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2004/2005
O direito das obrigações é o conjunto das normas jurídicas reguladoras das relações de
crédito, sendo estas as relações jurídicas em que ao direito subjectivo atribuído a um dos
sujeitos corresponde um dever de prestar especificadamente um imposto a determinada
pessoa.
Capitulo I
Introdução
1) Dever jurídico
Direito subjectivo “strictu sensu”- é o poder de pretender ou exigir de outrem um o
comportamento positivo (acção) ou negativo (abstenção ou omissão). A este contrapõe-
se-lhe o dever jurídico, que é a necessidade imposta pelo direito objectivo a uma
pessoa de observar determinado comportamento. Ao dever jurídico que corresponde o
direito de exigir chama-se obrigação civil e o detentor desse direito pode obter junto
dos tribunais ou autoridades subordinadas a estes, providências coercivas aptas a
satisfazer o seu interesse. O dever jurídico que respeita a um direito de pretender diz-se
obrigação natural; não sendo esta exigível no tribunal, pode contudo o credor
conservar a prestação devida a título de pagamento, isto é o credor possui a “soluti
retentio”, não podendo pois o devedor que tenha cumprido voluntariamente a prestação
gozar da “conditio indebiti” isto é não tem a possibilidade de repetir o indevido.
Consultar 402º (obrigações naturais), 403º (não repetição do indevido), 304º (divida
prescrita) e 1245º (jogos e apostas) e 476º e 817º
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2) Estado de sujeição
Direitos potestativos - São poderes jurídicos de, por um acto de livre vontade, só de per
si ou integrado por uma decisão judicial, produzir efeitos que se impõem
inelutavelmente à contraparte. Corresponde-lhes o estado de sujeição, a situação de
necessidade em que se encontra o adversário de ver produzir forçosamente uma
consequência na sua esfera jurídica por mero efeito do exercício do direito pelo seu
titular. Em certas situações afecta-se, assim, a esfera de outrem sem o consentimento
deste, consentimento que normalmente seria exigido.
Os direitos potestativos, consoante o efeito jurídico que tendem a produzir, podem ser:
3) Ónus jurídico
Necessidade de observância de certo comportamento, não por imposição da lei, mas
como meio de obtenção ou de manutenção do uma vantagem para o próprio onerado.
O ónus jurídico não é assim imposto como um dever, sendo que à sua inobservância não
corresponde uma sanção, nem visa satisfazer o interesse de outrem sendo estabelecido,
pelo contrário, no interesse exclusivo do próprio onerado. O ónus é sim um meio de
alcançar uma vantagem ou, pelo menos, de se evitar uma desvantagem.
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1) Os sujeitos
2) O objecto
3) O vinculo jurídico
“Só o credor tem direito à prestação, e esta só do devedor pode ser exigida.”
A obrigação tem, assim, carácter relativo, porque vincula apenas determinadas
pessoas, ao passo que os direitos reais e os direitos de personalidade, como direitos
absolutos que são, valem em relação a círculo indeterminado de pessoas. No entanto
a pessoa do credor pode não ser determinada, mas somente determinável) no
momento em que a obrigação se constitui (art. 511º), como se sucede nas
promessas publicas (arts. 459º e segs.), nos contratos para pessoa a nomear
(arts. 452º segs.), nos títulos ao portador, e em certo sentido na herança a deixar a
nascituro
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1. Prestações de facto ou de coisa
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Diferenças de regime:
Nos contratos de execução continuada ou periódica, a resolução do contrato,
embora gozando de eficácia retroactiva, não abrange, em principio, as prestações
já efectuadas (art. 434º nº2 e 277º) ela opera somente quanto as futuras prestações
ou quanto à duração futura da prestação em curso, não porque seja materialmente
impossível dar-lhe eficácia retroactiva, mas porque as prestações continuadas ou
periódicas se encontram idealmente adstritas as diversas fracções de tempo em que é
possível dividir a sua duração, gozando assim as prestações já efectuadas e as que
devem ser realizas do futuro de certa independência entre si. Tratando-se de uma
prestação fraccionada a resolução atinge, em principio, todas as parcelas da
prestação, incluído as já efectuadas. A falta de cumprimento de uma das
prestações fraccionadas provoca, em regra, o vencimento imediato das restantes
(781º e 934º), o que não se verifica nas obrigações duradouras, deste modo a falta
do pagamento das rendas do mês de Janeiro pode dar ao senhorio o direito a uma
indemnização nos termos do artigo 1041º no entanto não da direito de exigir o
pagamento imediato das rendas correspondentes aos meses futuros.
Nota:
1)Ver artigo 434º acerca dos efeitos da retroactividade da resolução do contrato.
2)O contrato de empreitada apesar de ser um contrato de execução prolongada, a
prestação não é duradoura, não se aplicado pois o disposto no artigo 434º nº2.
a) Prestação fungível é aquela que pode ser realizada por pessoa diferente do
devedor, sem prejuízo do interesse do credor (caiar um muro, pintar uma casa,
pagar uma quantia, lavrar um terreno). Na prestação de coisa, quer seja fungível
ou não, a prestação é em princípio fungível na medida em que o interesse do
credor não será lesado pela substituição do devedor.
b) Prestação não fungível é aquela em que o devedor não pode ser substituído no
cumprimento por terceiro (realizar uma operação cirúrgica, reger um curso
especializado, pintar um quadro a óleo, fazer o projecto de um grande obra). São
obrigações em que ao credor não interessa apenas o objecto da obrigação mas
também a habilidade, o saber, a destreza, a força, o bom nome ou outras
qualidades pessoas do devedor.
Diferenças de regime:
Tendo a prestação por objecto um facto fungível, o credor pode requerer, no
processo de execução, que o facto seja prestado por outrem à custa do devedor (art.
828), nesse caso a execução seguira os termos prescritos nos artigos 933º e seguintes
do CPC. Sendo o facto não fungível o credor apenas pode exigir o cumprimento do
devedor (817º) e na hipótese do incumprimento terá de contentar-se com a
indemnização resultante do não cumprimento (restituição por equivalente) e a
garantia de eventual sanção pecuniária compulsória (que apenas se aplica as
prestações de facto não fungíveis, na medida em que como o devedor não pode ser
substituído, sem prejuízo para o credor, na realização das prestações dessa natureza
por terceiro, a lei não encontra outra solução senão impor ao obrigado uma espécie
de multa civil por cada dia que ele tarde a comprimir ou por cada vez que ele falte
ao cumprimento).
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4. Determinada e indeterminada
a) Prestação determinada é por exemplo aquela em que a A vende o seu automóvel
a B.
b) Prestação determinada é por exemplo aquela em que A, livreiro, vende a B um
exemplar da última edição de um romance.
5. Divisível e Indivisível
c) Prestação divisível é por exemplo aquela em que a obriga-se a entregar a B 100
exemplares de uma certa edição do código civil.
a) Prestação indivisível é por exemplo aquela em que A vende a B um exemplar da
cavalo.
