Braudel; I, Paris, 645-660: Manuela Marrero
Rodrigues, .. Los mercadores flamencos en los comienzos hispánicos de Tenerife», in S/udi in lIlelllori Fredrigo
MoUs. III, 1978, 587-593; Idem, .. Mercadores flamengos / .. ./ .. in IV C.H.C.A .. I, 599-614: E. Stols, .. Les
Canaries et I'expansion coloniale / .. '/'" in IV C.H.C.A., II.
(67) Manuela Marrero, Los mercadoresflalllengos / ... /,601-609, refere que .. los ftamencos son conocidos
como tales. En esta primera mitad des siglo XVI venden los productos más solicitados en los centros mercantiles y
tratan de ampliar actividad comercial. Pero la actividad de los f1amencos es doble. Unos participan tanto de la
producción corno de la distribuicción mientros otros prestan sus servicios por cuenta ajena" ({hidem, 609).

86
forçado a assentar morada; em alternativa, e a prática era corrente, fazia-se substituir por
meio de procuração, por feitores ou agentes. '
Apenas em La Palma nos deparamos com uma pequena comunidade fixa com forte
implantação no meio sócio-económico da ilha. Em primeiro lugar tivemos a intervenção dos
Welsers na economia canária por intermédio de Juan Bisen e Jácome de Monteverde
investindo capitais no sector produtivo com a compra de importantes terrenos em Tazacort~
e los Danos; Jácome de Monteverde, ao adquirir a titularidade deste património fundiário,
tornou-se um dos principais proprietários do arquipélago (68). A ele juntaram-se em 1562 os
:van de WaIJe ~ue aí fIxam morada e adquiriram terrenos (69); esta família, como componente
mfluente da Cidade de Bruges, conduziu à valorização das rotas comerciais das Canárias
com a Flandres. O mercador flamengo, coma mesma facilidade que o genovês, penetra na
soci~~ade insular. adquirindo o estatuto de vizinho, relacionando-se com as principais
famllIas desta SOCiedade nova e comandando os activos circuitos comerciais com as cidades
de origem - Bruges e AnversCo).
Os mercadores oriundos dos reinos peninsulares surgem como o grupo mais numeroso
dos forasteiros na Madeira (13%), Açores (5%) e Canárias (28%); são geralmente originários
das regiões costeiras da península com tradição marítimo-comercial; assim na Canárias
dominarão as regiões andaluza e a catalã, enquanto que na Madeira e nos Açores pertencerá
a região de Entre-Douro-e-Minho.
Para a Madeira surgem três áreas perfeitamente delineadas dos mercadores oriundos do
reino: Algarve (9%), Lisboa (13 %) e norte do DouroOI %), sendo as mesmas dominads por
algumas vilas e cidades costeiras importantes, como Lagos, Tavira, Lisboa, Ponte Lima,
Caminha, Vila Real e Vila do Conde. Os contactos com a região de entre Douro e Minho
iniciaram-se muito cedo, pois desde 1477 que há referência a um comércio assíduo de panos
e outros produtos desta área a troco de açucar da ilha (71).
Ao invés, nas Canárias a maior participação surge da região andaluza (35%), dominada
pelas principais cidades da bética: Sevilha (9%) e Cádiz (4%). A vinculação comercial da
região andaluza é anterior à conquista das Canárias, reforçando-se com esta (72). Aos
andaluzes seguem-se os catalães (12 %), cuja comunidade nas Canárias, ao contrário da
andaluza e galega, se dedicava em exclusivo ao comércio, com uma intensa actividade em
Tenerife, Gran Canaria e na zona de Cádiz e Sevilha; os poucos que fixam morada nas
Canárias, como Rafael Fonte e Pedro Benavente, não renegaram a sua ascendência e a sua
actividade, mantendo contactos assíduos com a sua região de origem e activando um sistema
de trocas entre si ('3).

(68) Eduardo Aznar Vallejo, ob. dt .. 198, M. A. Ladero Quesada, La economia de las islas Canarias
/ .. ./, já citado, 129.
(69) E. Stols, ibidem, 906, 9% 9, 914; M. A. Ladero Quesada, ibidem, 129.
eo) Giles Hana, mercador flamengo, vizinho de Daute (Tenerife) casou-se com Francisca de Canninatis
filha do mercador lombarda, Juan Jácome de Carminatis que por sua vez era casado com Juana Joven, filha de
Jaime Joven, mercador catalão, vizinho de Tenerife; Juan de Xembrens, mercador flamengo, vizinho de Tenerife,
casou-se com Ana de Betencor, filha de Guillén de Betencor. Veja-se Manuela Marrero, Los mercadores
flamengos / ... / 611-614.
('1) Joel Serrão, "Em torno das condições económicas de 1640", in Vértice, X-XI, 1951, 6: Ernesto
Gonçalves, "João Gomes da ilha», A.H.M., XI, 46. Gaspar Frutuoso (ob. cil" L. 0 II, 358-359) refere que em
1566, no momento de assalto francês ao Funchal, residiam na Rua do Sabão dois mercadores de Guimarães com
"suas logeas de mercadorias de pano de linho e de burriés". Luis de Sousa e Melo ("Emigração na Madeira ... in
História e Sociedade, n. O 6, 1979,49-52) em estudo sobre a imigração madeirense, entre 1539-1600. refere que os
indivíduos oriundos da região de Entre Douro e Minho represen!avam 50%.
(72) Eduardo Aznar ValIejo, ob. cit., 16, Idem, "Relaciones comerciales entte Andalucia y Canarias a finis
deI siglo XV y comienzos deI siglo XVI», in Coloquio de Historia Medieval Andaluzia, Sevilha, 1982.
('3) Manuel Lobo, Protocolos de Alonso GlItiérrez. 16; Idem, Los galejos en canarias I .. ./ 213: Manuela
Marrero Rodrigues, Prolocolos dei escribanoJuan RlIiz de Berlanga. 42; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cil" 197;
Elias Serra Rafaels, "Ilitroduccion», in AClIerdos Cabildo de Tenerife, II, 1952, p. X; F. Mauro Fuentes, "Tazmia
de la isla de Tenerife de 1552», A.E.A .. n. o 25; 1416.

87
ao
ao

ORIGEM N.· %

Porto 12 11,43
Guimarães 15 14,28
Ponte Lima 17 16,19
Viana 11 10,48
Lisboa 10 9,52
Tavira 4 3,81
Lagos 2 1,90
Algarve 3 2,86
Vila Real 5 4,76
Vila do Conde 4 3,81
Covilhã 3 2,86
Aveiro I 0,95
Canaveses 2 1,90
Abrantes 1 0,95
Guarda 1 0,95
Braga 3 2,86
Lamego 1 0,95
Chaves 2 1,90
Barcelos 1 0,95
Olivença 1 0,95
Torres Novas 1 0,95
Sinfães 0,95 .15-20
1
Gouveia
Outros
1
3
0,95
2,86
e 6-12
Total 105 12,75

•• 3-5

1-2

MERCADORES DO REINO NA MADEIRA. Séculos XV e XVI


ORIGEM 1'1." \f

Catalunha 16 IUI
Sevilha 12 8.63
Cádiz 5 3.97
Barcelona 3 2.16
Moguer I 0.72
Biscaia 2 1,44
Burgos 2 1.44
Outros 98 28.26

e l ().20

• 1·2

MERCADORES ESPANHOlS NAS CANÁRIAS. Século XVI

89
12
A influência e acção da comunidade castelhana e portuguesa no espaço insular não é
uniforme, pois varia de ilha para ilha e de época para época. Esta alteração espacio-
-temporal resulta da conjuntura político-sócia-económica do Mediterrâneo Atlântico em
paricular, e da Europa atlântica, no geral.
Nas ilhas portuguesas a acção dos mercadores de Castela é reduzida e, apenas ganha
importância no período filipino (1580-1640). Mas se no caso dos Açores poderá considerar-
-se nula, na Madeira terá alguma representatividade (2 %), resultante da posição dessa ilha
em relação às rotas peninsulares de ligação às Canárias e do necessário comércio de cereais
entre as Canárias, a Madeira e Lisboa. Daí deriva essa intervenção castelhana com carácter
temporário ou fixo. Os Açores, alheios a estes circunstancialismos, surgiram apenas como
sustentáculo da rota de retomo das Índias, facto que atraíu as atenções dos agentes
comprometidos nesse trato, mas apenas no intuito de assegurar a chegada dos seus produtos
a porto seguro, intervindo raras vezes no mercado local.
As Canárias, pelo contrário atraíram as atenções de mercadores, marinheiros e agentes
de Portugal e ilhas (4). As diversas províncias do reino associaram-se ao processo de
construção da sociedade canária: do Minho e Beiras vieram agricultores e artesãos: do litoral
algarvio os marinheiros e pilotos de navios. Da comunidade portuguesa faz parte um grupo
numeroso de mercadores (32 %), interessado no comércio dos cereais, de escravos e da tão
solicitada oportunidade de uma saída até às Índias (5). A importância da comunidade
lusíada é de tal modo significativa em Tenerife e Oran Canaria que justificou a existência de
uma rua em Las Plamas e na vila de San Cristóval (Tenerife) (6).
O mercador insular, com parcos recursos financeiros, não poderia usufruir das mesmas
vantagens que o mercador hispânico e europeu, pelo que estava limitado o seu campo de
manobra; encontrava-se, muitas vezes reduzido à posição subalterna de feitor ou procurador
do mercador do reino, dos flamengos e dos italianos. Perante esta circunstância hipera-
trofiadora, ele aspira, apenas, a reduzidos contactos com o reino e ilhas próximas ou, então,
algumas aventuras esporádicas nos arquipélagos vizinhos. O carácter temporário com que
executam essas actividades comerciais não permitiu, muitas vezes, a sua referenciação
documental.

(4) A emigração de portugueses para as Canárias filia-se nas pretensões à sua posse e na necessidade da sua
utilização nas viagens de exploração geográfica e comercial ao longo da costa ocidental africana. As pretensões
portuguesas à posse deste arquipélago remontam ao século XIV e só foram definitivamente abandonadas em 1479.
Veja-se Florentino Perez Emibid, Los descobrimentos en el Atlâlllico y la rivalidad castel/ano-portuguesa hasta el
tratado de Tordesilhas, Sevilha, 1948; Elias Serra Rafols, "Portugal en las islas Canarias", in Congresso do
Mundo portugues-memorias, III, Lisboa, 1940; Antonio Rumeu de Armas, EspOlia en el Africa Atlâlllica, 2 vols.
Madrid, 1956; Charles Verlinden, ,da découverte portugaise des Canaries", in Revue Belge de Philosofie et
Histoire, XXXVI, 1958, 1173-1209; Luis Suárez Fernández, Relaciones entre Portugal y castilha enla época dei
infante D. Henrique, VaIladolid, 1960; Jose Perez Vidal, "Aportación portuguesa a la poblacion de Canarias" in
A.E.A .. 14 (1968), 41-42; Pierre Chaunu. Seville et tAtlantique, T. VIII, vol. I, 382-384.
(5) Eduardo Aznar VaIlejo, ob. cit.. 194-195; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez, 17-18; F.
Clavijo Hernandez, Protocolos dei escribOlIO Hernán (;uerra, 36-37; A. Cioranescu, ob. c/t .. I, 421; M. A.
Ladero Quesada, ob. cit.. III, 128; Manuel Lobo Cabrera, "EI mundo dei mar en la Gran Canaria" in A.E.A., n.O
26, 342. Segundo Leopoldo de la Rosa "EI repoblamiento de los reinos de Icod y Daute", in Estudios Canarios,
XIV-XV, 1968-1970, 37.
Charles Verlinden ("Le Role des portugais dans l'economie canarienne au début du XVle siec1e", in
Homenaje a Elias Serra Ráfols. III, La Laguna, 1970,423) refere-nos a propósito: "II s'agit donc avanttout d'un
véritable prolétariat colonial parmi lequeI la pauvreté n'est pas rare 1.. ./.
A Tenerife, au début du XV!" siec1e, presque tous les Portugais sont des ouvriers ou des Ires modestes
agriculteurs. Aucun comparaison n'est possible avec les autres groupes étrangers, italiens ou fIamends, ou les
marchands dominenl. Ce qu'aportent ces derriers ce sonl des capitaux et des relacions comerciales. Les Portugais.
à quelques rares exceplions pres fournissent surtoul leur bras. II est intérressant de noter ce contraste, tant pour
I'économie que pour la sculture sociale des Canaries au débul de la colonization espagnole".
(6) A.H.P.L.P., Diego de San Clemente. n.o 733, fi. 274; Manuel Lobo, [bidem, 18 Maria Isidra Coelho
Gomez, Protocolos de Alonso Gutiérrez, 686.

90
I

e·· ·

91
Sabemos da eXlstencia e assiduidade desses contactos, mas pouco ou quase nada dos
nomes dos intervenientes; lacunas da documentação insular impossibilitam um conhecimento
aprofundado dessa situação; assim, nos Açores há apenas referência a um mercador canário,
enquanto nas Canárias apenas se noticia um mercador madeirense (7).
No entanto, na Madeira encontramos uma importante comunidade de açorianos (2 %),
resultante da assiduidade de contactos entre os dois arquipélagos em torno do comércio ou
fornecimento de cereais; aliás, se tivermos em conta a sua origem, verificaremos que eles
prevêm, na sua maioria (75 %), das ilhas de maior comércio e contactos com a Madeira, ou
seja, S. Miguel e Terceira.
Definida a componente forasteira dos agentes comerciais da sociedade insular, torna-se
necessário referenciar o seu comportamente em conjunto com os naturais ou residentes, no
espaço amplo e heterogéneo que é o mundo insular hispânico.
Mercadores nas ilhas: distribuição geográfica

MADEIRA sÃO MIGUEL TERCEIRA CANÁRIAS


LOCALIDADE N." % LOCALIDADE N." % LOCALIDADE N." % LOCALIDADE N." %

Funchal 857 89,55 Ponta Delgada 30 68,18 Angra 23 79,31 Gran Canaria 281 51,94
Calheta 42 4,39 V. Franca do Campo 7 15,91 Praia 3 10,34 Tenerife 246 45,47
Santa Cruz 16 1,67 Ribeira Grande 5 11,36 La Gomera 1 0,18
Ribeira Brava 23 2,40 Agua d'Alto 2 4,56 La Palma 11 2,03
Ponta de Sol 4 0,42 Lanzarote 1 0,18
Machico 2 0,21 Fuerteventura 1 0,18
Caniço 2 0,21
Faial 1 0,10
Total 947 98,95 Total 44 59,46 Total 26 89,65 Total 541 99,27

A sua implantação nesta área é evidenciada por uma tendência concentracionista,


comandada pelas principais ilhas e cidades portuárias. Nos Açores as ilhas de S. Miguel e
Terceira absorvem a quase totalidade do grupo de mercadores aí radicados e, nas Canárias,
as de Tenerife e Gran Can;:[ria 97 %. Além disso esta tendência toma-se radical quando
encaramos as duas ilhas isoladamente, pois, no primeiro caso, a ilha de S. Miguel apresenta
72 % enquanto a Terceira fica reduzida a menos de metade; no segundo, a comunidade de
Gran Canaria (52 %) mais .numerosa que a de Tenerife (45 %).
A esta predominância das cinco ilhas, em termos económicos, associa-se a das
principais praças comerciais - Funchal, Ponta Delgada, Angra, Santa Cruz (Tenerife),
Garachico, Las Palmas. Na Madeira a cidade do Funchal acolhe 90% dos mercadores e nos
Açores a cidade de Ponta Delgada 68 % e Angra 79 %.
As regiões periféricas subordinam-se assim aos interesses da burguesia concentrada nas
principais cidades portuárias, que intervem de modo activo no comércio, quer por meio da
sua acção directa, quer por meio de agentes, procuradores e familiares.
Mercadores nos Açores, século XVI
Proveniência N." %

S. Miguel 9 45
Terceira 6 30
Graciosa 3 15
S. Jorge 1 5
Santa Maria 1 5
Total 20 100

(7) Diego Afonso, mercador, natural da ilha do Faial, encontrava-se em 1511 em Tencrife (quadro n. o 2);
Juan Porras, mercador, natural da Madeira, estava em 1521 em Gran Canaria (quadro n.O 3).

92
Corvo

D Graciosa

C)
Flores

o Terceira

F"al

<)
.30
w
S.la Marla

• 6-10

• J-5

\O
W MERCADORES NOS AÇORES. Se.ulo XVI
A predominância da cultura sacarina. aliada a esta tendência, actuará de modo explícito
na concentração dos agentes económicos. As áreas de maior produção na vertente sul.
dominada pelo porto do Funchal, atrairão as suas atenções e condicionarão a sua vizinhança
além do Funchal. Assim se explica a importância que eles adquiriram na Calheta e Ribeira

Estrangeiros

750- Funcionários

o Proprietários

500 -

250-

Madeira Açores Canárias

MERCADORES NO MUNDO INSULAR. Sécs. XV a XVI

Brava, ao invés do que sucede em Santa Cruz e Machico; estas povoações situavam-se na
capitania de Machico com pouca importância na economia açucareira.
Na ilha de S. Miguel, a cidade de Ponta Delgada, como o seu porto e alfândega
principal de ilha, desde princípios do século XVI, domina a actividade de troca e a
concentração dos seus agentes. A importância de Vila Franca do Campo e da Ribeira
Grande é justificada pelo seu peso na economia micaelense, pois nas suas proximidades
situavam-se as áreas de maior produção de pastel e de cereais. Na Terceira a vivência

94
ribeirinha do burgo angrense fez concentrar aí o grosso destes agentes, não obstante a vila
da Praia se localizar numa das áreas mais importantes de economia agrícola terceirense. Tal
situação deve-se ao facto da proximidade desta vila em relação a Angra e da facilidade das
comunicações por via marítima e terrestre. Se tivermos em conta a que na Praia e
S. Sebastião existiam portos 'aptos ao comércio das produções da área, seremos levados a
compreender o reforço da posição macrocéfala da praça angrense que domina toda a ilha e
algumas vizinhas, como S. Jorge e Graciosa.
O mercador vizinho ou estante procura, assim, o acolhimento das principais praças
comerciais do mundo das ilhas definidas com áreas de convergência da produção insular e
de redistribuição das manufacturas europeias.
A actividade comercial não o absorve por completo, poís subdivide a sua acção
quotidiana entre o comércio, o transporte, a banca, a produção e a administração local e
régiae s); as primeiras actividades completam-se e garantem-lhe um pecúlio vantajoso,
enquanto a última assegura as condições e meios privilegiados da sua acção.
Atraídos, primeiro, pela produção local, esses mercadores acabam por investir os seus
capitais em bens fundiários, tomando-se importantes proprietários; eles representam na
Madeira 7% do total e nos Açores, 26%. Na primeira destas ilhas, mercê do desenvolvimento
e importância da cultura do açúcar, surgem como proprietários de canaviais, representando,
na primeira metade do século XVI, 24% do total dos proprietários, com 30% da produção ('9).
A estrutura administrativa da sociedade insular, desde princípios do século XVI,
organiza-se de acordo com as realidades sócio-económicas, procurando ajustar-se às
necessidades da fiscalidade e da intervenção e regulamentação das actividades económicas
dominantes.
Ao mercador, como interveniente comprometido com as realidades sócio-económicas,
ínteressava uma posição de domínio nessa complexa estrutura administrativa, como forma
de fazer valer os seus interesses nas ordenanças, posturas, leis e regimentos. De entre os
mercadores intervenientes nessa estrutura temos 10 % na Madeira e 3 % nas Canárias.
Na Madeira, dos referenciados, 52 % são funcionários da fazenda real, do almoxarifado
e alfândega e 48 % têm participação activa na administração muniGipal. Saliente-se que
neste grupo de mercadores funcionários estrangeiros há dois estrangeiros na Madeira e
quatro nas Canárias (80).

(8) A. Guimerá Ravina, "Canarias en La Carrera das Indias» ([564-1778)>>, in Historia General de las
islas Canarias, IV, [73. Este Autor destaca a simbiose entre o proprietário agrícola-comerciante, produtor.
industrial e prestamista.
(9) Veja-se Alberto Vieira, O regime de propriedade lia Madeira. O caso do açúcar (1509·1537).
(80) Em Oran Canaria. Antonio Mayuello e Bautista Riberol, genoveses, foram regedores do cabildo e em
Tenerife, Arnaldo Vaudela, flamengo, foi administrador da fazenda e Michel Vasol, igualmente flamengo. foi
mayordomo deI Adelantado. Para a Madeira surgem Cristóvão Esmeralda, que foi contador e juiz da alfandega. e
António Dias, flamengo, recebedor dos quintos.

95
1.4 Emigração inter·insular

A elevada mobilidade social é uma das características da sociedade insular. O


fenómeno imigratório lançou as bases dessa sociedade, e a emigração ramificou-a e
projectou-a além Atlântico. As ilhas são, assim, num primeiro momento, pólos de atracção,
passando, depois, a actuar como áreas centrífugas. A novidade aliada à ambiência, que
definiram o processo de ocupação, activaram o primeiro movimento; a desilus~o, as
escassas e limitadas possibilidades económicas e a atracção pelas riquezas das Indias,
definiram o segundo surto (1).
Primeiro, foi a Madeira, depois, os Açores e, finalmente, nos alvores do século XVI,
as Canárias. Desiludido com a Madeira, o colono procura melhor fortuna nos Açores, mas,
gorada também essa iniciativa, procura refúgio nas Canárias, aliando-se, em finais do
século XV, ao processo da conquista e ocupação deste grupo de ilhas. A Madeira terá,
assim, um papel primordial no movimento migratório insular no século XV, actuando Como
pólo de atracção e redistribuição no mundo das ilhas do Norte Atlântico.
Esta extrema modalidade do ilhéu levou os monarcas a restringir o movimento
emigratório em favor da fixação do colono à terra, de modo a evitar-se o despovoamento~
Nas Canárias, em 1484, proibia-se a saída dos vizinhos de Fuerteventura, Lanzarote,
Gomera e Ferro para Las Palmas e); nos Açores nas décadas de 60 e 70 dão-se incentivos à
fixação de colonos e).
No século XVI desvanece-se o interesse pelas ilhas. Todas as atenções convergem para
o continente americano, a nova esperança do europeu e do insular. O posicionamento do
arquipélago canário no traçado das rotas das Índias Ocidentais e Orientais coloca-o na
situação de foco irradiador de colónos e aventureiros para o Novo Mundo. Aí se concentravam
insulares e europeus à espera da almejada partida para as Índias. Indo ao encontro dessa
ânsia de fuga do ilhéu, o monarca castelhano passou autorização especial, em 1511, para a
emigração canária para as Índias, tendo-se mesmo organizado, em 1537, 'expedições com
gente recrutada nestas ilhas (4); os cabouqueiros do atlântico-insular projectavam a sua
experiência além-atlântico. Mas o perigo eminente do despovoamento do arquipélago, bem
como a utilização desmesurada desta via por estrangeiros, nomeadamente portugueses,
conduziram ao cancelamento de autorizações de viagens com tal destino, em 1574 (5).

e) Segundo Juan F. Martin Ruiz (EI N. W. de Ora/l Ca/larias / .. ./. Las Palmas, 1978) .. La emigracion que
una constante en la sociedad canaria. Esta hecho estê, un primer lugar, en relación con unas bases estruturales
precarias: una economia de monocultivo comercial en la costa, e de subsistencia em medianias y cumbres. Junto a
esta estructura economica precaria, como ya hemos seiialado, un crecimiento natural vertiginoso. Casi todos los
periodos intercensales arrojon soldos migratorios negativos, favorables, portanto a los emigrantes. El numero de
emigrantes parece que aumenta justamente en los ciclos de crises agraria.. (lbidem. p. 12).
e) A.G.S., Registro ge/leral dei seI/o. t. III. fi. 6, cêdula real de 5 de Janeiro de 1484, referenciado por
Emilia Sanchez Falcón, ..Evolucion demografico de las Palmas... in A.E.A., X (1964), 312.
e) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores /lO século XVl/ 1 ... /, 11-43.
(4) Analola Borges, .. Emigracion canaria e americana .. , in A.E.A .. .n. o 23 (1977) 244-245. A mesma refere a
propósito: - ..EI transplante humanoes lo más transcendental de los factores detenninantes de las relaciones
canario-indianas y la más preciosa aportación a la empresa deI XVI. Desde principias deI siglo comienzan a partir
famílias procedentes de Lanzarote, Hierro y Gomera; posterionnente el contingente mayor de emigración lo darán las
is las recientemente conquistadas e· incorporadas a la carona de Castilla, que, además san tambiéh las islas mayores:
Gran Canaria, Tenerife, La Palma. La emigracion se extiende a toda la centuria y se hará· aún más patente en los
siglas seguientes» (Ibidem, p. 243).
(5) [bidem. p. 247.

96
Francisco Morales Padron transmite-nos de foona modelar essa realidade da sociedade
canária do século XVI: «Las islas fueron primero, como una espera de lo desconocido;
luego una previa experiencia; después se transforrnaron en camino para las Índias, y más
tarde se convierten en vivero conformador dei Nuevo Mundo» (6).
As ilhas portuguesas não se dissociaram do processo expansionista português do
Atlântico e do Índico. A aristocracia insular, imbuida das ideias de conquista e de
descobrimentos, participou activamente nas viagens de exploração para Ocidente e nas
diversas expedições a África e Brasil C). Além disso muitos dos seus vizinhos, ambicionando
maior riqueza ou impelidos pelas circunstâncias, saíram para o Brasil e Índia (8).
As ilhas, pela sua proximidade e similar fOnTIa de vida, aliadas às necessidades de
contactos comerciais assíduos, mercê da complementaridade sócio-económica, exerceram
igualmente forte atracção entre si. Madeirenses, açorianos e canários não ignoram a sua
condição de insulares e, por isso mesmo, sentiram necessidade de um estreitamento dos
contactos e relações, com especial relevo para os comerciais (9). Nesta comunhão de ideias e
neste espírito de entre-ajuda teremos a solicitação de colonos experimentados da Madeira
para a cultura e safra do açúcar nas Canárias e Açores et°).
A Madeira mercê da sua posição charneira entre os Açores e as Canárias e da
prioridade da sua ocupação, foi desde meados do século XV um importante fornecedor de
colonos a estes arquipélagos. Foram os madeirenses que deram o arranque definitivo à
ocupação da terra açoriana e, nomeadamente, à ilha de S. Miguel. Os filhos segundos da
aristocracia madeiren~e, sem direito a uma parcela de terreno do seu torrão natal por força
do direito sucessórió, procuram adquirir nos Açores e, depois, nas restantes áreas de
ocupação portuguesa, aquilo que lhes foi negado na Madeira. Assim o conseguiram Rui
Gonçalves da Câmara ao trocar, em 1474, as suas parcas fazendas na Ponta de Sol pela
Capitania de S. Miguel. O mesmo sucedeu com Álvaro de ameIas ao adquirir a capitania da
ilha do Pico. Com estes vieram outros membros de aristocracia madeirense na esperança de
adquirir maior número de dadas de terras; assim sucedeu com alguns membros da família

(6) Canarias y America, Las Palmas, 1982, p. 9.


(') Francisco Carreiro da Costa, Esboço Histórico dos Açores, Ponta Delgada. 1978. 90-100; Alberto Artur
Sarmento, A Madeira nas praças de África I ... 1, Funchal. [932.
(8) Fernando Augusto da Silva. "Emigração.. , in Elucidario Madeirense, III, (1960), 391·392; Sónia A.
Siqueira. A inquisição portuguesa e a sociedade colonial, S. Paulo, 1978; José Gonçalves Salvador, Cristãos-novos.
Povoamento e conquisla do solo brasileiro (1530-/680), S. Paulo, 1976.
(9) José Perez Vidal, "Esbozo de un estudio de la influencia portuguesa en la cultura tradicional canaria ... in
Homenaje a Elias Serra Rafais, I; La Laguna. 1970. 369-390; Idem. «Aportacion portuguesa a la poblacion de
Canarias. Datos para su estudio... in A.E.A .. n.o 14 (1968). 41·106; Margarita I. Martin Socas e Manuel Lobo
Cabrera. "Emigracion y comercio entre Madeira y Canarias en el siglo XVI», in Os Açores e o Atlântico (séculos
XIV-XVJJlJ, Angra do Heroísmo, 1984.678-700, Manuel Lobo Cabrera e Maria Elisa Torres Santana .. Aproximacion
a las relaciones entre Canarias y Azares en los siglas XVI y XVII.. , in ibidem, 352-375; Charles Verlinden, .. Le rôle
des portugais dans I'economie canarienne au début du XVI siécle... in Homenage a Elias Rafais, m, La Laguna.
1970. 411-426.
eo) Foram os colonos madeirenses. conduzidos pelo governador Pedro de Vera. que lançaram os alicerces da
economia açucareira; levaram consigo a técnica do regadio, de cultura e transformação do açúcar. Veja-se J. Vieira y
Clavijo. Noticias de la Historia General de las islas Canarias, Santa Cruz de Tenerife, 1967. I. 550; Guilhermo
Camacho y Pérez Galdós. "EI cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) .. , ln
A.E.A., n.o 7 (1961). 13; Maria Luisa Fabrellas, .. La produccion de azúcar en Tenerife.. , in Revista de Historia,
n. o 100 (1952), 471. O mesmo sucedeu com os Açores, tendo os madeirenses levado a cana e as técnicas do cultivo e
laboração; a esta situação não será estranha a presença de Diogo de Teive na Terceira, na segunda metade do século
XV. uma vez que havia sido o primeiro a solicitar. em 1452. licença para a construção de um engenho na Madeira
(Gaspar Frutuoso. Saudades da Terra, L,0 VI, 64). Além disso mestre António Catalão teria vindo para Santa Maria
com o intuito de ensinar a plantar cana (Urbano de Mendonça Dias. História dos Açores. Ponta Delgada, [924. 132).
Frutuoso refere-nos ainda a vinda de um mestre de açúcar das Canárias para Vila Franca do Campo (lbidem, L,0 IV,
vol. II, p, 60).

97
Betancor, os descedndentcs de Gonçalo Aires Ferreira, dos Furtados de Mendonça de Castela,
dos Martim Mendes de Vasconcellos, dos Tavares, dos Cantos e dos Barcelos (11). Todos
eles receberam dadas de terra em S. Miguel, Terceira e Santa Maria, tornando-se influentes
e
nos locais de fixação z ). Essa posição adveio das vantagens iniciais na aquisição de terras,
do seu espírito empreendedor e do seu rápido relacionamento matrimonial com as principais
famílias açorianas (13).
Aliada a esta vaga de povoamento teremos, ao longo do século XVI, novas levas de
emigrantes, provocadas quer pelo movimento comercial, quer por causa da peste que
assolou a Madeira, na primeira metade desse século 4 ). e
Dos madeirenses emigrados para os Açores, nos séculos XV e XVI, 62 % destinaram-
-se aS. Miguel, l7 % à Terceira e os restantes distribuiram-se por Santa Maria, Graciosa, S.
Jorge, Pico e Faial. Esta situação denota o interesse sócio-económico dos madeirenses pelas
duas ilhas mais importantes do arquipélago com as quais a Madeira mantinha estreitas
relações comerciais.
As Canárias não ofereciam aos madeirenses as mesmas possibilidades que os Açores.
No entanto, a situação deste arquipélago, associada às esperanças postas no mito açoriano,
atrairão o madeirense que num ou noutro arquipélago busca uma libertação das peias da
aristocracia fundiária local ou uma solução para a crise açucareira. Para os mais ambiciosos
a mira será S. Tomé ou o Brasil, mas a maioria prefere as propostas aliciantes dos
governadores de Gran Canaria e Tenerife à aventura tropical. Assim, um grupo numeroso de
lavradores, mestres de açúcar, carpinteiros, caldeireiros e refinadores trocou as agruras da
cultura e safra do açúcar madeirense pela promissora faina açucareira de Gran Canaria e
e
Tenerife s ). Da contabilização estabelecida para este surto emigratório há referência a 56 %
relacionados com a safra do açúcar, enquanto os restantes se distribuem de modo uniforme
pelas diversas actividades agrícolas e artesanais. O primeiro grupo surge com maior
incidência em Gran Canaria, enquanto o segundo se circunscreve a Tenerife 6 ). e
As áreas de maior afluxo desta vaga emigratória são, naturalmente, as ilhas de Gran
Canaria e Tenerife, onde teremos, respectivamente, 37% e 60%; das restantes apenas são
referenciadas as ilhas de Palma e Hierro.
Açorianos e canários, atentos e cobiçando as riquezas das Índias, ignoravam a realidade
sócio-económica madeirense; toda a sua atenção estava virada para o promissor Novo
Mundo; eram as embarcações que chegavam de Andaluzia e nas Canárias procuravam o
necessário reparo e refresco para o moroso percurso que os esperava até às Antilhas; eram
os mercadores naturais e estrangeiros que cobiçavam e disputavam as necessárias licenças

(11) Gaspar Frutuoso, ibidem. L.0 n. 404; Ibidem. L.0 IV, 267, 260, 278, 318, 324; Ibidem. L.0 IV, vol. n,
100-110; Henrique Henriques de Noronha, Nobiliario genealogico / ... /, Rio de Janeiro, 1947, 437-41, 194.
519-521; Manuel Monteiro Velho Arruda, Colecçtio de documentos relativos ao descobrimento e povoamellto dos
Açores. Ponta Delgada, 1932, 166-172; Francisco de Atayde M. de Faira e Maia, Subsídios para a História de
S. Miguel e Capitães Donatários (1439-1766). Ponta Delgada, 1942, 18-22, 25-26.
(12) Urbano de Mendonça Dias, ibidem. 132, 147 e 164.
et3
) Pedro Álvares da Camara, irmão do capitão donatário da Madeira, casou a sua filha Branca com Diogo
Paim e Isabel de Lamelas com Antão Martins Homem filho do donatário da Praia (Terceira). Em 1483 Pero Correia,
primeiro capitão da Graciosa, casou com Iseu Pereslrelo, filha do primeiro capitão donatário do Porto Santo. João de
ameias de Savedra casou na Terceira com Catarina de Teive Gusmão, filha de Diogo de Teive, tendo recebido terras
no lugar das FQntainhas, onde instituiu o morgado ameias. Gonçalo Mendes de VasconceIlos, filho de Martim de
VasconceIlos, casou com Bartolesa Rodrigues Cameiro, filha de Álvaro Martim Correia, morador em S. Miguel e
senhor dos lugares da Povoação, Mosteiros e Ponta Garça.
et4
) Em 1515 refere-se que Lianora Lopes saiu para as ilhas de baixo no ano em que houve a primeira peste
(A.R.M.. Misericórdia do Funchal. n.o 710, fi. 41, 23 de Setembro, instrumento de doação). O mesmo sucedeu com
João Gonçalves Pereira, de Serra de Água que se mudou para S. Miguel (Gaspar Frutuoso, ibidem. L. 0 IV,
cap. XXXIII).
(15) Maria Luisa FabreIlas, ibidem. 471. Veja-se nota 10.
(16) Margarita I. Martin Socas, ibidem. 684-687.

98
para um comerclO rendoso com essa área; eram, ainda, os vizinhos, que aguardavam as
caravelas ou a almejada oportunidade de embarcarem para as Índias. Nos Açores, pelo
contrário, vivia-se a expectativa da chegada das naus na esperança de adquirir algumas
migalhas do reluzente e precioso metal.
A Madeira só era recordada quando todas estas expectativas se goravam ou quando a
manutenção do comércio inter-insular o justificava. As rotas açoriana e canária do forne-
cimento dos cereais à Madeira implicaram essa necessidade; por isso depararemos, ao longo
dos séculos XVI e XVII, com a permanência temporária de açorianos e canários na
Madeira; eram na sua maioria originários das ilhas que mantinham contactos mais assíduos
com o Funchal.

Açorianos e canários na Madeira no sec. XVI

ORIGEM N."

S. Miguel 6 43
Terceira 3 21
Faial 4 29
Tenerife 6 43
Gran Canaria 4 29
Lanzarote 2 14
Palma I 7
Hierro I 7

No período de 1539 a 1600 os açorianos representam 9% da imigração madeirense;


surgem só a partir da década de 50 e atingem nas décadas imediatas percentagem elevada,
surgindo em finais do século em lugar de muito relevoe 7 ); esta situação evidencia a
importância do contingente açoriano na constituição da população da freguesia da Sé do
Funchal. A componente canária, ao invés, é reduzidíssima, e surge com maior incidência
nas duas últimas décadas do século XVI, como resultado da ocupação da ilha, em 1582, por
Augustin Herrerae 8 ).
Das famílias ilustres que trocaram as Canárias pela Madeira salientam-se os Betten-
courts, que, desiludidos com a conquista e ocupação castelhana das Canárias, preferiram a
calma da Ribeira Brava, onde se fixaram, aí se relacionaram com os principais terratenentes
adquirindo terras na Banda d' Alem 9 ). e
As Canárias forneceram ainda grandes contingentes de mão-de-obra escrava para o
pastoreio e safra do açúcar; a afluência dos aborígenes canários à Madeira deriva, assim, do
surto da cultura açucareira em meados do século XV e das necessidades daí decorrentes em
mão-de-obraeo). As Canárias, porque próximas e povoadas por guanches, ofereciam saque
fácil e contingentes adequados.

e') Luis Francisco Cardoso de Sousa Melo, «A imigração na Madeira», in História e Sociedade. 0,0 6.
1979. 51-53.
e s ) Lothar Siemens Hemandez, «La expedicion a la Madera dei Conde de Lanzarote desde la perspectiva de
las fuentes madeirenses», in A.E.A .. n.o 25. (1979) 289-305: J. de Abreu Galindo, História de la l'OlIqllisttl de las
siete is/as Callarias. Sant~ Cruz de Tenerife, 1977,245: Sergio Bonnel, «La expedieion dei Marques de Lanzarote
a la isla de la Madera», in EI Museo Callaria, X, 1984, 59-68.
e 9
) J. de Abreu Galindo, ibidem. 104 e 134: Henrique Henriques de Noronha, ibir/em. J. 51-74.
(20) Lothar Siemens e Liliana Barreto, "Los esclavos aborigenes eaoarios en la isla de la Madera (1455-
-1505) .. , in A.E.A .. n.o 20 (1974). 111-143.

99
o conhecimento das correntes migratórias entre os Açores e as Canárias está dificultado
pela falta de fontes; no entanto, as poucas disponíveis elucidam-nos sobre a existência destes
e
contactos humanos e comerciais 1 ). Esta corrente migratória afinnou-se mais no sentido
Açores-Canárias que no inverso; neste último sentido apenas há notícia da vinda de um mestre
de açúcar para Vila Franca do Campo e de Pedro Alves, de Tenerife, que serviu a João
Alvares do Sal na Lagoa (S. Miguel) como guardador de cabrase 2 ).
Os emigrantes açorianos nas Canárias são, na sua maioria, oriundos das ilhas Terceira e
S. Miguel; fixam-se nas ilhas de Tenerife, Gran Canaria e Lanzarote, dedicando-se à cultura
dos cereais, vinha e cana sacarina. Em Lanzarote surge um grupo importante que de dedica à
cultura cerealíferae 3 ). Os açorianos teriam contribuído para o arranque da cultura do pastel
em Tenerifee 4 ).

e Manuel Lobo Cabrera, ibidem. José Perez Vidal, Aportadon Porlllgllesa á la pobladón de Canarias
t
)
I .../, 102.
e2
) Gaspar Frutuoso, ib idem , L.o IV, VaI. II (1926), 60.
(23) Manuel Lobo Cabrera, lbidem. 359-360.
e4
) lbidem, 363-364.

100
1.5 Os produtos

As ilhas atlânticas dos três arquipélagos a que nos temos referido, definidas por F.
Braudel e P. Chaunu como o Mediterrâneo Atlântico, caracterizam-se por uma política de
desenvolvimento económico na dependência dos interesses do tráfico europeu interna-
cional e). A selecção e transplante dos produtos para as novas arroteias far-se-á, assim, em
consonância destes vectores do dirigismo económico europeu,' com as diferenças e assimetrias
derivadas da estrutura do solo e do clima. Esses impulsos, em conjunto, actuam como
mecanismos virtuais de distribuição das culturas europeio-mediterrânicas, componentes da
dieta alimentar (cereais, vinho) ou resultantes das solicitações das principais praças europeias
(açúcar e pastel) e).
Tal situação materialízar-se-á numa nítida tendência destas áreas para uma exploração
económica baseada na monocultura ou dominância de um produto. Contra isso surgirá a
heterogeneidade do espaço insular que condicionará a distribuição das culturas, dando lugar
a uma política distributiva ou de arrumação dos principais produtos agrícolas; surgem deste
modo áreas de produção para a subsistência e troca, procurando definir-se as condições
necessárias à estabilidade das actividades sócio-económicas. Assim, o alargamento da área
do cultivo do açúcar na Madeira implica a criação de novas áreas de produção cerealífera.
De igual modo, a heterogeneidade e descontinuidade do espaço arável dos arquipélagos
das Canárias e dos Açores condicionarão a distribuição dos produtos e sectores de
actividade nas diversas ilhas, definida pela sua importância em relação às necessidades
internas e externas. As ilhas de Fuerteventura, Lanzarote e Tenerife serão vocacionadas para
atender as necessidades da sua própria subsistência e das ilhas vizinhas, enquanto as ilhas de
S. Miguel, Graciosa, S. Jorge suprirão as carências de Angra, praças africanas e Madeira.
Nas ilhas de Tenerife e S. Miguel, mercê da actuação hábil dos governantes ou da
disponibilidade de áreas de arroteias, foi possível conciliar as necessidades de subsistência
com a voracidade das solicitações do mercado externo. Aí os cereais medravam, lado a lado
com o pastel ou o açúcar.
Esta situação de interdependência activa uma complicada teia de circuitos comerciais
inter-insulares, necessários à manutenção desta tendência monocultura!.
O povoamento e exploração do espaço insular vai ao encontro das solicitações que
regeram o processo e a economia insulares. O carácter agrário destas sociedades nascentes é
compatível com as necessidades derivadas da subsistência e das solicitações externas.
Ambos os sectores alicerçaram o rumo desta economia, definindo, por um lado, a aposta
numa agricultura de subsistência, assente nos componentes da dieta alimentar europeia e,
por outro, a imposição de produtos estranhos capazes de activarem o sistema de trocas e).
e) Fernand Braudcl, La Medirerranée erle monde médirerranéen / .. ./, I. 141-142; Pierre Chaunu. ob.
eir .• t. VTIl , I. 76-79, 369-370.
(2) Maria Olímpia da Rocha Gil. O arquipélago dos Açores no século XVII, / ... /. 421; idem, o porto de
Ponta Delgada comércio açoriano no século XVII. 107. Joel Serrão "A exploração económica da Madeira
(1425-1470)>> in D. A. H. M., n.o 31 (1961), 4) refere que a "A História agrária da Madeira caracteriza-se pois. a
partir dos seus inícios, por um regime de policultura - cereais, açúcar e vinho - , mas com tendência para o
predomínio de uma dessas produções com efeito, no decorrer dos séculos XV, XVI e XVII, sobre este fundo
inicial de policultura. desenha-se sempre uma tendência para a monocultura - princípio. o trigo; e, posterior e
sucessivamente. o açúcar e o vinho".
çJ) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cil.. 455; Vitorino Magalhães Godinho, Os descobimenros e li economia
mundial. III. 232-233; A Guimerá Ravina, "Porqué Comercia Canarias com Indias en el siglo XVI?/ ... / ". in II
C. H. C. A .• 90.104.

101
A estrutura do sector produtivo adaptar-se-á a esta situação, podendo definir-se em
componentes de dieta alimentar - cereais, vinha, hortas, fruteiras, gado e derivados - e
de troca colonial - pastel, cana de açúcar. Em consonância com a actividade agrícola
verificar-se-á a valorização dos recursos do meio insular, que irão integrar a dieta alimentar
- pesca, silvicultura - e as trocas comerciais - urzela, sumagre, madeiras e derivados,
como o pez.
Uma informação sobre a importância de todos esses componentes na economia agrícola
insular apenas se torna possível para as Canárias; aí, em finais do século XVI, as deduções
do diezmo permitem essa análise (4).

Dízimo das Canárias (5)

PRODUTO 1575 1584

Miunças 56.62% 39,34%


Açúcar 7,64% 8,9%
Trigo 24,65% 31,18%
Cevada 5,82 8.27
Centeio 3,53% 7.17%
Tocinho, sebo, couros 0,11%
Queijos 1,01% 0,30%
Urze1a 0,14%
Marca de gado 0,50% 0,50%

Os cereais representam 34% em 1575 e 47% em 1584, enquanto o açúcar apenas


representa 1/4 na primeira data e II 5 na segunda; esta situação favorável dos cereais é
explicável, como veremos, pela crise da indústria e comércio açucareiro, a partir de meados
do s'éculo. São estes os principais produtos da economia canária, variando a sua importância
de ilha para ilha. O açúcar, que surge apenas nas ilhas da Gran Canaria, Tenerife, La Palma
e La Gomera, adquire maior importância em Gran Canaria (48%) e La Palma (34%). Os
cereais, ao invés, dominam na ilha de Tenerife (37%). No global, as ilhas, de Gran Canaria
(28%). Tenerife (44%) e La Palma (27%), surgem com as principais áreas produtivas do
arquipélago.

Dízimo nas Canárias (6)

PRODUTO CANARIA TENERlFE LA PALMA LA GOMERA EL HIERRO LANZAROTE FUERTE- TOTAL


VENTURA «k)

Miunças 542760 mrs 14 156351 mrs 720664 mrs 87 223 mrs 175 060 mrs 63842 mrS 84714mrs 44
Açúcar 241 162 mrs 85612 mrs 173544 mrs 5 275 mrs 8
Trigo 767 fanegas I 270 fanegas 685 fanegas 226 fanegas 59 fanegas 35
Cevada 628 fanegas 581 fanegas 417 fanegas 159 fanegas 176 fanegas 6
Centeio 548 fanegas 550 fanegas 402 fanegas 7

(4) José Sanchez Herrero. «Aspectos de la organización eclesiástica y administracion economica de la


diocesis de Canarias a finales deI siglo XVI (1575-1585) ... in Revista da Historia Cal/aria, XXXV (1973-1976).
71-90: Leoncio Afonso, «EI modelo cerealista en I~ agricultura Canaria". in {nsti,IlIO de Estudos cllllários, 50
aniverSario (/932-/982), T. 1/, Humanidades. Tenerife. 1982, 8-42.
. (5) José Sanchez Herrero, «Aspectos de la organization eclesiástica. , ,". 73, O dízimo do açúcar é apenas
das ilhas de Gran Canaria, La Palma, Tenerife e la Gomera; o trigo e a cevada de todas excepto Hierro e La
Gomera: o centeio apenas de Tenerife. Gran Canaria e La Palma: o toucinho. sebo, couros e marca de gado
Fuerteventura: o queijo e a urzela de Fuerteventura e Lanzarote.
(6) José Sanchez Herrero. ibidem, 73-90,

102
Os cereais e o vinho

Oriundos de uma área em que a componente fundamental da alimentação era definida


pelos cereais (trigo, cevada, centeio), os colonos europeus que povoaram estas ilhas não
menosprezaram o quantitativo de grão necessário para a sementeira nestas novas frentes de
arroteamento e).
O fenómeno de ocupação e povoamento das ilhas atlânticas é, assim,
caracterizado pela transplantação de homens, técnicas, produtos e formas de domínio e
poder; tudo será moldado à imagem e semelhança das terras de origem dos colonos. Assim,
surgem as searas, os vinhedos, as hortas e fruteiras dominadas pela casa da palha e, mais
tarde, pelas luxuosas vivendas senhoriais.
Na Madeira, até à década de 70, a paisagem agrícola será dominada pelas searas,
decoradas de parreiras e canaviais. A cultura cerealífera dominava, então, a economia
madeirense, referindo Fernando Jasmins Pereira, a este propósito, que no período henriquino
os cereais constituíram a base da colonização da ilha (8).
A fertilidade do solo, resultante das queimadas, fez com que esta cultura atingisse
níveis de produção espectaculares, que a historiografia quatrocentista e quinhentista anuncia
com assiduidade, notando que o cereal se exportava para o reino e praças africanas (9). Em
meados do século, segundo Cadamosto, a ilha produzia 3000 moios de trigo, que excedia
em mais de 65 % as necessidades da parca população (10). Esse excedente, avaliado em
cerca de 2/3 da produção, era exportado para o reino e, segundo os cronistas, vendia-se ao
e
preço de quatro reais 1); desde 1461, 1000 moios de cada safra destinavam-se ao saco da
Guinée z ).
Nao obstante, a partir da década de 60, com a valorização da produção açucareira, as
searas diminuiram em superfície e a produção cerealífera passou a ser deficitária. Ou seja: a
partir de 1466, a ilha precisava de importar trigo para sustento dos seus vizinhos, sendo,
portanto, impossível manter as escápulas estabelecidas(13); aliás, em 1479, referia-se que
essa produção dava apenas para quatro meses(14). Esta última situação derivou da acção
dominadora dos canaviais, aliada ao rápido esgotamento do solo e inadequação da cultura,
resultante de uma exploração intensiva, sem recurso a qualquer técnica de arroteamento s ). e
(') Joel Serrão, ..Sobre o trigo das ilhas«, in D. A. H. M .• n. o 2, (1950), 2: Vitorino Magalhães Godinho,
Ibidem, III, 217; Oliveira Marques, Introdução à História da AgriCIIltura em Portugal, Lisboa, 1978,269-254.
(B) Esta questão foi já amplamente tratada por nós, pelo que apenas damos aqui conta dos aspectos mais
salientes, remetendo a sua precisa elucidação para os seguintes estudos: "O Comércio de Cereais dos Açores para
a Madeira no século XVII», in Açores e Atlântico, (séculos XIV-XV!), Angra do Heroísmo, 1984 651-676:
,,0 Comércio de cereais das Canárias para a Madeira nos séculos XVI-XVII .. , in VI C. H. C. A. (1984), no prelo;
"A questão cerealífera nos Açores 1., .1 .. in Arquipélago, VI Série, História e Filosofia, n. o I, 1984, 123-201.
Veja-se ainda para as Canárias; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 251-256; Guilhermo Camacho y Perez Galdós,
"Cultivos de cereales viíia y huerta en Gran Canaria (1510-1537) .. , in A. E. A., n. o 12 (1966), 233-279. Femando
Jasmins Pereira, Alguns elementos para o estudo da História Económica da Madeira, 99.
(9) Segundo Francisco Alcoforado (1420), Gomes Eanes de Zurara (1453), Cadamosto (1445). Diogo
Gomes (1482), Valentim Fernandes (1506) e Gaspar Frutuoso (1580-1590); veja-se António Aragão, A Madeira
vista por estrangeiros, Funchal, 1981; Alberto Iria, O Algarve e a Madeira no século XV, Sep. da Swdia n. O 38:
Joel Serrão, ibidem.
eo) Segundo Vitorino Magalhães Godinho (ibidem, 233).
pelo que sobravam 1900 a 2000 moias.
° consumo rondava entre os 930 e 1100 moias

(11) "Relação de Diogo Gomes», in Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n. o 5. 291-292:


Jerónimo Dias Leite, O Descobrimento da ilha da Madeira I .. .1, Coimbra, 1947, 180-181.
e 2 ) A. R.M., C. M. F" Registo Geral, T.I, fi. 204-205, 3 de Agosto de 1461, .. Apontamentos e capitolos

do Ynfante don Fernando pera ylha«, in A. H. M., vol. XV, 11-20.


(13) Idem. Ibidem, 226-299 v. o , 7 de Novembro de 1466, in A. H. M., XV, 36-40.
e 4 ) Referenciado por António Aragão, A Madeira vista por estrangeiros, 215 (nota 9).

e s ) Cadamosto, em meados do século XV, refere que de uma produção inicial de I :60 se havia passado
para I :30 ou I :40 (.. Navegações de Luis de Cadamosto", in A. Aragão, A Madeira vista por estrangeiros). Giulio

103
o agravamento do défice cerealífero nas décadas de 70 e 80, que conduziu ao
alastramento da fome em 1485, surgirá como a principal preocupação das autoridades locais
e centrais. Primeiro procurou-se colmatar a falta com o recurso à Berberia, Porto, Setúbal,
Salónica; depois foi necessário definir uma área externa produtora, capaz de suprir as
necessidades dos madeirenses. Assim sucedeu, desde 1508, com a definição dos Açores
como principal área cerealífera do Atlântico português; as ilhas açorianas actuariam como o
celeiro de provimento da Madeira e substitutivo desta no fornecimento às praças africanas 6 ). e
A Madeira, que se havia afirmado, no período henriquino, como um importante
mercado de fornecimento de trigo passará, no governo fernandino, à situação de comprador,
adquirindo mais de 1/2 do seu consumo nas ilhas vizinhas: Açores, Canárias 7 ). e
A crise cerealífera surge simultaneamente com a afirmação da mesma cultura no solo
açoriano, havendo correlação entre a crise, de um lado, e o surto, do outro; Joel Serrão
refere-nos que a valorização dos cereais na agricultura resulta dessa situação s ). O rápido e
incentivo do povoamento deste arquipélago nas décadas de 60 e 70, conduziu ao igual
desenvolvimento da cultura cerealífera, de modo que esta se afirmava, em finais do século,
como a principal área produtora de trigo do Novo Mundo 9 ). e
A historiografia quinhentista é unânime em afirmar a elevada fertilidade do solo
açoriano; o mais demonstrativo desses textos é o de Gaspar Frutuoso, que nos dá conta, de
modo exaustivo, das diversas formas de actividade económica do arquipélago, tendo em
conta a actuação dos factores de produção eo); na descrição que faz das nove ilhas salienta
que o solo açoriano, de um modo geral, se apresenta apto para a cultura do trigo, quer pela
sua estrutura geográfica, quer pela fertilidade, que tornava desnecessário o recurso ao
sistema de afolhamento 1 ). e
A intensificação dessa cultura e a falta de uma correcta política de arroteamento
condicionaram a produção cerealífera açoriana a partir de meados do século XVI. A
situação de crise, que então surgiu, resultava, por um lado, do esgotamento e inadequação
das sementes ao solo e, por outro, de acção da alforra. Esta situação condicionará e
provocará profundas alterações na economia agrária açoriana, sendo o factor preponderante
para o alargamento da área arroteada e das alterações na estrutura económica 2 ). e
Os problemas cerealíferos que surgirão com maior acuidade a partir desta data,
agravando-se nas últimas décadas do século, pautavam toda a acção dos municípios e coroa
que procuram, de modo desenfreado, as soluções adequadas para a carestia e para a
fomee 3 ).
A partir de finais do século XV as Ilhas de Tenerife, Lanzárote, Fuerteventura, La
Palma e Gran Canaria juntar-se-ão ao grupo das áreas produtoras de cereal no Atlântico,
apresentando-se como celeiro local e de fornecimento da Madeira e, até de Castela, em

Landi ("Descrição da ilha da Madeira». ibidem. 84). em cerca de 1530. dá conta dessa situação de modo explícito:
"A ilha produziria em maior quantidade se semeasse. Mas a ambição das riquezas fez com que os habitantes.
descuidando-se de semear trigo, se dediquem apenas ao fabrico do açúcar, pois deste tiram maiores proventos, o
que explica não se colher na ilha trigo para mais de seis meses, por isso há uma carestia de trigo pois em grande
abundância é importado das ilhas viz·inhas». .
(16) Alberto Vieira, O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira /la século XVIl, 652.
(17) Giulio Landi em 1530 refere a sua importação das ilhas vizinhas (Ebidem) e Pompeo Arditi em 1567
refere que o «trigo que aí se colhe é muito bom. mas tão pouco que não chega para a terça parte da ilha; por isso
são obrigados a importá-los das Canárias e das ilhas dos Açores» "Viagem à ilha da Madeira e aos Açores». in
ibidem. 130). Gaspar Frutuoso (ob. cit., L.0 II, (14) em finais do século, elucida que a ilha precisa de importar
anualmente doze mil moios de trígo.
ct a) Ob. cit.. 5-6.
ct 9 ) Veja-se o nosso estudo, A Questão cerealífera /lOS Açores / .. ./, 123-136.
eo) Saudades da Terra. L.0 IV (2 vols.). L.o VI.
e 1
) Ebidem. L.0 III, 98, 66; L.0 IV, vol. II, 17.23. 25; L.0 VI. 4. 227.
e 2
) Alberto Vieira, A questão cerealífera /lOS Açores / .. ./, 132-133.
e J
) Ebidem. 133-139.

