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DAL COL
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
Os problemas do atual modelo
A agricultura familiar
OBJETIVOS GERAIS
OBJETIVOS PRIORITÁRIOS
Fixação no campo com qualidade de vida
Criação de novos empregos
Aumento das exportações e do turismo
Assistência técnica plena
Novos padrões educacionais.
Reuniões sociais, esportes e lazer
REDEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS
Novo conceito de “sem terras”
Inscrições, seleção e treinamento de candidatos
Novo modelo de apoio financeiro e de posse da terra
ESTUDOS PRELIMINARES NECESSÁRIOS
Disponibilização de terras para assentamentos
Definição dos tipos de agrovilas
Definição do formato e porte das agrovilas
DEMARCAÇÃO DAS AGROVILAS
Critérios básicos
Núcleo central
Glebas familiares
INFRA-ESTRUTURA E OBRAS INICIAIS
Estradas externas e malha viária interna
Água potável e de irrigação
Energia elétrica
Aproveitamento de madeiras
Serraria e marcenaria
Equipamentos e veículos necessários
A OCUPAÇÃO DAS AGROVILAS
CONSTRUÇÃO DAS EDIFICAÇÕES
Características das edificações
Divisão do trabalho
As edificações comunitárias
As edificações residenciais
O mobiliário residencial
OS PRÉ-REQUISITOS DO ESQUEMA PRODUTIVO
Introdução
A importância da assistência técnica
A importância da preparação da terra
A importância das sementes e insumos
O INÍCIO DAS ATIVIDADES PRODUTIVAS
AS AGROINDÚSTRIAS
O ECO E O AGROTURISMO
CONCLUSÕES
INTRODUÇÃO
A agricultura familiar
Os agricultores familiares são os verdadeiros heróis do campo. Respondem por
uma significativa parcela da produção agrícola, ocupam, em relação aos assentamentos
da reforma agrária, menor quantidade média de hectares por família e lutam contra toda
a sorte de dificuldades. Sofrem com estradas mal conservadas, com ausências ou
precariedades de escolas, assistência médica, fontes de suprimento e de
financiamentos, dentre inúmeros outros problemas.
Raramente contam com assistência técnica e seus custos de produção são altos.
Também sofrem com a concorrência dos grandes produtores e com as dificuldades para
escoamento e colocação de suas suadas safras. O nível de qualidade de vida desses
agricultores vem decaindo com o passar dos anos e muitos permanecem no campo por
amor à terra ou por não saberem o que fazer nas cidades.
Atualmente, é crescente o número desses agricultores que estão vendendo ou
alugando suas terras para grandes produtores. A agricultura familiar está em declínio e,
se analisada sob a ótica de qualidade de vida, de dignidade ou de viabilidade
econômica, está acabando ou em agonia de morte.
Ainda é possível reverter esse processo, desde que ele seja tratado com a
profundidade que merece, sem maquiagem e com ações afirmativas, eficientes e
eficazes. Para isso, é necessário estender aos agricultores familiares todas as
facilidades e recursos que serão oferecidos aos novos assentados, conforme os critérios
que serão apresentados no projeto VIDA NOVA NO CAMPO. Apesar dele enfatizar os
assentamentos em agrovilas, o apoio à agricultura familiar constitui um de seus
postulados básicos e estará subentendido em todas as situações aplicáveis.
OBJETIVOS GERAIS
OBJETIVOS PRIORITÁRIOS.
REDEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS
Critérios básicos
Como já registramos, cada região apresenta terras e topografias de diversas
características e eletividades produtivas. Algumas são mais versáteis e outras mais
restritas. Mesmo assim todas são aproveitáveis para algum tipo específico de agrovila.
Para demarcá-las corretamente, será necessário levar em conta vários fatores e
caracteriza-los com o maior nível de precisão possível, especialmente, a qualidade da
terra, uma vez que a agricultura será a atividade predominante. Para isso, será
necessária uma abrangente e criteriosa análise do solo.
Além de necessária para a definição do tipo específico de agrovila, a análise servirá
de base para as correções e adubações posteriores, bem como, para a liberação das
verbas específicas para essa finalidade, Também servirá para cálculo do valor da terra
nua, de maneira a diferenciar o valor do hectare em função da sua qualidade e
produtividade. A análise do solo será fundamental para definição do tamanho de cada
gleba individual e da área total da agrovila. A seguir, uma visão geral dos critérios
básicos para demarcação de uma agrovila típica, com topografia favorável.
