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2.

4 MEDIDAS DE OPTIMIZAÇÃO DA PROCURA


DE ENERGIA [DESMATERIALIZAÇÃO]
A primeira acção, rumo à optimização do desempenho energético dos edifícios, deve ser a redução das respectivas
necessidades energéticas, sem afectar negativamente a qualidade de vida das pessoas.

No nosso contexto climático é possível, aplicando as melhores tecnologias passivas e activas disponíveis, atingir um equilíbrio
entre edifício e clima proporcionando um elevado nível de conforto no interior com baixa dependência de sistemas energívoros.
É economicamente muito viável e de extrema relevância implementar estas tecnologias, quer na construção de edifícios
novos, quer na reabilitação de edifícios existentes.

As medidas passivas são as mais importantes porque trazem o maior contributo para reduzir a dependência energética ao
longo da vida do edifício. As medidas activas também reduzem a dependência energética do edifício, mas
a sua operação carece de afinação e de manutenção pelo que, ao longo da sua vida útil, tem um custo associado.

138
NORTE

SOLAR TÉRMICO

SISTEMAS ENERGÉTICOS

VENTILAÇÃO E
ARREFECIMENTO

ILUMINAÇÃO DE
BAIXO CONSUMO

ISOLAMENTO TÉRMICO
EXTERIOR

DIMENSÃO DOS VÃOS INÉRCIA TÉRMICA GESTÃO DE ENERGIA ELECTRODOMÉSTICOS


CONSOANTE A ORIENTAÇÃO E MONITORIZAÇÃO EFICIENTES
140
SUL

COBERTURAS
AJARDINADAS

PERMEABILIDADE
DAS SUPERFÍCIES

SOMBREAMENTOS
EXTERIORES

VIDROS
DUPLOS

CAIXILHARIAS DE
QUALIDADE

LAREIRAS E PAREDES ESPAÇOS DE ATENUAÇÃO ORIENTAÇÃO DAS FACHADAS E


RECUPERADORES TROMBE CLIMÁTICA ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA
141
SE PRETENDE AFERIR A IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS DE OPTIMIZAÇÃO DO DESEMPENHO ENERGÉTICO DEVE
SELECCIONAR AS PERGUNTAS COM AS QUAIS MAIS SE IDENTIFICA E COLOCÁ-LAS AO INTERLOCUTOR MAIS RESPONSÁVEL
QUE ENCONTRAR, QUANDO FOR VISITAR A HABITAÇÃO QUE TENCIONA ARRENDAR OU COMPRAR: SIM | NÃ0

1: A ORIENTAÇÃO DOS ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA É SUL, NASCENTE OU POENTE ?

2: A HABITAÇÃO TEM VIDROS DUPLOS (INCOLORES) EM TODAS AS ÁREAS ENVIDRAÇADAS ?

3: A PROPORÇÃO DA ÁREA ENVIDRAÇADA ORIENTADA A SUL É APROXIMADAMENTE 35% DA ÁREA GLOBAL DO ALÇADO SUL?

4: A PROPORÇÃO DA TOTALIDADE DAS ÁREAS ENVIDRAÇADAS, EM RELAÇÃO À ÁREA DE PAVIMENTO TOTAL,


É APROXIMADAMENTE 30% ?

5: AS ÁREAS ENVIDRAÇADAS ORIENTADAS A SUL, NASCENTE OU POENTE TÊM UM SISTEMA DE PROTECÇÃO SOLAR EXTERIOR
(ESTORES, PALAS, PORTADAS) ORIENTÁVEL OU REGULÁVEL QUE PERMITE CONTROLAR O GRAU DE ILUMINAÇÃO SOLAR NO
INTERIOR ?

6: AS CAIXILHARIAS SÃO DE QUALIDADE ?

7: EXISTEM, PELO MENOS, DOIS VÃOS COM GRELHAS DE VENTILAÇÃO ?

8: É POSSÍVEL EFECTUAR UMA VENTILAÇÃO CRUZADA (ABRINDO JANELAS COM ORIENTAÇÕES SOLARES DIFERENTES OU
OPOSTAS) COM UM SISTEMA DE ABERTURA QUE PERMITE A VENTILAÇÃO EM SEGURANÇA, MESMO QUANDO AS PESSOAS
NÃO SE ENCONTRAM EM CASA ?

9: A HABITAÇÃO É ISOLADA TERMICAMENTE DE FORMA ADEQUADA, DE PREFERÊNCIA DE FORMA CONTÍNUA E PELO


EXTERIOR, COM A ESPESSURA DE, PELO MENOS, 6 CM NAS PAREDES E DE 10 CM NA COBERTURA E COM AS CARACTERÍSTICAS
TÉCNICAS ADEQUADAS ?

10: AS PAREDES DA HABITAÇÃO SÃO CONSTITUÍDAS POR MATERIAIS PESADOS (BETÃO, TIJOLO) E REVESTIDAS COM ESTUQUE?

11: EXISTEM PAREDES 'TROMBE' (SEMPRE ORIENTADAS A SUL) ?

12: A COBERTURA DO EDIFÍCIO É (TOTAL OU PARCIALMENTE) AJARDINADA OU OCUPADA POR SISTEMAS DE ENERGIAS
RENOVÁVEIS?

13: EXISTEM ESPAÇOS COM ÁGUA OU COM VEGETAÇÃO JUNTO ÀS JANELAS DA HABITAÇÃO ?

14: OS MATERIAIS APLICADOS NAS PAREDES PERMITEM A PERMEABILIDADE AO VAPOR ENTRE O INTERIOR E O EXTERIOR?

15: O EDIFÍCIO TEM SISTEMAS ENERGÉTICOS CENTRALIZADOS?

16: O EDIFÍCIO TEM UM SISTEMA SOLAR TÉRMICO PARA O AQUECIMENTO DAS ÁGUAS QUENTES SANITÁRIAS?

17: EXISTE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO CONTÍNUA INSTALADO NO EDIFÍCIO?

18: OS ELECTRODOMÉSTICOS SÃO CLASSE A OU A+ OU A++?

19: A ILUMINAÇÃO ELÉCTRICA É DE BAIXO OU DE MUITO BAIXO CONSUMO?

20: A LAREIRA (SE EXISTIR) É UM RECUPERADOR DE CALOR?

SE AS RESPOSTAS FOREM TODAS OU NA SUA MAIORIA SIM, TERÁ ENCONTRADO UMA HABITAÇÃO EM QUE ESTÃO
IMPLEMENTADAS AS MELHORES TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS PARA GARANTIR O SEU CONFORTO AMBIENTAL E A
MINIMIZAÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA E DOS CUSTOS DE OPERAÇÃO.

142
2.4.1 ORIENTAÇÃO DAS FACHADAS PRINCIPAIS
E DOS ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA

143
A RELEVÂNCIA DAS DECISÕES TOMADAS À ESCALA DO ELIMINAÇÃO DE SOMBRAS PERMANENTES PROJECTADAS
PLANEAMENTO URBANO SOBRE AS FACHADAS ORIENTADAS A SUL
É, mais uma vez, à escala do planeamento urbano que temos
a oportunidade de definir a insolação das fachadas dos edifícios Cada edifício projecta uma sombra permanente, sombra esta
habitacionais, para poder garantir todos os dias o acesso a que se vai transformando em função do ângulo solar, em cada
'horas de sol' no interior de cada habitação. Se existe um momento, em cada dia e cada estação do ano. As sombras
momento em que a decisão da orientação de edifícios permanentes projectadas por edifícios podem ser calculadas,
destinados ao uso residencial cabe às equipas projectistas, considerando o seu volume e o movimento do sol e são
então, num clima como o nosso, faz todo o sentido privilegiar- perfeitamente previsíveis. É a distância entre os edifícios que
se sempre a orientação a Sul. É esta a orientação que mais determina se irão existir sombras permanentes projectadas
optimiza os ganhos solares ao longo de todo o ano porque, sobre as fachadas de outros edifícios. Durante o processo de
sem qualquer intervenção por parte dos habitantes, estes planeamento urbano deve ser considerada a distância correcta
edifícios conseguem ser muito mais confortáveis, reduzindo, que permite eliminar tais sombras projectadas sobre as
simultaneamente, as suas necessidades energéticas. A fachadas Sul de edifícios de habitação, principalmente durante
orientação a Sul permite diferenciar entre Verão e Inverno, o Inverno. Não é dada igual relevância às sombras projectadas
deixando entrar o sol para os espaços interiores através das sobre as fachadas de edifícios de serviços e de comércio,
áreas envidraçadas, apenas no Inverno - quando é bem-vindo, porque o conforto que estes oferecem aos seus utilizadores
sem influenciar os custos de uma construção nova. é influenciado por outros factores determinantes.

Se a fachada principal de um edifício é orientada a Sul, resulta,


normalmente, que a fachada oposta fica orientada a Norte.
Na concepção de edifícios, e quando as condicionantes o
permitem, é importante criar tipologias habitacionais que
também usufruam de ambas as orientações, porque terão
alguns benefícios climáticos importantes. Devem, no entanto,
minimizar-se as habitações com orientação apenas a Norte,
porque não poderão satisfazer o direito a horas de sol dentro
de casa, que é um direito comum a todos.