104
e
momentos de penúria 4 ); segundo Eduardo Aznar a cultura cerealífera desempenhou um
papel preponderante na economia insular, suplantando mesmo o açúcares). Da análise das
rendas das ilhas realengas verifica-se que os cereais surgem como uma componente
importante da economia insular. variando, é certo, de ilha para ilha. Assim. para todo o
século XVI, nas ilhas de Tenerife e La Palma teremos a dominância desta cultura; de 1507 a
1508 ela representava 47%, na primeira, e 36%, na segunda; em 1510 estas duas ilhas
apresentavam 49 % em cereais e 45 % em açúcar.

Dízimos eclesiásticos em 1585 e 6


)

VIZINHOS TRIGO CEVADA E CENTEIO


ILHAS
N." c/c FANEGAS Çf MÉDIA FANEGAS Çf MÉDIA.

Tenerife 4070 53 I 270 42 3.2 1 131 30 3,6


Oran Canaria 1 709 22 167 25 2.2 1 176 32 1,4
La Palma 1 170 15 685 23 1.7 819 22 1,4
La Oomera 253 3
Hierro 200 3
Lanzarote 120 I 226 8 0.5 385 10 0,3
Fuerteventura 219 3 599 2 3.7 235 6 0.9
Tolal 7741 3007 2.5 3746 2

Em 1522, no conjunto das ilhas realengas, salienta-se com maior acuidade a dominância
desta cultura na produção canária; assim as referidas ilhas representavam 55 % enquanto o
açúcar surge com 16%, isto é, menos de um terço. Esta situação resulta, fundamentalmente,
da ilha de Tenerife, uma vez que em Gran Canaria, e desde 1498, o açúcar adquiriu uma
posição privilegiada (52%) em relação aos cereais (38%).
A produção cerealífera canária circunscrevia-se às ilhas de Tenerife, Gran Canaria, La
Palma, Lanzarote e Fuerteventura. A primeira adquire posição cimeira, desde os inícios da
conquista. mantendo-se até finais do século XVI (1585); entre 1507 e 1522, a média de
produção orçava as 85 000 fanegas de cereais, sendo 60% de trigo e 40% de cevada. No
ano de 1522 das 100000 fanegas de produção, cerca de 30000 foram consumidas
localmente e as restantes exportadas para as ilhas vizinhas e para a Madeira 7 ). e
A ilha de Tenerife mantém-se, até princípios do século XVII, como o principal celeiro
canário, capaz de suprir as necessidades do seu consumo e das ilhas vizinhas, como Gran
Canaria, La Palma e Madeira. Aliás, em 1585, Thomas Nichols referia que «esta isla es la
más fértil de todas encuanto ai trigo, y desde este punto de vista es una madre o una nodriza
para todas las demás en tiempo de necessidad" s). e
A conjuntura cerealífera deste arquipélago, em meados do século XVI, é idêntica à das
restantes áreas produtoras (5. Miguel, Terceira), definindo-se pela acuidade dos problemas

(24) Guilhermo Camacho y Perez Galdós, ibidem, 224-50: Pierre Chaunu, ibidem. VIII, Vol. I, 366-372:
Leoncio Afonso. ibidem, 7-42.
e s ) Ob. cit .• 252.
(26) José Sanchez Herrero, ibidem, 74-90.
(27) Acucrdos dei cabildo de Tenerife, TV, n.o 343, 26 de Setembro de 1522: Eduardo Aznar Vallejo. ob.
cit., 252: Leoncio Afonso, ibidem. 30-33.
e R
) «Descripction de las islas afortunadas .. in Alejandro Cíoranescu. Thomas Nichols mercador de azúcar.
hispanista y herege. La Laguna, 1963, 114.

105
UI

e· ·

106
,
e 44

•• 6-10

3-5

I
• 1-2

.-
O
-:J VINIIAS E LATADAS liA MADE[RA. Seculo XVI
de abastecimento local, que surgem como o resultado da deterioração do solo e do aumento
desproporcionado da população; a esta situação de crise, generalizada a todo o mundo
insular, corresponde uma intervenção assídua da coroa e dos municípios, entravando a livre
circulação do produto e o seu consequente comércio.

Relação consumo - produção de cereais nas Canárias século XVI e9


)

PRODUÇÃO
ILHAS POPULAÇÃO ------------ CONSUMO SALDO
TRIGO CEVADA/CENTEIO

Oran Canaria 7690 7670 II 310 26995 - 8015


Tenerife 18315 12700 II 7ffJ 45787 -21 327
La Palma 5265 6850 8 190 18428 - 3388
La Gomera I 138 3983 - 3983
EI Hierro 900 3 150 -3 150
Lanzarote 540 22ffJ 3850 1890 + 4220
Fuerteventura 985 590 2350 3448 508
Total 34834 30070 374ffJ 121919 -81 389

A produção em 1585 evidencia essa situação, demarcando a necessidade de recurso a


outros produtos alimentares ou à sua importação; a produção de trigo dava apenas para um
quarto das necessidades; daí o recurso a outros cereais, como o centeio e a cevada, produtos
importantes na dieta das camadas sociais mais humildes. No entanto, como essa produção
apenas surge com metade do quantitativo necessário, somos levados a concluir que a
alimentação deveria ser variada, sendo os seus componentes extraídos da rúbrica miunças,
que representa valor superior em todas as ilhas, e um total de 50% do global nas Canárias.
Apenas as ilhas de Lanzarote e Fuerteventura poderiam manter um importante comércio de
exportação, alheio a qualquer impedimento à sua livre circulação.
Os cabouqueiros peninsulares transportam conjuntamente com os poucos grãos de
cereal alguns bacelas das boas cepas existentes no reino, de modo a poderem dispor do
precioso rubinéctar para o ritual cristão e alimento diário. A videira adaptou-se com
facilidade ao solo insular e conquistou uma posição importante na economia insular.
Cadamosto, que em ~eados do século XV visitou a Madeira, ficou deslumbrado com o
rápido crescimento desta cultura, aduzindo que a ilha «tem vinhos, muitissimo bons; se se
con'siderar que ( ... ) é habitada há pouco tempo são em tanta quantidade, que chegam para
os da ilha e se exportam muitos deles" o). e
A cultura da vinha na Madeira absorvia, já por esse tempo, uma porção considerável da
área arroteada da ilha e, de modo especial, a zona ribeirinha do Funchal, onde deparamos
com doze vinhas e treze latadas. Além Funchal, na área entre a Ribeira Brava e Ponta de
e
Sol encontramos apenas oito latadas 1 ). Na primeira metade do século seguinte esta cultura
aumenta em extensão e importância, alargando-se a novas áreas como Câmara dos Lobos,
Caniço e Ribeira. Brava; a partir de meados do mesmo século a vinha conquista em
definitivo o solo madeirense, substituindo os canaviais e alargando-se às clareiras vertente
norte, e de tal modo que em finais do século existia com abundância em todas os núcleos de
povoamento. (32)

e9
) José Sanchez Herrero, ibidem, 74-90.
eo) «Navegação 1... '/" in António Aragão, ob. cit., 37.
e1
} Virginia Rau, O açúcar da Madeira / ... /,66-74; A.R.M., Misericórdia do Funchal, n,o 40, 43,694.
710.
(n) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 II, passim.

108
Os trigais e os canaviais davam, assim, lugar às latadas e balseiras, a vinha tornava-se
a cultura exclusiva do colono madeirense, à qual passa a dedicar toda a sua acção e
engenho. O vinho adquire o primeiro lugar na economia madeirense, mantendo-se nessa
situação por cerca de três séculos.
A evolução da situação viti-vinícola madeirense é apresentada de modo exemplar por
alguns visitantes da ilha nesse século. Assim, em 1547 Hans Standen definia a economia da
ilha pelo binómio vinho/açúcar, enquanto, em Maio desse ano a vereação funchalense
decidia o preço do vinho, urna vez que «nesta ilha as mais pessoas deIla vivem de
vinhos» e 3
). Esta última situação surge reforçada em meados do século, e de tal modo que,
na década de 70, o vinho viria a apresentar-se como o primeiro e principal produto de
e
exportação 4 ). Em 1583 T. Nichols referia que ,<la producción principal de este pais es una
gran cantidad de vino excepcionalmente bueno, que se lleva a muchos lugares» s ). E, em e
1590, Torriani dava conta da abundância de vinhos na ilha, referindo "que superou em
mucho lo que en su tiempo habia visto Alvise da Mosto» 6 ). e
Nos Açores o vinho não terá adquirido, nos séculos XV e XVI, a importância que teve
na Madeira e, mesmo, nas Canárias; só assumirá uma posição de relevo na economia
açoriana a partir de finais do século XVI, com as escápulas vantajosas para o Brasil e
e
Antilhas 7 ). Os condicionalismos de ordem geográfica e climática terão contribuído, em
parte, para o escasso desenvolvimento da cultura da vinha; se excluirmos a ilha do Pico e
Santa Maria, é forçoso concluir que o arquipélago não apresentava as condições mesológicas
adequadas aos vinhedos; aliás, no reinado de D. João II, o alemão Münzer queixava-se da
e
fraca qualidade do vinho dos Açores s); e, em finais do século tanto Linschoot como
Mosquera de Figueiroa apontaram que o vinho terceirense era de muita má qualidade; o
primeiro salienta, a esse propósito, que na ilha «onde se dá também grande abundância de
vinho, mas muito fraco e que não pode guardar-se nem ser transportado para fora; é,
contudo, utilizado pela gente pobre, pois que os mais ricos usam ordinariamente dos vinhos
da Madeira e da Canárias» 9 ). e
O incentivo desta cultura no século XV, a partir das décadas de 60 e 70, deverá resultar
das correntes imigratórias de madeirenses que participaram activamente na ocupação e
exploração do solo açoriano; de resto a tradição anota que teria sido frei Pedro Gigante
quem, cerca de 1460, introduziu os primeiros bacelas oriundos da Madeira na ilha do
Pico (40). A cultura de vinha espalhou-se a quase todo o arquipélago, adquirindo importância
na ilha do Pico e em S. Jorge, Santa Maria e S. Miguel, ocupando aí todas as terras de
biscoito (41).
Na ilha de S. Miguel a produção em finais do século oscilava entre duas mil e cinco
mil pipas anuais, das quais 70% provinham das vinhas de Ponta Delgada e Lagoa, 20% da
Ribeira Grande e apenas 10% das restantes partes da ilha(42). Nade S. Jorge colhiam
anualmente três mil pipas de que se exportava metade para a Graciosa e Faial, referindo
Gaspar Frutuoso que em S. Jorge existiam trezentas adegas (43). Na ilha do Pico, só em

e 3) A.R.M., C.M.F" n. o 1308. fi. 44. 14 de Maio de 1547.


(34) Segundo Duarte Lopes em 1578, Vitorino Magalhães Godinho, ob. cil .. m. 244.
(35) Alejandro Cioranescu, ob. cil .. 122.
e Descripcioll e Hisloria de las islasCallarias / ... /, Santa Cruz de Tenerife. 1978. 266.
6)

e Vitorino Magalhães Godinho, ibidem. III, 244.


7)

es ) fbidem.
e9)
244. .
"História da Navegação /" ./», B.l.H.f.r.. I, 151; C. Mosquera de Figueiroa .. Conquista de la Isla
Terceira en 1583» in Arquivo dos Açores. IV, 281.
(40) Ernesto Rebello, «Notas açorianas .. ,in Arquivo dos Açores. VII. 65, 75.
(41) Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L. o III, IV. VI) dá-nos conta da situação da economia
viti-vinícola açoriana em finais do século.
(42) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. Livro IV, vol. II, 5, 46-47.
(43) fbidem. L. 0 VI, 246-247.

109
S. Roque e Santa Bárbara produziam-se mil e novecentas pipas, havendo aí importantes
lavradores de vinha, como Belchior Homem, que produzia de cem a cento e trinta pipas de
bom vinho (44).
Nas Canárias o impulso viti-vinícola deu-se logo após a conquista destas ilhas, tendo o
vinho assumido uma posição de relevo na economia canária, na segunda metade do
século XVI. O rápido arranque desta cultura na ilha de Tenerife resulta do incentivo do
cabildo à plantação de videiras, aliado à proibição dos vinhos de fora, como forma de
colmatar a sua falta no mercado local (45). Nas ilhas de La Palma e Gomera esse avanço
resulta da existência de um mercado comprador nas Índias Ocidentais, cujo transporte era
facilitado pela posição das duas ilhas no traçado rotas comerciais de ida (46).
A insuficiência da produção cerealífera insular, acompanhada da incidência de agudas
crises de produção, conduziram à valorização da componente leguminosa e frutícola na
alimentação insular. Assim, a fruticultura e horticultura apresentar-se-ão como componentes
importantíssimas na economia de subsistência. Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI,
alude com frequência às hortas e quintais, que ornamentavam a paisagem humanizada do
mundo insular, onde se produzia um conjunto variado de legumes e frutas (47); estes, para
além do uso na dieta alimentar, eram também valorizados pela utilização para provimento
das naus que apartavam com assiduidade a estas paragens.
A dieta insular completava-se com o aproveitamento dos recursos do meio com valor
alimentar, como seja a caça e pesca, e dos derivados da actividade pecuária, corno a carne,
o queijo e o leite. A pesca, mercê de condições do meio, será uma actividade importante das
populações ribeirinhas, que usufruem de grande variedade de mariscos e peixe, jun"to à costa
e no mar alto (48).
O gado terá igualmente importância na economia insular, não só pela sua utilização
corno força de tracção nos transportes e na lavoura, mas também pela valorização dos seus
derivados na alimentação (carne, queijo) e nas indústrias artesanais (couro, sebo). Tendo em
conta esta múltipla utilização, os municípios procuram valorizar e regulamentar a compo-
nente pecuária da economia local, ao mesmo tempo que intervêm na distribuição e venda
dos seus derivados e do seu uso quotidiano, como força motriz (49).

(44) lbidem, 288-293.


(45) Elias Serra Rafols, «introduccián», in Acuerdos de! cobildo de Tenerife, IV, p. XI. A 13 de Janeiro de
1500 o cabildo ordenara que cada vizinho deveria plantar oitocentas sementes (AclIerdos dei rabildo de Tenerife,
I, n. o 143, p. 26) e a 5 de Novembro de 1507 proibia-se a saída de vinho da ilha (ibidem, n. o 248, p. 28), E,
finalmente a IS de Abril de 1519 atinge-se o número de pipas necessárias ao consumo local, pois proibe-se a sua
introdução de fora (ibidem, IV. n. o 65 p. 30), sendo levantado. excepcionalmente, a 3 de Junho (ibidem, n. o 77,
p. 341) mantendo-se com força da lei, como forma de incentivar esta cultura na Ilha (ibidem, n,o 153, p. 38, I de
Julho de 1520); veja-se Andres Lorenzo Caceres, Malvasia y Fa!stajf o Los vinos de COllarias, La Laguna, 1941,
(46) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 I, (1966) 74. 104-106, 137-8; E, Marco Dorta, «Descripcion
de las islas Canárias», in Revista de história, IX (1943), 1201-1204.
(47) Saudades da Terra, L.0 I. caps. XII-XX; L.o II, caps. IX, XV-XIX, L.0 III, caps. LVI-LVIII; L,o VI,
caps. III-VI, XXXII-XXXIII, XXXVII, XLI, XLVII.
(48) lbidem.
(49) Em 1506-1508 Valentim Fernandes (Ob. cit.) refere quanto à ilha Terceira que há "grande criação de
vacas e porcos e ovelhas de que faze muita carne que levã para Portugal e muyto sevo», Gaspar Frutuoso, em
finais do século XVI, dá-nos conta das terras de pasto da criação de gado e dos animais da lavoura, nas ilhas em
estudo: confronte-se nota 47. Veja-se ainda José Perez Vidal, "La ganaderia canaria. Notas historico-geográficas",
in A.E.A., n. o 9 (1963), 237-286; Maria Olímpia da Rocha Gil. "Pastagens e criação de gadh na economia
açoriana nos séculos XVI e XVII (elementos para o seu estudo)>>_ in B.I.H.l,T., XL (1982), 503-549.

110
o açúcar e o pastel

Enquanto os produtos anteriormente referenciados surgem como uma necessidade


emergente da dieta alimentar dos colonos europeus que tomaram estas ilhas por morada, os
produtos coloniais aparecem como uma imposição da Europa Atlântica, ou seja, com a
finalidade de suprir as necessidades do mercado europeu.
A Europa distribui os produtos de cultivo pelas áreas adequadas e assegura as
condições necessárias à sua implantação e ao seu escoamento e comércio. Nestas circuns-
tâncias surgem a cana-de-açúcar e o pastel, que se alargam a todo o espaço insular atlântico.
Os incentivos da coroa e munícipios, aliados à sua elevada valoração pelos agentes
europeus, actuaram como mecanismo de desenvolvimento e expansão destas culturas no
mundo insular.
A cana-de-açúcar, pelo seu alto valor económico no mercado europeu-mediterrânico,
foi um dos primeiros e principais produtos que a Europa legou e impôs às novas áreas de
ocupação; primeiro chegou à Madeira e daí passou para os Açores e Canárias (50).
A cana-de-açúcar, na sua primeira experiência além-Europa, evidenciou as suas
possibilidades de desenvolvimento fora do habitat mediterrânico. Esta evidência catalizou
as atenções do capital estrangeiro e nacional, que apostou no crescimento e promoção desta
cultura na jlha; só assim se poderá compreender o seu arranque rápido; se nos primórdios da
ocupação do solo insular se apresentava como uma cultura subsidiária, a partir das últimas
décadas do século XV aparece como o produto dominante, situação que se manterá até à
primeira metade do século XVI.
A cana sacarina, usufruindo do apoio e protecção do senhorio e da coroa, conquista o
espaço arroteado das searas, expandindo-se a todo o solo arável da ilha. Aí poderemos
distinguir duas áreas: a) a vertente meridional (de Machico à Calheta), com um clima quente
e abrigada dos alíseos, onde os canaviais atingem os 400 m de altitude; b) o nordeste,
dominado pelas plantações da capitania de Machico (Porto da Cruz e Faial até Santana),
solo em que as condições mesológicas não permitem a sua cultura além dos 200 m, nem
uma produção idêntica à primeira área (51).
A capitania do Funchal agregava no seu perímetro as melhores terras para a produção
do açúcar, ocupando a quase totalidade do espaço da vertente meridional. À capitania de
Machico restava apenas uma lnfima parcela dessa área e todo um vasto espaço acidentado
impróprio para a cultura. Assim, em 1494, do açúcar produzido na ilha, apenas 20% advém
da capitania de Machico e o sobrante da capitania do Funchal; em 1520 a primeira atinge
25 % e a segunda os 75 % (52). .
Fernando Jasmins Pereira, num estudo comparativo da produção das duas capitanias
entre 1498 e 1537, discorda da relação até então estabelecida, pois, de acordo com a sua
análise, a razão situa-se em 4: I para os primeiros decénios do século XVI, descendo entre
1521-1524 para 3:1 e recuperando na segunda metade do decénio para a anterior relação(53).

(50) Frédéric Mauro, ob. cit" 116-190; Henrique Gomes de Amorim Parreir~, "História do Açúcar em
Portugal .. in Anais da Junla das Missões geográficas ~o Ullramar. vol. ~II, t. II; Lisboa: 1952: Eduar~o Az~ar
'
V a II eJo, b·'1 260-263' Charles Verlinden, "Les de.buts de la productton et I explotauon du sucre a Madere
o . (I " , . I 'b d
/., '/'" in Sludi in onori de Luigi dei Pane, Roma, 1982,301-310; José Perez Vldal, :Las con.servas a mi., era as
de los Azores y las Canarias .. , in B.l.H.I.T., XIV (1956), 18-19; Vitorino Magalhaes Godmho, ob. clt., IV,

69-99(51) Veja-se Orlando Ribeiro, L'iie de Madere. Élude géografique. Lisbonne, 1949 pp. 60-62; Vitorino
Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a economia mundial. IV, pp. 80-81. . , _
(52) Veja-se V. Rau, ibidem. p. 15; V. M. Godinho, ibidem. p. 80; Fernando Jasmms Pereira, O açucllr
I/Iade-irense /"'/' p, 95, . A . d J d
(53) O autor refere-se a H. G, de Amorim Parreira, "História do Açúcar em Portugal:>, ln nals a unta. e
Invesligação do Ullramar, vol. VII (1952)., T. I, pp. 31-32: V. Rau, ibidem. p. 14; Veja-se Fernando Jasmms
Pereira, ibidem, p. 100-101.

111
Na capitania do Funchal os canaviais distribuem-se de modo irregular, de acordo com
as condições mesológicas da área. Em 1494 a maior safra situava-se nas partes do fundo,
englobando as comarcas da Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta com 64% da produção,
enquanto o Funchal e Câmara dos Lobos tinham apenas 16%(54). Em 1520, não obstante
uma ligeira alteração, a diferença mantém-se, pois a primeira área surge com 50%,
enquanto a segunda apresenta 25 %, valor igual ao total da capitania de Machico (55).
Numa análise em separado das diversas comarcas da capitania do Funchal verifica-se
que a comarca do Funchal domina essa produção com 33 %, seguindo-se a Calheta com
27 %; as comarcas de Ribeira Brava e Ponta de Sol surgem numa posição secundária, ambas
com 20% (56).
Referida a situação da geografia açucareira madeirense, vejamos a sua evolução até
meados do século XVI. Criadas as condições a nível interno por meio do incentivo ao
investimento de capitais na cultura da cana-de-açúcar e comércio de seus derivados, do
apoio do senhorio, da coroa e da administração, a cana estava em condições de prosperar e
de se afirmar, por algum tempo, como o produto dominante da economia madeirense.
O incentivo externo do mercado mediterrâneo e nórdico aceleraram este processo expan-
sionista, e a sua detenção só foi possível pela conferência de vários factores endógenos e
exógenos; assim se explica o rápido movimento ascendente bem como o percurso inverso,
pois ao atingir-se o zénite não houve um lapso de estabilidade.
A fase ascendente, que poderá situar-se entre 1450 e 1506, não obstante. a situação
deprecionária de 1497-1499, é marcada por um crescimento acelerado que, entre 1454-
-1472, se situava na ordem dos 240% e no período subsequente, até 1493, em 1430%, isto
é, uma média anual de 13,3 % no primeiro caso e de 68 % no segundo. No período seguinte,
após o colapso de 1497-1499, a recuperação é de tal modo rápida que em 1500-1501 o
crescimento é de 110% e, entre 1502-1503, de 205%. Esta forte aceleração do ritmo de
crescimento nos primeiros anos do século XVI irá marcar o máximo, atingido em 1506, a
que se' sucede um rápido declínio nos anos imediatos, de tal modo acelerado que em quatro
anos se atinge um valor inferior ao do início do século. A situação agrava-se nas duas
décadas seguintes, baixando a produção na capitania do Funchal, entre 1516-1537, em
60 %; na capitania de Machico a quebra é lenta, sendo sinónimo do depauperamento do solo
e da crescente desafeição do mesmo à cultura. Todavia a partir de 1521 a tendência
descendente é global e acentuada, e de tal modo que a produção do fim do primeiro quartel
do século se situava a um nível pouco superior ao registado em 1470(57).
Na década de 30 consumava-se em pleno a crise da economia açucareira, e o ilhéu
viu-se na necessidade de abandonar os canaviais ou de os substituir pelos vinhedos, o que
sucedeu de modo evidente a partir de meados do século XVI.
A historiografia tradicional vem apresentando múltiplas explicações para esta crise,
assentes fundamentalmente na actuação de factores externos. No entanto Fernando Jasmins
Pereira com o seu estudo sobre o açúcar madeirense, contraria essa opinião fazendo assentar
a crise em determinantes condições ecológicas e sócio-económicas da ilha, definindo como
primordial o primeiro factor: « •.• a decadência da produção madeirense é primordialmente
motivada por um empobrecimento dos solos que, dada a limitação da superfície aproveitável
na cultura, vai reduzindo inexoravelmente a capacidade produtiva" (58).
Deste modo a crise da economia açucareira madeirense não se explica apenas pela
concorrência do açúcar das Canárias, Brasil, Antilhas e S. Tomé mas, acima de tudo, pela
conjugação de vários factores de ordem interna: a carência de adubagem, a desafeição do
solo à cultura e as alterações climáticas. A concorrência do açúcar das restantes áreas

(54) V. Rau, ibidem, p. 15; V. M. Godinho, ibidelll, p. 80.


(55) Fernando Jasmins Pereira, ibidl'lIl, pp. 95 e 155.
(56) lhidelll, p. 95, segundo razão do Bach. Bartolomeu Lopes de 1520 (A.N,T.T., C.C., II, 86, 171).
(57) Seguimos o texto de Fernando Jasmins Pereira, ibidl'lIl, pp. 103-158).
(58) lbidl'm, p. 150.

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produtoras do Atlântico, bem como a peste (em 1526) e a falta de mão-de-obra vieram
agravar a situação de crise do açúcar madeirense.
As socas de cana não foram esquecidas na bagagem dos primeiros caboqueiros
açorianos, pois esta cultura surge nas primeiras frentes de arroteamento nas ilhas de Santa
Maria e S. Miguel e, mais tarde, na Terceira e no Faial. A cana trazida por colonos
oriundos do reino, da Madeira ou da Flandres, não encontrou aí as condições adequadas ao
seu rápido desenvolvimento. As condições mesológicas aliadas à inexistência ou reduzida
presença de capitais nacionais e estrangeiros travaram o seu desenvolvimento. Não bastaram
as iniciativas madeirenses, a partir da década de 70, e flamengas, em 1490, para que esta
cultura tomasse rumo idêntico ao da Madeira (59). No que se refere a Santa Maria, Gaspar
Frutuoso afirma que essa situação resultou da falta de regalias, da insuficiência de cabedais
e da pouca curiosidade dos seus homens (60). Não obstante esta situação desfavorável, em
finais do século XV e princípios do seguinte este produto ganhou importância de relevo nas
ilhas de Santa Maria, S. Miguel e Faial, isto se atendermos ao rendimento das rendas entre
1502 e 1510(61), Nesta última data o açúcar açoriano representaria apenas um terço da
produção madeirense (62).
A falta de informação adequada para o período imediato e a indicação no texto
frutuosiano de uma nova fase de arranque da cultura na década de 40 levam-nos a concluir
que a primeira metade do século não se apresentava favorável ao seu cultivo, mercê do
rápido surto da cultura dos cereais e pastel.
Esta segunda tentativa de implementação da cultura surge em Vila Franca do Campo,
por iniciativa de micaelenses com o apoio técnico e financeiro de madeirenses (63); embora
certamente mais bem sucedida do que a primeira, manteve-se por pouco tempo, pois desde
1563 que surgem os primeiros sinais de crise que condicionarão o momento seguinte, e de
tal modo que na década de 80 havià apenas um engenho na Ribeira Seca.
A situação favorável das décadas de 40 e 50 é retratada na documentação oficial.
Assim, em 1551 o ouvidor justificava a necessidade de construção de um porto em Ponta
Delgada pelo «grande crescimento em que vai a ilha com os açúcares que agora se prantão e
querem fazer» (64). Além disso, desde 1552 que era justificada a existência, em Vila Franca
do Campo, de um escrivão e recebedor de açúcar (65).
A crise de 1583 foi atribuída pelos mercadores deste trato à fraca qualidade do produto,
derivado das condições mesológicas e das técnicas de fabrico (66). A tudo isto juntar-se-á,
em finais do século XVI, a onerl!ção do fabrico da arroba de açúcar, em contraste com o seu
valor reduzido e com a pouca competitividade com o da Antilhas e do Brasil; este
orçamento dos custos de produção derivava do elevado preço de construção dos engenhos
(600 000 reais) e da falta e dificuldade de transporte de lenha para a sua laboração; o bicho
da cana viria completar a fase decrescente desta cultura e pôr termo a esta efémera
aventura (67).

(59) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem. IV, 94-95; Carreiro da Costa, «A cultura da cana de açúcar nos
Açores. Algumas notas para a sua história», in a.C.R.C.A .. n. o 10 (1949), 15-31; H. Amorim Parreira, ibidem.
51-52.
(60) Ob. cit., L. ° III, 14.
(61) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem. IV. 94.
(62) A.N.T.T., L.0 3 de D. Manuel, fl. 28, alvará régio de 10 de Julho de 1510, in Arquivo dos Açores, III,
200-201.
(63) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 IV, vol. II, 59, 209-212; Francisco Carreiro da Costa,
ibidem. Sebastião Gonçalvez associa-se a Baltasar Pardo, proprietário importante de Canaviais no Funchal, e traz
consigo um mestre de engenho.
(64) A.N.T.T., C.C .. 1-85-87, Ponta Delgada, 23 de Março de 1551, in Arquivo dos Açores, II, 18-19.
(65) Livro de Registo da Alfândega de Ponta Delgada. 1568-/603, fi. 82 v,o, referenciado por Maria
Olímpia da Rocha Gil, O Porto de Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XVII r.. ,r,75.
(66) Ibidem, fl, 340 v. o; citado por Idem, /bidem. 76.
(67) Ob. cit., L.0 IV, vaI. II, 58-59.

114
Em síntese poderemos afirmar que o açúcar nos Açores não se apresentou com a
mesma importância que assumi\! na Madeira e nas Canárias, pois nunca constituiu um
«elemento predominante na economia insular», no dizer de Maria Olímpia da Rocha
Oil(68).
Nas Canárias, na mesma medida da Madeira, o açúcar surge como o componente mais
importante do comércio durante o século XVI; o desenvolvimento desta cultura nas ilhas
Canárias ficou a dever-se em muito à intervenção genovesa, quer por meio do investimento
do seu capital em canaviais e engenhos, quer pela sua acção no trato deste produto (69);
enquanto os genoveses intervêm com o capital e prática comercial, os portugueses surgem
com a sua experiência no delineamento do sistema de regadio, construção e laboração dos
engenhos CD).
As primeiras socas de cana e mão-de-obra especializada foram conduzidas da Madeira
pelo governador de Oran Canaria, D. Pedro de Vera. A partir daí a cultura expande-se para
as ilhas de Tenerife, La Palma e La Gomera, áreas onde existiam as condições necessárias
para a manutenção desta cultura, ou seja, ilhas em que se tornava possível introduzir o
devido sistema de regadio e encontrar a lenha necessária à laboração dos engenhos.
Deste modo o açucar surgirá, na vida canária da primeira metade do século XVI, como
o principal produto activador das actividades económicas. Segundo M. A. Ladero Quesada
«el azúcar fue, en efecto, el principal producto de exportación, que permitia obtener en
contrapartida las manufacturas y otros productos que las islas necessitaban. EI azúcar atrajo
las invel'siones de capital más importantes, estimulá las relaciones mercantiles, la cons-
trucción de puertos y varaderos» (71).
Na segunda metade do século XVI assistir-se-á à diminuição paulatina desta cultura,
mercê da concorrência do açúcar das Antilhas e costa ocidental africana e, de igual modo,
do incremento da produção vitícola (72).
Tal como o açúcar, o pastel surge no mercado da Europa nórdica e mediterrânica como
um produto importante; era um dos principais corantes utilizados na indústria têxtil
europeia (73). A abundância de urzela e sangue de drago no mercado insular condicionou o
aparecimento dos mercadores italianos e flamengos que, na procura desses materiais.
corantes, trouxeram consigo o pastel.
Não obstante estar referida a sua existência na Madeira, no século XV, e nas ilhas de
Hierro, La Palma e Tenerife, o pastel só ganhou importância nas ilhas açorianas; encon~
tramos esta cultura em todas as ilhas dos Açores, com especial incidência em S. Miguel,
Terceira e Faial C4 ).
Esta planta cultivou-se inicialmente na Madeira, sendo o seu produto enviado ao reino
e Itália; em 1460, ainda em vida do Infante D. Henrique, recomendava-se o seu envio ao

(68) ibidem. 75.


(69) Confronte-se Charles Verlinden, ibidem; Ramon Diaz Hernandez, El azúcar en Canarias (século
XVi-XVll) , Las Palmas, 1982,32-33,41-42, Guilhermo Camacho y Perez Galdós, "EI cultivo de la cana de azúcar
y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535)", in A.E.A., n. o 7, (1961), 17-19, 52; Maria Luisa
Fabrellas, .. La producción de azucar en Tenerife», Revista de História n. o 100, 1952, 454-475.
(0) Maria Luisa Fabrellas, ibidem, 269-470; Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ibidem, 35-38; Francisco
Morales Padron, El comercio canario-americano, 22.
(71) "La economia de las islas Canarias /"'/'" in Historia General de las islas Canarias, III, 135.
(72) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 260·261; Ramón Diaz Hernández, ibidem, 39-40, 43·48.
('3) Veja-se M. Postan e E. E. Rich, ..EI comercio y la industria en la edad Media» in Historia Económica
da Europa, vaI. II, Madrid, 1967, 450-540; Guy Fourquin, História Económica da Europa Medieval, Lisboa,
1981, 377-398; Domenico Sella, «Las industrias europeas (1500-1700)>> in Historia Economica da Europa (2)
siglas XVi y XVll» , Barcelona, 1981, 277-332.'-
(4) Francisco Carreiro da Costa, «A cultura do pastel nos Açores», in B.R.C.A., n. 0 4 (1946), 1-37; Idem,
«Tinturaria Vegetal nalgumas ilhas dos Açores», in ibidem, n. o 25 (1957), 133-137; Urbano de Mendonça Dias,
A vida de /lOSSOS avós, IV, Vila Franca do Campo, 1944; Maria Olímpia da Rocba Gil, O porto de Ponta Delgada
e o comércio açoriano no século XVll / .. '/' pp. 91·106.

115
reinoe s ). Jacques Heers corrobora esta situação ao afirmar que, por volta de 1460, os
genoveses vinham frequentemente buscar este produto à ilha, e que esta era conhecida como
a ilha do pastel('6); não obstante, a documentação madeirense apenas referencia a existência
e o comércio de outras plantas tintureiras, como o dragoeiro e a urzela. Mas se dermos
crédito à lembrança do Infante D. Henrique, corroborada pela notícia de Jacques Heers, e se
tivermos em conta a referência feita por Virginia Rau, acerca da sua exportação em 1537
para Antuérpia, somos levados a concluir que este produto era um componente importante
e
das trocas madeirenses nos séculos XV e XVI 7 ). O seu esquecimento na documentação
oficial será resultado da inexistência de qualquer circunstância que nos escapa ou da sua
secundarização a favor de produtos, como o vinho e o açúcar, dominantes e granjeadores de
um valioso lucro.
O mesmo se poderá dizer em relação às Canárias, onde deparamos apenas com
referências muito lacónicas ácerca do cultivo e comércio deste produto; a planta surge nas
ilhas de Hierro, La Palma e Tenerife('B); Gaspar Frutuoso em finais do século XVI,
refere-nos que em La Palma «houve muito pastel que deixaram de os fazer por haver mais
proveito nos vinhos e trigo e por os da escala das Indias, de que é frequentada aquela ilha,
não pedirem senão vinhos» ('9).
O pastel foi certamente introduzido nas Canárias pelos portugueses oriundos dos
Açores, uma vez que estes surgem em Tenerife associados à sua cultura e transformação (BD).
No arquipélago açoriano esta cultura alcançou um lugar similar ao ocupado pela cana-de-
-açúcar na Madeira e nas Canárias, sendo o principal produto de troca com o exterior e um
chamariz para os mercadores italianos, flamengos e ingleses.
A historiografia, baseada no texto de Gaspar Frutuoso (L.os III, IV, VI) refere-nos que
o pastel foi introduzido pelos flamengos que estiveram ligados ao povoamento das ilhas da
Terceira e Faial (Bl); no entanto parece-nos ser de outra precedência a sua origem em solo
açoriano. Em primeiro lugar, convém esclarecer que o facto de os flamengos estarem
ligados aos primórdios do seu cultivo e comércio não poderá ser prova cabal da sua
transplantação da Flandres e de que a sua produção se destinava em exclusivo a este
mercado. O seu interesse pelo pastel deriva da necessidade do seu uso na indústria têxtil,
procurando evitar os contratempos e dificuldades do mercado abastecedor francês, pois a
Flandres não era um mercado produtor, mas sim um potencial comprador do pastel de
Toulouse (82). Deste modo, se tivermos em conta a sua existência na Madeira no século XV,
considerado na dééada de 60 como um produto importante, poderemos referenciar a
possibilidade da sua introdução por colonos madeirenses, que inv.adiram as ilhas da
Terceira, Faial e S. Miguel a partir de meados do século XVI. Saliente-se que Guilherme da
Silveira, apontado como um dos introdutores do pastel no Faial, na sua expedição para esta
ilha apartou à Madeira, onde se deteve por algum tempo (B3). De igual modo Jácome de

t s ) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L. o II, 95; Fernando Augusto da Silva, «pastel .. , in Elucidario
Madeirense. II (1946), .54.
t 6 ) Gênes au XV siécle, Paris, 1971, ;317.
t 7
) A 6 de Março de 1537 o navio «Santa Maria das Areias .. de Diogo GO[jçalves, entrou em Antuérpia
com pastel de Madeira. Veja-se Virginia Rau, A exploraç~o e o comércio de sal de Setúbal, Lisboa, 1952.
t 8 ) Dacio VÍctoriano Darías y Padron, Noticias generales historicas sobre la isla dei Hierro. Santa Cruz de
Tenerife, 1980, 208; Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 I, 132; Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres
Santana, «Aproximacción a las relaciones entre Canarias y Azores en los siglas XVI y XVII" in Os Açores e o
Atlântico (XV-XVII), 1984, 363-364.
(79) Oh. cit., L.0 1, 132.
(80) Manuel Lobo Cabrera, ibidem, 132-133; Elias Serra Rafols, Las datas de Tenerife, La Laguna, 1978,
data n,o 32, 53, 65,462, 516, 590, 762, 1249, 1462, 1470, 1487, 1521, 1526.
(81) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 VI, cap. XXXVI; Antónío da Silveira Macedo, História das
quatro ilhas I .. ./, I, 17; Carreiro da Costa, A cultura do pastel nos Açores. já citado.
(82) Veja-se nota 73.
(83) Saudades da Terra, L.o VI, 257,278.

116
Bruges, outro flamengo relacionado com o povoamento da Terceira, esteve na Madeira na
década de 50, tendo trazido consigo Diogo de Teive (84). Em síntese é legítimo concluir que
o pastel foi introduzido pelos flamengos que na Madeira estiveram ligados ao seu comércio
ou então pelos colonos madeirenses que emigraram para os Açores, a partir da década de
50 (85) ..
De acordo com Gaspar Frutuoso, os flamengos corresponsabilizaram-se pela introdução
e distribuição do pastel, a partir do Faial, pelas ilhas S. Jorge, Graciosa e S. Miguel,
alargando-se depois às restantes ilhas.
A ilha de S. Miguel, pela sua extensão e disponibilidade do solo arável, tornou-se a
principal área de produção e comércio deste produto. A aristocracia fundiária micaelense fez
incidir as suas arroteias na cultura dos cereais e desta planta tintureira; Gaspar Frutuoso dá
conta desses elementos influentes da produção de pastel, citando em especial Jorge Botelho
e Francisco Arruda da Costa(86).
Os incentivos da coroa a esta cultura, bem como a elevada valorização do seu produto
no mercado têxtil europeu, conduziram à sua rápida afirmação no solo açoriano; assim, em
1592, Gonçalo Vaz Coutinho, governador da ilha de S. Miguel, atribuia a falta de pão na
ilha à ocupação quase exclusiva do pastel(87); e, conforme referia J. H. Linschoot, em
1589, «o negócio mais frequente destas ilhas é o pastel para uso de tinturar» de que «os
camponeses fazem seu principal mister», sendo o seu comércio «o principal proveito dos
insulares» (88); o autor holandês adianta a predominância desta cultura na agricultura
açoriana, nomeadamente em S. Miguel e na Terceira, referindo no entanto que a produção e
comércio da primeira é muito superior à da segunda.

Recolecção, Silvicultura e Pesca

Mercê da sua instalação ribeirinha, os insulares foram exímios marinheiros e pesca-


dores, extraindo do mar um grande número de recursos com valor alimentar. A actividade
piscatória, nos principais portos e ancoradouros destas ilhas, deveria absorver grande
quantidade de vizinhos, pois a costa e o mar alto eram ricos em peixe e mariscos (89).
A área marítima definida pela costa ocidental africana, entre o cabo Aguer e a entrada
do golfo de Guiné, era muito abundante em peixe, sendo frequentada pelos vizinhos das
Canárias e da Madeira e pelos pescadores algarvios e andaluzes. Não obstante o monopólio
da coroa castelhana e a sua exploração em regime de sociedade, actuavam aí com
assiduidade pescadores portugueses, e particuÍarmente os madeirenses e algarvios (90). Só

($4) lbidem. 64.


(85) António Cordeiro (História lnsulana / ... /. 2." çd., 278) refere, a propósito, que "o pastel é yma erva
vinda de Tolosa".
(86) Saudades da Terra, L,0 IV, voI. !l, 8-9, 97. 116, 158, 164, 178, 185, 248-249, 277. 311, Maria,
Olímpia da Rocha Gil, ibidem, 98. ' . ,
(87) Arquivo dos Açores. II, 310. O mesmo dizia que "outra razão acho também nrsta ilha haver falta de pão
centendo cada vez irá em crescymento que he fazerem-se as mais e melhores terras de pastel por o qual já há
muitos anos entendendo os reis passados ... mandarão ... que nynguem semeasse mais, que a terça parte do pastel
das sementeyras que fizesse; mas este regimento se não guarda porque como os ofyciais que devião de o fazer
guardar são mercadores que tem o trato do pastel e dos mantymentos que vem de fora vem-lhe bem haver muito
pastel e pouquo triguo».
(88) "História da Navegação do holandês J. H. Linschoot». in B.I.H.I.T.. I (1943) 152 e 154.
(89) Veja-se L,0 I, II, III. IV e VI. Confronte-se nota 47.
(90) Antonio Rumeu de Armas, Espaiia en el Africa Atlantica. 2 vols., Madrid. 1956-1957; Idem!
"Pesquerias espai'iolas en Africa (siglos XV e XVI)>>, in A.E.A." n,o 23, 370; Manuel Lobo Cabrera, "Los
Vencinos de Las Palmas y sus viajes de pesqueria / ... /», in IV C.H.C.A., II, 1978,406-429; Maria Luisa
Fabr.ellas, "Naves y marinos en los comiezos hispánicos de Tenerife " , inRevista de..História n.o 105-108 (1954);
Manuel Lobo Cabrera, "EI mundo deI mar en Oran Canaria deI siglo XVI; navios marinos, viajes» in A.E,A., n.O
26 (1980), 333-341.
117
em 1564 encontravam-se a sul do Cabo Branco cerca de quarenta embarcações castelhanas e
portuguesas (91).
Todavia, o balanço das capturas feitas pelos insulares não se apresentava habitualmente
favorável, sendo insuficientes para cobrir as necessidades do mercado local, pelo que os
municípios se viam na obrigação de regulamentar a pesca e o comércio do pescado (92).
Além disso estas áreas recebiam muito pescado em salga e fumado de outras áreas
piscatórias europeias ou vizinhas, conforme veremos mais adiante.
A actividade recolectora adquiriu igual importância na actividade dos insulares, mercê
da elevada valorização no mercado europeu, dos seus produtos, como a urze1a, aparecendo
esta com abundância llas ilhas da Madeira, Porto Santo, Desertas, S. Jorge, CorVo, Flores,
Santa Maria e La Gomera(93). Nas Canárias, onde se encontrava também em Gran Canaria
e Tenerife, a sua colheita e comércio faziam-se já à altura da conquista; após esta
concedeu-se exclusivo da sua apanha aos vizinhos e o do comércio aos genoveses, sendo,
em Gran Canaria, o seu promotor Francisco Lerca(94).
No âmbito da silvicultura sobressai o aproveitamento das madeiras na construção de
embarcações, engenhos, casas, meios de transporte; da lenha como combustível caseiro,
industrial (nos engenhos e forjas), do pez para calafetagem de embarcações. Esta constante
solicitação das madeiras, lenhas e derivados para o quotidiano e para o comércio externo,
conduziu à rápida desarborização do solo insular; até mesma a ilha da Madeira, que mereceu
tal epíteto pela abundância e esplendor do seu arvoredo, não deixou de sofrer com tal
situação (95).
As queimadas para a abertura das frentes de arroteamento, o constante uso nas
indústrias e a construção, pela destruição que causaram no parque florestal, forçaram as
autoridades municipais a actuarem de modo rigoroso, limitando o corte de lenhas e madeiras
às necessidades locais (96).

(91) Antonio Rumeu de Armas, Pesquerias espaflOlas en Africa f .. .f, 371.


(92) O peixe fresco ou salgado surge com frequência nas deliberações dos municípios insulares; definem o
local e venda, o preço e a sua distribuição no mercado interno. Veja-se Francisco Morales Padren, Ordenanzas dei
concejo de Gran Canaria, Título «de pescado y pescadores»; «Acuerdos dei Cabildo de Tenerife. I, n. o 24, 26 de
janeiro de 1498; ibidem. II, n. O 28, 9 de Outubro de 1508; ibidem. n. o 21,22 de Setembro de 1508; ibidem, IV,
n. O 295, 20 de Abril de 1522; A.R.M., C.M.F., n.o 1307, fi. 54-54 v.o, 5de Maio de 1546; ibidem. n.o 1311,
fls. 24 v.0-25, 25 de Fevereiro de 1589. Nas vereações da Camara da Ribeira Grande (S. Miguel) 1555-1600 não
encontramos qualquer referência ao peixe.
(93) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, 1.0 I, 74, 163, 170; L.0 II, L.0 III, 42, 55, L.0 VI (confronte
nota 44). Fernando Augusto da Silva, .. urzela», in Elucidaria Madeirense, III (1946),382-383; Carreiro da Costa
..Tinturaria vegetal nalgumas ilhas dos Açores», in H.C.R.C.A .. n.o 25, p. 12.
(94) Vitorino Magalhães Godinho, "A economia das eanarias nos séculos XIV e XV», in Revista de
História (S. Paulo), 1952, 313-348; Ignacio Gomez Galtier, «EI genovés Francisco de Lerca prestamista y
comerciante de orchila en Las Palmas de Gran Canaria en el decenio 1517-1526», in ReVisia de Historia Canaria,
n. o 141-148 (1963-1969), 70-76; Emma Gonzalez Yanes, .. Importación e exportación en Tenerife», in Revista de
Historia Canaria. n.o 101-I04; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 419-420.
(95) Veja-se Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, 84, 137-138; António Aragão, A Madeira vista
por estrangeiros. Funchal, 1981, nota 41, pp. 42-46.
(96) Veja-se cap. I; Álvaro Rodrigues Azevedo, «Anotações... in Saudades da Terra Funchal, 1873,
400-471; Elias Serra Rafols, «introduccián», in Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV, p. IX; Eduardo Aznar
Vallejo, ob. cit.. 423-425.

118
2. COMÉRCIO

O comércio surge como resultado de todos os circunstancialismos acabados de referir,


incentivadores do sistema de trocas e activadores das comunicações inter-insulares e inter-
-continentais, e ainda motivadores do desenvolvimento das actividades económicas.
As trocas comerciais no mercado inter-ilhas só poderão ser entendidas mediante um
correcto dimensionamento deste mercado e do seu enquadramento num âmbito mais vasto
no mercado atlântico; e este compõe-se de uma intrincada teia de rotas comerciais que ligam
o mercado europeu ao Novo Mundo.
O desenvolvimento sócio-económico do mundo insular articula-se de modo directo,
com as solicitações da economia europeia-atlântica. Primeiro, como região periférica do
centro de negócios europeus, ajusta o seu desenvolvimento económico às necessidades do
mercado europeu e às carências alimentares europeias: depois, actua como mercado
consumidor das manufacturas de produção continental, em condições vantajosas de troca
para o velho continente; e, finalmente, intervém como intermediário nas ligações entre o
Novo e Velho Mundo. A partir de princípios do século XVI, o Mediterrâneo Atlântico
define-se como o centro de contacto e apoio ao comércio africano, índico e americano.
Partindo desta situação subalternizadora do mercado insular é comum definir-se a
economia das ilhas pelo seu carácter periférico e posição estratégia, bases da afirmação dos
interesses hegemónicos europeus além-atlântico. Deste modo, é um mercado sem uma
identidade própria, e sem estruturas ou meios adequados que lhe possibilitem suplantar esta
posição e).
Todavia, uma análise aturada dos mecanismos sócio-económios insulares mostra
que nessas sociedades se desenvolveram actividades económicas fora da alçada dos vectores
dominadores na economia no mercado europeu e atlântico.
A função de apoio à navegação resulta apenas do posicionamento geográfico de
algumas ilhas, influenciando nelas o desenvolvimento económico. Para a maioria, o elo
europeu será mais forte que o americano ou asiático, dinamizando o seu desenvolvimento
sócio-económico. A tipologia das conexões do mundo insular com a Europa é definida pelo
carácter colonial, imposto pelo velho continente.
A estrutura comercial dos arquipélagos esboça-se de modo complicado, definindo-se
pela sua heterogeneidade. Não existe uma linearidade na sua definição, mas sim uma
variância de áreas, produtos, circuitos comerciais e intervenção de agentes nacionais e
estrangeiros. Será dentro deste contexto que se articulará o comércio insular, assumindo três
formas, de acordo com as classificações e cambiantes do mundo atlântico:
I. O comércio de cabotagem inter-insular, abarcando as comunicações e contactos
comerciais no mercado interno, ao nível local, regional e inter-regional, definido
este último o contacto entre as ilhas de cada arquipélago;
2. O comércio intcr-insular, definindo as conexões do mercado insular atlântico
restrito, no nosso caso aos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias;
3. O comércio atlântico-europeu, abarcando ligações a longa distância com o mercado
europeu, africano e americano.

(1) A tendência da historiografia, a,té ao momento, foi para a valorização das ilhas atlânticas no conte~to
do comércio europeu-americano, alheando-se os textos das suas ligações europeias. Es~a situ~çã,o surge COm~al?r
acuidade na historiografia canária c açoriana, mercê da posição de evidência destes do!s ~rqUlpela~os, ~o comer:lO
americano. A reforçar essa situação surgiu, em Las Palmas, desde 1976, «ColoqUlo d~ Hls~ona, Cana~o­
-Americana. e desde 1980 as «Jornadas de Estudos Canárias-América•. Veja-se Augustln GUlmera Ravma,
«Canarias en la' carrera de ,Indias (1564-1518)., .m I Jornadas de Estudos Cananas-,. A menca,
,. 1980 , 201-219'
. '
Idem, «Los protocolos notariales y el comercio canario-americano en la edad modema», in EI Muse~ CanarlO,
XXXVI-XXXVII, 1915-1916, 169-188. O tratamento do comércio canario-americano mereceuestu?os Importante~
de António Rumeu de Armas (1941, 1950); Pierre Chaunu (1951-1960); Francisco Morales Padron (1955); Jose
Peraza de Ayala (1052) e Analola Borges (1969); veja-se a bibliografia.