3) O vínculo jurídico
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jurisdicidade do poder conferido ao credor manifesta-se principalmente e com
maior aparato no direito de agressão do património do devedor, mas esta verifica-
se igualmente nas seguintes soluções cominadas pela lei; a) A mora transfere para o
devedor o risco de perecimento ou deterioração da coisa, mesmo que estes factos lhe
não sejam imputáveis (art. 807º 1); b) A obrigação pecuniária passa a vencer juros,
a contar do dia da constituição em mora, ainda que anteriormente os não vence-se
(806º); c) O devedor em mora passa a responder por todos os danos que a falta de
cumprimento cause ao credor (804º); d) Ao devedor em mora recusa a lei o direito
de obter a resolução ou modificação do contrato por alteração das circunstâncias
vigentes à data da conclusão (438º). Alem disso se o credor estiver por seu turno
obrigado para com o devedor, ele pode, sob determinados pressupostos dos artigos
847º e seguintes, compensar o seu credito com a divida contraria, obtendo assim,
pelo simples exercício da vontade própria, mediante a libertação do vinculo que
onerava o seu património, a realização pratica do direito que tem à prestação. Se as
duas obrigações recíprocas tiver nascido do mesmo contrato bilateral e forem o
correspectivo uma da outra, qualquer um dos credor pode compelir o outro
contraente a cumprir, recusando a entrega da sua prestação enquanto este não
o fizer (excepção de não cumprimento do 428º). E poderá eventualmente em
certos termos ameaça-lo com a perda definitiva do crédito que compete a esse
contraente, mediante a resolução do contrato (808º,1; 801º,2 e 432º e seguintes).
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da proibição legal da auto-defesa do artigo 1º do Código de Processo Civil, abre-
se ao lesado o recurso à acção dos tribunais. O elemento que mais carácter de
jurisdicidade imprime ao vínculo entre o credor e devedor é precisamente o da
acção creditória, através da qual se exercita a pretensão do credor. A acção
creditória é o poder de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação,
quando o devedor não cumpra voluntariamente, e de executar o património deste
(817º). O fim da execução consiste em proporcionar ao credor a realização do
interesse que a prestação visava facultar-lhe ou uma satisfação tão próxima
quanto possível desse interesse (indemnização do prejuízo que lhe causa o não
cumprimento).
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1. Os direitos reais são absolutos, isto é valem “erga omnes”, enquanto os
direitos de crédito são relativos (inter partes) apenas vinculam pessoas
certas e determinadas (ou determináveis) que são os sujeitos da relação;
valem pois em principio apenas a favor do credor contra o devedor. No entanto a
relatividade do direito de crédito não obsta a que: a) a lei considere
excepcionalmente oponíveis a terceiros algumas situações que, na sua
essência, são autênticas relações obrigacionais; b) a relação de crédito, na
sua titularidade, constitua um valor absoluto, como tal oponível a terceiros.
Tal se sucede com a relação locatícia, que embora sendo de natureza
intrinsecamente obrigacional ou creditória, não deixa se ser oponível pelo
locatário ao terceiro adquirente do direito (normalmente de propriedade) com
base no qual o contrato foi celebrando. Deste modo se A, dono de certo imóvel,
o arrendar a B e, em seguida, o vender a C, o locatário B, poderá opor o seu
direito relativo a C apesar de com ele não ter contratado.
2. Os direitos reais gozam do direito de preferência (ou prevalência), que
consiste no facto de o direito real sacrificar toda a situação jurídica
posteriormente constituída sobre a mesma coisa, sem concurso de vontade do
título daquele, na medida em que uma e outra sejam incompatíveis entre si.
3. Os direitos reais gozam de sequela, que se traduz na faculdade conferida ao
titular de fazer valer o seu direito sobre a coisa onde quer que ela se
encontre, de resto esta resulta da inerência isto é “ ligação íntima entre o direito
e a coisa”.
4. O direito real é um poder directo e imediato sobre a coisa, prescindido da
colaboração de outrem para obter as utilidades que esta visa proporcionar-lhe
(não obstante de por vezes o exercício do direito tornar necessário o recurso aos
tribunais, como sucede em regra nos direitos reais de garantia. A obrigação, pelo
contrario, consiste num direito à prestação, só realizável através do
intermediário, que é o devedor.
5. O direito real encontra-se subordinado ao princípio da tipicidade ou numerus
clausus, isto é a lei só admite os direitos reais criados por via legal com o
conteúdo que esta lhes imprime, não sendo como tal possível atribuir eficácia
real ao contrato-promessa ou ao pacto de preferência que versem sobre coisa
móvel não sujeita a registo. Por outro lado para as obrigações vigora a regra da
atipicidade ou numerus apertus, sendo que deste de que a prestação estipulada
corresponda a um interesse do credor digno de protecção legal (398º nº2),
nenhuma restrição se cria, em principio, à constituição de qualquer obrigação,
podendo como tal as partes fixar livremente o conteúdo positivo ou negativo da
prestação.
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1. Obrigações oponíveis a terceiros (locação). A lei pode, efectivamente, para
satisfazer determinados interesses relevantes, impor ou permitir a oponibilidade
a terceiros de relações que são, na sua estrutura, de carácter obrigacional, por
assentarem fundamentalmente num dever de prestar e num correlativo direito à
prestação.
a) Assim se sucede com a relação locatícia que, sendo embora uma relação
de natureza intrinsecamente obrigacional ou creditória (1031º, 1032º e
1034º), não deixa de ser oponível (elo locatário) ao terceiro adquirente
do direito (normalmente de propriedade) com base no qual o contrato foi
celebrado (1057º). Se A, dono de certo imóvel, o arrendar a B e, em
seguida, o vender a C, o locatário B poderá opor o seu direito (relativo) a
C, apesar de com ele não ter contratado.
b) Fenómeno similar ocorre com a promessa de onerarão de bem móvel
ou imóvel que goze de eficácia real. A promete, por hipóteses, vender
certo prédio a B, atribuindo os contraentes eficácia real à promessa, nos
termos do artigo 413º. E imaginemos, que apesar disso, A vende ou doa
mais tarde o mesmo imóvel a C ou hipoteca a favor do credor D. B
continuará, nesse caso, a poder exigir de A a realização do contrato
prometido, logo que tenha realizado ou que se mostre em condições de
efectuar a sua contra-prestação. E, conquanto o seu direito de B, contra A
seja, na sua raiz ou estrutura, de carácter obrigacional, ele é oponível a C
e a D (ou quaisquer outros posteriores adquirentes da coisa), porque os
efeitos da aquisição da coisa pelo credor (mesmo que ela resulte da
execução especifica prevista e regulada no art. 830º) retroagem à data do
registo da promessa.
