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© 2001.

Ministério da Saúde
Permitida a reprodução parcial desta obra, desde que citada a fonte.
Periodiocidade quadrimestral
Distribuição gratuita
Tiragem de 30.000 exemplares

Formação
Publicação periódica de ensaios e artigos analíticos relacionados à área de formação de pessoal para a saúde e de
artigos técnico-científicos e informativos sobre educação dos profissionais de saúde. Quando nominados, os textos
são de responsabilidade dos seus autores.
EDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E INFORMAÇÕES:
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Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde - SGTES
Departamento de Gestão da Educação na Saúde - Deges
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Antônio Ivo de Carvalho - Fiocruz Maria Luiza Jaeger - Ministério da Saúde
Benilton Carlos Bezerra Júnior - UERJ Maria Rebeca Otero Gomes - Unesco
Cláudia Marques - Ministério da Saúde Milca Severino Pereira - UFG
Denise Balarine Cavalheiro Leite - UFRGS Moisés Goldbaum - USP/SP
Emerson Elias Merhy - Unicamp Naomar Monteiro de Almeida Filho - UFBA
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Francisco Eduardo de Campos - UFMG Paulo Marchiori Buss - Fiocruz
Gilliatt Hannois Falbo Neto - IMIP Ricardo Burg Ceccim - Ministério da Saúde/UFRGS
Jairnilson Silva Paim - UFBA Roberto Cláudio Frota Bezerra - CNE/MEC
José Ivo dos Santos Pedrosa - Ministério da Saúde/UFPI Roseni Rosângela de Sena - UFMG
Juan Stuardo Yazlle Rocha - USP/Ribeirão Preto Simone Chaves Machado de Sena - Ministério da Saúde /IPA
Laura Camargo Feuerwerker - Ministério da Saúde Tânia Celeste Matos Nunes - Fiocruz
Lilia Blima Schraiber - USP/SP Conselheiros neste número:
Madel Therezinha Luz - UERJ Rita Elisabeth da Rocha Sório - BID
Márcio José de Almeida - UEL Volney Gonçalves Pedroso - Pref. Municipal de São Paulo
EDITORES RESPONSÁVEIS:
Cláudia Dias Couto - Ministério da Saúde
Leila Göttems - Ministério da Saúde
Ricardo Burg Ceccim - Ministério da Saúde/UFRGS
EDITORA ASSISTENTE:
Rosaura Hexsel - Ministério da Saúde

REVISOR DE TEXTOS:
Rogério da Silva Pacheco
CAPA E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA:
Dino Vinícius Ferreira de Araujo
SECRETARIA:
Denise Veríssimo
Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha Catalográfica
___________________________________________________________________________________________
Formação / Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
Departamento de Gestão da Educação na Saúde. — v. 3, n. 8, mai./ago. 2003 - Brasília:
Ministério da Saúde, 2003.

Quadrimestral

ISSN 1519-0781
1. Educação em saúde. 2. Formação profissional em saúde. 3. Educação permanente em saúde
I. Brasil. Ministério da Saúde. II. Brasil. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
Departamento de Gestão da Educação na Saúde. III. Título.
NLM WY 108 DB8
__________________________________________________________________________________________________________
08
Formação
Estudos, reflexões e
experiências em educação
profissional na saúde

Maio de 2003

Ministério da Saúde
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde - SGTES
Departamento de Gestão da Educação na Saúde - Deges
Sumário

Editorial

3
Revista Formação - novo veículo de informação especializada na área de educação na saúde
Ricardo Burg Ceccim

Artigos

7
Escola Técnica de Saúde da Unimontes: escola que ensina em serviço
Maria Aparecida Vieira e Roseni Rosângela de Sena

29
A inserção das ocupações técnicas nos serviços de saúde no Brasil: acompanhando os dados de
postos de trabalho pela pesquisa AMS/IBGE
Mônica Vieira, Ana Luiza Stiebler Vieira, Júlio César França Lima, Mônica Rodrigues Campos,
Renata Reis e Sandra Rosa Pereira

47
Profissional de saúde: a inter-relação entre formação e prática
Eliana de Fátima Catussi Pinheiro, Maria Lúcia Silva Lopes, Regina Hitomi Fukuda Ohira
e Sônia Cristina Stefano Nicoletto

59
Dinâmica de grupo: instrumento de avaliação da experiência discente
Lucilane Maria Sales da Silva, Maria de Fátima Bastos e Olney Rodrigues Oliveira

69
Análise do projeto pedagógico de uma escola técnica de enfermagem
Linda Tsuiko Tatakihara, Mara Lúcia Garanhani, Márcio Alex de Almeida Moura e Marina Viana Fernandes

79
O perfil do aluno técnico de enfermagem do Profae
Ana Aparecida Sanches Bersusa, Maria Merces L. Escuder e Luci Emi Guibú

Entrevista

93
Plano Nacional de Qualificação: universalização do direito dos trabalhadores à qualificação profissional
Antônio Almerico Biondi Lima


5

Editorial

Revista Formação – novo vínculo de


informação especializada na área
de educação na saúde

A revista Formação firmou-se como um importante veículo de


comunicação à medida em que tornou disponíveis informações
técnico-científicas e gerenciais produzidas no âmbito do Projeto de
Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem
(Profae). Sua primeira edição foi lançada em janeiro de 2001 e,
segundo seu Projeto Editorial e Gráfico, a revista Formação seria a
expressão e memória do Profae, objetivo esse que se cumpriu e se
tornou realidade. A publicação manteve uma linha editorial séria e
capaz de divulgar conhecimentos em educação na área da saúde com
elevada aceitação, contribuindo para respaldar estudos e pesquisas
e tornando-se importante fonte de consulta.
Do ponto de vista da motivação educacional e de informação, a
revista Formação atendeu às necessidades de divulgação do próprio
Projeto - como política pública e política setorial - e de divulgação
de conhecimentos e tecnologias gerados a partir do seu desenvol-
vimento e aplicação. Foram editados sete números, que se dedicaram
à divulgação de relatos e do andamento do Projeto, metodologias e
resultados de pesquisas desenvolvidas no seu âmbito, debates e
ensaios sobre temas relacionados à educação em enfermagem e temas
correlatos, além de entrevistas sobre a formação profissional, sobre
a educação de jovens e adultos e sobre a formulação de políticas
para a saúde. A revista circulou entre os meios acadêmicos, políticos,
de gestão do setor da saúde e da educação, entre estudantes e
professores das escolas parceiras, entre os profissionais de saúde e
trabalhadores do Sistema Único da Saúde (SUS).
Em breve retrospectiva histórica, desse periódico, pode-se observar
que inúmeras questões sobre a formação profissional foram abordadas
e discutidas, com a profundidade teórica que a temática exige.
Formação 01, abrindo a série, versou sobre a Qualificação
profissional e saúde com qualidade; Formação 02 apontou para a
questão da humanização – assunto atual e no foco das propostas de
fortalecimento do setor da saúde -, Humanizar cuidados de saúde:
uma questão de competência; Formação 03 trouxe a discussão da
tríade Escolarização, profissionalização e saúde: faces da cidadania;
Formação 04 resgatou a reflexão sobre o papel do docente e
apresentou a Formação de formadores: a nova docência na educação
básica e profissional; Formação 05 centrou sua atenção no perfil do
profissional desejado para a saúde e apresentou a Formação técnica
em saúde, no contexto do SUS; Formação 06 discorreu sobre as
especificidades do emprego no setor da saúde com o tema Mercado
de trabalho em saúde; e a Formação 07 divulgou os resultados da
Avaliação do impacto do Profae na qualidade dos serviços de saúde.

Formação
Na sua oitava edição, a revista Formação encerrará seu ciclo de
apresentação à sociedade, partindo para sua consolidação
relativamente à contribuição para a ordenação da formação dos
trabalhadores para a saúde, como prevê a Constituição Federal.
Buscando responder às exigências de debate, produção de
conhecimento e difusão de informações apresentadas à área de
formação em saúde. A revista Formação deixa de atender a um projeto
para responder ao campo, deixa de ser uma publicação exclusiva do
Profae, uma vez que superou o conceito de ser um acervo de
conhecimentos e tecnologias gerados a partir do Profae, para se
consolidar como um novo meio de informação especializado na área
da educação dos profissionais da saúde como um todo.
Neste número, que já se apresenta como intervalo de mudança, faz-
se uma análise crítica sobre a profissionalização técnica na saúde:
Estudos, reflexões e experiências em educação profissional na saúde,
eixo temático da Formação 08. Traz seis artigos importantes para a
d i s c u s s ã o d a f o r m a ç ã o p r o f i s s i o n a l e m o s t r a , a o l e i t o r, a
oportunidade de conhecer a articulação que o Ministério da Saúde
vem estabelecendo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
divulgando uma entrevista exclusiva sobre o Plano de Qualificação
Profissional – PNQ, empreendido pelo MTE, que aborda assuntos
de interesse da rede ampliada de atores sociais ligados ao trabalho e
à educação.

Ricardo Burg Ceccim


Diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde
Análise

Escola Técnica de Saúde da Unimontes:


escola que ensina em serviço1
Unimontes T echnical Health School:
Technical
school which teaches while working
Maria Aparecida Vieira
Enfermeira, mestre em Enfermagem
Roseni Rosângela de Sena
Enfermeira, doutora em Enfermagem

Resumo: Neste artigo, relata-se a experiência da Escola Técnica de Saúde da


Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), como instituição formadora
de recursos humanos da área da enfermagem. A Escola tem procurado construir
e consolidar-se como espaço de relações vivas e vividas, no qual o aprender
torna-se o elemento mágico da transformação, da desalienação e do ser feliz.
Caracteriza-se como estudo qualitativo e descritivo, cujo percurso metodológico
fundamenta-se no materialismo histórico e dialético. Os sujeitos do estudo foram
12 auxiliares de enfermagem, egressos de cursos oferecidos pela Escola Técnica
de Saúde no período de 1992 a 1999. O instrumento de coleta de dados foi a
entrevista coletiva, por meio da técnica de grupo focal, e o tratamento dos dados
foi feito a partir da aplicação da técnica de análise do discurso. Pela análise, foi
possível apreender que o curso realizado pelos egressos procurou assegurar e
oportunizar uma formação ético-técnica dos estudantes, capaz de ajudá-los a se
tornarem sujeitos críticos e reflexivos, capazes de construir com competência o
seu cotidiano de trabalho, baseado em princípios, valores e atitudes, de acordo
com normas do exercício profissional e princípios éticos que regem a conduta
de solidariedade e respeito à vida e para a vida coletiva.
Palavras-chave: Auxiliares de Enfermagem; Educação em Enfermagem; Prática
Profissional; Educação Profissional em saúde.
Abstract: This article deals with the experience of “Escola Técnica de Saúde”
(“Technical Health School”) of Unimontes (“State University of Montes Claros”),
as an institution which forms human resources of the nursing area. The school is
concerned about building and consolidating a space of real and living relationships,
in which learning becomes the magical element of transformation, integration
and happiness. It is a qualitative and descriptive study, which methodology is
based on historical and dialectical materialism. The subjects of the study were
12 auxiliary nurses, from the courses offered by “Escola Técnica de Saúde” in
the period of 1992 to 1999. The data collect instrument was the group interview
using the focal group technique and the data treatment was done from the
application of the discourse analysis technique. Through this analysis, it was
possible to learn that the course attended by the nurses provided technical
education capable of helping them to become people who think and are able to
build their daily work routine with competence, based on principles, values and
attitudes. And also according to professional regulations and ethic principles
which lead to respect towards life, collective life and friendship.
Keywords: Nurses’aides, Education, Nursing; Professional Practice; Professional
Education.

1
Trabalho extraído de dissertação de mestrado
apresentada à Escola de Enfermagem da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Formação
Introdução trabalhadores (redes ambulatorial e
hospitalar) observou-se que 51,80%
Com o advento da Constituição eram da área da enfermagem, 23,10%
Federal, promulgada em outubro de da área de vigilância sanitá-ria,
1988, iniciou-se na região norte do 18,08% da área administrativa e
Estado de Minas Gerais (MG), a 4,78% do apoio diagnóstico, dentre
exemplo de outras regiões do estado outras (Universidade Estadual de
e do País, o processo de descentrali- Montes Claros, 1991).
zação dos serviços sociais, ocorrendo,
Constatou-se que os trabalhadores
então, a municipalização dos serviços
poderiam ser incluídos em dois
de saúde e a conseqüente responsabi-
grupos, um com qualificação pro-
lização dos municípios pela produção
fissional para exercer o trabalho e
e oferta dos serviços à população.
outro sem essa qualificação especí-
Em 1991, os dirigentes de insti- fica, denominados “leigos”. Dos
tuições de saúde da cidade de Montes 3.743 trabalhadores de saúde estuda-
Claros, MG, principalmente da rede dos, verificou-se que 87,06% eram
hospitalar, solicitaram à Universidade “leigos”, isto é, desempenhavam
Estadual de Montes Claros resposta funções nos seus postos de trabalho
para um dos problemas prioritários sem qualificação específica exigida
que se apresentava para os serviços para o exercício da função, sendo que
de saúde: a falta de profissionais de 12,93% exerciam funções pertinentes
nível técnico qualificados para o à sua qualificação profissional.
trabalho em saúde.
Após analisar os dados obtidos no
Essa situação de déficit quantitati- estudo, consultar a literatura espe-
vo e qualitativo de profissionais cializada, analisar a legislação especí-
decorreu da expansão dos serviços de fica e discutir o tema com especialis-
saúde, em que as exigências postas tas da área, o grupo de trabalho da
pela tecnologia exigem uma força de Unimontes concluiu que a alternativa
trabalho mais qualificada, para adoção mais apropriada para a região seria a
de tecnologia adequada às ações, criação de uma escola técnica para o
como recurso estratégico para am- setor da saúde, de caráter permanente,
pliar a cobertura dos serviços de reconhecida pelo sistema educa-
saúde de qualidade à população cional, vinculada ao Sistema Único de
(Santos, 1992). Saúde (SUS) e articulada com a área
A Unimontes, atendendo a essa educacional. Segundo a proposta, a
demanda social, desenvolveu esforços escola deveria oferecer e desenvolver
a fim de oferecer uma solução para programas de habilitação e qualifica-
esse déficit, desse modo criou um ção profissional adequados à realidade
grupo de trabalho para propor alter- da região e fundamentados nos
nativas de solução. O grupo realizou propósitos de: transformação dos
um estudo na região, revelando seus serviços de saúde; compromisso com
aspectos socioeconômicos, educa- a população; consciência profissional
cionais, sanitários e o levantamento do trabalhador; perfil da força de
sobre a força de trabalho de nível trabalho; perfil das instituições de
médio e fundamental inserida nos saúde; articulação dos setores saúde
serviços de saúde, em instituições e educação e, sobretudo, considerar
públicas e privadas, nos ambulatórios a adoção de abordagem pedagógica
e hospitais da região (Universidade problematizadora, como um dos
Estadual de Montes Claros, 1991). pontos relevantes do projeto pedagógi-
co da Escola Técnica de Saúde
Foram estudados 3.743 traba- (Universidade Estadual de Montes
lhadores de saúde, sendo que 2.353 Claros, 1991).
(62,86%) prestavam serviços na rede
ambulatorial pública e 1.390 Nesse contexto, a Escola Técnica
(37,13%) nas redes hospitalares de Saúde surge como uma alternativa
pública e privada. Do universo desses para a formação de profissionais de


Formação 9

nível médio, com o objetivo de numa alternativa adequada e coerente
qualificar trabalhadores críticos e para a qualificação da força de
com competência técnica e ética para trabalho, preconizada no Programa de
o mundo do trabalho em saúde. Para Formação de Pessoal de Nível Médio
tanto, seu projeto político-pedagógico para o setor da saúde (Brasil, 1994).
fundamentou-se na pedagogia proble-
Essa capacitação privilegiou a
matizadora, por considerar que essa
integração entre o ensino e o serviço,
concepção crítico-reflexiva coloca o
buscando reflexões sobre “[...] o
homem no centro do universo, onde
sujeito que aprende, o objeto a ser
estabelece relações de reciprocidade,
apreendido, o conhecimento
buscando, na sociedade, os meios
resultante da interação entre o sujeito
necessários para se construir
e o objeto e o instrutor como faci-
(Nietsche, 1998).
litador deste processo” (Brasil, 1994).
Essa abordagem valoriza o homem
como ser social, construtor da sua Ao adotar a capacitação pedagó-
história e de uma nova sociedade, o gica como ação estratégica, estabele-
qual, ao integrar-se ao seu contexto ceu-se como objetivo: sensibilizar os
de vida, permite-lhe refletir sobre ela professores para uma nova forma de
e dá respostas aos desafios que aprender e de ensinar, possibilitando
encontra. discussões sobre o trabalho e a
realidade social, favorecendo as
Assim sendo, a Escola Técnica de relações educando-educador e propi-
Saúde fundamentou-se nos pressu- ciando uma formação crítica, criativa
postos dessa pedagogia por considerar e libertadora (Reibnitz, 1997).
o homem “[...] um ser concreto,
sujeito da sua história e da educação, Para o alcance dessas complexas e
situado no tempo e no espaço e desafiantes proposições, foram reali-
inserido num contexto sócio- zados seminários e oficinas periódicas
econômico-cultural e político” de trabalho, criando momentos e
(Nietsche, 1998). espaços para os professores refletirem
sobre sua prática pedagógica e para a
Buscou-se construir, na escola, as troca de informações e experiências.
possibilidades de capacitação de um Propiciou-se, assim, o fortalecimento
professor criador de oportunidades do processo ensino-aprendizagem
para as situações de ensino-apren- como conjunto de atividades organi-
dizagem, sendo que o seu papel zadas pelo professor e aluno que
consiste em facilitar esse processo. objetiva a apropriação de um saber
Ele representou uma força motiva- próprio, a partir das experiências de
dora, uma vez que trabalhava com vida e do acúmulo histórico da
experiências compartilhadas, valori- humanidade, e organizado para ser
zando sempre o conhecimento e trabalhado na escola: o saber siste-
experiências prévias do estudante matizado, conforme afirma Libâneo
(Silva, 1997). (1994). As unidades de ensino-
Esse processo baseia-se numa aprendizagem foram definidas como
relação de autêntico diálogo, no qual relação de socialização dialógica e
o educador educa e o educando educa construtiva da aprendizagem pela
o educador, estabelecendo uma forma troca de saberes no cotidiano do
a u t ê n t i c a d e p e n s a r e a t u a r, d e trabalho dos estudantes.
“pensar-se a si mesmos e ao mundo,
Nesse processo, a avaliação foi
simultaneamente, sem dicotomizar
considerada parte integrante e intera-
este pensar da ação”, conforme ensina
tiva do processo ensino-aprendiza-
Freire (1975).
gem, estando presente em todas as
A escola priorizou, desde a sua etapas do desenvolvimento das ativi-
criação, a capacitação pedagógica dos dades educacionais, como uma estra-
seus professores, construída em bases tégia que garantisse a indissociabili-
legais e pedagógicas, constituindo-se dade do pensar-fazer, criando uma


10 Nº 08 MAIO DE 2003

dinâmica “que permite acompanhar O primeiro motivo que explica as
passo a passo o avanço dos educan- dificuldades de acesso do trabalhador
dos, detectar a tempo suas dificulda- ao curso refere-se à impossibilidade
des, ajustar e reajustar o ensino e suas da ausência deste do seu trabalho, no
características aos diferentes contex- município de origem, sendo que essa
tos, corrigir e reforçar o processo de ausência inviabilizaria, em muitos
ensino”, em que os instrumentos de casos, os serviços. O segundo motivo
avaliação são sempre devolvidos para foi a necessidade de que a qualifica-
os alunos, criando novas oportunida- ção profissional desses trabalhadores
des de aprendizagem. levasse em consideração a realidade
A avaliação, sendo caracterizada social e sanitária do local onde
como formativa, propiciou a recupe- estavam inseridos.
ração paralela dos alunos que apresen- Após realização de capacitação
tavam alguma dificuldade no domínio técnica e pedagógica dos docentes e
de um conceito fundamental para a da montagem da infra-estrutura
continuidade do processo de aprendi- necessária, foram firmados convênios
zagem, em que o professor oferece entre a Unimontes e as instituições
estratégias pedagógicas para aqueles requerentes, estabelecendo-se as
que não conseguiram o desempenho responsabilidades nessas parcerias.
satisfatório. A avaliação formativa, Durante a realização dos cursos
assim concebida e aplicada, foi uma descentralizados, há acompanhamen-
ferramenta fundamental para garantir to e supervisão periódica dos Nú-
a cada aluno o aprender segundo seus cleos, por parte de professores e pelo
esquemas de assimilação e de seus secretário escolar. Também há acom-
conhecimentos e experiências ante- panhamento contínuo por parte das
riores em relação a um determinado Superintendências Regionais de
objeto. Ensino, órgãos descentralizados da
A auto-avaliação também foi Secretaria de Estado da Educação de
estimulada e adotada como um Minas Gerais, pela sua rede de
momento de reflexão, retratando o inspeção escolar.
perfil do aluno quanto aos desempe- A operacionalização desse proces-
nhos esperados, apontando avanços e so de descentralização foi fundamen-
dificuldades, e contribuindo para a tada na perspectiva de centralização
reorientação do planejamento do dos processos de administração
processo ensino-aprendizagem. escolar e descentralização da execu-
ção pedagógica, uma das caracterís-
Ao avançar com essa proposta no
ticas da Escola Técnica de Saúde, que
interior da Escola Técnica de Saúde,
tem se mostrado importante na
em sua sede em Montes Claros,
surgiu um novo desafio: o de descen- realização de seus objetivos
tralizar os cursos de qualificação (Universidade Estadual de Montes
profissional, para atender ao grande Claros, 1998).
contingente de trabalhadores de saúde Dessa forma, a área de abran-
sem qualificação profissional específi- gência da escola vem se ampliando
ca para a função que exerciam, em paulatinamente, dependendo da sua
diferentes áreas do norte do Estado capacidade de planejamento, assesso-
de Minas Gerais, onde está localizada ria, controle e avaliação. No mapa 1,
a escola. visualiza-se a área de atuação da
Escola Técnica de Saúde da Unimon-
A descentralização mostrou-se tes, no período de 1992 a 1999.
como uma opção estratégica para
facilitar o acesso, aumentar a cobertu-
ra, considerando que os trabalhadores
de enfermagem residiam em municí-
pios distantes, com realidades pecu-
liares, e não apresentavam condições
de realizar seus estudos na cidade de
Montes Claros.


