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Diversidade cultural nos Teatros Municipais: as linhas de ação Arte

Expandida e Ressonâncias

Resumo:
O artigo aborda a criação de 05 novos projetos para os
Teatros da Fundação Municipal de Cultura, Francisco Nunes e
Marília, através de duas linhas de ação: Arte Expandida,
voltada para a experimentação das linguagens artísticas e
Ressonâncias, que trabalha especificamente com a música.
Discute, a partir dos projetos que se reúnem nessas linhas de
ação, a gestão pública, as manifestações artísticas e culturais
e os diálogos passíveis de serem abertos na cidade. Os
equipamentos públicos passam a ser reconfigurados para dar
conta do campo de complexidade próprio da arte e da
cultura. Finalmente, enfatiza, o desenvolvimento das ações
e seu monitoramento.

Dinamização dos espaços: acolhendo a diversidade

Em 2005, a atual gestão da Diretoria de Teatros recebeu por tarefa a


dinamização dos espaços e a sua abertura para a diversidade cultural, ampliando
a interlocução com a pluralidade dos agentes de nossa cidade e região
metropolitana.

Uma das respostas foi a criação das linhas de ação Arte Expandida e
Ressonâncias, constituídas de projetos cênicos, plásticos, musicais, de natureza
híbrida e propulsores do pensamento criativo e crítico.

Outra refere-se a reavaliação da política de ocupação dos Teatros pela sociedade


civil e de ações já existentes, como a Mostra de Artes Cênicas para Crianças
(antiga Mostra de Teatro Infantil), visando principalmente a necessidade de
contemplar linhas de continuidade em gestão pública.

Quanto à Ocupação, um dos objetivos era evitar os aspectos concentracionistas e


exclusivistas no preenchimento das datas, abrindo à multiplicidade das vozes e
manifestações artísticas e culturais. Como resultado dessa modificação na
agenda, os Teatros Municipais reduziram o período reservado à Seleção Pública
para Projetos de Artes Cênicas, cujas datas eram por demais extensas (02
períodos de 02 meses, para cada semestre, em cada teatro). Basta imaginar que
uma peça teatral só ficava em cartaz 02 meses consecutivos num teatro – público
- diga-se de passagem.

Como resultado, os Teatros se abriram para a diversidade, atendendo uma


gama maior de projetos e expressões artístico-culturais. No final, sai ganhando o
público, que passou a ser contemplado com um leque mais amplo de atividades.
Um exemplo pode ser dado na lista dos grandes projetos da sociedade civil
acolhidos pelos Teatros (sendo, alguns, anuais e outros bienais): Campanha de
Popularização do Teatro e da Dança, Verão Arte Contemporânea (novo festival e
espaço de arte e cultura, que abarca mais de 30 grupos e coletivos inovadores),
Estação em Movimento (apresentação de grupos teatrais da capital e do interior
do Estado), Festival Internacional de Teatro (Fit-bh), Festival Internacional de
Bonecos (Fib), Fórum Internacional de Dança (Fid), Festival Estudantil de Teatro
(Feto), além do atendimento, em 2007, a espetáculos avulsos de música, teatro e
dança, incluindo ainda, exposições, lançamentos de livros, conferências e
debates. Ao todo, foram realizadas em 2007, no Teatro Francisco Nunes e no
Teatro Marília, 540 atividades, com a presença de um público de 95.000 pessoas1.

A Seleção Pública para Projetos de Artes Cênicas realizou, em 2007, 188


apresentações com um público de 15.454 pessoas.

Quanto à Mostra de Artes Cênicas para Crianças, esta já havia sido criada nas
gestões anteriores, com o nome de Mostra de Teatro Infantil, realizando em
2007, a sua 12a edição. Inicialmente no Teatro Marília, a Mostra estendendo-se
para o Teatro Francisco Nunes, tornando-se um evento marcante de difusão e
discussão da produção cultural para crianças. A modificação do nome resultou de
uma avaliação feita na nossa gestão, no sentido de ampliar seu conceito: passou
a ser um pequeno festival que inclui não só espetáculos de teatro, mas também
de dança, teatro de bonecos e circo. Além disso, procura realizar seminários e
apresenta uma Feira Pequena, na qual são oferecidas oficinas, shows,
brincadeiras, contação de histórias, incluindo venda de cds, livros, brinquedos
artesanais etc. Os espetáculos da Mostra são todos gratuitos e procuram
abranger, como público preferencial, as crianças e suas famílias.