119
2.1 Mercados e produtos insulares

Os interesses da burguesia e aristocracia dirigente peninsular entrecruzaram-se no


processo de ocupação e valorização económica das novas sociedades e economias insulares.
Esta componente peninsular é reforçada com a participação da burguesia mediterrânica que
acorre aos reinos da Península, atraída por novos mercados e uma fácil e rápida expansão
dos seus negócios. Um grupo de italianos, mais ou menos ligados às grandes sociedades
comerciais mediterrânicas, participa activamente no processo de reconhecimento, conquista
e ocupação do novo espaço atlântico e).
Com efeito, eles interessavam-se pelo processo de
conquista do arquipélago canário, pelas expedições portuguesas de exploração geográfica e
pelo comércio ao longo da costa ocidental africana; deste modo, a sua penetração no mundo
insular é de tal maneira fácil que eles acabarão por alcançar uma posição muito importante
na sociedade e economia insulares, nomeadamente na Madeira e nas Canárias.
O impacto mediterrânico no mundo insular foi de tal modo forte que certos historiadores
europeus, como Fernand Braudel e Pierre Chaunu, definiram estas ilhas como o Mediterrâneo
Atlântico, designação que reflecte a penetração de técnicas e homens mediterrânicos neste
novo espaço.
O investimento de capital de origem mercantil, nacional ou estrangeiro, só surgirá
numa óptica de nova economia de mercado europeia, salientando-se como gerador de novas
riquezas capazes de um aproveitamento comercial e).
Assim, o comércio será o denominador
comum para os produtos a explorar e a introduzir no solo. Nesse processo são valorizados
os produtos activadores da nova economia de mercado, ou seja, as madeiras, a urzela, o
sangue de drago, o pastel, os cereais, a cana de ,açúcar e o vinho; a valorização desses
produtos resultará das solicitações da economia de mercado e das condições mesológicas do
complexo espaço insular.
Esta aposta incial do processo de ocupação das novas áreas atlânticas irá marcar a
evolução sócio-económica da sociedade insular nos séculos XV e XVI, condicionando a sua
posição na nova economia de mercado atlântico-europeia. Primeiro, orientadas para a
satisfação das necessidades e solicitações do mercado europeu, as ilhas assumem uma
posição de subordinação aos interesses hegemónicos do Velho Continente; depois com o
alargamento do mundo atlântico, irão servir de bastião para o comércio europeu na área
costeira atlântica; finalmente, estabelecida e reforçada a l?osição da burguesia europeia no
Novo Mundo, resta-lhes o aproveitamenmto das vias abertas, tentando .usufruir o máximo
dos réditos das rotas em direcção à Europa, à África, à América e à Ásia.
A manutenção e a conservação deste moviinento comercial implicavam a criação de
apoios adequados e uma reserva de capital disponível. Tudo isso delinearam os primeiros
peninsulares e estrangeiros que iniciaram a exploração económica do solo insular, pois em
poucos anos as ilhas atlânticas inseriram-se com a maior facilidade nos circuitos comerciais
do Atlântico, activando uma intricada rede de rotas.
Na Madeira, desde meados do século XV, manteve-se um trato assíduo com o reino,
activado de início com as madeiras, urzela, trigo e, depois, com o açúcar e o vinho Esse e).
movimento alarga-se depois às cidàdes nórdicas e mediterrânicas, com o aparecimento de
estrangeiros interessados no comércio do açúcar. A sua evolução é de tal modo rápida e

(1) Charles Verlinden, Les origines de ta civilisalion Altanlique. Neuchatel, 1966.


e) Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os Açores e a nova economia de Mercado (séculos XVI-XVrn, in
Arquipetago, Série Ciências Humanas, III, 1981, 371-372.
e) Já em meados do século XV Cadamostô referia' o comércio desta ilha com o reino e outros países.
120
lucrativa que em 1493 a fazenda real lança uma imposição sobre o movimento do porto da
cidade para a despesa de construção da cerca e muros (4). De acordo com a dedução feita a
imposição de um vintém sobre a tonelagem renderia cem mil reais e a de 1% sobre as
mercadorias duzentos e cinquenta reais.
O açúcar deveria ser o principal responsável por tão elevada quantia. Aliás o mesmo
produto contribuiu para o arranque decisivo da economia madeirense, e para a sua
consequente inserção na economia europeia. O acelerado ritmo de crescimento da ilha
condicionou a atracção de diversas correntes imigratórias. Tal situação é definida em 1508
pelo monarca D. Manuel ao justificar a elevação do Funchal a cidade: «teem creçido em
mui gramde povoraçam e como nella vivem muytos fidalgos cavaleyros e pessoaes
homrradas e de gramdes fazendas polIas quaaes e pelIo grande trauto da dyta ylha ... » (5).
A tendência para a monocultura condicionou a economia madeirense, marcando-a com
uma forte dependência em relação ao mercado externo, uma vez que a ilha necessitava desse
mercado para a colocação do açúcar e para se abastecer de produtos alimentares (carne,
pescado, legumes, cereais, azeite, sal) e artefactos (ferro, telha, barro, panos, linho,
etc.)(6) .
Guilio Landi, cerca de 1530, retrata com grande acuidade essa ambiência no burgo
funchalense: «Aqui chegam frequentemente mercadores de países muito distantes: de Italia,
França, Flandres, Inglaterra e da Península Ibérica, que para lá levam aquelas coisas que
fabricam panos da ilha e dela transportam aquelas de que a ilha é produtora, tais como
açúcar e vinho, por lá haver em grande abundância C).
O mesmo autor refere que a Madeira se abastece de cereais nas ilhas vizinhas e que o
vinho é vendido «a mercadores que o levam à Península Ibérica e para outros países
setentrionais» (8).
Em 1567 Pompeo Arditi na passagem pelo Funchal, observa que o comércio baseado
no açúcar, conservas e vinhos era abundante, e que a ilha tinha de assegurar a sua
subsistência em cereais nas Canárias e nos Açores (9)
Estas descrições de viagem, distanciadas no tempo em trinta e sete anos, atestam que a
crise açucareira da primeira metade do século não provocou o colapso da economia
madeirense. Primeiro porque o açúcar local, não obstante a quebra sofrida, continuará a ser
mais valorizado e procurado no ·mercado europeu; e segundo porque o vinho veio preencher
a lacuna deixando em aberto com essa quebra.
Todavia, o momento de explendor de finais do século, conforme descrições de
Frutuoso e Torriani, deverá resultar certamente do comércio do vinho que, desde a década
de 70, vinha conquistando mercados na Europa e na América. O primeiro destes cronistas
exalta a opulência madeirense do seguinte modo: «A ilha da Madeira / ... / tão afamada e
guerreira com seus ilustres e cavaleiros capitães, e tão magnânimos, e com generosos e
grandiosos moradores; rica com seus frutos; celebrada com seu comércio que Deus põe no
mar oceano ocidental por escala, refúgio, colheita e remédio dos navegantes que de Portugal
e de outro reynos vão, e de outros portos e navegações vêm para que diversas partes, além
dos que de força ela somente navegam, levando-lhe mercadorias estrangeiras e muito
dinheiro para se aproveitar do retomo que dela lutam para suas terras, / ... /com seu licor e
doçura, como um néctar e ambrosioprovê as Índias ambas, a Oriental aromática e a

(4) A.R.M., C.M.F .. registo geral. T.I, fi, 172-179,21 de Junho de 1493, «carta do duque em que manda
que se faça cerca e muros nesta Villa do Funchal», publ. in A.H.M., XVI, 287.
(5) Ibidem, fi, 278 v.o-279, Sintra, 21 de Agosto de 1508, «carta dei Rey noso Seiior em que faz cidade a
este Funchal, publ. in A.H.M., XVIII, 512-513,..
(6) Ibidem, fls. 337-340, 10 de Janeiro de 1512, regimento sobre a guarda do mar, in A.H.M., XVIII,
539-542.
c') «Descrição da ilha da Madeira". in A Madeira vista por estrangeiros, 1981, 83.
(8) lbidem, 86.
(9) «Viagem à ilha da Madeira e aos Açores / .. ,/», in Ibidem. 130.

121
16
Ocidental dourada, chegando e adoçando seus frutos de extremo a extremo quase o mundo
todo» eo).
O segundo põe a tónica na intensa actividade comercial do porto funchalense com a
África e a Europa: «EI comercio es muy importante, y se hace navios que vienen a esta
ciudad de Funchal de todas las partes dei África Cristiana, de Italia, Espana, França,
Alemana y Escocia, de modo que se le ha apodado de «pequena Lisboa» 1 ). e
Esta piccola lixbona inseria-se de modo evidente na economia europeia e atlântica,
comparticipando do trato com Velho e Novo Mundo, servindo de entreposto de comércio
para as suas riquezas e das áreas vizinhas.
Não obstante Vitorino Magalhães Godinho referir, baseado no texto de Diogo Gomes
(1450), que em meados do século os Açores apresentavam um comércio activo de cereais e
gado com o reino, parece-nos que o arranque, em termos sócio-económico do arquipélago
açoriano só se processou, com maior acuidade, a partir do último quartel do século XV.
Aliás, a infanta D. Beatriz, em 1474, ao confirmar a compra da capitania da ilha de
S. Miguel por Rui Gonçalves da Câmara, refere que a mesma estava «mal aproveitada e
pouco povoada», sendo necessário o «serviço e proveitos dos seus súbditos» para a «dita
ilha ser melhor aproveitada e povoada pelas muitas mercadorias que dela poderão vir» (12).
As isenções fiscais (1443-1444) no comércio com o reino, para aléín de surgirem como
aliciante à fixação de colonos, contribuiram igualmente para o reforço das ligações com o
continente e para a afirmação da burguesia metropolitana nessa rota. Aliás nas cortes de
Coimbra (1472) e de Évora (1481-1482) é bem expressa essa aspiraçãoet 3 ).
Tal como na Madeira, as preocupações do sector dirigente açoriano orientavam-se para
as possibilidades abertas pelo desenvolvimento da economia de mercado. Assim cultivaram
as culturas mais valorizadas nas trocas comerciais europeias (cana dc açúcar e pastel);
apenas o pastel conseguiu adaptar-se bem ao solo açoriano, surgindo, desde princípio do
século XVI, como um dos principais produtos do comércio dos Açores; desde 1501 que,
segundo Valentim Fernandes, a ilha de S. Miguel exportava pastel para Flandres e outras
partes 4 ).e
A exploração do pastel teve uma evolução de tal modo favorável, que, em 1536, o
monarca O.João III manifesta o seu apoio à sua cultura por meio de um regime de defesa da
sua qualidade e da sua capacidade. concorrencial no mercado europeu; refere que o trato do
e
pastel «era grãde e podia ser muito major» s ). Na realidade; assim sucedeu, pois, a 'partir
da década de 60, o comércio do pastel açoriano veio a intensificar"se mercê do apoio e da
vigilância da coroa e da sua valorização no mercado· europeu do norte 6 ). e
Em 1589 Linschoot refere que «o negocio mais frequente destas ilhas é o pastel para
uso· da tinturaria com o. qual negoceiam os ingleses, escoceses,. franceses, levando ,para lá
fazenda e outras mercadorias em troca» (17); acrescenta que o comércio desse produto estava
centralizado no porto de Ponta Delgada e Angra, sendo aí «o principal proveito dos
e
inS,ulares» s ).
No século XVI o porto de Angra apresentava-se como o principal entrep0sto comercial
açoriano, com uma intervenção importante no comércio do rasteIe em outrOs produtos do
arquipélago, e COITlO um importante porto de escaladas embarcações das Índias Orientais e
eo) Saudades da Terra, L.0 11,1968,99.100.
(11) Descripcion e His/oria dei Reino de las islas Callarias, 266.
et 2 )Carta de confirmação da compra da ilha de S. Miguel por Rui Gonçalves da Câmara, dada por
D. Beatriz em la de Março de 1474, plibl. in Arquivo dos Açores. I. 103.
et3
) Maria Olimpia da Rocha Gil, ibidem, 372-375.
(14) Manuel Monteiro Velho ArrÚda, Colecçâo de documentos rela/ivos ao descohrimell/o epovoameil/o dos
Açores. P. Delgada, 1932, p. 161.
ets ) Arquivo da Alfândega de Ponta Delgada, L. o de registo de Alfandega de POII!a Delgada, 568-1603,
fi, 191 e segs., publ. por Maria Olímpia da Rocha Gil, ihidem, 393-400.
et6
) Maria Olimpia da Rocha Gil, ihidelil, 393-400.
e 7
) "História de Navegação do holandês J. H. Linschoot", B.I.H.I.T., n.O I (1943), 152.
et s ) Ibidem, 154.

122
Ocidentais, Brasil, Mina, S. Tomé e Cabo Verde. Assim, em 1578, D. Sebastião não hesita
e
em classificá-lo como um dos mais importantes do reino 9 ). Segundo o Pe. Maldonado este
movimento do porto de Angra animava o comércio do burgo, contribuindo para a circulação
do metal amoedável e para a riqueza dos terceirenses (20).
Na mesma época a cidade de Ponta Delgada anima-se, não só com o apoio às naus das
rotas atlânticas, mas também como o comércio das riquezas da ilha: o pastel e o trigo.
Gaspar Frutuoso, cronista das ilhas, enaltec.e as qualidades da população de Ponta Delgada
no comércio e evidencia o elevado trato comercial do burgo: «A nobre e populosa cidade de
Ponta Delgada, tão célebre com generosos e poderosos moradores; tão rica, provida e
abastada com diversos comércios e grossos tratos de mercadores riquissímos, / .. ./ quasi
tão sempre frequentada de navios infinita gente forasteira, / ... / finalmente n'ela está o
corpo dos negócios, riqueza, habitações e comunicações de todo o trato e contratos de toda
a ilha; e residem os mercadores mais ricos / .. '/' que têm comércio em Portugal, Castela,
ilha da Madeira, Canárias, Flandres e outras partidas, e se negociam os negócios d'esta ilha
por um lado tão bem, chão e verdadeiro, que seguro nas partes estrangeiras não ha nenhuma
de seu qual lhe peça vantagem» 1 ). e
O arquipélago canário, tardiamente associado ao domínio europeu, manteve desde o
século XVI um comércio activo com a Península, baseado em escravos, carnagem e plantas
tintureiras (sangue de drago, urzela). Neste tráfico intervêm penínsulares e os italianos
recém-chegados à península. Após a conquista, castelhanos, portugueses e italianos repartem
entre si o comércio nestas ilhas; só mais tarde surgem os flamengos e ingleses, que
delinearão as rotas de ligação ao mercado nórdico.
O desenvolvimento da nova economia de mercado nas Canárias advem da exploração
dos recursos do meio e também do posicionamento deste arquipélago em face das áreas de
comércio do litoral africano e americano; as duas situações concorreram para o aparecimento
e
de agentes e representantes das principais sociedade comerciais europeias 2 ). Em relação à
costa ocidental africana, o arquipélago canário surge como um «mercado receptor y exportador
de esclavos», centralizando o comércio destes com a América, Europa e Mundo Insular 3 ). e
Múltiplas descrições, de finais do século XVI, evidenciam a posição dominante das
Ilhas de Tenerife e Gran Canaria, ao mesmo tempo que enunciam as diversas cambiantes do
mercado. Um texto anónimo de cerca de 1585 diz que em Tenerife "es el trato ... mucho,
porque ay anos que se cargam más de 30 navios para Yndias con vinos, y quando el ano es
e
abondoso de pan / ... /» 4 ); o mesmo texto refere ainda que esta ilha mantem um trato
importante com as praças de Flandres, França e Inglaterra, baseado no açúcar e vinho.
Torriani, na década de 90, após referenciar que a população canária «se dirige bajo el de los
oficias y dei tráfico de mercancias» ,corrobora as afirmações do texto anterior dizendo: «Es
com· mucho la más rica de todas en azúcar y en vinos excelentes que se transporta a
diferentes partes dei mundo, / .. '/' Tiene mucho comercio, porque está mais problada de
que Canaria, y dos veces más que la Palma» s ) e
e") Luis da Silva Ribeiro, "Formação histórica do povo dos Açores» in Obras II História, Angra do
Heroísmo, 1983, 74; "Uma antiga carta da ilha Terceira» in BU.H.I.T .. n.o 5 (1947),285.
eo) Phenix Angrense (ms. inédito da Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroismo), citado por
Helder de Sousa Lima, Os Açores e a economia Atlâlltica (subsídios) séculos XV, XVI e XVIll, Angra do
Heroismo, 1978, 125-127, Sep. do B.I.H.I.T, n.O 34 (1978).
(21) Saudades da terra, L.0 IV, vaI. 11, 1981, pp. 70-79.
(22) É extensa a Bibliografia sobre o comércio canário-americano e canário-africano, sendo de salientar os
estudos de Antonio Rumeu de Armas, Pierre Chaunu, Francisco Morales Padrón, José Peraza de Ayala, Manuel
Lobo Cabrera; Veja-se a bibliografia. F. Clavijo Hernandez, "Los documentos de fletamentos ..... IV X.H.C.A., I,
45,58; Manuel Lobo Cabrera, Proc%s de AlollSo Gutierez, 27 e 35-37; F. Clavijo Hernandez, ProlOcolos dei
escribano Hernán Guerra, 21-22.
e 3 ) Veja-se Manuel Lobo Cabrera, La esclavilad en las Canarias Orientales en el siglo XVI, 1982,

161-165, passim.
e 4 ) E. Marco Dorta, "Descripción de las islas Canárias», in Revista de História. IX (1943), 203.

e s ) L. Torriani, Descripción e História dei Reino de las Islas Canal'ias, 171.

123
Ainda na mesma época, Frutuoso refere «haver nestas ilhas um continuo trato e
comércio de diversas nações, por causa dos bons açúcares e vinhos, breu, lãs, queijos e
e
outros frutos que com todas as mais delas há» 6 ); em relação às ilhas de Tenerife e La
Palma aduz que a importância da vinha na exploração agrícola adveio da constante
solicitação das naus e do comércio da rota das Índias 7 ). e
O comércio do mundo insular baseava-se, essencialmente, na troca de produção
agrícola por artefactos europeus; a produção das ilhas deveria fornecer os produtos
adequados à activação da economia de troca, capaz de suprir as necessidades locais.
A economia insular alicerçou-se no confronto dessas solicitações da economia de subsis-
tência e de mercado; assim, os vectores da primeira condicionaram a valorização dos
componentes da dieta alimentar (o vinho, os cereais), enquanto os da segunda implicaram a
inserção da economia insular na economia colonial europeia através da exploração de
produtos, como o açúcar e o pastel. Os produtos referenciados, pelas razões apontadas
impuseram-se no mercado insular, galvanizando todo o sistema de trocas; entre eles o
vinho, o trigo e o açúcar adquiriram uma importância vital no comércio local externo.
Partindo desta valorização dos produtos de comércio do mundo insular analisemos, de
modo sumário, o mercado e comércio de cereal, vinho e açúcar para depois definirmos as
áreas e as formas desse comércio.
Nos três arquipélagos o cereal e o vinho adquiriram, em épocas diversas, posição
dominante no comércio local e externo. Quanto ao açúcar, ele teve um lugar de relevo na
Madeira e nas Canárias, mas foi substituído nos Açores por o equivalente, o pastel. Esta
aliança entre os vectores dominantes da economia de subsistência e mercado tem a sua mais
perfeita concretização nos Açores e nas Canárias. Na Madeira a estreiteza do espaço
arroteável impediu essa simbiose, a partir de meados do século XV, pelo que a ilha supria
essa carência com a aposta num produto com elevado valor mercantil, capaz de fornecer ao
ilhéu o açúcar para a troca pelo cereal e manufacturas, ou para aumento dos seus réditos.
Em condições normais de produção o mundo insular apresentava-se como auto-suficiente,
produzindo o cereal e mais componentes da alimentação insular. Apenas em momentos de
penúria havia necessidade de recurso ao mercado europeu ou à Berberia. As ilhas de
Tenerife, La Palma, Lanzarote, Fuerteventura. S. Miguel, Santa Maria, Flores, Graciosa
produziam o cereal suficiente para o consumo corrente, bem como elevados excedentes para
o abastecimento das ilhas vizinhas (Gran Canaria, Terceira, Faial, S. Jorge e Madeira) e
mesmo para exportação para o litoral peninsular e marroquino.
Esta dinâmica de interajuda definia-se por diversas contrapartidas. Assim, a Madeira
oferecia ao açoriano vinho, açúcar e produtos de que esta carecia e ao canário algum vinho,
fruta, manufacturas de importação, a troco do precioso cereal. Nos três arquipélagos o
vinho e o cereal surgem como os principais animadores das trocas de cabotagem, inter-
-insular atlântico-europeia, enquanto o açúcar apenas activará a rota europeia.
A Madeira até à afirmação da economia açucareira, a partir de meados do século XV,
evidenciou-se como o principal celeiro atlântico, fornecedor das praças e das áreas carecidas
do litoral português. Para isso a coroa traçou uma política cerealífera, definida pela abertura
das duas rotas de escoamento: primeira, orientada no sentido dos portos do reino (Lisboa,
Porto, Lagos), foi incentivada em 1439 por meio de isenções fiscais s); a segunda foie
imposta pela coroa, em tempos de D. Afonso V, e tinha como finalidade o abastecimento
e
das praças do litoral africano e guineense 9 ). Esta última solução definia-se pelo monopólio
ou direito preferencial por meio de contrato firmado com os mercadores; assim, em 1466,
todo o trigo dos direitos do infante estava entregue a um mercador catalão, enquanto em

e6
) Saudades da Terra, L. 0 I, Ponta Delgada, 1966, 87.
(27) lbidem, 97, 132.
es) A. H. de Oliveira Marques, fntrodução à História da Agricultura em Portugal, 248-249; Alberto Iria,
O Algarve e a Madeira no século XV. 198-201.
(29) Vitorino de Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a Economia Mundial. III, 233-234

124
1473 se estabelece um contrato com Baptista Lomelim para que "todo ho trigo que hi
houver o possa tirar para fora dela ilha» eo).
As dificuldades sentidas, a partir de 1461, agravadas na década seguinte, ditaram as
profundas alterações da economia madeirense que conduziriam a uma inversão do comércio
do cereal. As tentativas do infante D. Fernando, em 1461 e 1466, para manter a dominante
cerealífera na economia madeirense e as consequentes rotas de escoamento esbarram com a
alta rentabilidade e valorização da cultura do açúcare 1). Deste modo, o impulso da safra
açucareira e o aumento populacional implicaram uma insuficiência da produção cerealífera e
a necessidade de definição de um mercado fornecedor; e desde logo o recurso aos mercados
onde o cereal se encontra disponível - na Berberiae 2 ). Em 1479, os moradores da ilha
diziam que "somos este ano postos em outra mayor que nesta ylha nam a pan para se
poderem mãter meses pello qual a nos he necessareo prover e buscar maneyras de fora do
e
reyno apenas triguo segundo Vasa Sennoria sabe" 3 ). Esta evidência implicava a tomada
de medidas no sentido de estabelecer uma área capaz de fornecer, com relativa regularidade,
o cereal de que a ilha carecia; assim sucedeu a partir de 1483, com a definição das ilhas
vizinhas como fornecedoras da saca do trigo necessário ao consumo madeirense 4 ). Para e
atrair esse produto estipulava-se em 1508 a isenção da dízima de entrada; desde 1527 foram
mesmo custeados os encargos com a descarga, sacos e armazenamento s). e
A coroa, ao mesmo tempo que procurava definir um celeiro de abastecimento da
Madeira, actuava no sentido de preencher a lacuna deixada em aberto pela quebra da
produção madeirense. Deste modo, esse celeiro deveria cobrir as necessidades do reino, da
Madeira e das praças marroquinas. A sua concretização só se efectuará mediante uma
constante e rigorosa intervenção régia por meio de ordenações e regimentos 6 ). Saliente-se e
que em 1473 e 1490 a população de Lisboa reclamara junto do monarca contra o envio de
e
cereal para África, no sentido de colmatar as carências do reino 7 ); estas reclamações
atestam a apreensão dos reclamantes pela quebra da produção madeirense, ao mesmo tempo
que comprovam a importância do mercado açoriano e madeirense no fornecimento' do
continente português. Aliás nessa década e na seguinte intensificou-se o comércio do trigo
açoriano com o reíno; tal nota assume maior importância no século XVI favorecida pelas
isenções fiscais nos portos importadores e pela falta de novas áreas produtoras. O aumento
do movimento de cereal para o reino resultava, não só desse activo comércio, mas também
das transferências das rendas dos senhorios e direitos reais.
O comércio de trigo açoriano para as praças marroquinas fazia-se, desde 1488, por
meio de assentistas que em Lisboa recebiam o contrato de fornecimento. A partir daqui

eo) lbidem. 234.


(31) Fernando Jasmins Pereira, Elementos para o Estudo da História Eco/lómica da Madeira. 102-3; Joel
Serrão, Sobre o trigo das ilhas /lOS séculos XV e XVI. 4.
(32) Joel Serrão, arl. cit" 4, V. M, Godinho, lbidem , IV, 235. A,R,M. C.M.F" registo geral, T.L, fls.
239-256, 22 de Março de 1485, "Apontamentos deI Rey dom Manuell sendo Duque pera esta ylha de Madeyra»,
in A.H,M., XV, 155.
e 3 ) A.R.M., C.M,F., registo geral, T.!., fls. 14-15,24 de Agosto de 1479, «carta dos seiiores desta villa

sopre peyta pera a senhora ynfamta", in A.H.M" XV, 97-100. •


e 4 ) Documento de 10 de Dezembro transcrito por A. A. Sarmento, A Madeira e as Praças de Africa.

Funchal, 1932, 43,45. .


e s ) A.R.M., C,M.F., registo geral. T.I., fi. 196 v.o, 17 de Agosto de 1508, "carta de meryces que el Rey
noso Seiior fez a esta Villa do Funchall .. , A.H.M.• XVIII, 506-508; Ibidem. n.o 1305, n. 273, Vereação de 28 de
Junho de 1527.
e 6 ) Alberto Vieira, O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira. 652-657, Idem, A questão

cerealífera /lOS Açores /lOS séculos xv-xvm. 281-283; Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores /10
século XVll. 282-283; no Arquivo dos Açores publicaram-se alguns regimentos do século XVI. Vej.am-se os vol~.
V, 122-123; II, 327-334; I, 228-231; Francisco Carreiro da Costa, "Os Açores e o problema cerealIfero portugues
no século XV", in B.C.R.C.A., n,o 1 (1945), 23-28.
e 7 ) A. H. de Oliveira Marques, lbidem, 254,

125
preparavam o embarque com auxílio de procuradores residentes nas praças de Ponta
Delgada e Angra, ou deslocavam-se ao arquipélago para dar execução ao contrato e s ).
Em síntese o comércio do cereal alicerçou-se no provimento do reino, da Madeira e
praças marroquinas. A rota do reino surgiu como uma necessidade decorrente da promoção
do seu cultivo em solo insular, enquanto as duas últimas foram definidas por intervenção
régia, de acordo com a política desenvolvimentista do mundo atlântico.
É praticamente impossível contabilizar e estabelecer séries do trigo no comércio
insular, uma vez que faltam os registos das alfândegas. Também a insuficiente informação
das poucas vereaço~s existentes para o século XVI impossibilita uma análise quantitativa
desse tipo. Todavia, alguns dados avulsos elucidam-nos que a exportação do cereal açoriano
para as praças marroquinas no século XVI oscilava entre os mil e quinhentos a três mil
maios, e era na sua maioria, oriundo da ilha de S. Miguele 9 ). Para o reino o quantitativo
era muito superior pois em 1524 só a cidade de Lisboa recebeu dois mil moias (40), e, em
1535, apenas um mercador, António Borges, conduziu ao reino mil oitocentos e cinquenta e
nove moias e quarenta e dois alqueires de trigo (41). Quanto ao trigo saído das diversas
alfândegas açorianas há apenas notícia do embarque na vila da Praia (na ilha Terceira) em
1533 e 1562; no primeiro ano a vila exportou quatro mil maios e, no segundo, cinco mil
maios, além de setecentos moias para Angra (42).

Comércio de cereais em Tenerife no século XVI O

EMBARCAÇÕES TRIGO
DESTINO
NÚMERO MOIOS %

Madeira 20 712,5 26
Portugal 19 755 24
Espanha 4 1 152 42
Gran Canarial Gomera 133 5
Total 38 2752,5

o arquipélago canano, afirmou-se desde prinCIpIaS do sécnlo XVI, como um novo


celeiro do Atlântico, fornecendo o excedente necessário ao abastecimento do litoral
africano, da costa peninsular e da ilha da Madeira. Do trigo saído no século XVI da ilha de
Tenerife, cerca de 53 % destinou-se a Portugal e à Madeira, o restante ao mercado insular
canário e castelhano. O mercado peninsular totaliza 69 % desse cereal, ficando apenas a
parte sobrante para as ilhas. O cereal exportado para o litoral peninsular orientava-se no
sentido das principais praças comerciais: Lisboa, Sevilha e Cádiz. Note-se que no caso de
Castela são as cidades gaditanas os principais consumidores do cereal canário destinado a
Espanha (39%). Quanto ao comércio da cevada, o maior número de moias é canalizado para
Portugal, nomeadamente para o porto de Lisboa, sendo de salientar um único embarque de
sessenta e seis moias e meio de cevada para o arquipélago açoriano em 1511.

es) Ibidem, 254; Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de Ponta Delgada e o comercio açoriano no século
XVII 1 ... 1.111-113.
e 9
) Helder de Sousa Lima, /hidem. 254.
(40) Libra das Posturas Antigas. Lisboa. 1974, 309.
(41) A.N.T.T., Chancelaria de D. João //l, L.0 10, fl. 118, Évora, 22 de Junho de 1535, in Arquivo
Histórico Português. IX, 454, n.O 7, n.O 720.
(42) Maria Olimpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII. 284-285.
(43) F. C. Hemandez, Protocolos de Hermán Guerra. Santa Cruz de Tenerife. 1980 Manuel Lobo Cabrera
Protocolos de Alonso Gutierrez. Santa Cruz de Tenerife, 1979, Emma Gonzalez Yannes, Protocolos dei escribano
Hermán Guerra. La Laguna, 1958.

126
Comércio de cevada em Tenerife século XVI (44)

DESTINO MOIOS %

Faial (Açores) 66,5 9


Galiza 6,5 1
Portugal 636,5 90
Total 709,5 100

o problema cerealífero no mercado surge com maior acuidade apenas na Madeira, uma
vez que esta ilha se apresenta a partir das três últimas décadas do século XV, como uma
área carecida de cereal. A produção local, circunscrita às partes do fundo e ilha do Porto
Santo era muito insuficiente e dava apenas para um terço ou metade do consumo anual; a
parte em falta deveria ser colmatada com a importação do cereal das ilhas vizinhas; mas a
constância dos problemas cerealíferos no mercado insular, em conjunção com os impedi-
mentos impostos a esse trato, obrigaram os madeirenses a socorrer-se do cereal do reino,
nomeadamente em Lisboa, Setúbal e Porto e no mercado europeu, como a Bretanha,
Salánica e Jerez, a troco de açúcar (45)
No século XVI, definido de modo rigoroso o celeiro de provimento nas ilhas vizinhas,
a questão cerealífera atenuar-se-á, agravando-se apenas com as crises sazonais das áreas
produtoras. A premência deste insuficiente aprovisionamento obrigou o ilhéu a socorrer-se
do velho continente, com que manteve um comércio activo a troco do açúcar. Durante o
século em causa a Madeira recebeu 42% de cereal da Europa e 40% das Canárias, enquanto
na Europa domina o mercado flamengo com 32 %.
A cultura da vinha alastrou a todo o espaço insular, mas apenas na Madeira e nas
Canárias o vinho adquiriu um lugar de valor nas trocas externas, nomeadamente no mercado
afro-americano; os dois arquipélagos disputaram o domínio desse mercado consumidor de
vinho. Até à união das duas coroas a Madeira detinha o monopólio do comércio de vinho
com os portos afm-brasileiros, enquanto as Canárias disputavam com a· Andaluzia o
mercado das Índias. A partir de 1598, com a proibição do comércio da ilha da Madeira com
o Brasil, corno forma de evitar o contrabando do açúcar brasileiro, a Madeira perde· a
posição favoráveL que detinha neste mercado em favor da ilha de La Palma(46).
Desde meados do século XV exportava-se o vinho madeirense para as diversas partes
do mundo; sendo muito apreciado pelo europeu, conjuntamente com o açúcar, chegava às
principais praças nórdicas, como Ruão, Orleans, Flandres e Londres (47); além disso era

(44) Veja-se nola anterior.


(4s)A.R.M .. C.M,F. fi. 139 v.O i 21 de Janeiro de 1483, Carta do Duque sobre o despacho de 'caravela de
Rodrigo Afol1so de Setúbal, com trigo, A.H.M" 119-120; Documentos do. Arquivo Histórico da Câmara-
MUllicipal de Lisboa. Livros de Reis III. Lisboa, 1959, p. 240, n.o 63, Santarém, 25 de Fevereiro de 1486;
A.R.M., C.M.F .. n.o 1298, fi. 62,20 de Março de 1486, pagamento de sele mil e oito cruzados de frete a um
navio que veio de Bristol COm trigo; lbidem,n.o 1298, fi .. 12.8 v.o (1486), Al.varo.Vilz, mercador, pagou dois pipas
de ,tinha pOr trigo que o bretão trouxe. E\m 1486 p conde de. Vila Real exp~diu com moios e Pera da.Ct,mha vinte e
cinto (Vitorino de Magalhães Godinho • .os descobril11elltos e. aecollomia MUlldial. m, 255). A l·de Fevereiro de
1496 é feito seguro em Barcelona para o transporte de trigo do Jerez OIJ Andaluzia. à Madeira (1. M .. MadureI.l
Marimón"art. cit .• 494-496), Em 1498 foi enviado um barco l) Salónica trocar açúcar por trig() (Oliveira Marques,
ob. cit" .250, nota· 20. Veja-se Victor Mora1es Lezcano, Rdaciones Mercl/nlilesentre lngll/term ylos Archipié.,
lago.l· I.,. /, La Laguna, 1970, 53-55.
(46) José GonçalVeS' Salvador, Çristãos Novos e o Comércio no Atlântico Meridional, ·S. Paulo, 1978,
263-266.
(47) Em Julho de 1532 Orleães recebeu oito pipas de vinho da Madeira (M. Molla!'l;e Commerce. Marilime
Normand. 121,289,298,412) e a 25 deOutubro,Bartolorneu Machado.refere ter. vendido ao mercadprflamengo
Cornellas quarenta e sete pipas de vinho (J.R.C. Funchal; tls, 300-301, v.O).

127
Registo de Trigo no porto do Funchal Século XVI

(em moios)

Pono
Dala Açore~ Canárill." Castela Escúcia Flandres França Portugal Santo Outros

1485 125
1509 7
1510 99,5 2,5 e 10 a!.
1511 4 e 20
1512 24,5
1513 103 e 18
1514 6,5 e 18
1518
1523 82
1524 13 e 20
1527 20,5 e 10
1535 20
1536 5 100
1546 204 e 5
1547 30 15
1550 I
1552 90 I e 4
1574
1580 3,5 aI.
1589 30
1596 259 504,5 e 10 6,5 e 197,5 e 10
1597 243,5 e IS 57 e 24 674,5 1213,S e 20
1599 68 17,5 e 10 33 e 20 25 588 70 J3
Total 1187 e 8 712,5 e 8 33 e 20 25 1262,5 170 145 7,5 e I 342,5

Fonte: A.R.M., Vereações de 1474-1500; Alberto Vieira, O Comércio de Cereais das Canárias para a Madeira
nos séculos XVI e XVII, já citado; Idem, A questão Cerealífera nos Açores nos séwlos XV-XV/I, já citado.

fornecido às naus da rota da Índia e Brasil e enviava-se às praças marroquinas e às feitorias


da área do Golfo da Guiné (4B).
As Canárias surgem, entre meados do século XV e XVI, no mercado viti-vinícola
atlântico, como um importante consumidor do vinho europeu e madeirense (49); mas a
valorização da cultura da vinha na economia local, nomeadamente em Tenerife e La Palma,
inverteram a situação, passando o vinho destas ilhas a afirmar-se como um potencial
concorrente áo da Madeira e ao da Andaluzia (50). A sua exportação ter-se-ia iniciado na
década de 40, surgindo na década seguinte como grande abundância no mercado brasileiro e

(48) J. W. Blake, Europeans in West Africa, 1450-1560, vol II, Londres, 1942, 314, 320-324. Em 1508
foram remetidas de Machico vinte e uma pipas de vinho para Diogo de Azambuja em Safim (A.N.T.T., C.C .. II
- 15-44, 25-VIII·1508) e, em 1589 Simão Pires enviou doze pipas de vinho a Cabo Verde (A.R,M., l.C.R. -
Funchal. fls. 381 v.0-385 v.o, 3 de Abril).
(49) M. A. Ladero Quesada, ..Seiiores de Canarias e Sevilha», in A.E.A.; n.o 23, 161; E. Gonzales Yanes,
.. Importación y exportación en Tenerife { ... {, in Revista de Historia, n.o 101-104,77. Em 1523 importou vinte
pipas de vinho do Funchal (A.N.T.T., N.A., N.o 541).
(50) Pierre Chaunu, Seville el I' Atlantique. t. VIII, vol I, 374; Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana
com America en la epoca de Filipe /I. vol. I Valladolid, 1979, 464-469. Gaspar Frutuoso refere a produção e
comércio do vinho das Ilhas de Tenerife e La Palma, salientando quanto a La Palma que o maior proveito do vinho
é "por os da escala das Índias, de que é frequentada aquela ilha não pedirem senão vinho». (Ob. cit., L.0 I (1966),
97, 104, 132); A. Cioranescu, ob. cil.. I, 321-323.

128
americano (51). Em 1551 a ilha de La Palma exportou mil trezentas oitenta e seis pipas de
vinho para S. Domingos, Porto Rico e Nome de Deus; dezasseis anos depois a ilha de
Tenerife conduziu mil duzentas trinta e sete pipas para Nueva Espana (52).
Esse comércio com o Novo Mundo foi regulamentado, a partir de 1559, com a
concessão de licença para o seu embarque, ficando todo o movimento, desde a segunda
metade do século, sujeito às autorizações temporárias da Casa da Contratação, que
coordenava todo o comércio com as índIas (53).
O comércio do açúcar do mercado insular, circunscrito às ilhas de Gran Canaria,
Tenerife, La Palma e Madeira, é o principal activador das trocas com o mercado europeu.
Na Madeira ele assume uma posição dominante na produção e comércio entre 1450 e 1550,
enquanto que nas restantes praças surge apenas em princípios do século XVI, tendo
assumido uma posição de evidência a partir da terceira década.
O regime do comércio do a~úcar madeirense nos séculos XV e XVI, segundo opinião
de Vitorino Magalhães Godinho, «vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida peia
intervenção quer da coroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o
monopólio global, primeiro, posteriormente um conjunto de monopólio cada qual em
relação com uma escápu1a de outra banda» (54). Deste modo o comércio apenas se manteve
em regime livre até 1469, altura em que a baixa do preço veio condicionar a intervenção do
senhorio, que estipulou o exclusivo do seu comércio aos mercadores de Lisboa (55). O
madeirense, habituado a negociar com os estrangeiros, reage veementemente contra essa
decisão, pelo que o Infante D: Fernando, restringidas as suas possibilidades, arremata em
1471 todo o açúcar a uma companhia formada por Vicente Gil, Álvaro Esteves, Baptista
Lomelim, Francisco Calvo e Martim Anes Boa Viagem (56). Dessa decisão resultou um
conflito aceso entre a vereação e os referidos contratadores (57).
Passados vinte e um anos a ilha debate-se ainda com uma conjuntura difícil no
comércio açucareiro, pelo que a coroa retoma em 1488 e 1495 a pretensão do monopólio do
seu comércio, mas apenas consegue impor um conjunto de medidas regulamentadoras da
cultura, safra e comércio, que ocorrem em 1490 e 1496. Esta política, definida no sentido
da defesa do rendimento do açúcar, irá saldar-se mais uma vez num fracasso, pelo que em
1498 é tentada uma nova solução, com o estabelecimento de um contingente de cento e
vinte mil arrobas para exportação, distribuidas por diversas escápulas europeias (58),
Estabilizada a produção e definidos os mercados de comércio do açúcar, a economia
madeirense não necessitava dessa rigorosa regulamentação, pelo que em 1499 o monarca
revoga algumas das prerrogativas estipuladas no ano anterior, mantendo-se, no entanto, até
1508 o regime de contrato para a sua venda; só nessa data é revogada toda a legislação
anterior, activando-se o regime de liberdade comercial (59). Assim o definia o foral da

(51) Leopoldo de la Rosa, "Catálogo deI Archivo Municipal de La Laguna», in Revista de História,
n. á 101-104, pp. 256-8.
(52) Francisco Morales Padrón, El comercio canario·americano, 320-376.
(53) Leopoldo de La Rosa, arf. cit., 262, n.O 19; Francisco Morales Padrón, El CedI/lário de Canárias,
yol. I, pp. 127-351, nos 87, 152, 174-175, 182-183, 199,200,228,269; Idem, .. Inventário de Fondos existentes
en el Archivo de Indias», in A. E. A., n.o 25, 523.
(54) Ob. cit, IV, 87.
(55) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. I-Iv.o, Alcochete, 14 de Julho de 1469, carta do infante
sobre o trato do açúcar, in A. H. M., XV, 45-47; lbidem, fls. Iv.0-2 v.o, 25 de Setembro de 1469, carta dos
regedores do Funchal in A. H. M., XV, 47-49; lbidem, fls. 5 v.o·6, Lisboa, 16 de Outubro de 1478, carta régia
sobre trato do açúcar, in A. H. M., XV, 57; Ernesto Gonçalves, "João Gomes da Ilha», in A. H. M., XV, 40·47;
Idem "João Afonso do Estreito», in D. A. H. M., G.o 17 (1954), 4·8.
(56) A. R. M., C. M. F., n.O 1296, fls. 30 v.o·31 v.o, II e 28 de Outubro de 1471; lbidem, n.o 1296,
fi. 41, 12 de Fevereiro de 1472, lbidem, n.2 1296, fls. 52 v.o·53, 17 de Agosto de 1472.
(57) Fernando Jasmins Pereira, ob. cit., 144-152.
(58) lbidem, 152-159.
(59) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. 308 v.o·309, Sintra, 7 e 8 de Agosto de 1508, alvará
régio, publ. A. H. M., XVIII, 503-504.

129
capitania do Funchal, em 1515, ao enunciar que: «Os ditos açúcares se poderão carregar
para o Lavante e Poente e pera todas outras partes que os mercadores e pessoas que os
carregarem aprouver sem lhe isso ser posto embargo algum» (60).
O estabelecimento das escápulas em 1498 definia de modo preciso o mercado
consumidor do açúcar madeirense, que se circunscrevia a três áreas distintas: o reino, a
Europa nórdica e a mediterrânica. As praças do Mar do Norte dominavam esse comércio,
recebendo mais de metade das referidas escápulas; entre elas evidenciavam-se as praças
circunscritas à Flandres, enquanto no Mediterrâneo a posição cimeira é atribuída a Veneza,
conjuntamente com as três levantinas de Chios e Constantinopla.

Escápulas do açúcar na Madeira em 1498

ZONA PRAÇAS ARROBAS %

Reino 7000 5,83


Flandres 40000 33,83
Inglaterra 7000 5,83
Ruão 6000 5
Europa do Norte Rochela 2000 1,67
Águas Mortas 1000 0,83
Bretanha 6000 5
Génova 13000 10,83
Liame 6000 5
Europa Roma 2000 1,67
Mediterrânica Veneza 15000 12,5
Chio,
Constantinopla 15000 12,5

Se compararmos as escápulas com o açúcar consignado às diversas praças europeias no


período de 1490 e 1550, verifica-se que o roteiro não estava muito aquém da realidade; as
únicas diferenças relevantes na equivalência surgem nas Praças da Turquia, França e Itália,
sendo de salientar nesta última um reforço acentuado na posição. Todavia esta diferença
(quase 22 %) poderá resultar da actuação das cidades italianas como centros de redistribuição
no mercado levantino e francês.

Comércio de açúcar da Madeira - 1490-1550

EscApULAS MERCADO MERCADORES


DESTINO 149~ 1490-1550 1490-1550

ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS %

Flandres 40000 33,33 105 896,5 38,78 11 375,5 2,23


França 9000 12,5 500 0,18 8469,5 1,66
Inglaterra 7000 5,83 1 438 0,52 1072 0,21
Itália 21000 30 140626 51,50 407 530,5 79,91
Portugal 7000 5,83 20657 9,56 23798 4,67
Turquia IS 000 12,5 2372,5 0,87
Outros 32 0,01 68 185 13,37

(60) Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações.. in Saudades da Terra, Funchal, 1873, 501.

130
fi

o 140 000 arrobas

O 185000

O 30-40000

O 7-J5000
O 1-3000
O 500

® Viana

'Si? <:(? ~

'"

~
.{f;
~",.; ,~ ..;. Contingente de 1498
:t:.'fi.:-' iJ MADEIRA

e Total de açúcar exportado


~"'D
= eP~
~

COMERCIO DE AÇúCAR DA MADEIRA. 1490-1550


.....
V>
.....
Comércio do açúcar da Madeira 1490-1550(61)

TOTAL
DESTINO 1490-1500 1501-1510 1511 1520 1521-1530 1531-1540 1541-1550
ARROBAS %

Açores 4,7 4 8-7


7526 76484 9031,5 8810 4045 105 896,5 38,78
Flandres
2909 149968 646 12 140626 51,50
Itália 0,87
Levante 2372,5 2372,5
3445 3463 2646 9554 3,50
Lisboa
1438 1438 0,52
Londres
500 0,18
Rochela
Porto Santo 16 16
12 11093 19 103 4,06
Viana
Total 10 435 220352 9 043,5-7 27021,5 4049 12 273044,5

Os dados disponíveis para o comércio do açúcar na Madeira, nesse período, evidenciam


a constância dos mercados flamengo e italiano. O reino, circunscrito aos portos de Lisboa e
Viana do Castela surge em terceiro lugar apenas com 10%. Observe-se que o porto de Viana
do Castelo adquiriu, desde 1511, grande importância no comércio do açúcar com o reino e
daí em Castela e Europa nórdica; no período de 1581 a 1587 Viana é o único porto do reino
mencionado nas exportações de açúcar, mantendo aí uma posição inferior a 1490-1550(62).

Exportação do açúcar para Viana do Castelo

VIANA
ANOS
ARROBAS %

1581 630 2
1582 1420 4
1583 940 2
1584 1 110 3
1585
1586 550 2
1587 150

Essa função redistribuidora dos portos a norte do Douro fica evidenciada entre 1535 e
1550, pois das cinquenta e seis embarcações entradas no porto de Antuérpia com açúcar da
Madeira, dezasseis são do norte e apenas uma de Lisboa. Na primeira 50% são provenientes
de Vila do Conde, 3 I % do Porto e 19% dé Viana do Castelo (63); aliás em 1505 o monarca
considerava que os naturais 'dessa região tinham muito proveito no comércio do açúcar da
ilha (64). Em 1538 esse comércio era assegurado por um numeroso grupo de grupos de
mercadores dessa proveniência, entre eles Aires Dias, Baltasar Raiz, Dioguo Alvares
Moutinho e Joham de Azevedo (65).

(61) Vejam-se os quadros n. o 4 e 5 em anexo.


(62) Jae! Serrão, «Nota sobre o comércio do açúcar entre Viana do Castelo e o Funchal ... ", in Revista de
Economia, III, 209-212.
(63) Virginia Rau, A Exploração e o comércio de sal em Setúbal, Lisboa, 1951, mapas I a IV.
(64) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. 301-301 v.o, Lisboa, 15 de Março de 1505, carta régia,
pubI. in A. H. M., XVII, 453-454.
(65) Cândido A. O. Santos, O Censual da Mitra do Porto, ( ... ), Porto, 1973, 345-350.

132
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o:

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""

133
Nas transacções com o mundo mediterrânico existiam igualmente alguns entrepostos,
em especial Cádiz e Barcelona. Estas cidades surgem no período de 1493 a 1537 com os
portos de apoio ·ao comércio com Génova, Constantinopla, Chios e Águas Mortas (66).

Compra de açúcar na Madeira 1500-1540

1501-1501 1511-1520 1521-1530 1531-1540 Tolal

ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS %

Italianos 266288,5 90,04 65751,5 64,20 58 181,5 63,70 5344 53,49 395 565,5 78,40
Ingleses 212 0,07 402 0,39 458 0,50 1072 0,21
Franceses 2 568,5 0,87 1536 1,50 4365 4,78 8469,5 1,68
Flamengos 9649 3,26 I 726,5 1,69 II 375,5 2,25
Alemães 11642,5 3,94 11642,5 2,31
Castelhanos 248 0,08 702,5 0,69 14562,5 15,94 15513 3,07
Portugueses 5 147 1,74 6042,5 5,90 5535 6,06 7073,5 46,97 23798 4,72
Outros 26249,5 25,63 8233 9,01 2641 17,54 41 029,5 8,13

A ordenança de 1498 não determinava apenas o contingente das diversas escápulas mas
também a forma da sua comercialização. A coroa, para dar maior facilidade no seu
escoamento, monopoliza as escápulas de Roma e Veneza, vinte mil arrobas das de Flandres
e três mil das de Inglaterra, num total de quarenta mil arrobas, o equivalente a 33% do total;
a este açúcar juntava-se o quantitativo do quinto ou quarto e da dízima de exportação, que o
rei carregava por meio de contrato estabelecido com as grandes companhias nacionais e
internacionais. O rendimento dos direitos era exportado para Flandres e Veneza, tendo estas
recebido, entre 1495 e 1526, respectivamente cento e sessenta mil e vinte e seis mil
arrobas (67).
As escápulas, até 1504, e o produto dos direitos reais eram canalizados para o mercado
europeu, quer por carregação directa, quer por negócio livre ou a troco de pimenta (68). Esse
açúcar era arrendado por mercadores ou sociedades comerciais, sediados em Lisboa, sendo
de salientar a actuação dos mercados italianos, como João Francisco Affaitati e Lucas
Salvago (69).
As operações comerciais em torno do açúcar, no período de 1501 e 1504, estavam
centralizadas em mercadores ou sociedades comerciais que, a partir de Lisboa, controlavam
esse trato por meio de um sistema complicado de feitores' ou procuradores. A sua
intervenção, que se apresentava dominante nos três primeiros decénios do século, sofreu um
decréscimo acentuado na última década. Esta situação atesta que os mercadores estrangeiros,
em face da instabilidade do mercado açucareiro madeirense nos primeiros trinta anos,
abandonaram o seU comércio fazendo-o substituir pelo canário ou americano.
A comunidade italiana controlava a quase totalidade do comércio do açúcar com as
principais praças europeias, seguida da portuguesa e da castelhana. Os mercadores nórdicos,
não obstante a sua posição privilegiada, não apresentam uma posição de relevo nestas
operações, pois quedam-;se por cerca de 5%. Tal situação mostra, mais uma vez, que essa

(66) Domenico Geoffré, Documenti sul1e relazioni fra Genova ed ii Portogal1o dei 1493 ai 1539, Roma,
1961,18-20,266-265,268-270,277-279,284-285, 290-292, 309-310, José Maria Madurell Marimón, art. cit.,
486-487, 493-494, 497-499, 501-502, 521-522, 563-564.
(67) Fernando Jasmins Pereira, O Açúcar madeirense,! .. ./, 78-92; Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit.,
vaI. IV, 84-93.
(68) lbidem, 80.
(69) Idem, 78-92.

134
rota se mantinha sob o controle dos portugueses, nomeadamente os oriundos do litoral
norte, e que esse comércio estava organizado pela feitoria portuguesa da Flandres.
Nos quatro decénios em análise verifica-se que os italianos detêm o exclusivo do
comércio na primeira década e uma posição dominante nas duas seguintes, sendo substituídos
pelos portugueses na década de 30, e também por castelhanos e franceses.

Compra de açúcar na Madeira 1500-1540 ('D)

1501-1510 1511·1520 1521.1530 1531.1540 TOTAL


MERCADORES
ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS % ARROBAS %

Nacionais 5 147 1,74 6042,5 5,90 5 535 6,06 7073,5 46,97 23798 4,72
Estrangeiros 290608,5 98,26 96368 94,10 85800 94,94 7985 53,03 480761,5 95,28
Total 295 755,5 58,62 102410 20,30 91 335 18,10 15 058,5 2,98 504 559,5

No grupo dos mercadores estrangeiros nota-se uma tendência concentracionista, pois


apenas os cinco principais detêm 71 % do açúcar transacionado. Além disso todos eles
apresentam valores superiores a dez mil arrobas, enquanto nos nacionais apenas um tem
mais de 1080 arrobas. Aliás a média de ambos os grupos é esclarecedora:

Os Mercadores e o comércio do açúcar

ORIGEM NÚMERO AÇÚCAR MÉDIA

Estrangeiros 118 480761,5 4074,25


Nacionais 177 23798 141,9

Principais mercadores estrangeiros

AÇÚCAR
MERCADOR
ARROBAS %

João Francisco Affaitati 177 907,5 37


Feducho Lamaroto 32039,5 7
Bartolomeu Marchioni 51238 11
Benedito Morelli 50348 10
Matia Manardi 13 423,5 3
Antonio Boto 14512,5 3
Total 339469 71

João Francisco Affaitati, mercador cremonês de família nobre, chefe da sucursal em


Lisboa da companhia Affaitati, urna das principais dessa praça, surge no período de 1502 a
1529 como o principal activador do comércio do açúcar madeirense, tendo transacionado
sete vezes mais açúcar que todos os portuguese&. Durante essé longo período, arrematou,
em 1502, as escápulas de Águas Mortas, Liome, Roma e Veneza. Conjuntamente com
Jerónimo Sernigi, João Jaconde e Francisco CorvineIli arrematou a venda do açúcar dos
direitos (1512-1518, 1520-1521, 1529) e actuou em operações diversas de compra directa de
açúcar e de troca deste por pimenta ou dívidas (1).

CO) Vejam-se quadros n.o 4 e 5 em anexo.


('1) A. N. T. T., C. C, II. maços 7, 12, 13, 18,68,84,88,92, 133, 162; III, 2 e 7; Fernando Jasmins
Pereira, Ibidem, 83-86.

135
Para manter esta amplitude das operações comerciais na ilha contava com um grupo
numeroso de feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristovão Bocollo,
Matia Minardi, CapelJa e CapelJani, João Dias, João Gonçalves e Mafei Rogel!. Por outro
lado aceitou procuração de Garcia Pimentel, Pedro Afonso de Aguiar e João Rodrigues de
Noronha. Note-se que o grupo inicial é, na sua maioria, formado por italianos, ligados ao
comércio do açúcar, e que os segundos pertencem a algumas famílias mais influentes da ilha.
O açúcar canftrio oriundo de Tenerife, Gran Canaria e La Palma, surge no mercado
europeu a partir de princípios do século XVI. A comunidade italiana, residente em Cádiz e
Sevilha e com intervenção activa no arquipélago, traçou as rotas desse comércio com o mar
do Norte e o Mediterrâneo. A activação desse trato comercial nas primeiras décadas do
século XVI condicionou a presença de mercadores peninsulares e estrangeiros, que se
instalaram em Tenerife, Gran Canaria e La Palma (2).
O porto de Cádiz, importante praça comercial peninsular, funcionava como centro de
redistribuição e comércio no Mediterrâneo. A conquista do mercado nórdico é mui
posterior, mercê do forte enraizamento desse mercado no comércio e consumo do açúcar
madeirense. A primeira carga de melaço canário enviada a Antuérpia, em 1508, não foi do
agrado dos eventuais clientes (3). Somente a partir da década de trinta o açúcar canário
consegue agradar ao gosto flamengo, beneficiando para isso da quebra do açúcar madeirense
e da presença da comunidade flamenga no arquipélago. O trato com as praças nórdicas é
assegurado, em parte, pelos portugueses de Vila do Conde, Lisboa e Algarve, que fazem
valer a sua mestria e experiência, adquiridas no trato do açúcar da Madeira (4).
Em síntese, a colónia italico-flamenga, residente ou estante nas ilhas de Gran Canaria e
Tenerife, era o principal elo de ligação aos mercados de comércio e consumo do açúcar.
Aqui, como na Madeira, ambas as comunidades esquecem os antagonismos religiosos para
se unirem em prol duma causa comum, o comércio do açúcar, repartindo entre si o domínio
do mercado açucareiro (5).

Preço do açúcar no mercado europeu ('6)

RUÃO(77) ANVERS(78) FLORENÇA


PROVENIÊNCIA
SETEMBRO SETEMBRO
1565 1570 1571 1581 1582-1585
1581 1581

Madeira 45 I. ('9) 14 lib. 14 lib. 14 lib. 24 20 14 a 21 (80)


Canárias 45 lib. e 1 10 s. 141ib. 12 1/2 23 21 e 1/2
São Tomé 12 lib. 6 e 1/2 6e 1/4 6 e 1/2
Antilhas 32 lib. 8 a 10 7 a 9
Lisboa 40 a 50 lib.
Berberia 38 a 50 lib.

('2) Maria Luisa Fabrellas, "La produción de azúcar en Tenerife», in Revista de Historia, n. o 119-120,
176-177; Victor Morales Lezcanó, ob. cit., 52; G. Camacho y Perez Galdos, "EI cultivo de la caiiade azúcar y la
industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535)>>, in A. E. A., n. o 7, 48-56; R. Diaz Hernández, EI azlÍcar en
Canarias, Las Palmas, 1982, 38.
('3) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem, IV, 98.
('4) Idem, 98-99.
('5) Jacques Heers, Gênes au XVe siecie, Paris, 1971, 337.
(76) H. La Peyre, Une famille de marchands: Les Ruiz, Paris, 1955, 621-624; Valentim Vazquez Prada,
Lettres Marchands d'Anvers, voI. III, 385-386; F. Ruiz Martin, Lettres marchands échangées entre Florence et
Medina dei Campo, Paris, 1965, n. O 141, 159, 199, 440.
('7) Ao cento em libras.
('8) Em gruesos.
('9) Em ducados.
(80) Em 1582 o açúcar a 213/4, o retame e outros a 14 eiS ducados, e em 1585 o retame a 16 1/2 e o
açúcar de primeira sorte a 20.

136
o comércio do açúcar diversifica-se a partir de princípios do século XVI. A Madeira,
que no século XV surgira como o único mercado de produção, debater-se-á, a partir de
finais desse século, com a concorrência do açúcar das Canárias, de Berberia, de S. Tomé e
mais tarde do Brasil e das Antilhas. Esta diversificação das possibilidades de escolha, por
parte de mercadores e compradores, condicionará a evolução do comércio açucareiro.
Todavia, o açúcar madeirense manterá a sua situação preferencial no mercado europeu
(Florença, Anvers, Ruão), sendo o mais caro. Talvez devido a esse favoritismo encontramos
com frequência referências à escala na Madeira de embarcações que fazem o comércio do
açúcar nas Canárias, Berberia e São Tomé(81). Esta situação deveria, de igual modo,
explicar a venda de açúcar madeirense em Tenerife, no ano de 1505 (82).
O comércio açucareiro na primeira metade do século XVI era dominado na Europa do
Norte pelas ilhas e litoral do Atlântico, nomeadamente, entre as primeiras, a Madeira,
Tenerife, Gran Canaria e La Palma. Assim, na década de 30 os navios nonnandos ocupados
nesse comércio dirigiam-se preferencialmente a esta área. Convém anotar que a maioria das
embarcações que rumava a Marrocos e escalava na Madeira à ida e no regresso, o que
valorizou a Madeira no comércio com a Nonnandia.