Formação 11

Mapa 1
Área de abrangência da Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros, 1992
a 1999

A Escola Técnica de Saúde, aten- integrantes do Sistema Único de


dendo a necessidades decorrentes dos Saúde (SUS), 13,48% de outros
avanços na organização dos serviços serviços e 20,11% eram alunos sem
de saúde e sua conseqüente expansão, vínculo empregatício, o que
realizou 33 cursos de qualificação demonstra a vinculação da escola
profissional em diversas áreas do com o SUS.
saber, no período de 1992 a 1999, A profissionalização: o desafio
titulando: enfrentado
- 1.001 auxiliares de enfermagem O curso para auxiliar de enferma-
na sede e nos núcleos de qualificação gem foi autorizado pelo prazo de
profissional (24 cursos); quatro anos, em dezembro de 1991,
pelo do Parecer nº 960/91, Processo
- 31 auxiliares de enfermagem do nº 18.635, pelo Conselho Estadual de
trabalho (1 curso); Educação de Minas Gerais (CEE-MG)
- 39 técnicos em administração de (Conselho Estadual de Educação de
serviços de saúde (1 curso); Minas Gerais, 1991), sendo que o seu
funcionamento ocorreu através da
- 141 técnicos em higiene dental Portaria nº 002/92 da Superinten-
na sede e nos núcleos de qualificação dência Educacional da Secretaria de
profissional (6 cursos); e Estado da Educação de Minas Gerais.
- 33 técnicos em vigilância sanitá- Com a oficialização da Escola
ria e saúde ambiental (1 curso). Técnica de Saúde, em 1993, este
curso foi incorporado à mesma.
Dos 1.454 matriculados no pe-
O Conselho Estadual de Educação
ríodo citado, 1.245 alunos foram de Minas Gerais, em 1997, efetuou a
titulados, perfazendo 85,62% de apro- renovação de autorização do curso em
veitamento. questão, sem limite de prazo, por
Informações coletadas em docu- meio do Parecer nº 93/97 e Processo
mentos da Unimontes (1998) nº 18.635(Conselho Estadual de
demonstram que, no período de 1992 Educação de Minas Gerais, 1997).
a 1998, 66,41% dos titulados eram A carga horária do curso, desde
empregados em instituições 1991, sofreu pequenas variações e, a


12 Nº 08 MAIO DE 2003

partir de 1995, tornou-se mais a articulação dos setores de saúde e
permanente, com 1.149 horas, com educação, como instâncias respon-
duração de aproximadamente 14 sáveis pela formação e pela prática
meses. pedagógica centrada no trabalho e
Na organização curricular, inte- integração ensino-serviço.
gram disciplinas instrumentais (pré- O trabalho interdisciplinar foi
requisito para as disciplinas profis- inspirado nas orientações de Santo-
sionalizantes) num total de 221 horas mé (1998) que “[...] contribui para
e as profissionalizantes com 928 que professores e professoras sintam-
horas. O estágio supervisionado, de se partícipes de uma equipe com
440 horas, denominado de período de metas comuns a serem encaradas de
“dispersão”, é desenvolvido em várias maneira cooperativa, e responsáveis
instituições de saúde, proporcionan- frente aos demais em suas tomadas de
do ao aluno oportunidades de rela- decisões”.
cionar teoria-prática-teoria e integrar A escola disponibilizou recursos
os conteúdos curriculares. didáticos, acervo bibliográfico e
Os conteúdos estão organizados estrutura física adequada para facilitar
em blocos interdisciplinares, sendo o trabalho do professor e dos estudan-
desenvolvidos de forma articulada nos tes com o propósito de garantir a
períodos de “concentração”, momen- flexibilidade e o modelo pedagógico
to em que ocorre a reflexão teórica adotado, considerando que “a inter-
sobre as práticas, constituindo oportu- disciplinaridade, como um objeto
nidade para troca de experiência e nunca completamente alcançado e,
socialização dos alunos e na disper- por isso, deve ser permanentemente
são, na qual o aluno encontra-se buscado. Não se constituindo em uma
inserido em seu campo de trabalho. proposta teórica, mas sobretudo uma
prática transformadora” (Santomé,
A organização das disciplinas em
1998).
blocos interdisciplinares se fundamen-
tou em Santomé (1998), que Esse processo de trabalho manti-
preconiza que a interdisciplinaridade nha consonância com os princípios
implica uma vontade e compromisso filosóficos da escola, contidos nos
de elaborar um contexto mais geral, seus instrumentos legais: projeto
em que cada uma das disciplinas é político-pedagógico e administrativo
modificada, pela interação entre elas, e o regimento escolar que regulamen-
passando a depender claramente uma tam e orientam os cursos oferecidos
da outra, resultando intercomu- pela escola.
nicação e enriquecimento recíproco. O corpo docente da escola é
O plano pedagógico do curso de multiprofissional, contando com
qualificação profissional para auxiliar profissionais de diferentes áreas:
de enfermagem prevê, no seu marco nutricionista, farmacêutico, so-
conceitual, estratégias para superar a ciólogo, enfermeiro e psicólogo. A
fragmentação na formação do auxiliar multiprofissionalidade do corpo
de enfermagem, estabelecendo como docente é adotada pela escola com
estratégias: a organização e execução vistas ao enriquecimento que pro-
flexíveis dos conteúdos e das práticas, porciona aos estudantes, além de
considerando o ritmo de aprendiza- levar em conta a especificidade dos
gem dos alunos; a utilização de conteúdos em cada unidade peda-
profissionais dos serviços de saúde gógica.
como docentes e instrutores; o A seleção dos estudantes para o
planejamento contínuo das atividades curso foi realizada pelas chefias de
pelos diversos atores envolvidos no enfermagem das instituições, de
processo de aprendizagem. Estabele- acordo com a legislação educacional,
ce, ainda, um regimento de curso que se configurou como dificultadora
flexível e apropriado às peculiari- no acesso à profissionalização, uma
dades dos alunos e aos seus contextos; vez que vários trabalhadores da área


Formação 13

de enfermagem não possuíam o metodológico do materialismo histó-
Ensino Fundamental, requisito legal rico e dialético, possibilitando, assim,
exigido para sua matrícula no curso confrontar teoria e prática, pensar e
para auxiliar de enfermagem. fazer, proposta e ação e por consi-
Em alguns cursos, foram ofereci- derar que “a educação é um fenômeno
das vagas para a comunidade, a fim dinâmico e permanente como a
de preparar novos trabalhadores de própria vida e o educador busca
enfermagem para se inserirem no compreender justamente este fenô-
mercado de trabalho e atender à meno para compreender melhor o que
expansão dos serviços de saúde e à faz” (Gadotti, 1995).
rotatividade da força de trabalho de Nesse estudo, partiu-se da premis-
saúde na região. sa de que não há idéias, nem insti-
tuições, nem categorias estáticas e que
O caminho metodológico
“toda vida humana é social e está
Optou-se pela pesquisa qualitativa, sujeita a mudança, a transformação,
com o propósito fundamental de é perecível e por isso toda construção
compreender o significado que os social é histórica”(sic) (Minayo,
outros dão às suas próprias situações 1998).
e por considerar que o objetivo é o O estudo teve, como objetivo,
resultado do acordo entre pessoas, analisar a prática profissional dos
advindo da justificação e do diálogo, egressos do curso de auxiliar de
em que o pesquisador envolve-se com enfermagem, tendo como base a
o fenômeno em estudo (Santos Filho, reflexão crítico-reflexiva, denomina-
1997). da, para fins deste estudo, de con-
Considerou-se, nessa opção, que a cepção pedagógica problematizadora,
pesquisa qualitativa busca captar não adotada pela Escola Técnica de Saúde
só a aparência do fenômeno, mas da Unimontes.
também a sua essência, a partir da A Escola Técnica de Saúde confi-
percepção do fenômeno visto em um gurou-se como cenário do estudo,
contexto em que “ele é real, concreto considerando seu papel como insti-
e, como tal, possível de ser estuda- tuição formadora de trabalhadores
do” (Triviños, 1994). para o setor da saúde na região do
A partir dessas opções, definiu-se norte de Minas Gerais.
o estudo como exploratório-descritivo
Os sujeitos desse estudo foram 12
seguindo a orientação de Gil (1994)
auxiliares de enfermagem, sorteados
que afirma que essa abordagem
dentre os formados na sede da Escola
permite aumentar a experiência em
Técnica de Saúde, no período de
torno de determinado problema,
1992 a 1999. Considerou-se que
tendo como objetivo principal a
foram privilegiados os sujeitos sociais
descrição das características de
que detêm os atributos do fenômeno
determinada população ou fenômeno
da investigação, número suficiente
ou o estabelecimento de relações
para permitir uma reincidência das
entre variáveis (Triviños, 1994).
informações, bem como diversifica-
A opção pela pesquisa explorató- dos, partindo da premissa “[...] que
rio-descritiva foi também ancorada uma amostra ideal é aquela capaz de
em Triviños (1994) que orienta “[...] refletir a totalidade nas suas múltiplas
o estudo descritivo pretende descrever dimensões”(Minayo, 1998).
‘com exatidão’ os fatos e fenômenos
Para captação da realidade e
de determinada realidade”.
construção dos dados primários, foi
Reafirmando que o objeto de utilizada a “entrevista coletiva” por
estudo está imerso em uma realidade meio da técnica de “grupos focais”,
social, em constante transformação, no qual os atores sociais desse grupo
que envolve sujeitos e instituições, específico discursaram sobre a ques-
optou-se pelo referencial teórico- tão norteadora: descreva seu cotidiano


14 Nº 08 MAIO DE 2003

de trabalho depois de formado pela categorias empíricas, nas quais foram
Escola Técnica de Saúde da Uni- estabelecidas classificações de “[...]
montes. elementos ou aspectos com caracterís-
ticas comuns e que se relacionam
O grupo focal foi utilizado para
entre si” (Minayo, 1998).
favorecer a interação do grupo,
permitindo respostas ricas e interes- A compreensão dos discursos
santes, com apresentação de idéias Por meio dos discursos figurativos,
novas e originais por parte dos foram construídas as categorias
participantes, em que o pesquisador empíricas a partir de elementos do
pôde observar o debate, o que possibi- trabalho de campo e análise dos
litou a obtenção de conhecimento dados, bem como as categorias
direto dos comportamentos, atitudes, analíticas advindas do referencial
linguagem e percepções do grupo teórico na tentativa de produzir “[...]
(Healthcom, 1995). o confronto entre a abordagem teórica
Ressalta-se que foram prestados anterior e o que a investigação de
esclarecimentos aos auxiliares de campo aporta de singular como
enfermagem a respeito das questões contribuição” (Minayo, 1998). Nesse
éticas norteadas pelo disposto na estudo, a categoria “escola” será
Resolução nº 196/96, do Conselho descrita em um tear de idéias e de
Nacional de Saúde, que trata de contrapontos entre os autores
pesquisa envolvendo seres humanos e referenciados, os dados empíricos e
também sobre o Parecer do Comitê o olhar das pesquisadoras.
de Ética em Pesquisa da Universidade A escola
Federal de Minas Gerais - UFMG,
sendo que os entrevistados assinaram A escola é assumida neste estudo
um “Termo de Consentimento” e como o lugar de ensino e difusão de
“Carta de Aceite” relativos a sua tecnologias e deve proporcionar aos
participação voluntária, e a pesquisa- atores nela inseridos uma formação
dora também assinou um “Termo de cultural e científica, a socialização e
Responsabilidade” pela referida o compromisso de ajudar os estudan-
investigação. tes a tornarem-se sujeitos críticos e
reflexivos, capazes de construir
No tratamento dos dados, utilizou- elementos facilitadores para a compre-
se a análise do discurso dos sujeitos, ensão e apropriação crítica da reali-
para processar o tratamento e a dade, nesse caso, intrínseca ao mundo
análise dos dados e construir as do trabalho em saúde.
categorias de significado.
A escola surge, também, para
Segundo Fiorin (1999), o discurso preparar as novas gerações para o
dos sujeitos tem “[...] o propósito de mundo do trabalho, não só pelos
exprimir seus pensamentos e falar do conhecimentos, idéias e habilidades,
mundo exterior ou de seu mundo mas também de formação de atitudes
interior, de agir sobre o mundo [...]. e interesses. Nela, ocorre, também,
Ele é rigorosamente individual, pois a formação do cidadão para a vida
é sempre um eu quem toma a palavra social, para manter a dinâmica e o
e realiza o ato de exteriorizar o equilíbrio nas instituições, bem como
discurso”. as normas de convivência que com-
Orlandi (1996) complementa que põem o tecido social da comunidade
as palavras e os textos, do ponto de humana (Gómez, 1998).
vista discursivo, “[...] são partes de No cumprimento dessas funções a
formação discursiva que, por sua vez, escola, entretanto, apresenta-se
são parte de formação ideológica” em contraditória: de um lado, para
que “[...] não há discurso sem sujeito garantir sua sobrevivência e da
nem sujeito sem discurso”. própria sociedade, é conservadora e
Dos temas captados nos relatos e objetiva mantendo a reprodução
da análise documental, surgiram as social e cultural, compartilhada pela


Formação 15

família, grupos sociais e meios de diferente, muito bom e que toda
comunicação. Por outro lado, é o essa bagagem... com todas as
espaço da viabilidade da transforma- matérias que são incluídas, foi
ção e construção de sujeitos. muito válido, que hoje estou em
prática...”
Nessa luta das contradições entre
a reprodução e transformação, a Outra reflexão que se pode estabe-
escola pode provocar a reconstrução lecer é que a escolha dos conteúdos
crítica do pensamento e da ação, em observou o princípio básico de que
que os estudantes passam a experi- “[...] os conhecimentos e modos de
mentar e viver a participação real de ação surgem da prática social e
todos na determinação efetiva das histórica dos homens e vão sendo
formas de viver, das normas e padrões sistematizados e transformados em
que governam a conduta, assim como objetos de conhecimento; assimilados
das relações do grupo e da coletivida- e reelaborados; são instrumentos de
de social. ação para atuação na prática social e
histórica” (Libâneo, 1994).
A Escola Técnica de Saúde da
Unimontes tem procurado construir Um fator que pode ser considerado
e consolidar-se como um espaço de como favorecedor dessa interação é
relações vivas e vividas, no qual o o fato de os professores terem víncu-
aprender torna-se o elemento mágico los com os serviços de saúde, que
da transformação, da desalienação e facilita a escolha, a organização e o
do ser feliz. desenvolvimento dos conteúdos,
considerando as exigências teóricas e
A análise dessa categoria “a
práticas colocadas pela vida dos
escola” foi realizada em relação:
estudantes no trabalho, tendo em vista
· Aos conteúdos a complexa realidade do pensar e de
Os enunciados sugerem que os fazer em saúde.
conteúdos de ensino, ou seja, o Os discursos permitem inferir que
conjunto de conhecimentos e habili- os professores foram capazes de
dades, proporcionados pelos con- articular os conteúdos às necessidades
teúdos das disciplinas do curso de dos estudantes, tornando-os exeqüí-
auxiliar de enfermagem, estão em veis face às suas condições sociocul-
coerência com o sistema político- turais e de aprendizagem. Assim
econômico vigente, no qual os egres- sendo, reafirma-se a hipótese de que
sos conseguiram ultrapassar o saber a inserção dos professores no contexto
preexistente, construindo outros da prática social facilita o estabele-
saberes e que estão sendo colocados cimento de relações entre os con-
na sua prática de trabalho, conforme teúdos e sua relevância social, como
expressam os sujeitos do estudo: explica Libâneo (1994):
“... a gente ganha uma carga de “[...] frente às exigências de trans-
conhecimentos muito grande, e a formação da sociedade presente e
escola, assim, me deu uma baga- diante das tarefas que cabe ao
gem de conhecimento muito boa, estudante desempenhar no âmbito
foi um curso assim, muito bom. social, profissional, político e
Então, assim, a escola nos formou cultural”.
numa área geral e que o dia-a-dia
quem faz é só você; a sua experiên- As enunciações dos egressos per-
cia que vai desenrolar... eu fiz o mitem inferir ainda que o trabalho
curso na área todinha né, aprendi docente no curso para auxiliar de
muitas coisas, hoje estou traba- enfermagem superou, em parte, a
lhando na área cardiológica, uma contradição de que o saber sistemati-
área muito diferente, muito sen- zado pode estar distanciado da
sível, então eu acho que a escola realidade social concreta, como
nos formou, me formou total, e acontece nos currículos orientados
hoje eu estou tendo um cotidiano por concepções pedagógicas tradi-


16 Nº 08 MAIO DE 2003

cionais. Essa evidência sugere que a outras, então o auxiliar ele tem
opção pedagógica da Escola Técnica que estar apto a ter esse jogo de
de Saúde favoreceu o trabalho com cintura no... no berçário... eles te
conteúdos vivos e significativos, mudam, põe em enfermaria, então,
articulados aos problemas da prática você tem que está apto a ter o jogo
cotidiana dos estudantes, facilitando de cintura... eu tenho que mostrar
a busca de solução para os mesmos. que eu sei, para mim ficar no
emprego, eu tenho que mostrar que
Outro aspecto revelado nos enun-
eu sei...”
ciados é a formação do auxiliar de
enfermagem com um perfil genera- O enunciado permite captar e
lista. Ao construir o projeto político- refletir que a diversidade de saberes,
pedagógico do curso, contextualizado demanda do mundo do trabalho,
com a realidade do mundo do traba- exige uma formação mais ampla, em
lho, a escola procurou formar um que a formação técnica e ética
profissional com um perfil capaz de adquirida parece estar compatível
transitar em vários campos de sua área com as demandas do emprego, favo-
profissional, procurando desenvolver recendo a flexibilização que caracte-
competência geral pertinentes à sua riza o processo produtivo contempo-
prática profissional. Ressalta-se râneo e a adaptação dos trabalhadores
também que os alunos-trabalhadores às complexas condições do exercício
que se apresentavam para realizar o profissional no mercado de trabalho,
curso, eram provenientes de diversos estando coerente com o expresso por
setores de trabalho na área ambu- Libâneo (1994). Essa análise é
latorial e hospitalar. O enunciado a reforçada por outro enunciado:
seguir evidencia essa situação: “... que o curso nosso foi da
“... o cotidiano é essa correria, recepção do SAME até os serviços
esse jogo de cintura que a gente de Diretoria nós vimos como
tem... é que a escola no início do funciona, não tem uma área dentro
curso, ela abrange aquela área do hospital que eu não estou
toda, você acha para quê isso, para capacitado a partir desse curso.”
quê aquilo, mais assim, depois que Os discursos permitem evidenciar,
você vai no hospital, ou vai em também, que a formação dos aspectos
outro, você vê, que tem que ter éticos, explicitando valores e atitudes,
jogo de cintura... o auxiliar ele foi contemplada no decorrer do curso,
tem que estar apto... então eu acho conforme expressam os enunciados:
que a escola em si está certa em
variar as matérias, é um todo, “... a satisfação de você ter o curso,
porque você vê de tudo um pouqui- você ter capacidade, e poder
nho... eu tenho pessoas que estão usufruir no seu cotidiano, que você
com mais práticas, mas para isso quer segurança no que você está
eu tenho que mostrar que eu sei...” fazendo e da responsabilidade que
não tem pela vida daquela pes-
A formação generalista proposta soa... então esse curso de capacita-
pela escola facilitou o processo de ção que você tem prepara você
trabalho do egresso, permitindo-lhe para saber separar uma coisa da
superar as fronteiras de uma área outra...”
específica e transitar para outros
campos, dentro dos limites da atuação “... eu era costureira, jamais
de sua categoria profissional. Essa assim, pensei que fosse me tornar
flexibilidade parece favorecer sua auxiliar, amo o que estou fazendo,
permanência no mercado de trabalho, vivi muitas experiências lá dentro,
conforme mostra o enunciado a aprendi muita coisa, até assim, a
seguir: me humanizar muito mais, e o
curso me qualificou assim, para
“... no... só mexe com o coração mim poder ter uma relação com
só uma área. O... já mexe com os outros...”


Formação 17

“... mas se você chegar e falar Complementa ainda que esse
assim, uma pessoa do... e uma trabalhador deve realizar cada vez
pessoa da Escola Técnica, nós mais funções abstratas e intelectuais,
somos muito mais aceitos, ele nos uma vez que “o trabalhador poliva-
aceitam bem melhor... só de falar lente deve ser muito mais ‘generalista’
que estudou na Escola Técnica eles do que ‘especialista’”(Deluiz, 1997).
me aceitam muito melhor, tudo é Os egressos também expressam
importante, mesmo que a gente que o curso proporcionou aumento de
não fosse atuar em alguma área, o conhecimentos na área da enfer-
curso é muito importante para a magem, capacitando-lhe para prestar
gente.” informações e orientações mais
Há um outro enunciado que mos- adequadas e oportunas aos usuários:
tra que o egresso do curso para “... após o curso, meu trabalho
auxiliar de enfermagem percebe o ficou muito mais facilitado, em
movimento ocorrido entre um pe- forma de dar informações mais
ríodo que exercia suas funções no especializadas né, na área, e muito
trabalho sem qualificação profissional assim, experiência... ficou mais
e o novo período, em que exerce essas fácil de fazer uma orientação né,
mesmas funções, após concluir sua mais criteriosa, com fundamentos
formação profissional na Escola técnicos né, a respeito de aci-
Técnica de Saúde: dentes, de medicação que são
“Eu estou comparando com hoje, orientadas ao... a ser utilizada né,
eu falei que a gente evoluiu com o orientar... em patologias, a que
tempo, porque naquela época não médico especialista que deve
tinha um local para se preparar um procurar né, durante alguma
profissional para atender e nem queixa clínica, faço uma pré-
dar a ele condições, se eu for mais consulta em áreas de admissão,
do que ele e não ter condições não, exames que são feitos no labo-
isso nem com o tempo, à medida ratório...”
que o mercado deu condições e
Os entrevistados expressaram, nos
preparou a unidade melhor e veio
enunciados, que conteúdos sobre a
equipamentos, aí com a preparação
atenção em situações de emergência,
do profissional hoje em dia se você
também se mostram adequados ao seu
falar nessa época é cômico, porque
desempenho, como auxiliares de
você vê as barbaridades que
enfermagem, em seu contexto de
acontecia antes, anterior a este
trabalho:
curso...”
Os egressos realizam sua reflexão, “... porque nós sempre lidamos,
incorporando questões da tecnologia mexemos com pessoas acidenta-
inserida no seu processo de trabalho; das, essas coisas dessa maneira né,
da sua inserção no mercado de dessa forma aí eu optei, vi que
trabalho; do valor da formação seria bom para nós que lá... estava
profissional para os postos de traba- implantando lá um sistema de
lho que ocupa e, sobretudo, percebem resgate né, foi eu, vim aqui fiz o
que o mundo do trabalho está em curso... onde estou exercendo com
constante mudança, exigindo cada vez grande êxito nessa parte... espe-
mais “jogo de cintura”, como foi cial, é só na área mesmo de
citado por um dos atores-falantes. salvamento... porque nós enfrenta-
mos grandes números de aci-
Deluiz (1997), corroborando com
dentes...”
essas reflexões, afirma que, para
enfrentar situações em constantes Brant (1997) afirma que, ao tentar
mudanças, é exigido do trabalhador salvar uma vida, o trabalhador da
capacidade de diagnóstico, de solução saúde coloca-se no lugar do doente ou
de problemas, capacidade de tomar imagina que um familiar seu poderia
decisões, de intervir no processo de estar naquela mesma situação, o que
trabalho e de trabalhar em equipe. o impulsiona para uma relação de