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CAPITULO II
Os Princípios fundamentais do Direito das Obrigações
1. Autonomia Privada
2. Boa fé
3. Tutela do sujeito mais débil
4. Proporcionalidade
5. Responsabilidade Patrimonial
6. Heteroresponsabilidade
7. Auto-Responsabilidade
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I.
A liberdade de contratar e seus limites
1. Dever de contratar
Há diversos casos em que as pessoas singulares ou colectivas, têm o dever jurídico
de contratar, logo que se verifiquem determinados pressupostos, sendo que se a
pessoa que se recusa a contratar pratica um acto ilícito, que pode constituí-la em
responsabilidade perante a que deseja realizar o contrato. Havendo inclusive casos
em que a esta pessoa se permite obter a execução coerciva do contrato.
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um doente ou sinistrado em perigo imediato”, e que são igualmente
obrigados a prestar os serviços da sua especialidade, sempre que não haja
outro medico a quem o doente possa facilmente recorrer. Imposição
semelhante, embora de aplicação menos intensiva, recai sobre os advogados
e solicitadores.
4. Venda de bens essenciais à vida das pessoas? Coloca-se por vezes a
questão de saber se por exemplo quanto aos estabelecimentos fornecedores
de bens destinados a satisfazer necessidades vitais do cliente se não haverá
uma obrigação de contratar. E quanto a uma empresa proprietária da única
sala de espectáculos ou o único restaurante existente na localidade; terá ela
liberdade de recusar a entrada a qualquer pessoa, cuja presença lhe não
agrade? O problema tem sido bastante discutido na doutrina, havendo quem
imponha restrições com diversos fundamentos. No entanto tais limitações,
funcionando como excepções ao princípio da liberdade de contratar
consagrado no artigo 405º, só deviam ter-se como validas quando a lei
explícita ou implicitamente as estabelece-se, sem a violação dos princípios
constitucionais. No entanto o artigo 13º da CRP parece condenar elo seu
espírito toda a recusa de contratar que envolva carácter discriminatório, em
termos que ofendam o preceito constitucional. E à sobretudo na Lei da
defesa da concorrência (DL nº 422/83, de 3/12), varias disposições que não
só proíbem como punem certas praticas restritivas da livre concorrência,
entre as quais o legislador expressamente inclui “a recusa de venda de bens
ou de prestação de serviços”, ainda “que se trate de bens ou de serviços não
essenciais” (art. 3 e 11 do DL nº 422/83, de 3/12), abrangendo assim por
maioria de razão os bens e serviços essenciais.
Há ainda casos em que, sem prejuízo da liberdade inicial dos contraentes, a lei
impõe a um deles a renovação do contrato ou a transmissão para terceiro da posição
contratual da outra parte. Tal se sucede no contrato de locação, em cujo regime os
artigos 68º, nº2 e 69º nº1 do R.A.U. sujeitam o senhorio à renovação do
arrendamento, desde que o arrendatário o não denuncie, pendendo faze-lo, e o artigo
1057º, impõem ao adquirente da coisa locada, ao abrigo do principio emptio non
tollit locatum a manutenção do contrato de locação, se essa for a vontade do
locatário. A transmissão da posição do arrendatário pode realizar-se,
independentemente do consentimento do senhorio, nos seguintes casos: a) quando,
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no caso de divórcio ou de separação judicial de pessoas e bens, os cônjuges acordem
transferir o arrendamento destinado a habitação para o cônjuge do arrendatário, ou o
tribunal decida, na falta de acordo (84º RAU); b) quando, por morte do arrendatário,
o arrendamento para habitação se transfira para o cônjuge dele ou ara qualquer dos
seus parentes ou afins, nos termos do artigo 85º do RAU; c) quando o arrendamento
comercial ou industrial se transmita por morte do arrendatário ou por trespasse do
estabelecimento 112º e 115º do RAU; d) quando o arrendamento para o exercício de
profissão liberal se transmita por morte do arrendatário ou por cessão da posição
deste (121 e 122º RAU).
II.
A liberdade de escolha do outro contraente e seus limites
1. Auto-limitações resultantes da vontade das partes (e por isso em bom rigor não
constituem restrições à liberdade contratar) que são essencialmente constituídas
pelos chamados pactos de preferência, mediante os quais um dos contraentes (o
obrigado à preferência) se compromete a escolher outro (em condições de
igualdade) como sua contraparte, na hipótese de se ter decidido a realizar
determinado contrato. Estes têm apenas eficácia relativa ou obrigacional.
2. Limitações provenientes directamente da lei. Destas destacam-se as resultantes
dos chamados direitos legais de preferência e as impostas pelas normas que
reservam para certas categorias profissionais (os advogados, os correctores de
bolsa, etc.) a realização de determinados tipos de prestação de serviços.
Os direitos legais de preferência, em que o nosso sistema jurídico é
relativamente pródigo, têm uma eficácia limitativa da liberdade contratual ainda
mais forte do que o resultante dos pactos de preferência, enquanto os primeiros
têm apenas eficácia relativa ou obrigacional, os direitos legais de preferência
gozam sistematicamente de eficácia real, como melhor convém à natureza dos
fins que determinam a sua instituição.
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III.
A livre fixação do conteúdo dos contratos e seus limites
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b) Em segundo lugar, cumpre mencionar os contratos-normativos e os contratos-
colectivos, cujo conteúdo fixado em termos genéricos, se impõe, em
determinadas circunstâncias, como um padrão a que os contraentes são
obrigados a observar nos seus contratos individuais de natureza
correspondente. Constituem exemplos típicos desta figura de standartização
negocial as convenções colectivas de trabalho (os acordos colectivos de
trabalho e os contratos colectivos de trabalho). Trata-se de uma espécie de
contratos preliminares ou preparatórios, dentro do qual se podem distinguir duas
variantes.
Se o contrato-modelo ou padrão se destina a servir de paradigma dos
contratos individuais que os outorgantes venham, de futuro, a celebrar
entre si, chama-se-lhe usualmente contrato-tipo.
Se pelo contrario, o clausulado genérico do contrato, firmado em regra
por entidades representativas de certas categorias económicas ou grupos
sindicalizados, se destina a servidor de modelo (obrigatório) a contratos
individuais realizados entre pessoas que não participaram na elaboração
do modelo, chama-se-lhe preferentemente contrato-normativo.
IV.
Outras limitações ao principio da liberdade contratual
V.
Contratos de adesão, como limitação de facto à liberdade contratual
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Na sua formação teórica tradicional, o contrato é normalmente precedido de uma livre
discussão entre os pactuantes sobre o teor de cada cláusula. Pressuposto do debate
prévio entre os contraentes é a igualdade jurídica das partes, uma das premissas em que
o liberalismo individualista assentava a força soberana do contrato. Porem nos
contratos de adesão, isto é aqueles em que um dos contraentes, não tem a menor
participação na preparação e redacção das respectivas clausulas, se limita a aceitar
o texto que o outro contraente oferece, em massa, ao publico interessado, estes na
pratica apenas são livres de aderir ao modelo, padrão ou clausula que lhes é oferecida,
ou de a rejeitar, mas não de discutirem ou alterarem o conteúdo da proposta. Não
havendo pois aqui, a livre discussão entre as duas partes, que salutarmente costumava
preceder a fixação do conteúdo do contrato.
