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COMUNICAÇÕES BREVES

Os diuréticos efetivamente determinam em comparação com as obtidas nos estudos iniciais.


alterações metabólicas que limitam Considerando a eficácia anti-hipertensiva dos diuréticos
em monoterapia, o sinergismo terapêutico com os demais anti-
seu uso no tratamento da hipertensivos, a boa tolerância e o custo baixo, os diuréticos
hipertensão arterial? permanecem como agentes de primeira linha no tratamento
da hipertensão. As alterações metabólicas são facilmente
MICHEL BATLOUNI contornáveis com doses adequadas e dieta apropriada, e não
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia — devem constituir limitação a seu uso clínico.
São Paulo — SP

A meta-análise publicada em 1990 de vários ensaios clí-


nicos sobre o tratamento da hipertensão arterial com diuréticos, Emergências e urgências hipertensivas
nas altas doses tradicionais, demonstrou que o controle eficaz
da pressão arterial associou-se a redução importante da morbi- MARCUS VINÍCIUS BOLÍVAR MALACHIAS
mortalidade cerebrovascular, consistente com as expectativas Instituto de Hipertensão Arterial de Minas Gerais —
baseadas em dados epidemiológicos. Entretanto, a redução Belo Horizonte — MG
da morte súbita e dos eventos coronários foi menor que a es-
perada. Uma das hipóteses aventadas para explicar essa dis- A hipertensão arterial é uma das disfunções clínicas de
crepância fundamentou-se nos efeitos metabólicos adversos maior prevalência em pacientes ambulatoriais, internados, ou
dos diuréticos, especialmente quando doses elevadas são usa- nos serviços de pronto atendimento, seja como causa princi-
das e medidas higienodietéticas não são prescritas para limi- pal, secundária, ou achado ocasional do exame clínico. Além
tar ou prevenir esses efeitos. disso, já há muito se sabe que cerca de um quarto dos pacien-
As alterações lipídicas conseqüentes ao uso de diuréticos tes, hipertensos ou não, podem apresentar elevação tensional
são reconhecidas de longa data, tendo sido descritas elevação de alarme durante o atendimento médico. Assim, inúmeros
dos níveis séricos de colesterol total (4% a 5%, em média), de pacientes que procuram atendimento em serviços de urgência
LDL-colesterol (cerca de 10%), e de VLDL-colesterol e são erroneamente diagnosticados como portadores de “crises
triglicerídeos (10%, em média). HDL-colesterol e suas hipertensivas”, recebendo tratamentos hipotensores com po-
apoproteínas mais importantes, apo-A1 e apo-A2, não se mo- tenciais riscos de iatrogenia.
dificam. Em conseqüência, os índices LDL/HDL-colesterol e Devemos considerar como emergências hipertensivas si-
colesterol total/HDL-colesterol são freqüentemente elevados. tuações de acentuada elevação da pressão arterial, que reque-
Existem controvérsias quanto à magnitude e principalmente rem imediata redução das cifras tensionais devido ao risco
quanto à duração dessas alterações. Alguns estudos demons- iminente de morte, lesão aguda, ou progressão de lesão em
traram persistência dos efeitos a longo prazo, outros eviden- algum órgão-alvo. A Tabela I apresenta as principais causas
ciaram sua atenuação ou desaparecimento após um ou dois de emergências hipertensivas. As urgências hipertensivas são
anos de tratamento. caracterizadas por importante aumento das cifras pressóricas,
Pacientes em uso de diuréticos em doses altas podem tam- porém sem sintomas de gravidade ou sinais de risco iminente
bém apresentar distúrbios do metabolismo glicídico, caracte- de comprometimento dos órgãos-alvo, requerendo a redução
rizados por diminuição da sensibilidade ou aumento da resis- da pressão arterial de forma mais lenta e gradual.