18 Nº 08 MAIO DE 2003

ajuda, para buscar uma relação oportunidades né, não abrange só
pessoal eu-doente”. aquilo que a gente fica com um
conhecimento, é muitos filmes,
Waldow et al. (1995) contribuem,
muitas coisas que nos abriu mais
em sua coletânea, com esses
a mente né, não ficou preso só
argumentos sobre a importância da
auxiliar não, então a gente teve
construção dos vínculos dos
muita experiência, teve muitas
trabalhadores de enfermagem com as
visitas, então acho que isso que a
pessoas sob condições de cuidado de
escola oferece foi muito bom para
enfermagem.
a gente né, as visitas aos lixões né,
· Aos meios de ensino várias coisas que a gente tive-
ram...”
Os meios de ensino foram adota-
dos pela escola, como “[...] todos os “... então eu acho que a escola nos
meios e recursos materiais utilizados forma, me formou total, e hoje eu
pelo professor e pelos alunos para a estou tendo um cotidiano diferen-
organização e condução metódica do te, muito bom, com toda essa
processo ensino e aprendizagem”, bagagem, como eu já falei antes
conforme afirma Libâneo (1994). né, que ele nos mostrou, com
filmes, com isso, com todas as
Assim sendo, os equipamentos matérias que são incluídas, foi
(carteiras, mesas, quadro-negro, muito válido, que hoje estou pondo
projetor de slide, gravador, televisão em prática...”
etc.), bem como os materiais (gravu-
ras, filmes, mapas, fitas, livros, Veiga et al. (1996) afirmam que os
revistas etc.), além de biblioteca, meios de ensino não podem apenas
museu, laboratório e outros, são substituir a voz do professor ou do
denominados “meios de ensino”. livro, ou a lousa da sala de aula, mas
Libâneo (1994) acrescenta que os “deve-se utilizar o melhor dos recur-
professores precisam ter segurança e sos – do estudante e do professor –
conhecimento dos equipamentos ao para conversas orientadas, para
utilizá-los, posicionando-se criti- ‘viagens imaginárias’ no mundo do
camente em relação a eles. Os conhecimento”.
recursos tecnológicos são meios que
Os enunciados sugerem, ainda,
facilitam o processo ensino-
que os professores estão utilizando
aprendizagem e não um fim em si
esses recursos com segurança e de
mesmo. O professor, como mediador
forma adequada capaz de promover
entre o educando e o objeto a ser
“[ . . .] a i n t e r a ç ã o e n t r e e n s i n o e
apreendido ou criado, usa dos
recursos para facilitar, abrandar e aprendizagem, entre professor e os
suavizar as relações intensas no estudantes, favorecendo a assimilação
processo de construção do conheci- consciente dos conteúdos e o
mento. desenvolvimento das capacidades
cognitivas e operativas dos
Os egressos, como sujeitos ativos estudantes”, conforme orienta
no processo ensino-aprendizagem, Libâneo (1994).
perceberam a utilização dos recursos
e tecnologias pelos professores, como É importante ressaltar que esses
elemento facilitador da reflexão-ação meios de ensino utilizados pelos
e que conduziram à construção de professores do curso estão favorecen-
conhecimentos, com posterior aplica- do a interdisciplinaridade, presente
ção nas atividades postas pela vida na construção do currículo do curso
social, conforme expressam os enun- para auxiliar de enfermagem, no qual
ciados: há a elaboração de um contexto mais
geral, em que as disciplinas dependem
“... e depois que eu conclui o uma da outra, favorecendo a fragmen-
curso, ele nos oferece muitas tação do conhecimento, constituindo


Formação 19

uma aproximação à sua realidade de “[...] não cumprirá a sua função de
vida e de trabalho. subsidiar a decisão da melhoria da
aprendizagem” (Luckesi, 1997).
Outra reflexão acerca dos meios
de ensino é que esses, também, foram Partindo dos enunciados dos
instrumentos que facilitaram o inte- auxiliares de enfermagem, verifica-
resse dos estudantes, a sua colabora- mos suas manifestações de que:
ção e o seu gosto pelo estudo e o “... estou exercendo com grande
entusiasmo do professor em planejar êxito... eu já tenho a minha
as atividades de ensino-aprendizagem, especialidade nesta área...”
de forma sistemática e intencional
com centralidade nos estudantes. “... a partir do momento que eu
me qualifiquei e tive mais seguran-
· a avaliação: um esforço coletivo em ça de exercer a profissão... porque
enfrentar o desafio do aprender eu estava exercendo o que eu via
fazendo no curso...”
A questão avaliação aparece em “... que a gente estava preparado
um único enunciado que menciona teoricamente... eu estava seguro do
“que não tem mais ou menos, porque que eu estava fazendo...”
não existe mais ou menos, você tem
que ser 100%”. “... meu trabalho ficou mais
facilitado, dar informações mais
Pode-se inferir que o processo de especializadas... experiência...”
avaliação adotado no curso estava
inserido tão implicitamente no “... orientar melhor, infor mar
processo ensino-aprendizagem, que melhor...”
não deixou as marcas comumente “... a escola assim, me deu uma
deixadas no ensino tradicional. O bagagem de conhecimento muito
aprender, o avaliar, o recuperar, boa, foi um curso muito bom...”
articulados na dinâmica do processo
Pode-se inferir que os egressos são
ensino-aprendizagem, que pode ter
profissionais com compromissos com
influenciado o estudante a não
o seu fazer, que estão conseguindo
perceber a avaliação com marcas de
aplicar conhecimentos e desenvolver
sofrimento.
habilidades adquiridos no curso no
Usualmente, as marcas negativas seu cotidiano de trabalho, indicando
dos processos avaliativos advêm de que a avaliação esteve presente
uma pedagogia centralizada em durante o processo de ensino, consi-
exames, na qual o estudante se dedica derando que a Escola Técnica de
“[...] aos estudos não porque os con- Saúde preconiza avaliação, segundo o
teúdos sejam importantes, significati- proposto por Bordenave (1994):
vos e prazerosos de serem aprendidos,
“[...] é um componente de grande
mas sim porque estão ameaçados por
uma prova”, conforme complementa importância, sendo considerada
Luckesi (1997). como parte integrante do processo
de planejamento curricular, estan-
Complementando, o autor diz que do presente em todos os estágios
os professores orientados na con- de seu desenvolvimento e não
cepção pedagógica tradicional, utili- apenas confinada aos seus resulta-
zam as provas como instrumento de dos finais”.
ameaça e tortura prévia dos estudan-
tes, em que o medo os levará a · Ao clima do curso: a atmosfera que
estudar. Afirma, também, que hoje não se constrói criando
se usa mais o castigo físico explícito, Os enunciados a seguir revelam o
porém, utiliza-se um castigo mais clima saudoso vivido pelos egressos
sutil, o psicológico; que possui do curso para auxiliar de enfermagem
duração prolongada, enquanto perma- e que permitiu viver emoções e
nente ameaça. Nesse sentido, a saudades que emergiram na discussão
avaliação polarizada pelos exames, dos grupos focais:


20 Nº 08 MAIO DE 2003

“... aí de repente fui lidar com né, ô olha minha pressão, eu tiro
vidas, isso para mim assim, é a pressão... porque no hospital é
muito importante, e assim muita mais a parte curativa, a gente já
responsabilidade, então depois que está ali mesmo já, para tratar da
eu saí da escola, é tanto que eu patologia que o paciente já chegou
voltei né, assim, foi tão bom para com ela, então fora, a gente sabe
mim que estou aqui fazendo o prevenir a área preventiva, a gente
técnico... foi um ganho muito atua nesta área né, a gente está
grande como pessoa, como ser vendo uma coisa errada, sabe que
humano e espero que eu tenha sido aquilo vai trazer conseqüência, a
uma boa colega, eu gosto de ser gente é capaz de ir lá mesmo,
colega, gosto do coleguismo, acho explicar de forma que a pessoa
que isso pesa e conta muito né, a entenda, de forma que sabe que a
cumplicidade acho que pesa mui- pessoa vai seguir seus conheci-
to, a gente tem que ser amiga, não mentos, vai seguir sua fala, que
só de criticar, né, mas de auxiliar, sabe que você tem um curso, você
de ajudar né, de ir lá e se não está está capacitada para aquilo, enfim,
legal, tá com a colega, em vez de foi muito bom.”
ficar criticando, atrapalhando...”
Nas entrevistas, foi explicitado
Os enunciados permitem apreen- que os egressos aplicam os conheci-
der que foi um tempo bom e prazero- mentos adquiridos na vida prática e
so para os alunos, apesar do enfrenta- que houve um movimento da prática
mento de limites, das dificuldades para a teoria, mediado pelo professor,
ocorridas quanto às relações interpes- com a sistematização do conhecimen-
soais no decorrer do curso. Sugerem to. Os enunciados revelam traços de
também manifestações de saudades e respeito, urbanidade, cortesia, cons-
que a dimensão afetiva e o desenvol- ciência de coletividade e sentimento
vimento de valores permearam a de solidariedade humana, mostrando
convivência durante o curso, expres- que o professor esteve voltado para a
sos nos discursos dos atores-falantes. formação de qualidades humanas e
Sugerem que a escola permitiu a modos de agir em relação ao trabalho
expressão de valores. (Libâneo, 1994).
Libâneo (1994) reforça essas O conjunto discursivo dos auxi-
reflexões quando afirma “[...] que o liares de enfermagem sugere, também,
grupo de professores e especialistas que as relações entre professores e
de uma escola precisa explicitar alunos ocorreram em um clima de
princípios norteadores para a vida afetividade, que não se acha excluída
prática, decorrentes de acordos do processo de ensinar e aprender,
mínimos, a partir da busca de sentidos como expressa Freire (1996):
de sua própria existência”.
“[...] esta abertura ao querer bem
Pode-se inferir pelas enunciações é a maneira que tenho
que o curso realizado pelos egressos autenticamente de selar o meu
buscou assegurar e oportunizar uma compromisso com os educandos,
formação técnica capaz de ajudá-los numa prática específica do ser
a tornarem-se sujeitos críticos e humano”.
reflexivos, capazes de construir com
competência seu cotidiano de traba- Os discursos sugerem que o pro-
lho, baseados em princípios, valores, fessor do curso teve “... coragem de
querer bem aos educandos e à própria
atitudes voltados para a solida-
prática educativa...” da qual declarou
riedade, para o respeito à vida e para Freire (1996), em que a atividade
o convívio de aprender e trabalhar docente não separa da discente,
coletivamente, conforme expressão do transformando-se em uma experiência
auxiliar de enfermagem: alegre e o que a experiência
“vai além de um ambiente hospita- pedagógica faz é “[...] desper tar,
lar o meu conhecimento, hoje na estimular e desenvolver em nós o
vizinhança, o pessoal me procura gosto do querer bem e o gosto da


Formação 21

alegria sem a qual a prática educativa Para tanto, foi necessária e funda-
perde o sentido” (Freire, 1996). mental a escola dar atenção ao papel
A análise dos discursos permite do professor, como facilitador do
inferir que a prática educativa do processo ensino-aprendizagem, cons-
curso foi uma vivência de alegria... truindo as condições necessárias e
afetividade... capacidade científica... adequadas ao raciocínio, construindo
domínio técnico... saudades... – “[...] com os alunos-trabalhadores
palavras que aparecem nos enun- uma lógica para a trajetória
ciados. pedagógica...” que possibilitou “... a
formação profissional do auxiliar de
Aprendizagem no trabalho: pensar e
fazer em situações concretas do enfermagem crítico, criativo e
trabalhar e viver transformador da realidade” (Silva,
1997).
Segundo Bastos e Magalhães
(2000) o perfil da força de trabalho Quando chegaram à escola, os
em enfermagem traz marcas de egressos tinham algo a dizer sobre
experiências de escolas tradicionais suas relações de trabalho, apre-
e de concepções de ensino tecnicista, sentavam uma experiência vivida que
do modelo biomédico, curativo e os educou. Adquiriram conhecimen-
centrado nos hospitais. Afirmam, tos no cotidiano do trabalho, resultan-
ainda, que os trabalhadores são te de um processo não formal de
provenientes de setores socioeco- qualificação profissional. Eram,
nômicos menos favorecidos, com sobretudo, portadores de um con-
baixos salários, baixa escolaridade, teúdo que deve ser considerado no
predomínio do sexo feminino e alguns processo de aprender e que contri-
com dupla jornada de trabalho. buiu, com certeza, para seu desem-
Nesse contexto, a Escola Técnica penho atual, como expresso nos
de Saúde procurou buscar, no seu enunciados a seguir:
projeto político-pedagógico, construir “... vim aqui, fiz o curso graças a
metodologias críticas e reflexivas, que Deus tudo bem, certinho, onde eu
levassem em conta que esses estu- estou exercendo com grande êxito
dantes-trabalhadores têm algo a dizer né, nessa parte... porque eu já
sobre sua realidade de trabalho e de
tenho a minha especialidade nesta
vida. Para tanto, o processo ensino-
área, e tem sido muito útil para
aprendizagem foi ancorado em meto-
mim...”
dologias nas quais “[...] o aluno usa
a realidade para aprender com ela, ao “... eu formei assim nesta área de
mesmo tempo que se prepara para enfermagem, nós temos lá sempre
transformá-la” (Bordenave, 1994), a instrução né, e eu sou sempre o
considerando-o como co-partícipe de cabeça de lá para dar instruções...
seu processo de aprendizagem. a gente passa as instruções para
A escola assumiu que é na reali- eles, tudo que eu aprendi aqui...”
dade em que estão inseridos os Os enunciados revelam que os
estudantes-trabalhadores e no seu momentos que mais aproximaram os
mundo do trabalho que os problemas egressos do mundo do trabalho foram
são identificados e são tomados como os de estágio supervisionado, em que
ponto de partida para os diálogos do foi possível estabelecer estreita e
processo ensino-aprendizagem. As-
contínua relação entre prática-teoria-
sim, o local de trabalho é o desenca-
prática, integração ensino-serviço:
deador desse processo, propiciando
ao estudante o desenvolvimento da “... porque não tem coisa pior que
capacidade de observação do que está você chegar num lugar assim, tipo
ao seu redor e construtor de soluções, assim, só tem teoria, teoria e não
ações individuais ou coletivas, cons- tem a prática, apesar da gente ter
tituindo a não separação da transfor- assim os estágios, tudo direitinho
mação individual da social né, porque vê a matéria vai lá e
(Silva, 1997). faz o estágio...”


22 Nº 08 MAIO DE 2003

“... assim é muito importante você pensável para desenvolver ações reais,
saber teoria para depois aplicar a efetivas” (Vazquez, 1977).
prática, porque você sabe respon-
No conjunto discursivo dos auxi-
der por que você está fazendo liares de enfermagem, pode-se inferir
aquilo.” que a escola vem contribuindo ade-
Esses discursos permitem captar quadamente, pela pertinência dos
que na atividade humana, a articula- conteúdos constantes do curso para
ção entre teoria e prática, movem-se auxiliar de enfermagem; dos meios de
e transformam-se continuamente a um ensino; do seu processo de avaliação;
só tempo, “[...] uma vez que a teoria da metodologia de integração ensino-
não exclui a prática e a prática não serviço para a construção de uma
exclui a teoria na atividade social dos educação das consciências dos auxi-
homens” (Veiga, 1996). liares de enfermagem, no sentido de
fazê-los separar “[...] a prática como
Segundo Vazquez (1977), é na seu objeto próprio, para que esta se
prática que se prova e se demonstra a apresente diante dela em estado
verdade; fora dela, não há verdadeiro teórico, isto é, como objeto do
nem falso, uma vez que a verdade não pensamento”, como afirma Vazquez
existe em si, mas sim na prática. Esse (1977).
papel da prática como critério de
No enunciado a seguir, percebe-
verdade não ocorre de forma direta e
se que “é a atividade teórico-prática
imediata, porque a prática não fala
do homem que motiva e promove,
por si mesma, e os fatos práticos
criticamente, transformações na
necessitam ser analisados e interpre-
realidade objetiva e no próprio
tados, porque “o critério de verdade
homem”, segundo Veiga et al. (1996).
está na prática, mas só se descobre
numa relação propriamente teórica “[...] aí com a preparação profis-
com a prática mesma” (Vazquez, sional, hoje em dia, se você falar
1977). nessa época é cômico, porque você
vê as barbaridades que aconteciam
Transpondo tais afirmações do antes, anterior a este curso,
autor para o mundo da educação anterior a esse processo de descar-
profissional do auxiliar de enferma- tar material, pois eram só coisas
gem, pode-se inferir a adequação e erradas[...]”
importância em proporcionar os
Esse discurso corrobora outras
momentos de dispersão para os
afirmações de Veiga et al. (1996), uma
estudantes, por produzirem situações
vez que traduz o movimento, a
que poderão ser associadas à teoria,
transformação contínua da teoria e da
que ocorre tanto nos momentos de
prática, o avanço do conhecimento e,
concentração como de dispersão, no
também, a criticidade do egresso em
desenvolvimento do curso.
relação às práticas realizadas no
Va z q u e z ( 1 9 7 7 ) a f i r m a q u e a trabalho, possibilitando qualificar o
atividade teórica proporciona um resultado do seu trabalho: o cuidado.
conhecimento indispensável para Pelos discursos dos atores-falantes,
transformar a realidade, traçando pode-se perceber que a operacionali-
finalidades que antecipam idealmente zação e condução das atividades de
sua transformação, porém “[...] é ensino proposta nas disciplinas do
preciso atuar praticamente” (Vazquez, curso para auxiliar de enfermagem,
1977). ou seja, os momentos de concentração
Entre a teoria e a prática transfor- e dispersão foram favoráveis quanto
madora, que é um pressuposto que a à construção do saber sistematizado,
Escola Técnica de Saúde preconiza, confrontando-o com a realidade
insere-se um trabalho de educação de concreta, expresso no enunciado a
consciências, “... de organização dos seguir:
meios materiais e planos concretos de “a partir da hora que eu fiz esse
ação, tudo isso com passagem indis- curso, mas parece que eu tirei um


Formação 23

saco de sal das costas. Enquanto deada de situações para que esse
você só vê falar a regrinha das processo se produza, uma vez que “a
cinco setas, você não leva em aprendizagem não se processa em um
conta e você vê o tanto que ela é determinado momento... requer um
fundamental, e quando você está tempo no qual o sujeito ‘investigue
lá e vê a prática, uma coisinha é ativamente’, aplicando suas formas
uma seringa que balançou ali, se de conhecer e aproximando-se cada
ela não tiver aquele detalhezinho vez mais da matriz interna do assunto,
em um processo de idas e vindas de
que tem indicado nela, é coisa que
reflexão e ação” (Davini, 1994).
você tem que aprender na teoria,
porque na prática ali você vai Alguns enunciados revelam gestos
saber o que está lá dentro, são de solidariedade, de responsabilidade
coisas assim que você tem que e de comprometimento com o traba-
estar capacitado, é vida humana lho dos egressos:
que você está mexendo...” “... de que com mais conhecimen-
Esse enunciado permite inferir que tos você pode doar e atender
melhor os seus pacientes.”
o egresso consegue refletir sobre
questões abstratas e complexas no seu “... vivi muitas experiências lá
cotidiano de trabalho, revelando que dentro, aprendi muita coisa, até
o professor se pautou em princípios assim a me humanizar muito mais,
que fundamentam o processo de e o curso me qualificou assim, para
aprender, ou seja, o como se aprende, mim poder ter uma relação com
considerando os esquemas de assimi- os outros, que a gente precisa lidar
lação, que são “[...] as formas de ação com pessoas é muito complicado
que um sujeito desenvolve para né, então foi isso mesmo para
orientar melhor, informar melhor
conhecer alguma coisa”, conforme
coisas que a gente não tem, e
explica Davini (1994).
quando não tem, também vou
A escola orientou-se na autora, que atrás, procuro esclarecer, jamais
afirma que o professor deve desenvol- eu deixo a pessoa voltar sem ser
ver uma estratégia de ensino que se informada do que ela está que-
baseie nas condições reais dos estu- rendo.”
dantes, partindo dos esquemas de Aproximando da síntese: construindo
assimilação mais simples aos mais nova tese
complexos, desde os mais concretos
Do reencontro com os auxiliares
aos mais abstratos. Para que o adulto
de enfermagem, por intermédio dos
possa tornar-se independente dos
seus discursos, emergiram as catego-
dados concretos e refletir sobre
rias e subcategorias que, a medida que
idéias, abstrações e estabelecer foram analisadas, o fenômeno foi-se
relações, que são os esquemas lógico- revelando, no que ele tem de singular
abstratos, tem que ter percorrido os e particular, bem como foram identifi-
esquemas mais simples, ou sejam: os cados os aspectos que se confrontam
esquemas sensório-motores, em que e suas formas de transformação.
o sujeito conhece ao manipular e os
esquemas perceptivos, no qual o Nesse recorte, na categoria escola,
permitiu-se observar, após a confron-
sujeito pode conhecer, observando os
tação dos achados com os autores
objetos materiais, não necessitando da
consultados:
manipulação.
- que o modelo pedagógico ado-
Os professores da Escola Técnica tado no curso de auxiliar de enfer-
de Saúde da Unimontes tiveram um magem, mostrou-se adequado à
papel fundamental nesse processo de formação do auxiliar de enfermagem
construção do conhecimento, conjun- e que os conhecimentos e habilidades
tamente com o auxiliar de enferma- elaboradas, contribuíram para trans-
gem, no sentido de organizar sistema- formar as ações dos egressos no
ticamente uma série gradual e enca- cotidiano dos serviços de saúde;


24 Nº 08 MAIO DE 2003

- que a capacitação dos docentes Ter reencontrado os auxiliares de
não ocorreu de forma arbitrária, mas enfermagem, sujeitos deste estudo, foi
a partir do estabelecimento de uma a experiência fundamental desta
ação estratégica, adequada e inten- pesquisa. Tentar interpretar seus
cional no processo de trabalho discursos, consultar e interagir com
pedagógico; vários autores, comparar resultados
alcançados com os descritos na
- que os auxiliares de enfermagem revisão da literatura foi um esforço
demonstram sentimentos sobre o gratificante e que possibilitou às
trabalho, ora de valorização, ora autoras traçarem algumas recomen-
destituído de valor, contradição dações.
decorrente da divisão técnica do A Escola Técnica de Saúde deverá,
trabalho em enfermagem, revelados com base nessa experiência, ampliar
pelos egressos, como crítica e indigna- seus espaços de ensino-aprendizagem,
ção; promovendo a requalificação profis-
sional, tão solicitada por parte dos
- que o “clima” que existiu nos
auxiliares de enfermagem. Sugere-se
espaços do curso propiciou interações
que essa requalificação ocorra,
entre professores e estudantes, permi- predominantemente, no interior dos
tindo estabelecer relações de solida- serviços de saúde, para facilitar e
riedade, colaboração e de experiência promover interação entre os trabalha-
compartilhada, revelando que a dores que integram a equipe de
dimensão afetiva permeou o processo enfermagem e, destas, com os demais
de aprendizagem; trabalhadores da saúde, na tentativa
de superar conflitos nas relações
- que os auxiliares de enfermagem
profissionais, romper barreiras,
realizam ações que demonstram
buscando a elaboração de propostas
solidariedade e respeito à vida, tanto de atenção à saúde que levem em
no trabalho como em suas comu- consideração todas as demandas e
nidades. necessidades de saúde, considerando
“Aprendizagem no trabalho” foi outra suas determinações históricas, cultu-
subcategoria empírica analisada que rais e sociais. A qualificação requer
permitiu reconhecer: a implantação de um programa de
educação permanente, que deverá ser
- que o auxiliar de enfermagem, sustentado em concepções pedagó-
como estudante-trabalhador, chegou gicas críticas e em metodologias de
ao curso com grande bagagem de educação de adulto, considerando que
conhecimentos adquiridos ao longo de a estratégia com maior potencial de
sua história de vida e que esse saber viabilizar mudanças na formação dos
contribuiu na construção de sentido trabalhadores da saúde é atuar sobre
para sua aprendizagem; as práticas de saúde, articulando o
mundo do ensino ao mundo do
- que o modelo pedagógico do trabalho.
curso foi orientado no enfoque da
Para concluir, pode-se afirmar que
interdisciplinaridade, ainda de forma
a relação dialética entre possibilidade
incipiente; e realidade encontra-se em cons-
- que o estágio supervisionado foi trução, uma vez que o fenômeno em
o momento, no decorrer do curso, estudo está em desenvolvimento e em
que manteve estreita e contínua sucessivas superações.
relação entre a prática-teoria-prática, A nova tese aponta para limites dos
possibilitando a integralização dos cursos de formação profissional que
conteúdos com a prática em serviço; devem ser seguidos por ações estraté-
gicas de educação permanente, que
- que os auxiliares de enfermagem possibilitem o desenvolvimento dos
perceberam e expressaram o movi- trabalhadores, como fator fundamen-
mento, a transformação que ocorreu tal e indispensável da qualidade da
no seu processo de trabalho anterior atenção à saúde, incluindo a satisfa-
e posterior ao curso realizado. ção da população e dos trabalhadores.