Em 2007, a Mostra de Artes Cênicas para Crianças realizou 13 espetáculos, com


público de 2987 pessoas e 2.600 freqüentadores na Feira Pequena.

Um mapa para a criação de novos projetos

Quando se tem por tarefa a criação de novos projetos, surge a questão: a partir
de que pressupostos? Quais seriam os indicadores que poderiam apontar para as
necessidades de uma gestão de políticas públicas para a cultura?

A criação de projetos não é uma solução “tirada da cabeça” de um gestor


cultural. Ela envolve uma multiplicidade de escutas, de avaliações e de
1
De fato, os números não são os indicadores privilegiados da cultura. Nessa área, o fator
qualitativo, de pertencimento, de envolvimento criativo e crítico, constitui outros indicativos que
necessitam ser levados em conta. Além disso, devemos lembrar com o escritor Salman Rushdie
que, para cada texto, um contexto. Ou seja, um determinado projeto pode ser altamente eficaz
para um público pequeno, ou equivocado mesmo angariando grande público. De todo jeito, os
números fornecem alguns dados consideráveis. Os indicadores, em cultura, devem apontar para o
mapeamento das singularidades.
percepções. Muito se discute, entretanto, sobre a natureza da ação cultural.
Volta e meia a cultura oscila sob a dicotomia subjetivo/objetivo, sem avançar
conceitual e politicamente muito além disso.

Mais do que opor subjetividade (universo da criação dos valores simbólicos, da


motivação etc.) à objetividade (controle social, justificativa pública, avaliação
qualitativa e quantitativa dos processos e produtos, relação custo e benefício,
transparência das ações, divulgação de resultados etc.), a cultura é a fabricação
de um plano no qual os dois pólos tornam-se uma coisa só: a fabricação da
realidade na qual o desejo está implicado

As políticas sociais são, hoje, cada vez mais, assentadas em indicadores e


construção coletiva. Entretanto, a área da cultura, apesar do acúmulo de
discussão e dos inúmeros avanços (maior planejamento, visão da gestão pública
etc.), ainda não conseguiu atingir esse patamar. Faltam justamente estudos mais
consistentes que possam nortear as ações. Informações e indicadores baseados
numa economia da cultura poderiam, por exemplo, formar, de um lado, o
contexto virtual para as decisões e de outro, os rastreamentos dos ciclos de
produção e recepção.

A idéia de serviços permanentes, dentro de uma visão de sistema da cultura, vem


contribuir para que as ações do gestor cultural deixem de ser sacadas ao sabor do
momento, dos humores e das inclinações pessoais, assim como das tentativas de
instrumentalização política. São, ao contrário, esforços que visam um grau maior
de universalidade e apropriação pública para a área da cultura.

Além disso, entendemos que políticas públicas para a cultura devem levar em
consideração não só as demandas dos produtores culturais organizados, mas
igualmente, as necessidades da sociedade.

Aqui começa o problema: a sociedade não é uma massa disforme e nem dividida
em blocos rígidos, mas compõe um universo de singularidades, de trânsitos e
devires. Daí a nossa escolha em colocar a ênfase na diversidade cultural,
seguindo, nesse aspecto, as diretrizes da Fundação Municipal de Cultura e a
gestão Gilberto Gil no Ministério da Cultura, de modo a traçar um plano que
contemple expressões culturais emergentes, transdisciplinares e transversais.

Chamamos a atenção para a idéia de que a pura dimensão formal da gestão


pública não é suficiente para produzir valores na área. Estamos, nesse sentido,
trabalhando com o pressuposto de que cabe ao poder público realizar
efetivamente uma política cultural e não ser meramente uma espécie de
“avalista do mercado” (papel de enquadrar e encaminhar aquilo que já foi
decidido nas esferas organizadas da sociedade civil).