tência à insulina, piora da tolerância à glicose, precipitação A avaliação do paciente em “crise hipertensiva” deve ser
de diabetes clínico e controle mais difícil do diabetes. A objetiva, porém sem omissão de importantes informações e
hiperinsulinemia compensatória pode contribuir para a acen- análises que deverão orientar o diagnóstico, o tratamento e a
tuação das alterações lipídicas. evolução de cada caso. A história clínica deve esclarecer quanto
Contudo, estudos mais recentes demonstraram que ao diagnóstico prévio de hipertensão arterial, medicamentos
diuréticos são eficazes no tratamento da hipertensão em do- em uso, utilização de vasopressores (drogas ilícitas, simpati-
ses nitidamente mais baixas (25 mg/dia ou 12,5 mg/dia de comiméticos), intolerâncias ou alergias medicamentosas, sin-
hidroclorotiazida ou clortalidona) do que as inicialmente tomas de disfunção visual, cerebral ou cardíaca e possibilida-
empregadas (50 mg/dia a 100 mg/dia). Tais doses associam- de de hipertensão de causa secundária. No exame físico, além
se a alterações menos significantes do perfil lipídico e da monitorização pressórica, a fundoscopia, as avaliações car-
glicídico, as quais podem ser prevenidas por dieta adequada. diopulmonar e neurológica sucintas e a pesquisa da viabilida-
Alguns estudos mais recentes em hipertensos idosos eviden- de de acesso venoso são informações adicionais importantes.
ciaram redução similar dos eventos cerebrovasculares e redu- A avaliação laboratorial, quando disponível, deve constar de
ção maior dos eventos coronários com doses baixas de diuréticos, hemograma, urina rotina, creatinemia, glicemia e eletrólitos

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Hipertensão acelerada/maligna com papiledema Existem muitos motivos pelos quais o uso de nifedipina
Cerebrovascular deveria ser abandonado no tratamento das crises hipertensi-
— Encefalopatia hipertensiva vas. Inicialmente, com relação à via de administração, é im-
— Infarto cerebral isquêmico com hipertensão grave portante lembrar que o uso oral do conteúdo líquido das cáp-
— Hemorragia intracerebral sulas de nifedipina produz os mesmos efeitos, não se justifi-
— Hemorragia subaracnóide cando sua utilização sublingual. A absorção do fármaco ocor-
— Trauma encefálico re no trato gastrointestinal, e não pela via sublingual, tem iní-
Cardíaca cio de ação em 10 minutos, efeito máximo em 30-40 minutos
— Dissecção aórtica aguda e duração de 3-5 horas. Sua resposta hipotensora é individual
— Insuficiência ventricular esquerda e imprevisível, podendo variar de leve ou ineficaz a intensa,
— Infarto do miocárdio com risco de hipotensão de difícil controle. Portanto, não se
— Angina instável justifica seu emprego nas emergências hipertensivas, onde a
— Per e pós-operatório de cirurgia cardíaca ação anti-hipertensiva deve ser imediata, previsível, titulável
Renal e prontamente reversível. Tais características são atributos das
— Glomerulonefrite aguda medicações injetáveis, cuja indicação é inquestionável nessas
— Colagenoses situações. Já nas urgências hipertensivas, espera-se que a te-
— Hipertensão grave pós-transplante renal rapêutica assegure redução gradual da pressão arterial, não
Excesso de catecolaminas em minutos mas em horas, para que não ocorram variações
— Feocromocitoma bruscas do fluxo coronariano ou cerebral. Também nessas si-
— Interações com IMAO
tuações a nifedipina não encontra boa indicação.