Núcleo central
Será demarcado no centro geodésico da área ou no ponto que mantenha o melhor
padrão de distância entre o seu centro e as glebas produtivas. Ele será dividido, a partir
do seu ponto central, em diversas áreas com localização e destinação específica,
começando pelas áreas destinadas a serviços e atividades comunitárias.
Essas áreas serão padronizadas e apresentarão as mesmas características
arquitetônicas em todas as agrovilas de qualquer tipo ou porte, variando apenas a área
construída, de maneira a oferecer as mesmas comodidades em todas elas. São quatro
áreas contíguas de 10.000 m2, separadas por duas largas alamedas, formando uma
cruz. Conforme o formato geral da agrovila, essas quatro áreas formarão um quadrado
ou um retângulo.
Começando em qualquer ponto cardeal e da esquerda para a direita, a primeira
área será dividida em quatro terrenos de 2.500 m2. O primeiro será destinado para
construção da uma escola maternal e uma pré-escola. No segundo será edificado um
templo religioso de uso ecumênico. O terceiro será destinado a uma praça pública e o
quarto será utilizado para construção de uma escola de primeiro grau, a qual também
será utilizada para alfabetização de adultos e treinamentos diversos.
A Segunda área de 10.000 m2 será dividida em sete terrenos de tamanhos
diferentes. O primeiro terá uma área de 1250 m2 e será destinado à construção de um
posto de saúde que também funcionará como farmácia. O segundo, com 2500 m2 terá
uma garagem de máquinas agrícolas e um almoxarifado de equipamentos, materiais, e
ferramentas de uso comum. O terceiro, com 1250 m2, conterá o escritório da
administração condominial da agrovila e o escritório técnico da EMATER e de outros
órgãos governamentais ou conveniados.
O quarto, com 1.250 m2 será destinado à construção de um mercado para venda
de alimentos, roupas, materiais de papelaria, bazar e outros produtos. O quinto, com
625 m2 conterá uma padaria e uma quitanda. O sexto, com 625 m2, será destinado a
um bar e lanchonete que funcionará à noite e nos fins de semana, ou durante o dia, nas
agrovilas com fluxo turístico. O sétimo, com 2500 m2 e destinado a expansões futuras,
será inicialmente utilizado como estacionamento dos freqüentadores do bar e das
demais áreas de serviços comunitários.
A terceira área de 10.000 m2 será destinada a um bosque com coreto central. A
quarta área será destinada a um clube social com quadras poliesportivas, salão para
reuniões, bailes e outras atividades sociais, além de piscinas de água corrente para
adultos e crianças. Conforme as características topográficas e hídricas da agrovila, o
clube poderá ser instalada às margens de um rio ou de uma cachoeira, dispensando as
piscinas.
Ao redor dessas quatro áreas serão demarcadas as quadras residenciais,
separadas por alamedas. Cada quadra terá 10 mil m2, e será dividida em quatro
terrenos de 2500 m2. Os terrenos serão demarcados em quantidades suficientes para
abrigar todas as famílias iniciais, mais 10 a 30 por cento para expansões futuras,
voltadas para atender novas famílias decorrentes de casamentos entre moradores da
agrovila. No cento de cada quadra, no ponto de encontro dos quatro terrenos será
demarcada uma área de 1.600 m2, ocupando 400 m2 de cada terreno, destinada a
atividades sociais e recreativas das quatro famílias.
Em volta do perímetro do núcleo central haverá uma faixa de terras de uso
comunitário com largura, proporcional à quantidade de assentados. Ela será destinada
para lavouras que não fazem parte do esquema produtivo da agrovila e instalação de
horta, galinheiro, pocilga, tanques de piscicultura, campo de futebol, serraria, marcenaria
e agroindústrias.
Glebas familiares
As glebas serão demarcadas a partir da faixa de uso comunitário, em toda a sua
volta, de maneira a manter uma certa proporcionalidade de distância do centro
geodésico do núcleo central. Mesmo com esses cuidados, é inevitável que umas fiquem
localizadas mais próximas e outras mais distantes. Em alguns tipos de agrovilas
especializadas, esses problemas serão minimizados, a exemplo daquelas dedicadas à
pecuária, com produção cooperativada.
A quantidade de glebas será igual à dos terrenos residenciais, incluindo a reserva
de 10 a 30 por cento, para expansões futuras. Elas não serão separadas por cercas, a
menos que a atividade produtiva imponha essa condição. Serão demarcadas por
estradas de acesso ou por cercas vivas. Apenas o perímetro da agrovila será cercado
com cinco fios de arame liso, separando-a das propriedades adjacentes.