Note-se, porem que a limitação à liberdade contratual existe apenas no domínio dos
factos, visto que no plano da lei, nada há que impeça os particulares e as empresas
seguradoras ou de fornecimento de agua, energia ou em certas operações
bancárias, de fixarem livremente as clausulas do contrato ou de se afastarem dos
modelos de negociação usualmente seguidos.
I.
A responsabilidade civil pré-contratual como manifestação do
principio da Boa Fé
Esta encontra-se prevista sobretudo no artigo 227º que decreta “quem negoceia com
outrem para a conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação
dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que
culposamente causar à outra parte” resultando pois a ideia de que o simples início das
negociações cria entre as partes deveres de lealdade, de informação e de esclarecimento,
dignos da tutela do direito bem como:
A consagração em Portugal da tese da responsabilidade pré-contratual pelos
danos causados culposamente à contra parte tanto no período das negociações
como no momento decisivo da conclusão do contrato.
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À responsabilidade pré-contratual (culpa em contrahendo) deve aplicar-se o
regime do artigo 799º quanto à presunção da culpa
Responsabilidade essa no entanto que não se circunscreve, como se sucedia na
tradicional teoria da “culpa in contrahendo”, à cobertura dos danos
culposamente causados à contra parte pela invalidade do negócio. A
responsabilidade pré-contratual, com a amplitude que lhe dá a redacção do
artigo 227º, abrange os danos provenientes da violação de todos os deveres
(secundários) de informação, de esclarecimento e de lealdade em que se
desdobra o amplo espectro negocial da boa fé.
Alem de indicar o critério pelo qual se deve pautar a conduta de ambas as
partes (a boa fe) , a lei portuguesa aponta concretamente a sanção aplicável
à parte que sob qualquer forma, se afasta da conduta exigível: a reparação
dos danos causados à contraparte.
A lei não se limita a proteger a parte contra o malogro da expectativa de
conclusão de negocio, cobrindo-a de igual modo contra outros danos que ela
sofra.
Quanto à indemnização:
II.
O Abuso do direito enquanto manifestação do principio da
Boa Fé
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O Abuso de direito regulado pelo artigo 334º e 762º nº2 é uma das maiores
manifestações do princípio da boa fé, sobretudo nas suas formas de “venire contra
factum próprium”. O abuso do direito consiste sobretudo em 6 (seis) modalidades:
O abuso do direito consiste sobretudo nas seguintes modalidades:
1. A falta de um interesse protegido que justifique o exercício do direito (ex.
exercício do direito de preferência, previsto no art. 1380º, nº1, por parte de um
proprietário de um terreno confinante, apto para cultura mas em estado de
abandono, em que claramente é contrariada a função económica e social do
direito potestativo, destinada a melhorar a estrutura agrária (tanto mais quando a
lei prevê medidas contra os proprietários de meios de produção em abandono).
2. O “venire contra factum próprium”, consiste na proibição de um
comportamento num sentido diferente da confiança suscitada na parte
envolvida, sob pena de afectar as expectativas legítimas da outra parte (ex. é
o caso de um inquilino que paga a nova renda sem que o aumento tivesse sido
feito na forma legalmente prevista). Aqui pode chegar-se a um situação de
confiança, em que a outra parte, faz fé, que impede o titular, devido à
estabilidade conduta durante certo prazo, de se fazer valer do seu direito.
3. A perda do direito (neutralização do direito), consiste na situação em que o
titular do direito não invoca o mesmo durante bastante tempo, sem que se tenha
preenchido o prazo para a prescrição, e observa simultaneamente um
comportamento através do qual o dever podia legitimamente concluir que o
direito já não seria exercido.
4. Exigência injustificada. Esta situação da-se quando um titular invoca o direito
a uma prestação apesar de uma obrigação sua de devolver imediatamente esta
mesma prestação (ex. do 764º).
5. Um comportamento desleal que resulta do aproveitamento de uma posição
jurídica, ela própria adquirida por dolo ou abuso do direito, de dai provir
um prejuízo que de outra maneira não se teria verificado. Pode servir de
exemplo a invocação da prescrição, por parte de quem tiver obstado, com a sua
conduta anterior e enganadora, a que o titular do direito intentasse a tempo a
acção indicada, para evitar o decurso do prazo.
6. A inobservância dos princípios gerais do cumprimento das obrigações
(762º,2).
A sua projecção maior verifica-se nos contratos de consumo, mas também ao regime de
contratos de financiamento e de outros contratos mais sensíveis (mutuo, trabalho,
arrendamento).
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c) A redução ou aumento do preço de coisas sujeitas a contagem, pesagem ou
medição, no caso de divergência, alem de certo limite, entre a realidade e a
declaração das partes 888º2
d) Direito à redução do peço no caso da venda de coisas defeituosas (913º) ou da
venda de bens onerados, nas circunstancias previstas no artigo 911º.
e) As regras supletivas de repartição de lucros e perdas no contrato de sociedade
(992º a 994º)
f) A possibilidade de redução da renda ou aluguer estipulados, nos casos em que o
locatário sofra privação ou diminuição do gozo da coisa locada (1040º)
g) A actualização de rendas, nos arrendamentos urbanos.
h) O direito ao aumento do preço, por parte do empreiteiro no caso de alteração ao
plano convencionado exigido pelo dono da obra (1216º).
i) O direito de resolução ou modificação do contrato por alteração normal das
circunstâncias em que as partes fundaram a decisão do contratar (437º).
5. Responsabilidade patrimonial
6. Heteroresponsabilidade
7. Auto-Responsabilidade
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CAPITULO III
Factos constitutivos de obrigações
OS CONTRATOS
Noção de contrato: A primeira fonte de obrigações sendo que diz-se “contrato o acordo
vinculativo, assente sobre duas ou mais declarações de vontade (oferta ou proposta
de um lado; aceitação, do outro), contrapostas mas perfeitamente harmonizáveis
entre si, que visam estabelecer uma composição unitária de interesses”.
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Nestes casos como não estamos perante deveres de prestações principais (pagamento do
preço/entrega do bem ou secundários transporte do bem vendido, entrega do vaucher do
alojamento de ferias) parece certo que o contraente terá direito a ser indemnizado,
embora não se possa recorrer em regra à acção de cumprimento. Mas em contrapartida
terá direito à resolução dos “ contratos de que decorre uma relação particularmente
estreita de confiança mutua e de leal colaboração” se houver um “comportamento que
afecte gravemente essa relação”, mesmo que o dever de lealdade e fidelidade não seja
considerado o dever principal. Sendo deveres que não estão condicionados pela
validade do contrato (por exemplo acidente sofrido por comprador de bem alheio na loja
do vendedor), estendendo-se esta desde a fase pré-contratual ate ao período pós-
contratual.