— Uso de cocaína
Nas emergências, a medicação mais difundida continua
— Rebote por descontinuação de tratamento
sendo o nitroprussiato de sódio, embora atualmente estejam
— Hiper-reflexia autonômica
Eclâmpsia disponíveis vários outros fármacos parenterais com melhores
Cirúrgica indicações para situações específicas. Na vigência de isque-
— Hipertensão grave em preparo para cirurgia de mia miocárdica, a nitroglicerina venosa é a medicação de es-
emergência colha. O enalaprilato pode constituir boa opção na vigência
— Hipertensão pós-operatória de disfunção ventricular esquerda, embora tenha baixa potên-
— Sangramento pós-operatório cia hipotensora. A hidralazina venosa é a medicação preferí-
Queimadura grave vel na eclâmpsia. O labetalol, um alfa e betabloqueador não
Epistaxe grave disponível no Brasil, tem sido apontado como uma das me-
lhores opções para várias formas de emergência hipertensiva,
Tabela I. Emergências hipertensivas. principalmente por não aumentar a pressão intracraniana como
ocorre com o nitroprussiato e a nitroglicerina. A nicardipina,
também ainda não lançada em nosso país, é um antagonista
séricos. O eletrocardiograma deve fazer parte da propedêuti- dos canais de cálcio diidropiridínico, que vem merecendo
ca mínima. Outros exames complementares laboratoriais ou destaque por sua eficácia e segurança. Labetalol e nicardipi-
de imagem podem ser necessários para o diagnóstico e acom- na, contudo, devem ser evitados na insuficiência ventricular
panhamento de situações específicas ou complicações. esquerda. A nimodipina está aprovada para utilização na he-
O tratamento das emergências e das urgências hipertensi- morragia subaracnóidea, como prevenção de vasospasmo das
vas tem sido alvo de inúmeras controvérsias nos últimos tem- artérias cerebrais. O verapamil injetável, clássico antagonista
pos. Não restam dúvidas quanto à necessidade da utilização dos canais de cálcio difenilalquilamínico, ainda encontra in-
de medicações parenterais nas emergências e da indicação de dicações para uso. O esmolol, betabloqueador de ação ultra-
anti-hipertensivos orais, de efeito hipotensor lento e gradual, rápida, embora ainda não comercializado no país, está dispo-
nas urgências. Contudo, observa-se discrepância entre esse nível em alguns serviços. Deve ser usado nas dissecções aór-
consenso teórico e o que é efetivamente realizado na prática. ticas e no per-operatório, com boa indicação também na is-
A facilidade de administração, o rápido início de ação, a quemia coronariana. Metoprolol e propranolol injetáveis são
potência hipotensora e a experiência acumulada com o uso alternativas na indisponibilidade do esmolol, porém têm efei-
das cápsulas de conteúdo líquido de nifedipina, pela via su- tos mais prolongados. A furosemida venosa pode ser necessá-
blingual, têm tansformado essa conduta numa rotina difícil ria para potencializar a ação ou reduzir a retenção hidro-sali-
de ser modificada na prática, apesar das evidências de que é na de algumas medicações. O diazóxido e o trimetafan não
desnecessária na maioria dos casos, inadequada para muitos e apresentam mais indicações na terapêutica moderna.
potencialmente deletéria para tantos outros. Nas crises hipertensivas, quando estabelecida a necessi-

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dade real de tratamento de urgência, as atuais recomendações nível basal para o posterior uso de diuréticos, poupadores
são para a utilização de anti-hipertensivos orais. O captopril, de potássio e inibidores da enzima de conversão da angio-
12,5 mg a 50 mg, age em 15 minutos e por 4 a 6 horas. A tensina. Conforme veremos a seguir, o exame é altamente
clonidina, 0,2 mg inicialmente e 0,1 mg por hora até o total indicativo de hiperaldosteronismo primário quando os ní-
de 0,8 mg, constitui boa opção terapêutica, com início de ação veis basais são inferiores a 3,0 mEq/l;
em 30 minutos, que se estende por 6 a 8 horas. O labetalol b) determinação da glicemia de jejum — existe grande asso-
oral, atualmente não disponível no Brasil, na dose de 100 mg ciação entre hipertensão arterial e diabetes melito, sendo
a 200 mg, tem sido utilizado em outras comunidades. esse um fator de risco cardiovascular adicional à elevação