O projeto VIDA NOVA NO CAMPO traduz, em seu nome, o seu principal objetivo.
Para que ele e os demais sejam alcançados, será necessário que o programa de
assentamentos realize um certo conjunto de obras antes de assentar as famílias e
também propicie as demais condições para que elas possam, em pouco tempo, sentir
que estão tendo uma vida nova no campo. Além das demarcações definidas na seção
anterior, serão necessárias as obras de infra-estrutura que serão descritas a seguir.
Energia elétrica
Sempre que houver condições técnicas, será construída uma rede elétrica para
atender a agrovila em suas necessidades básicas, como iluminação, acionamento de
eletrodomésticos de baixo consumo e força motriz para movimentar equipamentos da
serraria, marcenaria e agroindústrias. A rede elétrica obedecerá a critérios técnicos e
ecológicos específicos. Será aérea até a entrada do núcleo central, quando passará a
ser subterrânea, a fim de manter a harmonia com o meio ambiente bastante arborizado
das alamedas e dos terrenos residenciais.
Haverá uma rede monofásica para atender a área residencial e uma trifásica para
atender algumas áreas de serviços comunitários, a serraria, a marcenaria e as
agroindústrias. A instalação dos pontos de energia elétrica seguirá o mesmo padrão da
rede de água, com um relógio de medição em cada ponto. Para simplificar a diminuir os
custos de implantação, as ligações residenciais não permitirão o uso de chuveiros, de
eletrodomésticos ou ferramentas com motores acima de 1000 watts.
O aquecimento de água para banho sempre será feito por aquecedor a lenha, fogão
com serpentina, painel solar ou chuveiro a gás. É sabido que os chuveiros elétricos
consomem acima de 4000 watts e que, em quase todos as residências, eles são ligados
simultaneamente, requerendo redes, transformadores e disjuntores dimensionados para
esses picos.
Considerando que nem sempre será possível a utilização de energia da rede de
concessionárias, será necessário manter um critério de justiça e de igualdade entre as
agrovilas. Naquelas em que não for possível, serão adotadas soluções alternativas que
não deixem os moradores sem esse importante benefício. Quando a topografia e a rede
hídrica permitir, será instalada uma pequena usina hidroelétrica com capacidade para
suprir a agrovila.
Quando a usina não for viável, as edificações serão iluminadas por um sistema de
energia solar fotovoltáico a ser instalado em cada uma delas. O sistema será
dimensionado para atender somente as necessidades de iluminação e acionamento de
eletrodomésticos de baixo consumo. As necessidades de energia para acionar motores
da serraria, marcenaria e agroindústrias, dentre outras, serão supridas por geradores
movidos a óleo diesel ou biodiesel, a ser produzido na própria agrovila, pois já existe
tecnologia para essa finalidade.
Aproveitamento de madeiras
Com exceções decorrentes da instalação de agrovilas em áreas desmatadas, ou de
baixa densidade florestal, ou inadequadas, como no caso do cerrado, a maioria delas
serão instaladas em locais com boa cobertura vegetal. A implantação da malha viária
interna, a abertura dos espaços das edificações e a preparação das glebas para
produção acarretará o inevitável corte de inúmeras árvores, as quais serão aproveitada
na construção de residências e na fabricação do seu mobiliário, conforme será
detalhado mais abaixo.
Para isso, logo que a malha viária for concluída, serão iniciados os trabalhos para
aproveitamento dessas madeiras. As toras de madeiras apropriadas para construção
civil e mobiliário, serão medidas, separadas por tipo e armazenadas nas proximidades
do local destinado à serraria. As demais serão destinadas para cercas, lenha ou outras
finalidades. Se a metragem cúbica não for suficiente, as faltas serão obtidas em outras
agrovilas de maior densidade florestal.
Serraria e marcenaria
Essas duas unidades fabris serão de fundamental importância para a implantação
da agrovila. Além de reduzir drasticamente os seus custos, a serraria e a marcenaria
serão um importante instrumento de união dos assentados e o primeiro local de trabalho
de todos eles. Da serraria sairão os as madeiras para construção do posto de saúde, do
centro de abastecimento, das residências e de várias outras edificações previstas no
projeto VIDA NOVA NO CAMPO. Da marcenaria sairão as esquadrias e todo o mobiliário
básico, como camas, mesas, cadeiras e armários.
A serraria terá uma área coberta para abrigar máquinas de corte e desdobramento,
em quantidade compatível com o porte da agrovila. As madeiras serradas serão
armazenadas em uma extensão ou em um galpão específico. A marcenaria terá um
galpão parcialmente fechado para abrigar máquinas como tupias, desengrossadeiras,
serras circulares, plainas, lixadeiras e outras. Também será necessário um depósito
fechado para armazenar componentes e móveis acabados.