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contrato típico. Todo o contrato nominado possui, efectivamente uma função
económico-social própria, que se reflecte numa estrutura jurídica, privativa, a que a
doutrina italiana da o nome sugestivo de causa. A causa (hoc sensu) da compra e
venda, por exemplo é a transmissão de um direito mediante um preço, tal como a da
locação esta a concessão do gozo temporário de uma coisa mediante retribuição e a
da empreitada reside na realização de certa obra a troco de um preço. Desta forma
sempre que na convenção celebrada entre as partes se instale um dos esquemas ou
modelos previstos na lei e as clausulas acrescentadas não destruam o núcleo
essencial do seu acordo, nem lhe aditem qualquer outro dos esquemas
legalmente autonomizados, o contrato continuara a pertencer ao tipo
correspondente a esse esquema. Quando assim não se suceda a convenção das
partes pertencerá já aos contratos atípicos/inominados ou a contratos mistos.
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5. O turista aluga inscreve-se num cruzeiro pelo Mediterrâneo, obrigando-se a
empresa organizadora a dar-lhe transporte, alojamento em cabine e
alimentação. Neste contrato associam-se os elementos da locação (1022º),
com elementos do contrato de transporte, de compra e venda (874º), de
prestação de serviços (1154º), etc.
Verdadeiro exemplo de contrato misto constituía o contrato de leasing, que numa das
suas modalidades mais frequentes, envolvia uma associação curiosa de prestações do
contrato de locação (1022º) com prestações da compra e venda (874º) ou do
compromisso de compra e venda (410º). Contudo a partir de 1979 (DL nº 135/79, de
18/5; DL nº171/79, de 6/6; DL nº11/84, de 7/1 e DL nº1 103/86 de 19/05) e sobretudo
do DL nº 149º/95 de 24 de Junho o leasing, numa das suas variantes negociais tornou-se
num contrato nominado, sob o nomen iuris de contrato de locação financeira.
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Quanto ao regime destas espécies híbridas dos contratos surgiram três concepções
diferentes:
Solução adoptada
1. Antunes Varela não adopta nenhuma das teorias em particular, sendo que
para este o primeiro passo a dar na resolução de qualquer problema de regime
suscitado por um contrato misto, consiste em saber se na lei há qualquer
disposição que especialmente se lhe refira. Deste modo há diversos problemas
de regime resolvidos directamente na lei nomeadamente:
Quanto ao arrendamento de prédios com parte rústica e parte urbana
manda o artigo 2º, 1 do RAU para só considerar o arrendamento como
urbano se a parte urbana for de maior valor, optando desta forma o RAU pela
“Teoria da absorção ou da prevalência”.
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Já para a locação com vários fins o artigo 1028º manda, em principio,
aplicar a cada um dos fins (habitação, exercício de certo ramo de comercio
ou da industria), o regime legal que lhe compete, consagrando pois como
regime regra na área da locação com pluralidade de fins a “teoria da
combinação” .
No entanto no número 3 do 1028º é consagrada uma excepção nos casos em
que haja notaria subordinação de um dos fins a outro da locação deve
pois aplicar-se o regime correspondente ao fim principal, adoptando
assim a teoria da absorção.
2. Mas a lei não resolve definitivamente o problema, visto que não contem
disposições especiais que definam o regime a aplicar a todos os contratos mistos.
Deste modo para as numerosas situações que não haja disposições especiais
quanto ao regime a aplicar Antunes Varela defende a aplicação das diversas
teorias consoante as modalidades do contrato misto, assim:
Nos contratos combinados ou geminados e nos contratos de tipo duplo,
em que há uma simples justaposição ou contraposição de elementos
pertencentes a contratos distintos, em principio deve aplicar-se a cada um
dos elementos integrantes da espécie, a disciplina que lhe corresponde dentro
do respectivo contrato (típico), isto é adopta a aplicação da “teoria da
combinação”. È este o critério geral enunciado pelo artigo 1028º,
propósito da locação com vários fins, e que deve como regra considerar-
se extensivo aos contratos mistos em geral. Exemplos: Assim, se A se
obriga a prestar a sua actividade, sob a autoridade e direcção de B, e este lhe
cede em troca o gozo temporário de certo imóvel, deve aplicar-se à primeira
prestação o regime do contrato de trabalho (porque nenhuma razão existe ara
subtrair à disciplina jurídica da relação laboral), e à segunda o da locação. Se
o expedidor da mercadoria incumbiu o transportador de cobrar o preço da
mercadoria, no acto da entrega, nada obstara, em principio, a que ele
revogue essa incumbência especial, nos precisos termos em que o mandante
pode revogar unilateralmente o mandato. E a revogação não invalidara a
parte restante do contrato, relativa à prestação do transporte.
Já nos contratos cumulativos ou mistos em sentido estrito, em que não há
lugar a uma justaposição ou contraposição dos diversos elementos
contratuais, mas sim um verdadeiro nexo de subordinação, em que o que as
partes quiseram, fundamentalmente, foi celebrar determinado contrato típico,
ao qual juntaram, como clausula puramente acessória ou secundaria, um ou
vários elementos próprios de uma outra espécie contratual. A estes deve
aplicar-se a teoria da absorção, tendo como base o nº3 do artigo 1028º, que
também deve ser generalizado ao comum dos negócios mistos. Sendo pois
que o regime aplicável deve ser o do fim . Deste modo: 1) se o vendedor de
um certo artigo se obriga a guarda-lo como depositário, ate ao retorno do
cliente, ou a envia-lo pelos correios, para a sua residência noutra localidade;
2) ou na situação de um arrendamento de um prédio urbano, para por
exemplo nele funcionar um hospital, uma casa de saúde, um colégio, etc.,
engloba, ou pode englobar em si, como fins subordinados, não autónomos, a
habitação dos enfermeiros ou dos professores; 3) ou por fim na situação de
arrendamento de um prédio urbano para uma exploração industrial, com uma
cláusula de que nele podem habitar trabalhadores. Há em todos estes
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exemplos uma nítida prestação principal ao lado de uma prestação
acessória.