Para os edifícios orientados a Nascente e a Poente, existe um


conjunto de critérios diferentes a considerar, porque, em
comparação com a orientação Sul, a distinção entre Verão e
Inverno não é tão marcada. Ao longo do ano, nestas orientações,
o sol nasce e põe-se sempre baixo, variando apenas o local
onde nasce e se põe. Assim, e porque os raios solares
provenientes de Nascente e de Poente são mais intensos
precisamente durante o Verão, quando não são desejados,
torna-se essencial instalar sistemas de sombreamento exterior
para controlar ou eliminar a sua penetração. Quando se
procura projectar o conforto ambiental, é importante quantificar
o benefício dos ganhos solares provenientes destas orientações,
mesmo que não tenham o mesmo impacto da orientação Sul.

No nosso clima, sobretudo os alçados orientados a Poente


devem ser extremamente bem protegidos para não
proporcionarem ganhos solares excessivos durante o Verão
- uma das medidas bioclimáticas da arquitectura tradicional,
implementada de forma sistemática. Em casas alentejanas,
por exemplo, os alçados orientados a Poente possuem na sua
maioria vãos pequenos.
Imagem de cima: Simulação do meio-dia solar (aprox. 28º) no Solstício
de Inverno (21 Dezembro) na Torre Verde
Imagem de baixo: Simulação do meio-dia solar (aprox. 75º) no Solstício
de Verão (21 Junho) na Torre Verde
144
Em edifícios orientados a Sul, é necessário considerar a
sombra que cada edifício projecta sobre o próximo,
considerando o ângulo solar de Inverno (28º em média, em
Portugal, a 21 de Dezembro) e a altura do chão a partir da
qual existem vãos em habitações que não se pretende
sombrear, garantindo, desta forma, que fique salvaguardado
o direito das mesmas a 'horas de sol'. Com base nestes
parâmetros, resulta uma fórmula para edifícios de habitação
que deverá ser assumida nos planos de urbanização e nos
projectos de loteamento para que, sem aumentar os custos
de construção, se possa contribuir para melhorar o seu
desempenho energético-ambiental.
Homem à Máquina | Parque Expo
A existência de sombras projectadas, por efeito de elementos
de obstrução, ao longo do ano sobre uma fachada orientada
a Sul, elimina os benefícios associados a esta orientação.
Assim, quando escolhemos a localização para um edifício
(assumindo que temos a possibilidade de o orientar a Sul), é
importante aferir se existem outras edificações ou volumes
de qualquer natureza a criar barreira aos raios solares sobre
a fachada Sul de habitações, principalmente durante o Inverno.

Homem à Máquina | Parque Expo

O conceito do direito a 'horas de sol' no interior de uma


habitação é importante durante o Inverno, mais do que em
qualquer outra estação do ano, porque é principalmente nesta
altura que os raios solares se tornam um valor acrescentado
no interior das habitações. Trata-se de um direito que está
relacionado com o bem-estar psicológico, mas também com
o conforto e, por isso, com o bem-estar fisiológico. Garantir
que os benefícios da orientação sejam salvaguardados e
cheguem ao utilizador final é, em primeiro lugar, uma
responsabilidade que recai sobre o planeamento urbano.

Esquema da orientação dos principais espaços de


permanência em quatro apartamentos num piso
tipo no edifício Torre Verde com simulação do
percurso solar anual.

Apontamento:
É possível aferir por fórmula matemática a distância ideal entre edifícios orientados a Sul, sempre que se
Edifício 1

pretenda eliminar sombras projectadas sobre vãos envidraçados de apartamentos, mesmo durante o dia
21 de Dezembro (28º - Ângulo solar mínimo em Portugal): H 0,6 d + h H
Sendo: H - Altura do edifício 2 (edifício que sombreia), d - Distância entre edifícios,
Edifício 2

28º
h - Altura do piso 0 do edifício 1 (medida entre a cota de soleira e o pavimento do piso 1). h

SUL NORTE

145
INTRODUÇÃO DE SOMBRAS SAZONAIS SOBRE FACHADAS No “layout” interior dos espaços de permanência são,
ORIENTADAS A SUL evidentemente, tidas em consideração todas as condicionantes
Ao contrário do Inverno, quando é necessário evitar as sombras previstas para o edifício, bem como todas as exigências
projectadas, no Verão torna-se desejável existirem sombras, funcionais. O aproveitamento da orientação solar torna-se tão
em especial quando temos espaços de lazer e de estar no importante, quanto a consideração do panorama. Outro
exterior, contíguos à fachada orientada a Sul. contributo para aumentar a qualidade, que os espaços de
Por este motivo, é extremamente positiva a presença de permanência oferecem aos utilizadores finais, é a criação de
árvores, arbustos e trepadeiras de folha caduca que, com a uma variedade de ambientes (entre zonas ao sol e zonas à
sua folhagem, criam estas sombras apenas durante a fase sombra) que vêm ao encontro das expectativas dos utilizadores
do ano em que a sombra é desejada. Liberta da folhagem do edifício e lhes proporcionam uma escolha mais diversificada.
durante o Inverno, esta vegetação não cria barreira para os
raios solares, deixando-os entrar através das áreas Uma cortina de plantas de folha caduca, um alpendre encoberto
envidraçadas orientadas a Sul. Durante o Verão, a folhagem de vegetação ou apenas uma compacta área com arbustos
permite um maior sombreamento das superfícies e reduz os junto a uma fachada orientada a Nascente, Sul ou Poente
ganhos solares. constitui um espaço de atenuação climática que, para além
É importante envolver o Arquitecto Paisagista na especificação de contribuir para aumentar o conforto ambiental, torna mais
das espécies às quais é dada a função de contribuírem para atractiva a permanência nos espaços adjacentes.
o conforto ambiental do edifício e dos espaços contíguos
exteriores, porque da boa relação da envolvente do edifício Por um lado, é importante promover o aumento da
com a natureza se poderão tirar consideráveis mais-valias. biodiversidade em todos os contextos urbanos em que se
consegue criar um espaço que pertença à natureza e, por
ORIENTAÇÃO DOS ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA A SUL, outro lado, é importante criar pequenos ecossistemas -
NASCENTE E POENTE plantando simplesmente uma árvore, um arbusto, uma
A orientação Sul permite uma maior penetração do sol de trepadeira, um jardim de cobertura, ou mesmo uma fachada
Inverno e uma reduzida penetração do sol de Verão. Desta revestida com espécies vegetais.
forma, as janelas de um alçado orientado a Sul conseguem
proporcionar ao interior do edifício um acréscimo de conforto Estão a ser desenvolvidos novos sistemas para o revestimento
térmico, tanto no Inverno, quando o calor do sol é bem-vindo, de fachadas com elementos vegetais - para paredes opacas
como no Verão, quando os ganhos solares não são desejados, e para janelas - cujo objectivo é aproveitar as alterações
nem necessários. Esta medida tem um potencial de melhorar fisiológicas destas espécies, efeito da sua adaptação às
em até 30% as necessidades energéticas de um edifício, estações do ano, favorecendo deste modo o clima no interior
relacionadas com o conforto térmico, sobretudo quando é dos edifícios.
associada a outras medidas passivas. Trata-se de uma medida
condicionada pelos instrumentos de planeamento urbano,
sempre que se defina a orientação dos edifícios. Nem sempre
é possível determinar, em áreas urbanas consolidadas, a
orientação dos edifícios nos quais intervimos, porque o meio
edificado já foi definido à partida. Nestes contextos, é importante
considerar a incidência dos raios solares em todas as
orientações existentes, para optimizar o conforto nos
respectivos espaços interiores.

Orientar correctamente os espaços de permanência do edifício


em função do percurso solar permite um melhor
aproveitamento da energia renovável do sol como fonte de
conforto para estes espaços.

Apontamento:
A tirania da velha regra do actual Regulamento Geral das Edificações Urbanas que obriga a um distanciamento de 45º entre edifícios,
sem qualquer referência à orientação solar, impossibilita a criação de espaços mais protegidos da radiação solar - típicos e adequados
a climas em que há necessidade de proteger do calor e a eliminação de sombras projectadas em alçados orientados a Sul, de edifícios
de habitação.

146
2.4.2 PROPORÇÃO ADEQUADA DAS ÁREAS ENVIDRAÇADAS,
TENDO EM CONSIDERAÇÃO A ORIENTAÇÃO SOLAR

147
O dimensionamento das áreas envidraçadas, em função da as áreas receptivas aos raios solares. Este equilíbrio deve ser
orientação solar e resultante dos cálculos térmicos, é uma calculado pelo Engenheiro Térmico e é de extrema importância
medida que contribui consideravelmente para o conforto em para o Arquitecto, a partir dos primeiros esboços e conceitos
espaços interiores. que desenvolve para o projecto.