Em arte e cultura não existem universais vazios, mas a luta contínua por espaços
e meios de manifestação. Joost Smiers (p.28), por exemplo, demonstra que a
cultura vive muito mais o plano do conflito de valores:
“As tensões, conflitos e contradições relacionadas às artes
demonstram que os filmes, os livros, a TV, as imagens, o teatro, a
música e a dança não são adornos inocentes da vida.”

Então, ao contrário do que supõe a universalidade vazia, a cultura vive em


permanente luta por espaços, legitimação, recursos etc. Portanto, do ponto de
vista do poder público, não optar é permitir que as forças do mercado, que
buscam hegemonia, atuem ao seu próprio sabor. Desde o início, entendemos que
a tarefa de uma gestão cultural é justamente a de traçar o plano dos valores.

De modo prático, a criação de novos projetos envolveu, em termos de


construção, execução e monitoramento em políticas públicas, percorreu as
seguintes fases:

1. O trabalho do conceito: conteúdos, territórios, movimentos e formatos

Em gestão cultural, o trabalho do conceito é aquilo que dá consistência a um


determinado projeto e ação. Quando se trata de uma ação que interfere na
cidade, essa clareza conceitual torna-se primordial.

Optamos por realizar o trabalho do conceito na perspectiva apontada pelos


pensadores Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992) como sendo uma cartografia de
circunstâncias engendradoras de uma dada realidade, numa visada transversal.
Isso significa que a abordagem conceitual - aquilo de define o projeto - envolve
um esforço de compreender dinâmicas artísticas e culturais que não se
restringem mais às fronteiras fixas e delimitadas das linguagens artísticas. O
mesmo ocorre com as modalidades de agenciamento (formação para a produção,
negociação, circulação, estabelecimento de vínculos sociais e profissionais), que
passam a formar padrões emergentes e em contínua mutação.

Para a construção dos projetos, partimos de algumas circunstâncias imediatas,


visando suas potências conectivas:

a) os equipamentos, sua condição material (palco frontal à italiana etc), sua


funcionalidade, sua inserção histórica na cidade e as possibilidade de novas
apropriações.

b) O acúmulo de discussão na cidade sobre o destino dos equipamentos,


modalidades de ocupação etc.

b) os movimentos culturais e artísticos da cidade, vistos sob a perspectiva não


corporativa, pensando em primeiro lugar nos valores criados (formação crítica do
público, diversidade cultural, multiplicidade das vozes e manifestações).

O trabalho do conceito envolveu a discussão tanto dos conteúdos dos projetos,


quanto a dos formatos. Esses últimos têm por base os recursos: verba, espaços,
pessoal e material técnico.
Duas linhas básicas foram traçadas nesse trabalho do conceito:

a) a experimentação das linguagens artísticas, sua contaminação mútua,


contemplando, ainda os diálogos não–hierárquicos.

b) a ação musical, envolvendo tanto os fatores geracionais (na perspectiva de


uma política para a juventude) quanto os movimentos afirmativos, como a
arte como atitude (daí a escolha do Rock e do Hip-Hop).

O passo inicial se deu com o que chamamos de agenciamento dos setores e


elementos da sociedade civil: a presença de personalidades e coletivos de
cultura, convidados a compor um rol de curadorias e consultorias para as linhas
de ação: artes cênicas, música e criações híbridas. Do ponto de vista público,
consideramos esta a tarefa primeira: trazer elementos já inseridos na cultura da
cidade a fim de contribuir para a elaboração dos projetos.

A presença desses profissionais e coletivos envolve, já numa primeira instância, o


plano de debate e participação da sociedade civil mais qualificada.
Naturalmente, optou-se não por trabalhar com representações corporativas, mas
com pessoas e formações que acumulam experiência e atuam continuamente na
cidade:

− Área de dança: Dudude Hermann (coreógrafa e bailarina);

− Área de artes cênicas: Fernando Mencarelli (professor, pesquisador e criador


teatral) e Nina Caetano (atriz e dramaturga);

− Criações híbridas: Marcelo Kraiser (professor e videoartista). Com as


colaborações de: André Lage (professor e pesquisador cênico), Eduardo de
Jesus (professor e pesquisador de imagem), Carlos Mendonça (professor,
pesquisador de criações híbridas e entre-meios), Vera Casanova (professora e
escritora) e Isabel Stuart (bailarina e pesquisadora de dança);

− Área de Música: Gilberto César de Oliveira (músico e poeta), Gil Amâncio


(professor e músico), Edson de Deus (ex-produtor dos Racionais MC), Flávio de
Abreu (“Renegado”), Rômulo da Silva (ambos do NUC Alto Vera Cruz) e
Coletivo Hip-Hop Chama.