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existem dois ou mais contratos (típicos ou atípicos), substancialmente
correlacionados entre si, ou se há pelo contrario, um só contrato atípico, de
diversas prestações. A questão pode ter interesse prático na aplicação quer do artigo
292º (que consagra o principio da redução nos casos de nulidade parcial do
negocio), quer do artigo 232º, que só considera o contrato concluído quando houver
acordo das partes sobre todas as cláusulas que o integram. Para que as diversas
prestações a cargo de uma das artes façam parte de um só e mesmo contrato, e não de
dois ou mais contratos, é necessário que elas integrem um processo unitário e autónomo
de composição de interesses. Como critérios auxiliares no entanto não decisivos, para a
resolução do problema avultam naturalmente dois: um, tirado da unidade ou
pluralidade da contraprestação; outro, assente na unidade ou pluralidade do
esquema económico subjacente à contratação. Deste modo se as diversas
prestações a cargo de uma das partes corresponder uma prestação única (una ou
indivisível) da outra parte, será naturalmente de presumir, ate prova em contrário,
que elas quiseram realizar um só contrato (embora possivelmente de carácter
misto). E o mesmo se diga, quando na base das prestações prometidas por uma a
outra das partes haja um esquema ou acerto económico unitário, de tal modo que a
parte obrigada a realizar varias prestações as não queira negociar separada ou
isoladamente, mas apenas em conjunto. È o caso da viagem de cruzeiro (contrato
misto).
O contrato-promessa
(410º)
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por exemplo, alem das regras comuns aos contratos em geral (capacidade, vícios
(venda de bens alheios, ou redução do preço), resolução, excepção do não
cumprimento), as normas especificas do contrato de compra e venda quanto à
capacidade dos contraentes, quanto as proibições de aquisição, quanto à interpretação e
integração do negocio, quanto à disponibilidade de direitos.
No entanto há duas excepções ao princípio da equiparação:
A primeira excepção diz respeito à forma do contrato, sendo que a solução
aplicável ao contrato de compra e venda traduz-se nos seguintes preceitos: a)Se,
para o contrato prometido a lei exigir documento (seja ele autentico ou particular),
como se sucede para a venda doação de coisas imóveis, o respectivo contrato-
promessa só é valido se constar de documento escrito, assinado pelos promitentes,
ou pelo promitente obrigado, consoante a promessa seja bilateral ou unilateral
(410º 2); b) Tratando-se de contrato-promessa relativo à celebração de contrato
oneroso de transmissão ou constituição de direito real sobre edifício já construído,
em vias de construção ou que deva vir a ser construído, o documento escrito
necessita de ter reconhecimento presencial das assinaturas dos outorgantes bem
como certificação notarial da existência de licença de utilização ou de construção;
c) Se o contrato prometido estiver subordinado a qualquer outra formalidade, que
não seja a redução a documento, vale para a respectiva promessa a regra geral da
liberdade de forma.
Importante: Quanto à validade de uma promessa bilateral, assinada unicamente por
um dos promitentes, a jurisprudência tem optado pela declaração de nulidade do
negócio, embora admitindo em certos termos a validade como promessa unilateral. No
entanto a posição adoptada parte do artigo 292º e da presunção de que a vontade
hipotética é no sentido da divisibilidade, pertencendo ao promitente não
interessado na validade parcial a alegação e prova de factos ilisivos da presunção
(nos termos do 292º). Quanto à sanção esta é a nulidade atípica, que não pode ser
invocada por terceiros e impedindo que o tribunal conheça oficiosamente das
omissões formais, tese defendida por Brandão Proença, Antunes Varela, Almeida
Costa, Ribeiro Faria e Calvao da Silva.
A segunda excepção ao princípio da equiparação refere-se especialmente aos
efeitos do contrato promessa. O contrato-promessa, criando para o promitente uma
obrigação de contratar, cujo o objecto é a prestação de facto, goza apenas, em
principio, de eficácia meramente obrigacional, restrita por conseguinte às partes
contraentes, ao invés do contrato prometido, quando se trate de contrato de
alienação ou oneração de coisa determinada, que goza de eficácia real.
Pacto de preferência
(414º)
Este distingue-se do contrato-promessa, na medida em que a pessoa não se obriga a
contratar, como sucede no contrato-promessa, mas apenas a escolher em certos termos
um outra como contraente, no caso de se decidir a contratar. Sendo aplicável por força
do 415º o regime do 410º nº2 (relativo à forma dos contratos-promessa unilaterais). As
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consequências da violação do pacto de preferência: indemnização e acção de
preferência.
Violação da preferência (acção de indemnização ou de preferência)
Admitamos, porém que o obrigado à preferência (A), como muitas vezes sucede na
pratica, aliena a coisa a terceiro (C), sem notificar o preferente (B). Nesse caso, o direito
de preferência só através da acção de preferência prevalecerá sobre o negocio já
efectuado (art. 1410º). Mas para tal necessita o direito invocado pelo autor de gozar de
eficácia real; se o direito de preferência tiver mera eficácia obrigacional, terá o titular
(A) de contentar-se com a indemnização, por parte de B, dos danos causados ela
violação do pacto. Acção de preferência deve ser interposta contra A (alienante) e C
(adquirente) isto é hà litisconsorcio necessário passivo.
O pacto de opção
A opção é um acordo mediante o qual as partes estabelecem que uma delas fica
vinculada à sua declaração contratual, tendo a outra a possibilidade de constituir a
relação contratual (por ex. vir a optar na compra).
Regime
Conforme resulta do 927º, o que caracteriza a venda a retro é ser atribuída ao vendedor
uma posição jurídica especifica que lhe permite resolver o contrato e recuperar o bem.
Contudo há limites à estipulação do prazo tal como resulta do artigo 929º, começando
esse prazo a contar do momento da transferência da propriedade. A resolução deve ser
feita por notificação judicial ao comprador dentro dos prazos fixados no 929º e se
respeitar a bens imóveis a resolução será reduzida a escritura publica nos 15 dias
imediatos, com ou sem a intervenção do comprador, sob pena de caducidade do direito”
tal resulta do artigo 930º. Efectuada a resolução a propriedade retorna à esfera do
vendedor, no entanto esta processa-se sem eficácia retroactiva é apenas adquirida ex
nunc.
A cláusula a retro só é oponível a terceiro nos casos bens sujeitos a registo e este tenha
sido realizado 932º.
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estabelecer a sua oponibilidade à massa falida. A reserva de propriedade pode ser
celebrada em relação a quaisquer bens móveis ou imóveis, mas estes terão que ser
naturalmente coisas especificas, e não consumíveis.
No caso de bem imóveis ou bens móveis sujeitos a registo, só a cláusula constante
do registo é oponível a terceiros (art. 409º). No caso de se tratar de bens não
sujeitos a registo a reserva poderá ser oposta inclusive contra terceiro de boa fé de
acordo com os princípios da consensualidade e da causalidade. No entanto se o
terceiro adquirir a propriedade a titulo originário (independentemente da existência de
qualquer titulo prévio), como se sucede na usucapião e na acessão, naturalmente que a
reserva de propriedade se extinguirá.