É a proporção adequada das áreas envidraçadas que tem em A simulação ou cálculo do desempenho energético-ambiental
consideração a variação do percurso do sol durante as quatro é um processo evolutivo que acompanha a concepção do
estações do ano, conforme determinam a capacidade de edifício, da mesma forma que o é a certificação energética.
penetração da radiação solar nos espaços interiores e a O primeiro “input” do Engenheiro Térmico torna-se necessário,
respectiva captação do seu calor. Esta capacidade de captar logo que as primeiras ideias estejam materializadas em
a energia do sol é um dos principais contributos para o esboços e enquanto o projecto ainda está em fase de
conforto que os espaços interiores oferecem e um dos concepção. Ao longo do processo, estes “inputs” que visam
principais responsáveis para reduzir a factura energética. a optimização do desempenho do futuro edifício, podem
As áreas envidraçadas são a componente do edifício que resultar, por exemplo, num aumento das áreas envidraçadas
permite a interacção mais directa com o clima, devendo ser orientadas a Sul (para aumentarem os ganhos solares directos
adequadas ao respectivo clima. No Inverno, quando nos durante o Inverno) e compensar áreas envidraçadas orientadas
encontramos próximos de uma janela, dentro de casa, e o a Norte (que vão aumentar as perdas térmicas), concebidas
sol brilha, sentimos instantaneamente o impacto de calor da para privilegiar uma vista.
radiação solar. Para alcançar condições de conforto no interior
ocorre um equilíbrio entre as áreas receptivas - que reagem A qualidade e o desempenho das áreas envidraçadas tem um
ao clima de forma instantânea - e as áreas opacas - que, pela grande peso no cumprimento dos novos regulamentos e são
sua estabilidade, atenuam o impacto das incidências extremas cruciais para se alcançar uma certificação energética Classe
do clima. Por este motivo, é natural que uma construção A.
sustentável tenha sido adequada ao clima em que ia ser
inserida, procurando o equilíbrio entre as paredes opacas e

Torre Verde Parque das Nações . Alçado Norte Torre Verde Parque das Nações . Alçado Nascente
148
VÃOS ENVIDRAÇADOS ORIENTADOS A SUL VÃOS ENVIDRAÇADOS ORIENTADOS A NASCENTE E POENTE
Como não são desejados ganhos solares durante os meses Nestas orientações não se verifica uma diferença acentuada
mais quentes, embora sejam extremamente bem-vindos do ângulo solar para a orientação do vão, por si só, distinguir
durante os meses mais frios, a orientação Sul (quando possível) entre as estações do ano de uma forma passiva. Por este
é a mais benéfica. Qualquer vão orientado a Sul permite a motivo, estes vãos necessitam de protecção - durante o
entrada dos raios solares durante os meses em que o sol Inverno, enquanto todos os ganhos solares são bem-vindos,
está mais baixo (Inverno) e elimina a entrada dos raios solares estes vãos servirão justamente para deixar entrar todo o calor
quando está mais alto (Verão). do sol, porém, durante os meses mais quentes, sobretudo a
orientação a Poente necessita de ser muito protegida - ou
Em Portugal central, o clima obriga a que, num edifício seja, sombreada pelo exterior. Num edifício bem concebido,
residencial, a proporção da área de alçado Sul ocupada por o sobreaquecimento é um fenómeno muito raro
vãos envidraçados não supere os 35%. Há, evidentemente, (correspondendo a menos do que 2,5% do tempo) e resulta,
um conjunto de factores que poderão ser quantificados e muitas vezes, da incidência dos raios solares provenientes
definidos apenas através dos cálculos do Engenheiro Térmico, de Poente. Durante os meses mais quentes do ano, a
contudo, esta estimativa (dos 35% de envidraçados) poderá orientação Poente possui a característica de poder receber
servir de base indicativa. ganhos solares numa altura em que estes não são, de todo,
bem-vindos, porque o calor acumulado durante todo o dia já
As áreas envidraçadas orientadas a Sul devem ser sempre saturou a capacidade de absorção e acumulação da massa
munidas de sistemas de sombreamento exterior que permitam térmica do edifício (ver Inércia Térmica). Por isso, é importante
controlar o grau de luminosidade e a quantidade de raios que o dimensionamento dos vãos com a orientação Poente
solares directos que penetram a habitação, sem causar a seja a mais conservadora. Também a protecção pelo exterior
perda da vista nem, tão pouco, a liberdade de ventilar (ver destes vãos deverá ser equacionada logo à partida.
Sombreamentos Exteriores).

Torre Verde Parque das Nações . Alçado Sul Torre Verde Parque das Nações . Alçado Poente
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VÃOS ENVIDRAÇADOS ORIENTADOS A NORTE Dada a sua localização - nas coberturas - é importante que
Nesta orientação, as áreas envidraçadas a Norte têm um peso o vão, bem como o sistema de sombreamento, permitam ser
importante no balanço energético do edifício, porque são áreas operados à distância (manual ou eléctrica).
que têm perdas e nunca têm ganhos energéticos. Em edifícios
de habitação, estes vãos permitem garantir a boa ventilação Em espaços com uma área de envidraçado zenital grande, é
natural dos espaços. Fornecem ainda aos espaços interiores muito importante que este possa ser integralmente aberto
uma excelente iluminação natural difusa, aproveitando a luz para evitar os ganhos solares excessivos que resultam do
proveniente da abóbada celeste e evitando o excesso de luz efeito estufa.
solar directa, que é característica das outras orientações. Mas
existem outras razões para aumentar estas áreas envidraçadas:
uma vista privilegiada, por exemplo, pode justificar o aumento
da área envidraçada orientada a Norte e, sempre que tal
aconteça, é importante reavaliar o equilíbrio global do edifício
do ponto de vista dos ganhos e das perdas energéticas. Um
aumento de área envidraçada orientada a Norte pode ser
complementada por um aumento adequado da área
envidraçada orientada a Sul, a quantificar pelo Engenheiro
Térmico.
O gráfico seguinte representa a incidência média anual da radiação solar
em 1m2 de plano vertical para a região de Lisboa consoante as orientações
VÃOS ENVIDRAÇADOS ZENITAIS - CLARABÓIAS de exposição e onde se pode constatar que a orientação Sul é a que
As clarabóias, quando o plano da área envidraçada se aproxima apresenta maior optimização dos ganhos solares consoante o período
do horizontal, são vãos que oferecem uma iluminação muito do ano.
especial e bem-vinda nos dias mais frios de Inverno, porém
são vãos extremamente perigosos no contexto climático de
Portugal, porque os raios solares são demasiado intensos
durante muitos dias do ano, resultando em sobreaquecimento
por consequência do efeito estufa.

O sobreaquecimento constitui o principal risco das clarabóias,


risco este que tem de ser completamente eliminado através
da ventilação natural que devem permitir, da qualidade do
vidro duplo aplicado, bem como através de sistemas eficazes
de sombreamento exterior.

No entanto, sempre que forem tidas em consideração medidas


que atenuem os possíveis efeitos negativos de
sobreaquecimento, as clarabóias podem ter um papel muito
enriquecedor para a qualidade de iluminação no espaço que
adornam.

É possível, contudo, criar nas coberturas áreas envidraçadas Orientações dos planos verticais:
Sul
que se aproximem do plano vertical. E, neste caso, terão Poente
tratamento idêntico ao que foi anteriormente descrito, Nascente
consoante a orientação solar. Norte

150
2.4.3 CAIXILHARIAS DE QUALIDADE

151
A caixilharia é o elemento de transição entre as áreas opacas no vão envidraçado) e / ou de uma ventilação mecânica
e as respectivas áreas envidraçadas da envolvente de um adequada.
edifício de habitação. Como tal, e apesar de representar uma
proporção relativamente pequena na envolvente, as funções Características a ter em consideração na especificação da
da caixilharia são extremamente importantes para o edifício. caixilharia:
A caixilharia suporta os painéis de vidro duplo que constituem
as áreas envidraçadas, tanto na sua posição fechada como > O grau de estanquicidade da caixilharia que obriga a garantir
nas suas diversas posições abertas, garante a estanquicidade renovações de ar por outra via;
dos espaços interiores, absorve os movimentos díspares (por
exemplo, a força do vento) com os seus elementos rígidos > O material que constitui o caixilho deve ser tão reciclável
distintos e contribui assim para a optimização do desempenho quanto possível - devendo ser privilegiados os acabamentos
energético-ambiental do edifício. mais fáceis de reciclar, como é o caso do alumínio anodizado,
face ao termolacado;
Para além destas funções essenciais, a caixilharia, conjugada
com ferragens de qualidade, poderá tornar mais interessante > O material que constitui o caixilho deve ter sido, em parte,
e diversificar a relação entre o interior e o exterior, potenciando reciclado - no caso do alumínio, designa-se por alumínio
alterações na dimensão e distribuição dos espaços (ver secundário. A proporção do material reciclado incorporado
Varandas Flexíveis). será indicada pelo fornecedor e deverá ser superior a 50%. É
também interessante ser informado, por parte do fornecedor,
Ao longo da última década, tal como as características técnicas qual a proporção de material reciclado proveniente de prévias
dos vidros, as caixilharias também sofreram uma grande aplicações (pelo menos 40% ser alumínio proveniente de
evolução tecnológica. A estanquicidade da caixilharia é uma demolições) e qual a proporção proveniente do processo de
das evoluções positivas porque permite controlar, de forma fabrico (até 60% podem ser desperdícios de fabrico).
eficaz, o intercâmbio de calor e frio entre o interior e o exterior.
Mas esta estanquicidade obriga a definir a estratégia da Embora a caixilharia com corte térmico pareça ter uma
ventilação natural, pelo menos para garantir as renovações qualidade coerente com as medidas de optimização térmica
de ar, essenciais para a salubridade do ar interior. Com uma usadas na concepção do edifício, ela deve ser contemplada
caixilharia mais estanque, as renovações de ar essenciais tendo em atenção o seguinte:
podem ser conseguidas por ventilação natural e, quando esta
não é desejada, através de grelhas de ventilação (incorporadas

Sequência de operação dos sistemas de sombreamento exterior desde a posição com exclusão da radiação directa nos espaços interiores, evitando
ganhos solares desnecessários privilegiando a vista e o contacto com o exterior, até à sua total abertura.