Destino dos navios normandos 1530-1540(83)

DESTINO NÚMERO %

Açores 1 9
Canárias 3 27
Madeira 1 2
Marrocos 6 55

A situação relevante do mercado madeirense perdurará nas décadas seguintes, não


obstante a forte concorrência da ilha de S. Tomé que se afinnará, entre 1536 e 1550, com_o
principal fornecedores de acúcar à Flandres. Todavia esta posição cimeira da ilha de Sao
Tomé surge só a partir de 1539.

Navios portugueses com açúcar para Antuérpia 1536-1550(84)

AÇÚCAR CARGA MIXTA TOTAL


PROVENIÊNCIA
N.· % N." % N.· %

Brasil (por Lisboa) 1 1,05 1 0,47


Cabo Guer 1 0,85 I 1,05 1 0,47
Canárias 1 0,85 5 5,26 6 2,82
Cabo Verde 1 0,85 7 7,37 8 3,76
Madeira 28 23,73 28 29,47 56 26,29
São Tomé 88 74,57 38 40 126 59,15
Não discriminada (por Lisboa) 15 ~ 15 7,04
--- ---
Total 118 55,40 95 44,60 213

(81) É o que sucedeu com a embarcações da Normandia entr~ 1530 e 1540, veja-se M. Mollat, La commerce
maritime normand . .. , 247-248.
(82) Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, I, p. 83, n.o 447, 26 de Março de 1505.
(83) M. Mollat, oh. cil., pp. 247.248.
(84) Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit., IV, 98-99.

137
18
2.2 Comércio de Cabotagem

o comércio de cabotagem, nas suas variantes, define-se em primeiro lugar, pela


necessidade de escoamento dos produtos locais para os principais centros de comércio com
o exterior e, na inversa, pela redistribuição dos produtos de importação. A esta última
função junta-se o fornecimento ou redistribuição dos produtos locais de que carecem
algumas ilhas. As assimetrias do meio insular, evidenciadas pela estrutura dos terrenos,
relevo e clima, que condicionaram o aproveitamento desigual do solo e a arrumação das
culturas, são responsáveis pela intensificação desta última forma de cabotagem inter-ilhas.
Na Madeira o comércio com o exterior estava centrado em dois portos da vertente sul,
que dominam todo o tráfego da capitania em que se circunscrevem: o porto do Funchal, para
a capitania do mesmo nome, dominando as melhores áreas de cultura; e o porto de Santa
Cruz, para a Capitania de Machico, área pouco rica em termos agrícolas.
A posição dominante dos dois portos conduziu à intensificação do comércio de
cabotagem na costa sul e norte. Todavia o porto do Funchal, bem servido de infraestruturas
de apoio e de uma forte rede de negócios, centralizará, a partir do século XVI, todo o
comércio com o exterior. Aí chegarão as caixas de açúcar das partes do fundo, que depois
serão canalizadas para as principais praças europeias e); o mesmo sucederá com o trigo
desta área, quando escasseia na praça funchalense e). Os contactos com a vertente norte
faziam-se com maior assiduidade a partir de Santa Cruz, alargando-se ao porto do Funchal
para o transporte de lenha e madeira e).
A partir do Funchal delinerar-se-ão novas rotas de redistribuição dos produtos impor-
tados pela área da capitania denominada partes do fundo. Assim, em 1521, João de
Canisales, mercador, foi à Ribeira Brava vender duas mil setecentas e setenta e cinco peças
de louça do reino (4).
A ilha do Porto Santo mantinha-se na dependência do Funchal para os contactos com o
exterior, não obstante as relações e abordagens esporádicas com o exterior. Por outro lado
sendo esta ilha definida por importantes áreas de cultura dos cereais, mantém-se, em finais
do século XVI, uma rota de escoamentos dos excedentes da produção do trigo, centeio e
cevada e).
Nos Açores e nas Canárias, mercê da existência de um grupo numeroso de ilhas com
potencialidades diversas, o comércio de cabotagem inter-ilhas organizar-se-á de modo
diferente. Assim, nos dois arquipélagos todo esse movimento será centralizado nas duas
ilhas mais importantes: os Açores· na Terceira e S. Miguel, nas Canárias em Tenerife e Oran
Canaria.
A manutenção em cada uma destas ilhas de uma praça comercial importante nos
contactos com o exterior conduzirá' à formação de uma rede de negócios complicada em que
as ilhas vizinhas actuarão como satélites destas praças. As cidades de Ponta Delgada,
Angra, Las Palmas e Sta;· Cruz de Tenerife centralizam o comércio externo de ambos os

e) A. N. T. T., N. A., n.O 9038.


e) A. R. M., C. M. F., n.o 1298, fls. 4 v. o-44, 9 de Janeiro de 1486.
e) Veja-se quadro Ii.o 16, em anexo.
(4) A. N. T. T., ç. C., II, 97-60.
(5) A. R. M., C. M. F., n.o 1312, fls. 37 v. o, 38 v.o, 39, 43, 49, vereações de 15,18,25 de Maio e 5,8
de Junho de 1597; ibidem, n. o 1313, fls. 31-31 v.o vereações de 4 de Janeiro de 1597.

138
arquipélagos, actuando corno receptores dos excedentes da produção local e redistribuidores
dos produtos vindos de fora.
Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, dá conta dessa situação, escrevendo, a
propósito, que o porto de Angra era o principal porto de cabotagem inter-ilhas no grupo
central e ocidental (6). A dominância da praça de Angra é então de tal modo clara que o
cronista açoriano não hesita em afirmar «que todas as outras ilhas são suas escravas, pois
quanto nelas se cria vem pera ela,; concluil1do, que «as outras ilhas ao redor são quintas da
ilha Terceira» C).
A Terceira fornecia às ilhas vizinhas os produtos de importação, corno o vinho e açúcar
da Madeira, manufacturas diversas, recebendo em troca os cereais, gado e carne, vinho,
madeiras e lenha, fruta e barro (8).
Entre as restantes ilhas o comércio e os contactos eram assíduos. Assim no grupo
central, a ilha de S. Jorge exportava para o Faial e Graciosa os excedentes de vinho e
cereais, enquanto o Pico comerciava as suas madeiras, gado e vinho (9). Todavia a ilha
de S. Jorge, que segundo informação de Frutuoso exportava cereais em 1576, em face
da crise de produção cerealífera vê'-se obrigada a importá-lo da Graciosa, Terceira e
Faial eo).
A Ocidente as ilhas de Flores e Corvo estão em permanente contacto, surgindo a ultlma
como uma verdadeira quinta das Flores. Assim o Corvo comunica com o exterior a partir
das Flores, recebendo daí os produtos de fora e canalizando até lá as madeiras, o linho,
panos e outros produtos para venda nas ilhas do arquipélagoe 1 ).
No grupo Oriental o comércio estava centralizado na praça de Ponta Delgada que
recebe as produções da ilha e o barro e telha mariense, ao mesmo tempo que procede à
redistribuição dos produtos de importação 2 ). e
A ilha de S. Miguel ao apresentar-se, no século XVI, como o principal celeiro
açoriano, condicionará uma rede de cabotagem inter-ilhas para fornecimento das ilhas
carecidas procedendo-se o seu escoamento a partir de Vila Franca, Porto Formoso e
Lagoae 3 ). Em finais do século XVI esta ilha, conjuntamente com a Graciosa, tem o
4
encargo de assegurar o fornecimento de trigo à tropa do presídio, sediada em Angrae ).
De igual modo nas Canárias, as ilhas maiores (Tenerife e Gran Canaria) detêm o
exclusivo do comércio das manufacturas de importação, no mercado canário, enquanto as
ilhas menores se limitam ao comércio dos produtos básicos: madeiras, cereais, gado s ). e

(6) Gaspar Frutuoso, ob. cit., \.0 VI, 57-59.


C) lbidem, \.0 VI, 59.
(8) lbidem, 1.0 VI, 30, 57-59; ibidem, ].0 IV, VaI. II, 52.
(9) Ibidem, 1.0 IV, vol. II, 242, 290-291, 294.
eo) António dos Santos Pereira, «Administração municipal da vila das Velas ... », 715.
e 1
) Gaspar Frutuoso, ob. cit., \.0 Vi, 58-59, 347, 352.
(12) lbidem, L. 0 III, 96.
e 3 ) Linschoot (ob. cit., 154) em 1595 refere que «ela produz igualmente o trigo do qual provê muitas vezes

as outras ilhas em caso de necessidade».


et4 ) A. N. T. T., C. C., 1-191-125 A, Angra, 9 de Agosto de 1585, memorial da Câmara de Angra, publ.
in Arquivo dos Açores, II, 107; Alberto Vieira, "A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII», in
Arquipélago, VII, 195, 143 e 149.
ets) Carmen G. Galera Martin (ob. cit., 27-28) refere de maneira modelar essa situação; «Las noticias
historicas nos hablan de que hacia 1700, Gran Canaria exportaba aI resto de las islas, principalmente a Tenerife,
produetos básicos: aves judías, algo de grano, losas de piedra, además de ciertas manufacturas: deda hilada,
mantas, etc. Hierro y Gomerra exportaban a las otras is·ias ganado de todo o tipo, La Palma estaba especializada en
la producción de dulces, algo de azúcar, madera y seda. Lanzarote y Fuerteventura enviaban aI resto dei
archipiélago, grano (trigo y cebada) y grano mayor. Por último, Tenerife exportaba a las otras islas vinoy gran
quantidad de praductos manufacturados». Veja-se George Glas, Descripcián de las islas Canarias. 1764, La
Laguna, 1976; F. Clavijo Hernandez, Los documentos defletamento ... in IV C. H. C. A., vaI. I, 35-37, 54; A.
Cioranescu, Historia de Santa Cruz, Vol. II, 20.

139
o porto de Santa Cruz de Tenerife evidencia-se como um dos mais importantes no
comércio inter-ilhas, estabelecendo rotas comerciais com as ilhas de Gran Canaria, Lanzarote
e
e Fuerteventura 6 ). A partir daí exportava-se o trigo para Gran Canaria, La Gomera, La
Palma e as' madeiras e carneiros para Gran Canariae 7 ).
As ilhas de Fuerteventura, Lanzarote e La Palma salientam-se no comércio de cereais,
gado e carne, fornecendo as principais praças de Tenerife e Gran Canariae s ).
O comércio de cabotagem interna era intenso nos dois arquipélagos (Açores, Canárias)
sendo orientado para a distribuição dos produtos estrangeiros ou das ilhas vizinhas e da
canalização da produção local para as principais praças do comércio externo. Assim é
reforçada essa situação nas ilhas de Gran Canaria, Tenerife, S. Miguel e Terceira.

et76 )A. Cioranescu, ibidem, vaI. II, 20, 446, nota 80.
et ) Idem, lbidem, VaI. II 20, 446, nota 80; F. Clavijo Hemandez, Protocolos de Hérman Guerra
Tenerife, 1980,408 (n.o 1530), 367 (n.o 1351); Idem, "los documentos de fletamento .. ,", in IV C. H. C. A.:
vaI. I, 41; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez, Tenerife, 1979,80 (n. o 106),292 (n. o 934); Acuerdos
dei ~a.bildo de Tenerife, IV, n.o 812, p. 86,26 de Março de 1521; Leopoldo de la Rosa, "Catalogo deI Archivo
Muo!clpal de ~a Laguna.. , in Re.v!sta de História, n. o 101-104, p. 252 (n. o 38), 264 (n. 020); G, Gamacho y Perez
Galdosis"Cul.tlvos de cereales vma. y huerta en Gran Canaria (1510-1537) .. in A, E. A., n.o 12, 1966,242-243.
( ) Ib/dem, 242-243; A.. ClOranescu, ob, cit., vaI. II, 446 nota 80; Acuerdos dei Cabildo de Tenerife,
vaI. I, p. 28, 26-IV-1500; Ib/dem, vaI. I. n.O 449, p. 26-III-1505; Ibidem, vaI. I, n. o 533, p. 101-102,
24-VIII-1506; lbidem, vaI. I, n.o 310, pp. 145-147, 23-VI-1522.

140
2.3 Comércio Inter-Insular

o comércio entre as ilhas dos três arquipélagos atlânticos resulta não só da comple-
mentaridade da sua exploração económica, mas também da proximidade e da assiduidade de
contactos; o intercâmbio de homens, produtos e técnicas dominou o sistema de relações
entre eles. A historiografia insulana tem ignorado esta componente do comércio uma vez
que apenas tem valorizado as relações com o Novo e o Velho Mundos.
A Madeira, mercê da sua posição privilegiada entre os arquipélagos dos Açores e das
Canárias e do seu parcial alheamento das rotas índicas e americanas, apresentava condições
favoráveis para o estabelecimento de contactos assíduos com as ilhas vizinhas; os contactos
com os Açores, em especial, resultam da intervenção madeirense na ocupação e exploração
do solo açoriano e da necessidade de abastecimento em cereais de que o arquipélago
açoriano era um dos principais produtores.
Com as Canárias, não obstante a sua conquista e a sua integração na coroa de Castela,
os contactos são muito mais assíduos e importantes; tal situação resulta da proximidade dos
dois arquipélagos, da atracção exercida pela terra canária nos madeirenses e, ainda, pela
hostilização açoriana ao estabelecimento da rota de comércio de cereais e).
Os contactos permanentes entre a Madeira e as Canárias, evidenciados por uma
constante corrente emigratória marcam uma constante da História destes dois arquipélagos e
evidenciam as afinidades existentes, consequência de um idêntico posicionamento dos
monarcas ibéricos na política expansionista. Em reforço dessa comunhão de interesses e do
necessário relacionamento está a posição privilegiada do porto do Funchal nas ligações entre
a Europa e as Canárias, surgindo como um porto de escala dessas rotas e).
Se é certo que a maioria dos contactos entre os arquipélagos advem da posição
privilegiada da Madeira em relação às Canárias e o Velho Continente, não é menos certo
que o trato comercial resulta de necessidades e solicitações internas, que impelem para uma
aproximação. Ela aparece, por outro lado, pela necessidade de recurso a um novo celeiro de
provimento de cereais, mediante a recusa dos açorianos a esse fornecimento; e por outro,
pelas solicitações da comunidade portuguesa residente nas Canárias, de que fazia parte um
grupo numeroso de madeirenses que ansiavam por contactos com os locais de origem.
O trigo foi, sem dúvida, o principal móbil do comércio canario-madeirense. Aliás,
segundo testemunho de Giulio Landi (1530) e Pompeo Arditi (1567) os cereais actuaram
como os principais activadores e suportes do sistema de trocas entre a Madeira e estas ilhas
vizinhas, quer do arquipélago canário, quer do açoriano e).
Esta rota de abastecimento de
cereais é definida em princípios do século XVI, mantendo-se com toda pujança até meados
do seculo seguinte. 'As· primeiras referências ao envio de trigo canário para a Madeira
surgem em 1504 para o trigo remetido de La Palma e, em 1506, para o de Tenerife (4).
Quanto ao trigo açoriano, não obstante se apontar o seu início em finais do século XV,
apenas em 1508 temos uma referência a esse comércio, com a definição por parte da coroa

ct) José Pérez Vidal, «Aportación portuguesa a la población de Canarias. Datas para su estudio», in
A.E,A .. n.o 14, 1968, 41-106; Margarita Martin Socas e Manuel Lobo Cabrera, art. cito
e) No século XVI das 14 embarcações saídas das Canárias com destino à Europa 4 fazem escala no
Funchal, veja-se Margarita Martin Socas e Manuel Lobo Cabrera, art. cit.
e) «Descrição da ilha da Madeira .. , in A Madeira vista por estrangeiros. Funchal, 1981,84; «Viagem à
ilha da Madeira e aos Açores ... », in ibidem, 226; L. Torriani em 1590 refere o comércio de cereal de Lanzarote
com a Madeira (ob.cit., 45-46).
(4) «Reformación dei repartimiento de Tenerife em 1506», in Colleción de documentos sobre el Adelantac!o y
SlI gobierno, Santa Cruz de Tenerife, 1953,90-91; Manuela Marrero Rodrigues, «Algunas consideraciones sobre
Tenerife .. ,» in A.E.A., n." 23, 1977,380.

141
dessa rota de fornecimento de cereais à Madeira, que se estrutura de forma idêntica à rota de
comérciQ com as praças africanas (5).
A abertura e permanência desta rota dificultava a intervenção das autoridades dos dois
arquipélagos próximos, uma vez que irá provocar acesa contestação e permanente boicote de
vizinhos e funcionários régios e locais. Esta contestação aumenta em momentos de penúria,
dificultando o abastecimento de cereais na Madeira. Nos Açores, proprietários e mercadores,
com intervenção activa nos municípios, boicotam a rota, procurando furtar-se a esse
encargo. Perante isso a coroa teve de intervir por diversas vezes, apelando para as
autoridades açorianas, a fim de que não pusessem qualquer impedimento ao envio de cereais
pa.ra a Madeira, uma vez «que los triguos desas ylhas se gastam mays na ylha da Madeyra
que em nehúa outra parte de nosos reygnos» (6). Em Canárias o cabildo catedral de Oran
Canaria queixava-se de receber a sua parte dos dízimos, que se escoava para a Madeira,
ordenando-se em 1532 o seu embargo t). Por outro lado o conflito antigo entre as duas
coroas criava, por vezes, atropelos a esse comércio. Todavia a rota canária impõe-se pela
dominância dos contactos assíduos entre os dois arquipélagos, não o impedindo as crises de
produção, nem as limitações impostas pelo cabildo de Tenerife. Nos Açores, ao invés, o
monarca teve de impor à força esta rota, pois a posição dos municípios e produtores era de
constante recusa (8); esta situação de afrontamento dos açorianos resultava do desinteresse
da burguesia açoriana, pois estava apostada no comércio especulativo com o reino e nos
contratos de fornecimento às praças africanas.
As dificuldades sentidas no abastecimento de cereais na Madeira na primeira metade do
século XVI, bem como a incessante recusa dos açorianos em participar nesse comércio,
levaram o monarca a intervir, em 1521, no sentido de manter a prioridade na exportação do
cereal para a Madeira. Mediante a acção especulativa dos grandes produtores, o rei estipula
a obrigatoriedade de todo o carregamento se fazer mediante procuração da comarca do
Funchal e com preço estabelecido em auto e).
Em todas as recomendações e oràenações o
monarca fundamenta a sua intervenção no facto de a ilha não ter «outro pão salvo o que
màndão comprar às ditas ilhas» eo).
A Ma.deira de acordo com a informação em 1546, consumia anualmente doze mil
maios de pão, dos quais oito mil vinham de fora.
A ilha, apenas poderia contar com 32 % da sua produção que chegaria apenas para três
a quatro meses (11). O cereal de importação provinha, de modo variado, das ilhas vizinhas e
da Europa, serido muito importante a posição das ilhas com 49 %. No caso dos Açores o
trigo entrado no porto do Funchal é na sua maioria oriundo do Faial, Santa Maria e
S. Migtlel,ilhas que dispunham de' um excedente vantajoso para esse comércio. Quanto às
Canárias são as ilhas de Lanzarote e Tenerife que surgem como os principais graneros.
A pennanência desta rota de abastecimento de cereais implicou um incentivo e um
alargamehto das trocas comerciais entre os três arquipélagos; assim, ao cereal vieram
juntar-se outros produtos, como contrapartida favorável a essas trocas. Pelo que respeita aos

(5) A.R.M., C.M.F.. registo geral, t. I, fls. 310-311 v.o, alvará régio de 20 de Agosto de [508, in
A.H.M., XVIII, 512.
(6) Ibidem, registo geral, t. I, fi. 341, alvará régio de 31 de Dezembro de 1516, in A.H.M.. XVIII, 586.
e) G. Camacho y Perez Ga1dós, arl. cil., 246; José Pérez Vidal, art. cil" 61.
(8) Assim sucederá em 1521, 1535, 1546, 1563-1564, 1569, 1572, 1587. Veja-se A[berto Vieira ,,0
comércio dos Açores para a MadeIra no século XVII», 652-654; Idem «A questão cerealífera nos Açores nos
séculos XV-XVII", 167; Idem ,,0 comércio de 'cereais das Canárias para a Madeira nos séc. XVI-XVII», in VI
C.H.C.A., Las Palmas, 1984, no prelo.
(9) A.R.M., D.A., cxa. I, 133, carta régia de 6 de Novembro de 1521; Ibidem, cxa. II, 195, ordenação de
!O de Dezembro do Cardeal D. Henrique à jurisdição dos Açores; ibidem, cxa. II, 198, ordenação de 13 de
Novembro de 1565; Veja-se Joel Serrão, "Sobre o trigo das ilhas nos séculos XV a XVI», in D.A.H.M., n.o 2,
[950.
eo) A.R.M., DA., cxa. lI. 198. já citado.
(11) Ibidem. cxa. I, 171, Almeirim, 29 de Março de 1546, carta de D. João II à câmara de Lisboa.

142
o Comércio de cereal das ilhas dos Açores e Canárias no Séc. XVI (12)

AÇORES CANÁRIAS
Ilhas
Moios % Ilha Moios %

Terceira 60 5,05 Fuerteventura 6,5 0,91


Graciosa 117,5 9,90 Lanzarotc 493 69,19
Faial 155 13,06 Tenerife 111 15,58
Santa Maria 156 13,6
São Miguel 125 10,53
Total 613,5 46,33 Total 710,5 53,67

Açores, a Madeira tinha para oferecer o seu afamado vinho, açúcar, conservas, queijos,
peles, seb.o e chacina et 3 ); neste grupo destaca-se o vinho que era muito apreciado pelos
açorianos; Linschoot, em finais do século XVI, refere que o vinho madeirense, conjunta-
mente com o canário era o preferido dos «mais ricos» da terrae 4 ); além disso este afamado
rubinéctar era o vinho de uso corrente na celebração eucarísticae s).
A fama do vinho da Madeira deveria ser tão grande na sociedade açoriana que o seu
consumo era sinónimo de importância social; por isso os trabalhadores de soldada, em 1574,
rejeitam na joma o vinho da terra em favor do da Madeira (16); e, ao mesmo tempo, a
principal nobreza do arquipélago preferia a sua oferta nos encargos de missa por morte (17).
O vinho da Madeira surge assim no mercado açoriano por imposição do gosto
« apurado» da sua população e como moeda de troca para a aquisição do cereal et 8 ). Deste
modo podemos dizer que a rota do cereal trouxe consigo o comércio do vinho madeirense.
Aliás, a primeira referência ao seu comércio nos Açores surge nos inícios do século XVI, na
altura em que era vendido na Ribeira Grande a oito reais a canada. O tabelamento do seu
preço de venda ao público pelas vereações de Angra, Ribeira Grande e Velas (S. Jorge)
atesta a importância que o vinho adquiriu no mercado local.

Preço de venda ao público do vinho da Madeira (em reis) et 9)

MUNlciPIO 1510 1520 1559 1571 1578 1589 1590

Angra 40
Ribeira Grande 8 13 44 44
Velas 36 32

ez) Veja-se nota 8.


e Saudades da Terra, 1.0 VI, 1963,57; 1.0 IV, 1981, 48;,:\.N,T.T., H.A .. n.O 724,41.
3
)
es "História da navegação do holandês / ... /», in B.I.H.I.T.• n.o 1, 1943, 151.
4
)
e ) Arquivo da Paróquia da Matriz da Ribeira Grande, Livro primeiro das visitas da Ribeira Grande, L"
visita, cap. 13, t1. 19, aí refere-se que o tesoureiro «será.obriguado a dar vinho bom da ilha da Madeira». Esta
afinnação é corrqborada por Gaspar Frutuoso (ob. cit .. 1.0 IV, vol. II, 198).
e 6
) Gaspar Fru'tuoso, ob. cit" 1.0 IV, vol. II, 47.
e 7
) B.r.A.p.D., Fundo Ernesto do Camo, ms. 26, fIs. 7-7 v.o, 13 de Outubro de 1595, testamento de
Manuel Martins Soares e mulher Maria Jácome Raposo: um almude de vinho da Madeira ao enterramento. Na Vila
da Ribeira Grande, em finais do século XVI, deparamos com a mesma situação em 18 registos de óbito da Matriz
(Arquivo Paroquial da Matriz da Ribeira Grande), L.0 2 de registos de óbitos, fls. 30,31,33-36,40; 44-45, 54,
56, 59, 61-62, 66, 73, 75.
e 8
) .. Viagem de Pompeo Arditi / . , '/' in B .I.H.I. T., VI, 1948, 178; Antonio Cordeiro, História Insulana
/ ... /, Angra do Heroísmo,. 1982, 302.
e 9 ) Gaspar Frutuoso, ob. cit" 1.0 IV, vol. II, 1981, 177-178, 197-198; Vereação de Velas) .. ./, s. 1.

1984, 397-398; Frei Agostinho de Montalveme, Crónicas da Província de S. João Evangelista, vaI. II, 17;

143
Em 1574 o vinho da Madeira representava 42% do vinho entrado no porto de Ponta
Delgada, enquanto o vinho do reino ficava apenas por 8 % e o vinho da Terceira e mais ilhas
em 50%e o).
A primeira referência ao envio do vinho da Madeira para os Açores surge tombada em
1544 no testamento do mercador Afonso Alvarez, em que se refere ter ele enviado ao Faial
seis pipas de vinho (!1). O Faial parece ter sido um porto importante de destino do vinho
madeirense, dedicando-se a isso alguns importantes mercadores corno Francisco João,
e
falecido em 1620 2 ). O comércio do vinho nesta praça tão próxima das ilhas produtoras do
bom vinho açoriano (Pico e S. Jorge) resultará, sem dúvida, da contrapartida favorável ao
comércio dos cereais.
Na praça de Angra o vinho da Madeira é transaccionado com muita frequência, quer
para consumo local, quer para redistribuição pelas ilhas vizinhas de Graciosa e S. Jorge; as
únicas notícias do seu comércio nesta cidade surgem em 1552, 1561 e 1594e 3 ). Saliente-
-se, por outro lado, que em 1564 António Pires do Canto entregara a Pedro Ribeiro
dezassete pipas de vinho para vender nas ilhas de Baixo, comprometendo-se este último a
entregar ao primeiro, em troca, vinte pipas de vinho da Madeira 4 ). e
Também nas relações com as ilhas Canárias o vinho surge, muitas vezes, aliado a
outros produtos corno moeda de troca dos cereais. Assim, em 1521 o mercador Juan Pomar,
vizinho da Madeira, enviou a Juan Garcia de Lós, mercador vizinho de Gran Canaria,
e
algumas pipas de vinho s ). E em 1525 enviou urna pipa e um quarto de vinho e um quarto
e
de vinagre 6 ). Entretanto em 1523 sai do Funchal o navio de Lourenço Morais com vinte
e
pipas de vinho para o mesmo destino 7 ); e, finalmente, em 1563 o mercador João Nunes
envia ao seu cunhado, residente nas Canárias, três pipas de vinho para que este lhe enviasse
trigoe s).
O comércio entre a Madeira e as Canárias remontava a meados do século XV, altura a
partir da qual a Madeira passou a receber escravos canários, carne, queijo e sebo. Todavia
esse trato não era do agrado do Infante D. Fernando, senhorio da ilha, uma vez que ele
recusou a solicitação dos seus naturais para isenção da dízima dos produtos que daí vinham,
dizendo a propósito, «que tam bõo trauto e das minhas ylhas dos Açores e tam bõo retorno
e
averem e milhar que de Canaria se em elle quiserem emtrar» 9 ). Não obstante, os vizinhos
do Funchal teimaram em manter os seus contactos com as Canárias; assim, em 1477, Nuno
Cayado, mercador madeirense, há mais de quinze anos ocupado nesse comércio, recebeu

A.C.M.R.G., L.0 3 de acórdãos. fIs. 40-41 v.o, 21 de Fevereiro de 1578; Francisco Ferreira Drumond, Anais da
ilha Terceira, vol. I, 381.
eo) Saudades da Terra, 1.° IV, vol. II, 198.
e 1
) A.R.M. ,Misericórdia do Funchal. n.o 684, fi. 286, 1 de Agosto de 1544.
e 2
) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no séculoXV/l, 187. Em 19 de Abril de 1574
na câmara da Horta o vinho da Madeira é referenciado em separado do outro vinho de fora (António Lourenço da
Silveira Macedo, História das Quatro ilhas ... , Angra do Heroísmo, 1981, 78).
e J
) Em auto de veração de 3 de Março de 1552 refere-se que cinco navios franceses roubaram uma caravela
da Madeira com vinho e mercadorias (As gavetas da Torre do Tombo, X, Lisboa, 1974, 674-675). A 15 de
Novembro de 1561, Diogo de Amorim refere ter enviado à Terceira quatro pipas de vinho a Baltasar Gonçalves,
seu cunhado (A.R.M., I.R.C. -Funchal, tombo, fi. 354 v.O). E em 28 de Outubro de 1594 Pero Gonçalves, de
Santa Cruz, refere ter enviado a seu irmão Antonio Anes, morador na Terceira, duas pipas de vinho (lbidem.
Santa Cruz, t. II, fi. 52 v.O).
e 4
) B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms. 20 A, n.O lO, 1 de Novembro de 1564, caderno de
lembranças de António Pires do Canto.
e s ) A.R.M., Misericórdia do Funchal. n.o 684, fi. 303.
e 6
) Q. Camacho y Perez Galdós, arl. cit., 278-279.
e 7
) A.N.T.T., N.A., n.o 541, registo de 30 de Outubro.
e s) lbidem, n.o 541, registo de saída de 12 de Janeiro de 1525 do navio de João Gago com um quarto de
vinho ~9 um quarto de vinagre da mulher de Antonio Leme, uma pipa de vinho de Diogo Martins.
( ) A.R.M., C.M.F., registo geral, t. I, fls. 226-229 v.o, Beja, 7 de Novembro de 1466, apontamentos do
Infante D. Fernando, pubI. in A.H.M. XVI, 36-40.

144
um salvo conduto dos reis católicos para comerciar nessas ilhas eo); e, em 1513, ao ser
apresada em Gran Canaria uma caravela portuguesa que levava a bordo um malfeitor, o
regedor local receia represálias por parte dos madeirenses e 1 ).
A Madeira receberá, por intermédio dos portos do Funchal e Santa Cruz, cereais, gado,
pez, pipas vazias e em troca fornecerá o seu vinho, canas, fruta verde, liaças de vime,
sumagre, pano de estopa, burel e liteiroe 2 ).
Um dos mais importantes produtos fornecidos pelo mercado madeirense e ·que tinha
saída fácil nas Canárias era o sumagre: que terá contribuído para o desenvolvimento da
industria de curtumes em Gran Canaria; uma primeira remessa é solicitada em 1569,
seguindo-se, a partir de 1570, a intromissão em força da classe mercantil neste tratoe 3 ); por
exemplo, em 1571 Anton Solis e Juan de Cabrejas, vizinhos de Gran Canaria, criam uma
companhia para comerciar o sumagre da Madeira; e, ainda nesta década, surgiram outras
companhias com a mesma finalidade, o que atesta a importância deste produto no comércio
com Gran Canaria 4 ). e
Em síntese, as Canárias ofereciam à Madeira os produtos alimentares de que esta
carecia e em troca recebiam, para além do vinho e sumagre, uma série de artefactos de
produção local ou de importação. A Madeira tinha neste arquipélago vizinho não s6 o seu
celeiro, mas também o açougue, fornecedor de gado e seus derivados, como a carne, sebo,
queijo. Note-se que em 1527 Joana Falcão veio declarar em vereação que o seu marido,
Joam Novo, que detinha o exclusivo da venda de carne no açougue municipal, estava
ausente nas ilhas Canárias, onde fora buscar carnes, como era hábitoe s ). Esse gado e carne
eram adquiridos, habitualmente, nas ilhas de Fuerteventura e Lanzarote 6 ). e
O comércio entre os Açores e as Canárias não assume a mesma importância que
apresenta na Madeira, pois a dificuldade nas comunicações e a distância entre os dois
arquipélagos, em convergência com um diverso posicionamento destas ilhas na economia
atlântica, bloquearam o desenvolvimento e estreitamento desses laçose 7 ). Não obstante,
desde muito cedo surgem referências avulsas sobre esse comércio; em 1508 ao ser
interditada a entrada de navios em Tenerife por causa da peste, são referidos entre muitos,
homens oriundos dos Açorese s ); e em 1511 surge em Santa Cruz de Tenerife um Diego
Afonso, mercador, vizinho da ilha do Faial, para carregar desse porto de Garachico e outros
portos da ilha mil fanegas de cevadae 9 ).

eo) Eduardo Aznar, Documentos Canários / ... /, La Laguna, 1981, p. 129, n.O 958, Valladolid, 13 de
Abril de 1513.
e 1 ) Ibidem, p. 4, n.o 16, Sevilha, 30 de Novembro de 1477. .
(32) A.N.T.T., N.A., n.o 541, registo de saída de 27 de Maio de 1523, em Santa C~z, navIo com duzentas
e quarenta varas de estopa, setenta de burel, duzentas deyteiro ~ cento e vinte,e. oito de haças de LeoneloPonte.
Por postura de 19 de Março de 1547 estava proibida a sal~a.de 1Ja5as para_Ca~anas (A.R.M., C:M.F.,~. 1:08,
fi. 33). E em 12 de Maio de 1584 Gaspar Rodrigues so1Jcltava a vereaçao 1Jcença para levar as refendas Ilhas
duzentos feixes de arcos (Idem, D.A .. cxa. IV, n.o 500). A. Rumeu de Armas (Piraterias y ataques navales e~tre
las islas Canarias, t. I, 269) dá-nos conta quc em 1581 se carregava lã e queijo em Lanzarote para a Madel~a.
Veja-se Manuel Lobo Cabrera, «EI mundo dei mar en la Gran Canaria ... ", in A.E.A., n.o 26, 328; Marganta
Martin Soca e Manuel Lobo Cabrera, art. c/t.. 679 e 695.
e
3) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y los contactos con las islas portuguesas atlanticas ... "

ees) Veja-se
4
) ibidem.
A.R.M., C.M.F., n.o 1305, fi. 22 v.o, 26 de Março de 1527. Gaspar Frutuoso refere que o gado era
abundante nesta ilha (Ob. cito L. 0 I, 82-85).
(36) A.H.P.L.P., Protocolos de Cristobal de San Clemente, n.o 736, fIs. 522-523, 9 de O~tubro de 1526,
fretamento do navio de Anton Diaz e Lorenzo Yanes aLape Diaz e Niculoso Bordego, genoves, estante, para
carregar queijo e gado em Lanzarote e conduzi-lo ao Funchal. e Santa Cruz. . .,
e7) A primeira abordagem foi feita por Manuel Lobo Cab~er~ e Eli~a Torres Santana, «Aproxlmaclon, a las
relaciones entre Canarias y Azores ... », in Os Açores e o Atlantlco (seculos XIV·XVII), Angra do HerOismo,
1984.
ee9)s) Ibidem, 364.
F. Clavijo Hemandez, Protocolos de Hernán Guerra, n.o 1048, p. 294, 7 de Maio de 1511.

145
A partir da segunda metade do século XVI as trocas entre os dois arquipélagos são mais
assíduas, facilitadas pela fixação temporária ou permanente de açorianos no território
canário; estas trocas assentam ou no vinho canário e/ou no trigo açoriano (40).
O aparecimento do trigo açoriano em território canário não é permanente, mas sim
sazonal e resultado, muitas vezes, do desvio da rota das embarcações que transportavam o
cereal à Madeira; a primeira situação documenta-se em 1563 com o envio de cereal para a
ilha de La Palma, mercê da carestia que aí havia(41); a segunda surge em 1535 com o trigo
de Nuno Alvarez, mercador de Guimarães, que aportou a Las Palmas, onde lhe foram
retirados trinta moios (42); em 1563, Gonçalo Dinis, mercador da Ribeira Grande, trans-
portando trigo e toucinho para a Madeira, sofre um desvio na sua rota indo aportar a La
Palma (43); a situação repete-se em 1582 com duas embarcações de S. Miguel e da
Terceira (44).
Só em 1535 surge em Las Palmas uma companhia formada entre Andrés Pérez
Guitarte, mercador nos Açores e Jerónimo Mecia, mercador genovês estante em Gran
Canaria, para o comércio de trigo, couros e outras mercadorias dos Açores (45). Esta
permuta de cereais testemunha a dinâmica de inter-ajuda dominante nestes três arquipélagos,
patente, aliás, em 1521 e 1573, com a solicitação do cereal por parte do cabildo de Gran
Canaria à respectiva edilidade funchalense. A Madeira, que habitualmente consumia o
cereal canário, poderá, por vezes, auxiliar estes vizinhos em momentos de penúria,
socorrendo-se para isso do cereal importado dos Açores ou da Europa (46).
Os açorianos recebiam das Canárias, em troca do cereal, apenas vinho e breu.
O primeiro produto, segundo Pompeo Arditi, era conjuntamente com o da Madeira muito
apreciado no mercado açoriano (47); no entanto, apenas há notícia em 1565 do envio de uma
carga de cinquenta e cinco botas de vinho de Gran Canaria e, em 1570, de quarenta pipas de
vinho de Tenerife para a Terceira (48).
A manutenção e estreitamento das relações entre os dois arquipélagos portugueses com
as ilhas Canárias resultam de vários factores. Em, primeiro lugar, e quanto à Madeira, da
necessidade de abastecimento de cereais que se encontravam ali tão perto da ilha e, em
segundo, da intervenção dos portugueses avizinhados na sociedade canária, que facilitaram
e asseguraram esse intercâmbio comercial (49).

(40) A. Cioranescu, ob. cit.. II, 446, nota 93.


(41) Gaspar Frutuoso, ob. cit., L.0 I, 122.
(42) A.H.P.L.P., Pr~tocolos de Cristobal de San Clemente. n. o 742, fi. 158, 5 de Julho de 1535; Idem,
Hernando e Padilla. n. o 749, fi. 104 v. o, 27 de Agosto dt: 1535; H. Camacho yPerez Galdós, art. cit.. 246-247.
(43) Saudades da Terra. L.0 I, 106.
(44) A.H.P.L.P., Protocolos de Luis de Balboa. n. O 866, fls. 382-383; Idem, Protocolos de Luis de Loreto.
n. o 872, fl. ·187; Veja-se· Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres Santana; art. cit., 366.
(45) A.H.P.L.P., Protocolos de Cristóbal de San Clemente. fi. 77 v. o , 13 de Maio de 1535; G. Camacho y
Perez Galdós, art. cit .. 245; Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres Santana, art. cit.. p. 365 referem outra
companhia familiar para (J comércio de trigo, carne e mais mercadorias.
(46) A.R.M., C.M.F.• n. o 1304, fls. 82 v. o 84, 23 de Novembro de 1521; Manuel Lobo Cabrera, "Gran
Canaria y los contactos con las islas portuguesas atlânticas ... "
(47) «A viagem de Pompeo Arditi. .. ", 176.
(48) A.H.P.L.P., Protocolos de Andrés Rosalez.n. o 947, fls. 24 v. O 26 v. o; A. Cioranescu, ob. cit.. /lo 446
nota 93.
(49) F. Clavijo Hernandez. "Los documentos de fletamentos ... '" 46 ..

146
2.4. Comércio Atlântico-Europeu

A situação periférica do mundo insular condicionou a subjugação do comercIO do


Mediterrâneo Atlântico aos interesses hegemónicos do velho continente. Foram os europeus
os primeiros cabouqueiros das ilhas, trazendo consigo produtos e sementes lançadas nas
novas culturas. E foram, igualmente, europeus os primeiros a apreciar a qualidade dos
produtos insulares e a aIJ1eal~ar elevados réditos com o seu comércio.
Esta subordinação das ilhas aos interesses dominadores do Velho Continente no Atlântico
e às solicitações e necessidades desse mercado levou .a uma situação peculiar; na verdade
definiu a economia insular pelo seu carácter marcadamente colonial, isto é, importador de
manufacturas europeias a troco dos produtos agrícolas. Esta troca, marcadamente desigual,
condiciono4 o desenvolvimento da vida económica das ilhas nos séculos XV e XVI, sendo
responsável pela sua constante instabilidade.
O comércio e a assiduidade de contactos entre as ilhas e os reinos peninsulares resultam
ou são impostos por essa vinculação ou subordinação. Deste modo, as rotas comerciais que
lhe servem de suporte são definidas, desde o século XV ,mantendo-se por todo o
século XVI como as mais importantes e valorizadas da economia insular; as rotas africanas
e americanas resultam apenas de um aproveitamento vantajoso da posição geográfica das
ilhas, ou apenas de uma tentativa de extensão da sempre presente rota europeia.
O arquipélago canário, mercê da sua posição e das condições específicas, criadas após
a conquista, foi dos três '0 que tirou maior usufruto do comércio com o Novo Mundo. A sua
proximidade do continente africano, bem como o seu entroncamento nas rotas atlânticas,
permitiram-lhe a intromissão nesse trato, ainda que constantemente regulamentado pela
coroa e monopolizado pelas cidades de Lisboa e de Sevilha e).
Os Açores posicionados no traçado das rotas de regresso, procuram igualmente
valorizar a sua posição privilegiada intrometendo-se no comércio ilegal dos poucos produtos
do Índico, África e América, que escapavam à apertada vigilância da Provedoria das
Armadas. Todavia, esse benefício foi muito diminuto, talvez a sua mais importante
implicação tenha sido o aparecimento de um grupo numeroso de mercadores castelhanos,
franceses e ingleses interessados no comércio transatlântico que, por vezes, não esquecem
as potencialidades económicas açorianas e).
A Madeira, mercê da sua posição excêntrica alheia-se dessa realidade, apostando no
comércio com a Europa. Só muito mais tarde os madeirenses terão uma intervenção activa
no comércio do Novo Mundo, por meio do vinho. A sua experiê'ncia, durante o século XV,
no comércio da costa africana foi fugaz, regendo-se pelo objectivo de canalizar, do golfo da
Guiné, os escravos necessários à lavoura e à safra do açúcar.
O comércio insular com a Europa definia-se por uma multiplicidade de produtos,
agentes, rotas e mercados. A península, mercê da sua intervenção no reconhecimento,
ocupação e valorização económica das ilhas, apresentar-se-á como o principal mercado; será
o elo de ligação entre elas e as principais praças europeias no mar do norte e do
Mediterrâneo; assim, a partir de Lisboa, Cádiz e Sevilha activar-se..á um assíduo comércio,
secundado pelos outros portos atlânticos e Mediterrânicos do litoral peninsular. A essas
importantes praças peninsulares afluiu um grupo numeroso de mercadores italianos, fran-

e) Francisco Morales Padron, Canarias y América. Las Palmas, 1982;. Pierre Chaunu, Seville et
[,At/antique, T. VIII, VoI. I, 359-365; Manuel Lobo" Cabrera, .Gran Canaria e Indias ... », 111-128.
e) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no séc, XVII/o 337-352.

147
ceses, flamengos e ingleses interessados no comercIO, altântico e apostados nesta nova
economia de mercado; se, numa primeira fase, a sua intervenção estava limitada à
península, num segundo momento, facilitada a sua intervenção nas ilhas, actuam a partir
delas, onde se afirmam como os principais homens de negócio; a partir daí estabelecem
contactos e rotas directas com as principais praças do Mediterrânico e do Norte.
A Madeira, de todas a primeira a merecer uma ocupação efectiva, alicerçou o seu
comércio europeu nas relações com as zonas costeiras de proveniência dos seus colonos e
com as principais praças de origem dos mercados forasteiros. Se no início os contactos eram
sazonais e se justificavam af>enas pelas necessidades do povoamento e governo da terra,
num segundo momento, vão ser feitos com assiduidade e mercê do comércio activo com a
Europa Ocidental.
Os cronistas do século XV e XVI referem com frequência a abundância de madeiras na
ilha que, em face da abertura de diversas frentes de arroteamento, condicionou um rendoso
comércio com o reino e outras partes e).
De acordo com mesma informação a exploração
das madeiras fazia-se em regime industrial com o objectivo de fabrico de embarcações,
mobiliário para a exportação e das caixas de açúcar para a embalagem do produto.
O impacte da exportação de madeiras foi de tal ordem que conduziu a alteração na técnica
de construção naval e civil do reino (4).
O comércio das madeiras foi, sem dúvida, a primeira actividade que constituiu uma
fonte de riqueza para os colonos e senhores da ilha, conforme se depreende do indeferimento
dado, em 1461, pelo Infante D. Fernando, ao pedido de isenção da dízima da sua
exportação (5).
O desgaste do parque florestal madeirense, provocado por este comércio lucrativo e
pelo uso da lenha na laboração dos engenhos, veio a condicionar os corte de madeiras e o
seu consequente comércio. Em 1503 tomava-se imperiosa a proibição do seu comércio por
naturais ou estrangeiros, restringindo-se o seu uso ao estritamente necessário (6); todavia,
quando havia grande necessidade, esta medida proibitiva era esquecida; assim sucedeu em
1508 com a saída de tabuado vinhático, paus, traves e chaprões para a fortificação das
praças portuguesas de Safim e MogadorC). Além disso o alto valor de algumas madeiras
como o cedro, condicionava a sua saída para algumas partes, como para Ruão (8). Essa falta
de madeiras resultante de anárquica exploração da floresta explica, em parte, a importação
da Flandres de madeira de cedro, em 1525, para a construção da Igreja de Machico (9).
Os contactos entre a Madeira e o reino, ao longo dos séculos XV e XVI, eram
constantes e faziam-se com maior frequência com os portos de Lisboa, Viana e Caminha; os
marinheiros e mercadores dos portos do norte, nomeadamente da região costeira e entre
Douro-e-Minho, frequentavam com assiduidade o porto do Funchal, para comerciar o
açúcar a troco de panos e carne eo). Aliás em 1505 o monarca, ao conceder aos madeirenses

e) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, 1968, 137-138, 84-85; Jerónimo Dias Leite, Descobri-
mentos da ilha da Madeira . .. , 20; Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações.. , in Saudades da Terra, Funchal,
1873, 400-471; Fernando Aúgusto da Silva. Pela História da Madeira, Funchal, 1497, 60-65.
(4) «Regimen Florestal», in Elucidário madeirense, voI. III, 181-184.
(5) A.R.M., C.M.F., registo geral, t. I, fls. 204-209, 3 de Agosto de 1641, «Apontamentos e capitolos do
ymfante dom Fernando para esta ylha.. , pubI. in A.H.M" XV, 11-20.
(6) lbidem, fls. 299-300 v. o, 4 de Maio de 1503, «carta dei Rey noso Senor sobre ha madeira e fazimeto de
navios e canareos desta ylha.. , pubI. in A.H.M.. n. O 1307, fls. 54-54 v. o, 56, vereação de 5 e 8 de Maio de 1546.
C) A.N.T.T., C.C., II-13-73, Il-14-144; II-15-37, 55, 56, II-16-5, documentos de 3 de Junho de I de
Setembro de 1508.
(8) Ob. Cit., pubI. in A Madeira vista por .estrangeiros, 86.
(9) A.N.T.T., C.C.. III 14-135, 27 de Abril de 1525.
eo) Em 19 de Fevereiro de 1498 o monarca ordenou que o comércio de panos de Entre~Douro-e-Minho para
a Madeira se fizesse apenas pelo porto de Caminha, (J.M. da Silva Marques, Os descobrimentos portugueses, III,
n. o 318, 482-483). O comércio das ilhas da Madeira e dos Açores com Aveiro era muito apreciável em princípios
do século, XV, veja-se «Foral de Aveiro de 1515 .. in Milenário de Aveiro, t. I, 297. Em 1551 refere-se o

148
a mercê da importação de carne dessa região, refere que «os meercadores e pessoas dessa
comarca têm e hão-de trauto dos açúcares que na dita ilha há ... », sendo um grupo bem
definido no comércio desse produto com o reino e com o Mar Norte ctt). Note-se que em
1523-1524 esse destino é referenciado com o merecido relevo e, em 1581-1584, Viana é o
único porto metropolitano referenciado no comércio do açúcarct z).
O Porto do Funchal actuava muitas vezes como intermediário entre o porto de Lisboa, e
a ilhas portuguesas do golfo da Guiné, nomeadamente para o comércio de peles de Cabo
Verde; isso se deduz do envio em 1523 de mil e duzentas peles de Cabo Verde pára
et
Lisboa 3 ).
A Madeira ofereceu ao mercador do reino, num primeiro momento, as suas madeiras e
o excedente de cereais; todavia, o principal comércio com o reino foi o açúcar, solicitado
desde o início pelos mercadores nacionais, que procuravam firmar o monopólio da rota
lisboeta. A ilha recebia em troca um grupo variado de produtos necessários a uso e consumo
quotidianos, como ferramentas, panos, tecidos, telha, louça, barro, ferro, carne, peixe, sal,
et
azeite 4 ); tudo isto a troco de açúcar e de reexportação de alguns produtos, como peles,
escravos, breu, algodão ct s).
A importação de louça fazia-se com assiduidade dos principais portos do reino como
e
Setúbal, Lisboa e Porto 6 ); de igual modo, as formas para o fabrico do açúcar deveria ser
proveniente do reino, nomeadamente da região do Barreiro, tendo em conta a escassez de
barro na ilha e o fraco desenvolvimento da olaria local.
O comércio açoriano com os portos do reino regia-se pelos mesmos princípios e
solicitações que o madeirense, apenas se alterando os produtos de troca. De facto enquanto
a Madeira oferecia o seu precioso açúcar, os Açores apresentavam um mercado mais
~vantajado com os cereais, o pastel, o gado e a esperança do contrãbando com as naus das
Indias de Castela e Portugal. Não obstante a posição dominadora do porto de Lisboa, a
documentação disponível aponta para a valorização do comércio com os portos de Entre-
-Douro-e-Minho, Buarcos, Aveiro e Tavira 7). e
Entre 1508 e 1538 nas embarcações assaltadas ao largo dos Açores surgem seis
oriundas do reino, sendo três de Buarcos, duas de Vila do Conde e uma de Tavira; as
primeiras transportam linho, estopa, couro, vinho e roupa do norte do país para os portos de
Ponta Delgada e Angra, enquanto a última vinha apenas para carregar trigoet s); em 1551

aprestamento no Cabo de S. Vicente do navio de Pero Rodrigues, oriundo dessa área, que conduzia açúcar da
Madeira para Flandres (Joaquim Veríssimo Serão, A embaixada em França de Brás de Alvide, 25). E, em 1533,
segundo Gaspar Frutuoso (Ob. CU., L.0 II, 411), um Penteado de Vila do Conde estivera ocupado no comércio de
açúcar com a Flandres.
(11) A.R.M., C.M.F.. registo geral, t. I, fls. 303 v.0-304, Lisboa, 15 de Março de 1505, carta régia, publ.
in A.H.M., XVII, 452-453.
(12) A.N.T.T., N.A., n. o 541, 724; Joel Serrão, «Notas sobre o eomércio de açúcar entre Viana do Castelo e
o Funchal>, , Revista de Economia. III, 209
e 3 o
) A.N.T.T., NA .. n. . 541.
(14) A.R.M., C.M.F .. registo geral, t. I, fls. 303 v. o 304, 2 de Novembro de 1483 «carta régia sobre o
comércio das carnes do norte», publ. in A.H.M.. XVII, 453-454; /bidem, t. I, fls. 204-209, 3 de Agosto de 1641,
.. Apontamentos e capitolos do ymfante dom Fernando pera esta ylha», publ. in A.H.M.• XV, 14; /bidem. fls. 238
v. 0 -249, 12 de Novembro de 1483, .. Resposta do duque a alguüs apontamentos sobre hos dereytos» , publ.
in A.H.M.• XV, 124; /bidem. fls. 118-118 v. o, 5 de Setembro de 1498, ..carta deI Rey noso Seiior em que manda
lamçar gibonetes aos moradores desta ylha», publ. in A.H.M.• XVII, 381, /bidem, fls. 337-340, 10 de Janeiro de
1512, regimento da guarda do mar, publ. in A.H.M. XVIII, 542.
e s ) A.N.T.T., N,A" n. o 541, 724.
e Ó
) A.R.M., C.M.F., n.o 1298, fls. 6 v. -7, I de Julho de 1485; /bidem, n.
0 O
1298, fls. 113-117.
(17) Veja-se .. Foral de Aveiro de 1515», in Milenário de Aveiro, t. I, 297; Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os
Açores e a nova economia de mercado (séculos XVI-XVII)>> in Arquipélago, III, 1981, 373; Joaquim Veríssimo
Serrão, oh. cit., 25, 36; Ana Maria Pereira Ferreira, .. Os Açores e o corso Francês na primeira metade do século
XVI ... », in Os Açores e o Atlântico (séculos X/V-XV/l) , Angra do Heroísmo, 1984, 290-292.
eB) Ana Maria Pereira Ferreira, art . cU. 25.