O tratamento das crises hipertensivas deve ser individua- da pressão arterial;
lizado e norteado pelas necessidades de cada paciente. c) determinação dos níveis de colesterol e triglicerídeos —
são, também, fatores de risco cardiovascular importantes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e devem ser tratados, quando elevados, concomitantemente
ao tratamento anti-hipertensivo. Dosagens de colesterol
1. Conti CR. Urgent/Emergent Treatment of High Blood total superiores a 240 mg/dl devem ser complementadas
Pressure. Clin Cardiol 1996;19:840. com a dosagem das diversas frações do colesterol. A redu-
2. Kaplan NM. Hypertensive crises. In: Kaplan NM. Clinical ção dos níveis de LDL-colesterol para abaixo de 140 mg/dl
Hypertension. 7th ed. Baltimore: Williams & Wilkins, tem se mostrado útil na prevenção de angina e infarto agudo
1998;265-80. do miocárdio;
3. Rehman F, Mansoor GA, White WB. “Inappropriate” d) creatinina sérica — a determinação da função renal no hi-
physician habits in prescribing oral nifedipine capsules in pertenso é importante não só para avaliar o papel do rim
hospitalized patients. Am J Hypertens 1996;9:1035-39. na gênese da hipertensão arterial como também determi-
nar se o quadro hipertensivo levou a lesão renal (nefros-
clerose benigna ou maligna);
e) urina tipo I — na avaliação renal, quer como agente etioló-
Hipertensão arterial: avaliação gico quer como órgão-alvo da hipertensão arterial (exis-
laboratorial mínima tem nefropatias parenquimatosas com creatininemia nor-
Hipertensão arterial secundária — mal);
diagnóstico diferencial f) ácido úrico — tem sido associado a maior morbidade e
mortalidade cardiovascular. Para os pacientes com histó-
ria de gota ou com níveis séricos elevados, deve ser evita-
DANTE MARCELO ARTIGAS GIORGI
do o uso de diuréticos;
Instituto do Coração — HC-FMUSP — São Paulo — SP
g) eletrocardiograma — a avaliação eletrocardiográfica do
hipertenso é importante na determinação do risco cardio-
AVALIAÇÃO LABORATORIAL MÍNIMA
vascular (presença de sobrecarga ventricular esquerda e/
ou alterações da repolarização ventricular) e na avaliação
Os dados de anamnese dos pacientes hipertensos, apesar de
de contra-indicações do uso de determinados agentes anti-
muitas vezes serem pouco específicos, são de grande importân-
hipertensivos (bloqueios atrioventriculares).
cia não só no estabelecimento do estágio do quadro hipertensi-
Pacientes que apresentem alterações clínicas ou laborato-
vo mas também para o estabelecimento de suspeita de hiperten-
riais sugestivas de lesões importantes em órgãos-alvo ou de
são arterial secundária. Assim sendo, a avaliação do hipertenso
causas secundárias da hipertensão deverão ser investigados
não dispensa anamnese e exame físico completos.
por meio de algoritmos específicos, como veremos a seguir.
A seguir, deve ser realizada avaliação laboratorial, que tem
dois objetivos principais: afastar as principais causas secun-
dárias de hipertensão e avaliar a presença de outros fatores de HIPERTENSÃO ARTERIAL SECUNDÁRIA
risco cardiovascular. Na indicação dos exames subsidiários a
serem utilizados, deve-se levar em conta a relação custo-be- Definição
nefício de sua realização para o paciente. De acordo com o II Hipertensão arterial secundária (HAS) é o estado
Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, todos os paci- hipertensivo em que existe uma causa conhecida para a
entes hipertensos devem ser submetidos pelo menos aos se- elevação da pressão arterial. Cerca de 10% dos hipertensos
guintes exames: adultos são portadores de HAS. Sua detecção tem importância
a) dosagem de K+ sérico — importante na determinação do pela existência de causas curáveis de hipertensão arterial

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(hipertensão renovascular, hiperaldosteronismo primário, No feocromocitoma, a tríade sudorese, palpitações e
feocromocitoma, etc.). cefaléia (quando presentes simultaneamente) tem alta
especificidade e sensibilidade em relação ao diagnóstico
Classificação etiológica (> 90%).
Renal Para o hiperaldosteronismo (primário ou secundário), a
Corresponde a 50% das causas secundárias de hipertensão presença de cãibras ou fraqueza muscular sugere
arterial. hipopotassemia.