A cláusula de reserva de propriedade implica assim que, por acordo entre o vendedor e
comprador, a transmissão da propriedade fique diferida para o momento do pagamento
integral do preço. A função, porém, desse acordo não é permitir ao vendedor a
continuação do gozo sobre o bem, uma vez que esta é entregue ao comprador
precisamente para o fim de lhe atribuir o seu gozo, mas apenas defender o vendedor
de eventuais consequências do incumprimento do comprado. Efectivamente, a
conservação da propriedade no vendedor ate ao pagamento do preço impede os
credores de executarem o bem, podendo o vendedor reagir contra essa execução
através de embargos de terceiro (351º CPC).No entanto no caso da falência do
comprador, a cláusula de reserva de propriedade só será oponível em relação à massa
falida, se tiver sido estipulada por escrito, ate ao momento da entrega da coisa.
A lei não regula, porém, a questão da oponibilidade da posição jurídica do
comprador na venda com reserva de propriedade aos credores e adquirentes do
vendedor. No caso da falência do vendedor determina o 161º, nº3, CPEREF que “ o
contrato de compra e venda não se extingue se o vendedor for falido e o domínio da
coisa se já tiver transmitido à data da declaração de falência; no caso contrário, cabe ao
liquidatário optar pelo cumprimento do contrato ou pela resolução dele, com direito
para o comprador a reclamar da massa falida a indemnização devida pela falta de
cumprimento”.
No entanto o regime regra parece ser de que o comprador poderá opor eficazmente a
sua expectativa real de aquisição aos credores do vendedor, mediante o processo de
embargos a terceiro, dado que é titular, de um direito incompatível com a penhora
desses bens (351º CPC). Relativamente aos adquirentes do vendedor, e manifesto
que este não pode legitimamente dispor do bem, depois de ter constituído uma
expectiva real de aquisição a favor do comprador. Se o fizer, sendo a reserva oponível
a terceiros, a posição do comprador prevalecera obviamente sobre a segunda
aquisição, devendo aplicar-se a esta o regime de venda de bens alheios do 892º.
No caso de incumprimento por parte do comprador o vendedor continua a poder
resolver o contrato nos termos do artigo 801º nº2, uma vez que a exclusão deste direito
elo art. 886º só se verifica se tiver ocorrido a transmissão da coisa. No entanto, em caso
de venda a prestações, o art. 934º exclui imperativamente a possibilidade de resolução
do contrato se o comprador faltar ao pagamento de uma única prestação e esta não
exceder a oitava do preço.
Quanto ao risco na venda com reserva de propriedade.
Há divergências na doutrina defendendo uns que na venda com reserva de propriedade o
vendedor suporta o risco pela perda ou deterioração da coisa, mesmo após a entrega ao
comprador. No entanto esta solução é claramente inaceitável, uma vez que a partir da
entrega o comprador fica já integralmente investido nos poderes de uso e fruição da
coisa, servindo a manutenção da propriedade no vendedor apenas para assegurar a
recuperação do bem, em caso de não pagamento do preço. Ora devendo o rico correr
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por conta de quem beneficia do direito, parece claro que a partir da entrega é por
conta do comprador que o risco deve correr, não ficando este exonerado do
pagamento do preço em caso de perda ou deterioração fortuita da coisa.
Igualmente se se vier a verificar a deterioração da coisa, em resultado de um dano
culposamente causado por um terceiro, é manifesto que não pode ser o vendedor a
reclamar a totalidade da indemnização, uma vez que, enquanto conservar o credito
do preço, o património do vendedor não sofre qualquer diminuição. No entanto
quanto aos titulares da indemnização a matéria não é pacifica defendendo uns (RHUL)
que o comprador só teria direito à indemnização com o pagamento integral do preço;
outros (RAISER) que o lesante terá que satisfazer a indemnização conjuntamente a
ambos, outros (BIANCA) defendem que o comprador é o principal titular do direito da
indemnização, mas o vendedor também tem direito a uma parte em virtude da frustração
da garantia que possuía sobre o bem.
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comprador adquirir a propriedade. Deve ser rejeitada: Uma vez que a aquisição da
propriedade pelo comprador na venda com reserva verifica-se logo que ele cumpre a
obrigação de pagamento do preço, não ficando na dependência de qualquer outra
obrigação por parte do vendedor.
4. Teoria da dupla propriedade: De acordo com esta, após a celebração do contrato
e ate ao pagamento do preço, ambas as partes se devem considerar como
proprietárias do bem, constituindo a venda com reserva de propriedade um exemplo
de surgimento de novos tipos de propriedade especial. O comprador adquiria já um
tipo peculiar de propriedade que, embora lhe permitisse o exercício do gozo da
coisa, teria um conteúdo mais reduzido do que a propriedade tradicional, na media
em que poderia perder o seu direito no caso de falta de pagamento do preço, e o seu
direito sucumbiria em relação os seus credores perante o exercício do direito do
vendedor. A posição do comprador seria assim de proprietário sob reserva do
pagamento do preço, já o vendedor, embora conservasse a propriedade, ver-se-ia
privado das principais faculdades que a integram, apenas mantendo para efeitos de
garantia do preço (propriedade para garantia do pagamento do preço). Deve ser
rejeitada: Porque contraria o artigo 1305º, que qualifica o direito de propriedade
como um direito exclusivo.
5. Teoria da venda com eficácia translativa imediata, associada à atribuição ao
vendedor de uma posição jurídica, que lhe garante, com eficácia real, a
recuperação do bem em caso de não pagamento do preço: De acordo com esta
teoria a venda com reserva de propriedade destina-se apenas a atribuir ao vendedor
uma situação jurídica real que lhe permitia obter a recuperação do bem em caso de
pagamento do preço. Essa situação jurídica não confunde, porém, com a
propriedade aproximando-se mais do penhor, do qual apenas se distingue apenas por
não supor a entrega do bem, devendo por isso ser incluída nos direitos de garantia .
Assim a venda com reserva de propriedade, apesar de onerada com um direito real
de garantia, a verdade é que a propriedade se transferiria imediatamente para o
comprador. Implicando o pagamento do preço não a aquisição da propriedade mas
sim antes a extinção dessa garantia real.
6. TEORIA ADOPTADA: Venda com reserva de propriedade como uma venda em
que o efeito translativo da propriedade é diferido ao momento do pagamento do
preço, obtendo no entanto o comprador logo com a celebração do contrato uma
posição jurídica especifica distinta da propriedade, normalmente qualificada como,
expectativa real de aquisição. Em relação ao vendedor, ele conserva naturalmente
a propriedade sobre o bem, ainda que esta passe a ser onerada pela posição jurídica
do comprador, bem como limitada pela função especifica da reserva de propriedade,
que é essencialmente a função de garantir o pagamento do preço, uma vez que o
negocio translativo já foi celebrado, permitindo ao vendedor em caso de não
cumprimento pelo comprador, resolver o contrato e exigir a restituição da coisa. Em
relação a terceiros, a reserva de propriedade é naturalmente oponível, ainda que,
quando se trate de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, tenha que ser
registada. Já em relação ao comprador, ate ao pagamento do preço, se ele não é
ainda proprietário, uma vez que a clausula de reserva de propriedade determina a
manutenção da propriedade no vendedor, também não se pode dizer que a sua
posição jurídica seja meramente obrigacional, uma vez que esse negocio já confere
ao comprador uma expectativa real jurídica de aquisição do bem, a qual deve ser
considerada oponível a terceiros. Assim, tanto o vendedor como o comprador são
titulares de situações jurídicas reais, havendo que distribuir o risco de acordo com o
proveito que cada um tirava da situação jurídica. Como o vendedor conservava
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apenas a propriedade com a função de garantia, deve apenas suportar o risco da
perda dessa garantia, pelo contrario, como o comprador já se encontrava a tirar todo
o proveito da coisa, é a ele que competira suportar o risco pela sua perda ou
deterioração. Assim se compreende que na reserva de propriedade o risco se
transfere para o comprador logo que a coisa lhe seja entregue.