2. O trabalho do monitoramento e da avaliação

Cada projeto é continuamente monitorado e avaliado nos seguintes itens:


pertinência para a vida cultural da cidade, incluindo a formação crítica de
público, contribuição para o pensamento técnico e artístico da área e, por fim,
a adequação dos meios e fins. Em cada avaliação têm direito à voz tanto os
curadores, selecionadores e consultores, como os próprios participantes.
Nenhum dos projetos fiou preso a uma forma pré-estabelecida. Ao contrário,
foram se modificando a partir de cada avaliação, como trabalho de
monitoramento.

Quanto ao conteúdo propriamente dito, apresentamos as bases conceituais das


escolhas realizadas:

1. Arte Expandida: experimentação nos Teatros Municipais

A linha de ação Arte Expandida envolveu a criação de três projetos: Momentum -


a composição no instante; Laboratório: Textualidades Cênicas Contemporâneas;
Improvisões – improvisação intermídia no Teatro Marília.

Arte expandida é um conceito citado por alguns estudiosos para caracterizar as


mudanças que vêm ocorrendo nessa área do fazer humano. A expressão, utilizada
pelo artista alemão Joseph Beuys, que pode ser tomada como um meio de
“borrar” as fronteiras entre as artes e entre a arte e a vida, encontra
ressonâncias em outros artistas e movimentos, principalmente a partir dos aos 60
(GOLDBERG, 2006). Schechner (1994) chama os movimentos da segunda metade
do século, principalmente nos EUA, de vanguarda experimental. O termo
experimental cobriria o sentido ex-peril (aquilo que foge do perímetro e se
arrisca no desconhecido) e que teria contribuído para o campo expandido da
cena contemporânea. De modo sintético, poderíamos dizer que uma arte
expandida redefine: a) o que vem a ser arte; b) em que condições e lugares
podem ocorrer experiências estéticas; c) quem pode fazer arte e que funções
pode desempenhar na criação. Em suma, o que pode ser um trabalho de arte.

Investir recursos públicos numa Arte expandida poderia engendrar um


exclusivismo experimentalista, em detrimento de outras modalidades de
expressão artística? Essa questão não procede em primeiro lugar porque uma
arte expandida não é, de antemão, exclusiva, mas inclusiva. Ou seja, incorpora
justamente aquilo que ficou fora do campo da arte em alguns contextos
históricos. Em segundo lugar, a ação dos Teatros Municipais visa a incorporação
de procedimentos e experiências que não atendem aos formatos convencionais e,
por isso, nem sempre têm a atenção e os recursos que merecem. Em terceiro
lugar, trata-se de um plus, de um acréscimo, à linha tradicional, sem prejuízo
para esta, que é a de receber projetos da sociedade civil, inclusive com os
formatos tradicionais de mercado. Arte expandida produz, ao contrário, o efeito
de permitir e favorecer trocas quando o mercado não as proporciona.

Belo Horizonte é uma cidade que possui várias escolas profissionalizantes de


teatro, grupos e companhias fomentadores não só de espetáculos, mas de novos
procedimentos técnicos e formativos. O campo da dança é igualmente
potencializador para uma cultura cênica renovada e instigante. Há,
constantemente, movimentos de “contaminação” entre teatro e dança,
produzindo cenas híbridas. A Performance Art já é uma realidade difundida.
Artistas plásticos, de vídeo, poetas e artistas cênicos formam coletivos de
criação pela cidade. Com esse mapa em mãos, entendemos que os Teatros
deveriam contemplar uma linha de ação que pudesse dialogar com todas essas
manifestações.