152
No leque de comportamentos de um edifício em que se alternadamente que a respectiva janela abra ou bascule.
aplicaram as medidas da construção sustentável (ou As janelas de correr, com a vantagem de “desaparecerem”
bioclimáticas) há alguns em que, por força da temperatura para o lado para o qual correm, fazem com que a relação
exterior estar muito mais baixa do que a temperatura no entre interior e exterior seja realizada sem barreiras. Hoje há
interior (no Inverno, mesmo sem se utilizar o sistema de ferragens para janelas de correr que permitem o movimento
aquecimento central, há momentos em que podemos falar basculante para ventilação.
de um diferencial próximo de 20 graus centígrados), é
necessário ter cuidados especiais. A humidade que se encontra A posição basculante é importante porque permite ventilar
suspensa no ar interior, proveniente de se acumularem o os espaços, sem ameaçar a segurança dos mesmos, face a
efeito evaporativo das actividades humanas com baixas uma tentativa de intrusão.
renovações de ar e a temperatura condensar quando atinge
superfícies mais frias (neste caso, as caixilharias e os vãos Em edifícios com mais de um piso, é também importante
envidraçados, antes das paredes). Nestes momentos de maior controlar o acesso a varandas e ao exterior - para o que
contraste de temperatura entre o interior e o exterior, que existem puxadores com chave que permitem vedar a abertura
coincidem com a época do ano em que menos vezes abrimos das janelas a crianças, sempre que necessário. Todas as
as janelas, as gotas de água, já condensadas, escorrem pela janelas devem facilitar a respectiva limpeza pelo interior e
caixilharia embora possam ser limpas em qualquer momento. pelo exterior, sem colocar em risco quem a executar.
Se utilizarmos uma caixilharia de corte térmico, esta
condensação tende a aparecer menos nos caixilhos podendo, Afinar janelas é necessário aquando da sua instalação e, por
no entanto, aparecer noutros pontos com uma temperatura vezes, após alguns anos de utilização.
superficial inferior, como o é uma parede estrutural, ou em
pontos de difícil visão ou de difícil acesso para limpeza. MANUTENÇÃO
Para facilitar a sua manutenção e limpeza, é importante que
CARACTERÍSTICAS A TER EM CONSIDERAÇÃO NA todas as janelas permitam a abertura e o acesso a ambas as
ESPECIFICAÇÃO DAS FERRAGENS faces.
É extremamente importante que, pelo menos uma janela em
cada espaço de uma habitação possua um sistema de abertura
que permita a ventilação enquanto se está ausente.
Normalmente esta função é conseguida quando são
especificadas ferragens oscilo-batentes - permitindo

Sequência de aberturas possíveis em janela oscilo-batente. Da esquerda para a direita: abertura em basculante seguida de fecho e abertura lateral.

153
Nota: Deverá ser garantida a continuidade do isolamento térmico na caixilharia anulando o efeito de ponte térmica (isolamento no
interior da caixilharia).

O fornecedor de sistemas de alumínio contempla todos os aspectos relacionados com a construção sustentável descritos no âmbito
desta medida. Para obter mais informação especifica do gabinete de informação e apoio técnico:
TECHNAL - Hydro Building Systems Lda
Rua da Guiné 2689-513 Prior Velho
Tel: +351 219 405 735 | Fax: +351 219 405 795
E-mail: mkt@technal.pt | www. technal.pt

154
2.4.4 VIDROS DUPLOS DE QUALIDADE

155
As áreas envidraçadas são os pontos de maior contacto entre
o interior da habitação e o clima exterior. São também um
dos elementos construtivos que, durante as últimas décadas,
mais beneficiou de um desenvolvimento essencial marcante.
Este desenvolvimento tecnológico tornou o vidro (sempre
duplo) mais sofisticado e deu-lhe qualidades que contribuem
para optimizar o desempenho energético-ambiental dos
edifícios, ao ponto de existirem sistemas envidraçados que
atingem um grau de desempenho energético similar ao de
uma parede maciça vulgar.

Com o aumento da selectividade em relação ao que passa do


exterior para o interior (e vice versa), já é possível deixar
crescer as áreas envidraçadas em proporção às áreas opacas
da fachada para obter, no interior, um maior grau de
luminosidade, sem prejudicar o desempenho energético-
ambiental do edifício. Mas para garantirem o conforto e para
poderem cumprir o novo enquadramento, legal, as grandes
áreas envidraçadas que, sem dúvida, constituem um sinónimo
de modernidade e de sofisticação, devem possuir
características técnicas muito próprias. Com o objectivo de
conter o consumo de energia e as respectivas emissões de
CO2 para a atmosfera e de interagir de forma positiva com o
nosso clima, é necessário que se estabeleça um equilíbrio
adequado entre áreas opacas (paredes cuja inércia térmica
armazena a temperatura média do clima) e áreas envidraçadas
(que permitam uma interacção imediata com a radiação solar
e a temperatura exterior) na envolvente do edifício de habitação.
É muito importante que os materiais pesados no interior da
habitação tenham capacidade para absorver uma grande parte
do calor que penetra através dos vãos envidraçados, motivo
pelo qual o factor solar quantifica o calor da radiação solar
que atravessa para o interior dos vidros e deve ser definido
consoante a inércia térmica disponível.

Para alcançarmos um excelente desempenho energético-


ambiental, o Engenheiro Térmico terá que ser envolvido neste
processo de concepção - sendo ele quem dará os contributos
quantitativos, tanto no que diz respeito à dimensão dos vãos,
como à especificação do sistema, sempre sujeito a
desenvolvimento tecnológico. O que permanece à vista de
todos, é apenas a característica do vidro incolor, ainda a
escolha preferencial para edifícios de habitação, uma vez que
permite a entrada de toda a luminosidade disponível para o
interior da habitação.

Comentário de: Ricardo Sá


Uma das características energéticas relevantes de um vidro é o seu coeficiente de transmissão térmica (factor U), que nos informa sobre
a “capacidade de isolamento térmico” do vidro (quanto menor for este coeficiente maior é o nível de isolamento proporcionado pelo vidro).
A selecção de vidros com valores de U baixos é especialmente importante no caso de envidraçados de grandes dimensões e/ou em
envidraçados de médias dimensões, junto aos quais se preveja haver uma ocupação permanente.

156
QUALIDADES DO VIDRO A CONSIDERAR NO ACTO DE > O coeficiente de transmissão luminosa do vidro deve ser
ESPECIFICAÇÃO o adequado para as actividades que se exercem no interior;
Existe um conjunto de qualidades novas que resultam do
desenvolvimento tecnológico do vidro que é extremamente > A relação entre a transmissão luminosa e o factor solar é
importante ter em consideração no momento de seleccionar muito relevante sendo designada por índice de selectividade
criteriosamente o vidro para um dado projecto. A especificação e calculada, dividindo a transmissão luminosa pelo factor
do vidro varia, consoante os contextos específicos em que se solar;
pretende aplicar o painel de vidro duplo, dado este representar,
cada vez mais, o papel de um filtro que transmite, tanto para > As propriedades de segurança e de resistência mecânica
o interior como para o exterior, apenas uma parte controlável do painel de vidro duplo, em que pelo menos um dos vidros
da radiação. Sobretudo nos projectos ou reabilitações em que deve resistir ao impacto mecânico do vento e precaver a
se pretende aumentar a luminosidade nas divisões e, intrusão ou mesmo a quebra;
consequentemente, aumentar as áreas envidraçadas, é
importante considerar os seguintes aspectos técnicos: > O grau de resistência à sujidade do vidro exterior, que
contribui para reduzir a manutenção, bem como a utilização
> O coeficiente de transmissão térmica do vão envidraçado de químicos a empregar na sua limpeza.
(designado por factor U) depende de três factores
fundamentais. As características técnicas dos próprios vidros Considerando a orientação solar, as dimensões do vão e o
duplos, a qualidade da caixilharia e o grau de protecção uso dos espaços por ele protegidos, as características técnicas
oferecido pelo sistema de sombreamento exterior - este dos painéis de vidro que determinam a relação mais directa
conjunto de factores deve conseguir reduzir as perdas térmicas entre o interior e o exterior, devem obedecer à definição do
do interior para o exterior, para que sejam criadas condições Engenheiro Térmico. Orientações solares diferentes num
de conforto no interior e junto do mesmo, e deve controlar os mesmo edifício, remetem para a utilização de um vidro com
ganhos de calor do exterior para o interior; outras características técnicas.

> O factor solar do vidro resulta da soma do fluxo transmitido


e do fluxo irradiado pelos raios solares que incidem sobre o
vão - e deve ser o adequado para o contexto específico em
que o vidro é aplicado;

Quanto mais próximo dos 28 graus (a 21 de Dezembro) for o ângulo em Quanto mais próximo dos 75 graus (a 21 de Junho) for o ângulo em que
que a radiação solar incide sobre a área envidraçada, maior será a a radiação solar incide sobre a área envidraçada, maior será a proporção
proporção de radiação que atravessa o vidro e entra para os espaços de radiação reflectida (também pelo facto de o vidro ser mais espesso
interiores. na diagonal).