Mas para que haja contrato a favor de terceiro não basta que o terceiro seja o
destinatário da prestação é necessário que seja titular do direito a ela ou
beneficiário directo da atribuição nascida do contrato.
Assim deste modo não temos um contrato a favor de terceiro mas sim contratos
com efeitos reflexos sobre terceiros o caso do contrato de locação em que o uso do
imóvel e conferido não apenas ao locatário mas a todo o agregado familiar que
habita com ele) e o contrato de aquisição de equipamento que se destina a ser
usado por pessoas diferentes do comprador.
Já mais difícil ser de avaliar o caso do filho que contrata a mulher a dias para
prestar serviços em casa dos pais, ou paga à cabeleireira para ir pentear
quinzenalmente a mãe a casa, tanto pode querer conferir aos pais ou à mãe o
direito à prestação, como considera-los puros beneficiários da prestação sem que a
mulher a dias se venha a vincular perante estes.
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que alimenta, subsidia ou cobre o direito conferido a terceiro chama-se relação
de cobertura ou provisão. Mas o direito atribuído ao beneficiário integra-se por
seu turno numa outra relação, estabelecida entre o promissario e o terceiro
beneficiário, à qual se dá a designação de relação de valuta. A relação de
cobertura ou provisão tem uma importância fundamental na fixação dos direitos
e deveres recíprocos do promitente e do promissário, bem como na
determinação dos meios de defesa que podem opor um ao outro. Assim se o
vendedor de certa coisa convencionar que o preço seja pago a terceiro, ou o
locador estipular que a renda seja entregue a terceiro, nem por esse facto eles
deixam de ter os direitos próprios da venda ou da locação (Poder denunciar ou
resolver o contrato, exigir indemnização no caso da coisa vendida ser defeituosa,
dever de reparar a coisa ou fazer outras despesas necessárias a conservação
dela).
E tem a mesma influência nas relações entre promitente e terceiro, visto
aquele poder opor a este, nos termos do 449, todos os meios de defesa
derivados do contrato. Assim se o contrato for nulo ou anulável, por
carência de forma, por falta ou vícios da vontade; se caducar por
verificação de condição resolutiva ou por não verificação da condição
suspensiva; se houver fundamento para a excepção de contrato não
cumprido, todos estes meios serão oponíveis não só ao promissario como ao
terceiro. O promitente não pode é invocar os meios de defesa baseados em
qualquer outra relação entre ele e o promissario ou na relação de valuta
(entre promissario e terceiro). O promitente não pode assim considerar
extinta a obrigação, que contraiu em face de terceiro, por compensação de
um credito através de um outro contrato sobre o promissario. Se tiver já
cumprido, e o contrato que serve de cobertura à prestação vier entretanto a ser
declarado invalido ou perder por outra razão a sua eficácia, o promitente não
poderá em principio repetir a prestação já efectuada se a relação de valuta se
mantiver, a prestação só poderá ser repetida nos termos do artigo 478º.
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pelos credores do terceiro beneficiário por meio de uma imugnação pauliana
(610º e ss).O direito de resolução do contrato, por impossibilidade superveniente
da prestação, não cabe ao terceiro, mas ao promissário, visto tratar-se de uma
faculdade que é exclusivamente reservado aos contraentes.
Gestão de Negócios
(464º)
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Noção: Dá-se a gestão de negócios, quando uma pessoa assume a direcção de negócio
alheio no interesse e por conta do respectivo dono, sem para tal estar autorizada.
Requisitos: Para que haja gestão de negócios são necessários os seguintes requisitos:
a)que alguém (gestor) assuma a direcção de negocio alheio (negocio alheio no sentido
de interesse alheio ou assunto sendo que tem que haver a consciência desse mesmo
carácter alheio (assim o agente manda transportar a criança atropelada para o hospital e
este não é seu filho como ele supunha mas é o filho do vizinho, aqui não há consciência
desse carácter alheio como tal não há gestão visto que este actua na convicção de o
interesse ser próprio ); b) que o gestor actue no interesse e por conta do dono do
negocio; c) que não haja a autorização deste.
Gestão representativa, consiste quando o gestor age em nome próprio sem revelar à
contra parte o nome da pessoa por conta de quem actue, sendo que quando não actue em
nome próprio estamos perante uma gestão não-representativa.
Nota: A que é vizinho de B faz obras para evitar a ruína, se A actuar no interesse de
ambos age em gestão de negócios se actuar apenas no seu interesse não temos gestão de
negócios (em caso de duvida deve-se optar pela gestão de negócios).
O contrato para pessoa a nomear é o contrato em que uma das partes se reserva a
faculdade de designar uma outra pessoa que assuma a sua posição na relação contratual,
como se o contrato tivesse sido celebrado por esta ultima.
Corresponde à situação em que A quer comprar um prédio a B, mas não tem
procuração dele nem facilidade de obtê-la com brevidade requerida, ou não sabe mesmo
se ele estará disposto a aceitar o contrato. Se a A convier, de qualquer modo, ficar com
o prédio para si, no caso de B o não querer, terá todo o interesse em celebrar o contrato
para pessoa a nomear, a fim de evitar, entre outros inconvenientes, a necessidade de
uma dupla transmissão e os correspondentes encargos fiscais.
Regime: Desde que o contraente (in próprio) se reserva perante a outra a faculdade de
nomear um terceiro como titular do contrato, àquele acordo seguir-se-á normalmente a
declaração de nomeação. Feita a nomeação nos termos prescritos, os efeitos processam-
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se como se a pessoa nomeada fosse o contraente originário, adquirido o nomeado, com
eficácia retroactiva, todos os direitos e obrigações emergentes do contrato para o lado da
relação em que fica investido. Na falta de nomeação, os efeitos do negocio consolidam-
se na titularidade do interveniente, salva a possibilidade de as partes haverem acordado
em outra solução (456º).
“Aquele que, sem causa justificativa, enriquecer à custa de outra, diz o artigo 473º, é
obrigado a restituir aquilo com que injustamente se locupetou”.
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Miguel Alves de Sousa (UCP-Porto 2000-01)
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