Trabalhar na perspectiva de uma arte expandida coloca em tela o procedimento


working in progress/process, cuja característica essencial é a concepção de obra
de arte como obra não acabada, mas nem por isso mal acabada. Trata-se de um
elemento que contamina o produto com a processualidade, como muitos artistas
e criadores vêm fazendo hoje no campo da arte contemporânea. Renato Cohen
(1998) diz que

“O procedimento criativo work in process característico de um série de


expressões contemporâneas, enquanto processo gestador, delineia uma
linguagem com especificidades na abordagem dos fenômenos e da
representação, produzindo outras formas de recepção, criação e
formalização.(...). O produto, na via do work in process, é inteiramente
dependente do processo, sendo permeado pelo risco, pelas alternâncias dos
criadores e atuantes e, sobretudo, pelas vicissitudes do percurso.”

Cabe lembrar que no primeiro ano de implantação, 2006, Arte Expandida contou
com um projeto de literatura - Zona de Invenção Poesia &, do performer e poeta
Ricardo Aleixo e convidados. O projeto reunia performances poéticas,
entrevistas, ocupando o foyer do Teatro Francisco Nunes nas sextas-feiras, antes
dos espetáculos.

Apresentamos em linhas gerais, os projetos que compõem a linha Arte Expandida:

Momentum – a composição no instante

O projeto, com curadoria de Dudude Hermann, seleciona 12 profissionais da


dança que possuem experiência relativa à experimentação e à improvisação. Em
2007, alguns dentre esses profissionais vieram da área de teatro. Foram 04
espetáculos cujo foco era precisamente o procedimento da composição no
instante (instant composition), nos quais apresentaram-se em trios. .

Em 2007, as 04 apresentações contaram com um público de 432 pessoas.

Improvisões- improvisação intermídia

Consiste na seleção, por meio de edital, de 12 indivíduos ou coletivos de criação,


reunidos sob as categorias corpo, imagem e som, que improvisariam, diante do
público, sem hierarquias. Foram realizados 04 espetáculos improvisacionais e
intermídia no Teatro Marília, uma vez ao ano.
Os artistas contam, ainda, com a agenda do Teatro Marília à sua disposição por 02
dias, recursos técnicos e humanos, além de divulgação e cachê, para realização
das performances improvisacionais.

O projeto inova ao oferecer espaço para criações emergentes, no chamado


zeitgeist (espirito de época) da cena contemporânea, no qual o acidente e a
imprevisibilidade do mundo são incorporados pela arte. A improvisação como
performance assume um caráter único e existencial, sendo por isso muito
apreciado pelo público jovem.

Nas 04 apresentações no Teatro Marília, Improvisões teve a presença de 371


pessoas em 2007.

Laboratório: Textualidades Cênicas Contemporâneas

Focaliza as chamadas dramaturgias da cena. A opção se deu a partir de um


levantamento do que já foi mais discutido e investigado na cidade e do que,
numa perspectiva emergente para a cena contemporânea, necessitava ser
trabalhado. Houve ênfase em dois setores: a) a apropriação do Teatro Municipal
Francisco Nunes por criações working in progress, buscando estabelecer novos
mapeamentos de criação e recepção; b) o estudo e abordagem da dramaturgia
cênica, das criações híbridas e multimídias, do teatro pós-dramático, pós-
performance art etc.

Laboratório teve, na sua primeira execução, três fases: 1ª) Seminário com
especialistas focalizando a cena contemporânea e incluindo artistas locais; 2ª)
Oficinas de Criação monitoradas pelos curadores e ministradas por artistas cujo
currículo acumula experiências em textualidades da cena (Antônio Araújo do
Teatro da Vertigem e André Semenza e Fernanda Lippi do Zikzira Teatro Físico,
grupo com sede em Londres e BH) 3ª) Apresentações artísticas.

Após duas edições, o projeto vem sendo avaliado para seguir uma linha mais
voltada ao próprio seminário, trazendo cursos em 2008 (em parceria com o FIT) e
propostas de apropriação do espaço cênico em tempo mais curto, visto que a
agenda de um teatro tão requisitado como o Francisco Nunes não favorece uma
experimentação de longo prazo.

Laboratório realizou em 2007, 1 Seminário em 04 dias com público de 400


pessoas, 02 oficinas para 05 núcleos de criação (20 artistas) e 02 apresentações
para 287 pessoas.