Num vão envidraçado orientado a Sul, os raios solares que atravessam


o vidro serão, por este motivo, sempre menos no Verão do que no Inverno.

157
Algumas indicações úteis para a especificação do vidro, sempre
duplo, num projecto de edifício em contexto urbano, novo ou
a reabilitar, em que as áreas envidraçadas não ultrapassam
os 25% da área útil da habitação e em que, pelo menos, as
paredes externas são maciças, capazes de armazenar os
ganhos solares térmicos:

Em alçados orientados a Norte ou que estejam


permanentemente sombreados, o factor solar não é relevante,
sendo importante especificar vidro com um factor U de 1,1.
Em alçados orientados a Nascente, Poente e Sul, o factor U
poderá ser 1,6, mas o factor solar deverá ser igual ou inferior
a 0,4.
Idealmente, o índice de selectividade (relação entre a
transmissão luminosa e o factor solar) deveria ser 2 - o que
é possível atingir com um valor de transmissão luminosa de
0,8 e um factor solar de 0,4, bem como com um valor de
transmissão luminosa de 0,5 e um factor solar de 0,25.
A espessura dos vidros e da caixa de ar deverá ser (do exterior
para o interior): vidro com 8 mm, caixa de ar de 10 mm e vidro
com 6 mm - assim assegurando uma redução de 35 dB(A) de
ruído do exterior para o interior.
Os vidros deverão ser sempre incolores, para deixar passar
toda a luz.

MANUTENÇÃO
Para facilitar a manutenção e limpeza, é importante que todas
as janelas proporcionem o acesso a ambas as faces e que se
especifique um vidro que tenha elevada resistência à sujidade.

O QUE DEVE SER EVITADO


Por mais atractivo que seja qualificado, em território Português,
um edifício de habitação predominantemente em vidro será
sempre sinónimo de um crime ambiental. Mesmo que o vidro
possua as mais evoluídas características técnicas disponíveis,
no sentido de optimizar o respectivo desempenho energético-
ambiental, a mensagem estética que passa é extremamente
insustentável. Embora, presentemente, existam soluções para
áreas envidraçadas que conseguem um desempenho quase
comparável ao de uma parede, só raramente são aplicadas,
devido ao elevado custo económico.

O fornecedor de vidros contempla todos os aspectos relacionados com a construção sustentável descritos no âmbito desta medida.
Para obter mais informação especifica do gabinete de informação e apoio técnico:
SAINT-GOBAIN Glass Portugal, Vidro Plano S.A.
EN 10 – Apartado 1713, 2691-652 Santa Iria de Azoia
Tel: +351 219 534 600 | Fax: +351 219 534 642
E-mail: mkt.sggp@saint-gobain.com | www.saint-gobain-glass.com

158
2.4.5 SOMBREAMENTOS EXTERIORES

159
Num edifício de habitação, as janelas são importantes, pois Aspectos a ter em consideração, na especificação do sistema
são o elemento que nos permite manter contacto visual com de sombreamento exterior, tendo como objectivo controlar
o mundo exterior, fornecem a entrada da luz natural de que a quantidade da radiação solar que atinge os espaços interiores
precisamos para desempenhar as nossas actividades e porque, e optimizar o seu desempenho energético:
no Inverno, deixam entrar o calor da radiação solar que aquece
as nossas casas enquanto que, no Verão, possibilitam a > O sistema escolhido deve proteger os vãos envidraçados
ventilação para eliminar algum do calor que não desejamos da radiação indesejada, sem necessariamente alcançar a
dentro de casa. oclusão nocturna (“black-out”);

Como as janelas proporcionam uma relação mais directa com > O sistema seleccionado deve permitir uma boa ventilação
o exterior, é importante dotá-las de um elemento de protecção natural (com a janela aberta), mesmo quando este se encontra
pelo exterior, elemento este que permite ao utilizador controlar descido e orientado na posição de sombrear;
as trocas energéticas com o exterior, tornando a relação mais
ou menos directa. Assim, as janelas orientadas a Nascente, > O sistema deve permitir que se goze a vista, mesmo quando
Sul e Poente devem ser munidas de sistemas de se encontra descido e orientado na posição de sombrear;
sombreamento exterior.
> O sistema deve ser orientável para permitir vários graus
Sem perder qualquer das mais-valias que as janelas nos de protecção da radiação solar, consoante a inclinação dos
oferecem, os sistemas de sombreamento têm uma função raios solares;
primordial - a de cortar a incidência dos raios solares (quando
estes não são desejados) antes de atravessarem o vidro - > O sistema deve ser facilmente operável, preferivelmente
porque, uma vez atravessado o vidro, os raios solares que pelo interior;
transportam o calor (a radiação térmica) alteram o seu
comprimento de onda e não conseguem voltar a sair através > Para evitar que a radiação térmica captada pelo próprio
do vidro, ficando detidos no espaço interior. Verifica-se, então, elemento de sombreamento seja transmitida para o interior,
o fenómeno que conhecemos como Efeito de Estufa. é importante garantir uma distância suficiente entre o elemento
Existe, no mercado, uma grande variedade de elementos de de sombreamento e o vão envidraçado para que a ventilação
protecção que são aplicados pelo exterior de vãos envidraçados, natural possa realizar-se;
para reduzirem ou controlarem a incidência da radiação solar:
palas, beirados, toldos, portadas, venezianas, persianas, > A oclusão nocturna deve melhorar o coeficiente de
estores de enrolar, estores metálicos orientáveis, ... mas nem transmissão térmica, contribuindo, no Inverno, para isolar
todos estes sistemas salvaguardam os aspectos qualitativos termicamente a envolvente e reduzir as perdas de calor.
ou estéticos pretendidos.

Como especificadores de sistemas de sombreamento exterior,


é muito importante que se avalie exactamente a função
pretendida e que se conheça o contexto cultural e climático
no qual estamos a intervir.
Luís Calixto
Aspectos a ter em consideração na especificação do sistema > O sistema pode ter uma função dupla invertida - a parte
de sombreamento exterior, tendo como objectivo controlar superior das lâminas poderá obscurecer os espaços interiores
a qualidade da iluminação natural que atinge os espaços e a parte inferior reflectir, de forma difusa, a radiação solar.
interiores:
> Mesmo quando está previsto que a operação do sistema
> O sistema especificado deve permitir controlar o nível de de sombreamento se faça manualmente, é importante efectuar,
luminosidade que se pretende admitir para o interior da sempre que possível, uma pré-instalação para electrificar a
habitação, facilitando a criação de uma diversidade de sua operação no futuro e para comandar à distância, porque,
atmosferas; durante a execução da obra, os custos de executar uma pré-
instalação são ínfimos, quando comparados com a sua
> O sistema pode ter uma função dupla - a parte superior execução após o termo da obra.
das lâminas poderá reflectir a iluminação solar para o tecto
do espaço, difundindo-a, fazendo com que chegue aos espaços O sistema de estores exteriores orientáveis para
mais recuados da habitação enquanto a parte inferior das obscurecimento representa um sistema de sombreamento
lâminas poderá estar orientada de forma a obscurecer, para exterior que contempla todos os aspectos anteriormente
não criar zonas de reflexo nem brilho nas superfícies de referidos. O sistema é composto por lamelas em alumínio
trabalho; com aproximadamente 6, 8 ou 10 cm de largura, que deslizam
em calhas laterais, comandadas de forma mecânica (manual)
ou por um motor eléctrico. Para além de as subir (recolher)
e baixar (descer), este sistema permite ainda orientar as
lâminas de forma a excluírem a radiação indesejada, ventilarem
os espaços interiores e deixarem ver o exterior. Reflecte até
COEFICIENTES DE TRANSMISSÃO TÉRMICA DE JANELAS FIXAS COM
CAIXILHARIA METÁLICA 80% dos raios solares e permite controlar a qualidade da
7 iluminação natural no interior.
6
6

5
4.5
3.9
4
3.2 3.5
3.1
3
2.9 2.6
2

0 Comparação de coeficientes de transmissão térmica para diferentes


Simples Duplo 6mm Duplo 16mm Duplo de baixa
tipos de vidro e espessuras em caixilharia metálica com e sem sistemas
de oclusão nocturna.
Caixilharia metálica sem oclusão nocturna Dados: Coeficientes de Transmissão Térmica de Elementos da Envolvente
Caixilharia metálica com oclusão nocturna dos Edifícios - LNEC 2006
A variante deste sistema, que oferece a possibilidade de, CARACTERÍSTICAS A PROCURAR NUM SISTEMA DE
simultaneamente, orientar as lâminas em dois ângulos SOMBREAMENTO EXTERIOR PARA VÃOS ENVIDRAÇADOS
diferentes, não só permite controlar a luz que entra mas, ORIENTADOS A SUL
também, regulá-la. A parte superior e a parte inferior das Com um sistema de lâminas horizontais orientáveis é possível
lâminas são orientáveis de forma independente. Com estes reflectir a radiação solar indesejada que incide sobre a fachada
estores é, por exemplo, possível fazer reflectir a iluminação Sul entre os ângulos de 28 e de 75 graus, enquanto o privilégio
natural para o tecto, transportando-a para as áreas mais de ver o panorama entre lâminas é mantido, porque o ângulo
recuadas dos espaços que habitamos. de visão é geralmente horizontal.