Elas serão ocupadas dentro dos critérios e nas datas definidas durante as reuniões
de treinamento. Quando necessário, o programa de assentamentos colocará ônibus
para transporte das famílias e caminhões para transportes de seus equipamentos e
utensílios. Esses veículos partirão de um local específico e serão acompanhados por um
ou mais técnicos do programa de assentamentos.
Na agrovila, cada família receberá duas barracas de lona, tipo exército, de tamanho
compatível com a composição familiar, interligadas entre si. Uma será utilizada como
sala, copa e cozinha e a outra como dormitório. Também receberá uma barraca menor
para ser utilizada como banheiro e sanitário. Antes de retornar, os ônibus serão
utilizados para adquirir, na cidade próxima, os suprimentos necessários para um ou mais
meses. Com isso, incentivarão o comércio local e iniciarão o esquema de integração
com a comunidade urbana.
Divisão do trabalho
Apesar de terem importância e valor diferenciado em nossa sociedade, nenhum tipo
de trabalho necessário para implantação da agrovila será visto ou tratado como tal.
Todos os trabalhadores serão considerados como assentados, com os mesmos
privilégios, direitos e deveres. A divisão será feita, dentre outros critérios semelhantes,
em função do preparo e constituição física, formação, habilidades e experiência
profissional. Todos devem ter o direito de errar, de não gostar ou de não se adaptar a um
determinado trabalho, desde que se adaptem a um outro qualquer, pois todos são
importantes.
No primeiro momento, o leque de atividades será menor e sofrerá um processo de
expansão com o passar dos dias e semanas. Sem obedecer a uma ordem de prioridade,
de precedência ou de dependência, teremos, dentre outros, os seguintes tipos de
trabalho básicos nos primeiros dias:
• nivelamento e compactação dos terrenos;
• demarcação da planta específica;
• abertura dos alicerces,
• canalizações internas de água potável e de esgoto;
• corte das toras em pranchas de diversas espessuras;
• corte das pranchas em peças brutas;
• corte e preparação das peças finais;
• montagem dos alicerces, da estrutura, das paredes, etc.
A inevitável confusão e falta de produtividade dos primeiros dias não será vista
como um aspecto negativo. Servirá para recompor equipes, aprimorar o treinamento e o
necessário preparo físico. Em qualquer situação deverá prevalecer a camaradagem, o
respeito mútuo e o objetivo de concluir as edificações no menor prazo possível, para que
todos possam deixar as barracas, morar em casas confortáveis e iniciar o esquema
produtivo da agrovila. A padronização dos projetos, o nível de especialização e as linhas
de montagens, dentre outros fatores, simplificará o treinamento e agilizará a execução
dos trabalhos.
As edificações comunitárias
Algumas dessas edificações serão construídas antes e outras após montagem de
todas as residências. Primeiramente será construído o escritório da administração local
e dos técnicos responsáveis pela instalação da agrovila, em paralelo com a implantação
da horta e do galinheiro. Em seguida, será a vez do centro de abastecimento, da padaria
e do posto de saúde e medicamentos. Depois, toda a equipe será alocada na
construção das residências. Ao final, retomarão a construção das demais obras
comunitárias.
O escritório de administração local e técnico ganhou a mais alta prioridade em
razão da sua importância para o gerenciamento das obras e realização de reuniões
administrativas e de treinamento. Sua planta será definida com algumas salas de
trabalho, salão de reuniões, banheiros e ampla varanda. Além do mobiliário apropriado,
terá um ou mais computadores com acesso à Internet, aparelhos e linhas de telefonia
fixa ou celular.
O administrador local e seus auxiliares serão eleitos para um mandato de um ano,
conforme regras a serem definidas e válidas para todas as agrovilas, semelhantes
àquelas aplicáveis a condomínios. Após o início das atividades produtivas, todos
receberão um salário justo, de maneira a compensar as restrições parciais ou totais de
trabalho nas respectivas glebas.
A horta será construída na faixa de terras de uso comunitário e seu tamanho inicial
dependerá do interesse e participação dos assentados no seu esquema produtivo
compartilhado. Ela será cercada com tela e seu sistema de irrigação utilizará aspersores
com registros individuais e grupais, permitindo a automatização da operação. Suas
edificações mínimas serão uma composteira, um minhocário, uma estufa, uma área para
guarda de insumos e ferramentas e outra para lavagem, classificação e embalagem dos
produtos.