2. Ressonâncias

A linha de ação para a música, Ressonâncias, partiu da criação de dois projetos


novos, que são o Quarta Sônica – rock independente e o Hip-Hop in Concert. A
avaliação teve em conta a necessidade de projetos que contemplem os jovens da
nossa cidade, em sua diversidade e multiplicidade, o que constitui uma
preocupação da Coordenadoria de Juventude da PBH.

Existe uma grande produção musical em constante efervescência em Belo


Horizonte. O enfoque teve por base, em primeira mão, os movimentos e
expressões que, além de terem um aspecto geracional, buscam a arte como
atitude, uma arte que tem a ver com as identidades culturais dos jovens que a
exercitam, estabelecendo ligações com a dimensão cidadã. Cabe lembrar, por
exemplo, o intenso debate que a música jovem realiza na internet, com destaque
para sites como Overmundo2, no qual as tais formas de expressão estão
continuamente expostas, realizando conexões com a cidade, com as perspectivas
sociais e com o desejo de mudança.

Para a criação dos novos projetos musicais, fazia-se necessário não simplesmente
apresentar mais um show, mas realizar o que chamamos, neste artigo, de
trabalho do conceito: a cartografia dos novos movimentos.

A ação incorpora também o projeto Música de Domingo, que já é uma tradição


em Belo Horizonte no que tange à expressão musical de qualidade.

Hip-Hop in Concert –

Belo Horizonte possui um forte segmento de grupos e artistas que abraçam a


causa do movimento Hip-Hop. Ela se multiplica não só pelas nossas Vilas, mas
também influi no comportamento de grande parte dos adolescentes e jovens da
classe média.

O que caracteriza e diferencia o movimento Hip-Hop brasileiro do americano, é o


fato de que, nos E.U.A., a expressão fechou-se numa vertente de mercado, com
símbolos de poder, de dinheiro e de sexo - vinculados entre si. George Yudice,
estudioso da economia da cultura, em entrevista a Heloísa Buarque de Holanda,
mostra o diferencial do Hip-Hop brasileiro em relação ao estadunidense, que
apenas reafirma valores de consumo.

O projeto é uma mostra metropolitana competitiva, na qual, através de edital,


são selecionados, dentre os 04 elementos da cultura Hip-Hop (graffite, rap,
break e dj), os que irão participar de cada uma das 04 apresentações. Por
aclamação do público, são escolhidos os que irão se apresentar na final.

Hip-Hop in Concert realizou 05 apresentações em 2007, para um público de 3.380


pessoas.

2
Cf. www.overmundo.com.br
Quarta Sônica –

Contempla o rock independente e autoral. Até 2007, a Seleção era realizada pela
curadoria, que fazia o levantamento dos grupos emergentes na cidade,
convidados então a se apresentar no Teatro Marília, 01 vez ao mês, em 08
edições anuais. Para 2008 será publicado um Edital de Seleção, a fim de
proporcionar maior transparência e, ao mesmo tempo, divulgar melhor o projeto.

Quarta Sônica realizou 09 apresentações em 2007, para um público de 824


pessoas, no Teatro Marília.

3. Conclusões

Com a criação dos novos projetos, os Teatros Municipais propiciam a utilização


por novos públicos, como jovens oriundos de diversas regiões da cidade que
nunca tiveram acesso a um teatro. Um exemplo é a conversa entre dois deles,
no Teatro Francisco Nunes, durante a primeira sessão do Hip-Hop in Concert: “-
Sou de Nazaré, nunca pisei num lugar deste, estou muito feliz!”

Um plano de ação que busca acolher a diversidade e promover os diálogos entre


artistas, linguagens e movimentos, além de um pensamento criativo, necessita
de ferramentas para avaliação e indicadores que possam ser, ao longo do tempo,
aperfeiçoados, a fim de dar mais consistência à ação pública. Em termos de
políticas públicas, além do aspecto inovador dos projetos que fazem parte das
linhas de ação Arte Expandida e Ressonâncias, o caminho trilhado envolveu
também a continuidade das políticas, o respeito às discussões acumuladas e uma
ousadia em acolher experiências e propostas da sociedade civil que confirmam
para Belo Horizonte as potencialidades de uma cidade cultural.
Bibliografia

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