149
outras seis embarcações oriundas de Entre-Douro-e-Minho são apresadas por corsários
franceses.
Em síntese, o comércio de Entre-Douro-e-Minho com os Açores era muito importante,
activando uma rede complicada de rotas de fornecimento de panos e mais artefactos a troco
e
de trigo, carne e couros 9 ). De acordo com informação do monarca de 1517, o comércio
dos portos do norte do país assentava, fundamentalmente, no comércio de panos, que esta
área produzia e importava dos principais centros têxteis do norte da Europa eo).
Sendo tal região caracterizada por uma importante produção de linho, estopa, e seda,
fornecida de importantes centros têxteis, lógico seria admitir a necessidade de activação do
comércio das plantas tintureiras de produção açoriana, mas escasseiam as notícias acerca de
tal comércio, pois ele é referenciado apenas por duas vezes; a primeira surge no Censual da
Mitra do Porto de 1541, em que é mencionado «o pastel que vinha das ilhas»; a outra está
exarada nos registos de entrada de navios na barra do Douro onde em 1597 se apontou o
navio ,,5. João», propriedade de Pero de Coresma, mercador de S. Miguel, que aí apartou
com pastel da mesma ilhae 1 ).
O comércio canário com a a península desenrolava-se em quatro frentes: Andaluzia,
Galiza, Catalunha e Portugal. No entanto a área atlântica andaluza, circunscrita às praças de
Cádiz e Sevilha, dominava esse trato comercial com as ilhas de Tenerife e Gran Canariae2 ).
O comércio com estas áreas penínsulares incidia, fundamentalmente, em produtos
alimentares (cereais, açúcar, queijo), matérias-primas (madeiras, couros, pez) e escravos
que os insulares trocava.'11 por panos, azeite carne' salgada e manufacturas diversas.
Segundo Manuel Lobo Cabrera o principal móbil do comércio com Portugal, na
primeira metade do século XVI, era o cereale3 ). Desde 1504 que se activou o comércio a
partir de Tenerife com os portos de Tavira, Faro, Lagos, Lisboa, Viana. Aos cereais
juntaram-se, a partir de 1569, os vinhos de Gran Canaria, que terão importância primordial
na~ trocas do reino (Lisboa, Setúbal), para a Guiné, Cabo Verde e São Tomé 4 ). A estes e
produtos, que activaram as trocas entre as Canárias e Portugal, 'vieram juntar-se outros
como o pez, açúcar, escravos.
A contrapartida portuguesa à oferta canária baseava-se num grupo variado de produtos
e artefactos necessários ao consumo e produção insular. Saliente-se que no século XVI, em
face da escassez de cereais nas Canárias, a ilha de Gran Canaria procurou o seu abasteci-
mento nos portos de Lisboa e Aveiro s ). e
e 9
) Valentim Fernandes (1506-1508) refere que na Terceira exportava muita carne e sebo para o reino
(Viriato Campos, Sobre o descobrimento e povoamento dos Açores. Lisboa, 1983, 35). Aliás em 1512 há notícia
do comércio de couros das Ilhas em Lisboa (Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa.
(,ivro de Reis, IV, Lisboa, 1859, p, 231, n. o 100, alvará de 8 de Maio.) E em 1551 é referido o apresamento em
~ilrita Maria de uma embarcação com gado (J.M. Serrão, oh. cit.. 25). ° comércio de linho do reino deveria ser
igualmente importante, pois Gaspar Frutuoso (ob, cit.. I. o IV, vol. II, 199) refere esse comércio, sendo
corroborado pelas presas de navios em 1508 e 1538.
eo) Maria Olímpia da Rocha Gil. "Os Açores e a nova economia de mercado ... ".375; Sobre o comércio
de tecidos do norte de ,Portugal; veja-se Ana Maria Ferreira, A importação e o comércio textil em Portugal no
século XV (1385-148/). Lisboa, 1983; João Cordeiro Pereira, Para a História das alfândegas em Portugal/ .. . /,
e
Lisboa. 1983. 1)Candido A.O. Santos. corno o pez, açúcar, escravos.
(21) Candido A.O. Santos. O Censual da Mitra do Porto/ ... /, Porto, 1973, 347; LA. Pinto Ferreira,
Visitas de saída às embarcações entradas na barra do Douro nos séculos XVI e XVIl. Porto, 1977, 94-95.
e 2
) A. Cioranescu, ob. cit., I, 318-319; II, 20; Francisco Moralles Padron, "Canarias en el Archivo de
Protocolos de Sevilha", in A.E.A, n. o 10. 1961,252; Manuel Lobo Cabrera, Protocolos de Alonso Gutiérrez.
35-37; F. Clavijo Hernandez, "Los documentos de fletamentos ... ", 45; José Maria Madurell Marinón, "Los
seguros y el comercio en las islas de la Madera y Canarias". in A.E,A, n. o 5. 488; Eduardo Aznar Vallejo,
ob. cit.r 339-342.
e 3
) Manuel Lobo Cabrera, ..El comercio entre Portugal y Canarias en el quinientos ... ", in Congresso
Internacional. Os descobrimentos e II Europa do Renascentismo, Lisboa, 1983 (no prelo).
e 4
) Manuel Lobo Cabrera. La esclavitud en Las Canarias orientales em el siglo XVI. Las Palmas, 1982; A.
Cioranescu, ob. cit.• II, 21.
e s ) A.H.P.L.P., Protocolos Bernardino de Pedro de Cabrejas, n.o 856, fI: 43; Idem, Protocolos de

150
A manutenção e incentivo do comércio das Canárias em Portugal dependeu, em grande
medida, da forte presença da comunidade portuguesa nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife;
de um modo geral o comércio e o transporte eram assegurados por portugueses, que
surgiram nestas ilhas sob a condição de estantes 6 ). e
Se no caso das relações das ilhas com os reinos peninsulares os laços e imperativos de
soberania destes territórios, aliados á tendência monopolizadora da burguesia metropolitana,
impuseram um estreitamento de contactos e de comércio com a Península, no que respeita
aos mercados nórdico e mediterrânico as ilhas afirmaram-se pelos seus produtos, impostos
pela nova economia de mercado, o açúcar e pastel. Pàra além disso, as insuficiências da
indústria peninsular traduziam-se muma procura de novos mercados capazes de satisfazer o
gosto, cada vez mais apurado da nova aristocracia e da nova burguesia; se é certo que os
artefactos de uso diário poderão ser encontrados na península, outros há que escasseiam nas
suas praças, havendo necessidade de os importar de Itália, Flandres e Inglaterra. Para esta
nova classe dirigente a ostentação da riqueza surge como uma forma de afirmação social e
política, sendo exteriorizada por meio do uso de produtos flamengos e italianos; deste modo.
os panos peninsulares são preteridos em favores dos riquíssimos tecidos de Ypres, Ruão e
Londres.
Na Madeira esta ostentação traduz-se na compra de uma campa em Flandres ou na
aquisição de valiosas pinturas flamengas que depois ornamentavam as capelas dos morgados
mais importantes da ilhae 7 ). Em 1546, João Lourenço Leitão refere ter comprado o
retábulo de Nossa Senhora da Piedade do Mosteiro de S. Francisco em Flandres por trinta e
e
sete mil reais s ). E, em 1566, quando do assalto francês à cidade do Funchal, Frutuoso
refere o saque de valiosos móveis, «porque pela maior parte, pelo trato dali, a mais e maior
riqueza daquela terra eram jóias e ricas peças de móveis ricos, que mandavam fazer de
Flandres e outras partes pelos constantes e forasteiros, a troca de mercadorias da terra e de
suas novidades, sem estimarem nem sentirem a compra e custo de semelhantes coisas, ainda
e
que custosas ... " 9 ).
Gaspar Frutuoso referindo-se a S. Miguel, dá conta que Diogo Nunes Botelho, um dos
principais proprietários da ilha, mandava vir de Flandres, Inglaterra e Sevilha alfaias e
vestidos a troco do pastel eo).
Para a burguesia ou para a aristocracia insulares, enriquecidas com o comércio do
açúcar ou do pastel, os créditos arrecadados serviam apenas para a sua ostentação e
afirmação no acanhado meio em que viviam. As restrições impostas pelo meio geográfico
impelem-nas para essa forma de investimento do capital, pondo de >parte a sua possível
revalorização na actividade de troca.
O pastel, o açúcar e o vinho àtraíram os mercados europeus que invadiram o mercado
insular com os vários artefactos e produtos alimentares.
Nas ilhas dos arquipélagos da Madeira e Canárias as relações com o mercado italiano e
levantino surgem, desde o século XVI, sedimentad.as pelos mercadores e agentes das

Bernardino Rosales. n. o 889, fi. 149, idem, ibidem, 888, fi. 599 v. o, citados por Manuel Lobo Cabrera, "EI
comercio entre Portugal y Canarias ... ".
("6) Manuel Lobo Cabrera (lbidem) refere que 70 % das transacções com Portugal foram feitas por
portugueses e destes cerca de 54 % são originários dos portos do destino, entre os quais Lisboa, Porto, Lagos e
Tavira. Veja-se ainda Manuel Lobo Cabrera, Grupos humanos en la sociedad cana ria dei siglo XV/o Las Palmas,
1979; Elias Serra Raf()ls, Los Porltlgueses en Canarias, La Laguna, 1942.
(27) No testamento de Rui Mendes de Vasconcellos de 16 de Abril de 1519 refere-se que este mandara vir de
Flandres uma campa para a sua sepull1.lra (A.R.M. Misericórdia do Funchal. n. O 684, fls. 54-54 v. O). Sobre a
compra de pintura flamenga ii troco de açúcar pela a iiristocracia fundiária madeirense, veja-se Manuel ç. de
Almeida Cayolla Zagallo, A pintura dos slfculos XV e XVI da ilha da Madeira, Lisboa, 1943; João Couto, Os
painéis flamengos da ilha da Madeira, Funchal, 1955.
("8) A.R.M.• J.R:C .. fls. 359 v. o-365, testamento de 16 de Março de 1546.
e 9 0
) Saudades da Terra, L. II, 333.
eo) Ibidem. L.0 IV, vaI. II, 65-67.

151
principais sociedades italianas, que participaram activamente no lançamento dos fundamen-
tos desta sociedade insular.
Desde meados do século XVI que a Madeira penetrara com o açúcar nos mercados
nórdico e mediterrânico e estabelecera rotas de comércio com as principais praças dessas
áreas; o açúcar madeirense passou, desde então, a circular com abundância no mercado
europeu, concorrendo com o da Sicília e Medinae 1 ).
A importância do comércio com as praças da Eucrásia, Bruges, Flandres e Meldeburgo
toma-se bem clara, já em 1485, em face da interdição desse trato e suspensão dos
privilégios aos mercadores flamengos aí residentes (32). Esta era a forma de represália mais
adequada contra a guerra nestas paragens.
Para os portos nórdicos exportava-se quer açúcar, pastel e urzela, quer algodão e
e
escravos 3 ); em troca, a ilha recebia os panos (Londres, Escócia, Ruão) , cereais e peixe
seco ou salgado 4 ). e
Nos contactos com o mundo mediterrânico distinguem-se três áreas: as praças espanho-
las de Sevilha, Valência e Barcelona, as cidades italianas (Génova, Veneza, Livorno) e o
Levante. As primeiras funcionaram como mercado de consumo do açúcar, e centros de
e
redistribuição deste produto no mercado levantino s ). Para a última região bem como para
as cidades italianas, além do açúcar, exportavam-se escravos, tábuas de cedro e vinhático
urzela, pastel e couro, a troco de panos, trigo e objectos de luxoe 6 ). Dos portos de
Barcelona e Valência recebiam-se habitualmente os panos de Castela, que surgem com
e
muita frequência no mercado madeirense 7 ). Muito antes de 1417 os panos castelhanos, de
importação directa ou indirecta, vendiam-se no mercado madeirense, pelo que o monarca
definiu como forma de represália, em face de guerra com Castela, a queima dos que
estivessem à venda e s ). Nesta última década quatrocentista está documentado o comércio
desses panos e de cereais a partir da costa da Catalunha, Valência, Cádiz, a troco de
açúcare 9 ).

C1 ) A.R.M., C.M.F., t. I, fls. I-I v.o, 14 de Julho de 1469, carta do infante D. Fernando sobre o trato do
açucar, aí refere a concorrência do açúcar da Sicilia e Medina, publ. in AB.M., XV, 45-47.
(32) Ibidem. fls. 21-22 v.o, 22 e 23 de Junho de 1485, alvarás régios sobre o comércio de açúcar, publ. in
A.H.M.,XVI, 187-188.
C3 ) A 7 de Julho e 1524 Pero Anes despachou em Santa Cruz para Londres no navio de Francisco Lopes
trinta quintais de urze1a; a 12 de Julho, Manuel de Brito despachou para Flandres no navio de Vasco Domingues
duas sacas de algodão; a 9 de Setembro o rendeiro João Gonçalves Ferreira e Diogo Lopes despacharam, cada um,
uma escrava para Londres no navio de João Esteves (A.M:T.T., N.A. n.o 724). A única exportação de pastel que
se conhece na Madeira doi feita em Março de 1537 por Diogo Gonçalves no navio Santa Maria das Areias, para
Flandres (V. Rau, A exploração e o comércio de sal em Setúbal, Lisboa, 1961).
C4 ) Em 26 de Fevereiro de 1596 Joam de Berberage e Garcês (?), alemão, declarou em vereação cento e
cincoenta caixas de sardinha e trinta varas de pano da Escócia (A.R.M., C.M.F., n.O 1312, fl. 22). Em diversos
testamentos da Misericórdia do Funchal surgem algumas referências a panos dessas proveniencias; Veja-se
A.R.M., Misericórdia do Funchal, n.o,712, fl. 52 v.o, 19 de Agosto de 1511, pano de Londres; Ibidem, n.o 684,
fl. 153 v.o, 27 de Novembro de 1560, pano de França; Ibidem. n.O 684, fls. 640-642, 26 de Novembro de 1589,
pano de Ruão; ibidem, n.o 710, fi. 17-21, 13 de Maio de 1490, pano de Ypres. Em 1531 Álvaro Pardo de Ruão
envia três navios bretões com trigo e panos de Ruão para carregar açúcar e especiarias em Sevilha ou Lisboa (M.
MolIat, Le comerce maritime normand ... , Lisboa, 1925, 163.
CS) Domenico Gioffré, Documenti sulle relazioni fra Genova ed ii Portogallo dei 1493 ai 1539. Roma,
1961, 180-182; José Maria MadurelI Marinón, art. cit .. does. n.o 3 e "46.
(36) Virginia Rau, Portugal e o Mediterrâneo no século XV ... , Lisboa, 1973, 15, Jacques Heers, Genes au
XV- siécle, Paris, 1971, 317. A 10 de Janeiro de 1524 Esteano Romano despachou em Santa Cruz na nau de
Simão Vaz ,para Livomo, vinte tábuas de vinháticos e cedro, três escravos e uma escrava e noventa couros de Joam
Novo (A.N.T.T., N.A .. n.o 724).
C7) Nos testamentos da Misericórdia do Funchal surgem algumas referencias a panos de Castela: A.R.M.,
Misericórdia do Funchal, n.o 684, fi. 336, 25 de Março de 1507; lbidem, n.o 684, fi. 326 v.o, 28 de Abril de
1541; lbidem, n.o 684, fi. 153 v.o, 27 de Novembro de 1560.
CS) A.R.M., C.M.F.. n.o 1296, fl. 24 v.o, vereação de 7 de Agosto de 1471.
C9) José Maria MadurelI Marinón, art. cit., 489, 502-507.

152
o comércio canário, baseado nos mesmos produtos que o madeirense, será um forte
concorrente na disputa dos mercados nórdico e mediterrânico (40). Os produtos dos dois
arquipélagos surgem, lado a lado, nas praças de Londres, Anvers, Ruão e Génova. A única
vantagem do madeirense resultava deste arquipélago ter sido o primeiro a penetrar com o
açúcar e o vinho no mercado europeu, ganhando a preferência de vendedores e consumidores.
O comércio deste arquipélago com as principais praças europeias fazia-se com assi-
duidade a partir das ilhas de Oran Canária e Tenerife; este movimento comercial terá
adquirido uma importância primordial nas trocas externas do arquipélago uma vez que no
período de 1549 a 1555 há notícia de cinquenta e oito partidas ou chegadas de navios no
percurso de Anvers às Canárias (41).
Segundo A. Cioranescu o comércio da ilha de Tenerife fazia-se com maior assiduidade
com os Países Baixos, sendo apenas limitado pelas guerras e pelos conflitos religiosos (42);
contudo o tráfico mais importante do porto de Santa Cruz orientava-se no sentido da
Inglaterra, baseando-se na oferta de vinho e urzela(43); esse. comércio deveria ser resultado
da abertura do porto de Bristol ao tráfico com as Canárias, proposta em 1538 por Carlos V(44).
Na ilha de Oran Canaria o comércio nórdico, nomeadamente com a Flandres, estava
em função do açúcar; no entanto os flamengos só surgem aí a partir de 1532 e, com toda a
pujança, na década de 50 (45); esta ilha recebia uma variedade de produtos manufacturados
de que sobressaem os tecidos de diversas qualidades, oriundos dos mercados de Anvers,
Ruão, Holanda e Gante (46); estes produtos eram transaccionados com dinheiro e açúcar por
mercadores genoveses e flamengos, distinguindo-se neste grupo Bernardino Anehesi,
Jerónimo Lerca, Lamberto Broque, Sébastian Búron e Jerónimo Fránquez.
No arquipélago açoriano o comércio europeu orientava-se fundamentalmente, para as
praças nórdicas (Inglaterra, Flandres, Holanda), com uma indústria textil importante, uma
vez que este arquipélago era um dos principais produtores de pastel de mercado insular no
século XVI (47).
O comércio das ilhas com o litoral africano fazia-se com maior assiduidade a partir das
Canárias do que da Madeira ou dos Açores; mas a Madeira, no século XV, manteve uma
acção muito importante nesse comércio, quer como porto de escala, quer como entreposto
de comércio. Os madeirenses tiveram uma participação activa nas viagens de exploração
geográfica e no comércio no litoral africano, surgindo o Funchal, nas últimas décadas do
século XV, como um importante entreposto de comércio de dentes de elefante (48).

(40) F. Clavijo Hcmandez, «Los documentos de fIetamentos .. ,,,,48; E. Marco Dorte, «Descriptién de ~as
yslas Canárias", in Revista de História. IX, 1943, 203; Manuel Lobo Cabrera, La esclavitud em las Cananas
arientales en el siglo XVI, 161-162. •. . .
(41) E. Stols, «Les Canaries et l'expansion coloniales des Pays-Bas mendJOnaux ... " ln IV .C.H.c..~"
vol. I, 908; J.A. Goris, (Ob. cit., 157, 165, 167) refere o envio de três naus de Anvers (1508-1540) as Cananas
para comprar açúcar.
(42) Ob. cit., II, 21-23. • . . . .
(43) A. Cioranescu, ob. cit .. II, 23; Francisco Morales Padron, Cedul~:'o de Canar~~s. vaI. I, ~evllh~,
1970, o. 368, n. o 285, 4 de Maio de 1583; E. Conzález Yanes, «lmportaclOn y exportac\on en Tenenfe", ln
Revista de História. n. o 101-104, 82. Em 1557 Thomas Nichols Cab. cit., 85) teria exportado para Inglaterra peles
de. cabrito.
(44) Clarence H. Haring, oh. cit .. 23.
(45) Manuel Lobo Cabrera, •• EI comercio entre Gran Canaria y Flandes hasta 1558 ... 32-33.
(46) Idem, Indices y Estractos . .. 16, 45; 1. A. Goris, ob. cit .• 295-306.
(47) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 IV, vol. II, 16; Carreiro da Costa, «A cultura do pastel nos
Açores ... ", 16-17. Em 1571 Fernão Jacques, mercador flamengo, despachou fazendas em Ponta Delgada ~ara
comprar pastel (B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto . .. Extractos de Documentos Michaelenses", vol. V. L. , 1
do registo da alfandega de Ponta Delgada, fi. 248). . . .
(48) A.R.M., C.M.F .. registo geral, t. I, fi. 146-146 v.o, 25 de Junho de 1470, carta regIa, pubI. ln A.H.M.
XV, 51-52; Ibidem,fIs. 274-274 v. o , 24 de Maio de 1497, carta régia, publ. in A.H.M., 366-367; A. A. SannenlO,
A Madeira e as praças de África. Lisboa, 1932, 46-47.

153
20
As facilidades concedidas pela coroa portuguesa ao comércio com as praças marroquinas
e do golfo da Guiné conduziram à intensificação do comércio madeirense no litoral
africano (49); tomava-se necessária a abertura do comércio naquele golfo da Guiné como
forma da Madeira adquirir a mão-de-obra escrava necessária à laboração do açúcar.
Saliente-se que na segunda metade do século XVI a crise açucareira é atribuída pelos
madeirenses à falta de escravos africanos, pelo que em 1562 a coroa autoriza os produtores
de açúcar a enviarem, por prazo de dois anos, duas embarcações para os adquirir à Guiné e
Cabo Verde (50). Cinco anos volvidos nova autorização faculta a aquisição de escravos,
anualmente, em Cabo Verde ou outras partes (51).
Em resumo, o comércio madeirense na costa ocidental africana desenrolava-se em mais
de uma frente: praças marroquinas, Cabo Verde e Golfo da Guiné. Para a primeira a ilha
fornecia vinho, vinagre, trigo a troco de gado vacum e miúdo (52); na segunda e na terceira
trocava o vinho por couros finos, peixe salgado,chacina e escravos (53). O açoriano
alheara-se, quase por completo, do comércio com o litoral africano, pois o seu distan-
ciamento em relação a esta área, e a sua forma de exploração económica, não o favo-
reciam (54); os contactos e a permuta, que se restringiam à costa marroquina, estabeleceram-
-se por imposição régia, tendo como finalidade o abastecimento em cereal das praças
portuguesas (55); tal comércio ter-se-ia iniciado no terceiro quartel do século XV, altura em
que a Madeira se achava impossibilitada de o fazer, não obstante a referência do primeiro
envio de cereal surgir em 1516(56); a rota de abastecimentos orientava-se na direcção das
praças do sul (Azamor, Mazagão, Santa Cruz, Safim). A partir do século XVI a coroa
coloca nela o seu empenho, definindo-a como prioritária no escoamento do cereal açoriano;
a sua arrecadação e envio fazia-se por meio de regimento real, entregue aos contratadores de
Lisboa que tinham nas praças de Angra e Ponta Delgada os seus representantes (57). Deste
modo esta rota, para além de ser imposta pela coroa, tinha o seu ponto de origem em Lisboa
e nos Açores apenas a escala de carga, (nos portos de Ponta Delgada e Angra); por vezes o
porto dó Funchal servia-lhe de escala de apoio ou de redistribuição do cereal para as praças
marroquinas.
O comércio canário na costa africana era muito activo, actuando os vizinhos deste
arquipélago, quer na Berberia, quer na Guiné e em Cabo Verde; na primeira área todo o
movimento comercial girava em tomo da Torre de Santa Cruz de Mar Pequena, tendo como

(49) Ibidem, fIs. 274-274 v. o , já cotado; idem, DA., cxa. II, 189, 1 de Agosto de 1561, carta de
D. Catarina autorizando o envio por dois anos de duas embarcações a Safim e Cabo Gué a comerciar; Ibidem,
cxa. II, 181, 6 de Novembro de 1567, sobre o mesmo do anterior.
(50) Robert Ricard, «Les places luso-marocaines et les iles ... ", in Anais da Academia Portuguesa de
História, lU, Lisboa, 1949, 402-410.
(51) A.R.M., D.A., cxa. II, 193, Lisboa, 16 e 30 de Outubro de 1562, autorização para o resgate de
escravos na Guiné e Cabo Verde por dois anos.
(51) A. A. Sarmento, ob. cit.. 47. Em ·1551 Jerónimo Fernandes de Lisboa importou trinta mil chacinas de
Cabo Verde (A.R.M., C.M.F., n. o 1309, fls. 102 v. o , 23 de Janeiro) e em 1596 João Gonçalves vendeu trezentas
chacinas de Cabo Verde a reis o arratel (Idem. n. o 1312, fi. 34, 27 de Abril).
(53) Idem, C.M.F., registo geral, t. III, fls. 137 v. o-138, Lisboa, 15 de Setembro de 1567, licença para o
resgate de escravos em Cabo Verde por cinco anos. Veja-se A. A. Sarmento, Os escravos na Madeira, Funchal,
1938; Frédéric Mauro Le Portllgal et I'Atlantiqlle au XlIle siécle ... 185; Vitorino Magalhães Godinho, Os
descobrimentos e a economia mundial, vaI. IV, 171.
(54) Gaspar Frutuoso (ob. cit., L.o m, 1971, 178) refere que em 1572 apartou à ilha de Santa Maria um
patacho de Arguim com cação.
(55) Helder de Sousa Lima, Os Açores e a economia atlântica . .. , 173-178; Alberto Vieira, «A questão
cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVI. .. ", 16-167, 174-176, 179; Maria Augusta Limá Cruz, ,,0 trigo
acoriano em Marrocos (século XV!)", in Os Açores e o Atlântico (Séculos XIV-XVI!), Angra do Heroísmo, 1984,
625-648.
(56) Alberto Vieira, ibidem, 164-167, 174-176, 198-199.
(57) lbidem, 164-167.

154
objectivo fundamental o comércio de escravos negros (58). A intervenção canária assumia o
triplo aspecto de comércio. assalto e resgate (59).
O tráfico com as praças portuguesas baseava-se no abastecimento de cereais sendo o
arquipélago utilizado apenas como escala para as embarcações que partiam de Lisboa ou
Sevilha (60).
Segundo Teixeira da Mota «as Canárias constituíam o principal foco das navegações
clandestinas dos castelhanos para a Guiné», envolvendo nesse tráfico ilegal pilotos portu-
gueses ao serviço dos mercadores castelhanos ou nacionais (61). O principal móbil dessa rota
era o comércio de escravos, que se intensifica a partir de meados do século XVI. O porto de
Las Palmas surge nesse contexto não só como importante mercado de comércio de escravos
com a Europa, mas também como centro de despacho de escravos para as Índias ou de
expedições a Cabo Verde e à Guiné, com a finalidade de transportar escravos ao litoral
americano (62).
Este comércio organizado a partir das Canárias ou de Cádiz, era de um modo geral
ilegal, sendo feito à margem da casa de Guiné. Perante isso o monarca português reclama
em 1516, junto da coroa castelhana, contra os assaltos canários em AndeI e Guiné, ao
mesmo tempo que, em 1549, envia Aires Cardoso a residir nas Canárias com a dupla
finalidade de adquirir vinho para as armadas da India e «de vigiar e olhar os que daly armao
muytas pesoas para a Mina e Costa da Guiné e levam mercadorias defesas com que
tratam» (63).
O comércio canário-americano no .século XVI aparece como uma grande esperança
de fonte de riqueza para a população peninsular avizinhada no arquipélago (64). A
implementação desta rota de comércio transatlântico resulta de uma multjplicidade de
factores que a favoreceram e intensificaram; ao factor geográfico alia-se oeconámico e
o político, pois a manutenção da rota não resulta exclusivamente da posição do arqui-
pélago no traçado das linhas marítimas que ligam Sevilha à América, mas também
porque uma série de condicionantes favorece esses laços; nela, são de realçar a disponibi-
lidade de recursos humanos, técnicos, materiais e a relativa liberdade comercial até
1564(65).
A criação da Casa de la Contractacíón em Sevilha (15'03) veio dificultar o comércio
das Canárias, fazendo-o depender de um regime de licenças anuais. Todavia os canários
escapavam-se com facilidade ao olhar atento do juíz oficial, pelo que a coroa, penalizada

(58) Pierre Chaunu, Séville et [,Atlantique, t. VIII, vaI. I, 351-353; A. Rumeu de Armas, «La Torre de
Santa Cruz de Mar Pequena, em segunda fundación», inA.E.A .. n.o 1 1955,397-477; Idem, Espana em el Africa
Atlanrica, 2 volsr, 1956-1957, 530-533, 556; Idem, Piraterias y ataques navales contra las islas Canarias, vaI. I,
Madrid, 1947,348; Idem, Las Viajes de John Hawkins a América (1562.]565). Sevilha, 1947, 80-86.
(59) Gaspar Frutuoso (ob. cit., L. ° I, 82) alude que o comércio com a Berberia fazia-se a partir de
Fuerteventura. Veja-se Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., 338; Avelino Teixeira da Mota, «Viagens das Canárias à
Guiné no século XVI.. "', in III C.H.C.A .. vol. II, 223.
(60) Maria Augusta Lima Cruz, art. cit.. 639-645; Manuel Henrique Corte Real, A feitoria portuguesa na
Andaluzia (/500-1522), Lisboa, 1967.
(61) Oh. cit., 231-233.
(62) Manuel Lobo Cabrera, La esclavitud en las Canarias orientales en el siglo XVI, Las Palmas, 1980;
Idem, «Relaciones entre Gran Canaria y Índias ... ", 132-133; Francisco Morales Padrón, "Fondos canarios en el
Archivo de Índias» in A.E.A., n. o 24-25; 464, 523.
(63) Archivo General de Simancas, Registo General deI Sello, 27 de Agosto de 1516; A.N.T.T., Colecção
de S. Vicente, livro 5, fls. 366-367 v. o • cito por A. Teixeira da Mota, art. cit., 225.
(64) Sobre o comércio com a América vejam-se os estudos de Francisco Morales Padrón, José Peraza de
Ayala, António Rumeu de Armas, Augustin Guimera Ravina e Manuel Lobo Cabrera, na Bibliografia.
(65) A. Guimera Ravina, «Canarias en la carrera de Índias (1564-1778)", in Historia General de las islas
Canarias. IV, 170; Idem, "La financiación dei cometcio de Garachjco con las islas (1566-1612) .. in II C.H.C.A ..
vol. 1,261-282; Francisco Morales Padrón. «Las relaciones'canario-americanas», in Historia General delas islas
canarias. m, 322-323.

155
nos seus interesses e monopólio, procurou coibir os insulares dessa prática, criando, a partir
de 1564, juízes de registo para ilhas, nomeadamente em La Palma, Tenerife e Gran
Canaria (66). Esta necessidade de regulamentação rigorosa do trato comercial resultava do
intenso contrabando feito a partir das ilhas, por castelhanos e portugueses aí residentes ou
estantes.
O principal móbil de tal comércio era, sem dúvida, o vinho canário, as manufac-
turas europeias e os escravos; estes eram transaccionados por portugueses e caste-
lhanos, num circuito de triangulação que envolvia as Canárias, Cabo Verde e o litoral
americano (67).
Para a Madeira e os Açores o destino e mercado americano surgia de modo muito
diferente; não há referência a um comércio assíduo com ele; os vizinhos de ambos os
arquipélagos situam-se numa posição excêntrica e só muito mais tarde se aperceberam das
possibilidades da troca nesses domínios; de facto apenas a partir de finais do século XVI
açorianos e madeirenses penetrarão em força com o seu vinho no mercado americano; até
lá restava-lhes aguardar a chegada das naus da Índia e Índias e aspirar por um lucro fácil
com o contrabando (68); mas os monarcas peninsulares fizeram gorar essas aspirações por
meio de um apertado sistema de vigilância às naus das rotas, a partir das ilhas das Flores
e Corvo.
O porto do Funchal, não obstante a sua posição marginal em relação ao traçado das
rotas de retorno, manteve uma acção importante nesse comércio ilegal. Em 1520 o monarca
português recomendava à Fazenda Real na ilha o maior cuidado no envio ao reino de
mercadoria da nau de D. Diogo de Lima, que aportara ao Funchal com mercadorias da
Índia (69); e em 1581, Filipe I de Portugal solicitava o maior zelo e ligeireza na descarga de
uma nau que aí chegara com ouro, prata e mercadorias das Índias COlo
Em face destas eventualidades, Filipe I proibiu terminantemente qualquer aportagem e
descarga das naus oriundas das Índias no porto do Funchal, mandando proceder contra os
transgressores; segundo diz, era usual «alguns navios, caravelas cabreas, urcas e patachos
derrotados e em outra maneira, de alguns puertos e partes de las Índias deI Mar Oceano com
oro, plata, mercadorias y todas cosas contra las ordenanças de la dita casa de la contratación
da ciudad de Sevilha" (71).
As figações entre a Madeira e o litoral americano incentivaram-se, após a quebra de
produção açucareira, com o crescimento do comércio do vinho madeirense; um e outro
produto estão, de resto, ligados. A falta de açúcar no mercado madeirense e a sua incessante
procura levou os mercadores, ligados ao seu tráfico nesta praça, a especular com o açúcar
brasileiro, fazendo-o passar como da Madeira; em 1596, por exemplo, João Gomes de
Castro, fidalgo, e António Francisco, mercador, fretam um navio para transportar do Brasil
quinhentas arrobas de açúcar a fim de ser baldeado numa nau francesa de Gran Canaria com
destino a Sevilha ou San Lúcar(72).

(66) Idem, Canárias y América . .. , 37-38; A. Cioranescu, ob. cit.. II, 42-43.
(67) Manuel Lobo Cabrera, .Gran Cànaria y Índias ... », 130-131; A. Cioranescu, ob. cit., 59; Francisco
Morales Padrón, .Canarias en los cronistas de Índias», in A.E.A., n.O lO, 1964, 222-225.
(68) Eufemio Lorenzo Sanz, ob. cit., voI. II, 27; Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das Índias
no século XVI, Lisboa, 1983 (sep.); Helder de Sousa Lima, ob. cit., 241,264 Antonia Heredia Herrera, Catálogo
de las consultas dei Consejo de Indias, vol I, 169. Em 1578 o provedor das armadas mandara proceder contra a
nau de Pantaleão Saavedra Domingos (B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Cantd, .Extractos de Documentos
Michaelenses., vol. VIII, n.o 219, 19 de Junho de 1578).
(69) A.N.T.T., c.e., II-89-137, 26 de Abril de 1520.
('0) A.R.M., D.A., cxa. II, 215, Sintra, 3 de Outubro de 1581; V. Fernandes Asis, Epistolario de Filipe
m, Madrid, 1943, p. 223, n.o 1114, Lisboa, 13 de Janeiro de 1582.
(71) Idem, C.M.F., registo geral, t. I, fi. 216, referenciado por Jael Serrão, "Holandeses e ingleses em
portos de Portugal no domínio filipino •• , in D.A.H.M., n.o 3, 1950. 9-13.
('2) José Gonçalves Salvador, Cristãos novos e o comércio no Atlântico meridional, S. Paulo, 1978,
253-257.

156
Conhecido esse comércio fraudulento o monarca exarou a sua proibição em 1591 (73).
No entanto os mercadores naturais ol,l estantes na ilha teimavam em manter esse comércio
especulativo com o açúcar brasileiro, pelo que os vereadores e procurador do concelho
reclamam junto da coroa, referindo o prejuízo causado por essa prática aos lavradores de
açúcar e à Fazenda Real (4); em resposta, Filipe I dá força à provisão de 1591, ordenando
«que nenhum navjo que vier asuquares ou quoaisquer outras fazemdas das partes do
Brazil. .. não possa descarregar em outro aUgum senão nos portos deste rejno omde
presentarão certidam dos portos domde partirem ... não possam yr descarregar aos portos
da dita ilha da Madeira ... " (5).

(3) A.R.M., C.M.F.,.registo gera!., t. III, fi. 44 v.o, carta régia sobre a descarga de açucar do Brasil.
(4) A.R.M., D.A., cxa. IV, 504, vereação de 17 de Outubro de 1596.
(5) lbidem, t. III, fls. 12 v.o-14 v.o, Lisboa, 3 de Dezembro de 1598, petição da camara do Funchal sobre o
açúcar do Brasi!.

157
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
CONCLUSÃO
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
Nesta análise comparativa dos três arquipélagos atlânticos (Canárias, Madeira e
Açores) evidenciamos a similitude do processo de desenvolvimento sócio-económico,
diferenciado apenas nas assimetrias naturais e na diversa política das coroas peninsulares.
Tal circunstancialismo salientou-se como um mecanismo propiciador de uma constante
aproximação destas dezoito ilhas, sendo concordante com o epíteto comum de Mediterrâneo
Atlântico. criado e consagrado pela historiografia ocidental.
Este Novo Mundo insular, colocado às portas do Atlântico Sul, não foi apenas ponto de
lançamento para a afirmação da hegemonia peninsular no Atlântico. Mais do que isso,
evidencia-se nestes dois séculos como uma área adequada às necessidades e solicitações da
nova economia de mercado. As palpitações do ilhéu surgem nesse rumo, que traçou uma
selecção criteriosa dos produtos e técnicas. As coroas e as gentes peninsulares intervêm
constantemente neste mercado, que criaram e lançaram nas praças europeias.
À permanente e sempre actuante comunidade peninsular associam-se desde o início os
elementos mais proeminentes do tráfico internacional nórdico e mediterrânico. Na Madeira
e nas Canárias as colónias italiana e flamenga, esquecem os conflitos religiosos e unem-se
em prol de uma causa comum: o comércio. Italianos e flamengos aparecem nesses
arquipélagos atraídos pelo comércio do açúcar, tal como os ingleses aparecem nos Açores
impelidos pelo trato do pastel.
As rotas de ligação do mundo insular às suas origens europeias foram, sem dúvida, as
mais importantes do comércio externo das ilhas nos séculos XV e XVI. A sua manutenção e
intensificação resultaram da existência de produtos e mercados adequados às troCas europeias.
Ao europeu ~s ilhas surgem, como um novo mercado capaz de suprir as suas necessidades
ou solicitações e, ao mesmo tempo, de consumir os seus artefactos. A situação salienta-se
pela troca desigual, em muito favorável ao europeu, e pela excessiva dependência do
mercado insular ao Velho Mundo.
O desmesurado peso da acção europeia, africana e americana condicionou uma
acentuada desvalorização das não menos importantes formas de contacto e comércio no
mercado insular. As trocas e relaçõesinter-insulares, porque fora desse âmbito tradic~onal ou
pela sua propalada pouca importância, não mereciam aí qualquer referência de relevo. No
entanto, como tivemos oportunidade de afirmar, essas conexões insulares marcaram profun-
damente a vivência da sociedade e da economia insulares. A vizinhança, as facilidades,
aliadas à complementaridade e similar nível ,de desenvolvimento do processo sócio-econó-
mico dos três arquipélagos, sedimentaram uma rede de inter-relações; nela a Madeira,
mercê da sua posição charneira entre os dois arquipélagos do extremo ocidental e oriental,
deteve uma acção importantíssima, sendo um elo significativo para a manutenção desses
contactos.

161
21
o Novo Mundo atlântico dominado pelo litoral americano, surge para os insulares mais
como o sonho do que como uma realidade; ou, se quisermos: uma esperança, cuja
concretização é travada pela hegemonia e monopólio das principais praças peninsulares. E a
sua realização, quando surge, não é uniforme nos três arquipélagos, antes se afirma de
modo desigual, de acordo com o posicionamento de cada grupo de ilhas no traçado das rotas
transatlânticas.
Alguns dos objectivos, inicialmente definidos, não puderam ter neste livro desen-
volvimento, em consequência da falta de documentação disponível para o período em
estudo. Assim, por exemplo, a análise do comércio inter-insular, que pela pouca informação
existente já se mostra como importante na economia insular, não mereceu o ambicionado
desenvolvimento por falta de seriações exaustivas de documentação nos três arquipélagos.
Por outro lado essas lacunas impossibilitaram-nos de proceder a uma indagação alargada da
componente social; apenas nos foi possível fazer uma quantificação aproximada dos
principais grupos de agentes e das comunidades locais ou forasteiras que os formam.
Esperamos que as maiores disponibilidades documentais do século XVII nos permitam, num
futuro muito próximo, colmatar essas lacunas e aprofundar os domínios aqui abordados.

162
ANEXO

QUADROS
ABREVIATURAS E SIGLAS

C. Novo Cristão Novo


Est. Estante
R. Rua
V.o Vizinho
(+) Óbito

164
QUADRO N.o I
MERCADORES NA MADEIRA SÉCULOS xv A XVI

Mercador Data Proveniência Morada Observações

João de Abrantes 1517


Brás de Abreu 1551(+) Funchal
Manuel Abreu 1697
Francisco Acciaiuoli -1596 Florença Funchal Filho de Simão
Simão Acciaiuoli 1509-1544(+} FlorelJca Funchal Almoxarire, Rua Direita
Zenófio Acciaiuoli 1580 Aorença Funchal Filho de Simão
José Adorno 1528-1567('1) Génova Funchal Fixa-se no Brasil antes 1567
Paulo Dias Adorno 1528-1567 Génova Funchàl Fixa-se no Brasil antes 1567
Gabriel Affaitati 1509 Funchal Esl.
João Francisco Affaitati 1502-1529 Cremonês Lisboa Com feitores na ilha
Francisco Afonseca 1599 Funchal
André Afonso 1509-1566 Funchal
Antão Afonso 1511-1524 Funchal Rua Direita
António Afonso 1517-1597 Castela Calheta
Caires Afonso 1550 Funchal
Dinis Afonso 1558(+} Funchal Poço Novo
Domingos Afonso 1552-1607 Funchal Rua Sabão e Rua DireiLa
Francisco Afonso 1526-1591 (+) Funchal Rua 'das Pretas
Gonçalo Afonso 1509-1553 FunChal
João Afonso Correia 1419-1490 Funchal Vereador
João Afonso do Estreito 1494-1558 Calheta-Funchal
Manuel Afonso 1491-1571 Funchal Homem Bom
Mateus Afonso 1517 Ribeira Brava(1)
Nuno Afonso 1524-1544 Funchal
Pedro Afonso 1530-1569 Funchal Rua Miguel Lopo
Pedro Afonso 1566 P. Delgada-S. Miguel Funchal Esl.
Pedro Afonso 1563-1583 Ponte Lima Funchal V."
Rodrigo Afonso 1483-1517 Funchal V, o, Hom-em Bom, proprietário
Sebastião Afonso 1580-1599 Funchal
Tomé Afonso 1522 Funchal
Tristiio Afonso 1517-1539 Funchal
Vicente Afonso 1569-1591 Funchal Cristão Novo
João de Agusta 1508-1510 Alemanha Ribeira Brava Procurador e agente
Gonçalo Aires 1494-1513 Funchal V,o sapateiro
I

Gonçalo Aires 1483-1494 Porto Fuachal V,o, escrivâo


Pedro Lopes Albuquerque 1569 Funchal
Anrique Alfardin 1595-1606 Aandres Funchal
João Agno 1558 Funchal
Afonso Almeida 1595 Funchal
Afonso Álvares 1509-1544 Funchal Rua João Esmeraldo
António Álvares 1588-1596 Funchal Almoxarife de Machi-co
António Álvares Pupa 1556-1599(+) Funchal V, o. Ribeirinho
Belchior Álvares 1599 Funchal
Cristóvão Álvares 1521·1547 Santa Cruz Escrivão quintos CP. Sol)
Diogo Álvares 1509-1565(+ ) Funchal Rua Mercadores, rendeiro do vinho
Diogo. Álvares, o moço 1563-1582 Funchal
F~mão Álvares 1482-1544{+) Funcha.l Proprietário. escrivão -e recebedor
Fernão Álvares 1555-1566 Olivença Funchiu Cristão Novo
Fernão Álvares 1570-1594 Funchal V.o
Francisco Álvares 1494-1526(+} Ribei ra Brava Funchal Contador e provedor Fazenda
Francisco Álvares 1530-1553 Funchal
Gaspar ÁI,vares de Pupa 1560 Guimarães Funchal V.o
Gonçalo Alvares 1509-1558 Guimarães Funchal V, o, Porteiro de AlfânçJega
Gregório Álvares 1519·1530 Ponte Lima Funchal Rendeiro direitos do açúcar
João Álvares 1489-1560 Funchal Homem Bom, alcaide do mar (Machico)
Proprietário
Lourenço Álvares 1555(+} Graciosa Funchal Est.
Luís Álvares 1517 Flandres Ribeira Brava
Luís Álvares 1591 Santa Cruz V.G, Cristão Novo
Mateus Álvares 1593-1596 Funchal
Nuno Álvares 1500-1537 Funchal Rua Direita, Homem Bom, Vereador
Pedro Álvares de Trnuto 1470-1531 Lagos Funchal Rua Ferreiros, proprietário, Homem
Bom, Juiz da Câmara
Pedro ÁI~llres d 'Almada 1511-1590 Funchal
Rodrigo Alvares 1494-1552 Funchal Homem Bom, proprietário
Salvador Álvares 1554-1594 Funchal V.O
5 imiio Álvares 1570-1596 Funchal
Tomé Álvares 1564 Funchal
Domingos Alves 1552(+} porto Funchal
Gaspar Amado 1596-1597 Funchal
Benoco Am:atori 1503-1517(+} Florença San1a Cruz Arrendatário, pf(}curador
Diogo de Amorim 1561 Funchal
Manuel Andrade 1597 Funchal
Baltasar André 1551 Funchal
João André 1517-1524 Funchal
Jorge Andrefiz 1509-1513 Alemanha Calhela
Anequim 1513 Génova Calheta
Afonso Anes 1494-1564 Funchal Carreira' dos cavalos, Homem Bom,
escrivão. proprietário
Álvaro Anes 1494-1537 Vianês Funchal Proprietário
António Anes 1494-1538( +) Funchal Homem Bom
António Anes, o Pllpa 1523-1559 Funchal
Brás Anes 1508 Funchal
Fernão Anes 1481-1545 Funchal Homem Bom, proprietário

165
Mercador Data Proveniência Morada Observações

Francisco Anes 11523-1527(+) Funchal


Francisco Anes 1580 Funchal
Gaspar An~s 1530-1565 Funchal
Gonçalo Anes 1494-1576(+) Funchal Proprietúrio
João Anes 1494-1579 Funchal Homem Bom, Rua Direira
Jo-ão Afies 1573 Flandres Funchal
Joane Ane!i -1544(+) Funchal Rua St. a Maria. proprietário
João Anes 1560 Terceiro Funchal Esl.
Lopo Anes 1518-1523 Funchal Esl.
Pedro Anes 1494-1552( +) Funchal Proprietário
Pedro Anes 1553 Graciosa Funchal EsT.
Pedro Anes 1558-1571(+) Ponte de Lima Funchal
Pedro Afies 1558- Vila de Canavezes Funchal
Pedro ADes 1565(+) Barcelos Funchal
Rodrigo Anes 1490-1554 Funchal Proprietârio
Martim Anes Boa Viagem 1470-1486 Funchal
Pedro Ango 1549 Funchal
Bartolomeu Annques 1547-1583(+) Funchal Rua MalOso
Mestre António 1509 França Calheta
Pedro António 1596 Funchal
Viviam António 1530 Bret.anha Funchal
António Antunes 1567-1571 Funchal
António d'Aragão 1618 em São Salvador-Brasil
Henrique de Aragão 1511-1518 Funchal Rua Direita. Vereador
Inácio Aranha 1599 Porto Funchal
António AralÍjo 1574 Funchal
Francisco Reis Araujo 1591 Funchal
Gonçalo Reis Araujo 1536-1592 Funchal
Manuel Afonso Araújo -1613 CalhelJl
Palius de Araújo 1534 CalhelJl
Rodrigo de Araújo 1556 Funchal
Archelem 1530 França Funchal
Gonçalo Are. 1570 Funchal
Pedro de Aveiro 1485 Funchal
Manuel d'Ávila 1591 Funchal
André de Azevedo 1570 Funchal
Lançarore d'Azevedo 1560 Funchal
Lopo d'Azevedo 1519-1527 Funohal
João Azuardo 1524 Funohal
Simão Azuardo 1593-1596 Flandres Funohal
Pedro de Ayala 1527-1528 Castela Lisboa Procurador João Valdevesso
Pedro Vaz Baça 1555(+) Funchal
Menchude de Balo 1534 Calhera
Pero dos Banhos 1509 Calheta
João Gonçalves Barros 1583 Ponte Lima Funchal
Alonso de Barredo 1517 Ribeira Brava
Gaspar Lopes de Barros 1590-1591 Funchal
Gonçalo de Barros 1573-1597 Funchal
Gonçalo Barroco 1511-1576 Funchal
Gravill Barros 1524 Funchal Procurador
Manuel Gomes Barros 1581-1582 Funchal
João Basco 1557 Funchal
Martim de Bellocus 1530 França Funchal
João Beberage 1595-1596 Alemanha Funchal
Garcês Beberage 1596 Alemanha Funchal
Diogo Nunes Belmonte 1599 Funchal
João Belio 1490 Funchal
Zelym Benoquo 1505 Flandres. Funchal Esl.
Manuel Anrique Bernaldes 1593 Flandres. Funchal
Marim. Bene 1530-1566 Funchal
Duarte Betancar 1599 Funchal
Simão (7) Berancor 1596 Funchal
lanim Bicudo 1505-1529 Funchal
Jorge Lopes Bixorda 1524-1532 Funchal
Ambrosio Bocarra 1572 Funchal
Jorge Bocarra 1531-1539 Funchal
Manuel Bocorro 1530-1590 Funchal
Cristóvão Bocolho 1508-1510 Cremonês Fuochal Procurador
António Boffy 1520 Maiorca Funchal
Estevão Boguo 1509 Cremonês Funchal Est.
Leonardo Bondinar 1509-1517 CalhelJl
Pedro Borges 1599 Funchal
Pedro Botelho 1472-1492 Funchal Juiz de Alfandega
António Boro 1527 Funchal Criado de João Odom
João- Bragança 1570-1580(+ ) Funchal
Guilherme Branco 1574-1576 Fran~"a Funchal
Arim Branco 1530 França Funchal
Francisco Brás 1576 Portugal Funchal E,1.
João Brás 1564 Funchal
Vicente Brás 151l Funchal Rua Direita
Bemaldo Biresten 1594-1596 Flandres Funchal
Antônio de Brito 1530-1560 Funchal
Bano Broncone 1502-1508 Cremonês Funchal Procurador
Francisca Broncone 1512 Cremonês Funchal E,1.
Guilherme de Brum 1517 Flandres Ribeira Brava
Estevão de Bueca 1509 CalhelJl
Álvaro Coção 1524-1584 Funchal
Vicente Caçiio 1561 Funchal
Pedro Caires 1508-1564 Funchal Homem Bom

166
Mercador Data Proveniencia Morada Observações

Ateixo de Caldeira 1573·1582(+) Funchal


Estevão Caldeira 1599·1563 Coimbra Funchal
João Gonçalves Caldeira 1504·1517 Funchal Rua Direita
João Catvino 1509 Calheia
Francisco Calvo 1471·1509 Génova FUllchal
Gennão Calvo 1573 Génova Funchal Esl.. Procurador de C.pellan;
Jusé Camacho 1596 Funchal
Pedro Camacho 1571-1589 Funchal
Calisto Camelo 1573·1592( +) Guimarães Fanchal Rua Poço Novo
Cosmo Camelo 1598·1611 Funchal
Francisco Camelo 1528·1534 Funchal
Gonçalo Cosmo 1529 Funchal
Capella de Capellani 1509·1530 Funchal
João Caos 1580-1637 França Funchal Ru. Direita e Tanoeiros
Anlónio Cafaçam 1517 Ribeira Brava Esc.
Anlónio Caradas 1509-1526 França Calhela' P. Sol. Est
Pedro Carneiro 1537 Ponta Sol Est
João CarvrJlho 1511-1517 Ribeira Brava ESL
Manuel Carvalho 1517·1596 Funchal
Mateus Caos 1592·1594 França Funchal
Cristóvão de Cardenes 1543·1545(+) Funchal V."
Fruncisco Cardoso 1564 Funchal
João Cardoso 1562 S. Jorge (Açores) Funchal Es1.
Gaspar Carneiro 1547·1552(+) Porto Funchal Est.
Pedro Carneiro 1537-1564 Funchal
Francisco Caro 1554-1598(+ ) Salamanca Funchal Rua Mercadores
Luís CrJro 1552 Funchal
Jorge Curns 1591-1596(+) Flandres Funchal
Francisco Carreira 1555 FunchaJ
João de Castilho 1509 CalhCla
Femão de Castro 1597 Funchal
Diogo Carvalho 1565 Guimarães Funchal Est.
Mnrtim Carvalho 1591 Madeiro Baia·Brasil
Pedro Gonçalves Carvalho 1590·1594 Funchal
Diogo Fernandes Castanheira 1581-1600 Torres Novas Funchal
João dc Castel 1589 Funchal
Pcdro Lopes de Ca'tela 1591-1593 Funchal
Bnís de Castro 1571-1592 Funchal
Francisco de Castro 1557·1590 Funchal
Lourenço Castanho 1500 Génova Funchal
Quírio Castanho 1500·1504 Génova Funchal RClldeiro Alfândega
Rafael Castanho 1500-1537 Génova Santa Cruz Proprielária, rendeiro miunças
Francisco Fcmandes de Cca 1591 Funchal Rua Mercadores. C. Novo
Scbaslião Centurião 1554 Génova Funchal
Francisco de Cerveira 1551 Funchal
Lucas César I'unchal
João Antônio Cesare 1480 Génova Funchal
Rodrigo Chanceler 1564 Funchal
Cristóvão Chaves 1566 Funchal
Lourenço Classe 1592-1594 FI.odres Funchal
Diogo Codcssa 1571-1583 Funchal
João Cogüo 158g Funchal
Crist6vão Colombo 1478 Itália Funchal
NiculaLJ Contrim 150g Calhem Est.
João Copians 15g4-1596( +) Bruges Funchal
João Coquet 1513-1517 França Calhela-Ribeira Urava Est.
ESlcváo CordoyjJ 1596 Funchal
Henrique Comunlha 1530 Inglalerrn Machico ESI.
António Corre a 1509·1577 Funchal V, o. Contador
Chorles Correo 1509·1530 Frdnça Funcho! Esc. V. o Lisboa
Francisco Corren 1568·1607 S. Miguel (Açores) Funchal Esl.
Gonçalo COrrtl:il 1575·1579(+) Funchal
João Correa 1507·1567 Funchal Homem Bom, Vereador. Tesoureiro
Simão Correl! 1563 Viana Funchal
Dam ião Cosme 1565 Funchal
t).gostinho da Cosla 1599 Funchal
Alvaro da Costa 1552·159g Funchal Vereador
Gaspar da Cosia 1509·1582 Funchal
João da Cosia 159g
Lançarole du Costa 1559 Funchal
Luis Fernandes Coutinho 1580 Funchal
António Coyros 1509 Fmnça CalhCla Esr.
Lourenço de Cras 1592 Flandres Funchal
Francisco da Cruz 1599 França Funchal
Don!cl 1530 França Funchal
Francisco Dans- L482·1524 Flandres Funchal
Fadrique Dnns 1596-1597 Flandres Funchal
Rodrigo Dans 1595 Flandres Funchal
V ilSCO Delgado 1592 Funchal
Afonso Di•• 1483-1542 Porto Funchal E,1.
Álvaro Di.s 1494·1530 Funchal Rua Direha, Homem Bom, proprietá-
rio. recebedor
António Dias 1542-1600 FI.ndres Funchal Recebedor do Quinto
DallasrJr Dias 1536 Ribeira Br.nv,1I ESI.
Bastiam Dias 1511-1574 Funchal
Brás Dias 1565 Funchal
Crislóvão Dias 1502·1547(+) Funchal
Diogo Dias 1483·1554 Porto Funchal Porteiro Alfandega

167
Mercador Data Pro\'eniência Morada Obsenações

Diogo Dias 1572-1584 Santa Cruz VO


Francisco Dias 1511-1551(+) Funchal
Francisco Dias 1564-1623 Funchal Rua Direita
Gaspar Dias 1509-1552 Funchal
Giraldo Dias 1564-1566 Guimarães Funchal
Gonçalo Dias 1494-1574 Calheta~Funchal
Hono Dias. 1592 Funchal
Jácome Dias 1524 Funchal
João Dias, o Braflco 1494-1553(+) Viana Funchal Rua Direita, Proprietário
João Dias 1511-1591 Flandres Funchal V.o
Jorge Dias 1509-1511 Funchal Rua Direita, Homem do alm.
de Alfandega
Lopo Dias 1515-1546 Funchal Judeu
Lucas Dias 1568 Funchal
Manuel Dias 1541-1558(+) Funchal R. Baluarte
Manuel Dias 1558-1574 Funchal
Pedro Dias 1494-1597 Braga Funchal
Pedro Dias 1509 Galiza Calheta Esl.
Rodrigo Dias 1539 Funchal
Rodrigues Dias 1556-1590 Funchal
Rui Dias 1510-1584 Funchal R. Diogo de Medeiros
Salvador Dias 1583 Funchal
Simão Dias 1552 Funchal
Vasco Dias 1510 Funchal
Vicente Dias 1554 Funchal
Nicolau Dizee 1513 França Calheta Esl.
Afonso Dinis 1483-1536 Porto Funchal
António Dinis 1517 Ribeira Brava Est.
Bastiam Dinis 1541 "Ilhas de Baixo..
Cristóvão Dinis 1547(+) Funchal
Diogo Dinis 1483-1578 Pono Funchal Est.
Fernão Dinis 1517 Ribeira Brava Esl.
Francisco Dinis 1517-1542 Funchal
Gaspar Dinis 1550 Funchal
Gonçalo Dinis 1524-1550 Funchal
João Dinis 1517-1572 Funchal R. do Peixe
Lopo Dinis 1517 Ribeira Brava Esc
Rui Dinis 1552 Funchal
Nicolau Dizee 1513 França Calheta Est.
Diogo Dinis 1552-1557 Funchal
G9nçalo Domingos 1552 Funchal
Lopo Domingos 1551-1559 Lamego Funchal
Manuel Domingos 1550 Funchal
Pedro Domingos 1565 Funchal
Bastião Domingos 1553 Funchal
João DoIera 1509 Calheta Est.
António Doria 1480 Gênova Funchal
Giovanni Dori{ 1480 Génova Funchal
Luis Dona 1480-1530 Génova Funchal Rendeiro miunças, proprietário
Bartolomeu Duarte 1559 Funchal
Jerónimo Duarte 1566 Lisboa Funchal Est.
Manuel Duarte 1558 Funchal
Pedro Duram 1517 França- Ribeira Brava Est.
Mai Duque 1545 Funchal
Gonçalo Duravia 1590 Funchal
Domingo Eanes 1589 Funchal
Luis Eanes 1470-1494 Funchal Vereador, proprietário
Luis Eanes 1585 Funchal
Zendo Eanes 1485 Funchal
Jorge Endorfor 1507-1508 Alemanha Funchal Est.
João Guilhenne Emersen 1597 Funchal
Joan Escelhe 1583(+) Flandres Funchal
Guilherme Escorces 1599 Inglaterra Funchal
Aleixos Escorc:io 1573 Funchal
Cristóvão Esmeralda 1482-1555 Picardia Funchal Contador e Juiz das Alfandeg[\.o;
João Esmeralda, o Velho 1473-1533 (+) Picardia Funchal Homem Bom, proprietário
João Esmeralda, o Filho -1537 Picardia Funchal
Álvaro Esteves 1469-1590(7) Funchal Homem Bom, Vereador
Francisco Esteves 1524-1590(+) Funchal
Pedro Esteves 1498-1509 Funchal
Richard EstoquedalI 1513 Inglaterra Calheta Est.
João de Estrincam 1582-1594 Inglaterra Funchal
Gaspar d'Évora 1550 Funchal
Bach-João d'Évora 1509-1566 Funchal
António Gonçalves Fafe 1582 Funchal
qaspar Fernandes Fafe 1570(+) Guimarães Funchal
Alvaro Fernandes Fagundes 1557 Viana Funchal Est.
Jorge Fancide 1592 Escócia Funchal
João Faria 1589-1625 Funchal
Álvaro Fernandes 1494-1520(+) Ponte Lima Funchal Proprietário, almoxarife
Álvaro Fernandes 1531 1596 Chaves Funchal
Álvaro Fernandes 1576-1577(+) Terceira (Açores) Funchal Esl.
André Fernandes 1509-1569 Funchal Escrivão Quintos (Calheta)
Antón io Fernandes 1509-1599 Funchal
Artur Fem~ndes 1539 Funchal
Baltasar Fernandes 1509-1593 Lisboa Funchal
Bento Femanlks 1553-1564 Funchal
B rãs Fernandes 1526-1551(+) Funchal

168
Mercador Data Provenienda Morada Observações

Brás Fernandes -1546(+) Lisboa Funchal Est.


