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Esperando a hora da libertação!

Todas as manhãs, bem cedo, Mamã Deolinda ia ao Tchunga-moyo, o grande mercado


da cidade, abastecer-se da mercadoria que iria vender durante o dia: dois ou três quilos
de sal, dois ou três quilos de tomate, algumas cabeças de alho, e se o dinheiro
chegasse...também dois ou três quilos de feijão. Vivia, juntamente com os seus 5 filhos,
numa pequena garagem, cuja porta era uma esteira de palha, em plena cidade da Beira,
Moçambique. O seu marido, morto na guerra, era militar patenteado com direito a casa,
uma vez que morreu, perderam esse direito. A sua banca de venda estava à beira da
estrada que eu fazia todos os dias. Por detrás dos montinhos de tomates, de dentes de
alho, do monte do sal, e do feijão… juntamente com o pequeno copo que servia de
medida, encontrava sempre o sorriso cansado mas sereno desta mãe que pacientemente
esperava ganhar o suficiente para pagar o aluguer da “casa” e a escola dos seus filhos.
Um dia a resposta à minha saudação, “Masoko” (Novidades), em vez do habitual, “tudo
bem” (auxoni), foi “Mutambujico maningue” (muito sofrimento). Parei para a ouvir. O
seu filho Miguel, com apenas 15 anos, tinha um grupo de “amigos” em quem confiava
mais que na mãe. A mãe estava ausente do seu dia a dia… Um dia esses seus “amigos”
mais velhos acusaram-no de ter assaltado a casa de um senhor e de lá levar bens com
muito valor. Foi parar à prisão! Mamã Deolinda sabia que o seu filho era inocente. Não
podia continuar preso... Penhorou alguns pequenos objectos que tinha, pediu ajuda a um
amigo do falecido marido, contratou um advogado... aí o seu filho compreendeu, que a
sua mãe nunca o tinha deixado só. Seis meses depois, o Miguel foi libertado.

Maria, mãe e amiga


“Eis a tua mãe!” Jesus do alto da cruz, confia-nos a sua mãe (Jo 19, 25-27). Quem
contempla Jesus na Cruz não pode deixar de olhar quem está a seu lado, neste caso era a
própria mãe de Jesus. Do olhar fixo na cruz nasce a força do encontro, do reencontro, da
fraternidade. Confiando a Mãe ao discípulo, a mãe tem quem a ame e a quem amar.
“Eis o teu filho”. Maria, aparece a abrir e a fechar a hora de Jesus. A mãe… está sempre
lá… mas só aparece quando os outros desaparecem. O amor de mãe não sufoca, não se
impõe com argumentos mas transparece e permanece fiel no estar “de pé” junto à cruz.
Atenta, discreta, guardando no seu coração as misteriosas palavras e gestos do seu filho,
Maria é o modelo de “Mulher”. Este seu grande amor não podia terminar ali. Confiando
o discípulo à sua mãe, o discípulo tem quem o ame e a quem amar.
Eis o teu irmão, a tua irmã, a tua mãe, o teu pai... Eis a proposta de Jesus! Eis o amor
que circula e gera novas relações. Amor que cresce e amadurece em tempo de
sofrimento… quando ousamos permanecer “de pé” como Maria, ou a mamã Deolinda.
Maio é o mês das mães e das Mulheres como Maria. Mães de Deus e mães de jovens
como eu e como tu. Africanas ou europeias, anónimas ou famosas… são profetas de
tempos novos gerados atrás de uma banca ou diante dos holofotes… permanecendo fiéis
a uma missão que as ultrapassa, respondem sim nos detalhes de uma existência
esperando pacientemente a hora da vida, da libertação.

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