O galinheiro será construído próximo da horta e seu tamanho também dependerá
do interesse e participação dos assentados. Ele será destinado à criação de aves para
postura ou consumo, em ambiente extensivo, tipo caipira. Será cercado com tela
apropriada e terá duas divisões. Uma para galinhas que estão chocando ou criando
suas ninhadas e outra para engorda e postura. Cada divisão terá uma área coberta,
onde ficarão os ninhos e os poleiros.
O centro de abastecimento será fundamental para suprir os moradores com
alimentos, artigos de higiene e limpeza, roupas, armarinhos, materiais de papelaria,
utilidades domésticas e ferramentas, dentre outros. Ele funcionará como uma
cooperativa de consumo, com margem de lucro suficiente para manter seus custos
administrativos.
O centro será administrado e operado por um grupo de moradores eleitos e
remunerados dentro dos mesmos critérios válidos para a administração local. Sua planta
contará com um grande salão, escritório de compras e de controle administrativo,
banheiros e depósito com área coberta para descarga. A padaria seguirá os mesmos
padrões operacionais e administrativos válidos para o centro de abastecimento e
também venderá os excedentes de produção da horta e do galinheiro para aqueles que
não participam do seu processo produtivo. Sua planta terá um salão, uma área de
fabricação, um depósito e um escritório.
O posto de saúde e medicamentos atenderá os problemas básicos da comunidade,
em termos de pediatria, clinica geral, odontologia e pronto socorro. Sua planta terá salas
para comportar a recepção, dois consultórios, gabinete dentário, pronto socorro,
farmácia e banheiros. Quando não existentes na agrovila, o posto será operado por
profissionais externos. Em qualquer caso, eles serão contratados pelos órgãos
competentes e receberão um salário justo pela dedicação em tempo total ou parcial.
Após a conclusão das residência serão retomadas as obras dos demais
equipamentos comunitários, na ordem a seguir, ou a critério da administração local. Os
assentados realizarão essas edificações, no todo ou em parte, antes de iniciar as
atividades produtivas da agrovila. Alguns projetos, tanto pelas suas particularidades,
como pelos materiais, equipamentos e mão-de-obra especializada, serão construídos
por profissionais externos, trabalhando ou não em conjunto com os assentados.
O almoxarifado de materiais e ferramentas será constituído por um salão fechado
onde serão armazenados os itens a serem utilizados em regime de empréstimo
temporário, como furadeiras, serras circulares e ferramentas especiais. Eles serão
requisitados na administração que fará os controles necessários. O almoxarifado
também conterá peças de reposição dos tratores e veículos de uso comunitário.
A garagem de máquinas e veículos terá uma área coberta, de tamanho suficiente
para abrigar os tratores, seus implementos e outros veículos de uso comunitário, além
de uma oficina para pequenos reparos a serem realizados pelos assentados, inclusive,
em equipamentos e ferramentas de uso individual.
Como já existem inúmeros projetos de escolas maternais, de pré-escolas e de
escolas primeiro grau no âmbito governamental, não entraremos em seus detalhes. Vale
ressaltar que, com a ampliação do conceito de “sem terras” aos habitantes dos centros
urbanos, não será difícil encontrar e contratar os professores necessários dentre os
moradores da agrovila, aumentando o nível de renda local, a dedicação e a qualidade do
ensino.
O templo ecumênico contará com um salão principal para abrigar, sentados, cerca
de um quarto dos moradores. Nos fundos haverá uma sala de estar, um escritório e
duas suites para abrigar padres e pastores que pernoitarão no local. A praça pública
ficará localizada em frente ao templo ecumênico, na mesma quadra e contará com
passeios, bancos e fonte central.
O bar e lanches terá uma grande varanda coberta, um salão fechado, uma cozinha
e banheiros. Além de funcionar em dias e horários específicos, seu esquema
operacional será definido pela administração de cada agrovila. A área destinada ao
estacionamento terá piso acascalhado e marcação de vagas.
O clube social será construído em uma das quadras do núcleo central, ou na faixa
de terras de uso comunitário, ou nas imediações de algum atrativo natural. Contará com
quadras poliesportivas, churrasqueiras, mesas com bancos e piscinas de água corrente,
a menos que os atrativos naturais não as justifiquem. Também contará com uma grande
área coberta para confraternizações, festas e bailes, com capacidade para abrigar todos
os moradores. O bosque terá um coreto em seu centro, com bancos em toda a sua volta
e em diversos pontos dos seus caminhos internos.
