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INTRODUÇÃO
Em se tratando da escolarização de pessoas que não tiveram acesso e/ou tiveram que se
evadir do espaço escolar por motivos sociais diversos, isto é, jovens e adultos, a situação ainda se
torna mais séria. Os investimentos governamentais e procedimentais de afirmação de um processo
educacional para jovens e adultos não estão abrangendo a problemática advinda dos paradigmas
Modernos. O homem Moderno ao estabelecer o antropocentrismo histórico na tentativa de
padronização dos modos de pensar e agir fez com que se alargasse o abismo entro os diversos setores
da vida humana. Segundo C. Marques (2001) a sociedade Moderna é caracterizado por ser “[...]
disciplinar ou normalizadora [...] um ambiente repleto de confinamentos” (p. 32).
O conhecimento construído por esses indivíduos é, assim, desvalorizado, por não conter
rastros de cientificidade e não ser corroborado pelos escritos técnicos e reflexões filosóficas do ponto
de vista da verdade. Segundo as reflexões de Freire (1994) sobre a dinâmica hierárquica social, os
homens considerados “iletrados” reconhecendo-se como incapazes introjetam sua condição de
oprimidos, ou seja, excluídos da sociedade, pois detém, apenas, o conhecimento ao nível da pura
opinião (doxa). E neste artigo defendemos a corrente filosófica que valoriza homens e mulheres em
sua vocação ontológica para ser mais (FREIRE, 1994) e de extrema interdependência com o entorno
ambiental no qual vive.
Um dos fatos que se faz presente em nossa vida, indiscutivelmente, é a intrínseca relação
entre ciência e homem. E, sendo assim, está presente na vida de todos os seres vivos. Isto é
comprovado na observação de tudo o que nos cerca desde um aflorar das águas até a contemplação de
um ponto luminoso que sustenta-se na imensidão do Universo.
Gadottti (2000) ao refletir sobre a veiculação de informações nos bancos escolares no que
tange a problemática da relação homem-natureza e observando a degradação do ambiente se recorda
que Estudei a Terra como se estivesse dissecando uma barata.
É a partir desses apontamentos supramencionados que educadores devem refletir sobre o que
tem promovido dentro de suas salas de aula. Parece incoerente abordar às questões ambientais numa
classe de jovens e adultos sem a troca dialógica com esses educandos. Cabe lembrar que cada
indivíduo ingresso na educação de jovens e adultos já possui toda uma bagagem existencial, que é
menosprezada e infantilizada pelos educadores. Ao tratar do assunto planeta Terra, nos deparamos
com um ensino livresco que distorce as proporções geográficas reais e não dialoga com as
experiências vivas advindas dos educandos.
Antes de entrar para o status de ser educando, o indivíduo é cidadão acima de tudo, portanto,
é um ser de diversas identidades e funções: ser-mãe ou ser-pai; ser-filho ou ser-filha; ser-índio, branco
ou negro; ser-consumidor; ser-observador; ser-dedireitos; ser-de-deveres; ser-comunitário; ser-
histórico entre outras. A teoria cultural contemporânea tem destacado alguns movimentos para
subverter e complicar a identidade, que foi chamada por Baudelaire e retomada por Benjamin como
identidade móvel. Os processos de hibridação, miscigenação, sincretismo e travestismo são assim,
contribuidores para essa dinâmica da produção da identidade e da diferença e é, ao mesmo tempo, uma
poderosa estratégia política de questionamento das operações de fixação da identidade. (SILVA, 2003)
Em pesquisa realizada com a metodologia da observação crítica em algumas escolas das
redes estadual e municipal da cidade de Juiz de Fora/MG (S. ROMUALDO, s.n.t.) percebemos que
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conteúdos como Ecossistema, que envolvem o estudo sobre o meio ambiente como um todo é feito de
forma tradicional e inteiramente estanque do modus vivendi dos educandos. Falar de plantas sem falar
das verduras e hortaliças que dispomos em nossas refeições; falar das frutas e seus nutrientes sem falar
da nossa própria saúde; falar das camadas da atmosfera sem fazer menção às transformações
climáticas; enfim, é algo que deve ser desvelado nas práticas docentes. Ou seja, a escola tem sido algo
sem gosto, sem cor, sem vida e desconectada das dialéticas redes de interação humana.
Essa situação fica evidenciada na prática, onde Carneiro (2007), descreve as seguintes
situações nas escolas públicas do Brasil:
Diante desta situação, verifica-se que práticas pedagógicas do ensino de Geografia estão ultrapassadas,
verificando o altíssimo índice de analfabetos cartográficos inclusive na EJA, uma vez que a limitação
do uso inadequado ou da não utilização da linguagem cartográfica é uma realidade em nossas escolas.