Renovascular Em relação à causa renovascular de HAS:
As lesões de artérias renais e seus ramos, de etiologias — idade — há maior probabilidade de se diagnosticar hi-
diversas (aterosclerose, displasia fibromuscular, arterites), são pertensão renovascular ou hipertensão renal em indivídu-
responsáveis por cerca de 1% dos casos de hipertensão arterial. os jovens (< 25 anos), apesar de nessa faixa etária (e até
É a causa de hipertensão arterial passível de cura mais mesmo em crianças) ser mais freqüente a hipertensão ar-
freqüente. terial primária; por outro lado, a hipertensão renovascular
Feocromocitoma deve ser lembrada quando o início da hipertensão arterial
É uma causa rara, porém muitas vezes curável, responsável se dá após os 55 anos de idade, ou quando há presença de
por cerca de 0,1% dos casos de hipertensão arterial sistêmica. níveis muito elevados de pressão arterial (PAD > 120
Hiperaldosteronismo primário mmHg) em pacientes com mais de 60 anos de idade;
Em torno de 0,3% a 0,5% das HAS são decorrentes de — resistência à terapêutica com três drogas em suas doses
hiperaldosteronismo primário (adenoma, adenocarcinoma, ou máximas;
hiperplasia de supra-renais). — em pacientes com HAS crônica, com piora do controle
Outras patologias endócrinas da pressão arterial e/ou piora da função renal.
Hipertireoidismo, hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, Exame físico
síndrome de Cushing, etc. — Nefropatas — distinguem-se por poder apresentar
Anticoncepcional hormonal edema, palidez, cansaço, hematúria, urina espumosa,
Em mulheres com hipertensão, existe associação do uso nictúria e infeções urinárias de repetição (alta freqüência,
de anticoncepcionais orais e HAS em cerca de 4% dos casos. em crianças, de neuropatia de refluxo).
Coartação de aorta — Coartação de aorta — apesar de ser um diagnóstico da
Causa rara, porém curável, de HAS. primeira infância, muitas vezes só é realizado com o indi-
Outras víduo adulto. Desproporção braço/perna e ausência ou
Policitemia vera, ingestão de alcaçuz, uso abusivo de gotas retardo de pulsos pediosos ou tibiais posteriores pode su-
nasais, etc. gerir sua pesquisa. O achado de sopros aórticos e inter-
costais praticamente fecha o diagnóstico.
Diagnóstico diferencial — Hipertensão renovascular — a presença de sopro ab-
Anamnese dominal, apesar de rara (18% dos renovasculares), quan-
Os dados anamnésticos são muito importantes na suges- do sistólico e diastólico, tem alta especificidade.
tão diagnóstica de várias causas da HAS. Por exemplo, o di- — Endocrinopatias — o achado de nódulos tireóideos ou
agnóstico de HAS decorrente do uso de anticoncepcionais bócio sugere sua disfunção; Cushing apresenta caracterís-
hormonais é baseado fundamentalmente na história clínica. ticas próprias ao exame, tais como estrias, distribuição de
Em pacientes com hipertensão arterial resistente a tríplice te- gordura, fácies, etc.
rapia, deve-se sempre investigar causa secundária de HAS — Feocromocitoma e hiperaldosteronismo primário —
(principalmente renovascular e feocromocitoma). não apresentam, na maioria das vezes, características par-
Nas endocrinopatias, onde a HAS é um epifenômeno, o ticulares ao exame físico.
quadro clínico é muito importante: Roteiro laboratorial
— aparecimento de bócio, sudorese e palpitações (taqui- Exames básicos a todos os hipertensos:
cardias) sugerem mais freqüentemente hipertireoidismo; — Hemograma — a presença de anemia (sugerindo insu-
— língua saburrosa, edema frio e intolerância ao frio su- ficiência renal crônica) ou policitemia é importante.
gerem a pesquisa de hipotireoidismo; — K+ sérico — sua simples dosagem, na ausência de
— fraturas ósseas freqüentes, sem causa traumática, po- diuréticos, serve como exame inicial para o diagnóstico
dem se associar a hiperparatireoidismo; de excesso de mineralocorticóides. O achado de K < 3,0
— síndrome de Cushing é caracterizada pelo fácies e pela mEq/l é altamente sugestivo de hiperaldosteronismo
distribuição de gordura corpórea. (primário ou secundário). Se, por outro lado, a dosa-

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gem for > 3,5 mEq/l, dificilmente tratar-se-á de gia ao contraste iodado. Já o estudo dinâmico renal, ape-
hiperaldosteronismo. Se 3,0 mEq/l < K < 3,5 mEq/l, é sar de necessitar de Gama Câmara, não exige preparo, sen-
necessária dosagem da excreção urinária de K nas 24 ho- do raríssima a alergia ao radiofármaco utilizado; a associ-
ras; se < 20 mEq/24 h, trata-se de quadro de depleção crô- ação de captopril ao estudo radioisotópico levou à maior
nica de potássio; se > 40 mEq/24 h, sugere fortemente especificidade do exame e também ao maior valor prog-
hiperaldosteronismo primário; se estiver entre 20 mEq/24 nóstico em relação à evolução após o tratamento;
h e 40 mEq/24 h, é inconclusivo. 2) arteriografia renal, digital ou convencional, é o exame
— Creatinina sérica — no diagnóstico de nefropatias. diagnóstico da hipertensão renovascular.