Formação 25

de funcionamento do curso de
qualificação profissional de auxiliar
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Formação 27

Análise

A inserção das ocupações técnicas nos


serviços de saúde no Brasil: acompanhando
os dados de postos de trabalho pela pesquisa
AMS/IBGE 1
The insertion of technical employment in the
health services at Brazil, according to the
labor grade data by AMS/IBGE survey
Mônica Vieira 2
Socióloga, doutoranda em Saúde Coletiva
Ana Luiza Stiebler Vieira
Enfermeira sanitarista, doutora em Saúde Pública
Júlio César França Lima
Enfermeiro sanitarista, doutorando em Educação
Mônica Rodrigues Campos
Estatística, doutoranda em Saúde Coletiva
Renata Reis
Assistente social sanitarista, mestre em Saúde Pública
Sandra Rosa Pereira
Socióloga, mestre em Saúde Pública

Resumo: Este artigo tem como objeto de estudo o conjunto das ocupações técnicas
da área da saúde, a partir da análise dos dados da Pesquisa de Assistência Médico-
Sanitária (AMS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anos
1999 e 2002. Seu objetivo principal é observar a inserção das ocupações técnicas
nos serviços de saúde do País, considerando as variáveis relativas aos postos de
trabalho nos estabelecimentos do setor. A análise realizada apontou para as
características institucionais dos postos de trabalho, tais como distribuição
regional, setor de atuação e tipo de estabelecimento e permitiu perceber alterações
em relação ao nível de escolaridade da força de trabalho que acompanham
mudanças tecnológicas e organizacionais que ocorrem no mundo do trabalho,
com exigências de maior qualificação de trabalhadores e progressiva flexibilização
das relações de trabalho.
Palavras-chave: Recursos Humanos em Saúde - tendências; Ocupações em Saúde.
Abstract: This article has, as object of study, the whole of technical employment
in the health area, based on the data analysis of AMS/IBGE Survey on Medical
and Sanitary Assistance, years 1999 and 2002. The main objective is to observe
the insertion of Technical Employment in the Country’s Health services,
considering the relative variables of labor grade in the sector’s establishments.
The analysis, pointed to the institutional characteristics of labor grades as: regional
distribution, branch activity and nature of business organization, thus permitting
to perceive alterations related to scholarship level on the labor force, that follows
the technological and organizational changes that occurs at the labor sector, with
the demand of more qualification to the workers and progressive flexibilization
on labor relations.
Keywords: Health Manpower - trends; Health Occupations.

1
Este artigo é parte do relatório de pesquisa “As ocupações técnicas nos estabelecimentos de saúde: um estudo a partir
dos dados da AMS/IBGE”, Ministério da Saúde/Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores na Área de Enfermagem/
Sistema de Acompanhamento de Sinais do Mercado de Trabalho do Setor da Saúde com Foco em Enfermagem (MS/
PROFAE/Samets).
2
Equipe de trabalho do Observatório dos Técnicos em Saúde, responsável pelo estudo. E-mail: observa@fiocruz.br,
telefone: (0xx) 21 3882-9021. Endereço para correspondência: Av. Brasil, 4.036, sala 209, Manguinhos. CEP: 21040-
361. Rio de Janeiro - RJ.
Introdução estimativa da ocupação no setor da
saúde tende a ser conservadora, pois
A recente criação 3 da Secretaria da é orientada pela busca de segmentos
Gestão do Trabalho e da Educação na ocupacionais mais visíveis e escapam
Saúde (SGTES) no Ministério da do conjunto mais amplo de ocupações
Saúde, com o propósito de desenvol- que se vinculam de forma mais
ver a Política Nacional de Educação indireta ao setor.
e Desenvolvimento para o SUS,
As Políticas de Recursos Huma-
explicita o papel do gestor federal
quanto às políticas de formação, nos, no final da década de 70 e início
desenvolvimento, planejamento e dos anos 80, foram decisivas na
gestão da força de trabalho em saúde mudança da composição interna das
no País. É nesse contexto que se equipes de saúde (Médici, 1987).
evidencia a necessidade de utilizar os Passa-se a privilegiar a formação e a
diagnósticos da força de trabalho em qualificação de pessoal de nível
saúde no sentido de apontar os eixos técnico e auxiliar, seja em função das
e as estratégias fundamentais para o necessidades de expansão da rede
equacionamento de distorções rela- ambulatorial, seja em decorrência do
tivas à gestão do trabalho e da baixo nível de qualidade de atendi-
educação na saúde e que o presente mento prestado nos hospitais, em
artigo é elaborado, com o objetivo de função da polarização do emprego
acompanhar a inserção das ocupações entre médicos e atendentes. Nesse
técnicas nos serviços de saúde do País, período, foi possível detectar um forte
no período de 1999 a 2002, por meio crescimento do número de postos de
dos dados de postos de trabalho da trabalho de ocupações ligadas aos
Pesquisa de Assistência Médico- serviços básicos de saúde, como o
Sanitária (AMS), do Instituto Brasileiro técnico e o auxiliar de saneamento e
de Geografia e Estatística (IBGE). o agente de saúde pública (AMS/
IBGE, 1978, 1984). Já nos últimos
A base de dados utilizada neste anos, fica reforçada a importância da
estudo apresenta a demanda por participação dos trabalhadores de
trabalho nos serviços de saúde, não nível técnico e auxiliar no setor da
devendo ser confundida com a com- saúde, que passam a totalizar, aproxi-
posição do emprego no setor, que madamente, 40% dos postos de
ultrapassa o núcleo do setor da saúde. trabalho nos serviços de saúde,
A caracterização do macrossetor da segundo os dados da AMS/IBGE 1999
saúde envolve os diversos tipos de e 2002.
prestadores de serviços de saúde,
estendendo-se também a muitos Sob a denominação de trabalha-
ramos da indústria, do comércio e dos dores técnicos em saúde, foi consi-
serviços em geral. A AMS reporta, derada uma pluralidade de nomencla-
exclusivamente, ao núcleo de serviços turas – elementar, auxiliar e técnico
de saúde, ou seja, os serviços – inseridos nos estabelecimentos de
produzidos em estabelecimentos saúde. A diversidade de ocupações
especificamente voltados para a técnicas é ampla, tanto no que se
manutenção e recuperação da saúde refere ao quantitativo de traba-
(Girardi, 2002). No entanto, essa lhadores, situação organizativa, como
estatística possibilita acompanhar na inserção no mercado de trabalho
algumas das reconfigurações mais em saúde. Algumas dessas ocupações
expressivas do setor nos últimos anos: são mais antigas, datando sua regula-
a municipalização e a expansão da
flexibilização das relações de traba-
lho (Girardi, 2002, p.17).
Numa caracterização da saúde
como setor que apresenta exten- 3
Decreto n° 4.726, de 9 de junho de 2003, aprova
a Estrutura Regimental e o quadro demonstrativo
sas ramificações, Dedecca et al. de cargos e funções do Ministério da Saúde e
(2001, p.177) afirmam que qualquer define as competências dos órgãos.


Formação 29

mentação profissional da década de mediante o levantamento de dados
70 e metade dos anos 80, portanto, cadastrais e gerais de estabelecimen-
com um início anterior à organização tos de saúde no País.
do Sistema Único de Saúde. Entre
Cabe observar que a definição do
essas ocupações, se destacam as
período de análise relaciona-se com
subáreas de Óptica, Radiologia
a impossibilidade de comparação dos
Médica, Nutrição e Dietética, Saúde
diferentes anos de realização da
Bucal, Patologia Clínica e Histologia,
pesquisa, visto que, tanto seu
Farmácia e a própria Enfermagem.
instrumento de coleta de dados,
Outras ocupações, como as de regis-
quanto o universo de pesquisa sofre-
tros de saúde, equipamentos médico-
ram alterações 4..
hospitalares, citotécnico, hematologia
e hemoterapia, e vigilância sanitária A pesquisa, após sete anos de
e ambiental, possuem uma história interrupção, passou por uma
associada à organização do SUS, e suas reformulação em 1999, quando os
leis, pareceres e resoluções datam do estabelecimentos, anteriormente
final da década de 80 e início dos anos classificados de acordo com o entre-
90. Com relação às ocupações de nível vistador e com o responsável pelas
elementar, cabe destacar a recente informações do estabelecimento 5 ,
regulamentação da ocupação dos passam a ter os dados coletados sem
agentes comunitários de saúde, que essa classificação em função de
passa por processo de definição do seu diferenças conceituais nas diversas
perfil de competências profissionais. Unidades da Federação quanto a esta
Neste artigo, ganham destaque as tipologia. No entanto, de acordo com
ocupações mais fortemente implica- as variáveis coletadas (complexidade
das na formulação das atuais Políticas tecnológica, recursos disponíveis),
Públicas de Saúde, quais sejam: a seria possível classificar o estabele-
enfermagem, a vigilância sanitária, a cimento a posteriori (AMS, 1999).
saúde bucal e os agentes comunitários Os serviços contratados ou tercei-
de saúde. Essas áreas assumem rizados que funcionassem dentro de
centralidade em programas atuais outro estabelecimento de saúde,
como o Projeto de Profissionalização prestando serviço ao mesmo, foram
dos Trabalhadores da Área de Enfer- contabilizados como sendo do próprio
magem (Profae), o Programa de estabelecimento, buscando retratar a
Fo r m a ç ã o d e A g e n t e s L o c a i s d e real dimensão da oferta desses servi-
Vigilância em Saúde (Proformar) e o ços. Porém, em 2002, houve a inser-
Programa Saúde da Família (PSF), na ção da variável “tipo de terceirização”
perspectiva da formação e incor-
poração dos trabalhadores de nível
médio.

Aspectos metodológicos 4
Com relação aos anos de estudo, observa-se que
em 1999 os laboratórios de análises clínicas que
Este estudo é do tipo descritivo, a somente realizassem análises de bioquímica,
partir da análise das informações das parasitologia e/ou bacteriologia não foram objeto
da pesquisa, sendo excluídos do subconjunto
últimas Pesquisas de Assistência Mé- relativo às Unidades de Apoio à Diagnose e à
dico-Sanitária, realizadas em 1999 e Terapia (UADT). Entretanto, em 2002, esses
laboratórios de análises clínicas são novamente
2 0 0 2 . A Pe s q u i s a d e A s s i s t ê n c i a reintegrados à base de dados. Nesse momento,
Médico-Sanitária é, desde 1975, uma cabe ressaltar que a retirada de tal locus terá
base de dados de responsabilidade do reflexo na análise das ocupações. Quanto à
cobertura, convém esclarecer que os “consultórios
IBGE, e que, atualmente, possui o particulares” de profissionais de saúde autônomos
apoio do Ministério da Saúde, por que, por sua vez, representam o principal recurso
da assistência ambulatorial das operadoras de
intermédio do projeto de Reforço à planos privados de saúde, “são excluídos dessa
Reorganização do Sistema Único de pesquisa”.
Saúde (Reforsus). Seu principal 5
Os estabelecimentos eram classificados em seis
propósito é definir o perfil da tipos: postos de saúde, centros de saúde, unidades
mistas, hospitais, clínicas ambulatoriais e unidades
capacidade instalada em saúde, de complementação diagnóstica e terapêutica.


30 Nº 08 MAIO DE 2003

– ambulatorial, urgência e emergên- Composição das ocupações técnicas
cia, internação, Serviço de Apoio em saúde
Diagnóstico e Terapia (SADT) –,
discriminando-se, diferentemente de O exame da composição da força
1999, os serviços contratados ou de trabalho em saúde, no período de
terceirizados que funcionassem 1999 a 2002, reforça a tendência, já
dentro de outro estabelecimento de verificada em meados da década de
saúde, prestando serviço ao mesmo, 80, da elevação do grau de escola-
não sendo mais computados no mesmo ridade dos trabalhadores em saúde,
questionário. particularmente de nível técnico.
Enquanto os postos de trabalho dos
Notifica-se, ainda, que a partir das
técnicos e auxiliares de saúde repre-
informações da AMS, não é possível
sentavam 27,30% do total dos postos
estimar, para os estabelecimentos que de trabalho existente em 1984 (AMS,
declaram prestar serviços ao SUS e aos 1984), passam a representar, nos anos
clientes de planos privados de saúde de 1999 e 2002, respectivamente,
e àqueles particulares, que parte de 37,9% e 39,1% do total dos postos
um mesmo estabelecimento destina- ocupados em saúde. Já o nível ele-
se a cada segmento assistencial m e n t a r, c o n t a v a , e m 1 9 8 4 , c o m
(Viacava; Bahia, 2002). 42,9% do total de postos de trabalho;
Quanto aos dados relacionados ao nos anos de 1999 e de 2002, passa a
pessoal de saúde, a AMS informa o constar com reduzida participação na
conjunto de postos de trabalho composição da força de trabalho em
ocupados nos estabelecimentos de saúde, 13,67% e 15,29. No entanto,
saúde. A principal particularidade essa parcela foi a que apresentou a
dessa base de dados relaciona-se às maior taxa de crescimento anual,
características do conjunto de postos entre 1999 e 2002, como observado
de trabalho nos estabelecimentos do na Tabela 1. Esse fato está rela-
setor. Nesse sentido, não é possível cionado com a estratégia do Minis-
conhecer o perfil socioeconômico e tério de Saúde de fortalecer e ampliar
demográfico dos trabalhadores inseri- a implementação dos programas de
dos no mercado de trabalho em saúde, Agente Comunitário de Saúde (Pacs)
mas sim, analisar as características e Saúde da Família (PSF) no Brasil.
institucionais dos postos de trabalho.
Os incentivos financeiros criados
Como o objetivo principal foi acom-
pelo Ministério da Saúde ocasionaram
panhar a inserção das ocupações
uma rápida expansão do PSF. Em
técnicas nos estabelecimentos de
dezembro de 1994, no Brasil, exis-
saúde do País, foram selecionadas as
tiam 328 equipes do PSF em apenas
seguintes variáveis: 1) composição da
55 municípios brasileiros e 29.098
força de trabalho de nível técnico,
agentes comunitários de saúde em
auxiliar e elementar; 2) distribuição
atividade. Em outubro de 2002, eram
regional; 3) distribuição dos postos
16.463 equipes em cerca de 74% das
de trabalho por tipo de estabeleci-
cidades brasileiras, e mais de 172 mil
mento: com internação, sem interna-
agentes comunitários de saúde foram
ção, e serviços de apoio à diagnose e
contratados para o PSF em todo o País
terapia; 4) postos de trabalho por
(Informe Saúde, 2002). Observa-se,
esfera administrativa do estabeleci-
na Tabela 2, que os postos de trabalho
mento: público (federal, estadual e
relacionados aos agentes comuni-
municipal) e privado; 5) postos de
tários de saúde passaram de 67.503
trabalho por forma de vínculo do
postos, em 1999, para 142.696 em
trabalhador com o estabelecimento:
2002; uma taxa de crescimento anual
próprio (contrato direto com o
de 49,5%.
estabelecimento), intermediário
(contrato por empresa, cooperativa ou A análise da distribuição de postos
outro tipo de entidade diferente do de trabalho de nível técnico e auxiliar,
estabelecimento) e outros (prestação segundo ocupação, aponta para
de serviço, autônomo). predominância da subárea de enfer-


Formação 31

Tabela 1
Evolução dos Postos de Trabalho segundo Nível de Escolaridade. Brasil – 1999, 2002

1999 2002
Nível de escolaridade Taxa de Crescimento
Anual
Nº. Abs. % Nº. Abs. %

Superior 665.512 48,39 729.747 45,59 4,3%

Técnico/Auxiliar 521.735 37,94 626.160 39,12 8,9%

Qualificação Elementar 187.991 13,67 244.809 15,29 13,4%

Total 1.375.238 100,00 1.600.716 100,00 7,3%

Fonte: IBGE – AMS 1999/2002.

Tabela 2
Postos de Trabalho segundo Ocupações de Nível Técnico/Auxiliar e Elementar em Saúde. Brasil –
1999, 2002

1999 2002 Taxa de


Ocupações por nível de escolaridade Crescimento
Nº % Nº % Anual

Total Nível Técnico / Auxiliar 521.735 100,00 626.160 100,00 8,9%


Biodiagnóstico 17.319 3,32 43.138 6,89 66,3%
Téc./Aux. em histologia 987 0,19 626 0,10 -16,3%
Téc./Aux. em patologia clínica/ laboratório 14.738 2,82 41.187 6,58 79,8%
Téc. em citologia/citotécnica 1.594 0,31 1.325 0,21 -7,5%
Enfermagem 389.370 74,63 471.904 75,36 9,4%
Aux. de enfermagem 339.766 65,12 389.277 62,17 6,5%
Téc. de enfermagem 49.604 9,51 82.627 13,20 29,6%
Farmácia 10.021 1,92 12.878 2,06 12,7%
Téc./Aux. de farmácia 10.021 1,92 12.878 2,06 12,7%
Hematologia/Hemoterapia 5.449 1,04 3.257 0,52 -17,9%
Téc./Aux. em hematologia / hemoterapia 5.449 1,04 3.257 0,52 -17,9%
Nutrição e Dietética 7.331 1,41 8.876 1,42 9,4%
Téc./Aux. em nutrição e dietética 7.331 1,41 8.876 1,42 9,4%
Radiologia 20.231 3,88 24.347 3,89 9,0%
Téc. em radiologia médica 20.231 3,88 24.347 3,89 9,0%
Reabilitação 4.306 0,83 4.874 0,78 5,9%
Téc./Aux. em fisioterapia e reabilitação 4.306 0,83 4.874 0,78 5,9%
Saúde Bucal 22.380 4,29 14.666 2,34 -15,3%
Téc. em higiene dental 2.834 0,54 - - -
Aux. de consultório dentário 18.785 3,6 - - -
Téc./Aux. de saúde oral (*) - - 14.666 2,34 -14,3%
Téc./Aux. em prótese dentária 761 0,15 - - -
Equipamentos Médico-Hospitalares 2.072 0,4 3.202 0,51 24,2%
Téc. em equipamentos médico-hospitalares 2.072 0,4 3.202 0,51 24,2%
Vigilância sanitária e ambiental 8.083 1,55 6.713 1,07 -7,5%
Agente de saneamento 4.116 0,79 - - -
Fiscal sanitário 2.602 0,5 4.260 0,68 28,3%
Téc./Aux. em vigilância sanitária e ambiental 1.365 0,26 2.453 0,39 35,4%
Outros - nível técnico/auxiliar 35.173 6,74 32.305 5,16 -3,6%
Total Nível Elementar 187.991 100,00 244.809 100,00 13,4%
Atendente/Aux. de serviços diversos assemelhados 82.040 43,64 60.639 24,77 -11,6%
Parteira 3.470 1,85 2.546 1,04 -11,8%
Agente de saúde pública 11.753 6,25 10.468 4,28 -4,9%
Agente comunitário de saúde 67.503 35,91 142.696 58,29 49,5%
Guarda endemias/Agente controle de zoonose/Agente controle Vetor 9.986 5,31 16.805 6,86 30,3%
Outros – nível elementar 13.239 7,04 11.655 4,76 -5,3%

Fonte: IBGE – AMS/1999/2002.


(*)
Saúde Oral inclui os técnicos em higiene dental e os auxiliares de consultório dentário.
Obs.: A designação saúde oral deve ser entendida como saúde bucal.


32 Nº 08 MAIO DE 2003

magem, concentrando 74,6% dos de enfermagem integrará o itinerário
postos de trabalho em 1999 e 75,3% de profissionalização do técnico de
em 2002. Nenhuma das outras ocupa- enfermagem, bastando para isso,
ções de nível técnico e auxiliar curso de complementação da carga
alcança a faixa dos 10% (Tabela 2). horária teórica e prática. Essas
Essa concentração de postos de mudanças parecem apontar que, a
trabalho em enfermagem faz com que médio e longo prazo, os trabalhadores
muitas ocupações possam ser classi- com Ensino Médio completo consti-
ficadas como “categorias minoritá- tuam a maior parcela da força de
rias”, o que não é verdadeiro, pois, trabalho da enfermagem no País.
para Nogueira (2002), o pequeno
A subárea de saúde bucal, com-
contingente de trabalhadores em áreas
posta pelas ocupações de técnico em
“cruciais” para o funcionamento dos
serviços deve ser atentamente verifi- higiene dental, técnico ou auxiliar em
cado, especialmente, num momento prótese dentária e auxiliar de consul-
em que são ampliados as propostas tório dentário, apresentou o segundo
de qualificação profissional e o papel maior quantitativo de postos de
das Escolas Técnicas do SUS. trabalho de nível técnico no País em
1999. A necessidade de melhorar os
Na subárea de enfermagem, consi- índices epidemiológicos de saúde
derando as três ocupações — o bucal e a ampliação de ações nessa
técnico, o auxiliar e o atendente de área, no setor público, levou o
enfermagem –, observou-se entre os Ministério da Saúde a publicar, em
anos de 1999 e 2002 um intenso 28 de dezembro de 2000, a Portaria
decréscimo dos postos de trabalho dos MS/GM nº 1.444 7 , que estabelece o
atendentes de enfermagem e também incentivo e o financiamento de ações
grande crescimento dos postos de voltadas para a promoção da saúde
trabalho dos auxiliares de enfer- bucal e a inserção de profissionais
magem. Os atendentes, em 1999, dessa subárea no Programa Saúde da
representavam 43,6% do total da Família.
força de trabalho de nível elementar
no País, diminuindo sua participação
para 24,8% em 2002. Os auxiliares,
nesse contexto, passam a representar
a maior força de trabalho da enfer- 6
Os atendentes de enfermagem não são reconhecidos
magem. No entanto, entre 1999 e oficialmente, desde 1986, como uma categoria da
equipe – em função da Lei nº 7.498, que
2002, os técnicos de enfermagem, regulamenta o exercício profissional da
crescem a uma participação de 29,6% enfermagem – por não possuírem formação
específica regulada em lei (Cofen, 1990a). Todos
nesse período, enquanto os auxiliares os exercedores de tarefas elementares de
de enfermagem crescem apenas a uma enfermagem nos estabelecimentos de saúde do País,
taxa de 6,5%, indicando um aumento segundo a Resolução Cofen nº 111, de 1989,
estariam autorizados para esse exercício até 26 de
no número de trabalhadores com junho de 1996, findo o qual, seriam considerados
Ensino Médio completo. ilegais caso não obtivessem formação profissional
em enfermagem (Cofen,1990b). O objetivo do
Tal fato parece refletir o impacto Cofen era incentivar essa formação profissional
para melhor qualificação da equipe de enfermagem.
de resoluções regulamentadoras do Em 1994, com a Lei nº 8.967, de 28 de dezembro,
exercício profissional da enfermagem assinada por Itamar Franco, os atendentes admitidos
nos serviços de saúde até a data dessa lei, tiveram
no País 6 e de projetos específicos de assegurado novamente o direito do exercício das
profissionalização na área, como o tarefas elementares de enfermagem sob a supervisão
Projeto Larga Escala e o Profae. Com dos enfermeiros (DOU, 1994); os admitidos após
1994, além de não comporem legalmente a equipe
o incentivo para a formação técnica de enfermagem, são considerados pelo Cofen,
na atualidade, a tendência é que a como exercedores ilegais da enfermagem, sujeitos
tanto quanto seus empregadores, a processos e
força de trabalho da subárea de penalidades.
Enfermagem torne-se cada vez mais 7
Essa Portaria foi regulamentada pela Portaria
qualificada. A perspectiva é ainda MS/GM nº 267, de 6 de março de 2001, que
maior tendo em vista que, com o aprova as normas e diretrizes de inclusão da saúde
bucal na estratégia do PSF, por meio do Plano de
Parecer CEB/CNE/MEC 10/2000, a Reorganização das Ações de Saúde Bucal na
qualificação profissional de auxiliar Atenção Básica.