Brás Fernandes -1553(+ ) FunchaJ
Brás Fernandes (Scrveira) 1559-1586 Funchal
Cristóvão Fernandes 1510-1526 Castela Funchal
Cristóvão Fernandes 1565 TaviraFunchal
Diogo Fernandes. 1494-1550 FunchaJ Proprietário, feilor alfândega escrivão
dos qlJimOSi
Diogo Fernandes 1540-1578 S. Miguel (Açores) Funchal
Diogo Fernandes 1552-1566 Funchal
Diogo Fernandes (filho) 1559-1595 Funchal R. João Ta\leira
Domingos Fernandes 1523-1579 Funchal
Domingos Fernandes -1583 Funchal
Duarte Fernandes 1513-1519 Ponte Lima Funchal Rendeiro
Francisco Fernandes 1505- Ponn Funchal Est.
Francisco Fernandes 1509-1552(+) Guimarães Funchal
Francisco Fernandes 1557-1559 Guimarães Funchal Est.
Francisco Fernandes 1562-1593 Ponle Lima Funchal
Francisco Fernandes 1592-1593 Algarve Funchal Esl.
Francisco Fernandes 1561-1623 S. Miguel (Açores) Funchal
Gaspar Fernandes 1509-1594(+} Funchal Cristão Novo
Gaspar Fernandes -1597 Funchal
Gil Fernandes 1482- Funchal
Gonçalo Fernandes 1509-1584 Funchal Proprietário
Gonçalo Fernandes 1584-1640 Ponte Lima Funchal
Graviel Fernandes 1552-1556 Funchal
Guilhenne Fernandes 1571-1593 Flandres Funchal
Jerónimo Fernandes 1510-1599 Funchal
João Fernandes do Arco 1400-1598 Funchal Homem Bom, Juiz, proprictário
Jorge Fernandes 1509-1550 Viana Funchal Recebedor do almoxarifado, a.rrendatãrio
Lopo Fernandes 1537-1565 Ponta du Sol Est.
Luís Fernandes 1509-1595(+) Algarve Funchal
Luís Fernandes -1597 Funchal
Manuel Fernandes 1537-1620 Funchal
Marcos Fernandes 1593-1595 Funchal
Miguel Fernandes 1537 1571 Funchal
Nuno Fernandes 1482-1555 Funchal
Paulo Fernandes 1582- Funchal.
Pedro Fernandes 1494-1537 Ponta Sol Homem do almoxarifado, proprietário
Pedro Fernandes 1549-1555(+) Vila Real Funchal
Pedro Fernandes 1555-1566 Funchal
Rodrigo Fernandes 1571 Lbhoa Funchal V.o
Roque Fernandes 1592(+) Funchal
Rui Fernandes 1524-1552 Funchal Homem Bom
Salvador Fernandes 1577-1582 Terceira Funchal EsI.
Bastiam Fernandes 1509·1524 Funchal
Bastiam Fernandes 1555-1598 St a Cruz/Funchal
Simão Fernandes 1526-1544(+) Funchal
Simão Fernandes 1552-1564 Funchal
Vasco Fernandes 1494-1541 Funchal Tabelião, Homem Bom. recebedor.
proprielário
Vicente Fernandes 1557-1617 Funchal R. João Gago, proprietârio
Bartolomeu Ferreira 1582 Funchal
Brás de Ferreira 1560 Funchal
Costa Ferreira 1560 Funchal
João Ferreira 1517-1548 Funchal
Gomes Ferreira 1541-1545 Funchal
Luís Ferreira 1597 Funchal
Pedro Ferreira 1596-1625 Funchal
Pedro Freire 1593 Funchal
Afonso Fidalgo 1539-1553(+) Fun<hal R. Mercadores
Afonso Fidalgo 1588-1591 Funchal
Antônio Mendes Fidalgo 1567-1582 Funchal
Rodrigo Fidalgo 1553·1569 Funchal
Bento Figueira 1590 Funchal
Manuel Filipe 1564-1576 Funchal
João de Florença 1454-1521 Florer.ça Funchal Homem Bom, proprietârio
Bartolomeu Florentino 1498 Funchal
J\.ndré FoqueI 1530 Fl1U1ça Funchal
Alvaro França 1517 França Ribeira Brava . Est.
Pedro de Fl1U1ça 1517 França Ribeira Brava Est.
Fernando Francisco 1585(+) Funchal
André Franco -1573 Funchal Brasil
Ambrôsio de Freitas 1588 Funehal
António de Freitas 1526 Ponta de Sol Esl.
Fernão de Freitas 1554 Funchal
João Freitas 1510-1530 Santa Cruz Proprietário, recebedOt'
João Frol 1509 1nglatena Calheta Esl.
Pedro Gante 1509 Flandres Calheta Est.
Gonçalo Garcia 1496 Funchal
João Garcia 1542H576( +) Funchal
João Garcia 1580-1594 Funchal
Pedro Garcia 1592 Funchal
António Garses 1589 Funchal
Luís Gastão 1555 Funchal
Diogo Gavião 1562 Funchal
Gaspar Genlil 1524 Santa Cruz Esl.
João Batista Gentil 1517 Ribeira Brava Est.
Gonçalo Gentil 1511-1592(+) Funchal

169
22
Mercador Data Proveniência Morada Observações

Lugnote Gentil 1524 Santa Cruz


Pallus Gil 1534-1536 Calheta.R, II Brava E>t.
Vicente Gil 1471-1474 Funchal
João de Góis 1526-15R9 Funchal
André Golias 1559-1562 Funchal
Garcia Golias 1562 Funchal
Álvaro Gomes 1517·1556 Funchal
António Gomes 1537 Funchal
Bartolomeu Gomes 1553 Graciosa Funchal EsL
Ca.'itilho Gomes 1596 Funchal
Diogo Gomes 1556 Funchal
Fernão Gomes da Mina 1477-1494 Funchal Proprietário
Froctuoso Gomes 1596-1597 Funchal
Gaspar Gomes 1596 Funchal
Gonçalo Gomes 1517-1555 Carriço
Gregório Gomes 1554-1555 Funchal
João Gomes 1472-1501 Funchal Homem Bom, proprietário
Manuel Gomes 1548 Funchal
Mateus Gomes 1596 Funchal
Pedro Gomes 1494-1592( +) Funchal Homem Bom, proprietário
Pedro Gomes 1596-1620 Funchal
Simão Gomes 1564-1596 Santa Cruz
António Gonçalo 1561 Funchal
João Fernandes Gondim 15R7-1596 Funchal
Gaspar Fernandes Gondim 1596 Funchal
~fonso Gonçalves 1488-1568 Funchal Homem Bom. proprietário
Alvaro Gonçalves 1509-1556 Funchal
Amador Gonçalves 1546·1592 Funchal
André Gonçalves 1494-1595 Funchal R. Poço Novo, proprietário
Antõnio Gonçalves 1497-1597 Funchal Homem Bom, R. Santa Maria
Baltasar Fernandes 1489-1596 Funchal Homem Bom, Vereador, Homem do
almoxarifado. proprietário
Bartolomeu Gonçalves 1554-1580 Funchal
Belchior Gonçalves 1502·1595 Funchal Homem Bom
Brás Gonçalves 1544 Funchal
Cosme Gonçalves 1560 Funchal
Cristóvão Gonçalves 1552-1554 Funchal
Custódio Gonçalves 1527(+) Funchal
Custódio Gonçalves 1584-1618 Funchal
Diogo Gonçalves 1517-1567(+) Funchal R. Direita, recebedor
Domingos Gonçalves 1595 Funchal
Estevão Gonçalves 1530-1553 Funchal
Fernão Gonçalves 1509·1586 Funchal R. do Calojo
Francisco Gonçalves 1517-1637 Guimarâe'i Funchal Esc, Homem do almoxarifado
Francisco Gonçalves 1556-1637 S. Julião de Barra Funchal
Fructuoso GonçalveJ 1561-1595 Funchal
Gaspar Gonçalves 1494-1555 Funchal Proprietáriu, Homem Bom
Gaspar Gonçalves 1558-1620 Ponte Lima Funchal
Gaspar Gonçalves 1579 Vila do Conde Funchal ESI.
Gonçalo Gonçal~es 1509-1551(+) Funchal
Gonçalo Gonçalves 1552-1606 Funchal
Gravill Gonçalves 1517-1579 Funchal
Jácome Gonçalves 1553-1562 Funchal
Jaane Gonçalves 1509-1569 Funchal
João Gonçalves 1494-1551 Funchal Proprietário, escrivão dos quintns,
comador, rendeiro
João Gonçalves 1552-1611 Gouveia Funchal
João Gonçalves 1565-1611 Guimarães Funchal
Jorge Gonç&lves 1509'1586 Funchal Proprietário
Luís Gonçalves 1571-1611 Vila Real Funchal
Manuel Gonçalves 1517-1550(+1 Funchal R. Mercadores
Manuel Gonçalves 1554-1570 Guimarães Funchal C. Novo
Manuel Gonçalves 1584-1628 Algarve Funchal
Martim Gonçalves 1509-1608 Funchal R. Direita
Pedro Gonçalves 1482-1531 Funchal Proprietário, Homem Bom, rendeiro
Pedro Gonçalves 1580-1611 Funchal R. Carreira, escrivão dos quintos
Pedro Gonçalves 1580-1611 Funchal S. Bartolomeu Pereira
Rui Gonçalves 1472-1544 Funchal Vereador, escrivão quartos, proprietário
Sebastião Gonçalves 1513·1533 Funchal Rendeiro miunças, Homem do almoxa·
rifado, feitor
Sebastião Gonçalves 1539·1557 Sinfões Funchal
Simão Gonçalves 1496-1597 Funchal Proprietário
Tomé Gonçalves 1494-1551 Funchal Proprietário
Vicente Gonçalves 1494-1581 (+) Funchal Proprietário
Gaspar Fernandes Gondim 1596 Funchal
GOnçalo Fernandes· Gondim 1596 Funchal
João Fernandes Gondim 1587-1596 Funchal
João GOle 1509 Inglaterra Calheta Est.
António Gouveia 1524-1577 Santa Cruz
Benlo arall 1597 Funchal
João Granja 1553 Funchal
Gregório 1509 Alemanha Calheta E!it.
Cario Grillo 1512 Funchal
Lucano Grillo 1506 Génova Funchal
Francisco Guerreiro 1536-1557 Funchal
Guilherme 1509-1530 França Funchal
João Guilherme 1597 Funchal
Diogo de Hanaa 1509 Flandres Calheta Esl.

170
Mercador Data ProvenIência Morada Observações

Hans 1512 Alemanha FunchaJ


Henrique 1530 França Machico
Jácome Holzbock 1508 Alemanha Funchal Proc urador de Lucas Pern
Belchior Imperial 1512-1534 Genovês Calhela Esl.
João Jácome 1488-1556 Funchal R. Poço, Juíz, Proprietário, Homem
Bom
Manuel Jácornc 1575-1590 Funchal
Diogo Jacques 1589 Flandres Funchal R. Esmeralda
Rafael Jacques 1591-1595 Inglaterra Caniço
Manuel Vieira Jardim 1597 Funchal
Pity Joan 1509 França Calhcla Est.
Franciscu Jodão 1594-1611 Funchal
Álvaro Jorge 1574 Funchal
António Jorge 1597 Funchal
Francisco Jorge 1571-1573 Funchal
Manuel Jorge 1539-1573 Funchal
Martim Jorge 1574 Funchal
Pedro Jorge 1512-1596 Funchal
Pedro Justinham 1509 Calhela Esl.
Nicolosso Justinhom 1512-1513 Génova Calhela Esl.
Simão Juslinhom 1513 Génova Calhela Esl.
Feducho de Lamarote 1504-1517 Florença Funchal Rendeiro
Pedro de Lllmarote 1520-1523 Florença Funchal
João de Lanoy 1594 Flandres Funchal
Francisco Lape 1524 Florença Funchal
Jerónimo Larqua 1517 Génova Ribeira Brava Est.
Antônio da Costa Lavado 1595 Funchal
João Ledo 1509-1526 Funchal Proprietário
João Legreyn 1585-1586 Flandres Funchal Feitor de Otovoguel, Alemão
António Leonardo 1508-1510 Flandres Funchal Feitor
Fernandes Leone 1470 Funchal Proprietârio
Guilherme Leinarte 1584-1594(+) Flandres Funchal
Micer Liam 1472 Funchal Feitor
Cristóvão Liam 1554-1566 Faial
Guilherme de Liam 1511 Funchal R. Direita
Es tevão de Lião 1573 Funchal
Francisco Lido 1509-1513 França Calheta Esl.
Martim Leme 1480-1483 Flandres Funchal
Francisco de Lima 1553-1626 Funchal
Sebastião de Lima 1575 Funchlli
Fernão Lopes Lobo 1581 Funchal
João Afonso de Lomba 1546-1548 Funchal
João Lombarda 1500-1526 Itália Ponta Sol Proprietário, rendeiro
Anchino Lomelino 1513 Génova Funchal
Baptista Lomelino 1470-1483 Génova Santa Cruz
Francisco Lomelino 1566 Génovll Funchal
João Batista Lomelino 1476-1513 Génova Funchal
Leonardo Lomelino 1496 Génova Funchal
Marco Lomelino 1512 Génova Funchal
Sisto Lomelino 1496 Génova Funchal
Urbano Lomelino 1476-1518(+) Santa Cruz
Urbano Lomelino 1582 Santa Cruz Proprietário
Afonso Lopes 1591 Funchal
~ Ivaro Lopes 1509·1551(+) Covilhã Funchal
AIV~trO Lopes 1553-1597 Funchal
Anrique Lopes 1550 Funchal Escrivão de nlmotaçarill e a1caidariB
António Lopes 1524-1597 Vila Real!?) Funchal
Baltasar Lopes 1517-1562 Funchal
Bastião Lopes 1552-1626 Funchal
Belchior Lopes 1597 Funchal
Cristóvão Lopes 1526-1566(+) Funchal R. João Tavira
Damião Lopes 1564 Funchal
Diogo Lopes 1494-1522(+) Funchal Proprietârio, porteiro
Diogo Lopes 1533-1554(+) Castelhano Funchal
Diogo Lopes 1558-1595 Chaves Funchal R. da Ponte
Domingos Lopes 1571 Funchol
Duarte Lopes 1565 Tavira Funchal Esl.
Estevão Lopes 1553 Funchal
Fernão Lopes 1494-1596 Funchal Homem Bom, proprietário
Fernão Lopes 1509 Vila Real Funchal Est.
Francisco Lopes 1523-1591 Funchal
Gaspar Lopes Homem 1560-1592 Ponte Lima Crislào Novo
Gil Lopcs 1551-1552 Funchal
Gomes Lopes 1551(+) Covilhã Funchal Es!.
Gonçalo Lopes 1509-1596 Ponte Lima Funchal
Gravil Lopes 1517-1524 Funchal
João Lopes 1494-1551 Castela Funchal R. Direita, proprietário, Homem Bom
João Lopes 1556-1581 Vila Rcal Funchal
Luís Lopes 1544.1552 Funchal
Luís Lopes 1552-1581 Funchal
Manuel Lopes 1549·1609 Funchal
Marcos Lopes 1479-1526 (+) Funchal Escrivão contos, proprietãrio
Mateus Lopes 1560 Funchal
Miguel Lopes 1539-1553 Funchal
Pedro Lopes 1482-1546( +) R. N.a Sr. a Calhau, escrivão, alfândega
Pedro Lopes 1524-1592 Castela Santa Cruz E,1.
Rui Lopes 1544-1546 Funchal
Simão Lopes 1494-1524 Funchal Proprietário

171
MerC'ador Oala Proveniência Morada Obseryações
-------
Simão Lopes 1589 S. Miguel Funchal Est.
Tomás Lopes 1559-1571 Machico Funchal R. se' Maria
Tomé Lopes 1566-1569 Funchal
Francisco LQureiro 1554 Funchal
Fernão Lourenço 1526-1568(+) Funchal
Francisco Lourenço 1530 Funchal
Gomes Lourenço 151 I Funchal R. Direita, Vereador
João Lourenço 1486- 1558 Funchal Homem Bom, proprietário
~edro Lourenço 1461-1513 Funchal Homem Bom
Alvarc de luco 1517 Ribeira Brava E,1.
Âlvaro Luis 1486-1536 Funchal
Anrique luís 1538 Faial (Açores) Funchal
António Luí5 1534-1541 Funchal
Custôdio Luis 1561-1579 Funchal
Diogo Luís 1517-1590 Funchal Juiz de alfândega
Fernam Luís 1469 Funchal
Fmncisco Luis 1563-1575 Funchal
Jo5.o Luís 1485-1553 Funchal R. Direha, Homem Bom, Vereador,
proprietário, estimador
Pedro Luís 1482-1583 Funchal
Diogo de Lymosora 1541 Funchal
Simão de Liscana 1557 Funchal
Diogo Rabello Machado 1595 FunetlaJ
Francisco Machado 1565-1583(+) Guimarães Funchal
Paulo Machado 1597 Funchal
Fernão Magalhães 1583 Funchal
Francisco Reis Magalhães 1596 Funchal
Gastão dc Magalhães 1535 Funchal
Pedro Marim Magalhães 1590 Funchal
João Gonçalves Melacarne Séc. XVI Flandres Funchal
Domingos de Maia 1597 Funchal
Maximilano Mais 1593 Flandres Funchal
Antônio Dias Malheiro 1531 Funchal
Matias Manardi 1517-1520 Funchal Provedor e feitor J.F. Affaitati
Gaspar Manuel 1597 Funchal
Cosmo Maguel 1596 Funchal
Diogo de Marchena 1523-1581(+) Lisboa Funchal
Gonçolo de Marchena 1534-1536 Calheta-R. a Brava Esl.
Bartolomeu Marchioni 1498-1508 Florença Funchal
Pedro Gonçalves Marino 1588-1595 Funchal
João Baptista de Marim 1535 Génova Santa Cruz Est.
Tobias de Marim 1535 Génova Funchal
Pedro de Mame 1524-1530 Romano Funchal
Martim Manei 1589 Funchal
Martim Francês 1530 França Funchal
Martinho 1509 Flandres Calheta Est.
Afonso rnanins 1509-1554 Funchal
ÁI varo Manins 1494-1596 Funchal Proprietário
Anrónio Manins 1536-1570 Funchal
Bastião Marfins 1558 Funchal
Diogo Martins 1494- 1574 Funchal Vendedor açúcar, proprietário
Fernão Martins 1472-1563 Funchal
Francisco Martins 1509-1596 Funchal
Gaspar Martins 1550-1552 Funchal
Gomes Martins 1489·1494 Funchal Homem Bom, proprietário
João Martins 1485-1538( +) Funchal Proprietário, escrivão
João Martins 1509 Castela Calheta E,1.
João Martins -1539(+) Funchal R. Poço Novo
João Martins -1575 Funchal
Jorge Martins 1554.1581(+) Funchal
Manuel Martins 1550-1542 Funchal
Pedro Martins 1559-1572 S. Miguel R. João Gago
Salvador Martins 1558 Funchal
Valéria Máximo 1524 Funchal
Bemardim de Medina 1530 Bengalia Funchal
Diogo de Medina 1523 Funchal
Francisco de Medina 1591 Funchal Ponte do Cidrão
Álvaro Meireles 1530-1534 Funchal
Jorge de Meireles 1530 Funchal
lama de Melgar 1509·1513 Calheta Est.
António Mendes 1511-1582(+) Funchal R. Mercadores
António Mendes t576-1594(+) Lisboa Funchal Proprietário
Ba.'iliã.o Mendes 1560 Funchal
Cristóvão Mendes 1566-1571 Funchal
Diogo Mendes Parede 1580-1594 Sevilha Funchal Est.
Estevão Mendes 1552-1580( +) Funchal R. Poço Novo
Fernão Mendes 1536-1560 Funchal
Francisco Mendes 1539-1560 Funchal R. Direita
Gaspar Mendes 1552 Funchal
Gonçalo Mendes 1560- Funchal
João Mendes 1494-1576 Funchal Homem Bom. proprietário, recebedor,
almoxarife
lorge Mendes 1538-1562( +) Funchal
Luís Mendes 1494-1568( +) Funchal Homem Bom, Poço Novo
Manuel Mendes 1536-1546 Funchal
Rui Mendes Tacon 1486-1530 Funchal Homem Bom, proprietário
Luís de Mercado 1593 Funchal
Pedro de Meza 1596 Punchal

172
Mercador Data Provenlênda Monda Observações

Fernão ele Mezais ('?) 1597 Funchal


Miguel 1524-1530 França Funchal
João Minyxam 1509 França Calheta Esl.
Aymad Mirec 1592(+) França Funchal
António Moniz 1536-1597 Funchal
Gasp.ar Moniz 1540-1564(+1 Funchal R. Conceição
Simão Moniz 1540-1544 Funchal
Belchior da Cosia Monteiro 1591 Cabo Verde Funchal Esl.
Bartol-omeu Moreira 1573 Funchal
Diogo Moreira 1553-1560
Benedito More II i 1509-1510 Florença Funchal Esc
António Morim 1567-1569 Funchal
Diogo de Morim 1554-1561(+) Funchal
Diogo de Morim 1576-1582 Funchal
Gonçalo de Morim 1531 Funchal
Pedro de Mori m 1530-1591 Ponte de Lima Funchal
António de Mota 1546-1558(+) Ponte de Lima Funchal R. Nova
Francisco de Motiloa 1536 Ribeira Brava Est.
João Fernandes da Mota 1461-1511 Funchal Homem Bom
Manuel Mot.a 1558 Funchal
Francisco Narde 1509-1563{+) Florença Funchal R. São Sebastião
Pedro Gonçalvcz Narvais 1589 Funchal
António Nyro 14 .. -1530 Géno....a Funchal
Gabriel de Nyro 1524 Génova Funchal
Manuel Rodrigues de Nyro 1560-1561(+) Génova Funchal R. Mercadores
António Rodrigues f\.'e!o 1583-1589 Funchal
João Neto 1482 Funchal
Gonçalo Rodrigues Neto 1536 Ribeira Brava Est.
Manuel Rodrigues 1561-1577 Funchal
Pedro Rodrigues (filho) 1550-1577(+) Funchal R. dos Netos
NicuJao Flamengo 1537 Flandres Ponla do Sol Est.
Niculao Frances 1517-1530 França R.a Brava-Funchal Esc
Pedro Nobet 1509 França Calheta Esl.
Diogo de Nogueira 1547 Funchal
Diogo de Nojoza 1550 Funchal
Pedro Vaz Nosa(7) 1583 Funchal
Belchior de Vila Nova 1533 Funchal
Gaspar de Nova 1556 Funchal V."
Francisco Navais 1555 Terceira Funchal Esl.
Álvaro Nunes 1594-1617(+) Funchal C. NO"/O
Antón io Nunes 1509-1569 Funchal
Bastiam Nunes 1561 Funchal
Bartolomeu Nunes 1592-1595 Porto Santo Funchal
Diogo Nunes 1494-1556 Proprietário
Fernão Nunes Ue Boa Viagem 1470-1472 Funchal
Gaspar Nunes 1526·1605 Funchal Proprietário
João Nunes 1552-1563(+) Funchal R. Alfandega
Jorge Nunes 1517-1565 Viana Funchal
Manuel Nunes 1591 Funchal
Niculao Nunes 1594 Funchal Cristão Novo
Simão Nunes 1530·1623 Funchal R. Mercadores
Pedro Nuno 1552 Funchal
Isaque Oberim 1536 Ribeira Brava
André Ocana 1482 Funchal
Marcos de Oliva 1536-1560(+) Funchal
Luís Olival 1597 Funchal
Pereira O) Oliveira 1556 Funchal
Oliveira Francês 1530 Prançn Funchal
Fernão Dias Paes -159. Abranles Funchal No Brasil (fins séc. XVI)
Gravill Paes 1553-1564 Funchal
Luís Paes 1526-1583 Funchal
Manuel Pac. 1533-1572 Funchal
Ballasar Pardo 1539-1577 Burgos Funchal
Fernão Pardo 1512 Burgos Funchal
João Pardo 1530-1532 Burgos Funchal Procurador
Francisco Paim 1536-157. Viana Calheta
Manuel Rios Pedreira 1595-1596 Funchal
António Mendes Peixoto 1576 Funchal
Pedro Lopes Peixoto 1572·1573 Funchal
Juan Pelenquim 1509 Funchal
Diogo Gonçalves Penteado 1564 Funchal
António Pereira 1530-1586 Braga Funchal C. novo, feitor de alfandega. rendeiro
Brás Pere ira 1560 Funchal
Diogo Lopes Pereira 1585-1594 Funchal C. Novo, N,a Sr. a Calhau
Domingos Pereira 1596 Funchal
Gonçalo Pereirn 1517-1556 Funchal
Sebastiiio Pereira 1580 Funchal
Pedro Peres 1552·1559 Funchal
Ruberte Peres 1595· Escôcin Funchll.l
Álvaro Pimcnlel 1509-1524 Funchal
Afonso Pinto 1530-1547(+) Funchal
Diogl) Róis Pinto 1530 Funchal
F. Rois Pinto Funchal
Gaspar Pinto 1571-1577 S. Miguel Funchal
Luís Pinto 1560-1580(7) Funchal
Simão Pinlo 1582·1584 Funchal
Afonso Pires 1494-1573(+) Funchal Proprietário, R. Frias
Álvaro Pires 1494-1556 Funchal Proprielário

173
Mercador Data Proveniênda Morada Observações

António Pires 1523-1583 Funchal


Baltasar Pires 1518-1590 Lishoa Funchal
Belchior Pires 1577 Funchal
Brás Pires 1558 Funchal
Cristóvão Pires 1558-" Guimarães Funchal
Cristóvão Pires 1560-? Ponte Lima Funchal
Cristóvão Pires 1564-? Faial (Madeira) Funchal
Diogo Pires 1523-1582 Funchal
Domingos Pires 1517-1551(+) Guimarães Funchal
Francisco Pires 1536 Ribeira Brava Esl.
Gil Mendes Pires 1569 Funchal
Giraldo Pires 1536-1551 Funchal
Gonçalo Pires 1477-1545(+) Ponte Lima Funchal Rendeiro
Gonçalo Pires 1557 Funchal
João Pires 1454-1508(?) Funchal Homem Bom
João Pires 1512-1593 Vila do Conde Funchal
João Pires D'Angra 1530 Angra(?) Funchal ESI.
Luís Pires 1526-1543 Funchal
Manuel Pires 1530-1564(+) Funchal
Marcos Pires 1545(+) Vila do Conde Funchal
Martim Pires 1558 Funchal
Mateus Pires 1552-1576(+) Funchal
Mendes Pires 1557 Funchal
Pedro Pires 1562 Funchal
Rui Pires 1494-1552 Funchal Proprietário
Sebastião Pires 1553-1575(+) Funchal R. das Medinas
Simiio Pires 1530-1572 Funchal
Tristam Pires 1572 Funchal
Baltasar Pila 1558-1574 Caminha Funchal
Gonçalo Pita 1551- Viana Funchal
Gonçalo Pita 1551- Ponte Lima Funchal
Joam Pontes 1556 Calheta
Niculao Pontes 1590 Funchal
Fernando de Puga 1582-1589 Flandres Funchal
Manuel de Puga 1582 Flandres Funchal
Francisco Quaso 1559-1572 Funchal
Bastião de Quintal 1596 Funchal
Marcos do Quintal 1597 Funchal
Damião Rangel 1596 Funchal
Mafeu Recel 1509-1511 Funchal R. Direita
António Rabello 1544
Diogo Rabello 1530-1611 Funchal
António Gonçalves Ramalho 1581 Funchal
Leo -Ravenspuger 1509 Alemanha Funchal
Lucas Rem 1503-1509 Alemanha Funchal
João Rem 1509 Funchal
Martim Regei 1583 Funchal
Duarte Ribeir" 1559-1562 Funchal
Marcos Ribeiro 1561 Funchal
Pedro Ribeiro 1510-1579 Funchal Almoxarife de Alfândega
Jaques Rimão 1599- Funchal
Pero de Rocha 1536 Ribeira Brava Est,
TristãD de Rocha 1560-1569 Funchal
João Rode 1540 Funchal
Afonso Rodrigues 1516-1571 Lisboa Funchal Homem Bom
Amaro Rodrigues 1596 Funchal
Ambrósio Rodrigues 1536-1596 Funchal
António Rodrigues 1540- Funchal
António Rodrigues 1552 Calheta Funchal Est.
António Rodrigues 1559-1606 Tavim Funchal
Antônio Rodrigues 1569- S. Miguel Funchal
Antônio Rois Trozilho 1596-1597 Funchal
Anrique Rodrigues 1521-1546(+) Funchal
Bllrtolomeu Rodrigues 1530-1597 Santa Maria Funchal
Bento Rodrigues 1552-1555(+) Punchal R. Mercadore.'i
Bento Rodrigues 1597 Funchal
Cristóvão Rodrigues 1557-1558 Funchal
Diogo Rodrigues 1484-1569 Punchal Homem Bom, proprietário
Diogo Rodrigues, O Velho -16.. Funchal C. Novo
Domingos Rodrigues 1540-1599 Funchal
Duarte Rodrigues 1509-1594 Funchal Pelourinho. C, Novo
Estevão Rodrigues 1488-1545 Funchal Homem Bom
Fernão Rodrigues 1539-1550(+) Funchal Rendeiro
Pernão Rodrigues 1556-1572 Ponte Lima Funchal R. dos Tanoeiros
Fernão Rodrigues 1566-1575 Funchal R. N.' Sr.' do Calhau
Filipe Rodrigues 1558-1592 Funchal
Praneisco Rodrigues 1509-1561 (+) Funchal R. dos Marmeleiros(?)
Fraacisco Rodrigues 1571-1637 Flandres Funchal
Fructuoso Rodrigues 1564-1583 Funchal R, dos Pinhas
Gaspar Rodrigues 1494-1583 Funchal R. Valverde
Gaspar Rodrigues 1555-1591 Porto Funchal
Gaspar Rodrigues 1583- S. Miguel Funchal
Gonçaio Rodrigues 1509-1562 Funchal
Gu i1hermo Rodrigues 1500(+) Flandres Funchal
Jaques Rodrigues 1593-1596(+) Flandres Funchal
Jaques Rodrigues 1597 Funchal
Jerónimo Rodrigues 1524 Lisboa Funchal
Joiio Rodrigues Parada 1485-151 I Punchal Proprietário. Homem Bom

174
Mercador Data Proveniência Morada ObservaÇÓ<S

João Rodrigues 1509-1511 Pome Lima C.lhem Esl.


João Rodrigues Castelhano 1495- L535 Génova C.lheta V.O
João Rodrigues 1536 Braga Ribeira Brava: Esl.
João Rodrigues 155301577(+) Viana de Caminha Funchal R. SL a Maria
João Rodrigues 1591-1623 Flandres Fuochal
João Rodrigues Cauces ('!) 1593 Flandres Funchal
Lopo Rodrigues 1536-1572( +) Funchal R. João Tavira
Luís Rodrigues 1550 Guarda Funchal Es.c
MeLchior Rodrigues 1577 Funchal
Manuel Rodrigues 1540-1551 Funchal
Manuel Rodrigues L551-1562 Funchal
Manuel Rodrigues 1568- Lagos Fuochal
Manuel Rodrigues 1594 Funchal C. Novo
Marcos Rodrigues L594 Funchal.
Nuno Rodrigues 1571 Funchal
Pedro Rodrigues 1494-1553 Funchal Recebedor, almoxarife. escrivão,
Homem Bom
Sebastião Rodrigues 1530-1557 Ponte Lima Funchal
Sebastião Rodrigues 1555-1583 Pano Santo Funchal
Simão Rodrigues L517-1575 Funchal Recebedor quintos
Simão Rodrigues Vila Real 1590-L6L I Funchal
Vasco Rodrigues 1501-1550 Funchal
Vicente Rodrigues 1550-1563 Funchal
Pedro Rodrigo L556 Funchal
Julyam Romano 1509- Calheta Esl.
Vicente Rodrigo 1565 Tavira Funchal
Francisco Roque 1576 Funchal
Francisco de Sá 1558 Funchal
Francisco Salamanca 1567-1569 Burgos Funchal
Luís Jacome Salvago 1523 Génova Funchal
João Batista Salvago Génova Funchal V.O
Lucas Sal vago 1502-1520 Génova Funchal V.o, procurador de A. Sawago
Rodrigo Sanches 1565-1573(+ ) Funchal R. Direita
João Saraiva 1499-1526(+ ) Funchal Est'rivão alfandega
Hans Schmid 1509 hália Funchal
João Seahante (?) L544 Funchal
Lu is de Semana 1597 Funchal
André de Sepulveda 1581-1586 Lisboa Funchal Esl.
Amador Sequeira 1534-L561 Guimarães Funchal
Francisco Sequeira 1564 Funchal
Francís.co Afonso Sequeira 1580 Louve ., Funchal
Gregório Sequeira 1586 Funchal
Pedro de Sequeira 1564 Funchal
Dinis Semigi Séc. XV Florença Funchal Procurador mercadores judeus
Jerónimo Sernigi 1498-1508 Florel}ca Func:ha!
António Sevar 1592-1597 França Funchal
Manuel Sevarte 1554 França Funchal
Bartolomeu da Silva L587 Funchal
Matias Silva 1563 Funchal
Brás Fernandes Silveira 1583 Funchal
António Simões 1584 Funchal
Baltasar Simões 1592-1617 Funchal
João Soares 1582 Funchal
Jorge Soares 1593 Flandres Funchal
Martim Soares 1565 Funchal
Rui Soeiro 1490- Funchal
Álvaro de Sousa 1558-1563
Francisco de Sousa 1558-1581 Funchal
Martim Sousa 1565-1581 Funchal
Rodrigo Sousa 1568 Funchal
Álvaro Spínoln 1503 Génova Funchal
António Spinola 1472-1519 Génova Funchal
António Spínola 1596 Génova Funchal
Uazuardo Tarluem(?) 1552 Alemanha Funchal
Manuel Tavares L571 Guimarães Funchal
Simão Tavares 1567 Santa Cruz
FrancisoCo Rois Tavira 1576-1626 Funchal C. Novo
João Roiz Tavira 1568-1626 Funcbal C. Novo
Manuel Tavira 1581 Funchal
Pedro Tavira 1544 Funchal
Francisco Temprais(?) 1597 Funchal
Francisco de Teves 1569-1591 Guimarães Funchal
Custódio Teixeira 1597 Funchal
Gaspar Teixeira 1564(+) Funchal R. Direita
Henrique Moniz Teles -1591 Madeira Salvador (Brasil)
Jorge Thomas 1570-1576 Vila do Conde Funchal Vindo da Ribeira Grande em 1570
Jorge Trovão 1511 Funchal R. Direita
Francisco Tomás 1579 Funchal
António Tomé 1596 Aveiro Funchal
João Tomé 1559 Funchal
Manuel Tristão 1599 Funchal
Baptista Uzadamar (Micer-Baprista) 1440- Machico
Gravill Vallnez(?) 1574 Brelnnha Funchal
João Valdavesso 1510-1565 Castela Funchal
Pero Valdavesso 1567-1588(+) Castela Funchal
Henrique Vai 1582 Funchal
Fernão Valenes 1572 (?) Funchal
João de Vara 1570 Funchal

175
i\fercador Data Proveniência Morada Observações

Diogo Vasco 1572 Funchal


~ljuar Vaz 1565 Porto Funchal
Alvaro Vaz 1485- 1509 Funchal
Amónio Vaz 1509-1569 Funchal
BartoJomeu Vaz 1572 Funchal
Diogo Vaz 1494-1556 Funchal Proprietário
Egas Vaz 1511-1512 Funchal
Fernão Vaz 1517-1567 Funchal
Francbco Vaz 1494-15521+) Funchal Homem do ulmoxarifado quintos
Francisco Vaz 1570- I597 Funchal
Gaspar Vaz 1550-1555 Funchal
Gil Vaz 1482 Funchal
Gonçalo Vaz 1494-1555 Funchal
Jácome Vaz 1508-1569 Funchal 1508 eslava na Índia
João Vaz 1498-155. Funchal Homem Bom, proprietário
João Vaz 1551-1574 Canaveses Funchal
Lourenço Vaz 1497- 1569 Funchal Homem Bom. vereador. recebedor,
quartos
Luís Vaz 1510-1540 Funchal
Manuel Vaz 15 I 7-1594 Funchal
Pedro Vaz 1485-15471+) Homem Bom, proprietário. escrivão
contos
Pedro Vaz 1552-1606 Funchal ESI.
Salvador Vaz 1563- Funchal
Sebas(ião Vaz 1554 Funchal
Vicente Vaz 1494-1991 Funchal Proprietário
Rodrigo da Veiga 1594(1) Madeira Lisboa C. Novo
Gonçalo Veloso 1574 Funchal
Roberto Velovil 1580-1653(+) Inglaterm Funchal
João Verrnim 1570 Holanda Funchal
António Vicente 1562-1570 Funchal
Diogo Vicente 1561- Funchal
Fernão Vicente 1482 (?) Funchal
Francisco Raiz Vitória 1591 Funchal Judeu
António Vieira 1519-1554 Funchal
Frandsco Vieira 1519-1554 Funchal Escrivão contos e quintos
Manuel Vieim 1582-1593 Funchal
Pedro Vieira 1549 Funchal
António Viviam 1530 Funchal

Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; A.N.T.T., N.A., n.o 744-745, 747, 724, 902, 589; A.R.M.,
Misericórdia do Funchal, n. o 684,710-711; A.R.M., C.M.F., vereações de 1473-1600; A.R.M., L.o de
Notas de Ião Tavira, 1592; A.R.M., I.R.C., 1.0 do Tombo; Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, 1.0 II,
Ponta Delgada, 1968; Fernando Jasmins Pereira, O açúcar madeirense . .. , Lisboa, 1969; Virginia Rau e
Jorge Macedo, '0 açúcar da Madeira . .. , Funchal, 1962; M. do Rosário, Genoveses na História de
Portugal, 1977; A.H.M., vaIs. XV-XVII_

176
QUADRO N.o 2
MERCADORES NOS AÇORES SÉCULO XVI

Mercador Data Provenlêncta Morada ObservaÇÕ<S

Diego Afonso 1511 Faial Tenerife estrangeiro


Diego Alvares 1575-1593 Angra
ManoeI Alvares 1575 Ponta Delgada
Pedro Alvares 1583 Ponta Delgada
Sehastião Álvares 1590 Angra
Francisco Vaz de Andrade 1580-1592 Ponta Delgada R. Gaspar Rodrigo, c. novo, proprietário
Afonso Annes de Chaves 1518·1575(+) Chaves(?) Ponta Delgada R. dos Pcllames, proprietário
Fernando Anes 1511-1518 R.a .Grande
Gonçalo Anes 1540 Ponta DeIgada
João Anes 1580·1590 Agua d'A11o proprietário
Thomce Bares 1575 Inglaterra Angra
João Fernandes Barros 1580-1590 S. Miguel proprietário
Francisco Martins Barros 1580-1590 S. Miguel proprietário
Francisco Barbosa 1590-1620 S. Miguel Olinda (bras ii) estrangeiro
Ludolph Bonnans 1575 Flandres S. Miguel,
André Fernam.les Caldeira Terceira BrasU estrangeiro-
Lucas de Carcena 1530·1538 rtnlia Terceira
João Lopes Cardoso 1532- S. Miguel prçprictário
António Carvnlhais 1546 Ponta Delgada rendeiro
António Castro 1580·1590 Pono S. Miguel proprietário
João de Castro á552 Porto S. Miguel R. Direita
Pero Charles 1591 Inglaterra Açores
Ciprião Coelho 1583 S. Miguel
Carlos Coronel 1541 Angra estrdngeiro
Cristóvão Borges da Costa 1582 Angra proprietário
Álvaro da Cunhn 1580-1590 S. Miguel proprietário
Manoel Jorge Cunha 1580-16 S. Miguel proprietário, judeu
Luís Delfos IS -16 Flandres Ponta Delgada
Antónío Dias 1592 Vila Franca
Cristóviio Dias 1580-1590 Ponta Delgada proprietário
Duarte Dias 1593-1606 S. Miguel judeu
Fernão Dias 1555 Ribeira Grande
Gaspar Dias 1580·1505 Ponta Delgada proprietário. judeu
Gonçalo Dias 1561 Ribeira Grande
Jorge Dias 1550- Ribeira Grande rendeiro pastel
José Dias 1641 (+) Angra
Lucas Dias 1580-1590 S. Miguel proprietário
Manuel Dias 1547-1550 Ponta Delgada e8trangeiro
Marcos Dias 1553(+) Angl1l
Afonso Enes 1589(+) Ponta Delgada propriçlário
Joham Escor 1575 Vila da PRaia
~cdro Gonçalves Faria 1591
Alvaro Fernandes 1593 Angl1l
António Fernandes 1575 Angra
Baltasar Fernandes 1575-1591 Angra Brasil de,de 1591
Belchior Fernandes 1593- Angra
Francisco Fernandes 1549-1575 Angl1l R. Direita. C. Novo
Gonçalo Fernandes 1544-1550 Vila Franca rendeiro miunça
João Fernandes 1585 S. Miguel
P::mtaliam Fernandes 1575 Angra R. Direita, C. Novo
Sebasliam Fernandes 1552-1575(+) Ponla Delgada R. Direita, proprietário
Jorge Gonçalves Figueiredo 1580-1590 Ponta Delgada proprietário
Pantaleão Fognçu 1580-1590 S. Miguel
Pedro Rodrigues de Galanço 1593 Angra R. Dinis Afonso. C. Novo
Frandsco Giberliam 1534·1544(+) Angra
Manuel Gomes 1578 Ribeira Grande
André Gonçalves 1580-1590 S. Miguel proprietário
Antônio Gonçalves 1592(+) Castela Ponta Delgada R. do Aljube
Diogo Gonçalves 1555-1580 Castela Agua d'A11o rendeiro, proprietário
Pera Gonçalves 1593 Vila Franca
Pedro Gonçalves 1593 Angra R. Direita, C. Novo
Rui Vaz Gago Vila Franca proprietário
Gaspar Gonçalv~s -1570 Ponta Delgada
Melchi.or Gonçal ....es 1537-1591 s. Miguel proprielário
Silvestre Gonçalves 1576- Ponta Delgada R. dos Mercadores
Jorge Gago 1575 Vila de Raia C. Novo
Jpão Lopes Henriques 1580-1590 S. Miguel
Bras Henriques 1593 Angra R. DireÍla, C. Nova
Marcos Lopes Henriques 1580-1590 S. Miguel
Fernão Jaques 1571 Flandres Ponta Delgada
Fernão Garcia Jaques -1581 (+) Angra
António Jorge 1550-1565 Ponta Delgada R. DireilB, proprietário
Manuel Jorge 1592 Ponta Delgada R. Fonte, C. Novo
Luís Lopes 1547-1550
João Luis 1532{+) S, Miguel
João Luís 1593' Angra
Joüo Luís Teixeira 1530-1540 Vila da Praia
Francisco Machado 1592 Ponta Delgada R. do Mestre Gaspar
Francisco Martins 1598 Ponta Delgada proprietário
Gaspar Martins 1593 Angra
Manuel Martins 1575 Angra
Diogo de Mello 1527-1583 Ponta Delgada
Diogo de Mello 1576-1592 Ponta Delgada Cristüo Novo
António Mendes 1575(+) Ponta Delgada Cristão, proprietário

177
23
Mercador Data Proveniência Morado Observações

Digo Mendes 1580-1590 S. Miguel proprietário


Pemam Mendes 1575 Ponla Delgada R. Mercadores, C. Novo
Prancisco Mendes 1576(+) Angra
Luís Mendes 1592-1606 Ribeira Grande C. Novo
Manuel Mendes 1592-1606 Ribeira Grande C. Novo
João Martins Merens 1531-1555 Terceira
António Monforte 1592 Inglatem Ponla Delgada
Joam Monforte 1592 Inglaterra Ponla DeIgada
Pedro Fernandes Moreira 1580-1590 S. Miguel proprietário
Baslião Pass a 1593 Angra R. do Beco
António Mendes Pereira 1580-1590 S. Miguel proprietário
Francisco Mendes Pereira 1580-1590 S. Miguel proprietário
Gabriel Pinheiro 1592 Algarve Ponla Delgada R. do Contudor. C. Novo
Gaspar Pinto 1571 S. Miguel Funchal estrangeiro
Gonçalo Piris 1593 C. Novo
Sebastião Piris 15 Guimarães Vila Franca
Jácome de Póvoas 1550 Ponta Delgada
Manuel Rodrigues do Rego 1591 Açores C. Novo
António Ribeiro 1593 Angra C. Novo
André Rodrigues 1590-1620 S. Miguel Olinda (Brasil) estrangeiro
António Rodrigues 1592(+) Vila Franca C. Novo
Gonçalo Rodrigues 1552-1586 Ponla Delgada
João Álvares Rodovalho 1580-1590 S. Miguel proprietário
Jerónimo Rodrigues 1575-1593 Angra R. Direita. C. Novo
João Rodrigues 1580-159a S. Miguel proprietário
Manuel Rodrigues 1592 Ponta Delgada
Miguel Rodovalho 1598 Vila Franca
Bastiam Álvares Senra 1525-1583 S. Miguel
Adão Silva 1580-1586 S. Miguel proprietário
Manuel da Silva 1592- Ponta Delgada R. Manuel Garcia
Manuel Martins Soares 1580-159a S. Miguel proprietário
Baltasar Sousa 1580-1590 S. Miguel proprietário
Duarte Vaz 1559-1560 S. Miguel proprietário
Pedro Dehales 1589 Inglatem Ponta Delgada

Fonte: Gaspar Frutuoso, ob. cit., 1.0, II, III e IV (2 vols.); A.N.T.T., Inquisição de Lisboa, ms. 141-1-6,
141-6-13, 141-7-17, 141-6-11, 144-6-13, 144-7-17; B.P.A.P.O., Fundo Ernesto do CaTIto, ms. 20, 52,
56, 107; A.C.M.R.G., /.0 I de acordãos: Arquivo dos Açores, 15 vols.; Maria Olimpia de Rocha Gil, O
arquipélago dos Açores no século XVI! . .. , Castelo Branco, 1979.