A exemplo disso temos o caso de Juiz de Fora, município de grande destaque e importância
na Zona da Mata Mineira. A Educação de Jovens e Adultos é desenvolvida pela Prefeitura Municipal
através do “Projeto Caminhar II”, oferecido pelo Departamento de Educação de Jovens e Adultos, um
setor da Secretaria Municipal de Educação. O projeto oferece Ensino Fundamental e Médio nas
modalidades de ensino modular e semi-presencial às pessoas que não concluíram em idade apropriada
seus estudos.
Nas instituições particulares, federais e estaduais também estão sendo oferecidos tal
modalidade sob a forma de projetos, com algumas diferenças: nas redes particulares o objetivo é
vincular-se à parceria comunitária, tendo em vista a sua não obrigatoriedade no oferecimento da EJA;
na rede federal os projetos contam com o quadro pessoal de alunos-bolsistas de diferentes licenciaturas
da UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora – para a alfabetização, o que prejudica o trabalho
pedagógico pela não apreensão de métodos e técnicas pedagógicas, mesmo com um curso intensivo de
alfabetização em poucos meses; já na rede estadual, o que vemos é um oferecimento de Exames
Supletivos para a conclusão dos Ensinos Fundamental e Médio, sendo que tal exame fica a cargo de
serviços terceirizados, que se responsabilizam por todo o processo de seleção, e ainda os interessados
pagam uma taxa para fazer a prova por cada disciplina.
Nesse sentido, o que temos presenciado na cidade de Juiz de Fora é que a promoção das
políticas públicas de educação de Jovens e Adultos não tem contemplado e objetivado suas funções.
Isso vai desde a estruturação (aspectos pedagógicos, administrativos e de funcionamento) de tal
modalidade até a questão do financiamento, mesmo que isso esteja em documentos oficiais. O que
existe na realidade são programas e projetos educacionais paliativos e efêmeros, que mascaram o
descompromisso público com a EJA. E para crescer ainda mais esta bolha social acrescenta-se a
superficial formação de educadores nos centros superiores de ensino e o planejamento curricular que
deve ser sistêmico e ágil.
Brasileira Federal de 1988, que explicita em suas alíneas referentes à educação que esta deve visar “o
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” (CF, art. 205).
Em 2000, o Conselho Nacional de Educação aprovou Resolução 1 e o Parecer 11 que
fixaram Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos já que o Ministério da
Educação ficou com a função de regular e controlar as ações da EJA. Assim, o governo federal ficou
encarregado de fixar diretrizes e referenciais curriculares nacionais, instituir diretrizes para
certificação, bem como a criação de programas de formação de educadores (DI PIERO &
GRACIANO, 2003).
O documento elaborado na declaração de Hamburgo em 2000, “Direito a Aprender por
Toda a Vida”, reconhece e enfatiza a todo o momento sobre essa educação continuada que não se
restrinja só aos bancos escolares em determinado período de tempo. O que se almeja com tal
idealização é que as pessoas aprendam muito mais que o conhecimento científico que a escola veio
organizar em “grades” curriculares; que as pessoas possam aprender artes de ofício cotidiano para o
desenvolvimento econômico, cultural e ambiental, além de estar preparado para as novas tecnologias
do mundo. Educar para toda a vida vai além do cientificismo sistematizado, encontra caminho para a
transformação no decorrer da vida e com o mundo.
A nível teórico constatamos o movimento governamental para que se efetive tais
adequações, basta acessarmos o sítio eletrônico do governo federal, porém ao depararmos com o nível
da práxis é que chocamos com os dados já explicitados no decorrer deste artigo. Mesmo sabendo que a
parcela de jovens e adultos analfabetos está diminuindo, conforme pesquisas do MEC/INEP, o grau de
aprofundamento do estudo de jovens e adultos não tem continuidade.