Formação 33

Segundo dados do Ministério da de cada uma dessas ocupações. O
Saúde, no ano de 2002, foram implan- fiscal sanitário atua na vigilância ou
tadas 3.943 equipes de saúde bucal, fiscalização sanitária junto aos domi-
distribuídas em 2.157 municípios, cílios, estabelecimentos de produção,
beneficiando aproximadamente 24,3 comércio e serviços de interesse para
milhões de brasileiros (Brasil, 2002). a saúde, verificando o cumprimento
Dentre as 3.943 equipes implantadas, da legislação sanitária vigente em sua
3.540 equipes eram compostas por um área de atuação. Enquanto o técnico
cirurgião dentista e um atendente de e auxiliar em vigilância sanitária ou
consultório dentário, e apenas 403 ambiental atuam sob a supervisão de
equipes eram compostas por um um profissional de nível superior
cirurgião dentista, um técnico de desenvolvendo ações nas áreas de
higiene dental e um atendente de controle de zoonoses e de vetores,
consultório dentário. Os recursos abastecimento de água, esgotamento
financeiros destinados à implantação sanitário, resíduos sólidos, segurança
de equipes de saúde bucal no PSF no trabalho, situações de emergência
tendem a ampliar os postos de e calamidade pública, e fiscalização
trabalho, principalmente do sanitária.
atendente de consultório dentário.
Segundo a AMS/2002, no Brasil,
Entretanto, a análise dos dados da existem 4.260 postos de trabalho de
AMS, no período de 1999 e 2002, não fiscal sanitário e 2.453 de técnico ou
nos permite afirmar tal expansão. auxiliar em vigilância sanitária,
Enquanto no ano de 1999 a AMS representando respectivamente 0,68%
classificou três ocupações da subárea e 0,39% do total de postos de trabalho
de saúde bucal: o técnico em higiene de nível técnico.
dental, o auxiliar de consultório
dentário e o técnico e auxiliar em Em recente artigo, Nogueira
prótese dentária, no ano de 2002, (2002) faz uma análise do contexto
classificou apenas uma ocupação atual da área de recursos humanos em
denominada de técnico e auxiliar de Saúde e define quatro tipos de
saúde oral. Segundo o manual de categorias que impõem estratégias
instrução do questionário deste ano, novas de qualificação e gestão dos
essa ocupação inclui os técnicos de trabalhadores de nível técnico:
higiene dental e os auxiliares de categorias que são decorrentes e
consultório dentário 8. Ao considerar dependentes da ação do Estado; as que
o total de postos de trabalho do grupo são ou deveriam ser estimuladas pela
de saúde oral (técnicos em higiene ação do Estado; as que correspondem
dental e auxiliar de consultório a um contexto técnico e social
dentário), verificou-se um decréscimo ultrapassado e estão em processo de
de 14,3% dos postos de trabalho ajuste; e as que compõem um rol
desse grupo, no período de 1999 e múltiplo de funções tanto no setor
2002 (Tabela 2). público quanto no privado. Conforme
sinalizado, as ocupações citadas
Em relação à subárea de vigilância anteriormente: enfermagem, saúde
sanitária, em 1999, a AMS disponibi- bucal, vigilância sanitária e os agentes
lizou dados desagregados de três comunitários de saúde, conformam
categorias de trabalhadores: o agente um grupo fortemente correlacionado
de saneamento, o fiscal sanitário e o às Políticas Públicas para o setor.
técnico e auxiliar em vigilância
sanitária e ambiental. Na pesquisa de
2002, o agente de saneamento não
aparece especificado, dificultando a
análise desse grupo ocupacional.
Essas terminologias podem gerar
dúvidas quanto às suas especificida- 8
Com essa mudança no instrumento de coleta de
dados da AMS, não será possível uma análise
des e, portanto, considera-se útil específica da distribuição de postos de trabalhos
definir o que a base de dados entende segundo as ocupações da subárea de Saúde Bucal.


34 Nº 08 MAIO DE 2003

Distribuição regional das ocupações mentos de ensino de Educação Profis-
técnicas em saúde sional de Nível Técnico em Saúde
concentravam-se nessa região em
O Sudeste permanece concentran- 2001.
do a oferta de postos de trabalho no
Brasil (Gráfico 1). Verifica-se que, em O Nordeste era, segundo a AMS
1999 e 2002, mais da metade dos 2002, a segunda região com maior
postos de trabalho das ocupações quantitativo de postos de trabalho de
técnicas e auxiliares em histologia, nível técnico e auxiliar, com 21,2%;
radiologia médica, equipamentos seguido do Sul, com uma oferta de
médico-hospitalares e as ocupações de 15,4%; do Centro-Oeste, com 6,9%;
auxiliar de enfermagem e de técnico e do Norte, com 6,0%. Em relação
de enfermagem também se concen- ao total de 244.809 postos de trabalho
tram nessa região. Em 1999, 50,8% de nível elementar, estes se distribuem
e 51,9% dos postos de trabalho de em 37,5% no Nordeste, 30,2% no
citologia ou citotécnica e de hemato- Sudeste, 13,2% no Sul, 11,3% no
logia ou hemoterapia, respecti- Norte, e 7,8% no Centro-Oeste.
vamente, localizavam-se no Sudeste e, Em relação à distribuição dos
em 2002, ambas as ocupações dimi- postos de trabalho de nível elementar,
nuíram em cerca de três pontos os observa-se que esses concentram-se no
percentuais de postos de trabalho. A Nordeste, 41,1% em 1999 e 37,5%
ocupação de técnico e auxiliar em em 2002. Destacamos a ocupação de
reabilitação também se concentraram agente comunitário de saúde que, em
no Sudeste. O Sudeste localiza a 1999, concentrou 57,3% dos 67.503
maior rede instalada do setor da saúde postos de trabalho. No ano de 2002,
(38,2% em 1999 e 37,3% em 2002 verifica-se que apenas 35,8% do total
do total dos estabelecimentos em dos postos de trabalho dessa ocupação
saúde), bem como os grandes hospi- estavam localizados nessa região.
tais, muitos dos quais são centros de Nesse mesmo período, percebe-se no
referência e boa parte detém alto nível Sudeste crescimento significativo da
de complexidade, incorporando oferta de trabalho para essa ocupação.
expressivo contingente de trabalha- Os agentes comunitários de saúde se
dores. A região ainda concentra a inserem principalmente na Estratégia
maior rede formadora de técnico e de Saúde da Família. De acordo com
auxiliar. Segundo Lima et al. (2002), Ministério da Saúde, em maio de
aproximadamente 70% dos estabeleci- 1999, do total de 90.777 agentes
Gráfico 1
Percentual de Postos de Trabalho de Ocupações Técnicas/Auxiliares e de Qualificação Elementar
segundo distribuição regional. Brasil – 2002

Fonte: IBGE – AMS 1999, 2002.




Formação 35

comunitários de saúde que traba- saúde bucal e vigilância sanitária –
lhavam no Saúde da Família, 60,5% apresentam percentuais acima dos
estavam trabalhando no Nordeste, 70% de postos de trabalho em estabe-
15,0% no Norte, 6,9% no Centro- lecimentos sem internação.
Oeste, 8,7% no Sul e apenas 8,9%
Os postos de trabalho de nível
no Sudeste.
elementar estão, majoritariamente,
Tipo de estabelecimento de saúde9 localizados nos estabelecimentos sem
internação devido à participação dos
Na análise dessa variável, conside- agentes comunitários de saúde, dos
raram-se dois tipos de atendimentos agentes de saúde pública, de controle
prestados pelos estabelecimentos de de zoonoses e vetores, e dos guardas
saúde: com e sem internação. São de endemias. Entre 1999 e 2002, os
considerados estabelecimentos com empregos nesses estabelecimentos
internação aqueles destinados à apresentaram um extraordinário
acomodação de pacientes internados crescimento, passando de 56,9% para
(leitos) para permanência por um 74,7%. Como mencionado ante-
período mínimo de 24 horas 10. Os riormente, esse crescimento está
estabelecimentos sem internação são associado à implementação dos
aqueles que permitem o atendimento programas Pacs e PSF nos municípios,
ambulatorial ou de emergência (AMS, particularmente, à ampliação do
2002). número de agentes comunitários de
saúde no Brasil.
Verifica-se que, nos anos de 1999
e de 2002, a maior parte dos postos A Pesquisa de Assistência Médica
de trabalho de nível técnico e auxiliar Sanitária de 2002 confirma a maior
no Brasil está localizada nos estabe- absorção no País das ocupações de
lecimentos com internação. Em 1999, enfermagem nos estabelecimentos
os estabelecimentos com internação com internação (75,31% dos técnicos,
somavam cerca de 70% dos postos de 72,52% dos auxiliares e 54,31% dos
trabalho das ocupações de nível atendentes), demonstrando que o
técnico e auxiliar, caindo para 67,8% locus privilegiado do trabalho da
em 2002 (Quadro 1). As ocupações enfermagem é o hospital. Isso cons-
que compõem a subárea de enfer- titui um fato já histórico na área,
magem influenciam esse resultado em podendo ser verificado desde a
função do grande quantitativo de criação da profissão e do início da
trabalhadores. utilização dos “práticos de enfer-
magem” no sistema de saúde do País.
Verifica-se que, entre as ocupações
A formação desses profissionais
de nível técnico e auxiliar que
esteve voltada, primordialmente, para
apresentam múltipla inserção, ou
o âmbito hospitalar ou para a assis-
seja, distribuem-se tanto em estabe-
tência curativa, ainda que a qua-
lecimentos com e sem internação,
lificação dos trabalhadores tenha se
como nos estabelecimentos de serviço
iniciado com o Departamento Na-
de apoio diagnóstico, destacam-se a
cional de Saúde Pública e dos Serviços
enfermagem, a histologia, a patologia
de Enfermagem de Saúde Pública no
clínica, a citologia, a hematologia e
a hemoterapia, a radiologia médica,
a reabilitação e os equipamentos
médico-hospitalares. Entretanto,
analisando mais detidamente cada 9
Cabe explicitar que a AMS não considera objeto
ocupação de nível técnico e auxiliar, da pesquisa os consultórios particulares,
ambulatórios médicos ou dentários da rede escolar
verifica-se que, das ocupações citadas ou de empresas, estabelecimentos destinados
acima, a de reabilitação é a que exclusivamente à pesquisa ou ensino e os criados
apresenta percentuais mais diluídos provisoriamente em caráter de campanha. Ressalta-
se que tal fato subestima o total dos postos de
entre os três tipos de estabeleci- trabalho de ocupações da subárea de saúde bucal.
mentos. Apenas dois grupos ocupa- 10
O hospital-dia não é considerado estabelecimento
cionais de nível técnico e auxiliar – com internação.


36 Nº 08 MAIO DE 2003

Quadro 1
Distribuição Percentual de Postos de Trabalho segundo Ocupações Técnicas/Auxiliares e Elementares
em Saúde por Tipo de Estabelecimento. Brasil – 1999, 2002

1999 2002
Ocupações por Nível de Escolaridade Com Sem SADT Com Sem SADT
Internação Internação Internação Internação
Total Nível Técnico/Auxiliar 70,21 25,92 3,86 67,84 25,75 6,42

Téc./Aux. em histologia 41,64 5,67 52,68 39,46 4,47 56,07

Téc./Aux. patologia clínica/laboratório 72,96 27,04 0,00 44,57 17,71 37,71

Téc. em citologia/citotécnica 43,54 17,82 38,64 32,08 18,11 49,81

Aux. de enfermagem 75,58 23,07 1,36 72,52 25,43 2,05

Téc. de enfermagem 78,56 19,15 2,29 75,31 20,54 4,15

Téc./Aux. de farmácia 79,29 20,71 0,00 78,06 21,94 0,00

Téc./Aux. em hematologia/hemoterapia 58,56 10,52 30,92 63,16 10,16 26,68

Téc./Aux. em nutrição e dietética 98,01 1,99 0,00 96,91 3,09 0,00

Téc. em radiologia médica 64,17 16,02 19,82 60,02 15,04 24,94

Téc./Aux. em fisioterapia ou em reabilitação 39,85 28,66 31,49 34,30 36,87 28,83

Téc. em higiene dental 9,00 91,00 0,00 - - -

Aux. consultório dentário 14,70 85,30 0,00 - - -

Téc./Aux. de saúde oral - - - 6,14 93,86 0,00

Téc./Aux. em prótese dentária 19,05 80,95 0,00 - - -

Téc. em equipamentos médico-hospitalares 66,99 15,64 17,37 74,20 15,46 10,34

Agente de saneamento 13,70 86,30 0,00 - - -

Fiscal sanitário 24,02 75,98 0,00 23,71 76,29 0,00

Téc./Aux. em vigilância sanitária e ambiental 24,98 75,02 0,00 16,55 83,45 0,00

Outros - nível técnico/auxiliar 55,78 27,54 16,68 60,45 28,61 10,95

Total Nível Elementar 40,24 56,92 2,85 22,96 74,70 2,34

Atendente/Aux. de serviços diversos


assemelhados 62,63 32,66 4,71 54,31 38,74 6,95

Parteira 83,54 16,46 0,00 81,11 18,89 0,00

Agente de saúde pública 17,60 82,40 0,00 19,91 80,09 0,00

Agente comunitário de saúde 14,02 85,98 0,00 7,24 92,76 0,00

Guarda Endemias/Agente controle de zoonose


Agente controle vetor 12,94 87,06 0,00 9,09 90,91 0,00

Outros – nível elementar 64,48 24,30 11,22 62,33 24,69 12,97

Fonte: IBGE – AMS 1999/2002.

início do século XX, tendo como sem internação, e mais recentemente,


objetivos o saneamento e o controle nos estabelecimentos de apoio à
de epidemias que assolavam as diagnose e terapia.
cidades, principalmente as portuárias.
Setor de atuação e esfera
Embora a maioria dos empregos da
administrativa
enfermagem se localize nos hospitais,
a tendência tem sido de aumento da Os dados da AMS dos anos de
sua absorção nos estabelecimentos 1999 e 2002 evidenciam que enquan-


Formação 37

to os empregos de nível superior e de vidos pelo setor privado e, já no final
técnico e auxiliar estavam distri- da década de 90, passaram em sua
buídos entre os setores públicos e grande maioria, a serem trabalhadores
privados de forma semelhante, uma do setor público. Como a força de
grande parcela dos postos de trabalho trabalho dos atendentes decresceu em
que exigiam apenas a quarta série do números absolutos nos dois setores,
primário estava localizado no setor pode-se apontar para o fato das
público. instituições estarem deixando de
empregar esses trabalhadores e/ou
As ocupações técnicas e auxiliares
investirem na qualificação profis-
que estão predominantemente asso-
sional de auxiliares de enfermagem.
ciadas ao setor público são: o agente
As instituições públicas, por terem
de saneamento, vigilância sanitária e
em princípio contratos mais estáveis,
ambiental, fiscal sanitário, técnico de
vêm diminuindo essa força de trabalho
higiene dental, o auxiliar de consul-
por aposentadoria ou por transposição
tório dentário e o auxiliar de enfer-
de cargo, para auxiliar ou técnico de
magem 11. Já o setor privado oferta
enfermagem, tendo em vista o prazo
grande parcela dos postos de trabalho
inicial de 26 de junho de 1996 para a
das ocupações técnicas e auxiliares de
qualificação dos atendentes conforme
histologia e reabilitação, de equipa-
a Resolução n° 111, de 1989, do
mentos médico-hospitalares, citologia
Cofen, os quais seriam considerados
e citotécnica, hematologia e hemote-
ilegais caso não obtivessem formação
rapia, nutrição e dietética, radiologia
profissional em enfermagem (Cofen,
médica, prótese dentária, farmácia e
1990). A explicação para um maior
de técnico em enfermagem (Quadro 2).
número de atendentes no setor
N o n í v e l e l e m e n t a r, t o d a s a s público está relacionada à
ocupações são predominantemente dependência de concurso público para
públicas. Com percentuais de postos a transposição de cargo. Dessa forma,
de trabalho acima de 95,0% estão os mesmo sendo qualificados como
agentes de saúde pública, os agentes auxiliares, esses trabalhadores
comunitários de saúde, os guardas de continuam em postos de trabalho
endemias, de controle de zoonoses e como atendentes. É necessário
de vetores. Já as ocupações de bastante cuidado ao mencionar que as
parteiras e de atendentes apresentam instituições privadas, aparentemente,
mais de 60% dos postos de trabalho mantêm uma força de trabalho mais
no setor público. qualificada do que as instituições
públicas, já que estas últimas
Em relação à subárea de enferma-
empregam mais auxiliares e
gem, o mercado de trabalho pouco se
atendentes, e as primeiras absorvem
modificou ao longo das décadas,
mais os técnicos e os auxiliares de
mantendo, de forma geral, as suas
características. Os auxiliares de
enfermagem se caracterizam, desde a
década de 70, como trabalhadores
públicos. Os técnicos de enfermagem O setor público que concentrava, em 1999,
11

eram absorvidos, até o final da década 68,2% dos postos de trabalho de ocupação técnica
e auxiliar em patologia clínica; passa a ofertar
de 80, principalmente pelas insti- 49,5% do total dos empregos existente em 2002.
tuições privadas do setor da saúde, Tal fato está relacionado à mudança na cobertura
da AMS entre os anos de 1999 e 2002, uma vez
embora a partir de 1992, após a que em 1999 foram excluídos da pesquisa os
reforma setorial, perceba-se que as laboratórios de análises clínicas que somente
realizavam análises de bioquímica, parasitologia
instituições públicas vêm aumentando e/ou bacteriologia, sendo assim excluídos do
a oferta de empregos para esses subconjunto relativo às Unidades de Apoio à
profissionais. A absorção dos aten- Diagnose e à Terapia (UADTs). No ano de 2002,
os laboratórios de análises clínicas são novamente
dentes no mercado de trabalho reintegrados. A análise da distribuição dos
apresentou modificações, já que desde estabelecimentos que prestavam exclusivamente
serviços de Apoio à Diagnose e à Terapia demonstra
os anos 70 até o início dos anos 90, que 94,9% desses pertenciam ao setor privado
esses trabalhadores eram mais absor- em 2002.


38 Nº 08 MAIO DE 2003

Quadro 2
Distribuição Percentual de Postos de Trabalho de Ocupações Técnicas/Auxiliares e de Qualificação
Elementar segundo Setor de Atuação dos Estabelecimentos de Saúde. Brasil – 1999 e 2002
Ocupações por 1999 2002
Nível de Escolaridade Público Privado Público Privado

Total Nível Técnico/Auxiliar 53,44 46,56 52,59 47,41


Téc./Aux. em histologia 17,63 82,37 28,91 71,09
Téc./Aux. em patologia clínica/laboratório 68,20 31,80 49,55 50,45

Téc. em citologia/citotécnica 36,45 63,55 34,11 65,89


Aux. de enfermagem 53,92 46,08 55,72 44,28
Téc. de enfermagem 45,93 54,07 42,14 57,86

Téc./Aux. de farmácia 45,85 54,15 42,42 57,58


Téc./Aux. em hematologia/hemoterapia 38,98 61,02 41,14 58,86
Téc./Aux. em nutrição e dietética 37,65 62,35 35,02 64,98

Téc. em radiologia médica 36,90 63,10 35,03 64,97


Téc./Aux. em fisioterapia ou reabilitação 17,81 82,19 29,54 70,46
Téc. em higiene dental 86,84 13,16 - -

Aux. de consultório dentário 79,08 20,92 - -


Téc./Aux. de saúde Oral - - 82,01 17,99
Téc./Aux. em prótese dentária 43,10 56,90 - -

Téc. em equipamentos médico-hospitalares 30,60 69,40 40,79 59,21


Agente de saneamento 97,18 2,82 - -
Fiscal sanitário 83,01 16,99 89,23 10,77

Téc./Aux. em vigilância sanitária e ambiental 96,34 3,66 97,84 2,16


Outros - nível técnico / auxiliar 52,78 47,22 52,90 47,10
Total Nível Elementar 78,13 21,87 88,27 11,73

Atendente/Aux. de serviços diversos assemelhados 60,36 39,64 68,82 31,18


Parteira 69,22 30,78 72,03 27,97
Agente de saúde pública 98,32 1,68 97,95 2,05

Agente comunitário de saúde 98,02 1,98 97,55 2,45


Guarda Endemias/Agente controle de zoonose/Agente controle vetor 98,12 1,88 99,30 0,70
Outros – nível elementar 56,14 43,86 2,95 2,95
Fonte: IBGE – AMS 1999, 2002.

enfermagem. Mas, não se pode deixar de saúde. De acordo com o Conselho


de destacar que os enfermeiros, mais Nacional de Saúde, em 1999, 97%
absorvidos nas instituições públicas, dos municípios brasileiros já assumi-
contrabalançam o nível de escolarida- riam responsabilidade na gestão do
de da equipe de enfermagem. sistema de saúde e eram responsáveis
Pode-se depreender que entre as pela operação de quase 92% dos
mudanças no mercado de trabalho em estabelecimentos de saúde existentes
saúde no País, na última década, a no País, predominantemente dire-
mais significativa refere-se à munici- cionados à provisão de serviços de
palização da oferta dos empregos atenção básica. Essa maior proximi-
como resultado da efetiva implan- dade entre os beneficiários da Política
tação da descentralização do sistema de Saúde e o locus de decisão tem


Formação 39

permitido responder melhor a qua- os quantitativos de trabalhadores que
dros epidemiológicos regionais, ocupam cargos comissionados ou
adequar as ações às necessidades da outros tipos de vinculação precária
população, ampliar a cobertura e como vinculação do trabalhador por
disponibilizar serviços a áreas antes bolsa de trabalho, pró-labore, ou
desprovidas (CNS, 2002). No setor outras formas de bolsas.
público, não mais existem ocupações
Nota-se, a partir do Quadro 3, que
de nível técnico e auxiliar que
a flexibilização dos vínculos de
apresentem postos de trabalho predo-
trabalho relativos às ocupações de
minantemente ofertados nos estabele- nível técnico e auxiliar e de nível
cimentos federais. Percebe-se que os elementar, apresenta-se ainda restrita,
postos de trabalho das seis ocupações considerando os altos percentuais de
de nível técnico e auxiliar, predomi- vinculação própria. Entretanto,
nantemente públicas, e os de todas as relacionando os dados de 1999 com
ocupações de qualificação elementar os de 2002, é possível detectar
mencionadas anteriormente são ligeiros sinais de flexibilização
majoritariamente ofertados por esta- numérica que, segundo Lagos (1994),
belecimentos municipais e revelam encontram-se associados à renúncia
além do impacto dos Pacs e do PSF, de algumas normas jurídicas entre as
que os municípios têm assumido quais, os direitos trabalhistas.
ações de prevenção e controle em
saúde pública. De forma geral, prevalece no País
a vinculação formal para todas as
Formas de vínculo com os serviços de ocupações de nível técnico, auxiliar
saúde e elementar. Com percentuais acima
Essa temática, que surge na última de 80,0%, encontram-se os técnicos
década, reflete a principal preocu- e auxiliares de enfermagem, de
pação do campo de recursos huma- farmácia, de nutrição e dietética, em
nos em saúde e vem recebendo patologia clínica, em reabilitação, em
atenção para se buscar reorientações vigilância sanitária e ambiental, os
voltadas para a “desprecarização” das fiscais sanitários, os atendentes, as
relações de trabalho. parteiras e os agentes de saúde
pública. Observa-se que os técnicos
A AMS apresenta três formas de e auxiliares em equipamentos médi-
vínculo dos postos de trabalho nos co-hospitalares, histologia, citologia
estabelecimentos do setor: a) o e citotécnica, hematologia e hemote-
“vínculo próprio”, quando o contrato rapia, reabilitação e radiologia
é efetuado direto com o estabeleci- médica apresentam, entre todas as
mento de saúde; b) o “intermediário”, ocupações técnicas e auxiliares,
quando o contrato se dá por meio de maiores percentuais no País de
empresa, cooperativa ou entidade vinculação intermediada por empre-
diferente do estabelecimento; c) e sas ou cooperativa, e ainda, da
“outro”, que constitui a prestação de prestação de serviço e do trabalho
serviços e trabalho autônomo nos autônomo. Entre as ocupações do
estabelecimentos, englobando ainda nível elementar, chamam atenção os
outras formas informais de vínculo. altos percentuais de vinculação
Embora entre as formas de vinculação “intermediária” e “outro” dos agentes
pesquisadas pela AMS, seja retratada comunitários de saúde e dos guardas
a terceirização dos trabalhadores da de endemias, agentes de controle de
saúde – via empresas e cooperativas –, zoonoses e de vetores. Um aspecto
não se detalha outras formas de importante a ser considerado em
vinculação dos trabalhadores, englo- relação à tendência à flexibilização
bando em “outro” a prestação de refere-se ao processo de trabalho. O
serviços, o autônomo e outras modali- pressuposto de que quanto mais
dades informais de vinculação ao pontual e parcelar o trabalho, maior
trabalho nos estabelecimentos de a possibilidade de ser terceirizado,
saúde. Também não são especificados temporário ou autônomo; também se