— Urina tipo I — complementa a triagem das nefropatias — Suspeita de feocromocitoma (hipertensão arterial re-
que podem estar presentes, porém com creatininemia nor- sistente, quadro clínico sugestivo):
mal. A presença de proteinúria e hematúria sugere o pros- a) Dosagem urinária de catecolaminas ou seus metabólitos
seguimento da investigação (proteinúria de 24 horas, (metanefrinas e VMA) — sensibilidade > 95%, e pode ser
“clearance” de creatinina, eletroforese de proteínas, com- associada a teste com clonidina.
plemento total, C3 e C4, urocultura, etc.), chegando, se b) Localização do tumor — 10% extra-adrenal (90% situam-
necessário, à biópsia renal. se na adrenal), 10% bilateral (90% unilaterais) e 10%
— Glicemia — pode estar elevada no feocromocitoma e maligno (com metástases). Exames realizados para sua
no excesso de glicocorticóides. localização: tomografia computadorizada e ressonância
— Radiografia do tórax póstero-anterior — imagem de 3 nuclear magnética de tórax e de abdome.
invertido e corrosão de arcos costais na coartação de aorta. c) 123I-MIBG — permite o mapeamento de corpo inteiro para
— Eletrocardiograma — no feocromocitoma, pode haver localização de metástases e tumores extra-adrenais. Tem
alterações do segmento ST e da onda T, sugerindo até isque- uso na terapêutica de massas e metástases inacessíveis à
mia miocárdica, que regridem após a cirurgia do tumor. cirurgia.
Exames específicos quando há suspeita de HAS (curável) — Suspeita de hiperaldosteronismo (dosagens de K sérico
— Hipertensão renovascular (suspeita, pela anamnese, pelo e urinário sugestivas de excesso de mineralocorticóides):
exame físico e pela evolução do paciente, de hipertensão a) Dosagem de renina e aldosterona basais e estimuladas — a
arterial resistente): presença de aldosterona elevada e renina suprimida é
a) Teste do captopril: apesar da escarsa praticidade, é uma diagnóstica de hiperaldosteronismo primário. Já o achado
triagem simples (e de alto valor preditivo negativo), de de renina e aldosterona elevadas é diagnóstico de
baixo custo e não-invasiva; se associado à resposta de hiperaldosteronismo secundário (uso de diuréticos, hiper-
renina periférica, apresenta maior especificidade e sensi- tensão maligna, hipertensão renovascular).
bilidade (Laragh, 1987). b) Hiperaldosteronismo primário — pode ser devido a
b) Imagens renais: hiperplasia, adenoma e adenocarcinoma de supra-renais.
1) urografia excretora minutada e estudo dinâmico renal A confirmação do diagnóstico se dá com o achado de
com 99mTc-DTPA apresentam, quando tecnicamente bem tumoração em supra-renais (adenoma e adenoCa) por
realizados, sensibilidade e especificidade semelhantes (sen- tomografia por computador ou ressonância nuclear mag-
sibilidade de 85% e especificidade de 85%). Apesar de a nética. O não achado de tumoração em supra-renais suge-
urografia excretora ser de uso mais difundido, sua técnica re a presença de hiperplasia bilateral de supra-renais, sen-
de realização deve ser mais cuidadosa, bem como o pre- do a confirmação do diagnóstico realizada por meio de
paro para o exame; além disso, existe o problema de aler- colheita e dosagem de aldosterona das veias supra-renais.

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