Outra variante deste sistema é composta por lâminas exteriores Quando é possível projectar para além do plano da fachada,
orientáveis, porém fixas - que não recolhem. Este sistema de as palas de sombreamento e os toldos revelam ser uma
sombreamento exterior pode ser instalado na vertical, para solução extremamente eficiente. Nos meses em que o sol
proteger janelas orientadas para Poente, ou na horizontal, está mais íngreme, estes sistemas de sombreamento protegem
para proteger clarabóias. do sol um volume de ar que se mantém mais fresco, e
proporciona, ao entrar na habitação, uma sensação de conforto.
Também as telas são uma solução a contemplar em situações Também os sistemas com lâminas poderão ter este efeito,
onde não se possam integrar sistemas de estores exteriores quando forem instaladas a uma maior distância da fachada
orientáveis de obscurecimento. Embora ofereçam uma menor com o vão envidraçado.
permeabilidade ao ar e à vista, quando se encontram em
posição de obscurecimento, trazem o benefício de proteger CARACTERÍSTICAS A PROCURAR NUM SISTEMA DE
do sol um maior volume de ar. Existem hoje sistemas verticais SOMBREAMENTO EXTERIOR PARA VÃOS ENVIDRAÇADOS
que deslizam num plano, entre calhas, paralelas à fachada ORIENTADOS A NASCENTE E A POENTE
ou ao corpo que sombreiam, e existem igualmente com braços O sol, a Nascente e a Poente, está sempre baixo, dado que,
projectantes - servindo efectivamente como toldos. nessas orientações solares, nasce e se põe ao nível do
horizonte. Assim, se pretendermos ver uma vista nessas
Sistemas de sombreamento, consoante a orientação solar: orientações, ao mesmo tempo que eliminamos a incidência
Para especificar o sistema de sombreamento exterior adequado dos raios solares, idealmente, o sistema de sombreamento
é importante compreender o comportamento do sol - que é exterior deveria ser constituído por lâminas orientáveis na
muito fácil de seguir. O ângulo no qual o sol incide sobre a vertical. Lâminas horizontais orientáveis permitem reflectir
superfície da terra é totalmente previsível, embora varie também a radiação solar indesejada, havendo, neste caso,
consoante a hora do dia e a estação do ano. que prescindir da vista quando o sol se aproxima do horizonte.
Os vãos envidraçados orientados a Poente são, no nosso
contexto climático, os que melhor poderão contribuir para o
sobreaquecimento da habitação. Esta vulnerabilidade faz com
que estes vãos tenham de usufruir da melhor sombreamento
possível.

162
PREVENÇÃO E MANUTENÇÃO superior a 44 km por hora, é importante manter recolhidos
Para facilitar a manutenção e limpeza, é essencial que, com os estores de lâminas de alumínio, afim de garantir a sua
as janelas abertas, o acesso ao sistema de sombreamento protecção.
seja possível - idealmente a ambas as faces.

É importante, quando o acesso à face exterior do sistema de


sombreamento não é fácil ou directo, que seja possível
desmontar-se aquela componente que carece de limpeza.
Os sistemas de sombreamento exteriores orientáveis devem
ser regularmente operados (subidos e descidos, abertos e
fechados), para que as suas partes móveis se mantenham a
funcionar. No caso de estores exteriores com lâminas de
alumínio orientáveis, é necessário fazê-los subir e descer
regularmente , para, desta forma, garantir a flexibilidade das
fitas e desobstruir as calhas através das guias das próprias
lâminas. Sempre que a previsão da velocidade do vento seja

Casa em Montemor-o-Novo

Pascalle

163
Nota: Os sombreamentos exteriores são normalmente aplicados após os isolamentos térmicos pelo que todas as fixações devem ser executadas
com o cuidado de garantir a estanquicidade à água da chuva.

O fornecedor de sistemas de sombreamento exterior contempla todos os aspectos descritos no âmbito desta medida.
Para obter mais informação especifica do gabinete de informação e apoio técnico:
CRUZFER
Parque Industrial ‘Meramar II’, Armazéns 11 e 12 Cabra Figa, 2635-047 Rio de Mouro
Tel: +351 219 255 300 | Fax: +351 219 255 310
E-mail: info@cruzfer.pt | www.cruzfer.pt

164
2.4.6 ISOLAMENTO TÉRMICO APLICADO DE FORMA
CONTÍNUA PELO EXTERIOR

165
Em Portugal o isolamento térmico é utilizado na construção execução, garantir a continuidade efectiva do isolamento
de edifícios desde a década de 1950 e é uma componente térmico;
essencial para o bom desempenho energético dos edifícios.
Obrigatório no sector da construção desde 1991, com a entrada 2) É improvável uma má execução, ou seja, “esquecer” a
em vigor do primeiro Regulamento das Características de colocação de placas, como tão frequentemente acontece
Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) o isolamento quando o isolamento térmico se encontra escondido entre
térmico tanto pode ser aplicado pelo interior das paredes da dois panos de tijolo (parede dupla), uma vez que todo o
envolvente de um edifício, como colocado na caixa-de-ar entre isolamento térmico aplicado pelo exterior permanece visível
paredes duplas, como ainda ser assente pelo exterior de um durante a sua aplicação em obra, facilitando a sua fiscalização;
edifício. Tem utilidade em qualquer destas aplicações, mas
é sobretudo numa, aquela pelo exterior do edifício, que o 3) A estrutura do edifício e todos os materiais pesados que
isolamento térmico tem a maior eficácia. compõem a envolvente são protegidos dos contrastes e
extremos de temperatura e das intempéries. Esta protecção
garante uma maior longevidade e a integridade física dos
materiais fundamentais, porque, desta forma, não sofrem
nem a fendilhação nem as micro-fissuras típicas em toda a
construção tradicional. Evita-se, assim, que estas micro-
fissuras absorvam água por acção capilar, água que deteriora
os materiais, sobretudo os metais;

4) O isolamento térmico, aplicado de forma contínua e pelo


exterior, faz com que a inércia térmica (dos materiais pesados
utilizados na construção) funcione a favor do clima interior,
contribuindo para que as temperaturas no edifício se
mantenham estáveis e dentro das amplitudes térmicas médias
do clima mediterrânico. Este comportamento resulta do facto
das envolventes (paredes exteriores) não permanecerem em
contacto directo com o exterior, estabilizando as temperaturas
no seu valor médio. Com ambas as medidas (o isolamento
térmico aplicado de forma contínua pelo exterior e a inércia
térmica), os extremos do clima mediterrânico não afectam o
equilíbrio térmico no interior do edifício;