40 Nº 08 MAIO DE 2003

Quadro 3
Percentual de Postos de Trabalho de Ocupações Técnicas/Auxiliares e de Qualificação Elementar
segundo Forma de Vínculo com os Estabelecimentos de Saúde. Brasil – 1999 e 2002
1999 2002
Ocupações Próprio Intermediário Próprio Intermediário
e Outro e Outro

Total Nível Técnico/Auxiliar 89,73 10,27 89,61 10,40


Téc./Aux. em histologia 73,45 26,54 84,03 15,98
Téc./Aux. em patologia clínica/laboratório 82,44 17,56 86,89 13,11
Téc. em citologia/citotécnica 78,73 21,27 80,00 20,00
Aux. de enfermagem 91,78 8,23 91,16 8,84
Téc. de enfermagem 91,61 8,39 91,31 8,69
Téc./Aux. de farmácia 91,66 8,34 90,46 9,54
Téc./Aux. em hematologia/hemoterapia 78,91 21,08 85,17 14,83
Téc./Aux. em nutrição e dietética 90,66 9,34 89,58 10,42
Téc. em radiologia médica 78,04 21,95 80,05 19,95
Téc./Aux. em reabilitação 86,60 13,4 83,89 16,11
Téc. em higiene dental 90,79 9,21 - -
Aux. de consultório dentário 90,65 9,35 - -
Téc./Aux. em prótese dentária 68,99 31,01 - -
Téc. em equipamentos médico-hospitalares 69,06 30,94 76,76 23,24
Agente de saneamento 81,56 18,44 - -
Fiscal sanitário 90,43 9,57 90,92 9,09
Téc./Aux. em vigilância sanitária e ambiental 84,54 15,46 88,71 11,29
Total Nível Elementar 85,14 14,86 81,99 18,01
Atendente/Aux. de serviços diversos assemelhados 92,89 7,11 89,75 10,26
Parteira 85,97 14,04 88,85 11,16
Agente de saúde pública 82,07 17,92 82,30 17,70
Agente comunitário de saúde 76,54 23,46 78,82 21,18
Guarda Endemias/Agente controle zoonose/Agente controle vetor 75,11 24,90 74,36 25,64

Fonte: IBGE – AMS 1999, 2002.

verifica nas ocupações técnicas e distanciamento do trabalho em rela-


auxiliares, embora com taxas infe- ção ao sujeito das intervenções em
riores às dos profissionais de nível saúde. Esses casos caracterizam-se
superior. Quanto às ocupações de principalmente pelo trabalho meio, de
nível elementar, cabe considerar não apoio ao diagnóstico e tratamento, e
apenas o processo de trabalho, mas, ainda, de manutenção de equipa-
primordialmente, a utilização dessas mentos. Assim, devido à natureza dos
formas pelos gestores municipais para seus trabalhos, essas ocupações
a contratação desses trabalhadores no também têm maior autonomia para
Pacs e PSF, e ainda, devido a já inserção no mercado, oferecendo seus
conhecida descontinuidade das ações serviços pontuais e parcelares. No
de controle e prevenção de endemias entanto, também são sujeitos com
e epidemias que, sazonalmente, assim mais facilidade à opção dos gestores
como as contratações, ocorrem no em utilizar formas mais flexibilizadas
cenário sanitário do País. de contrato.
Além do pressuposto do trabalho O trabalho da enfermagem, espe-
parcial e pontual, evidencia-se o cialmente dos técnicos e dos auxi-


Formação 41

liares, centra-se no “ato de cuidar”. nível elementar. Enquanto as primei-
Caracteriza-se, principalmente, pela ras concentram-se em estabelecimen-
continuidade das ações, em contra- tos com internação, as ocupações de
ponto às intervenções parciais e nível elementar atuam majorita-
pontuais. À equipe de enfermagem riamente nas unidades sem inter-
cabe implementar as intervenções nação;
prescritas por diferentes profissionais.
4) de forma geral, o setor público
Sendo o seu trabalho, o processo de
constitui o importante mercado tanto
“acompanhar cuidando”, não perde
para as ocupações de nível técnico e
em princípio a noção da totalidade
auxiliar quanto para as de nível
das necessidades, das intervenções e,
elementar, e a esfera municipal, hoje,
principalmente, a visão mais ampla,
representa a grande demanda por
tanto da clientela como do processo
postos de trabalho no setor público;
de trabalho. Nota-se no Quadro 3,
que mais de 91% dos postos de 5) embora a contratação formal
trabalho dos técnicos e dos auxiliares prevaleça para as ocupações de nível
de enfermagem e cerca de 90% dos técnico, auxiliar e elementar, detec-
atendentes possuem vínculo formal. tam-se sinais de flexibilização dos
seus trabalhos, no mercado setorial
Conclusões
do País.
De forma geral, pode-se apontar Finalizando, cabe registrar que a
que o setor da saúde no Brasil, nas partir do estudo fica reforçada a
últimas décadas, apresentou nítidas tendência de diversificação do leque
mudanças em relação ao nível de de ocupações de nível técnico,
escolaridade da sua força de trabalho. auxiliar em saúde, conforme já
A partir dos anos 90, essas mudanças salientado por Buss (editorial da
no setor, acompanham as mudanças revista Formação 06). Enquanto nos
tecnológicas e organizacionais que anos 1978 e 1984 12 a base de dados
ocorrem no mundo do trabalho, com utilizada identificava somente seis
exigências de maior qualificação de categorias profissionais relacionadas
trabalhadores e progressiva flexibili- aos postos de trabalho de nível médio,
zação das relações de trabalho. A nos anos de 1999 e 2002, a AMS passa
partir da análise realizada, com base a especificar dezoito ocupações de
nas variáveis selecionadas para o nível técnico e auxiliar. Vale observar
estudo, foi possível verificar que: a importância no registro dessa
1) a grande parcela dos postos de diversidade nas fontes de dados, já
trabalho de nível técnico e auxiliar que possibilitam análises mais coeren-
encontra-se ocupada pelos trabalha- tes com o real na medida em que
dores de enfermagem; e os postos de permitem retratar a complexidade do
nível elementar, pelos agentes comu- setor da saúde brasileira.
nitários de saúde, revelando o substan-
cial decréscimo dos empregos de
atendentes de enfermagem e, ao
mesmo tempo, o impacto da criação
de empregos em programas como o
Pacs e o PSF;
2) o mercado de trabalho das ocupa-
ções técnicas e auxiliares concentra-se
ainda na Região Sudeste e, das ocupações
elementares, no Nordeste, principal-
mente devido à implementação dos
referidos programas;
12
Mais informações em: “As Ocupações Técnicas
3) existe uma distinção entre a nos Estabelecimentos de Saúde: um estudo a partir
dos dados da pesquisa AMS/IBGE”. Relatório de
natureza do trabalho das ocupações Pesquisa encaminhado ao Ministério da Saúde
de nível técnico e auxiliar e as de em março 2003.


42 Nº 08 MAIO DE 2003

Saúde, 2002. 72 p. (Série B. Textos
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Formação 43

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técnicas nos estabelecimentos de
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final. Brasília: Ministério da Saúde,
Profae, março 2003.


44 Nº 08 MAIO DE 2003

Análise

Profissional de saúde: a inter-relação


entre formação e prática
Health professional:
the inter-relationship between
education and practice
Eliana de Fátima Catussi Pinheiro
Enfermeira especialista em Gerontologia, mestranda em Educação
Maria Lúcia Silva Lopes
Enfermeira, mestre em Saúde Coletiva
Regina Hitomi Fukuda Ohira
Enfermeira sanitarista, mestranda em Educação
Sônia Cristina Stefano Nicoletto
Enfermeira sanitarista, mestre em Saúde Coletiva

Resumo: O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que buscou demonstrar


a inter-relação do sistema formador com a prática do profissional de saúde. A
análise enfatizou o caráter estratégico e decisivo dos recursos humanos; a
necessidade de reformulação dos currículos das escolas de saúde e a avaliação na
educação. A opção foi pelo método qualitativo de pesquisa, entendendo que
revela melhor adequação ao objetivo. Por meio de estudo de caso, buscou-se
compreender a intrínseca relação entre a formação e a prática do enfermeiro
atuante, tanto em serviços de saúde como na educação. As conclusões apontam
para a importância do aparelho formador como ator da reforma do Sistema de
Saúde no Brasil, na perspectiva que forma e transforma profissionais de saúde
para práticas de cuidado individual e práticas de saúde coletiva, além de estar a
frente do processo de permanente construção do conhecimento como estrutura
educacional.
Palavras-chave: Formação Profissional; Recursos Humanos em Saúde; Profissional
da Saúde.
Abstract: This article intends to demonstrate the inter-relationship between the
educational system with health professional practice. The analyses focuses on
the strategic and decisive character of human resources, the need of health schools
curricula reformulation with special attention to the population’s health, and
evaluation in education. The choice for the qualitative method is due to a better
appropriation to the goal of a case-study and the understanding of the intrinsic
relationship between education and practice of an active nurse, both in health
services and in formal education. The conclusions point towards the importance
of the educational system as a fundamental role within the health system reform
in Brazil, educating and (re)shaping health professionals to act individual and
collectively, as well as being in a permanent and constructive process of knowledge
as educational agents.
Keywords: Professional Qualification; Health Manpower; Health Professional.


Formação 45

Introdução pressão social significativa no sentido
de que as universidades busquem
O presente artigo evidencia a maior relevância social, tanto no
intrínseca relação entre a prática do campo da produção de conhecimentos
profissional de saúde e do sistema como no campo da formação
formador e adentra, também, no profissional.”
campo da avaliação e na sua
A avaliação é outra dimensão
relevância, tanto para a saúde como
importante que vem sendo conside-
para a educação.
rada na saúde e na educação. Essa
A formação e desenvolvimento de atividade é “ tão velha quanto o
profissionais de saúde que atendam às mundo, banal e inerente ao próprio
exigências do Sistema Único de Saúde processo de aprendizagem” (Con-
(SUS) têm se configurado em grande tandriopoulos et al., 1997, p. 29). A
preocupação por parte dos atores avaliação é um instrumento utilizado
sociais interessados na plena consoli- sempre, mas, ainda, requer avanços
dação do sistema. Princípios do SUS, e inovações.
como a universalidade, a integralida-
de, a hierarquização e descentraliza- Referencial teórico
ção e a participação da população, O caráter estratégico e decisivo
estão ancorados na necessidade de dos recursos humanos no desenvolvi-
uma nova organização dos serviços de mento e realização do SUS
saúde e da prática sanitária. Assim,
se reconhece nos recursos humanos a Com a implantação do SUS, vem
capacidade propulsora de gerar e ocorrendo um processo de reorien-
conduzir processos transformadores tação das estratégias e dos modos de
no campo da saúde. O Sistema de cuidar, tratar e acompanhar a saúde
Saúde está intimamente ligado à e, conseqüentemente, provocando
formação profissional. A organização algumas repercussões nas estratégias
social dos serviços de saúde influencia e modos de ensinar e aprender (Brasil,
a educação dos profissionais, mas ao 2003).
mesmo tempo as universidades in- A relevância dos recursos humanos
fluenciam a formação dos profis- na efetivação do SUS pode ser ancora-
sionais que irão interferir na orga- da, entre outras, na necessidade de
nização dos serviços de saúde, facili- naturalizar o conceito de “saúde
tando ou dificultando as mudanças como qualidade de vida”, na “quali-
necessárias ao fortalecimento do SUS dade no atendimento” e na incorpora-
(Paim; Teixeira, 2002). ção da dimensão de “coletividade”
nas ações de saúde.
O campo da educação, também,
vem passando por processos de A construção de um novo para-
mudança. Um dos aspectos das novas digma que permita tratar da saúde
diretrizes curriculares nacionais para como qualidade de vida está em meio
a saúde é a necessidade de que os a conflitos de interesses. O paradigma
currículos sejam construídos visando flexneriano da saúde como ausência
a que os profissionais tenham habili- de doença ainda têm sustentado, em
dades e competências para atuar de grande parte, as práticas sanitárias
forma consciente e reflexiva frente às (Mendes, 1996). Isso tem levado
reais necessidades e prioridades de profissionais de saúde à
saúde da população, identificadas por especialização, distanciando-se da
meio de indicadores epidemiológicos visão de integralidade da saúde.
e socioeconômicos. A articulação Evidencia-se, portanto, a necessidade
entre a educação e a saúde propor- de reorientação das práticas dos
ciona uma formação dos egressos e profissionais, por meio de processos
profissionais com ênfase na promo- de educação permanente para que
ção, prevenção, recuperação e reabili- atinjam a dimensão da promoção da
tação da saúde (Brasil, 2001). Segundo saúde, superando a restrição às ações
Feuerwerker (2001, p.4), “existe uma de diagnóstico e tratamento. Assim,


46 Nº 08 MAIO DE 2003

o aparelho formador necessita A necessidade de reformulação dos
assumir a responsabilidade de formar currículos das escolas de saúde, em
profissionais de saúde capazes de lidar função das necessidades de atenção
e se comprometer com os desafios do à saúde da população
SUS. A formação de profissionais para
a saúde deve estar voltada para a visão
A qualidade no atendimento à integral dos problemas de saúde da
saúde, almejado no SUS, está inti- população brasileira. Também, a
mamente vinculado à questão dos assistência à saúde oferecida aos
recursos humanos. A prática de um usuários necessita ser humanizada,
profissional de saúde tecnicamente contextualizada e resolutiva. Assim,
competente e socialmente comprome- os currículos das escolas de saúde
tido, somada a outros componentes – precisam permitir a construção de
práticas sanitárias de orientação
políticos, administrativos, dentre
holística e com comprometimento
outros – favorece um atendimento
social.
com qualidade. Portanto, a relação
que o profissional tem com o usuário Construir mecanismos que supe-
tem sido considerada a âncora para rem o conceito de que o conhecimen-
to prático é simplesmente a aplicação
melhorar a qualidade do serviço de
do conhecimento teórico é um aspecto
saúde, tendo como pressupostos, a
importante a ser considerado na
assistência personalizada, o aco- reformulação dos currículos esco-
lhimento, o direito do usuário de ter lares. Na maioria dos currículos de
informação e ser sujeito ativo no formação de trabalhadores de saúde,
processo de proteção e recuperação primeiramente vem sendo dispensada
de sua saúde (Caprara; Franco, 1999). uma carga horária para as aulas
teóricas, depois uma carga horária
Os usuários dos serviços de saúde para aulas práticas e, finalmente, uma
precisam ter acesso tanto a interven- carga horária para os estágios. Nessa
ções individuais como coletivas. A perspectiva, muitos docentes acabam
idéia de coletividade na prestação de trabalhando os conteúdos das disci-
serviços no SUS se contrapõe à plinas de forma fragmentada. Nesses
história dos profissionais de saúde, moldes, o papel do professor é o de
estabelecer tudo que o aluno deve
especialmente dos médicos cuja luta
aprender, transmitir as informações
pela absoluta autonomia técnica e pela
consideradas relevantes e avaliar a
construção corporativa de seus inte- capacidade dos alunos de reter e
resses (Nogueira, 1994). Campos reproduzir as informações apre-
(1994, p.163), refere que uma sentadas (Brasil, 2003).
“parcela significativa de profissionais
Com a crescente incorporação de
de saúde ainda resiste à mudança dos tecnologias na saúde e a dinâmica dos
modos de funcionamento dos serviços contextos sociais e econômicos, há,
de saúde, expresso tanto por posturas no processo de trabalho em saúde,
profissionais inadequadas como por uma oscilação de movimentos e uma
movimentos políticos de contra- variedade de demandas nos serviços
reforma”. Nessa perspectiva, superar de saúde que surgem com as
a hegemonia do agir isolado, exclu- diferentes necessidades da população.
sivista e auto-suficiente, conquistando O profissional de saúde está inserido
nesse processo de mudança e incerte-
e construindo espaços para o trabalho
zas, portanto necessita ter a capa-
em equipe, interconsultas, consultas
cidade de “aprender a aprender”,
conjuntas, dinâmicas de grupo e tendo compromisso com a sua perma-
formação de grupos de educação nente educação, visando sempre
permanente, por exemplo, é algo a ser contextualizar o conhecimento cientí-
alcançado na realidade do SUS. fico, sendo reflexivo e criativo frente


Formação 47

às novas necessidades de saúde dos O homem é um ser bio-
usuários. Assim, o currículo necessita psicossocial e precisa ser considerado
ser estruturado de forma a permitir em todas as suas dimensões. Assim,
que o aluno seja parte ativa no também, os conteúdos dos currículos
processo de aprendizado, estimulan- necessitam ser revistos, pois somente
do-o à auto-aprendizagem com aspec- conteúdos das ciências biológicas não
tos significativos da realidade. têm conseguido dar conta da
A idéia de currículo integrado compreensão do ser humano em sua
sustenta seus argumentos na idéia da integralidade e dos determinantes que
necessidade de uma compreensão atuam sobre sua saúde. Portanto,
global do conhecimento e na interdis- conteúdos da sociologia, antro-
ciplinaridade dos saberes com o pologia, políticas públicas e sociais,
objetivo de corrigir os erros da economia, planejamento, comu-
fragmentação e do isolamento disci- nicação e outros, necessitam ser
plinar da ciência (Rede Unida, 1999). incorporados aos currículos atuais da
Essa integração dos saberes também área da saúde.
deve considerar a integração dos
A avaliação no campo da educação
saberes escolares com os saberes
cotidianos dos alunos. Dessa maneira, Quando se avalia, faz-se
o aluno consegue vincular o ensino apreciações. No sentido amplo, a
formal com sua realidade subjetiva. avaliação pode ser definida como um
Isso permite que os egressos tenham processo que visa à coleta e ao uso
maior habilidade para refletir sobre de informações para a tomada de
os problemas de saúde da população d e c i s õ e s ( Va s q u e z , 1 9 9 3 ) . A
e propor soluções viáveis tanto em
Organização Mundial da Saúde
saúde individual como coletiva
(OMS) define avaliação como um
(Lopes, 2000).
processo de determinar qualitativa e
A integração entre ensino-serviço- quantitativamente, mediante métodos
comunidade é fonte e parâmetro para apropriados, o valor de uma coisa ou
a rearticulação da teoria-prática. Um acontecimento (Gomes, 1997).
movimento que busque mudança na
Existem concepções conservadoras
formação dos profissionais deve
e transformadoras sobre avaliação.
considerar a intersecção dos espaços
Freitas (2000, p.95), reflete que a
escolares, dos serviços de saúde e da
“escola capitalista encarna objetivos
população como capazes de criar uma
(funções sociais) que adquire do
nova proposta de formação (Blejmar;
contorno da sociedade na qual está
Almeida, 1999). Isso é possível
porque: inserida e encarrega os procedimentos
de avaliação, em sentido amplo, de
“[...] nestes espaços que, embora garantir o controle da consecução de tais
não sejam novos, constituem-se em funções”. Nessa lógica, a avaliação é
campos de ação de sujeitos sociais considerada uma forma de pressão ou
que, no modelo hegemônico, não mesmo de punição, mas atualmente
dispõem de recursos de poder para uma nova abordagem vem tomando
exercer suas práticas, a não ser as campo e evidenciando uma visão
ideológicas que, desacompanhadas positiva (Provenzano; Moulin, 2000).
de práticas empíricas, políticas e
teóricas, resultam em baixa eficá- Na nova perspectiva, a avaliação
cia nos processos de luta contra- pode ser considerada como um
hegemônica” (Blejmar; Almeida, “processo interativo, através do qual
1999, p.26). educandos e educadores aprendem
sobre si mesmos e sobre a realidade
Feuerwerker (1998), compartilha escolar no ato próprio da avaliação”
essa idéia quando salienta que o (Hoffmann, 1995, p.18).
arranjo de novos cenários no campo
do ensino pode desempenhar papel No campo da educação, a ava-
fundamental na mudança do perfil liação pode ter como objeto a insti-
dos profissionais formados. tuição, o corpo docente e o corpo

Nº 08 MAIO DE 2003 Formação


discente, podendo-se lançar mão de aluno aprenda com os seus próprios
várias técnicas e instrumentos para erros e acertos e desenvolva sua
realizá-la. capacidade de reflexão sobre a teoria-
prática e seu senso de investigação.
No processo de avaliação das
atividades pedagógicas, devem ser O caminho percorrido
desenvolvidos instrumentos que
possibilitem verificar se o educador O presente estudo foi desenvolvido
e o educando constroem criticamente sob a perspectiva qualitativa, dada a
os conhecimentos específicos de cada natureza do objetivo da pesquisa,
área, relacionando-os com outros estruturado como um estudo de caso.
conhecimentos e se produzem novos Para Tull e Hawkins (1976, p.323),
conhecimentos a partir de uma “um estudo de caso refere-se a uma
perspectiva ética, visando à dignidade análise intensiva de uma situação
humana (UEL, 2004). particular”.

A avaliação do desempenho do Este trabalho compreendeu uma


docente não pode ser isolada, mas fase inicial de revisão bibliográfica,
dentro do processo de avaliação da para construção do referencial teórico.
instituição. Nesse aspecto, é impor- Durante a Formação Pedagógica
tante ressaltar que o corpo docente em Educação Profissional na Área de
não pode ser avaliado sem critérios Saúde, subárea enfermagem, ofere-
previamente definidos ou centrados cida por meio do Projeto de Profis-
somente na visão do corpo discente, sionalização dos Trabalhadores da
embora a participação do aluno, na Área de Enfermagem (Profae), uma
avaliação do professor, seja funda- das avaliações do corpo discente foi
mental (Provenzano; Moulin, 2000). estruturada sobre a seguinte questão:
Precisa ser um processo conduzido
com ética, participação de todos e “descreva um caso conflituoso do
com o propósito de melhorar a qual você tenha participado na sua
qualidade do ensino. Com uma área profissional ou solicite a um
avaliação bem conduzida, o docente colega ou aluno que relate um
consegue tomar consciência, naquele episódio que tenha vivenciado
momento histórico, de seus limites e envolvendo uma situação-pro-
possibilidades, podendo diante dessa blema.”
compreensão transformar a si mesmo. Dentre todos os respondentes dessa
Em relação ao corpo discente, questão, se elegeu um para este
existe uma reflexão acerca das estudo. Os critérios de escolha do
práticas avaliativas que são aplicadas, entrevistado foram: trajetória
mas o que se pretende do aluno ou o profissional acumulada em mais de
tipo de aluno que se anseia formar é quinze anos, prática profissional tanto
a base do processo de avaliação. “Na em serviços de saúde como na
escola conservadora, geralmente, os educação, história de permanente
formação – formal e informal – e que
padrões estabelecidos de modo auto-
a situação-problema descrita na
ritário pelo professor acompanham o
questão fosse sobre avaliação.
caráter quantitativo da avaliação”
(Provenzano; Moulin, 2000, p.75). A condução do estudo se realizou
Na abordagem pedagógica por meio de uma entrevista focada,
transformadora, a avaliação é um na qual o respondente é entrevistado
processo que parte do conhecimento por um curto período de tempo e pode
do aluno e, posteriormente, verifica assumir um caráter aberto-fechado
os avanços na aprendizagem. (Bressam, 2000). O roteiro para a
Po r t a n t o , h á n e c e s s i d a d e d e s e entrevista (anexo) foi preparado e
desenvolver uma avaliação formativa, utilizado, primeiramente, com uma
utilizando-se diferentes técnicas e enfermeira que não fazia parte da
instrumentos e fazendo com que o pesquisa de forma que pudesse ser



49 Nº 08 MAIO DE 2003 Formação 49




validado como instrumento. Após, foi dedicada de sempre”, a entrevistada
realizada a entrevista para a coleta de estudou da forma como foi solicitado.
dados. Esses foram transcritos e Relata que no dia da avaliação todos
analisados à luz do referencial estavam nervosos, inclusive ela, mas
teórico, visando estabelecer relação que conseguiu fazer a prova e sair
entre a realidade e a teoria. contente e confiante do resultado.