O campo de futebol, de tamanho oficial, será construído na faixa de terras de uso
comunitário ou próximo do clube social, quando localizado fora do núcleo central. Ele
será gramado e contará com vestiários com banheiros e sanitários de uso público, além
de arquibancadas em suas laterais, com capacidade para abrigar, sentados, três quartos
dos moradores da agrovila. Em volta do gramado haverá uma pista para corridas e
outras atividades atléticas.
As edificações residenciais
Essa etapa será fundamental para consolidar o trabalho em equipe e para estreitar
os laços de amizade, de companheirismo e de irmandade dos assentados. Para
maximizar esses objetivos, serão necessário alguns cuidados. Como todos estarão
cientes da localização do seu lote residencial, nenhuma casa será ocupada antes que
todas estejam prontas, a menos que algum caso especial, aprovado por todos, justifique
a exceção. Quando a última casa estiver pronta, a ocupação será feita no início de um
dia, com uma grande festa à noite.
Essa grande etapa das construções será dividida em diversas fases e, para iniciar
uma nova, a anterior deverá estar concluída em todas as casas. Se assim não for,
poderá desmotivar seus titulares, gerar reclamações e diminuir o ritmo dos trabalhos. A
cada fase, os grupos serão recompostos, subdivididos e mais especializados.
Considerando que serão construídas casas de três tamanhos diferentes, serão formados
grupos e subgrupos dedicados a cada uma delas. Será conveniente criar esse tipo de
especialização, mesmo considerando que os projetos apresentam uma base comum.
Todas as residências terão uma sala, uma cozinha, uma dispensa, uma lavanderia e
uma varanda nos fundos, exatamente iguais, com a mesma metragem e localização nas
respectivas plantas. Além disso, dois dormitórios e um dos banheiros também serão
iguais em todos elas, o mesmo acontecendo com a varanda frontal das casas com 3 ou
4 dormitórios.
As casas menores terão duas suites, sala, cozinha, despensa, área de serviços,
varanda em toda a frente e em parte dos fundos. As médias terão um uma suíte a mais
e a varanda da frente um pouco maior. As maiores terão o acréscimo de mais uma suíte.
Em qualquer tipo, uma das suítes será utilizada para hospedar turistas e visitantes. Por
isso, contará com duas entradas, uma interna e outra pela varanda frontal. Apesar de
parecerem grandes, essas casas são perfeitamente compatíveis com um modo de vida
digno e com o nível de conforto necessário a qualquer família.
Além disso, as casas rurais requerem salas e cozinhas de maior tamanho que o
padrão urbano. No meio rural, são os lugares mais freqüentados, especialmente, as
cozinhas. O mesmo acontece com as varandas. Elas apresentam baixo custo de
construção, valorizam o imóvel e são imprescindíveis no meio rural. Em função dos
materiais, da mão-de-obra e da estratégia de construção, o custo por metro quadrado
será bastante reduzido em relação ao padrão dessas residências.
Apesar da padronização proposta dificultar a criação de arranjos arquitetônicos, ele
é plenamente justificável: qualquer assentado se sentirá “em casa” ao visitar qualquer
outro morador. Todos esses cuidados contribuirão para minimizar problemas, aumentar
as chances de sucesso e, principalmente, para incrementar os relacionamentos, a
amizade, a igualdade, a justiça, a fraternidade e a irmandade de todos, pois são filhos
do mesmo Pai Celestial que, como um bom pai, quer que seus filhos tenham os mesmos
direitos, deveres e oportunidades.
O mobiliário residencial
Como os projetos das residências, o mobiliário básico também será padronizado e
obedecerá a um projeto válido para todas as agrovilas. As camas, as mesas, as
cadeiras, os armários, as prateleiras, os bancos e outros itens serão fabricados nas
respectivas marcenarias, pelos próprios assentados. A fabricação de todos os móveis
ou parte deles até o término das edificações residenciais, ou em conjunto com as
atividades produtivas, será uma decisão de cada agrovila.
Se a decisão envolver a fabricação após o término das residências, será adotado
um critério impessoal para destinação de cada item ou de um conjunto completo.
Considerando que as atividades da marcenaria não constituem habilidades comuns a
todos os moradores e que um grupo menor estará dedicado a essas atividades, em
detrimento de seus trabalhos nas respectivas glebas, o ideal é definir um critério de
destinação, semelhante ao abaixo.
Depois de calculada a quantidade de horas necessárias para produzir cada item e o
conjunto total, os moradores que trabalharem determinadas horas nas glebas daqueles
que estiverem produzindo os móveis, estarão aptos a receber os itens equivalentes.