5) Estes sistemas de isolamento térmico pelo exterior podem


ser igualmente aplicados na reabilitação de edifícios que não
possuam nenhum ou insuficiente isolamento térmico. Sendo
o sistema aplicado pelo exterior, é apenas necessário garantir
que o mesmo adira permanentemente à superfície exterior
existente e cuidar dos pormenores construtivos em volta de
vãos, nas cimalhas e beirados;
Um sistema de isolamento térmico com características
técnicas e espessura adequadas, aplicado de forma contínua 6) O aspecto com que ficará, poderá ser aquele que se desejar
e pelo exterior dos edifícios (pavimento térreo, paredes - com acabamento em reboco pintado (em qualquer cor), de
envolventes e coberturas), contribui mais para a optimização revestimento em pedra (colada ou fixada mecanicamente), de
do desempenho energético de um edifício, do que qualquer tijoleira de burro...;
outro sistema equiparável.
7) O Regulamento das Características de Comportamento
O Isolamento Térmico, aplicado de modo contínuo e pelo Térmico dos Edifícios (RCCTE) revisto, Decreto-Lei 80/06 de
exterior, apresenta as seguintes vantagens: 4 de Abril, contempla a contribuição das pontes térmicas para
o balanço energético negativo do edifício e obriga a soluções
1) É conseguida a eliminação de todas as pontes térmicas, que minimizem as pontes térmicas, como é conseguido pelos
que causam o aparecimento de condensações e, sistemas de isolamento térmico aplicados de forma contínua
consequentemente, de fungos em paredes interiores (ou em e pelo exterior.
compartimentos fechados), devendo, tanto o projecto como a
166
Existindo no mercado diversos sistemas de isolamento térmico APLICAÇÃO DO SISTEMA
que se aplicam pelo exterior, é importante salvaguardar as Passo 1: Sobre a face exterior da parede desempenada e limpa
seguintes características que variam conforme o sistema, e são coladas, por pontos de argamassa, as placas de
aconselhar-se com o projectista a quem cabe especificar o Poliestireno Expandido com marca CE, EPS60 não inflamável
sistema. Este, por sua vez, obtém as garantias do fornecedor: (mais conhecido como Esferovite), com um mínimo de 60mm
de espessura (sendo a sua especificação da responsabilidade
> O isolamento térmico utilizado (poderá ser poliestireno do Engenheiro de Térmica), para revestir pelo exterior as
expandido - mais conhecido por esferovite - ou lãs de rocha, paredes da envolvente do edifício na totalidade, de forma a
cortiça...) deverá possuir as características adequadas, criar uma superfície contínua, plana e homogénea;
incluindo as da sua durabilidade, as características isolantes
e a espessura correcta para o contexto específico; Passo 2: Em todas as arestas são assentes cantoneiras em
PVC com abas em tela tecida de vidro, para aumentar a
> O revestimento do sistema de isolamento térmico, aplicado resistência mecânica e uma melhor definição dos ângulos;
de forma contínua pelo exterior, deverá garantir a
permeabilidade ao vapor e a impermeabilidade à água - isto Passo 3: Sobre a superfície das placas de Poliestireno
significa que não deve criar barreira à troca gasosa, mas deve Expandido é aplicada uma tela tecida de vidro com 150g/m2
criar barreira à entrada de água líquida - o que, normalmente, e tratamento antialcalino (que se sobrepõe às abas da
fica assegurado sempre que a composição do revestimento cantoneira), embebida numa primeira camada de argamassa
exterior tenha base acrílica; acrílica e recoberta com uma segunda camada da mesma
argamassa, para garantir uma adequada resistência aos
> No revestimento existirá sempre uma camada de protecção impactos mecânicos correntes, podendo ser aplicada, nesta
mecânica (isto porque qualquer dos materiais é relativamente fase, uma segunda tela com 200 ou 560 g/m2, conforme o nível
resiliente), camada esta que terá que ser adequada à situação de resistência ao impacto que se pretenda;
específica do edifício. A protecção mecânica das argamassas,
inclui uma tela tecida de vidro através de cuja gramagem Passo 4: Sobre a última camada de primário acrílico são
múltipla oferece vários graus de resistência; aplicadas duas demãos de revestimento acrílico de composição
complexa (podendo a segunda demão ser pigmentada), para
> Para evitar que seja necessário pintar frequentemente o resistir às agressões ambientais típicas, como são a radiação
edifício, é importante diminuir a textura do acabamento exterior ultravioleta, a chuva batida e os fungos e algas.
final (tornando a superfície o mais lisa possível), sobretudo
em zonas com maior teor de humidade, tendo, nessas Alternativa ao Passo 4: Sobre o primário podem ser aplicados
condições, especificado que, ao revestimento final, sejam revestimentos rígidos, como a tijoleira de burro e mosaicos
adicionados mais fungicidas e algicidas. cerâmicos (ambos aplicados com cola), pedras naturais
(aplicado com cola ou com sistema de fixação mecânico de
suporte), sistemas metálicos ou fachadas ventiladas.

Aplicação do Sistema de Isolamento Contínuo pelo Exterior Dryvit.


Da esquerda para a direita: aplicação sobre face exterior da parede desempenada e limpa; Cantoneiras para aumentar a resistência mecânica e
melhor definição de ângulos; Aplicação da tela tecida de vidro e tratamento antialcalino sobre a superfície de placas de Poliestireno Expandido;
Sobre a última camada de primário são aplicados revestimentos finais (exemplo: duas demãos de revestimento acrílico, revestimentos mosaicos
cerâmicos ou revestimentos pétreos).
QUANTIFICAÇÃO DO IMPACTO DA MEDIDA; ISOLAMENTO MANUTENÇÃO
TÉRMICO APLICADO DE FORMA CONTÍNUA E PELO EXTERIOR É necessário proceder, tal como em todos os materiais, à
- O Isolamento Térmico aplicado em contínuo pelo exterior manutenção adequada do isolamento exterior para que este
garante elevados níveis de conforto no interior. possa desempenhar o papel para o qual foi especificado. No
A capacidade de isolamento térmico de um elemento da caso destes sistemas, a única manutenção que se recomenda
envolvente de um edifício (fachada, cobertura ou pavimento) é a lavagem à pressão ou a pintura (embora esta nem sempre
é traduzida pelo respectivo “coeficiente de transmissão seja necessária). A pintura de um sistema de isolamento
térmica”. Quanto maior for este coeficiente menos capacidade térmico, aplicado de forma contínua e pelo exterior, deve
de isolamento terá o elemento. sempre ser aquela recomendada pelo fabricante
(eventualmente passando pela aplicação de uma demão do
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO SISTEMA DE ISOLAMENTO revestimento do próprio sistema). Porém, optando por uma
TÉRMICO EXTERIOR pintura com tinta, é de extrema importância que a tinta seja
Fornecimento e colocação de sistema de isolamento térmico permeável ao vapor.
pelo exterior (tipo “ETICS” ou “EIFS”) composto por Poliestireno
Expandido M1 (não inflamável) tipo EPS 60 (15 kg/m3) a colar
por pontos ao suporte; Tela tecida de vidro com 150 g/m2 a
estender em toda a superfície opaca - com ourelas sobrepostas
- entre duas camadas de primário;

Cantoneira em PVC com 200 mm de abas acopladas em tela


tecida de vidro, a contornar todos os vãos e cunhais;
Argamassas com origem no mesmo fabricante para garantir
a compatibilidade: um Primário acrílico para a colagem por
pontos e os barramentos em camada dupla e um revestimento
acrílico em duas camadas, com a pigmentação escolhida a
ser incorporada na camada final. As placas terão, pelo menos,
60 mm de espessura, conforme definido em desenhos de
pormenor ou equivalente. Incluem todos os trabalhos e
fornecimentos necessários para um perfeito acabamento,
sempre de acordo com as indicações do projecto.

Isolamento Térmico pelo Exterior em Coberturas de Laje Maciça


2
Coeficiente de Transmissão Térmica

1.5 1.4

1
0.67
0.43 Comparação de coeficientes de transmissão
0.5 térmica para diferentes espessuras de
0.29
isolamento térmico exterior em poliestireno
expandido (EPS) em coberturas de laje maciça.
0 Dados: Coeficientes de Transmissão Térmica
sem isolamento 30 60 100 de Elementos da Envolvente dos Edifícios -
Espessura do Isolamento Térmico Contínuo Exterior - EPS (mm) LNEC 2006

168
LAJE DE COBERTURA
1 - Protecção à radiação solar. A esteira horizontal da cobertura deverá
ser protegida dos efeitos da radiação (ex: revestimento vegetal, pérgolas,
coberturas inclinadas).
2 - espessura tal que Kcamada < 0,6 W/m2.ºC (isolamento térmico
contínuo ex.: poliestireno expandido (injectado com CO2) e uma espessura
de 0,1 m)
3 - espessura = 0,005 m (ex.: camada exterior de regularização com 0,05
m de espessura e camada de impermeabilização de espessura menor
ou igual a 0,004 m)
4 - 0,25 m = espessura = 0,35 m (laje aligeirada ex.: bloco cerâmico de
2 furos com 0,22 x 0,20 x 0,25 m e betão);
5 - espessura = 0,02 m (camada de regularização. ex.: chapisco de 0,005
m e reboco de 0,015 m);
6 - espessura = 0,003 m (revestimento superficial interior - ex.: tinta
aquosa com 0,001 m de espessura);
Nota: especificação feita por: Edifícios Saudáveis Lda

PAREDES EXTERIORES
1 - espessura = 0,003 m (revestimento superficial interior - ex.: tinta
aquosa com 0,001 m de espessura);
2 - espessura = 0,05 m (camada de regularização. ex.: chapisco de 0,005
m, emboço de 0,02 m e reboco de 0,005 m);
3 - 0,25 m = espessura = 0,35 m (alvenaria em tijolo ex.: tijolo cerâmico
0,23 x 0,11 m);
4 - espessura = 0,03 m (camada de regularização. ex.: chapisco de 0,05
m e emboço de 0,02 m);
5 - espessura tal que Kcamada < 0,6 W/m2.ºC (isolamento térmico
contínuo ex.: poliestireno expandido (injectado com CO2) e uma espessura
superior a 0,06 m);
6 - sem especificações (camada exterior de regularização ex: sistema
DRYVIT);
7 - revestimento superficial exterior opcional (ex.: camada de tinta branca
à base de óxido de titânio com 0,001 m de espessura);
8 - protecção solar contínua ou descontínua, conveniente mas não
obrigatória (ex.: cortina vegetal, fachada ventilada com revestimento
superficial)

Nota: especificação feita por: Edifícios Saudáveis Lda

LAJE DE PAVIMENTO
1 - espessura = 0,005 m (revestimento superficial superior - ex.: tijoleira
com 0,01 m de espessura.1 - enrocamento e terra compacta;
2 - espessura = 0,005 m (revestimento superficial superior - ex.: tijoleira
com 0,01 m de espessura.
3 - 0,25 m = espessura = 0,35 m (laje aligeirada - ex.: bloco cerâmico
de 2 furos com 0,22 x 0,20 x 0,25 m e betão);
4 - isolamento suficiente para garantir que o conjunto obedeça à condição
de K=1,0W/m2.ºC (isolamento térmico contínuo - ex.: poliestireno
expandido com 0,03 m de espessura);
5 - sem especificações (camada de regularização e acabamento
superficial);
6 - enrocamento e terra compacta.

Nota: especificação feita por: Edifícios Saudáveis Lda

Apontamento:
O isolamento térmico com as características correctas, aplicado de forma contínua e pelo exterior, é o sistema mais adequado para o
clima mediterrânico, porque permite a eliminação de pontes térmicas, potencia o efeito positivo da inércia térmica sobre o clima interior
e facilita a verificação da boa execução durante a fase de construção.