O estudo de caso Após vários dias, a professora


chegara para ministrar nova aula,
A descrição do caso entregando, ao final, a prova corri-
Curso de graduação (1980–1983) gida para que os alunos olhassem
estruturado por disciplinas, turma de rapidamente. Na prova, a entrevista-
60 alunos, postura dos professores, da conta que foi capaz de averiguar
em geral, autoritária. Eles definiam que uma questão, considerada errada,
os conteúdos que deveriam ser apre- comparada com as explicações do
endidos, a metodologia empregada livro, estava correta e que estando
era a da transmissão de conteúdos e a com o livro, tomou coragem de
avaliação era baseada na capacidade aproximar-se da professora, e expli-
do aluno estudar o que era informado car o que estava ocorrendo. A profes-
e reproduzir o apreendido nas sora, mal olhou o livro e afirmou que
avaliações escritas, quase sempre, de se havia apresentado a questão como
múltipla escolha. errada então ela estava errada, não
haveria discussão. Pela grosseria, não
O processo de aprendizagem era houve seguimento de argumentações.
baseado em uma visão dicotômica A nota obtida ao final da disciplina
entre teoria e prática. A teoria era permitia a aprovação sem exame. A
aplicada durante os estágios com questão, no entanto, não era mais a
ações mecânicas. Isso, inicialmente, nota e sim a dúvida gerada sobre o
produziu uma postura profissional conteúdo e a incapacidade de tomar
individualizada, mantenedora da uma atitude diferente em relação ao
divisão do trabalho em enfermagem, acontecido.
hierarquizada e sem muita capacida-
de de problematizar a realidade. Durante os anos que sucederam à
graduação, ao mesmo tempo em que
Durante o curso, a experiência foi adquirindo experiência profis-
mais marcante sobre avaliação relata- sional, participou de capacitações,
da pela entrevistada, foi a vivenciada congressos, seminários, sensibiliza-
na disciplina de Enfermagem em ções, além de duas pós-graduações de
Ginecologia e Obstetrícia. A discipli- especialização e mestrado em saúde
na iniciara já com a informação, dos coletiva. Passou a ter uma atuação nos
alunos da turma anterior, de que a serviços de saúde e na educação.
professora era extremamente rígida e Atuou durante dois anos como conse-
que os alunos que conseguiam promo- lheira do Conselho Municipal de
ção sem exame eram considerados Saúde do seu município e participou
“supercapazes”. Todos os dias a de processos interessantes com os
professora entrava em sala de aula, representantes dos usuários, na
fazia a chamada e começava “a ditar questão do controle social do SUS.
a matéria com breves interrupções
Quando começou a atuar como
para uma explicação.” Suas avaliações
professora, nos cursos de nível médio,
eram baseadas na análise quantitativa,
relatou nunca ter assumido uma
com questões fechadas.
postura autoritária perante os alunos,
Em uma das avaliações, ocorrida mas confessou que diante das condi-
quase no final do semestre, a profes- ções de trabalho que lhe foram
sora solicitou que estudassem uma impostas, sempre teve dificuldades
dada matéria no livro e não somente com a questão da avaliação do aluno.
nas anotações realizadas nos cadernos Atualmente, sendo docente, no nível
de aula. Procurando ser “a aluna médio e na graduação, tem procurado

Nº 08 MAIO DE 2003
desenvolver uma avaliação partici- se é que essa avaliação ocorria. Esse
pativa, utilizando instrumentos de contexto, evidentemente, potenciali-
medida tanto quantitativos como zou, em muito, a situação-problema
qualitativos. Todavia, considera uma relatada.
tarefa muito difícil devido à cultura
A forma de avaliação da disciplina
de avaliação presente nos alunos, às
em questão era de enfoque seletivo e
condições de trabalho (carga horária
eliminatório, usado com a função de
intensa, turmas muito numerosas,
medir quantitativamente quanto
baixa remuneração, materiais didá-
ticos inadequados, e outros); à forma conteúdo ensinado o aluno era capaz
não participativa das instituições de de acumular.
ensino ao desenvolverem seus planos A prática da avaliação está direta-
de ação e à adoção de regras adminis- mente relacionada com o projeto
trativas apresentadas de cima para pedagógico adotado pela instituição
baixo, por essas organizações. e pelo perfil profissional que a escola
Dentro das várias aproximações se propõe a formar. Diante da concep-
apresentadas entre ensino e serviços ção conservadora “a avaliação tem
de saúde, a entrevistada relatou ter caráter de ‘medida’ e consiste essen-
desenvolvido, cada vez mais, a cialmente na aferição e constatação
capacidade de problematizar a reali- da quantidade do conteúdo da matéria
dade e de propor soluções mais viáveis ensinada/depositada (...) que o aluno
diante dos problemas, ser reflexiva e foi capaz de aprender/adquirir”, por
crítica diante do conhecimento outro lado, quando o alicerce é a
científico e da realidade que a cerca. concepção transformadora, na ava-
Iniciou processos de trabalho coleti- liação da aprendizagem, “a ênfase está
vos e interdisciplinares. Mencionou no caráter diagnóstico e formativo da
que, a permanente formação tem avaliação, levando o aluno a conhecer,
influenciado a sua prática tanto nos analisar e superar seus erros” (Pro-
serviços de saúde como na formação venzano; Moulin, 2000, p.18).
do pessoal de nível médio e de Na cultura capitalista, o principal
graduação e, sobretudo, que as suas foco da educação é preparar a mão-
novas práticas têm questionado, de-obra para o mercado de trabalho
muitas vezes, a teoria. e não formar cidadãos com
Concluiu seu relato afirmando que, percepções críticas e reflexivas diante
certamente, a sua participação de da sociedade. Assim, dependendo da
forma ativa na Formação Pedagógica própria visão de mundo dos docentes
em Educação Profissional na Área de e das concepções presentes na
Saúde, subárea Enfermagem, ofere- instituição, a avaliação poderá ser
cida por meio do Projeto de Profis- tomada como uma função seletiva,
sionalização dos Trabalhadores da eliminatória, classificatória,
Área de Enfermagem (Profae), vem burocrática, de controle e outras
contribuindo ainda mais para sua (Provenzano; Moulin, 2000).
atuação efetiva como enfermeira,
Esse tipo de avaliação pode trazer
trabalhadora, docente e cidadã, mas
sentimentos negativos para o acadê-
reconhecendo que os contextos aos
mico. Em uma pesquisa realizada em
quais está inserida, tanto no campo
um curso de graduação em enferma-
dos serviços de saúde quanto no de
gem, foi solicitado aos alunos que se
ensino, ainda, precisam avançar
“manifestassem sobre ‘o que significa
muito.
a avaliação na forma como vem sendo
A análise do caso realizada’, o resultado evidenciou
sentimentos de aversão, medo, an-
A universidade em que se passou siedade, frustração, injustiça, indife-
o caso descrito possuía uma concep- rença e descrença” (Sordi apud
ção educacional tradicional e, possi- Provenzano; Moulin, 2000, p.66). O
velmente, os professores eram tam- caso descrito na entrevista ocorreu em
bém avaliados de forma tradicional, 1983, mas ainda constatamos em


Formação 51

estudos que muitas instituições de assumir e exercitar, de modo cons-
ensino superior possuem a mesma ciente, uma postura que alie, ao
postura em relação à avaliação dos mesmo tempo, despojamento, no
alunos, hoje. sentido de ter humildade suficiente
para realizar a autocrítica em relação
O erro ocorrido não foi analisado
ao próprio desempenho, reconhecen-
de forma adequada, pois a professora
do seus limites e, rebeldia, para se
sequer pensou na hipótese de ter
dispor a questionar e enfrentar
cometido um engano na ocasião da
dogmas tendo a coragem de ousar
correção da prova. Talvez, o que possa
(Amâncio Filho, 1997).
ter potencializado a atitude dessa
professora, na ocasião, fosse o fato Luckesi apud Provenzano e Moulin
de estar instalada uma cultura em que (2000, p.68), elucida que com os
se um professor que admitisse um erros podemos aprender se tivermos
erro, poderia ficar desmoralizado a capacidade de “tirar deles os
perante os alunos. Em contraponto, melhores e os mais significativos
a atitude da aluna foi tímida diante benefícios”. Parece que essa
do medo de confrontar uma professo- habilidade não foi explorada pela
ra que apresentou uma postura auto- professora no caso analisado.
ritária e rígida. Maeda (2001, p.171), Outra questão a ser considerada é
reflete sobre o senso comum de que a turma era grande, 60 alunos, o
aconselhamento nas escolas: que limita muito as condições de
“dançar conforme a música do trabalho do professor, bem como, a
professor” e assim, o aluno “toma- aplicação de técnicas e instrumentos
do pela incerteza, muitas vezes, de enfoque qualitativo na avaliação.
prefere não tomar atitudes de Também, na época em questão, na
confronto e que possam colocá-lo formação da aluna não se buscava o
em posição de conflito com o desenvolvimento pessoal e sim
professor (...) acaba aceitando qualificar a mão-de-obra.
pacificamente as proposições do Atualmente, se fala da necessidade
professor, mesmo que tenha opi- da aquisição de competências e
niões contrárias sobre suas ati- habilidades pelo aluno durante a sua
tudes.” formação. A concepção transformado-
A professora, no caso descrito, ra da educação se propõe a permitir
e s t a v a d e n t r o d e u m a “i d é i a d e que o aluno tenha a oportunidade de
avaliação como instrumento punitivo” desenvolver as habilidades e compe-
contexto totalmente desfavorável à tências que deverão ser adquiridas.
pedagogia transformadora e às práti- Nesse contexto, há possibilidade de
cas avaliativas do aluno, evidente- ser desenvolvida uma avaliação capaz
mente com enfoque quantitativo para de medir as transformações ocorridas
indicar progressão ou não. No em cada aluno.
entanto, mesmo dentro desse Enfim, há necessidade de se
contexto, a professora poderia ter compreender a educação como tendo
respeitado a aluna e, se estivesse um papel essencial para “conferir a
expondo o problema em um momento todos os seres humanos a liberdade
não adequado como ao final de uma de pensamento, discernimento, senti-
aula, ela poderia ter marcado uma mentos e imaginação de que neces-
conversa em um outro horário e local, sitam para desenvolver os seus
estabelecendo um diálogo em que talentos e permanecerem, tanto
ambas pudessem aprender com o fato quanto possível, donos do seu próprio
ocorrido. destino.” (Delors, 2001, p.100).
O docente que deseja educar
pessoas para deterem conhecimentos Considerações finais
que as tornem competentes em
resolver problemas, compreendendo O relato apresentado permite dizer
criticamente a realidade, necessita que há inter-relação entre a formação


52 Nº 08 MAIO DE 2003

e a prática do enfermeiro. Além disso, A reflexão sobre a importância que
à medida que o profissional de saúde o docente tem no processo de cons-
deixa o exercício subordinado do trução do SUS se sustenta na compre-
trabalho e passa a assumir uma prática ensão de que ele forma os recursos
crítica diante da realidade, colabora humanos setoriais, estimulando ou
com o combate às exclusões e não a crítica e o compromisso com a
autoritarismos. saúde da população. As transforma-
ções na educação e na saúde precisam
A implantação e implementação
acontecer dentro de processos
das novas diretrizes curriculares no
coletivos, com responsabilidade,
curso de graduação em enfermagem
compromisso e participação ativa de
apontam para a formação de um
todos os atores envolvidos.
profissional tecnicamente competen-
te, mais crítico e comprometido com
a saúde da população, indicando o
redirecionamento do conteúdo Referências bibliográficas
teórico-prático e a diversificação dos
cenários de ensino-aprendizagem. Isso AMÂNCIO FILHO, A. Educação
se estende também aos cursos de politécnica na saúde: um desafio na
formação de técnicos e auxiliares de construção do possível. 1997. Tese
enfermagem já que o trabalho em (Doutorado) - Universidade Federal do
equipe nos serviços também os Rio de Janeiro, Faculdade de Educa-
envolve. ção, Rio de Janeiro, 1997.

Mudanças precisam ocorrer, sendo BLEJMAR, B.; ALMEIDA, M.


a primeira, talvez, dentro dos Mudança organizacional e transfor-
próprios cursos, com a formação de mação social. In: ALMEIDA, M.;
colegiados com participação de FEUERWERKER, L.; LLANOS, M. A
representantes do corpo docente e educação dos profissionais de saúde
discente para elaboração, aplicação e na América Latina: teoria e prática de
avaliação do projeto político- um movimento em mudança. São
pedagógico. Se o docente não Paulo: Hucitec; Buenos Aires: Lugar
participar desse processo, não terá um Editorial; Londrina: Ed. UEL, 1999.
compromisso assumido junto à insti- p.17-45, v.1.
tuição sobre a formação do profis-
sional de saúde, continuando a ter a BRASIL. Ministério da Saúde. Secre-
mesma postura de docente trans- taria de Gestão do Trabalho e da
missor de informação e, portanto, não Educação na Saúde. Departamento de
formando os alunos na perspectiva do Gestão da Educação na Saúde. Cami-
pensamento crítico e com capacidade nhos para a mudança da formação e
de atender às demandas do SUS. desenvolvimento dos profissionais de
A segunda mudança necessária é saúde: diretrizes para a ação política
na postura do docente diante de seus para assegurar educação permanente
conteúdos, devendo este passar a no SUS. Brasília, 2003.
pensar e a atuar de forma interdis-
BRESSAN, F. O método do estudo de
ciplinar, relacionando as informações
caso. Administração On Line. São
prévias dos alunos com os novos
Paulo, v.1, n.1, jan./fev./mar. 2000.
conhecimentos.
D i s p o n í v e l e m : < w w w. f e c a p . b r /
Por fim, a terceira mudança seria adm_online/art11/flavio.htm>. Aces-
para procurar cenários novos para a so em: 5 dez. 2000.
aprendizagem, integrando os espaços
das escolas com os serviços de saúde CAMPOS, G. W. S. A saúde pública
e a população, visando rearticular a e a defesa da vida. São Paulo: Hucitec,
teoria e a prática no ensino do cuidado 1994.
em enfermagem para potencializar a
possibilidade de formar trabalhadores CAPRARA, A.; FRANCO, A. L. S. A
de saúde com responsabilidade técni- relação paciente-médico: para uma
ca e social. humanização da prática médica.


Formação 53

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Paulo, 1997. In: Organizacion Mun- UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
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los servicios de higiene materno- pedagógico institucional. Londrina,
infantil. Serv. Inf. Tec., v. 115, 1957. 2004.


54 Nº 08 MAIO DE 2003

VASQUEZ, A. S. Ética. 6 ed. Rio de Anexo
Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.
p. 131-52. Roteiro de entrevista semi-estruturada

1. Fale de forma breve sobre a


maneira como ocorreu a sua
formação na graduação.

2. Qual foi a experiência mais


marcante que você vivenciou na
graduação no tocante à ava-
liação da aprendizagem?

3. Como é a sua prática como


docente e qual a sua forma de
avaliar?

4. Fale sobre a influência das


novas aproximações com a
aprendizagem – pós-graduações
e aperfeiçoamentos etc. na sua
prática.



Formação 55

Análise

Dinâmica de grupo: instrumento de


avaliação da experiência discente a
distância – NAD/CE/Profae
Dynamics of group: instrument of
evaluation of the student ’s e
student’s xperience
experience
at the distance - NAD/CE/Profae
Lucilane Maria Sales da Silva
Enfermeira, doutora em Enfermagem
Maria de Fátima Bastos Nóbrega
Enfermeira, mestre em Educação Especial
Olney Rodrigues Oliveira
Psicóloga, mestre em Educação

Resumo: Este artigo apresenta a análise de um estudo que objetivou caracterizar


a percepção dos enfermeiros concludentes da primeira turma do Curso de
Formação Pedagógica em Educação Profissional na Área de Saúde: enfermagem –
Profae/CE, quanto às mudanças pessoais adquiridas. O estudo foi realizado com
44 alunos que participaram da última atividade presencial, ocorrida em julho de
2002. O artigo divulga os dados que foram coletados por meio de dinâmica de
grupo intitulada “a mala”, em que os alunos expressaram as mudanças pessoais
ocorridas, após a realização do curso, em duas categorias. Na categoria “o que
levam”, foram citados: aquisição de novos conhecimentos e metodologias,
enriquecimento teórico-prático, aquisição de novas amizades, segurança e senso
crítico. Quanto à categoria “o que deixam”, foram citadas as práticas antigas,
pouca leitura, insegurança, angústia, comodismo, desânimo, ignorância,
preconceitos e desorganização. A utilização de dinâmica de grupo demonstrou
ser um instrumento facilitador para a precipitação de discussões acerca da
avaliação do processo ensino-aprendizagem experimentado.
Palavras-chave: Avaliação; Aprendizagem; Ensino; Enfermagem.
Abstract: This article has the objective to characterize the perception of the
nurses concluder of the first group of the Course of Pedagogic Formation in
Professional Education in the Area of Health: Nursing – Profae/CE, with
relationship to the acquired personal changes. The study was accomplished with
44 students that participated in the last presentable activity, happened in July of
2002. The data were collected through the entitled group dynamics “the suitcase”,
where the students expressed the personal changes happened after the
accomplishment of the course through two categories. In the category “what
takes” were mentioned: acquisition of new knowledge and methodologies,
theoretical-practical enrichment, acquisition of new friendships, safety and critical
census. For the category “ what leaves” the old practices, little reading, insecurity,
anguish, egotism, depression, ignorance, prejudices and disorganization. The
use of group dynamics demonstrated to be a facilitative instrument for the
precipitation of discussions concerning the evaluation of the process teaching-
learning experimented.
Keywords: Evaluation; Learning; Teaching; Nursing.


56 Nº 08 MAIO DE 2003

Introdução bramento das relações interpessoais,
intergrupais e grupais imediatas de
O Curso de Formação Pedagógica seus participantes, atendendo a
em Educação Profissional na Área de interesses individuais e coletivos
Saúde: enfermagem – Profae é uma (Fonseca, 1988; Militão; Militão,
proposta do Ministério da Saúde, por 2000).
intermédio da Escola Nacional de A dinâmica de grupo é um instru-
Saúde Pública da Fundação Oswaldo mento de que se valem educadores,
Cruz (Fiocruz), para capacitar os psicólogos, enfermeiros e outros
enfermeiros que atuam na formação profissionais que trabalham com
de auxiliares e técnicos de enferma- grupos. Por meio das dinâmicas, é
gem. No Ceará, a primeira turma de possível fazer o aluno refletir e avaliar
enfermeiros especialistas foi formada o alcance das mudanças propostas no
em parceria com a Universidade processo ensino-aprendizagem e
Federal do Ceará, Departamento de permite ao docente realizar uma
Enfermagem, por meio do trabalho avaliação informal, aproveitando uma
conjunto de sete tutores. série de orientações básicas para
A metodologia utilizada no curso motivar os alunos a estabelecer com
foi o ensino a distância, operacionali- ele um relacionamento de maior
zada por contatos virtuais, associados eficácia educativa (Morales, 2000).
a cinco encontros presenciais, que De acordo com Sant’Anna (2001),
ocorreram no Departamento de constata-se que o ensino, em alguns
Enfermagem, ocasião em que os cursos, exemplificando com o Profae,
alunos e tutores desenvolviam ativi- passa a se preocupar com o
dades de grupo e aprofundavam desenvolvimento integral dos alunos,
reflexões sobre os módulos. a construção do conhecimento, a
aplicação da capacidade crítica e do
Pensando em oferecer um clima
raciocínio lógico, com o aprender a
propício para a conscientização das
aprender e com a formação de pessoas
mudanças pessoais, ocorridas ao longo
competentes, capazes de pensar,
do processo ensino-aprendizagem e
criticar e construir.
avaliação da experiência discente no
ensino a distância, foi que se realizou Ainda para a autora, no processo
a dinâmica de grupo, proporcionando de avaliação voltada para esse ensino,
um clima descontraído, lúdico e deverão sempre estar presentes
agradável ao momento da avaliação professores e alunos, que por uma
presencial. participação ativa e dialógica perma-
nente, buscarão defender resultados
Militão e Militão (2000), carac- condignos com a educação dos novos
terizaram dinâmica de grupo como tempos. Devem, ainda, levar em
toda a atividade desenvolvida com um consideração a necessidade de uma
grupo de pessoas (grupo de trabalho, ação cooperativa entre os partici-
de treinamento, reuniões e eventos) pantes do processo, uma ação coletiva
com o objetivo de divertir, “quebrar consensual, e uma consciência crítica
o gelo”, integrar ou ainda refletir, e responsável de todos.
promover o conhecimento e incitar a Dessa forma, a avaliação assume
aprendizagem. feições diversas da avaliação tradi-
A aplicação de uma dinâmica de cional, que se resumia na aplicação
grupo possibilita o exercício de uma de um teste ao final do período letivo.
vivência. É um momento de labora- No processo avaliativo moderno, o
tório, que pode ir além de um simples professor deverá utilizar instrumentos
“quebra-gelo” a reflexões e apren- ou procedimentos alternativos de
dizados mais profundos e elaborados. avaliação, como dinâmicas de grupo,
O grupo vivencial não tem nenhum para que a interação entre alunos,
tipo de programa estabelecido, deve professor e objeto da aprendizagem se
acontecer como um processo espon- constitua vínculo ativo e reforçador
tâneo de constituição e de desdo- de vivências.