Sendo assim, o conhecimento da ciência geográfica nas classes da EJA, devem ser
significativos. Fazer com que o educando participe do processo educativo é algo que deve subsidiar a
prática docente, que por vezes limita-se à veiculação vertical de transmissão dos conteúdos, o que é
chamado de concepção bancária de educação (Freire, 1994). Nas chamadas utopias da Atualidade é
que concentramos nosso pensamento e nos baseando que
A formação de docentes, assim, deve ser aquela orientada para práticas libertadoras e com
respaldo curricular baseado na significação consciente dos conteúdos. Com o objetivo de estabelecer
orientações para a proposta curricular do ensino de Geografia é que Callai (1999) citado por
Cavalcanti (2006) nos revela que:
Mediante o contexto do ensino de Geografia na EJA, vê se que essa ciência é dinâmica e que
seu ensino não se limita à sala de aula. A Geografia está presente diariamente em todas as nossas
ações, seja nas relações de trabalho, seja nas relações pessoais entre outros. Segundo nos atesta
Kaercher apud Castrogiovanni (1998)
E, além disso, Romualdo (2005) ainda reflete sobre a função dos educandos que na realidade
são
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivemos em mundo cada vez mais complexo devido às grandes transformações espaciais,
entendido como um todo-dinâmico que dialoga com todos os diversos setores da sociedade. E os
atores sociais possuem intrínseca relação com todo esse escopo social, e desta forma precisam nutrir-
se e munir-se de estratégias e conhecimentos para exercer plenamente a sua cidadania. Daí a
necessidade da promoção da Educação de Jovens e Adultos: fomentar os cidadãos para a
contemplação do todo-dinâmico social.
O ato de educar todo e qualquer ser humano constitui-se a base para o progresso da
sociedade, na medida em que um cidadão crítico, reflexivo e com a capacidade de ação sobre sua
realidade é a condição para que o desenvolvimento social se processe de forma a possibilitar uma
qualidade de vida a todos. As novas demandas sociais exigem cada vez mais um ser capaz de
transcender sua condição de mero expectador acrítico do seu entorno rumo a um agente transformador.
Tal transformação e os novos arranjos sociais – novas formas de produção, inovações tecnologias, a
questão ambiental, sistema político entre outros – só vão se efetivar quando tivermos diante do mundo
uma relação homem-mundo mais ativa e consciente.
No tocante ao ensino de Geografia e a construção de conhecimentos é preciso uma prática
docente voltada para a adequação aos paradigmas emergentes da Atualidade. Foi-se o tempo de uma
pedagogia tradicional, bancária (Freire, 1994), onde as aulas baseavam-se numa transmissão acrítica
do conhecimento e os conteúdos eram expostos. O ensino de Geografia de qualidade é aquele que se
constrói e trabalha a partir de diferentes realidades.
Os procedimentos educacionais também devem ser transformados. A adequação
metodológica é um dos imperativos sociais para a visualização de um processo educativo mais eficaz.
É nesse ínterim que Gadotti (s.n.t.) nos alerta para a não infantilização pedagógica no tratamento dos
conteúdos aos jovens e adultos e além disso,
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Outra consideração se faz pertinente, onde não é justificável que a geografia, sendo uma
ciência que se propõe a tratar da organização espacial de elementos naturais e humanos, negligencie a
importância da cartografia para a representação, descrição e análise da distribuição dos fenômenos
estudados. As colocações desenvolvidas neste artigo têm o propósito de promover um debate em torno
da necessidade urgente de se tomar várias decisões à respeito do ensino da geografia escolar,
principalmente na EJA; entre elas a reestruturação da grade curricular das faculdades e universidades
que formam professores de geografia e a habilitação de docentes das séries iniciais no tocante ao
ensino da cartografia, de forma que os professores de Geografia reflitam o seu papel docente e
percebam a importância de se erradicar o analfabetismo cartográfico.
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rosângela Doin de. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo:
Contexto, 2004.
CARNEIRO, Andrea Flávia Tenório e SILVA, Paulo Roberto Florêncio. de Abreu e. A educação
cartográfica na formação dos professores de Geografia: a situação em Pernambuco, 2007. In:
XXI Congresso Brasileiro de Cartografia, disponível em http://www.cartografia.org.br/xxi_cbc/039-
E04.pdf, acesso em 18/02/09.
DI PIERRO, Maria Clara; GRACIANO, Mariângela. A educação de jovens e adultos no Brasil. São
Paulo, Ação Educativa, 2003 Disponível em: www.acaeducativca.org/relorealc.pdf
MARQUES, Carlos Alberto. A imagem da alteridade na mídia. 2001. 248p. Tese (Doutorado em
Comunicação e Cultura)-Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2001.
PASSINI, Elsa Yasuko. Alfabetização Cartográfica e o livro didático: uma análise crítica. Belo
Horizonte, MG: Lê, 1994, p.09-41.
PAULO FREIRE, 5., 2005, Recife. Anais... Recife: Centro Paulo Freire – pesquisas e estudos, 2005.
ROMUALDO, Anderson dos Santos; MAGALHÃES, Abigail Guedes; LIMA, Maria Cristina Garcia;
PEREIRA, Regina Coeli Barbosa. A formação de professores para a diversidade na perspectiva de
Paulo Freire. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL
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