Aqueles que não o fizerem, poderão construir seus próprios móveis ou deixar de tê-los.
Essa regra, além de justa, respeitará a liberdade individual e não trará prejuízos aos
demais.
Introdução
Assim que as residências forem concluídas serão iniciados os trabalhos produtivos,
conforme o tipo e vocação operacional de cada agrovila. Esses trabalhos apresentarão
situações distintas em cada uma delas, mesmo entre aquelas do mesmo tipo. Isso
ocorrerá, principalmente, em função da topografia, das características do solo e da
dispersão ou concentração da cobertura vegetal, inclusive, pelo fato de serem povoadas
por pessoas diferentes.
Apesar da padronização ser uma das características do projeto VIDA NOVA NO
CAMPO, haverá necessidade de ações particularizadas em todas as agrovilas. Elas
serão relativas à assistência técnica, à preparação da terra, às sementes e insumos, ao
desenvolvimento das atividades produtivas, às agroindústrias e o eco e agroturismo.
Com isso em mente, vamos analisar três itens relevantes, enfatizando as agrovilas
voltadas para o cultivo da terra, as quais existirão em maior número.
AS AGROINDÚSTRIAS
O ECO E O AGROTURISMO
É sabido que o turismo é um grande gerador de receitas, além de ser uma atividade
agradável e ótima para expansão do círculo de relacionamentos, de amizades e de
negócios. Essa atividade poderá ser explorada em qualquer agrovila, dentro de um
conceito que envolve o ecoturismo, o agroturismo e a laborterapia. Diversos pacotes
poderão ser criados, como a visitação a atrativos naturais, à estrutura da agrovila,
caminhadas, canoagem, rapel, pesque e pague e massagens terapêuticas, incluindo
fogueiras noturnas e música local. Essas pacotes poderão envolver apenas a visitação
de um dia, sem hospedagem e com almoço, ou vivências de vários dias, com
hospedagem e pensão completa.
Mesmo que a agrovila não apresente nenhum atrativo natural, o seu esquema de
funcionamento, a possibilidade de conhecer um novo modo de vida e até de trabalhar
em atividades agrícolas, no conceito de laborterapia, poderá despertar grande interesse
turístico. Tudo é possível com um bom esquema de propaganda institucional.
Por entender que o turismo será uma boa fonte de renda para todas as agrovilas,
definimos que cada residência terá uma suíte destinada a acomodar visitantes e turistas.
Esse esquema é mais interessante e de menor custo que a construção de hospedagens
específicas, as quais constituem um lugar comum na estrutura turística nacional. A
possibilidade de passar uns dias no campo morando com uma família, constitui um
apelo promocional diferenciado e de grande potencial junto à população urbana.
A classe média e os jovens serão sensíveis a esses apelos, elegendo as agrovilas
para passar períodos de férias e fins-de-semana. Para que esse esquema dê
resultados, é necessário, além da propaganda institucional e de um site ou portal
específico na Internet, que cada família se disponha a receber turistas em suas casas,
servir refeições e trata-los de uma maneira a criar vínculos de amizade. O esquema de
reservas e de hospedagem funcionará de maneira semelhante às definições a seguir.
O valor das diárias com hospedagem, café da manhã, almoço e jantar será definido
pela administração de cada agrovila, dentro de um padrão geral que leve em
consideração a maior ou menor oferta de atrativos e de serviços. O site ou portal
abrangerá todas a agrovilas e conterá informações detalhadas de cada uma delas, seus
pacotes, custos e critérios para reservas e hospedagens.
Definido o destino, o turista, ou uma agencia de viagem, contatará a administração
da agrovila e efetuará a reserva para hospedagem em uma residência específica ou
genérica. O turista que já se hospedou em uma residência e deseja a ela retornar será
atendido, independente do esquema de rodízio, significando um tipo de prêmio ao seu
titular. Atender bem e fazer amigos será uma obrigação essencial para permanecer na
lista de hospedagem.
Nos casos de reserva genérica, a administração, dentro de um esquema de rodízio,
aloca os turistas em uma ou mais residências, dentre aquelas que cumpriram as regras
básicas de hospitalidade. Quando ocorrer reclamações, a residência poderá ser excluída
temporária ou definitivamente, conforme o tipo de ocorrência ou em razão de
reincidências. Para evitar esses problemas, todos deverão passar por treinamentos
específicos antes do início do programa turístico.