178
QUADRO N.o 3
MERCADORES NAS CANÁRIAS SÉCULO XVI

Mercador Data Proveniência Morada O.........ções

Juan Absolbi 1561 França Gran ennaria


Jácome Adorno 1531 Génova Gran Canaria
Rafael Adorno 1540 Génoya Oroo Canaria est.
Miguel Afonso 1581 Cll.'ite!a Tenenfe V.·
Nicolas Afonso 1522·1525 Castela Tenerife V,·
Juan Agana 1520 Génova Tenerife V.u
Antón de Agueda 1522·1530 Castela Tenerife est.
Fernando Aguilar 1539-1530 Castela Gran Canaria
Francisco Aguiniga est, e v. ll , moyor domo do concelho
1550 Orno' Canaria V,,
Juan de Alarcón 1583-1583 Castela Gran Canaria V,,
Giovanni Alberto Gcraldini 1509-1525 Flnrença Tenerife V.o
Aloaso de Alealá 1531-1534 Oran Canaria V.'
Fernando Aleour 1512 Catalunha La Pall1lJl V,,
Juan Alemãn 1509-1513 Oran Canaria esl.
Bernardo Alirall 1529 Barcelona Oran Canaria est.
Alanso Almonte 1511 MagueI Tenenfe esl.
Fernanda Almonte 1501-1508 Tenerife V.'
Alonso Alvarez Portugal
António AIvarez 1599 Cananas Funchal
Nuno Alvarez 1520-1521 Teguesle V,,
Pedro Alvarez 1570 Cll.'itela Ornn Canaria V.'
Rodrigo Alvarcz 1593-1598 Oran Canaria V,,
Lu is de Amaya 1511 Tenerife
Bemnrdino Anehsi 1550 Génova Oran Canaria esl.
Giles de Ano 1539 Flandres La Gomera est. em Tenenfe
Honoralo Angelén de Mangue (séc. XVI) França Oran Canaria
Nicolús de Aramburo 1520 Tenerife est.
Esreban de Arano 1520 Tenerife V.'
Oehoa de Arholaneha 1521 Tenerife es!.
Gaspar de Arguijo 1532-1594(+) Tenerife V.'
Miguel Armant 1522-1525 Catalunha Tenerife
Matco de Armas -1590(+) Tenerife V.O
Juan de Arras 1538-1539 Tenerife V,,
Bautista Ascnnio 1498-1506 Cádiz Tenerife v," alguacil mayor (501)
Sebastian Alonso 1599 Fuerteventura V."
li\igo Martinez de Aspetia 1500-1522(+) Gran Canaria V,"
Crist<Íbal Atano 1552 Génova GraR Canaria
Juun de Ávil. 1567 Custeia Grao Canaria
Barlolomé de Ayala 1578 Castelo Tenerife V,"
Jorge de Ayala -1558? GraR Canaria es!.
Pedru Ayala 1593-1598 Castela Grao Canaria V,"
Ventura Ayala 1556 Ambues OraR Canaria agente qo irmão Diego
Ju.n de Ayamonle 1549 Caslela ara" Canaria est.
Antón Axcaxa 1510-1511 Flandres Tenerife
Luís Axcaxa 1510-1511 Flandres Tenerife
Francisco de Baeon 1527 Castelo OraR Canaria
Juan de Bnenu. 1555 Castela OraR Canaria
Andrés B.éz 1578 Gran Canaria V,O
Alonsn Baéz 1552 Gran Canaria v. 0

Antón, Baéz 1550 Gran Canaria. V,o


Hemon Baéz 1522·1525 Sevilha Tenerife cst.
Pedro Baéz 1520 Lisboa Tenerife est.
Diego de a.eza 1522·1525 Tenente
Baplista Bairola 1510-1511 Génova Tenerife V,O
Alonso de Balhoa 1554 Oran Canaria v.o, escrivão público e mayor dei cabUdo
Luís de Balhoa -1558(?) Orao Canaria V,o
Rodrigo de Balhoa 1572·1590 Castela Gran Canaria V,O
Jâr;:ome de B.uquianu 1522-1525 Génova Tcnerifu est..
Juan Bardôn 150R TeneriCe est.
Pedro de Barreto 1554 Caslela Gran ennaria V.O
Alvaro Barreto 1549 Castela Oran Canaria
Micael Barronn 1529 Flandre.'i Oran Canaria est.
Juan Baptista Amonte 1550·1552 Génova Oran Cnnaria V.O
Juan Bllutistll Coroou (séc, XVI) Gênova Gran Canaria
Juan Dautista Frunqucs 1521 Tenerife
Juan Bautistn Lomelirn 1565 Génova Gmo Cl.maria
JlHl1l naul ista Reto 1590·J591 Génova Ornn Cannria esl.. V.O
Cri5tbhal de Bcdoya 1563 Oran Canari:u esc
Nu!!", Belbuy l.í20 Catalunha TeIlerife est.
Alonsu Bellu 1522 Portugal Orao Cannria
Guillén de Ayala 1592 Castela Ornn Canaria
Diego nelI" 1510 Tenerife est.
Pedro Baltmn 150R Tcnerife V,o
Gonzulo Benavente 1550 Sevilha Tcnerife est.
Pedro Benavente 1501 Cádil, Oran ennaria cst.
Junn Rcnilez 1508 Tcnerife est.
Micer Benitu 1521 (+) Tenerife
Juan Bemnl 1508·1511 Tencrife est.
Tnmás Remavelt 1526 Flandres Tenerife est.
Junn de Berres 1501·1510 Biscaia Tcnerife est.
Sanchu de Bi1ba" 1501-1509 Biscaia Tenerife esl.
Guilhermo de Dlanco 1494 Italia Gran Canllfill esl.
Pedro flInneo 1595 Flandres renerife V,O

179
Mercador Data Proveniincia Morada ObservaçDes

Lucas Bondennau 1545 Flandres Tencrife


Bautista Borneugo (séc. XVI) Génova Orao Canaria est.
Lorcnzo Borneugo 1507-1508 Génova Tenerife est.
Rafael Bomeugo 1522 Génova Gran Canaria est.
Juan BOlíller 1534-1538 Flandres Tenerife est.
Jacopo Bolh -1562(+}
Gahriel Bo. 1550-1552 Génova Oran Canaria V.O
Tomás Box (sé•. XVI) Génova Gran Canaria
Guilhame de Bralo 1508 Tenerife
Giraldo Brinzeles 1558 Flandres Oran Canaria. esL. agente
Lamberto Broque 1550-1552 Flandres Oran Canuia esL
Luís de Burgos 1520-1525 Tenerife est.
Leonardo Buron 1522 Génova Gran Canaria esC
Sebastiân Bumn 1550-1552 Génova Oran Canaria est.
Guilhenno de Bros ( .. .) (séc. XVI) Ámbores Tenerife est .• Cádiz
Simon Buzine 1533 Flandres Tent:rife est., Cádiz
Lamberto Buren 1545 Flandres Tencrife
Jácome de Caçaiia 1507-1525 Génova Tenerife V.O
Matco Cairasco séc. XVI Gran Canaria V.O
Antônio Cagero 1552 Génova Gran Canaria V.O
Esteban Caldemn 1591 Génova Oran Caoma V.O
Jeranimo Calderón 1552 Génova Gran Canaria V.o
Barnabé 1592 Gran Canaria
Teodoro Calderón 1528-1565 Génova Oran Canaria est.
Romau de Caletote 1569-1575 França Oran Canaria V.o
Anlónio Campos 1565 Gran Canaria v. o, administrador rendas
Francisco de Campos 1559 Castela Gran Canaria yo
J.an de Campos 1511 Tenerife
Pedro de Campos 1500 Tenerife V.O
Jaime Cancer 1508 Tenerife V.o
Bernazdino Canino de Veinlenllha 1561 Oran Canaria v. o, regedor
Hernando Cannona 1522-1525 Grao Canaria
Juan de Cannona 1520-1525 Tenerife est.
Pedro de Cannona 1553 Catalunha Gran Canaria V.o
Jacome Corona 1522 Génova Gran Canaria V.O
Francisco Casaiia 1523 Génova Gran Canaria V.O
Juan Batista Casales 1550-1552 Oénova Gran Canaria est.. v.o
Jâcome de Casanis Génova Oran eanaria est.
Juan António Casanova 1550-1552 Gênova Orao Canaria V.O
Polo Casanova 1534 Génova Grao Canaria
Anton de Cascaja 1509
Jácome Catano 1508-1510 Oran Canaria esc
Jacome Casteleyn 1508-1509 F1andres
James Casleieyn 1509 Inglaternl Tenerife V.o
Jaques Caste!eyn 1508-1510 Flandres Tenerife est.
Juan Martinez de Caslelleja 1509-1510 Flandres Tenerife V.o
Andrés de Calillaria 1564 Gran eanaria v.o
Cabrián Cabrance 1552 F1andres
Diego Chabot França Gran Canma
Diego Chagojan 1539 Castela Gran Canaria est.
Augustin Chav;ga 1522-25 Génova Tenerife
Giraldo Chavega 1524 Gênova Oran eanaria est.
Bartolomé Chlprana 1522-1525 Cádiz Tenerife est.
Hanes Clas 1530 Flandres Gran Canarin
FranciscQ..Codína 1533-1583 Calalunha Gran Canaria V.o
Juan Codina 1552-1583 Calalunha Oran Canaria v. D , regedor
Gonzal0 de Coimbra 1522 Oran Canaria V.o
Andrés de Cantillana 1563 Castela Gran Canaria V.o
António Colombo 1532-1535 Génova Oran Canaría V.O
António deI Consistorio 1503 Tenerife
Rodrigo de Contreras Montalbol 1597 Castela Gran Canaria
Gonzalo de Cordoba 1508-1522 Tenerife V.O
Luís de Lo.reto 1524 Génova Gran Canaria v .0. arrendador rendas
Juan de la Cunha Flandres Tenerife est.
Diego Curtidor 1517 Castela
Gullhenno Dapinln 1513 Flandres Tenerife est-
Rodrigo Delfo 1510-1511 Tenerife esl.
ConeHo Despas 1512 Flandres Tenerife est.
Francisco Deza 1535 Castela Oran Canaria V.o
Alondo Diaz 1522-1565 Sevilha Tenerife
Anton Diu 1522-1565 Sevilha Tenerife V.O
Diego Díaz 1571 Castela Oran Canaria est.
Francisco Díaz 1520-1521 Tenetife V.o
Melehor Diaz 1509 Tenerife
Ruy Diaz 1522-1525 Sevilha Tenerife
Sebaslian Díu 1579-1591 Cas,tela Oran Canaria V.o
Martín DObcotin 1520 Sevilha Tenerife
Pedra Donningo Jorge 1571 Oran Canaria V.o
Alonso Donaine 1508-1509 Tenerife V.O
Jácome Donis 1520 Flandres Oran Canaria est.
Pedro Dorador 1508 Oran Canaria V.O
Antonio Dorantes 1522-1525 Génoya Tenerife
Luís Dores (-.-l AmbeDs Tenerife est.
Gonzalo de Ecrija 1510-1525 Tenerife est.
Bartolomé Enzio 1535 Castela Oran Canaria est.
Pedra de Escalona Gran Canaeia V.o
Bernardo Escadatl 1512-1519 Florença Tenerife V.o
Pedro Escobar Gran Canana v.o, escrivão público e do Cabildo
Roberto Espaehaforte Inglalerra Oran Canaria V.O

180
Mercador Dala Proveniência Morada Observações

Francisco Espindola 1515 Inglaterra


Juan de Espinosa -1558(1) Olanez Oran eanana est.
Pedro de Esp-inosa 1520 Cádiz
Martin de Espinosa 1530 Tenerifc
Lorenzo Esquier 1596-1598 Gran Canaria V.·
Lorenzo Estrela 1522-1525 Génova Tenerife
Martin de Évora 1501 Orao Canaria V.·
Bartolomê Fava 1522-1525 Tenerife V.·
Andrés Febres 1562 Flandres Gran Caoaria est.
Andres Fernandez 1509-1510 Tenetire est.
Antón Fernandez 1520 Tenerife V,·
Diego Fernandez Portugal Gran eanaria V,·
Francisco Fernandez 1520-1591 Castela Gran eanana V,·
Gaspar Fernandez 1520-1546 Portugal Oran Canaria V,·
Gonçalo Fernandez 1530-1531 Sevilh;1 Gran Canaria
Juan Fernandez 1511 Sevilha Gean eanaria
Pedro Fernandez 1511-1525 Tenenfe esl.
Fernando Fernandez de Coya Orao Canana V,·
Annque Ferrer Barcelona Orao Canaria
Francisca F!orença 1501 Tenetife esl.
Antôo Fonte 1520-1529 Catalunha Teneeire v.o, regedor
Antico Fonte 1528 Gran eanaria. V,o
Rafael Ponle 1418-1523(+ ) Barcelona Tenerife v. I}, regedor
Lucas Forte 1552 Génova Barcelona f:st. Gran Canaria
Marcos Francisco 1522-1525 Tenerife est.
Marcos Franco 1522-1525 Tenerife
António Franqucs 1521-1525 Tenceife
Diego Franques 1528-1566 Gran Cllnaria V."
Melchor Pranques 1519-1552 ltália Gran Canaria V."
Marcos Franques Gran CaRaria V."
Nicolao Franques 1591 Génova Gran Caoaria
Simon Franques 1531 Oran Caoaria
Marcos Franco 1511-1520 Tenerife V,o
Alonso de [a Fuente 1546-1552 Ca."iteIa Gran Canaria est., v.o
Juan de la Fuente 1520 Tlmerife V."
Alonso Galiano 1529-1534 Caslela Oran Canaria V."
Antón Garcia 1510 Castela Gran Canaria est.
Francisco Garcia 1522-1525 Gran Canaria V."
GOn1.alo Garcia 1509-1510 Tenerife V,o
Oregario Garcia 1519-1599 Castela Gran Canari.a V."
LoreRza Garcia 1520-1521 Teneeife
Pero Garcia 1501-1524 Tenerife v. o, esto
Tomasín Gardon 1501 Génova La Palma V."
Bartolomé Gayardo 1505 Génova Tenerife est.
Juan de Gunbreux 1525-1526 Tencrife V."
Diego Gil 1522-1525 Tencrire V."
Andrea Giraldin 1522-1525 Tenerife eslo
Francisco de Godina 1550 Gênova Gran Canaria esl.
Alonso Gomez 1546 Castela Oran Canaria V."
Diego Gomez 1508 Tenetire
Adan González 1584-1598 Castela Orao Canaria V."
Alonso González 1546 Castela Grao Canaria est.
Diego González 1511-1521 Tenerife est.
Eslebao González 15Z0 Lisbna Tenerife est.
Femán González Tenerife
Gaspar González 1550 Pnrtugal Gran Cnnaria V."
Jorge González 1569 Castela Oran Canaria V."
Juan González 1510-1586 Portugal Oran Conaria V."
Juao González Sevilha Gran Canaria est.
Manuel González 1522-1535 Portugal Tenerife est.
Pedro González 1552-1583 Portugal Oran Canaria est.
Ruy Gonlález 1520 Portugal Tenerife est.
Sehastián González 1521 Grao Cnnaria est.
Cario Grillo 1522 Gênova Oran Canaria est.
Bartolomé de Grinaldo Gran Canaria esl.
GarCÍa de Guisla Oran Canaria V."
Alonso GUliérez 1508-1518 Sevilhn Tenerife est.
Diego GUliérez 1522-1525 Tenerife est.
Francisco Gutiérez 1565 Castela Oran Canaria V."
Luís Gomez Trapero 1531-1583 Sevilha Gran Canaria est.
Gil Gutiérez 1520-21 Tenerife V,a
Fructuoso Hernández 1581 Portugal Gran C.anaeia V,o
Luís HcrniÍndel. 1523-1552 Calalunha Gran Canarill V,o
Luís Hemández Rasco 1550-1552 Gran Cannria V,o
A lonso de Herrera 1508-1511 Tenerife v.o, est. Oran Cnnaria
Diego de Herrera 1501 Tenerifc V."
Francisco de Herrera 1531 Oran Canaria est.
Gonzal-o de Herrera 1510-1511 Teflcrife est •• v.o
Juan de Herrera 1517 Caslela Gran Canaria
Pedro Hurtelín 1518 Caslela Tcnerife V."
Rodrigo Hurtado 1536 Castela Oran Canaria
Melchior Imperial 1590 Génova Oran Canaria V."
Juan Jácome de Canninatis 1506-1539(+) Lombnrdia Tenerife est .• v,o
Alonso de Jaén 1501-1525 Tenerife V."
Diego de Jaén 1520 Tenerife
Francisco Jaén 1520-1525 Tenerife 1523 esl. Gran Canaria
Garcia de Jnén Caslela Gran Canaria est.
Gonzalo de Jaén 1549 Sevilha Oran Canaria
Rodrigo Jans 1550-1559

181
Mercador Data Pr()l'eniênda Morada Observilções
-----_._------
Nicolás J.n. 1550-1559 Fiandres Gran CanariD. est.. v..o
Ouilibec Jaquelot 1509 Tenerifc
Juan Jaques 1525-1565 Flandres La Palma v.o, esC em Tenerife
Fernandi J.y.n 1511 La Gllmera V."
Alonso Jerez; 1508 Tenerife V.o
R_ de Jerez 1552 Oran eanaria
Diego de Jerez 1550-1552 Gran Canada est.
Francis.:o de Jerez 1527 Castela Gran Canaria
Juan de Jerez 1510-1521 Tenenfe esr.
Rodrigo de Jerez 150g-1511 Tenerife V_"
Fernando Ji menez 1524 Sevilha Oran Cnnaria V."
Marcos Jimenez 1525 Flandres Oran Canaria t':st.
Gaspar Jarba 1520-1563 Sevilha Gran Canada est.
Lui. Jorba 1520-1525 Tenerife
Amón Jóvem 1510-1531 Catalunha Tenerife V_"
Jaime Jovem 1500-1524 Tenerife V."
Juan de Juambruz 1510-1511 Flandres Tenenfe est
Mateo Juan de Carbon 1507-1509 Tenerifc V_"
Bernardino Justiniano 1520-1525 Géno ...a Tenerife V."
Tomás Justiniano 1504-1525 Génova Tenerife est., v,O
Luís de luva 1520 Tenerife V."
Diego Labrador 1516 Oran Canaria
Martin de Lanaja 1507 Tenerife
Ju.n de L1antadillo 1522-1525 Burgos Tenerife
Pedro de L1antadillo 1522-1525 Burgos Tenerife
Oonzalo de Lara -1558 Castela Oran Canaria
Aguslin Leardo 1510-1511 Génova Tenerife est.
Pedro Ju.n Leardo 1516-1555 Génova Tenerife est., v."
Tomás Leardo 153g Génova Oran Canaria esl.
Segundo Labrôn 1531 Castela Oran Canaria est.
Garcia de León 1511 Tenerife est.
Juan de Léon 1510 Tenenfe v.o
Marcos de Lé-on 1574-1592 Ca..lite[a Gran Canaria V."
Juan de Lope 1521 Tenerife V.o
Francisco Lerea 1558 Génova Gran Canaria
Jeronimo Leres 1550 Gênova Grao Canaria est.
Jácome Lercam Génova Gran Canaria V."
Juan de Llerena 1521 Tenerife C:5t., v.o
Ju.n de Lygrave 1597 Gran Canaria V."
]óeome Liberal 1572 Génova GraR Canaria
Francisco Lices 1550 Flandr.. Gran Canaria V."
Afonso Lôpez 1550-1552 Oran Canaria V."
Diego López de Ponillo 1531 Castela Gran Conaria est.
Francisco López 1508-1522 Castela Tenerife V_o
Juan López Pnnogal Tenerife
Juan López de I. Fuente 1510 Tenerife
Ocho. López Gran Canaria V."
Pedro Lopez 1520-J599 Cádiz Tenenfe V.o
Pedro Losada 1520-J521 Tenerife V."
Fernando de Lugo 1502-1527(+) Castela Tenenfe v.o, alguacil e alcaIde mayor
Francisco de Lugo 1508 Gran Canaria est.
Esteban Lois 1522-1525 Tenerife
Andrés de LUDa 1511 Tenerife
Iuanoto Luna 1509 Tenerife
Pero de Luna 1510 Tenenfe
Juan Lutiano 1546 Castela Gran Canaria es(,
Jeronimo Macia 1535 Génova GraR Canaria es(,
Dnvid Mailllele 1520-1526 Flandr.. Gran Cnnaria
Comielles: Manasc 1568-1578 Flandres Gran Canacia esl. . v.o
Francisco Mauríque 1556-1557 Castela Oran ennaria
Juan Marcel 1522-1525 Gran Canaria V_o
Ju.n de Marchen. 1531 Castela Grnn Canaria esr.
Niculoso a Marin J529 Génova Gran Canaria
Diego de la Marin. J522-1525 GraR CanariLi V."
Jaime Marsanz 1531 Catalunha Oran Canario .est.
Diego Manin 1520 Tenerife est.
Francisco Martin 1521 Tenerife V.I)
Pero Martin 1507 Tenerife
Andrés Manin Bnrbadilho 1520 Tenerife
Juan Manin de Castillej. 1507-1525 Sevilha Tenerife cst.
Alonso Martinez 1575-1582 Sevilha Gran Canaria V."
Francisco Martinez 1531 Castela Gran Canaria esl.
Alonso Márquez 1576 Oran Canaria V.O
Francisco de la Mata séc_ XVI Gran Canarin V. n
G.spar Mateo 1523 Catalunha Gran Canaria est.
Antonio de M.yuello 1530-1532 Gênova Oran Canana v.o, regedor Cabildo
Jerónimo Mayuello -1558 Génova Grnn Canaria V."
Lázaro de M.yuello 1550-1552 Génova Gran Canaria V."
Pedro de Mena 1508 Oran Ca.naria v.o, cst. Tenerife
Antonio de Medina 1550 Oran Canllria
Banolomé de Medina 15J6-1520 Castela Gran Canaria est., v.O
Bautisla d. Medin. Gran Canaria est.
Juan de Medin. 1569 Oran Canada V.O
Juan Méndez 1520 Tenerlfe cst.
ESleban Mobtón 1507-1511 Génova Tcnerife est.. v.O
Pedro de Mérida 1522-1530 Castela Grau Canaria est.
B.nolomé de Milan 1507-1511 Génova Tenerife est.
Alon.o de Miranda 1522-1525 Castela Tenerife
Francisco Mirôn 1508-1510 Tenerife es!.

182
Mercador Data Proveniência Morada O~rvações

Antonio de Montesa 1553-1563 Castela Gran Canana esl.. reRedor


Monloya 1510 Tenerife V,o
Juan de Mont Serrat 1519 Catalunha Oran Canana est.
Baltasar de Morales 1521 Tenerife
Francisco Morales 1522-1525 Tencrife
Guilhenno Morall 1520-1521 Tenerifc
CristôbaJ Moreno 1507 Tenerife est.
Juan Moreno 1522-1525 Tenerife
Francisco de Morillo 1520-1525 Tenenfe est.. V,·
Nicolás Movan 1578 Aandres Grao Canaria est.
Juan Baptista de Negro 1501 Génova Orao Canaria est., V.O de Sevilha
Francisco Neymn 1491-521 Génova Tenerire V,o
Tomás Nichols 1556-1560 Inglaterta Tenerife
Antonio Nomelín 1507 Gran CanariB
Pedro de la Nuez 1522-1525 Génova Tenenfe
Francisco NuJiez 1530 Castela Gran Canaria
Hemán NUDez 1531 Portugal Lauzarote V,·
Juan Nuiiez 1522-25 Sevilha Tenerife
Melccho! Nuiiez 1535 Gran Canatia est.
Jácome Nuremberque La Palma V,·
Elias Obin 1537 OraR Canari3 V,o
Juan Obrebal 1525-1526 Tenerife est., v_o
Juan de Ochoa Tenerife
Prancisco Orne 1554 Castela Gran Canaria V,o
Sancho Ordena 1520 Grao Canaria est.
Jerónimo Orerio 1500-1507(+} Génova Oran Canaria V.o
Alonso Ortiz 1511 Tenerife
Juan Ort;z 1571 Castela GranCanaria V.o
Juao de Medina 1569 Castela Orao Canaria V.o
Fernando Ortiz 1531-1533 Castela Oran Canaria est.
Nicolás Ortiz 1598 Castela Gran eanaria v.o
Rodrigo Ortiz 1550 Oran Canaria est.
Bcoito Oselo 1508 Génova Tenerife est.
Diego de Oviedo 1522-1525 Tenerife esl.
Marcos Franco y Oviedo 1522 Tenerife
Beoito Oxelu 1510-1511 Génova Tenenfe est.
Juan Pacho 1511-1525 Tenerife v.o
Francisco Paéz Grao Canaria v.o
Jans Pafmle 1522-1525 Alemanha. Tenerife esl.
Francisco de Palencia Castela Oran Canaria V.o
Francisco Pulomar 1496 Génova Gran Canaria v.o
Flerigo Caniguerola 1529 Génova Oran Canaria CiL, v.o
Jaques de Papa Flandres Tenerife esL
Jusepe de Paz 1596-1598 Castela Orao Canaria v.o
Garcia de la Pena 1545-1552 Castela Gran Canaria cst.
Luis de Penalasa 1546 Castela Gran Canaria esl.
Alon so Pérez 1520-1525 Tenerife V.o
Anton Pórez Cabeza 1510-1534 Catalunha Oran CaD atia v.o
Bartolomé Pérez 1520 Tenerife V.o
Barnabé Pérez 1596 Castela Oran Canaria V.o
Gonzalo Pérez 1524 Castela Oran Canaria esL
Rernán Pérez Grau eanana est.
Juan Pérez Cabeza 1534 Castela Gran eanaria v.o
Lorenzo Pérez 1530-1538 Génova GranCanaria V.o
Juan Pérez Ooitiner 1550 Oran Cnnaria est.
Fernán Pórez de Loya 1529-1552 Castela Gran Canaria es1., v.o
Juan Pérez Relurbio 1556-1559 Castela Orao Canaria est.
Juan Pérez de Zorroza 1503-1511 Biscaia Tenerife V.o
Marcos Pérez 1510-1511 Tenerife
Nicolál) Pérez 1594 Castela. Oran Canana V.O
Rodrigo Pérez 1552 Oran Canana V.o
Rodrigo Pérez 1552 Oran Canaria est.
Silvestre Pinelo 1520 Génova Tenerife V,O
Tomás Pinelo 1587 Génova Gran eanaria
Felipe Pilesen 1592 Orao eanaria v.o
Juan Ortega 1599 Castela Oran Canana v.o
Diego de Palanco 1551-1553 Castela Oran Canaria
Antón Pons 1521 Oran eanana est.
Cristóbal Ponte -1525 Génova Tenerife v.o
Lope de Portilho 1520-1528 Tenerife est., v.o
Juan de Porras 1521 Madeira Gran Canaria est.
William Prall. 1518 Inglaterra Tencrife
Hans Prefale 1525-1526 Alemanha Tcncrife cst.. v.o
Alonso Prieto 1522-1525 La Gomera V,o
Juan Prieto 1508 Tenerife est.
Rodrigo Prieto 1511 Tenerife
Francisco Provenzal França Orao Canaria
Cristóbal de la Puebra 1502 Grao Caoaria v.o
Juan Pucntc 1522-1525 Tenerife V.o
Lu is de Quesada 1552-1556 Caslela Gran Canaria V.o
Rodrigo Quesada 1535 Castela Grao Can8.TÜt
Juan de Quesada Molina 1555-1557 Oran CanariB
Francisco Rebelo 1510-1511 Tenerife esl.
Marcos Raberto 1520 Catalunha Tenerire est.
Luca Rego 1510 Tenerire cst.
Pablos Reinaldos 1582 França Gran eanaria v.o
Diego Ribero 1520 Portugal Tenerife est.
Bautista Riberol 1487-1509 Génova Orao Canana v.o, regedor
Cosme Riberol 1506-1509 Génova Gran eanaria est.

183
Mercador Data Proveniência Morada Observaçõeci

Francisco Riberol 1488-1514 (+) Génova Gran Canaria esl.


Lorenzo Riberol 1533 Génova Orao Canaria
Domenigo Rizo 1522-1525 Génova Tenerife
atiber Rj,o 1571 França Grao Canaria V.o
Alonso Rodriguez Caslilho 1555-1589 Castela GraR Canaria V."
Antón Rodriguez 1520-1521 Tenerife V."
Cristóbal Rodriguez 1563 Castela Gran Canaria V."
Gonzalo Rodriguez 1522-1525 Tenerife
Jorge Rodriguez 1520-1525 Tenerife V."
Juan Rodríguez 1530-1582 Castela Palma V."
Pedro Rodriguez 1522-1560 Castela GraR eanaria est.
Vasco Rodríguez 1522-1525 Sevilha Tenerife est.
Afonso Rodríguez de Palenzuela 1506 Sevilha Gran Canaria V."
Blasino Romano 1510 F1oren", Tenerife est.
JU2.n Romano 1510-1511 Florença Tenerife est.
Juan Romara 1539 Tenerife est.
Juan Rondinel 1506 Florença Tenerife est.. v.o de Sevilha
Piero Rondinelli 1509 Florença Palma est.. v. o de Sevilha
Pedro RO<luero 1508 Génova Tenerife esc. v. O qe Cádiz
Gabriel de la Rosa França Orao Canaria V."
Afonso Ruiz 1511-1541 Tenerife V."
Antón Ruiz 1507-1522 Caslela Tenerife V."
Crislóbal Ruiz 1507-1510 Castela Tenerife est., v. o
Gonzalo Ruiz 1520-1525 Tenerife est., v. a
Miguel Ruiz 1508·1509 Tenerife
Juan Ruiz de 8erlanga 1507-1515 Tenerife La P<tlma v. o. escrivão Tenerife La Palma
Juan Ruiz de Requera 1510-1536(+) Castela Tenerife v.", regedor (1514)
Juan de Sagasla 1576 Castela Gran Canaria V.O
Juan de Salamanca Gran ennaria V."
Luis Salucio 1527 ltalia Gran Canari.a V."
André. Salvago 1522-1525 Tcncrife est.
Domenego Salvago 1506-1513 Génova Tenerife
Alonso Sánchez 1509·1534 Castela Gran Canaria est.
Juan San Martm 1522-1530 Tenerife V."
Diego de San Martin 1541 Tenerife V."
Diego Sánehez 1510-1525 Sevilha Tenerife :51., v."
Francisco Sânchez 1522·1525 Tenerifc V."
Juan Sánchez 1520 Tenerife
Martin Sánehez 1511-1525 Tenerife ~st.. V.O
Fero Sánchcz 1508 Tenerife
Diego Sânchez de Jerez 1527-1530 Castela Oran Canaria est.
Pero Sânchez 1532-1537 Gran Canaria est.
Jaime Sanra Fé 1510 Castela Tenerife est.
Gon:z:alo Santa Finia 15!1 Tenerife
Luis de Santiago 1550 Oran Canaria V."
Antón Seagle 1522 Flandres Tenerife est.
Luis Seagle 1522 Flandres Tenerife esl.
Alvaro de Segura 1531 Gran eanaria V"
Gonzal0 de Segura Gran Canaria V."
Fernando Sepúlveda 1510 Tenerife
Francisco Sepúlveda 1510 Tenetife
Gabriel Socamis 1512 Catalunha Tenerife
Pedro Soler 1522-1525 Catalunha Tenerife V."
Jácome Sopranis 1500-1524(+) Génova Oran Canaria
Bernardino Soria 1532-1537 Caslela Oran Canaria est.
Gaspar Soria 1586-1587 Castela Oran Canaria V.o
Hemando de Soria 1553 Castela Oran eanaria
Juan Baptista Soria Génova Oran Canaria
Pedro de Soria 1550-1552 Tenerife v.o, esl. Gran Canaria (1550)
Guilhermo Sonn 1526 Flandres Tenerife est. e v.o
Hernán Suárez 1507-1511 Tenerife V."
Fernão Tabarco 1510-1511 Tenerife V."
Alonso de Toledo 1532 Castela Oran Canaria est.
Juan Tomás de Mont 1522-1525 Gênova La Gomem V.o
Bernardino de la: Torre 1538 Castela Gran Canaria
Antonio Tosode 15S2 Génova Tenerire V."
Luis Trapero 1537 Sevilha Oran Canaria est.
Fernando Triana 1522-1525 Tenerire V."
Jácome de Trigueros 1552 Gran Canaria V."
Juan Tuyn 1500-1550 Flandres Tenerife est., v. o de Madeira
Juan de Valladolid 1532 Castela Oran Canaria
Juan de VaIverde 1546 Castela Ornn eanaria est.
Johan Vau Halmade 1533 Anvers Oran Caoaria
Tilman Vau Kesscl 1526-1540 Anvers Orao ennaria est. Tenerife
Jan Vau Trille 1561 Flandres La Palma v.o
Jotis Vau de Walle 1531-1565 Flanllres La Palma V."
Luis Van de Walle -1587(+) Flandres La Palma V."
Amaldo Vandala 1569-1572 Flandres La Palma v. o ado de fazenda
torge Vaadala 1526· Flandres Tenerife est.
Luis Vandala Flandres Tenerife est.
Franscisco SobraIlis 1530 Génova Gran Canaria esC
Daniel Vandana 1588-1595 Flandres Gnm Canaria V."
HeImau Vandeu Marraquer Flandres Grao Canaria
Pedro Vandevela Flandres Oran Cunaria est.
Bartolomé de Varea 1510 Tenerife est.
Martin de Vargas 1537 Gran Canaria est.
Michel Vasol 1525-1526 Flandres Tenerife est.. mayordomo dei Adelantado
Francisco Vazquez 1590-1593 Castela Oran Canaria V."

184
Mercador Data Pro veniêocia Morada O_.1lÇÔ<lI

Diego Vazquez Botelho 1585 Castela Gran Canaria v.a


Francisco Vc:intemila Génova Gran Canaria
Alonso Velez 1552 Oran Canaria
Pedro Velini, 1550 Flandres Gran Canana
Antonio Velzer 1513 Alemanha Palma/Tenerife
Martim Vicente 1508-1509 Tenente esc
Juan Videl 1522-1525 Tenerife
Pedro Villarre.1 1510 Tenerife
Matea Vifia 14'l4. I506 Gênova Tene:rife V.O
Grinalda Virlin 1517 Flandres Tenerife cst.
Joesl Vog.lts 1526 Flandres Tenerife est.
Alonso de Xôres 1511 Flandres Tenerife V.a
Lanzarote de Xebres Aandn:s Tencrifc
Rodrigo Xerez 1511-1513 Tenerife v.a
Juan Xumbrcux 1511-1513 Flandres Tenerife
Alyandro Yanes 1511 Tenerire
AIonso VaDes 1522-1525 Tenerife
Pedro Yanes Ponugal Lauzarote v.a
Juan de Zamora 1511 Tenerire esl
Alejos Velandi. 1542 Castela Gran Canana v.a

Fonte: Os dados foram elaborados a partir da infonnação dada nos protocolos já publicados e dos estudos de
Manuel Lobo Cabrera, Manuela Marrero Rodrigues, C. Camacho y Pérez Galdón, E. Olta, A. Cioranescu,
Maria Luís FabreIles; veja-se a BIBLIOGRAFIA.

185
QUADRO N.o 4
MERCADORES NACIONAIS E O COMÉRCIO DE AÇÚCAR NA MADEIRA
1500-1540

Décadas
Mercador Total
1501-1510 1511-1526 1521-1530 1531·1540

João de Abrantes 264 264


André Afonso 27 36
António Afonso 45,5 47,5
Francisco Afonso 46 245 291
Gonçalo Afonso 84 31 116 231
João Afonso 10 II 64 33,5 118,5
Manuel Afonso 6 34 40
Mateus Afonso 63,5 63,5
Pero Afonso 394 394
Rodrigo Afonso 19 19
Tristão Afonso 4 4
Afonso Álvares 62 14 2 78
António Álvares 253.5 2M 457,5
Diogo Á.lvares 50 3 53
Femão Alvares m 211
Francisco Álvares 15 56 71
Gonçalo Álvares II 8 21 40
João Álvares 18 657 37 6 718
Nuno Álvares 8 8
Pera Álvares 34 71 105
Rodrigo Álvares 302,5 14,5 I 318
Álvaro Anes 4 35 39
João André 2 2
Afonso Anes 102,5 20 1M 4,5 231
António Anes 98 527 625
Fernando Anes 43,5 173 216,5
Francisco ADes 29 29
Gaspar Anes 12 12
Gonçalo Anes 176 91 10 277
João Anes Z- 25 5 30
Pero Anes III 12 6 129
Rodrigo Anes 52 52
Gonçalo Raiz Araújo 2 2
Pallus de Araújo 25 25
Jorge Bocarra 2 2
Manuel Bocarra I
Antónia Ile Brita 4
João Gonçalves Caldeira 17,5 114 131,5
Pedra Carneira 169 169
João Carvalho 10 10
Manuel Carvalho 4 4
António Correa 4
João Correa 7
Gaspar da CosIa 6
Baltasar Dias 103 103
Gaspar Dias 152 152
Jorge Dias 63 63
Afonso Dinis 4 4
António Dinis 63 63
Diogo Dinis 16 20 36
Fernão Dinis 170,5 170,5
Francisco Dinis 20 99 119
João Dinis 721 80 801
Lapa Dinis 503 503
Pero Esteves 20 20
João D'Évora 20 14 34
André Fernandes 36 36
Antônio Fernandes 134 2 383 386 905
Álvaro Fernandes 22 22
Baltasar Femandes 124 124
Brás Fernandes 3,5 86 89,S
Diogo Fernandes 20 40,S 61,5
Domingos Fernandes 4 4
Francisco Fernandes 14 110 59 189
Gaspar Fernandes 233 7 240
Gonçalo Fernandes I 127 21 149
João Fernandes 345,5 184 202 21 752,5
Jorge Fernandes 178 18,5 28 224,5
Lapa Fernandes 12 12
Luis Fernandes 535 535
Manuel Fernandes 1,5 1,5
Miguel Fernandes 4 4
Pero Fernandes 33 39 20 101 193
Sebastião Fernandes 255 255
Simão Fernandes 860,5 866,5

186
Décadas
Mercador Tolal
1501·1510 1511·1520 1521·1530 1531·1540
------------------_._--
Joãu Ferreira 26 ]f) 55
António de Freitas 66 66
Gunçalo Gil 23,5 23,S
João de Góis 36 36
Ãlvuro Gomes 52,5 52,S
Anttínio Gomes 80 80
Gonçalo Gomes 62 63
Pedro Gomes 225 230
Afonsu Gonçalves 40 40
Álvaro Gonçalves 102 12 114
André Gonç~tlvcs 6 49 55
Antônio Gonçalves 52 13 66
Baltasur Gooçal vcs I I
Bartolomeu Gonçalves 329,5 329,5
Diogo Gonçnlvcs 76,S 10 77,S
Domingos Gonçalves 136,5 136,5
Estevio. Gonçal ves 7 7
Fernão Gonçalves 67 30 97
Francisco Gonçalves 100,5 II 111,5
Gonçalo Gonçalves 49 50
Grnviel Gonçolves 18 239 257
João Gonçalves 299.5 84 43 632 1058,5
Jorge Gonçalves 21 167 8 196
Murtim Gonçnlvcs 38 144 I 183
Pedro Gonçolves 81 14,5 5,5 101
Rui Gonçalves 60 60
Sebastiioo Gonçalves 164,5 37 202,5
Vicente Gonçal ves 1 I
Francisco Guerreiro 50 50
João Jácome 93,5 93,5
Pedro Jorge 24 24
António Lopes 126 126
Álvaro Lopes 5,5 18 23,5
Baltasar Lopes 4 4
Cri~tóvão Lopes 123,5 123,5
Diogo Lopes 4,5 4,5
Fernão Lopes 5 5
Gravlel Lopes 660 660
Gonçalo Lopes 30 30
João Lopes 9,5 40 49,5
Pero Lopes 3 3
Sebastião Lopes 79 79
Simão Lopes 12 12
Fernão Lourenço 20 20
Francisco Lourenço 145 145
João Lourenço 159,5 159,5
Álvaro Luís 5 5
António Luís 295 295
Diogo Luís 4 5 9
João Luís 25,S 28,S
Afonso Martins 8
António Martins 15 96 III
Francisco Martins 2 2
João Martins 88 32,5 123,5
Fernão Mendes 31 31
Luís Mendes 17 17
Manuel Mendes 144 144
Rui Mendes 41,5 41,5
AnIónlo Moniz 66 66
Gonçalo Fernandes Neto 181 181
António Nunes 74 74
Jorge Nunes 20 20
Simão Nunes 85 85
Marcos de Oliva 2
Luis Paes 55 55
Amónio Pereira 847 847
Oonçlllo Perelro 412 412
Afonso Pinto 15 15
Afonso Pires 5 I 6
Álvaro Pires 16 13 29
António Pires 6 I 7
Domingos Pires 24 24
Geraldo Pi res 8 8
Gonçalo Pires 168 87 0,5 0,5
João Pires 117,5 122 111 350,5
João Pires D'Angra 388 388
Luís Pires 11 11
Manuel Pires 657 6S1
Rui Pires 14 40 54
Simão Pires 22 22
Diogo Rebelo 30 170 2 202
Pedro da Rochu 27 27
Afonso Rodrigues 15,5 15,5
Ambrósio Rodrigues 1,5 1,5
Bartolomeu Rodrigues a 8
Diogo Rodrigues 154 3,5 157,5

187
Déeadas
Mercador Total
1501·1510 1511·1520 1511·1530 1531·1540

Duane Rodrigues 68 158


90
Francisco Rodrigues 1 2 541 5SO
Gonçalo Rodrigues 12 11,5 45 74,5
Lopo Rodrigues 6 6
Pedro Rodrigues 11 26
Amador Sequeira 4 4
~ntónio Espindola 31 31
Alvaro Vaz 1 1
António Vaz 2 2
Fernão Vaz II II
Francisco Vaz IS 4 19
Gonçalo Vaz 2 3
João Vaz 19 20
Manuel Vaz 1
Pedro Vaz 49 51
Simão Vaz lOS 105
TOTAL: 5 141 6042,5 5535 1 013,5 23198

Fonte: A.N.T.T., N,A., n. o 541, 723.

188
QUADRO N.o 5
OS MERCADORES ESTRANGEIROS E O COMÉRCIO DO AÇÚCAR NA MADEIRA
1500-1540

Décad..
Mercador TotAl
1501-1510 1511·1520 15Z1-153O 1531-1540

Simão Acciaiuolli 334 334


Gabriel Affailati 3930 (1) (2) 3930
João Francisco Affaitati 77441 62077 38389,5 177 907,5
João de Augusta 4251 4251
Luís Alvares 321 321
Jorge Andefiz 24,S 24,S
Aneguim 310 310
Mestre Antánio 130 130
Viviam António 92 92
Pallus de Araújo 53 53
Archellem 327 327
Pero de Ayala 318 (2) 9 063,5 318
Menchude de Bailo I
Pero de Banches 50 50
Alonso de Barreda 3
Martim de Belloens 218 218
Marim Berte 428 428
Janim Bicudo I 151 1 151
Cristóvão Bocollo 31596 31 596
Estevão Boguo 3930 3930
Leonardo Bondinar 100 100
António Boto 16512,5- 14512,5
Marim Branco 481 481
Bano Brocone 6600 6600
Pe. Ioão de Bruges 39,S 39,S
Guilherme de Brum 70 70
Estevão de Bueca 58 58
João Calvino 18 18
Francisco Calvo 1409 oU} 1549
João Calvo 3000 3000
Capella de Capellani 28 1444 1472
António de Caraç-am 400 0100
António Curadas 300 20 320
João Rodrigues Castelhano 526 1 132 1658
João d. Castilho 225 225
Francisco Calanho 1222 1222
Claa.s 5426 5426
Nicolau Contrim 16 16
João Coquet 262 262
Henrique Comualha 366 366
Charles Correa (3) 3 094 3094
António de Coyros 274,5 274,5
] ácome Curela 38 38
João Cymza 2 2
Daniel I
João Dias 68,5 68,S
Pedro Dias 6
Niculau Dizce 214 214
João Dolua 6
Pedro Duram 360 360
Jorge Emdorfor 1789 1789
João de Esmeraldo 202 202
Richard Estoquedall 152 152
Cristóvão Fernandes 23 23
André Foquet 8
Álvaro França 454 454
Pero de França 8 8
Franceses 247 927 I 174
João Froll 212 212
Pedro Gamte 6 6
Gaspar Gentil 740 740
João Baptista Gentil 253 253
Pallus GiIl 277 277
Lucas G irald 273 273
João Gote 250 250
Gregário 152 152
Lucano Grillo 2377 2377
Guilherme 1 201 28 1229
Diogo de Hanna 50 50
Henrique 219 219
Belchior Imperial 337 41 378
Pity Joam 24,5 24,5
Julião 10 10
Pedro Iu'tinham 6
Nicolasso Justtnhom 573 573
Simão Justinhom 535 535
Pedro Justiniano 60 60
Feducho de Lamoroto 26039,5 6000 32039,5
Pedro de Lamorolo 50 50
Jeronimo Larqua 50 50
João Ledo 50 50

189
Décadas
Mercador --"-----_._---------------- Total
1501-1510 1511-1520 1521-1530 1531·1540

António Leonardo 7476 7476


Francisco Lido 50 700 75rl
João Lombarda 4 349 4,·\9
João Lomelim 5672 3075 ;1 979.5
Alvaro de Lugo 102.5 102.5
Matia Maoardi 13423.5 13 4235
Diogo de Marchena 2lKIO 2000
Gonçalo de Marchena 207.5 207.5
Bartolomeu Marchioni 45238 (, [XXI 51 238
Tobias de Marim (4) 5 344 5344
Pedro de Marna 4 :W2 4392
Martinho 116 116
Valeria Máximo 4 4
Alvoro Meireles 495 500
Jorge Meireles 91 91
Joana de Melgar 33 710 743
João de Mesa 600 600
Miguel 763 763
Pera de Mimença (5) 6 3%.5 6 396.5
João Mini'ljIn 5885 588.5
Miralles 10 10
João de Miranda (6)
Benedito Morelli 50348 50348
Francisco de Montiloa 187 187
Afonso Muõoz 50 50
Francisco Narde 3 172 17 192
António de Nagra 353 5 180 538
Nicolao (Francês) 388 8 396
Nicolao (Flamengo) 58 58
Pedro Noble! 301 301
Isaque Oberim 59 59
Oliveira Francês 108 108
Francisco Paris 40 40
Joam Palamquim 600 600
MafeJ1 Rogel 1697 186.5 1 883.5
Julyam Romano 270 270
Lucas Salvaga 3D 3D
João Valda.esso 99 707.5 806.5
TOTAL: 290 608,5 96368 85800 7985 480761.5

Fonte: A.N.T.T., N.A., n. O 541, 723.


(I) O açúcar e os direitos de 1620 (1282.5 a) com Janim Bicudo.
(2) O açúcar dos direitos de 1521 (23233).
(3) Apenas é conhecido o montante para a capitania de Machico com Pera de Mimença.
(4) Apenas é conhecido o montante para a capitania de Machico com 7/12 da sociedade que adquiriu os direitos desse ano conjuntamente com
Henrique Nunes.
(5) Apenas os direitos da capitania de Machico. faltando os do Funchal e os restos de 1524 a sociedade com Jorge Lopes Bicudo.
(6) Com 3/8 na sociedade que comprou os direitos. conjuntamente com Pero de Ayala.
(7) Como procurador.

190
QUADRO N.o 6
AGENTES DE TRANSPORTES MARíTIMOS NA MADEIRA

Barqueiro Data Pro.enJênda Mo....da Observações

Bastião Afgonso 1591 Fanchal


Diogo Afgonso 1550 - Funchal
Rodrigo Alvares 1525 Ponta do Sol
Afonso Anes 1512 Funchal
Manuel Cabral 1595
Manuel Castanho 1571 Fuuchal
João Dias 1511
Julião Dias 1576
Manuel Dias 1554-1558
Cristóvam de Évora 1557 Tenerifc Funchal Esl.
António Fernandes 1550 Funchal
Amador Fernandes 1578-1598 Funehal CI cabrestante
Brâs Fernandes 1574 Funchal
Domingos Fernandes 1566 Porto Santo Funchal
Gaspar Fernandes 1595 Fuoehld
Gonçalo Fernandes 1555-1583 Funchal C/ cabrestante
João Fernandes 1545-1565
Lu is Fernandes 1593 Funchal
Manuel Fernandes 1557
Bartolomeu Fernandes 1563
Sebastião Fernandes 1545-1595
Manuel Garcia 1593
Bartolomeu Gonçalves 1578
Brás GDnçalves R. a Brava Funchal
Francisco Gonçalves 1540 Funehal
Gaspar Gonçalves 1559-1574 R.' Brava Funchal
João Gonçalves 1551-1584 Funchal
Pedro Gonçalves 1557 Campanário Funchal
Antônio Lourenço 1555
Luís Lopes 1593
Vicente Lopes 1551
Cristóvão Luís 1580-1596
António Martins 1566
Francisco Nunes 1570
Gaspar Nunes 1550
Sebastião Nunes 1593
Jorge Pereira 155J.l555(+ }
Afonso Pires 1581 Calheta Funchal
Manuel Pires 1590-1595
António Rodrigues 1596 Funchal
Diogo Rodrigues 1570
Duarte Rodrigues 1564
Francisco Rodrigues 1568
Gaspar Rodrigues 1582 La Palma Funchal
João Rodrigues Funchal
Tomé Rodrigues 1560-1564(+} Funchal
Manuel Ribeiro 1581
Manuel Rodrigues 1559-1560
Simão Rodrigues 1591-1593
Tomé Rodrigues 1560
Vicente Rodrigues 1591-1593 R,a Brava Funchal Est.
André Teixeira 1553
Afonso do Vale 1557-1558 Amfana de Sousa Funchal CI cabrestante
António Vasco 1564
Francisco Vaz 1552
João Vaz 1553-1557

Calofate

João Afonso -1672(+} Fajã d. Ovelha


Francisco Dias 1557 Funchal
Gaspar Dias 1592 Funehal
Miguel Fernandes 1568-1579(+) Funchal

Morinhelro

Pedro Anes 1517 Funchal


Nuno Fernnndes 1550 Ribeira Brava Esl.
João Luís 1529 Funchal
Antônio Lourenço 1546
Afonso Pires 1543
António Rodrigues 1540
Tomé Rodrigues 1524 Santa Cruz Est.

Homem do mar

Rodrigo Álvares 1595 Funchal


João Domingues 1576 Funehal

191
Homem do mar Data Proveniência Morada Observações

Roque Fernandes 1594 Funchal


Amónio Gonçalves 1596 Funchal

Piloto

Afonso Anes 1536 Funchal

Mestre navio

João Fernandes do Arco 1496 Calheta

Fonte: A.R.M., Paroqlliais-Sé, 1539-1600; A.R.M., Misericórdia do Funchal, n.o 710, 689; A.R.M., l.R.C.;
A.R.M., C.M.F., n. o 699, 700, 868.

192
QUADRO N.o 7
MAREANTES NA MADEIRA SÉCULO XVI

Mareante Dalll Provenleocla Morada Observações

Álvaro fonso 1551(+) Funchal


Francisco Afonso 1569-1582 Funchal
Gaspar Afonso 1542 Funchal
Luís Dias Afonso 1557 Funchal
Manuel Afonso 1558-1567 Funchal
Pedro Afonso 1529 Funchal
Diogo Afonso 1529 Calheta Funchal Esl.
Francisco Afonso 1554-1583 Funchal
Gonçalo Afonso 1553(+) Santarém Funchal
João Afonso 1552-1564 Funchal
Rodrigo Afonso 1559-1564 Funchal
Vicente Afonso 1582 Funchal
Francisco Amaro 1583 Funchal
Afonso Anes 1591 Algarve Funchal
António Anes ã580-1582 Funchal
Francisco Anes 1552(+) Funchal
Lourenço Anes 1549-1592 Funchal
Luís Anes 1592 Funchal
Pedreanes 1527 Funchal
Rodrigo Anes 1578-1580 Funchal
Vasco Anes 1542-1557 Funchal
Vicente I Ane" 1563-1566 Lagos Funchal
Domingos Barbosa 1578 Funchal Cabo do Calhau
Nuno Barbudo 1562 Funchal
Manuel Borges 1578 Funchal
Luís Belo 1561 Funchal
Domingos Brás 1565 Terceira Funchal
João Cardim 1562 Funchal
Pero Cardoso 1535 Funchal
Domingos de Cea 1576 Buarcos Funchal
Manuel Coelho 1598 Funchal
Afonso Cordovil 1592 Funchal
Estevão Cordovi) 1548 Funchal
Brás Correia 1570 Funchal
Manuel Cnrreia 1557-1580 Funchal
António Carva,lho 1565-1593(+) Terceira Funchal
Pedro Delgado 1554·1555 Funchal
Álvaro Dias 1594 Funchal
Bartolomeu Dias 1547 Funchal
Belchior Dias 1573-1574 Funchal
Brás Dias 1574 Funchal
Domingos Dias 1581-1584(+) Funchal
Francisco Dias 1554-1576(+) Terceira Funchal
Gonçalo Dias 1583593 Funchal
Jerónimo Dias 1596 Funchal
Manuel Dias 1560 Funchal
Pedro Dias 1554-1591 Funchal
Rui Dias Porto Funchal
Sebastião Dias 1551-1584(+) Funchal
V icente Dias 1596 Funchal
Fernam Dinis 1595 Funchal
Francisco Dinis 1572 Funchal
João Domingos 1558 Lajes Funchal
António Duarte 1571-1590 Funchal
Bastião Afonso Duarte 1563-1573 Terceira Funchal
Pedro Duarte 1591 Funchal
Joanne Enes 1555
Luís Enes 1591
Rodrigueanes 1573-1595
Vicente Encs 1582
Afonso Fernandes 1593
André Fernandes 1543·1582
António Fernandes 1554-1574(+)
António Fernandes 1556-1598 Porto Santo Funchal R, St. a Maria
Bastião Fernandes 1592 Funchal Cabo do Calhau
Belchior Fernandes 1539-1590 Funchal
Brás Fernandes 1565-1581 Funchal
Cristóvão Fernandes 1551·1560 Funchal
Domingos Fernandes 1568·1599 Calheta Funchal Esl.
Francisco Fernandes 1553-1596 Funchal
Francisco Fernandes 1584 Porto Funchal
Francisco Fernandes 1591 Calheta Funchal
Gaspar Fernandes 1555-1585 Á1cacer do Sal Funchal
Giraldo Fernandes 1545 Funchal
Gomes Fernandes 1569 Funchal
Gonçalo Fernandes 1544-1549 Funchal
Hieránimo Fernandes 1545 Funchal
Joane Fernandes 1529-1565(+) Funchal R. João Gago
João Fernandes 1590
João Fernandes 1557 S. Miguel
Lourenço Fernandes 1563
Manuel Fernandes 1543·1573 Porto
Manuel Fernandes -1575(+)
Manuel Fernandes 1582 R.a Brava Funchal

193
25
Mareante DalJl Pro't'enlêncla Morada Obser't'açàes

Manuel Fernandes 1595 Funchal Beco Mateus Pires, C. Novo


Manuel Fernandes 1593 Funchal
Manuel Fernandes 1594 Funchal
Miguel Fernande. 1558-1596 Funchal Cabo do Calhau
Miguel Fernande. 1597
Pedro Fernande. 1546-1596(?) Funchal
Pedro Fernandes 1598 Funchal
Salvador Fernandes 1554-1560 Funchal
Sebastião Fernandes 1556-1595 Funchal
Simão Fernandes 1581-1598 Funchal
Tomás Fernandes 1554-1590(+) Porto Santo Funchal
Tolllé Fernandes 1560 Funchal
Vicente Fernandes 1546-1597(+) Tavira Funchal
João Feneira 1559-1592 Funchal
Brás de Fiuza 1584

João Gago 1557 Funchal


Manuel Garcia 1594 Funchal
Pedro Gil 1556 Funchal
Belchior Gomes 1596 Funchal
Cristóvão Gomes 1553-1574 Funchal
Francisco Gomes 1580(+) Lisboa Funchal
Francisco Gomes 1599 Setúbal Funchal
Pedro Gomes 1541 Funchal
Manuel Gonçalo 1553 Funchal
Álvaro Gonçalve. 1571 Funchal
Amador Gonçalves 1545 Funchal
António Gonçalves 1558-1593 Funchal
Ballasar Gonçalves 1556 Funchal
Belchior Gonçalves 1559-1595 Funchal
Belchior Gonçalves 1563 S. Miguel Funchal
Cristóvão Gonçalve. 1555 Funchal
Domingos Gonçalves 1580-1582 Funchal
Fernam Gonçalves 1574-1591 Barceloo Funchal
Francisco Gonçalves 1563-1592 Funchal
Gaspar Gonçalves 1578 Funchal
Gil Gonçalves 1547 Funchal
Gonçalo Gonçalves 1544 Funchal
João Gonçalves 1541-1591 Funchal
Manuel Gonçalves 1560-1591 Funchal
Maleus Gonçalves 1555-1586 Funchal
Pedro Gonçalves 1574-1590 Funchal
Pedro Gonçalves 1576(+) Funchal
Rui Gonça1't'es 1553 Tavira Funchal Est.
Sebastião Gonçalves 1583-1597 Funchal
Simão Gonçal>es 1552-1597 Funchal Cabo do Calhau
Tomé Gonçalves 1561-1569 Funchal
Vicente Gonçalves 1589 Funchal
Lansarole de Gu1)a 1555 Funchal
Álvaro Jorge 1574 Funchal
António Lopes 1588-1595 Algarve Funchal
Belchior Lopes 1582-1593 Funchal
Dio80 Lopes 1562.1590(+) Funchal
João Lopes 1540(+)
João Lopes 1579-1581
Marcos Lopes 1533
Manuel Lopes 1565
Melchior Lopes 1581
Pedro Lopes 1540-1558
Sebastiam Lopes 1546(+)
Dio80 Lourenço -1574
Fernão Lopes 1554
João Lopes 1570 Tavira
Rodrigo Lopes 1583
Vicente Lopes 1574
Diogo Luís 1586-1588
Francisco Luís 1552-1572(+)
Gaspar Luis 1549-1554 Funchal
Gaspar Luis 1560-1566 Santa Maria Funchal
Gonçalo Luis 1553
João LuIs 1554-1597 Tavira
Tomé Luís 1583-1584
Antónia Martins 1551(+) Tavira Funchal
Ballasar Martins 1567
João Martins 1556 Funchal R. Miguel Lopes
Manuel Martins 1595 Faro Funchal
Niculao Martins 1558 Algarve Funchal
Manuel Marques 1573-1574 Terceira Funchal
Roque Marques 1558
Afonso Mendes 1548
António Mendes 1578-
António Mendes 1578-1598
Antônio Mendes 1589-1616(+) Machico C. Novo
Francisco Mendes 1556-1598 Funchal
Francisco Martins 1569 Funchal
Gomes Martins 1539
Jo Momis 1551 Funchal
Francisco Moreira 1589-1591 Funchal

194
Mareante Data Proveniência Morads. Obse....ções

André de Mola 1579 Funchal


Benlo de Mujaige ? 1549 Funchal
Jerónin\o Nunes 1582 Funchal
Manuel Nunes 1594·1597 Funehal
Nicolau Nunes 1557·1579 Funchal
Pedro Nunes 1586
Sebastião Nunes 1593
António de Paiva 1548
Barto(pmeu Pereira 1548-1591 (+) Lagos Funchal R, João Gago
João Pinto 1590 Sesimbrn Funchal
Álvaro Pires 1541
António Pires 1576·1582
Baltasar Pires 1572·1582
Diogo Pires 1575
Fernão Pires 1535-1586 Funchal R. Vasco Pires
Fernão Pires 1551 (+) Funchal C.bo do Calhau
Francisco Pires 1538-1540 Funchal
Gonçalo Pires 1554-1599 Viana Funchal
Gonçalo Pires 1554-1559(+) Barcelos Funchal Poço Novo
Manuel Pires 1565 Funchal
Miguel Pires 1556 Palma Funchal
Pedro Pires 1557 Funchal
João Rcbel0 1547
Manuel Ribeiro 1577-1584 Sesimbm
Manuel Roches 1552
António Rodrigues 1542-1582
António Rodrigues 1558
António Rodrigues 1589·1593
Baltasar Rodrigues 1572 Funchal
Belchior Rodrigues 1544
Fernão Rodrigues 1544·1575
Gnspar Rodrigues 1558·1589
Gil Rodrigues 1572·1594 Funchal
João Rodrigues 1540 Funchal
João Rodrigues 1543·1594(+) Funchal
João Rodrigues 1583 Funchal Filho de J, Rodrigues e Isabel Pinto
João Rodrigues 1589 Funchal
José Rodrigues 1583-1587 Funchal
Manuel Rodrigues -1596(+) Calheta R. de Baixo
Manuel Rodrigues 1564·1589 Funchal
Manuel Rodrigues 1579-1587 Funchal
Tomé Rodrigues 1583 Funchal
Vasco Rodrigues 1592-1597 Funchal
Vicenle Rodrigues 1592-1596 Funchal
Sebastião 1563 Esposende Funchal
Belchior Simões 1552 Funchal
Bento Simões 1579·1594 Coimbra
Manuel Silveira 1580 Funchal
Tomé Silveira 1571·1591 Funchal
1577 Funchal R, Belmonte
Diogo Soares
Gonçalo Soares 1580·1584 Funchal
João Soares 1583 Funchal
João de Soares 1597 Funchal
Anlónio do Vale 1570·1573 Funchal
Pedro Valdavesso 1560 Gala Fúnchal
Afonso Valema (?) 1589 Funchal
André Vaz 1553-1572 Funchal
António Vaz 1577-1580 Funchal
Diogo Vaz 1580·1582 Funchal
1585-1591 Funchal Ponte Nova
Francisco Vaz
Gnspar Vaz 1587· Funchal
João Vaz 1556-1561(+) Lagos Funchal
Manuel Vaz 1548·1578 Funchal
Pedro Vaz 1555·1597 Funchal
João Velha 1554 Funchal
Belchior Gonçalves Viana 1590
António Vicenle 1598 Calheta
1560-1564 Funchal
João de Villes

n.O 684, 710-711; Idem, l.R.C.;


FOllte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; Idem, Misericórdia do Funchal,
Idem, C.M.F., n,o 866, 699-700.