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Nota: É importante garantir a continuidade, sem qualquer interrupção do isolamento térmico evitando a existência de qualquer ponte térmica.

O fornecedor do sistema DRYVIT®, responsável pela sua produção e aplicação, contempla todos os aspectos relacionados com a
construção sustentável descritos no âmbito desta medida. Para obter mais informação especifica do gabinete de informação e apoio
técnico:
ESFEROVITE, S.A.
Avenida D. António Correia de Sá, 98, Ral 2705-905 | Sintra
Tel: +351 217 780 943 | Fax: +351 217 786 866
E-mail: esferovite@esferovite.com | www.dryvit.pt

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Joaquim Henriques

2.4.7 INÉRCIA TÉRMICA

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A optimização da inércia térmica na região do clima Para optimizar o contributo da inércia térmica, é importante
mediterrânico tem sido uma técnica generalizada, ao longo evitarmos que os materiais pesados (o betão, os tijolos, os
de muitos séculos, para assegurar condições de conforto rebocos) sejam predominantemente revestidos com outros
térmico no interior de edifícios. É certo que, no passado, não materiais leves (tectos falsos, alcatifas, madeiras...). Qualquer
existiam os mesmos materiais de construção a que destes materiais leves de revestimento funciona como um
actualmente temos acesso, nem as pessoas viviam as vidas isolante e interrompe o intercâmbio térmico que se pretende
sedentárias que hoje vivem, no entanto, a inércia térmica manter entre os materiais com elevada inércia térmica e o
continua a ter um papel fundamental na criação de um clima ambiente interior. Isto não significa que não seja adequado
interior estável e confortável nas habitações.

A inércia térmica é especialmente relevante em climas sujeitos


a grandes amplitudes térmicas em curtos espaços de tempo
- uma das características do clima em Portugal. São os
materiais pesados e maciços que constituem a inércia térmica
dos edifícios e, quando bem aplicados, conferem aos espaços
interiores uma maior estabilidade térmica. Como é indicado
pela palavra 'inércia', estes materiais pesados interagem
muito lentamente com as temperaturas do meio que as rodeia
e armazenam as respectivas temperaturas médias, porque
as temperaturas de pico (quente e frio) não se mantêm durante
suficiente tempo para serem acumuladas por estes materiais.

Em Portugal, a temperatura média do clima, durante a maior


parte do ano, mantém-se entre os 18 e os 26ºC, contribuindo
a inércia térmica, por este motivo, para uma estabilidade do
clima no interior e para o conforto.

Uma vez armazenada a temperatura média ambiental, a


interacção de um elemento de construção maciço com o clima
interior é muito positiva, porque, quando não é obstruída,
irradia continuamente para os espaços interiores a mesma
temperatura média que armazenou. Para o exterior é essencial
que se minimizem as perdas térmicas, pelo que é importante
conjugar a inércia térmica com o isolamento térmico,
idealmente aplicado de forma contínua e pelo exterior.

Em pleno Verão, todos conhecemos a sensação de frescura


quando entramos numa igreja construída com paredes maciças
em granito - e, no Inverno, a sensação, também de conforto,
em que o interior da mesma está a uma temperatura superior
ao frio que faz no exterior. Este é o efeito da inércia térmica
em pleno funcionamento.

A solução actual não passa, certamente, por construirmos A inércia térmica no comportamento térmico dos edifícios:
Imagem de cima:
edifícios habitacionais com a inércia térmica de igrejas, também Manhã: o calor proveniente das actividades no edifício e proveniente do clima
porque as tecnologias e os materiais disponíveis na construção exterior é armazenado nos elementos pesados da construção (nas paredes
e nas lajes do edifício) que estão em contacto directo com o ar. Este calor
contemporânea dispõem, além desta, de soluções construtivas armazenado será libertado apenas quando a temperatura do ar no interior
que optimizam o efeito da inércia térmica e permitem uma da habitação for inferior à temperatura dos elementos pesados da construção,
procurando sempre o equilíbrio.
interacção positiva com o clima em muitas outras vertentes. Imagem do meio:
Tudo passa pela construção de edifícios habitacionais com Tarde: em dias de calor, os elementos pesados da construção, que ao
acumularam o calor ao longo do dia o retiram do ar interior (aumentando o
estruturas pesadas (paredes, pavimentos e coberturas), muito conforto térmico), poderão ficar saturados.
bem isoladas termicamente, que permitam uma relação Imagem de baixo:
Noite: nas noites que seguem dias de calor a ventilação com o ar fresco
directa (por armazenamento e radiação) com o ambiente nocturno permite a libertação do calor acumulado nos elementos pesados
interior. da construção, “preparando-as” para absorver o calor do dia seguinte.

172
integrar, numa habitação, um pavimento em madeira, também em contacto directo com o ambiente interior, influencia
porque é muito elevado o conforto táctil sentido ao tocarmos também o seu comportamento, na medida em que as cores
um material com baixo grau de inércia térmica, como a claras reflectem melhor a radiação (por absorverem menos)
madeira. Efectivamente, é importante atingir-se uma porção e são ideais para climas mais quentes, como o Centro e o Sul
adequada de intercâmbio directo entre a inércia térmica de Portugal, enquanto as cores mais escuras absorvem mais
disponível e o ambiente interior - proporção que deverá integrar radiação, o que aumenta a temperatura nos espaços interiores,
os contributos do Engenheiro Térmico. pelo que a sua adopção é recomendada em climas mais frios,
como no Norte de Portugal. Conjugar a definição das cores
Para optimizar o desempenho energético-ambiental do edifício, que revestem áreas de inércia térmica elevada com a incidência
é importante que a inércia térmica seja adaptada e integrada sazonal dos raios solares, é mais um contributo para a
com outras estratégias de optimização do desempenho. optimização do conforto. Por exemplo, se uma parede interior,
Em primeiro lugar está a conjugação da inércia térmica com sobre a qual os raios solares apenas incidem no Inverno (e é
o isolamento térmico, aplicado de forma contínua e pelo possível determinar esta característica em projecto, calculando
exterior, ou seja, a forma como melhor se alcança o contributo o ângulo e a orientação solares), for pintada com uma cor
positivo do armazenamento das temperaturas médias do mais escura, a sua eficiência de armazenamento e libertação
clima que favorecem o conforto no ambiente interior, além de calor no Inverno, quando o mesmo é desejado, poderá
de proteger as fachadas do risco de fissurarem. Sabendo que aumentar.
as temperaturas médias vão ser continuamente armazenadas
pelos materiais pesados, é importante evitar que os extremos A inércia térmica implica a utilização de materiais pesados
(quente e frio) afectem este armazenamento directamente. na construção - betão, tijolos, rebocos, estuques, pedra ...
Assim, é o isolamento térmico associado à inércia térmica - materiais que, dado o modo como são aplicados, exigem
que protege o ambiente interior das grandes amplitudes tempos de secagem que tornam a construção mais lenta. Na
térmicas, típicas do clima português. óptica do curto prazo, em que a pressão financeira é grande
para o produto imobiliário ser rapidamente comercializado,
A conjugação da medida “inércia térmica” com a medida os tempos de construção tornam-se uma importante
“ventilação natural” torna-se especialmente importante condicionante a minimizar e, por sua vez, torna-se irresistível
durante as noites de Verão, porque permite que o calor a tentação de construir edifícios leves (com estruturas
acumulado nos materiais pesados seja libertado durante a metálicas ou em madeira). É de extrema importância que
noite e, pela conjugação descrita, seja restabelecida a sejam optimizados os prazos de execução em obra para
capacidade de acumular e absorver o calor excessivo durante soluções construtivas que ofereçam a inércia térmica adequada
o dia seguinte, mantendo o ambiente interior confortável. É e necessária neste clima, para se evitar que sejam substituídas
possível evitar, deste modo, a saturação da inércia térmica por soluções que não contribuem para o bom desempenho
disponível por acumulação de calor. Este ciclo, quando bem energético do edifício.
gerido, pode conferir, durante o Verão, o conforto que se deseja
nos espaços interiores de uma habitação. Em toda a faixa de clima mediterrânico, a inércia térmica é
uma medida essencial para a optimização do desempenho
A cor das superfícies condiciona igualmente a sua capacidade energético-ambiental de edifícios habitacionais, porque
de absorção térmica e de reflexão da luz. Adaptar a inércia constitui uma fonte de energia térmica estabilizante durante
térmica também à cor com a qual é revestida a sua superfície, toda a duração dos edifícios.

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Nota: A inércia térmica é uma das medidas mais eficazes para aumentar o conforto em edifícios habitacionais no contexto climático mediterrânico.
deve ser colocada de forma a funcionar a favor do clima interior, protegida dos contrastes de temperatura no exterior.

O fornecedor de materiais de construção – betões, argamassas e agregados – contempla todos os aspectos relacionados com a construção
sustentável descritos no âmbito desta medida. Para obter mais informação especifica do gabinete de informação e apoio técnico:
Betecna - Betão Pronto SA - LAFARGE
Rua Quinta das Palmeiras 91-1º A|B|C. 2780-154 Oeiras
Tel: +351 214 569 410 | Fax: +351 214 569 439
E-mail: info@betecna-lafarge.com | www.betecna.pt

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