CONCLUSÕES
O projeto VIDA NOVA NO CAMPO não tem a pretensão de ser uma idéia acabada e
muito menos a única solução para viabilizar a reforma agrária no nosso país. Ele é
apenas uma contribuição para ser desenvolvida e aprimorada pela sociedade e pelos
gestores do programa de assentamentos. Porém, qualquer aprimoramento, a nível geral
ou específico, deverá levar em conta os aspectos sistêmicos desta proposta e a filosofia
básica que a norteia.
Reiterando alguns de seus pontos principais, é fundamental redefinir o conceito de
“sem terras”, centralizar a seleção e o controle dos candidatos nos órgãos
governamentais competentes, definir a vocação da terra, criar um novo esquema de
apoio financeiro e de financiamento das glebas, implantar a infra-estrutura básica das
agrovilas e prestar assistência técnica desde a etapa de transferência dos assentados,
propiciando a eles os meios de fixação com sustentabilidade, dignidade e qualidade de
vida.
É importante frisar que as famílias devem ser assentadas e fixadas com condições
de sustentabilidade e qualidade de vida. Só assim teremos uma verdadeira reforma
agrária e não aquilo que até então o governo está tentando ou procurando fazer, com
alto custo financeiro e social. Além de gerar inúmeros problemas, o atual modelo tem
fomentado a animosidade entre os “sem terras” e os proprietários de terras. Ao invés de
se situarem em pólos opostos, eles deveriam ser bons vizinhos, amigos e parceiros.
O processo de reforma agraria não deverá continuar tendo como objetivo e sendo
avaliado pela quantidade de famílias assentadas em cada ano ou período. Deverá
objetivar e ser avaliado pela quantidade de famílias que continuam assentadas após um,
dois ou mais anos produzindo com sustentabilidade e qualidade de vida. Mais que isso,
o processo de reforma agrária deverá ser um modelo de justiça, de igualdade, de
fraternidade, de paz e de VIDA NOVA NO CAMPO.
Com esses cuidados, nosso país, que muito já produz, poderá ser o celeiro do
mundo e abrigar em seus limites um povo feliz, bem alimentado e sadio, eliminando o
flagelo da fome que ronda os lares de vários milhões de seus filhos, desde aqueles de
tenra idade, que necessitam do todo amparo e proteção, até aqueles que apresentam,
em suas faces, as marcas da experiência de longos anos de lutas e de sofrimentos.
Foi pensando prioritariamente nesses brasileiros e brasileiras mais humildes que
elaboramos esta proposta e todas as demais que fazem parte do Projeto Novo Brasil.
São eles que mais sofrem as conseqüências das ações governamentais, das naturais
reações da iniciativa privada, da instabilidade econômica, da morosidade da justiça, dos
privilégios, das negociações políticas, da deficiência dos sistemas de educação e de
saúde e da falta de segurança, dentre inúmeras outras mazelas que ocorrem no berço
esplêndido do gigante adormecido, que precisa despertar e cumprir o glorioso destino
que o aguarda.
BIOGRAFIA DO AUTOR
J. A. Dal Col nasceu em 23 de Dezembro de 1948 e começou a trabalhar ainda
jovem em várias atividades e empresas. Em 1967, na cidade de São Paulo, ingressou
na antiga Companhia Telefônica Brasileira, onde atuou como escriturário, encarregado,
chefe de seção e analista de sistemas e métodos. Casou-se em 1973 com Solange, com
quem teve três filhos e adotou outros dois.
Em 1978 graduou-se em administração com especialização em análise de
sistemas. De 1974 até 1988, desempenhou diversas funções de direção nas áreas de
sistemas da Manah, Votorantim, Prodam e bancos estrangeiros, como o First Chicago e
BNL. Em fins de 1988 montou sua empresa de consultoria na área de sistemas e, em
setembro de 1992 mudou-se para Alto Paraíso de Goiás, onde montou um
supermercado e adquiriu uma propriedade rural, o Santuário Vale Dourado, uma área
com muitas cachoeiras e outras belezas naturais.
Em 1999, depois de escrever ARRET – O Diário da Viagem e ARRET – O Passado
do Planeta (ambos disponibilizado no Scribd), mudou-se com sua esposa para o Vale
Dourado (www.valedourado.com), onde passaram a viver em estreito contato com a
natureza, obtendo a sustentabilidade através do Ecoturismo. Em 2008 definiram um
projeto de Ecovila sustentável e começaram a compartilhar o local com outras pessoas
interessadas em praticar um novo estilo de convívio social baseado na cooperação e no
respeito à individualidade. A Ecovila está se desenvolvendo e o futuro está entregue nas
mãos do Pai Celestial.