195
QUADRO N.O 8
MESTRE DE NAVIO NAS CANÁRIAS
SÉCULO XVI

M..I.... de navio Data Proveniência Morad. Obse..... ções

Cosme de Abreu 1586 Garachico (Tenerife) V.O


António Afonso 1511 Faial Tenerife Est. Português
Blas Afonso 1513 Tenenfe
Femand Afonso 1506 Tenerife
Pantale.m Afonso 1511·1539 Tenenfe Português
Juan de Aguilar 1540 Tenerife GraR Cannria Est.
Diogo Alonso de PaIos 1509 Tenerife Est.
Juan Anes 1552 Grao emana
Pedro Anlón 1511
António Genovês 1509 Génova Tenenfe
Nlcolao Azeredo 1546 Génova Oran Canaria
Alonso Baez 1527 Portugal Oran Cooaria
António Baez 1527 OraR eanana Est.
Jorge Baez 1510 Portugal Tenerife Est.
Manuel Baez 1557 Madeira Orao Canaria Est.
Cpstóbal Balbo 1510 Génova Tenerife Est.
_Toribio de Banos 1510·1513 Tenerife Est.
Alonso Bemaejo 1508 Huelva Tenerife
Pero Bemal 1510 Tenerife
Alonso Blvas 1510 Tenenfe
Sebastlan de Cales Tenerife
Pedro de Los Caóavales 1509 Tenerife
Tomé Cano 1589 Tenerife
Diego Perez de Castro 1562 Palma Orao Canaria
Francisco Carreiio 1509 Tenenfe
Juan Caneiio 1511 Tenerife
Rodrigo de Cales 1512 Tenerife
Juan Coleenga 1512 Tenerife
Luis Correa 1584 Tenenfe
Juan Cota 1508 Tenerife
Bartolomé Delgado 1522·1525 Tenerife
Lucas Delgado 1594 Tenenfe V.o
Pedro Delgado 1508 Tenerife
Pedro Diniz 1552 Gran eanana
Oonzalo Diaz 1551 OraR Canaria Esl.
Juan Diaz Ambrolo Tenerife
Gonzalo Domingues 1509 Tenenfe
Juan Durango 1506 Tenerife
Gonzalo Fernandes 1510 Tenerlfe
Pero Fernandez 1509 Tenerife
Mmuel Ferreira 1572 Portugal Oran Canaria Esl.
Juan de Fina 1513 Génova Tenerife
Juan Odlegn 1520 Tenerife
Juan Garola 1520 Tenerife
Simon Gareia 1507 Tenerife
André Genovés 1510 Tenenre
Álvaro Gomes 1565 Oran Canaria V.O
Juan Gomez 1522-1525 Tenerife
Alonso Gonzole. 1514-1552 Austrias Tenerife
Anton Gonzalez 1512 Tenenfe
Anton Gonzalez 1517 Portugal Gran Cnnaria Est.
Diego Gonzalez 1520 Tenerife
Francisco .Gonzalez 1596 Hierro Tenerife
Luis Gonzalez 1512 Tencriro
Luis Oonzolez 1588 Portugal Gran Cnnaria Est.
Pedro GonlOlez 1559 GraR Caoaria V.O
Pedro Gonz.lez de Nejar 1508 Tenerife
Rodrigo de Orajeda 1506 Tenerife
Ruy Gutiérrez 1512 Tenenfe
Juan de Heredia 1588 Se.vilha GraR Cnnaria Est.
Diego Hemandez 1550·1560 GraR Canaria Est.
Pedro de Herrera 1510-1525 Tenerife V.o
Diego Lopez 1510·1511 Tenerife Est.
Hemán Lopez 1506 Portugal Teneeire Est.
Sebastlam Lopez 1509 Tenerife
Juan Lorenzo Flandres Tcnerife Est.
Diego Luís 1510 Tavira Tenenfe
Simon Luís 1507 Tenerife
Rodrigo Mallerón 1511 Tenerife
Pedro de la Marina 1508-1511 Tenerire Esl.
Martim 1508 Tenenre
Antón Martim 1507 Tenerire
Diego Martim Tenerife
Francisco Martim 1511 Tenerife V,o
Gaspar Martim 1592 Gean Cnnana
Alonso Martim de Lucena 1508 Tenerife
António Martinez 1507 Tenerire
Alonso Medel 1511 Tenerire Est.
Pero Montero 1522-1525 Portugal Tenerife Est.
Diego de Montemayor Tenerife
Alonso de MOI..les de Santo 1507 Tenerife
Diego Morales 1508 Tenerife
Martin Nufiez 1513 Tenerife

196
Metitre de navio Data Provenlêncla Morada ObRrnÇÕ<ll

Amador de Paiva 1548-1550 Tenerifc


Pedro Ortega 1506 Sevilha Tonerife Esl.
Diego Ortiz 1510 Tenerife
Alonso Perez 1509 Tenerife Esl.
Juan Perez 1520 Portugal Tencrifc Esl.
Juan Perez 1579 Palma Gran Canaria EsI.
Martin Perez 1552 Oran Canaria Esl.
Martin Perez dei Olmo 1552 Cádiz Gran Canaria EsI.
Juan de Place 1509 Tenerife.
CristóbaJ Ponte Tenerifc V.·
Juan do Porto 1508-1510 Galiza Tenerife EsI.
Alonso Ramos 1511 Tenenfe
António Quitero 1513 Tenenfe
Juan de Quitero 151 J Tenerife Esl.
Bernardo Rodriguez Gran eanaria
Francisco Rodrigues zarco 1508-151 I Portugal Tenerife Esl.
Juan Rodrigues 1513 Porrugal Tenerife
Francisco Rodrigues 1596 Porrugal Gran Canaria Es!.
Juan Rodrigues Carrero 1513 Tenenfe
Tomé Rodrigues 1511 Tenenfe Es!.
Francisco Salamanca 1549 Tenenfe
Juan de Salamanca 1506 Tenenfe
Marcos Salvago 1509 Tenerife
Juan Sanchez J507 Tenerifc
Pera Sanchez 1507 Tenerife
Francisco Sepulveda 150 Tenenre
Jerónimo BeBo de Sottomayor 1578 Tenerife
Juan de Úbeda J508-1509 Tenerife Esl.
Pedro Uriarte 1508 Biscaia Tenerife
Jorge Vaez 1510 Porrugal Tenerife
Bastian Valera 1522-1525 Tenerifc V.·
Frutuoso Vicente 1522-1525 Portimão Tenerife Est.
Gregório Vicente 1599 Madeira GranCanaria Esl.
Alonso Vieira 1521 Tenerife Est.
Juan Vizcaino 1507 Tenerife
Pedro Vanes 1552 Oran Canaria
Esteban Yanes 1510 Lisboa Tenerife

Fonte: F. Clavijo Hernandez, oh. cit.; Manuela Marrero Rodriguez e E. Gonzalez Yannes, oh. cit.; M. Isidra
Coelho, oh. cit.; A. Cioranescu, oh. cit.; Manuela Lobo Cabrera, Indices y Extractos . ..; Idem, La
esc/avitud en las Canarias orientales . ..

197
QUADRO N.O 9
ALMOCREVES NAS CANÁRIAS
SÉCULO XVI

Almo",eve Data Proveniência Murada Observações

André Afonso 152l Tenerife Esc


Garcia Afonso 1550 Oran ennaria Est.
Juan Afonso 150&·1511 Tencrife V.o
Anton Álvarez 1522-1525(?) Tenerife
Juan Álvarez 1522-1525 Tenenre Esl.
Pedro Álvarez 150&-1511 Tenenfe ESI.
Álv.ro 1522·1525 Tenerife
Diego Arenas 1509 Tenenfe Esl.
Gonz.lo de Arocha 150& Tenerife
Juan de Braga 1520·1521 Tenerife Português, V.o
Diego Draz 1520 Tenenre Esl.
Francisco Draz 1522·1525 Tenerire
Diego 1510 Tenerife
Ballasar Fernandes 1522-1525 Tenerire Esl.
Gonzalo Franoo 1520 Gran Canaria V."
Maouel Feyle 1522-1525 Tenenfe
Alonso Sanchez de la Fueole 1520 Gran Canana V.O
Pedro GaUego 1509-1510 Tenerife V.O
Afonso Garcia 1509-1510 Tenenfe Esl.
Fernando Garcia 1511-1520 Teoerife V."
Gonzalo Garcia 1509 Tenerife EsL. Português
Maroos Oarcia 1507 Teoerire
Alonso Gonzalez 1522-1525 Teoerife Esl.
Antan Gonzalez 1522 Tenenfe
Eslehao Gonzalez 1522 Tenerife
Fernan Gonzalez 1550-1559 Oran Qmarin V,o
Francisco Gonzalez 1552 Gran Canaria V,o
Juan Gonzalez 150&-1525 Tenerife Esl.. Português
Lauzarote Oonzalcz 1522-1525 Teoerife
Luís Gonzatez 1511 Teoerife
Pedro Gonzalez 1522-1525 Tenerife
Vicente Oonzalez 1522 Teoerife Es!.
Goozalo 1508 Tenerife
BI... Hemandes Séc. XVI Tenerife
Francisco Hernandez 1552 Teoerife V.o de Guia
Herrnando 150&-1525 Tenerife ES!.
JOlge 1521-1525 Tooerife Es.r.
Juan 1511 Tenerife
Fernando de Lamego 1522-1525 Tenerife
Juan Lopez 1510-1511 Tenerife E,l.
Vasco Machado 1520 Tenerife
Pedro 1507·1525 Tenerife E,I. Português
Álvaro Perez_ 1520 Tenerire
Fernando Perez 1509 Tenerire V."
Oonzalo Perez 1509 Tenerife
Manuel 'Perez 1550 Gran Canaria
Benilo Saochez 1511 Tenerife ESI.
Mmim Sanchez 1522 Tenerife
Juan de Sevilha 1520 Tcnerire
Afonso Yanes 1522-1525 Tenerire
Oonzalo Yanes 1520-1525 Tenerire
Pedro Yaoes 1510 Tenerife

Fonte: Manuel Lobo Cabrera, lndices y extractos ... ; Idem, Protocolos del escribano Alonso GlItiérrez; F.C.
Hernandez, ob. cit.; M. Isidra Coelho, ob. cit.; Manuela Marrem Rodriguez e E. Gonzalez Yannes, ob.
cito

198
QUADRO N.o 10
ALMOCREVES NA MADEIRA
SÉCULO XVI

Almocreve Data Provenlência Morada Observações

Álvaro Afonso 1559 Funchal


António Afonso 1540-1548
Daniel Afonso 1554
Domingos Afonso 1554(+)
Jorge Afonso 1538
Manuel Afonso 1549(+)
Pedro Afonso 1547-1569
Pedro Afonso 1547-1569
Bastiam Álvares 1517 Ribeira Brava Esl.
Gonçalo Álvares 1586 Funchal
Rodrigo Álvares 1540 Funchal
Afonso Anes 1547(+) Funchal
Gonçalo ARes 1525-1582 Funchal Homem Bom
João Alies 1579
Pedro Anes 1517-1577 Fuachal
Domingos de Braga 1595 Funchal
Custódio Brás 1560(+) Funchal Beco João Tavim
Gonçalo Borges 1581-1598 Funchal
João de Canha 1481 Funchal
André Correa 1560 Fuachal
Gonçalo Dias 1546 Fuachal
João Dias 1550-1572(+) Funchal de Ambrósio Raiz
Gonçalo Dinis 1546 Funchal
João Dinis 1569(+) Funchal
Pedro Dinis 1507 Arrifana Funchal
João Doria 1507 Fuachal
António Esteves 1547 Funchal
Estevnrn Eanes 1571 Funchal
Gonçaleanes 1582-1592(+) Funchal
Joaneanes 1568-1574 Guimarães Fuachal
Pedrianes 1592 Funchal
João Farinha 1509 Funchal
Agostinho Fernande~ 1540-1585 Calhem Funchal
Bento Fernandes 1517 Ribeira Brava EsC.
Diogo Fernandes 1534 Funchal Beco de Simão Achioli
Domingues Fernandes 1580 Funchal R. das Pretas
Francisco Fernandes 1570-1575 Funchal
Gaspar Fernandes 1552-1570
João Fernandes 1582-1595
Pedro Fernandes 1507-1598 Lamego Funchi1l
Manuel de Freitas 1597-1598 Funchal
Galego 1509 Calhem Est.
João Gomes 1555-1571 Poiares Funchal
Afonso Gonçalves 1594(+) Santa Cruz
Álvaro Gonçalves 1554·1595
Amador Gonçalves 1554-1577
António Gonçalves 1560-1595 H. Baço, de Martim Meodos de Carvalho
António Gonçalves 1566 Barcelos
Bartolomeu Gonçalves 1595
Brás Gonçalves 1544·1573 Santa Cruz Das -moças do Caniço.
Domingos Afonso 1595-1597
Catarina Afonso 1586
Madalena Afonso 1495
Manne I Afonso 1582
Marta Afonso 1495
Joana de Almeida 1495
Pedro Alves 1495
Afonso Anes ISSO
Filipe Correa 1593
Calarina Dias 1495
Diogo Dias 1593
I.,ahel Dinis 1511(+)
Beatriz Enes 1495
Catarina Fernandes 1495
Luís Fernandes 1588
Luís Fernandes 1495-1578 (+)
Manuel Fernandes 1572
Maria Fernandes 1495
Joana Fernandes 1495 Ponta de Sol
Catarina Gomes 1495 Funchal
Pedro Godinho 1553 Fuochal
Álvaro Gonçalves 1594 Funchal
Elena Gonçalves 1495
Catarina Gonçalves 1495
Francisco Gonçalves 1581-1595
Isahel Gonçalves 1593
João Gonçalves 1553-1573
Maria Gonçalves 1495
Pedro Gonçalves 1595
Sebastião Gonçalves 1554
Maria Lopes 1574·1588
Maria Lourenço 1495
Cntarina Luís 1589

199
Almocreve Data Proveniência Morada Observações

Bárbaro Martins 1495


Gonçalo Martios 1502
Inês Martins 1495
Isabel Martios 1571(+) Funchal Poço Novo
Leanor Mota 1552
Leanor Pereira 1495
Ambrósia Nunes 1590
Afonso Pires 1572
Isabel Pires 1495
Catarina Pires 1495
Isabel Rodrigues 1495
Maria Rodrigues 1495
Catarina Moreira 1495
ÁI',aro Vaz -1586
Catarina Vaz 1495-1586
Domingos Gonçalves 1551-1562 Calheta Santa Cruz
Diogo Gonçalves 1583 Santa Cruz
Francisco Gonçalves 1573(+) Santa Cruz
Francisco Gonçalves 1598 Santa Cruz F. de Ant. Gonçalves
Gaspar Gonçalves 1582-1583 Braga
Gonçalo Gonçalves 1545-1598
Luis Gonçalves 1577
Matias Gonçalves 1597
Martinho Gonçalves 1551
Pedro Gonçalves (I) 1552-1569(+)
Pedro Gonçalves 1565- Basto
Pedro Gonçalves 1559-1593 Pombeiro
Pedro Gonçalves 1588 Arco Calheta Santa Cruz Esl.
Salvador Gonçalves 1579-1593. Portugal Santa Cruz
António Jorge 1596
João Jorge 1559
Simão Jorge 1567
Afonso de Lima 1586-1595(+)
Domiogos Lopes 1560(+) Santa Cruz Beco dos Mestres
João Lopes 1536 Ribeira Brava
Mateus Luís 1552-1559 Caniço
Pedro Machado 1558 Funchal
Afonso Martins 1552 Funchal
António Martins 1552 Funchal
António Martins 1560 Carvalho ... Funchal
Diogo Martins 1593·1595 Funchal
Pedro Moura 1509 Calheta
João de Medeiros 1558 Tábua
António Pinto 1576 Funchal Por soldada a Gonç,alo Álvares
Afonso Pires 1547 Funchal
André Pires 1554 Giar ? Funchal
Amónio Pires 1559 Funchal
Diogo Pires 1580-1585 Funchal
Domingos PitÓ 1571 Barcelos Funchal
Gonçalo Pires 1555·1569 Funchal
Pedro Pinlo 1581-1583 Funchal
Pedro Pires 1553 Viana de Caminha Funchal
Rodrigues Pires 1556 Funchal
Simão Pires 1551(+) Funchal
João Rodrigues 1509-1542 Funchal
Pascoal Simão 1559(+) Funchal
Gonçalo Vaz 1574 Funchal

Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; Idem, Misericórdia do Funchal, n.O 710-711,684; A.N.T.T., N.A.,
o
n. 744-745, 902; A.R.M., C.M.F., n.o 1297, 700; Idem, l.R.C.; Idem, L,0 de notas de loão Tavira,
1597.

200
QUADRO N.o 11
VENDEIROS NA MADEIRA
SÉCULO XVI

Nome Data Nome Data

Catarina Afonso 1488 Catarina Afonso 1586


Madalena Afonso 1495 Domingos Afonso 1595-1597
Marta Afonso 1495 Afonso Anes 1550
Joana Almeida 1495 Filipa Conea 1593
Beatriz Anez 1489 Isabel Dinis 1511
Catarina Dias 1495 Luís Fernandes 1588
Beatriz Enes 1495 Manuel Fernandes 1572
Catarina Fernandes 1495 Pedro Godinho 1553
Luís Fernandes 1495
Joana Fernandes 1495 Isabel Gonçalves 1593
Catarina Gonçalves 1495 Inês Gonçalves 1578
Catarina Gomes 1495 João Gonçalves 1553-1573
Constância Gomes 1495 Pedro Gonçalves 1595
Elena Gonçalves 1495 Sebastião Gonçalves 1554
Maria Gonçalves 1495 Maria Lopes 1574-1588
Mêcia Lourenço 1489 Catarina Lufs 1589
Barbara Martins 1495 Gonçalo Martins 1502
Catarina Moreira 1495 Isabel Martins 1571
Leanor Pereira 1495 Leanor Mota 1552
Catarina Pires 1495 Afonso Nunes 1590
Isabel Pires 1495 Afonso Pires 1572
Isabel Rodrigues 1495 Maria Se;(BS 1592
Maria Rodrigues 1495 Álvaro Vaz 1586
Mycea Rodrigues 1495 Catarina Vaz 1586
Catarina Vaz 1495

Fonte: A.R.M., C.M.F., n. o 1298-1299, 1301; Idem, Misericórdia do Funchal, n. o 684, 710-719; Idem, J.R.C.,
Tombo; Idem, Paroquiais-Sé.

201
QUADRO N.O 12
OBRIGAÇÕES EM TRIGO DOS AÇORES
1509-1519

Trigo Açúear Dinheiro


Devedor Credor Data (molos) (arrobas) (reais)

Leanor Afonso Duarte Rodrigues Pinro 1509-VlIl-22 42


Leanor Afonso Duarte Rodrigues Pinto 151O-X-6 6 7
António Teixeira rendeiros dos Aç ores 151O-IV-12 8 52
Heitor Lopes Sebastião Morais 151D-IY-19 I 7
Leanor Afonso Sebasdão Morais 151O-IV-20 I 7
Simão Lopes Duarte Rodrigues Pinto 151O-IV-27 I 6
Pedro de Brito Sebastião Morais 1510-IV-19 2 12
Leanor Afonso Duarte Rodrigues Pinto 151O-V-6 2 13
João Álvares de Arco Sebastião Morais 151O-VII-15 I 6
Manuel Peslana Luís Mendes de Vascon. 151O-X-27 6 42
Pedro de Brito Sebastião de Morais 151O-X-7 4 26
Elias Gonçalves rendeiro Jorge Dias 151O-X-16 3 21
Nuno Fernandes rendeiro Jorge Dias 151O·X-16 3 21
Jerónirno Fernandes rendeiro Jorge Dias 151O-X-16 3 21
Rui Dias Luís M. de Vasconcelos 151O-X-30 1,5 12
Baltasar Nicolau Duarte Rodrigues Pinto 1510-X-30 I 8
João Favila Duarte Rodrigues Pinto 151O-XI-2 112 3
João Álvares Jorge Dias 151O-XI-15 20 140
Pedro do Quintal Jorge Dias 1510-XII-10 2 3S2oo
Antão de Lordelo Jorge Dias 151O-X-23 2 14
Jorge Lourenço Jorge Dias 1510-YI-1O 112 3 e 8 am.
João Rodrigues Luís M. de Vasconcelos 1510-X-9 20 140
João Rodrigues Luís M. de Vasconcelos 151O-X-28 10 70
Pedro Vaz Duarte Rodrigues Pinto 1511-1-2 I 4
Pedro Vaz Duarte Rodrigues Pinto 15ll-II-lI 30 alqueir. 4
Antão Lordelo Luís M. de Vasconcelos 151H-lI 30 alqueir. 4
AnIão Lordelo Luis M. de Vasconcelos 1511-1-21Y I 4
Antão Lordelo Luis M. de Vasconcelos 1511-X-23 2 14
Jorge Lourenço Sebastião Morais 1511-1-13 I 7
Simão Lopes Sebastião Morais 1511-1-29 1 6
João do Rego Sebastião Morais 1511-11-1 1,5 9
Branca Fernandes Sebastião Morais 1511-11-1 20 alqueir. 2
João Fernandes Jorge Dias 1511-I1-1I I 7
João da Rosa Sebastião Moreis 1511-11-11 3 21
João da Rosa e Henrique Ousei Sebastião Morais 1511-XII-28 8 56
João Rodrigues Luis Mendes de Vasconc. 1511-IY-I I 7,5
João Rodrigues Luis M. de Vasconcelos 1511-Y-23 2 16
João Martins '(Tábua) Sebastião Morais 1511-I1I-1O 8 56
Gonçalo Álvares Luís M. de Vasconcelos 1511-Y-lI 30 alqueir. 3 e 24 ar.
João Martins Sebastião de Morais 1511-YI-16-27 4 18
Vicente Álvares Namorante Vaz (rendei.) !511-X-6 1,5 9
Gonçalo Vaz Luis Vaz de Negro (ren.) 1511-XI-25 2 10
Gonçalo Vaz Luis Vaz de Negro (ren.) 1511-XII-22 30 alqueir. 2,5
Álvaro Afonso Luis Vaz de Negro (ren.) 1511-XII·5 4 24
Antão Dias Luis Vaz de Negro (ren.) 1512-1-12 30 alqueiro 2,5
João Dias da Ribeira Luis Vaz de Negro (ren.) 1512-1-30 30 alqueir. lSOOO
Gomes Fernande. Luís Vaz de Negro (ren.) 1512-I1I-1 30 alqueir. 2
Manuel de Florença Luís Vaz de Negro (ron.) 1512-IY-2 I IS800
Pedro Anes Preto Luís Vaz de Negro (ren.) 1512-IV-6 4 7S2OO
Pedro Anes PrelO Luis Vaz de Negro (ren.) 1512-VI-3 I 1$000
Jerónimo Fernandez Namoranle Vaz 1512-IX-23 2 ISOOO
Martinho Anes Luís Vaz de Negro 1512-X-12 8 12S000
Simão Acciolli Fernão Pardo 1512-IX-3 I IS300
Pedro Anes Namorante Vaz 1512-XI-17 2 3S2OO
Pedro Anes Preto Namorante Vaz 1512-XI·27 30 alqueir. S750
Lourenço Pires Namorante Vaz 1512-XII-6 30 alqueir. S800
D. JOana M.V. Martin M. Namorante Vaz 1512-XII-6 I S900
Pedro Homem Namorante Vaz 1512-XII-16 2 3S2OO
Martim Vaz Namorante Vaz 1513-1-4 I IS600
Gaspar Fernandes Namorante Vaz 1513-1-9 I IS600
André Fernandes dízimo dos Açores 1513-1-12 30 alqueir.
Diogo Lopes d ízirna dos Açores 1513-1-26 2 3S000
Álvaro Fernandes Gonçalo Rodrigues (dizim.) 1513-1-9 2 3S2OO
António Dias Gonçalo Rodrigues (dizim.) 1513-11-22 30 alqueiro S800
Pedro Anes Gonçalo Rodrigues (dizim.) 1513-11-25 I IS600
Pedro Anes de Castro Luís Vaz 1513-11-26 30 alqueir. S700
Diogo Gonçalves Luís Vaz 1513-111-4 30 alqueir. S800
Diogo Homem Luís Vaz 1513- 40 alqueir. IS066
João Fernandez da Casa Luís Vaz 1513-IY-2 30 alqueir. S750
João Rodrigues 1513-IY-2 5 5S000
João Rodrigues 15i3-1X-1 5 2S000
Gonçalo Fernandes dízimo 1513-Y-12 I IS200
João Sebastião da Rosa João de Freitas 1513-YIII-28 3 S960
Mes de Rosa viúva J. Vaz João de Freitas 1513-YIII-28 4 6S050
Jerónimo Fernandes Namorante Vaz 1513-1X·17 2 3S000
Gonçalo Fernandes João R .• feitor da Terça 1513-IJ{-20 5 6S000
Pedro Ornelas João de Freitas 1513-IX-20 5 6S5OO
Gonçalo Caldeira Narnarante Vaz 1513-IX-20 lOe 16 aI. 14S000
Duarte Fernandes Namo-rante Vaz 1513-IX-22 5 7S000
Álvaro Gonçalves Calha Luís Vaz de Negro 1513-1X-24 I IS600
Nuno da Costa Luís Vaz de Negro 1513-1X-24 2 3S000

202
Devedor Credor Dala
Trigo Açúcar Uinheiro
(moios) (arrobas) (r~ais'
- - - - - - - - - - - - - - - c c _

Estevão Sanche, Luís Vaz de Negro 1513-IX-24 I IS600


Sebastião Gonçalves Luis Vaz de Negro 1513-IX-24 I IS600
Marte Teixeira m. Diogo de N-oya Luís Vaz de Negro 1513-IX-24 I IS6(X)
Gonçalo Fernandes Luis Vaz de Negro 1513-IX-24 I IS(,(X)
Pedro Gonçalve, Luis Vaz de Negro 1513-IX-24 6 9S000
Gonçalo Fernandes Luis Vaz de Negro 1513-IX-25 I IS600
João Fernandes Luís Vaz de Negro 1513-IX-26 I IS600
Afonso Anes Luí, Vaz de Negro 1513-IX-26 I IS600
João Escórcio Luís Vaz de Negro 1513-IX-26 30 alqueir. S800
Afonso u.ndeiro Luis Vaz de Negro 1513-IX-21 I IS600
Pedro Lourenço Luis Vaz de Negro 1513-IX-JO 20 alqueir. S533
Patrónia Gonçalves. m. Benoco Amador Luís Vaz de Negro 1513-X-12 II IIS950
Gonçalo Fernandes Luis Vaz de Negro 1513-IX-5 I IS51XJ
Heitor Nunes João Rodrigues I513-IX-24 I S300
Jerónimo Fernandes Namorante Vaz 1513-XIl-18 I IS11XJ
Gonçalo Aires Luís Vaz de Negro J513-XIl·19 15 19S5OO
Benoco Amador Luis Vaz de Negro 1514-IV-26 6 e 40 alq. 6S000
Diogo Gil Duarte Rodrigue, (ren.) 1519-11-1

Fonte: A.N.T.T., C.C., I1-21 a 27,5,99,30 e 31, 33, 104,35 a 38, 41 a 43,185,50,56,60,63,70,88,143.
20, 83, 79, 46.

203
QUADRO N.o 13
MERCADORES E SEUS AGENTES/PROCURADORES

Mercador Data Feitor ou procurador

João Francisco Affaitati -1539 Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão BacoIlo, CapeIla de Capellaoi, João Dias, João Gonçal-
ves, Matia Manardi. Maffei Rogell, Lucas Giraldi
Diogo Afonso de Aguiar 1504 Bano Brocone
Pedro Afonso de Aguiar 1530 Capella de Capellani
Pedro de AyaIla 1528 João Valdavesso
1529 João Rodrigues Castelhano, Simão Fernandes, João do Vale
João Vaz de Almada 1506 Feducho Lamaroto
Janim Bicudo 1520 Matia Manardi
Jorge Lopes Bixorda 1525-1526 João Rodrigues Castelhano
Rui de Castanheda 1505 Janim Bicudo
Francisco Castanho 1504 Quirio Catanho
Claaes 1507-1510 Jorge Erndorfor, António Leonardo
João Coquet 1530 Charles Corroa
Charles Correa \526 João Pardo. João Valdavesso. João Rodrigues Castelhano
Cristóvão Godinho 1506 Lucano GriIlo
Rui Gil 1506 Lucano GriIlo
B. Marchioni 1507-1513 Feducho Lamoroto, BeRaco Amador
Tohias de Marim 1535 João Gonçalves, João Rodrigues
Bemardim de Medeiros 1530 João Rodrigues Castelhano
Pera de Mimença 1524 João Mendes, João Rodrigues Castelhano
1526 João de Valdevesso
\528 João de Escalante
B. MoreIli 1508 Feducho Lamaroto e Benaco Amador
1509 Benaco Amador
1509-15\0 Cristóvão BocalIo, B. Marchionni, António Leonardo, João Augusta
Leonardo Nardl 1504-1505 Feducho L.maroto
João Odom 1527 António Boto
Garcia Pimentel 1509 Estevão Bogno, Gabriel Affaitati, Jorge Lomelim
Álvaro Pimentel Benoco Amatori
João Álvares Pereira \506 Feducho Lamarolo
Jerónimo Semigi 1506 Bona Brocone, Benoco Amatori
Welsers 1507-1510 João Augusta, Bona Brocone. Jorge Erndorfor, Jácome Holzbock. Leo Rovensperger e Hans Schonid

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, Os estrangeiros na Madeira entre 1500-1537

204
QUADRO N.o 14
PROCURADORES E AGENTES·PRAÇA DO FUNCHAL
1500·1537

Procurador I Agente Mercador

Simão Acciaiuolli B. Morelli, Lapo de Azevedo


Gabriel Affaitati Cristóvão Bocollo. Garcia Pimentel
João Francisco Affaitati Garcia Pimentel, Pedra Afonso de Aguiar e João Rodrigues de Noronha
João de Agusta Welsers, B. Morelli
Benoco Amatori B. Marchionni. B. MoreIli, Álvaro Pimentel, Jerónimo Sernigi, Francisco Garducho
Jamin Bicudo Rui de Castanheda
Cristóvão Bacono João Francisco Affaitati, Bt Morelli
António Boto João de Odom
Bona Brocone Jerónimo de Semigi, João Francisco Affaitati, Welsers. Diogo Afonso de Aguiar
CapoUa CapoUani Pedra Afonso de Aguiar
João Rodrigues Castelhano Jorge Lopos Bixorda, Pera Mimença, Pero de Ayala, Charles Correa
Quinio eatanho Francisco eatanho
Charles Correa João Coquet
João Dias João Francisco Affaitati, Janim Bicudo
Jorge Emdorfor Welsers
João Escalante Pera de Mimença
João Esmeralda, O Velho D. Pedra de Moura
Franceslindo Frances Santogueda
Simas Fernandes Pera de Ayala
Lucas Giraldi João Francisco Affaitati
João Gonçalves João Francisca Affaitati, Janim Bicudo, Tobias Marim
Lucano GriUo Cristóvão Godinho, Rui Gil
Jácome Holzhock Welsers
Feducho Lamaroto Leonardo Nardi, João Álvares Pereira, João Vaz de Almada, B. Marchionni, B. Morem
António Leonardo Claves, Garcia Pimentel, B. MoreIli
J. Lomellin Garcia Pimentcl
António Luca João Francisco Affnitati
Malia Manardi João Francisco Affaitati, Janim Bicudo
B. Marchionni Feducho Lamaroto, B. MoreIli
João Pardo Jorge Lopes, Bixorda, Pera de Mimença, Charles Carrea
João Rodrigues Tobias de Marim, Bemardim de MEdina, Pero de Mimença
João Valdavesso Jorge Lnpes Bixorda, Pera de Mimença. Charles Correa, Pera de Ayala
João da Vale Pera de Ayala

Fonte: Fernando Jasmins Pereira, ibidem.

205
QUADRO N.o 15
FRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES NAS CANÁRIAS
SÉCULO XVI

Data Percurso Custo Mercadoria

1507-X-7 Tenerife-Cabo Aguer 11 000 rnrs por mês buscar escravos


1507-XI·15 Tenerife-Cádiz 185 mrs/cax.- 70 eX.as de açúcar
1508-XI-12 Abona-St.' Cruz-Sevilha-Lisboa 15000 mrs. moeda Castela420 quintais de pez, 15 ex. a açúcar
1508-XI-13 St.· Cruz~Cádiz 125 mrs/caixa 50 ou 60 ex. li. de açúcar
1509-1-5 Isletas-Cádiz ou Câdiz 300 ou 350 mrs/ f;lnega 500 ou 600 fanegas de cevada
1509-1-8 Tenerife-Gomera 18 rnrs/fanega cevada
1509-lV-9 Tenerife-Cádiz 4 reais/caixa 80 ex.as açúcar
1509·Y-30 Abona-St.' Cruz-Cádiz 38 mrs/qulntal 450 quintais de pez de Abona e 130
de St.- Cruz
1509·YI-15 St.' Cruz-Pavro-St.a Cruz-Funchal 12 000 mrs moeda ilha Pez
1509-YII-15 St.· Cruz-Taoro-St.° Cruz-Cádiz 190 mes/caixa 70 ex. as açúcar
1509·XI·3 Tenerife 1/2 dobra a bota 20 botas de vinho
1509-XI·12 Tenerife-Lisboa ou Sevilha 15000 mrs 420 quintais de pez e 15 ex.· de açúcar
1509·XI-26 SI.' Cruz-Isletas 112 real caixa 100 ex.as
1510-11-26 St.:I Cruz-Madeira 33 rnrs. fanega e quintal 300 quintais de pez e 40 fanegas de trigo
l51Ó-III-? St.' Cruz-Abona·St.' Cruz-Setúbal ou Lisboa 27 000 mrs moeda Portugal Pez
151O-In-18 St.· Cruz-Abana-5t.· Cruz-Orao Caoaria-Lisboa 100 dueados moeda ouro Pez
1510-III-20 SI.' Cruz-Hoyos-Castela 570 mrs/tonelada cevada e outros
I51O·II1-27 51.' Croz-Orao Caoaria-Sr.· Cruz-Berbéria 12 000 mrs ao mês
151O-YIII·24 SI.' Cruz-Cádiz 554 mrs de Castela/tonelada25 toneladas de trigo
1510·IX-13 St.' Cruz-Oaliza 650 mrs + averias 350 fanegas de trigo
1511·1I·J3 SI.' Cruz-Berbéria 3S dobras ouro/mês
1511·I1-16 St.· Cruz-Berbéria 11 333 mrs/mês
151I·In-31 St.· Cruz%Sanlúcar ou 51.a Maria 200 mrs da Castela/dúzia 80 dúzias de tábuas
1511·IY-5 5t.· Cruz-Garachico-St.· Cruz-Sardina-Isletas 700 mrs/quintal urzela e açúcar
130 rnrs ex.-
1511-Y-7 St,- Cruz-Garachico-FaiaJ 500 mrs/tonelada 1000 fanegas de cevada
1511-Y·9 St.' Cruz-Cádiz II 770 mrs de Castela
1511-Y·15 SI.' Cruz-La Palma-Cádiz 600 mrs/lonelada cevada
1511-Y-20 St.· Cruz ou Orotava-Galiza 250 mrs/tonelada 2S toneladas de cebo
1511·YII-2 SI.' Cruz-Castela. Ayamonte ou Lepe 530 mrs/tonelada trigo
1511-YII·3 St.· Cruz-Orotava-Madeira-Raiona ou Vigo 500 mrs/tonelada 200 fanegas de trigo e 100 de eevada
1511-VlI-16 St.· Cruz-Lanzarote-Oaliza 400 rnrs/ tonelada trigo
151 I-IX-I 5t.· Cruz-OfOlava-Lisboa 16 000 mrs de Porto
1511-IX-4 S1.· Cruz..(Jomera 6000 mrs 500 fanegas de trigo
1511·X·I SI.' Cruz-Galiza 1000 mrs/tonelada
1516·X-29 Isletas-Cádiz 4 reais prata/caixa 130 ex.· de açúcar
1517·1II-14 Agando·La Palma 10250 mrs 2 barcas de pe~ra e cal
1518-X·23 Isletas-Berbéria 35 dobras ao mês
1518·X-29 Islelas·Cádiz 4 reais prata/mês 140 cx.· açúcar
1519-Y-9 Isletas-Génova I ducado ouro/caixa açúcar
1519·YI·9 Hlerro-Sevilha 9000 mrs madeiras
1519·XI·3 Isletas Berbéria 35 dobras ouro/mês
1520-IY-17 St.' Cruz-Taganana-St.' Cruz-Ysletas-San Lazaro-Telda 45 dobras de ouro 4 eixos para- engenho
I 520-IY-309 Sr. li. Cruz~Garachico-Orotava-Safi 425 mrs/tonelada cevada
I 520-Y-5 St,a Cruz-Lisboa 480 mrs/tonelada trigo ou cevada
1520-Y-28 St,a Cruz-Buenavista-Lisboa ou Setúbal 480 mrs/tnnelada cevada
1520-YI-9 St.lI. Cruz-Aveiro 500 mrs/tonclada 800 fanegas de cevada
I 520-VII·3I St. li Cruz-Madeira 27 1/2 ducados de
Portugal trigo e passageiros
1521·VJI·2 St. ll Crnz-Taganana-Telda 500 mrs per pau 200 xaprães de madeira
1521·YIlI-7 St.' Cruz-Berberia 48 dobras/mês
1522-1·18 St.' Cruz·Cabo de Aguer 20 cruzados de oiro tabuado, madeiras
I522-I1-24 SI.' Cruz-Safi 20 cruzados de ouro 20 duzias de tabuado e 100 queijos
I522-lV-22 Isletas-Amberes 7 coroas de ouro/tonelada açúcar e remei
I 522-YI·22 Isletas-Sevilha 60 ducados arrobas 60 ex.a açúcar
I522-YII·30 Isletas-Agaeta-Cádiz 4 1/2 reais prata a ex.- 18 cx. a de açúcar
I522-VlII-1I St. ll Cruz-Berberia 35 dobras/mês
I522-YIlI-I 3 SI.' Cruz-Bérberia 45 dobras/mês
I522-X-25 Islestas-Cádlz 6 reais prata nova
Agaete-Cádlz 6 reais prata nova
1522-XII-IO Isletas-St.o Domingo 7 castelhanos de ouro mari-
nheiros 3 dobras mestre
15
1522-XII-26 Cale ta-San Telmo--Berberia
1523-IlI-21 SL ll Cruz-Madeira-Tavira-Cádiz 45 mrs/quinlal 400 quintais de pez e 130 fanegas de
700 mrs/tonelada trigo
I523-lV-2I St. a Cruz-Fuerteventura 20 dobras de ouro
I523-YII-1O SI.' Cruz-Aveiro-Vila do Conde 750 mrs%quintal trigo e pez
35 mrs/tonelada
1523-IX-22 SI.' Cruz-Melenara (Oran Canaria) 18 rnrs de fanega
15 mrs de fanega trigo e cevada em 2 viagens
1523-X-30 St.· "Cruz-Lanzarote I 1/2 reais fanega 300 fanegas de trigo e 30 quintais de
35 mrs/quintal biscoito
1523-YII-I SI.' Cruz-Cabo Aguer 600 mrs fanega 600 fanegas de cevada e 471 de trigo
1523-YI-23 lerez-Oran Canaria 47 dobras de ouro 47 botas de vinho e 6 serones de Castelan
1523-XII-26 Isletas-Orolava-Caldar 24 dobras de ouro madeira
I524-Y-S SI.' Cruz-Berberia 42 dobras de ouro
I524-YlII-I 5 Sr.· Cruz-Indias 50 ducados ouro

206
Data Percurso Custo Mercadoria

1524-VIlI-16 SI. a Cruz-Madeira 700 mrs/fanega 600 fanegas de trigo


I524-IX-24 SI.' Cruz-Abono-Baynna 500 mrs/quinlal 800 quintais de pez
1524-XI-18 St. a Cruz-Berberia 50 dobras ouro/mês
I526-X-9 100 dueados ouro gado, queijo ...
1527-VIIl-14 Isletas-Cádiz 6 1/2 reais prata/cx,:II 210 ex. a de açucar
I528-V-S Se a Cruz--Orotava-Garachico-Lanzarote-Setúbal 550 mrs/tonelada 2400 fanegas de cevada
I530-VII-27 Isletas-Fuerteventura-Berberia 28 dobras/mês mestre 3 ma~
rinheiros 2 1/2 quintal
1531-VIlI-2 Isletas~Cádiz·Génova 15 reais pratafcx.- açúcar
1532-V-2 Isletas-La Palma-Cádiz 1/2 ducado ouro/ex. 1I 1100 a 120c.x. a açúcar
1533-V-30 lsletas-'Sardina ou Agate-Am6eres 5 dueados ouro/lOneladq. 35 toneladas de açúcar e remei
1534-IV-7 Isletas-Amberes 5 dueados ouro (tonelada) açúcar e remei
I534-V-20 lsletas-Amberes 5 ducado. ouro (tonelada) 30 pipas de mel e açúcar
1534-VII-16 Melenara-Isletas-Amberes 5 ducados ouro {lonelada) açúcar e mel

Fonte: Emma Gonzalez Yanes, Protocolos dei escribano Hernan Guerra, La Laguna, 1958; Manuela Marrero
Rodriguez, Protocolo dei escribano Juan Raiz de Berlanga, Tenerife, 1977; Manuel Lobo, Protocolos de
Alonso Gutiérrez, Tenerife, 1979; Fernando Calvijo Hemandez, Protocolos de Hernan Guerra, Tenerife,
1980; Idem, «Los documentos de fletamentos ...", in IV Coloquio de História Canario Americana, I,
56-75; A.H.P.L.P., Protocolos de Cristobal de San Clemente, n. O 733-741.

207
QUADRO N.o 16
FRETAMENTO DE NAVIOS NA MADEIRA
SÉCULO XVI

Data Percurso Custo Mercadoria

1503-1-18 Funchal-Lugares de Baixo 350 cs. Passageiros: contador e recebedor


1507-IX-25 Funchal-Lisboa I 170 cs. 34 barris de conserva
1509-X-4 Funchal-Safim 5 755 cs. Arma de socorro e Safim
1509-X-4 Funchal-Safim 14 000 cs. Arma de socorro e Safim
1512-IV-15 Funchal-Safim 5 700 cs. Arma de socorro e Safun
1516-IX-30 Funchal-Lugares de Baixo 400 rs. Passageiros: contador e recebedor
1517-IV-25 Funchal (do Calhau à nau) 200 cs. Lenha
1517-V-12 Nane da Ilha-Funchal 2 500 cs. Mastro de Barbusano
1520-V-23 Lisboa-Funchal 6 800 cs. Carta régia
1529-VIJ-30 Lisboa-Funchal 3 500 cs. Anilharia
1583-IX- I 2 Funchal-Lisboa 340 cs. Passageiros: 10 soldados
1591 Funcha1-Machlco-SI.· Cruz-Calheta-Ponta Delgada 500 cs.
1591 Funchal~Machico 2 cruzados Passageiro: o inquisidor
1591 Machico-Santa Cruz 360 cs. Passageiro: o inquisidor
Funchal-Calheta I 570 Passageiro: o inquisidor
1591 Calhela-C. dos Lobos I 000 Passageiro: o inquisidor
Calheta-Ponla de Sol i 000 Passageiro: o inquisidor
1591 Santa Cruz·FunchaI 600 Passageiro: Q inquisidor
Ponta de Sol-Ribeira Brava 5 tostões Passageiro: o inquisidor
1591 do Calhau ao navio (Funchal) 300 Passageiro: o inquisidor
1591 Funchal-Ribeira Grande 70000 Passageiro: o inquisidor
1591 Saída do Nordeste (S. Miguel) 280 r5. Passageiro: o inquisidor
1591 Ponta Delgada-Vila Franca 600 cs. Passageiro: o inquisidor
1591 Vila Franca-Ponta Delgada 780 cs. o fato do inquisidor
1591 S. Miguel-Angra (Terceira) 25 680 cs. PaJi.sageiro: o inquisidor
1591 Terceira·Lisboa 70000 cs. Passageiro: o inquisidor
1505 Funchal·Lisboa I 671 cs. Açúcar
1505 Funchal·Lisboa 1206 Açúcar
1505 Madalena-Funchal 330 16 arrobas de açúcar
1505 Madalena-Funchal 352 16 arrobas de açúcar
1505 Calheta-Funchal 300 Passageiros. escrivão e Diogo Fernandes
1505 Ribeira Brava-Funchal ISO passageiro: recebedor e escrivão
1505 Funchal;Calheta 300 Passageiro: contador e escrivão
1505 Ribeira Brava-Funchal 300 Contador e escrivão
1505 Funchal·Lisboa 2010 Caixas e barris

Fonte: A.N.T.T., Inquisição de Lisboa, ms. de 148-6-287; Idem, N.A., n. o 903B; Idem, Corpo Cronológico II,
7, 16; 66-66; 13-89; 89-137; 157-68; 256-80; 18-151; 19-36; 31-130.

208
FONTES E BIBLIOGRAFIA
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
I - FONTES MANUSCRITAS

ARQUIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DA RIBElRA GRANDE

Livros de acórdãos, 1555, 1578-1579, 1596 e 1599.

ARQUIVO HISTÓRICO PROVINCIAL DE LAS PALMAS

Protocolos Notariais (Gran Canaria)

Diego de Alarcón, 1546-1556;


Pedro de Cabrejas, 1565-1575;
Alonso de Cisneros, 1573-1574;
Pero Hennandez Clerves, 1588-1589:
Pedro de Escobar, 1555-1563:
Heman Gonzalez, 1550;
Alonso Hennandez, 1557-1560:
Roque de Loreto, 1571-1574;
Alonso de Mendonça, 1594-1596:
Hernando Padilha, 1516-1539:
Bernardini Palenzuela, 1590-1591;
Francisco Ponce, 1596-1599;
Cristobal de San Clemente, 1514-1536;
Diego de San Clemente, 1516;

ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO

Corpo Cronológico

II parte 1501-1600, maços 4-274.


Inquisição de Lisboa
Livro de Denunciações das ilhas, Alentejo e Beira, 1575-1576;
Livro das Denúncias da visitação das ilhas dos Açores, 1592-1593;
Livro da Reconciliação das ilhas, Alentejo e Beira, 1575-1576;
Livro das Rectificações da visita à ilha da Madeira !t!ita por Jerónimo Teixeira' no ano de 1591;
Livro das Rectificações da visita à ilha S. Miguel, 1592;
Livro de registo dos Culpados Resultantes da visita à ilha da Madeira I em 1591.

Núcleo Antigo
Entrada e saída da alfandega do Funchal, dízima das mercadorias, 1523;
Livro de contas da alfandega do Funchal de 1505-1506;
Livro da Alfândega de Santa Cruz, 1524;
Livro da despesa do açúcar, ano de 1522-1523, Santa Cruz;

211
Livro dos Direitos do açúcar de Machico do ano de 1530;
Livro dos Direitos do açúcar da Ribeira Brava de 1517;
Livro dos Direitos do açúcar da Ribeira Brava de 1536;
Livro dos quartos da comarca da Calheta, ano de 1509;
Livro dos Quartos do Funchal, 1504-1505;
Livro dos quartos do Funchal, Machico, Ribeira Brava, Calheta, 1509-1511;
Livro dos quintos do açúcar, ano de 1537, da comarca da Ponta de Sol;
Livro dos quintos do assúcar da Alfândega da Cakheta, ano de 1534;
Livro dos quintos do Funchal, 1509;
Livro da receita e despesa oe João Tavares, recebedor da ilha de S. Miguel, anno de 1526;
Livro de Registo de Leis e Regimentos, 1516-1520;
Livro da sayda dos asuquares de varias pessoas da Alfandega de Ponta de Sol; anno de 1526;

ARQUIVO REGIONAL DA MADEIRA

Camara Municipal do Funchal


Livro de Posturas desta câmara da cidade do Funchal aprovadas e feitas conforme a ordenaçam dei Rey Nosso
Senhor, 1587;
Registo Geral, tomos 1 a 4
Tomo Velho;
Vereações, 1470-1599;

Misericórdia do Funchal

Livro do Tombo, n.O 684, 710-711;

Julgado de Residuos e Capelas


Livro do Tombo;
Processos de Capelas, cx. as 3, 4, 8, 10-11, 15, 20-21, 24, 26-27, 29, 34, 37, 43, 48, 51, 53-54, 60.
Paroquiais (Funchal)
Baptizados, 1538-1600;
Casamentos, 1539-1600;
Óbitos, 1~38-1600;

BIDLIOTECA DEL MUSEO CANARIO

Agustin Mil/ares
Anales de las Islas Canárias;
Coleción de documentos para la história de las Islas Canárias;
Extractos e apuntes. y copias dei Archivo de la inquisición de Canárias;
Indice geral de todas las personas que han sido quemadas acconciliadas penitenciadas absultas y suspensas sim
causas por el tribunal de la Inquisicion de las islas canarias / ... /, 1875.

BmLIOTECA PúBLICA E ARQUIVO DE PONTA DELGADA

Fundo Ernesto do Canto


Cartas, n.O 29;
Casa Miguel Canto e Castro, n.O 3-9;
Collecção de papeis de Pero Anes do Canto e seu filho António Pires do Canto, 1503, n.O 20-A;
Documentos Antigos, n. ° 26;
Documentos avulsos, 1521-1609;
Documentos dos livros da Câmara de Ponta Delgada, 1447-1806, n.O 168;
Escripturas, 1518-1599, n.o 56;
Extractos de Documentos Michae1enses, vol. II-VIII;
Tombo da Alfandega de Ponta Delgada: autos de arrematação 1540-1550, n.O 52;
Tombo de Escripturas de compras e de cartas de Sesmarias, 1482, 1515, n.O 20.

212
II - FONTES IMPRESSAS

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221
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
ÍNDICES
PÀ<ilNA r~ BI!ANCO
ÍNDICE DOS MAPAS E GRÁFICOS
Vias de comunicação e portos na Madeira, Século XVI . 43
Vias de comunicação de S. Miguel . 45
Rotas e portos de comércio nas Canárias e Açores . 48-49
Sociedades Comerciais no Funchal, Século XVI . 61
Agentes de Transporte e comércio . 65
Agentes de transporte, século XV e XVI . 67
Almocreves na Madeira, século XVI . 69
Marinheiros e barqueiros na Madeira, século XVI . 71
Mercadores no mundo insular ' . 75
Mercadores, áreas de proveniência . 77
Mercadores do reino na Madeira, séculos XV e XVI . 88
Mercadores espanhóis nas Canárias, século XVI . 89
Mercadores nos Açores, século XVI . 92
Mercadores no Mundo Insular, séculos XV e XVI . 93
Vinhas e latadas na Madeira, século XVI . 94
Produção de açúcar na Madeira . 106-107-113
Comércio de açúcar da Madeira, 1490-1550 . 131
Rotas e principais mercados do comércio de açúcar da Madeira . 133

225
ÍNDICE DOS QUADROS
Transporte do açúcar da Calheta para o Funchal . 44
Cabrestantes do porto do Funchal . 46
Preço das embarcações, século XVI . 52
Preço do frete nas Canárias . 53
Preço do transporte do Inquisidor em 1591 . 53
Preço do frete na Madeira . 54
O acúcar mercadoria de troca na Madeira, 1508-1509 . 56
Pagamentos em açúcar na madeira, 1509-1537 . 57
Obrigações de pagamento do trigo dos Açores . 58
Sociedades comerciais no Funchal século XVI . 60
Sociedades para o comércio do açúcar . 62
Sociedades para o arrendamento dos direitos : . 62
Almocreves na Madeira ' . 68
Agentes de transporte marítimo nas ilhas . 70
Agentes de transporte marítimo na Madeira . 70
Lojas de comércio no Funchal . 76
Mercadores nas ilhas . 76
Mercadores nas ilhas . 76
Mercadores estantes e vizinhos . 78
Mercadores estrangeiros . 79
Mercadores estrangeiros na Madeira . 80
Venda do açúcar dos direitos na Madeira, 1502-1534 . 82
Arrendamento dos direitos reais na Madeira . 83
Mercadores do reino na Madeira, séculos XV e XVI . 88
Mercadores espanhóis nas Canárias, século XVI . 89
Mercadores na Madeira . 91
Açoreanos e canários na Madeira, século XVI . 99
Dízimos nas Canárias . 102
Dízimos eclesiásticos em 1585 . 105
Relação consumo-produção de cereais nas Canárias no século XVI . 108
Comércio de cereais em Tenerife no século XVI . 126
Comércio de cevada em Tenerife no século XVI . 127
Registo de trigo entrado no porto do Funchal, século XVI . 128
Escápulas de açúcar na Madeira em 1498 . 130
Comércio do açúcar na Madeira em 1498 . 130
Comércio do açúcar na Madeira 1490-1550 . 132
Exportação de açúcar na Madeira, 1500-1540 . 134
Compra de açúcar na Madeira, 1500-1540 . 135
Exportação de açúcar para Viana do Castelo . 132
Os mercadores e o comércio do açúcar . 135
Principais mercadores estrangeiros . 135
Preço do açúcar no mercado europeu . 136
Destino dos navios normandos, 1530-1540 . 137
Navios portugueses com açúcar para Antuérpia 1536-1550 . 137
Comércio de Cereal das Ilhas . 143
Preço de venda ao público do vinho da Madeira . 143

226
ANEXOS
QUADROS

Quadro n. O 1 - Mercadores na Madeira, séculos XV a XVI . 165-176


Quadro n. o 2 - Mercadores nos Açores, séculos XVI . 177-178
Quadro n o 3 - Mercadores nas Canárias, século XVI . 179-185
Quadra n. o 4 - Mercadores nacionais e o comércio de açúcar na Madeira
1500-1540 ' .. , . 186-188
Quadro n. o 5 - Os mercadores estrangeiros e o comércio do açúcar na
Madeira 1500-1540 . 189-190
Quadro n. o 6 - Agentes de transporte marítimo na Madeira . 191-192
Quadro n. o 7 - Mareantes na Madeira, século XVI . 193-195
Quadro n. o 8 - Mestres de navio nas Canárias, século XVI . 196-197
Quadro n.O 9 - Almocreves nas Canárias, século XVI . 198
Quadro n. o 10 - Almocreves na Madeira, século XVI . 199-200
Quadro n.o 11 - Vendeiros na Madeira, séculos XV e XVI . 201
Quadro n. o 12 - Obrigações em trigo dos Açores, 1509-1519 , .. , 202-203
Quadro n. ° 13 - Mercadores e seus agentes/procuradores . 204
Quadro n.O 14 - Procuradores e agentes praça do Funchal, 1500-1537 . 205
Quadro n. o 15 - Fretamento de embarcações nas Canárias, século XVI 206-207
Quadro n. o 16 - Fretamento de navios na Madeira, século XVI . 208

227
ÍNDICE GERAL
ABREVIATURAS 5

INTRODUÇÃO 7-9

I PARTE

O ATLÂNTICO E AS ÁREAS INSULARES


1. A ECONOMIA INSULAR , " 13-16
2. AS ÁREAS INSULARES A EXPANSÃO E O COMÉRCIO NO
ATLÂNTICO: AS ROTAS DE NAVEGAÇÃO E COMÉRCIO..... 17-24

II PARTE

O COMÉRCIO INTER-INSULAR
1. FACTORES . 27-157
1.1 Regulamentação das actividades económicas . 27-40
1.2 Técnicas . 41-63
1.3 Agentes . 64-95
1.4 Emigração inter-insu1ar '" . 96-100
1.5 Os produtos . 101-118

2. COMÉRCIO . 119-158
2.1 Mercados e produtos insulares . 120-137
2.2. Comércio de cabotagem . 138-140
2.3. Comércio Inter-insular '" . 141-146
2.4. Comércio atlântico-europeu . 147-158

CONCLUSÃO 159-161

ANEXO: QUADROS . 163-205

FONTES E BIBLIOGRAFIA . 209-221

ÍNDICES . 223
Indíces dos mapas e gráficos . 225
Índice dos quadros . 226
IMPRENSA DE COIMBRA, LIMITADA
Largo de S. Salvador, 1-3 - Coimbra

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