Formação 57

A avaliação consiste em estabele- Moscovici (1995, p.5), refere-se
cer uma comparação do que foi ao trabalho em grupo (por ela deno-
alcançado com o que se pretende minado educação de laboratório)
atingir. Estaremos realizando ava- como um “conjunto metodológico que
liação quando estivermos examinando visa a mudanças pessoais a partir de
o que queremos, o que estamos aprendizagens baseadas em
construindo e o que conseguimos, experiências diretas ou vivências.”
analisando sua validade e eficiência Distintas modalidades de influência
(Sant’anna apud Romão, 2001). social geram diferentes níveis de
aprendizagem: nível cognitivo
Entende-se como Luckesi (2001), (informações, conhecimentos,
que o ato de avaliar implica coleta, compreensão intelectual), nível
análise e síntese dos dados que emocional (emoções e sentimentos,
configuram o objeto da avaliação para gostos, preferências), nível atitudinal
uma posterior tomada de decisão. O (percepções, conhecimentos,
ato de avaliar conduz a uma decisão emoções e predisposição para ação
nova para atuar sobre o objeto integrada) e nível comportamental
avaliado. (atuação e competência).
Nesse sentido, objetivou-se com Para a autora, o nível cognitivo
esse estudo caracterizar a percepção refere-se aos conhecimentos, infor-
dos enfermeiros concludentes da mações, conceitos teóricos que
primeira turma do Curso de Formação associados às experiências vivenciadas
Pedagógica em Educação Profissional constituem uma aprendizagem signi-
na Área de Saúde: enfermagem – ficativa. As leituras individuais
Profae/CE, quanto às mudanças servem como inspiração de idéias
pessoais adquiridas após a realização novas a serem discutidas no grupo e
do curso, como forma de avaliar as comparadas com a ocorrência do
contribuições do mesmo. fenômeno ao vivo, para enriqueci-
Metodologia mento maior da experiência indivi-
dual e grupal. Cada membro do grupo
Trata-se de um estudo de natureza não traz apenas o simples conteúdo,
exploratória e descritiva, realizado mas também suas reflexões e expe-
com os alunos concludentes da riências anteriores, contribuindo
primeira turma do Curso de Formação dessa forma para o aprofundamento
Pedagógica em Educação Profissional da experiência pessoal e grupal.
na Área de Saúde: enfermagem –
A aprendizagem pelo nível emo-
Profae/CE.
cional oportuniza a cada componente
A população constou de 160 enfer- do grupo a exposição de seus senti-
meiros, alunos do curso de especiali- mentos, idéias e opiniões, utilizando-
zação a distância. A amostra foi se da espontaneidade, autenticidade,
constituída de 44 alunos, escolhidos troca de experiências, possibilitando
de forma aleatória e que participaram a elaboração de um processo diagnós-
da última atividade presencial do tico da situação vivenciada e da
curso, ocorrida em julho de 2002, no participação de cada um e de todos
Departamento de Enfermagem da no desenvolvimento do processo de
Faculdade de Farmácia, Odontologia, grupo.
e Enfermagem da Universidade Fede- A aprendizagem no nível atitudinal
ral do Ceará. possibilita as mudanças de atitudes,
A coleta dos dados ocorreu por de valores, de conceitos antigos tão
meio da dinâmica de grupo intitulada predominantes na educação formal.
“a mala”, na qual os alunos foram As mudanças de comportamento
motivados a relatarem as mudanças (aprendizagem em termos formais)
pessoais ocorridas por ocasião do também são experimentadas, as quais
curso, expressas por meio de duas poderão ser menor ou maior, parcial
categorias: “o que levam do curso” e ou global, lenta ou rápida, superficial
“o que deixam no curso”. ou profunda, fugaz ou duradoura.


58 Nº 08 MAIO DE 2003

Utilizou-se esses níveis de apren- Após um tempo para reflexão, moti-
dizagem para a organização do vou-se os alunos a descreverem, de um
material coletado na dinâmica de lado da folha de papel, todas as
grupo, que foram agrupados e catego- aquisições pessoais possibilitadas
rizados por meio de duas tabelas. pelo desenvolvimento do curso (deno-
minou-se essa categoria de “o que
A dinâmica foi aplicada pelos
levam do curso”) e do outro lado, tudo
tutores no primeiro momento do
aquilo que consideraram dispensáveis,
encontro presencial. Na ocasião,
indesejáveis, ultrapassados, ou seja,
distribuíram-se folhas de papel em
aquilo que não desejariam levar de
branco aos alunos e foi proposto que
volta da viagem (denominou-se essa
se estabelecesse uma comparação
categoria como “o que deixam no
imaginária entre a conclusão do curso
curso”). Os relatos deveriam ser feitos
e a chegada de uma longa viagem. E,
por palavras ou frases curtas. Após a
como é comum ocorrer na chegada
realização da dinâmica, iniciou-se a
de uma viagem, reportou-se à desarru-
análise e a discussão dos resultados.
mação da mala. Posteriormente,
pediu-se que refletissem acerca das A eticidade da pesquisa constou da
mudanças pessoais ocorridas por observância aos aspectos relativos à
ocasião do curso. Solicitou-se que beneficência, não maleficência,
comparassem essas mudanças à justiça e eqüidade, conforme a
“compra” ou “troca” de acessórios ou resolução nº 196/96 do código de
instrumentos, contidos na mala, ética que envolve pesquisas com seres
ocorridas no decorrer da viagem. humanos.
A partir do que os discentes
Resultados e Discussão referiram na categoria “o que levam”,
(Tabela 1) pode-se afirmar que, de
Verificou-se, a partir dos relatos, certa forma, o curso conseguiu
que a dinâmica utilizada no processo conduzir os discentes a uma reflexão,
de avaliação final do curso criou processo de sensibilização e mudança
oportunidade e condições para que os gradativa na visão da prática docente,
discentes pudessem expor seus senti- principalmente nos aspectos relativos
mentos, idéias e opiniões livremente, a: no campo cognitivo – aquisição de
com espontaneidade e autenticidade, novos conhecimentos (68,1%) e senso
por meio da troca de experiências, crítico (34%); no aspecto emocional
possibilitando a elaboração do pro- – novas amizades (50%), segurança
cesso de avaliação pela identificação (22,7%) e estímulo (22,7%); no
das mudanças advindas do processo aspecto atitudinal – trabalho em
grupo (18,2%), humanização (11,4%)
ensino-aprendizagem vivenciado no
e visão crítica da prática pedagógica
curso.
(11,4%); quanto aos aspectos compor-
A avaliação de mudanças de atitu- tamentais – novas experiências
des e valores pode ser uma experiência pedagógicas (18,2%) e novas metodo-
didática muito especial. A pessoa logias de ensino (15,9%).
aprende aquilo que interioriza, que
As transformações ocorridas ao
torna próprio e que vive como válido
longo do curso foram frutos de um
(Morales, 2000). No curso de espe-
longo processo de discussão e refle-
cialização a distância do Profae, xão, em que os alunos não somente
tutores e alunos, conseguiram criar tomaram consciência da necessidade
situações que permitiram que essa de mudança, mas dispuseram-se a
atividade interior fosse possível. No vivenciá-la. Entre os aspectos enume-
âmbito das mudanças de atitudes e rados, destacou-se a aquisição de
valores que envolvem o processo novos conhecimentos como conse-
ensino-aprendizagem, mais que ensi- qüência natural indiscutível de um
nar ou transmitir, temos de pensar em curso que oferece um arcabouço
propiciar situações de aprendizado. teórico fundamentado em bases


Formação 59

Tabela 1
Distribuição das mudanças pessoais referidas pelos alunos durante a realização da dinâmica de grupo, na
categoria “o que levam do curso”, de acordo com os níveis de aprendizagem. Fortaleza – CE, 2002

Níveis de aprendizagem: mudanças pessoais


N° (n=44) %
“O que levam do curso”

COGNITIVO
Aquisição de novos conhecimentos 30 68,1
Visão filosófica da educação 01 2,3
Senso crítico 15 34,0

EMOCIONAL
Novas amizades 22 50,0
Segurança 10 22,7
Maturidade 02 4,5
Inovação 01 2,3
Estímulo 10 22,7
Grande etapa vencida 01 2,3
Vontade de estudar mais 05 11,4

ATITUDINAL
Humanização 05 11,4
Dinamismo 01 2,3
Autodisciplina 01 2,3
Criatividade 01 2,3
Trabalho em grupo 08 18,2
Nova visão da enfermagem 01 2,3
Visão crítica da prática pedagógica 05 11,4

COMPORTAMENTAL
Novas metodologias de ensino 07 15,9
Enriquecimento teórico e prático 03 6,8
Vontade de aprender e ser atuante 01 2,3
Novas experiências pedagógicas 08 18,2
Superação de dificuldades 01 2,3

filosóficas, científicas, técnicas e A visão crítica da prática pedagó-


políticas, capaz de proporcionar uma gica, sem dúvida nenhuma, está
prática docente crítica, significativa relacionada com a análise da educa-
e emancipadora. Quanto ao senso ção no Brasil, a compreensão das
crítico, compreende-se que uma principais idéias pedagógicas, as bases
legais de educação e o privilégio da
prática refletida criticamente e
construção de um projeto político
complementada por trocas de expe-
pedagógico como estratégia de defini-
riências é grandemente formadora da
ção de objetivos coletivos na educação
cidadania. profissional em saúde. A humani-
zação resultou de uma sensibilização
A segurança refere-se à aquisição do aluno quanto à importância da
de competências pedagógicas para interação entre professores e alunos,
formar outros profissionais de enfer- necessária para o processo ensino-
magem no nível técnico. O contato aprendizagem.
constante com o tutor e o debate com
As novas experiências pedagógicas
outros discentes estimulou os alunos
traduziram-se em novas metodologias
a refletirem sobre as relações entre de ensino capazes de superar as
educação e trabalho, ensino e serviço propostas tradicionais, atuando com
e as Políticas de Saúde, assim como, ética, rompendo com a divisão do
consolidaram laços de amizades e trabalho intelectual e manual, ofere-
trocas de experiências. cendo formação pedagógica baseada


60 Nº 08 MAIO DE 2003

na reflexão e proporcionando espaço O curso de Formação Pedagógica
para discussão em grupo sobre res- do Profae tem como meta, entre
ponsabilidade social do trabalhador outras coisas, formar docentes em
de enfermagem. educação profissional, comprome-
tidos com as necessidades sociais,
Assim, os depoimentos deixam
desenvolver uma sólida formação
claro que o curso permitiu ao discente
teórico-prática para a adoção de uma
levar para a docência uma reflexão
docência crítica, oferecer uma forma-
crítica permanente sobre sua prática,
ção pedagógica pautada na reflexão,
resultando em uma avaliação do seu
e, finalmente, proporcionar situações
próprio fazer como educador.
para que os docentes de enfermagem
A Tabela 2 revela a percepção dos reflitam sobre a responsabilidade
discentes quanto às mudanças ocorri- social de transformar os trabalhadores
das na prática docente, a partir das ocupacionais em trabalhadores de
reflexões e discussões propiciadas no enfermagem (Brasil, 2003).
curso a distância. Na categoria “o que
A partir do que os discentes
deixam no curso”, os aspectos mais
referiram na categoria “o que dei-
referidos foram: no campo cognitivo
xam” pode-se afirmar que ocorreram
– pouca leitura (34%) e práticas
mudanças no modo de pensar e fazer
antigas (22,7%); no aspecto emo-
a educação. Isto foi possível a partir
cional – insegurança (18,2%), medo
dos princípios da concepção pedagó-
(15,9%), angústia (11,4%) e saudades
gica adotada pelo Curso de Formação
(11,4%) e; no aspecto atitudinal –
Pedagógica em Educação Profissional
comodismo (4,5%) e egocentrismo
na Área de Saúde: enfermagem.
(4,5%); quanto aos aspectos compor-
tamentais – velhos hábitos pedagó- Entre esses princípios, citamos: a
gicos (22,7%). teoria como reflexão para a prática;

Tabela 2
Distribuição das mudanças pessoais referidas pelos alunos durante a realização da dinâmica de grupo
na categoria “o que deixam no curso”, de acordo com os níveis de aprendizagem. Fortaleza – CE, 2002

Níveis de aprendizagem: mudanças pessoais


N° (n=44) %
“O que levam do curso”

COGNITIVO
Práticas antigas 10 22,7
Desconhecimento total sobre educação profissional 02 4,5
Pouca leitura 15 34,0
Ignorância 01 2,3

EMOCIONAL
Insegurança 08 18,2
Angústia 05 11,4
Saudades 05 11,4
Desânimo 02 4,5
Medo 07 15,9

ATITUDINAL
Comodismo 02 4,5
Egocentrismo 02 4,5
Timidez 01 2,3
Preconceitos 01 2,3

COMPORTAMENTAL
Velhos hábitos pedagógicos 10 22,7
Desorganização 01 2,3


Formação 61

o respeito à prática e ao conheci- prática docente democrática e cida-
mento já adquirido; o tratamento dos dão, constituiu-se em um processo
conteúdos por temas, de forma a oportunizado, a nosso ver, plenamente
superar a clássica estrutura discipli- contemplado a partir das colocações
nar; abordagem crítica, reflexiva e por eles apresentadas.
contextualizada dos conteúdos e a
De acordo com os resultados do
busca da autonomia (Brasil, 2003).
estudo, verificamos que a opção
Os relatos quanto às transforma- pedagógica do curso, no tocante aos
ções de práticas antigas (22,7%) e princípios propostos, entre eles a
velhos hábitos pedagógicos (22,7%), teoria como reflexão para a prática,
conforme a Tabela 2, corroboram com abordagem crítica, reflexiva e contex-
a visão de Cruz (2002), segundo o qual tualizada dos conteúdos e a busca de
a prática pedagógica tradicional se autonomia, foi contemplada, em
encontra ainda fortemente centrada na maior ou menor grau, o que pode ser
“transmissão de conteúdos”, presente comprovado pela interpretação dos
na cultura docente, o que não satisfaz relatos dos alunos, por meio dos
as necessidades e demandas da so- níveis de aprendizagem.
ciedade atual. Tal afirmação reforça No nível cognitivo, os alunos
que o processo ensino-aprendizagem, apontaram o abandono de práticas
vivenciado pelo docente, conseguiu antigas e pouca leitura. Uma vez que
despertá-lo para a necessidade de o curso oferece uma formação teóri-
estabelecer mudanças pessoais na co-prática com bases filosóficas,
condução da educação profissional. científicas, técnicas e políticas,
permite o despertar do aluno para a
Segundo Bagnato e Cocco (2002),
adoção de novos hábitos.
as práticas de ensino devem mostrar
a inter-relação da teoria com a No aspecto emocional, a insegu-
prática, superar uma visão e uma rança, angústia, saudade e medo
prática dicotomizada, fragmentada, foram trabalhados a partir do desen-
descontextualizada e alienada. O volvimento de competências para a
docente deve partir das vivências e docência, concretizada no estímulo à
experiências dos alunos, valorizando reflexão crítica e à capacidade de atuar
e compreendendo suas participações, de forma fundamentada em situações
suas idéias, concepções e a partir de concretas.
reflexões e discussões, reconstruir e Quanto à dimensão atitudinal, o
ampliar seus referenciais, tecendo comodismo e o egocentrismo foram
outras concepções de mundo, so- confrontados com valores como a
ciedade e educação. Essa concepção solidariedade, a cooperação e o
permeou todo o desenvolvimento do respeito às diferenças, desenvolvendo
curso de Formação Pedagógica do a capacidade de atuarem de forma
Profae e, apesar de alguns erros, de efetiva como cidadãos.
inúmeras dificuldades vivenciadas No aspecto comportamental, os
pelos tutores no decorrer do curso, alunos referiram abandonar os velhos
os depoimentos revelam o desejo e hábitos pedagógicos. O curso permi-
início de mudanças nas atitudes, tiu a reflexão da prática pedagógica
comportamento e emoções daqueles numa perspectiva que possibilitou
que experimentaram o processo. pensar o homem em sua totalidade e
Conclusões em sua singularidade, sem dicoto-
mizá-lo da sua prática educativa.
A utilização de dinâmica de grupo Conseguiu, ainda, conduzi-los a uma
demonstrou ser um instrumento reflexão, a um processo de sensibi-
facilitador para a precipitação de lização e uma mudança gradativa na
discussões acerca da avaliação do visão da prática docente democrática
processo ensino-aprendizagem experi- e cidadã, transformando os velhos
mentado. A sensibilização dos alunos hábitos pedagógicos, ou seja, o modo
para as mudanças, necessárias à de pensar e fazer a educação.


62 Nº 08 MAIO DE 2003

Os objetivos do curso que se LUCKESI, C. C. Avaliação da apren-
relacionam à busca da autonomia por dizagem escolar: estudos e proposi-
meio da reflexão sobre a própria ções. 11 ed., São Paulo: Cortez, 2001.
prática, respeitando os conhecimentos
MILITÃO, A.; MILITÃO, R. Jogos,
adquiridos anteriormente, mas con-
dinâmicas e vivências grupais: como
textualizando-os dentro de uma
desenvolver sua melhor “técnica” em
abordagem crítica e transformadora,
atividades grupais. Rio de Janeiro:
foram alcançados, em maior ou
Qualitymark, 2000.
menor grau, conforme a sensibilidade
e disponibilidade dos alunos. MOSCOVICI, F. Desenvolvimento
interpessoal: treinamento em grupo.
A superação da fragmentação do
4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
conhecimento, das formas tradi-
1995.
cionais de ensino, da falta de contex-
tualização entre a teoria e a prática MORALES, P. A relação professor-
foram objetos de discussão no curso, aluno: o que é, como se faz. 2. ed.
sensibilizando o educando para a São Paulo: Edições Loyola, 2000.
necessidade de uma mudança grada-
ROMÃO, J. E. R. Avaliação dialó-
tiva na ação docente por ele viven-
gica: desafios e perspectivas. São
ciada. No entanto, considera-se que
Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire,
a formação é um processo contínuo,
2001.
que não se reduz ou se esgota na
realização de um curso, sendo neces- SANT’ANNA, I. M. Por que avaliar?
sária a capacidade do aluno em Como avaliar? - critérios e
continuar aprendendo, descobrindo i n s t r u m e n t o s . 7 . e d . Pe t r ó p o l i s :
alternativas para uma prática pedagó- Vozes, 2001.
gica contextualizada e sintonizada
com o momento histórico.

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Memória educativa e tessitura de
conceitos educacionais – experiência
vivenciada na licenciatura em Enfer-
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secre-
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Saúde. Projeto de Profissionalização
dos Trabalhadores da Área de Enfer-
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magem: livro do tutor. Brasília:
Ministério da Saúde, 2003.
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FONSECA, A. H. L. Grupo fugaci-
dade ritmo e forma: processo de
grupo e facilitação na psicologia
humanista. São Paulo: Ágora, 1988.


Formação 63

Análise

Análise do projeto pedagógico de


uma escola técnica de enfermagem
Analysis of a pedagogical project of
a school nursing technique
Linda Tsuiko Tatakihara
Enfermeira, especialista em Administração Hospitalar
Mara Lúcia Garanhani
Doutoranda do Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem
Márcio Alex de Almeida Moura
Enfermeiro, especializando em Administração Hospitalar
Marina Viana Fernandes
Enfermeira, especialista em Administração Hospitalar

Resumo: O artigo descreve a análise do projeto pedagógico de uma Escola Técnica


de Enfermagem, visando identificar facilidades, dificuldades, possibilidades e
sua potencialização no desenvolvimento do mesmo. O levantamento de dados
abrangeu o projeto pedagógico, o perfil profissional, a seleção de conteúdos, as
práticas pedagógicas e a avaliação. O artigo reporta-se às observações dos
pesquisadores que entenderam tratar-se de um projeto pedagógico predominante-
mente tecnicista e formal; que há um descompasso entre o perfil do profissional
estabelecido pelos órgãos oficiais e o perfil delineado pela escola, a qual mantém
a ênfase no saber fazer; que os conteúdos apresentados referem-se, em sua maioria,
ao saber fazer e às habilidades, com bastante especificidade; que as avaliações
precisam ser aprimoradas para buscar critérios para a construção das competências
estabelecidas. Constatou-se, ainda, esforços da escola no sentido de nortear os
professores quanto às práticas pedagógicas propostas. Assim, evidencia-se a
necessidade de adequação dos projetos das escolas profissionalizantes às propostas
emancipadoras preconizadas pelas escolas voltadas para a saúde.
Palavras-chave: Educação em Enfermagem; Ensino; Aprendizagem.
Abstract: This study analyzes a pedagogic project at a Technical School in Nursing,
and has the purpose of pointing out difficulties, possibilities, and the potential
to develop the project at this school. The data were collected from: the pedagogic
project, the professional profiles, the selection of contents, the pedagogic practices
and the evaluation. The project has a technical and formal approach. There is a
difference between the professional’s profile established by official education
departments and the profile established by the school. The focus is on knowing
how to do it. The presented contents mostly refer to know-how and skills. The
evaluation models need to be improved and find criteria to make established
competences come true. Efforts are made to guide the teachers to the proposed
pedagogic practices. Therefore, there’s a need to adjust the projects from
Vocational Schools to what is proposed and recommended by Health Schools.
Keywords: Nursing Education; Teaching; Learning.


Formação 64

Introdução do profissional para o contexto atual.
Essa análise conduzirá à reflexão
As escolas formadoras dos profis- sobre o fazer pedagógico e a possibili-
sionais de nível técnico devem dade de transformá-lo.
oferecer aos alunos conhecimentos
Segundo Davini (1983), o currícu-
atualizados e possibilitar o desenvolvi-
lo é um “plano pedagógico e institu-
mento das habilidades requeridas ao
cional para orientar a aprendizagem
futuro profissional de nível médio na
dos alunos de forma sistêmica e deve
área da saúde, uma vez que o panora-
estar fundamentado e organizado
ma da atualidade impõe mudanças
conforme o que se entende por
constantes na educação e, conseqüen-
aprender e ensinar.”
temente, no ensino profissionalizante.
Sordi (1995), refere que:
Para tal, o delineamento do ensino
para o saber fazer, pensar e ser “um projeto pedagógico revela a
enfatiza o aprender a aprender. Dessa existência de uma intenção e, por
forma, o principal papel da escola conseguinte, descarta qualquer
profissional é ensinar o estudante a possibilidade de atitudes neutras.
refletir, a analisar, a propor novas A importância dessa definição para
alternativas e soluções para os a instituição é que o projeto dá um
problemas, conciliando com os rumo, imprime um sentido que
interesses da sociedade. Assim, o deve orientar todas as ações
aluno dos cursos de educação profis- desenvolvidas por sua comuni-
sional na área de saúde deve estar apto dade.”
para identificar a natureza dos Para o mesmo autor:
problemas referentes ao processo
saúde-doença e para propor soluções “a instituição se particulariza na
que visem resolver, atenuar e melho- singularidade de suas opções, o que
rar esses problemas. permite que possam ser reconhe-
cidos os resultados de seu processo
A construção de um projeto peda- de ensino, através da forma como
gógico adequado passa a ser um se inserem no mercado de trabalho
grande desafio para as escolas cujos os profissionais por ela formados.
objetivos sejam privilegiar a formação Adotar um projeto pedagógico
de profissionais críticos, reflexivos, implica reconhecer sua dinamici-
independentes, com facilidade para dade, entendê-lo de forma abran-
concentração e resolução de confli- gente, sem fragmentá-lo, posto que
tos, com hábito de leitura, com seu todo é mais do que a somatória
capacidade para redigir, além de de suas partes. Adotar um projeto
conhecimentos técnicos específicos pedagógico como norteador para
conforme exigências da realidade as ações que envolverão alunos-
atual. professores-administração exige
Para que o profissional de nível uma atenção rigorosa, no sentido
técnico tenha as características acima, de captar a existência de coerência
é imprescindível que a metodologia entre as diferentes etapas do
de ensino adotada pela escola, seja trabalho pedagógico, que devem,
baseada na concepção do aluno como ao complementar-se, evidenciar os
construtor de seu conhecimento, a pressupostos gerais contidos na
partir da reflexão e da indagação sobre proposta global.”
sua prática atual e futura, quando já Portanto, a elaboração de um
atuar como profissional. projeto pedagógico não é tarefa fácil,
Desse modo, antes de tudo, é pois as escolas e professores ainda
imprescindível analisar os projetos estão aprendendo o exercício da
pedagógicos existentes na realidade democracia, do trabalho coletivo, da
brasileira para, a partir desta, optar- responsabilidade social na participa-
se por aquele que melhor possa ção dos processos de transformação
atender às necessidades de formação da sociedade. Assim, as escolas


Formação 65

também necessitam se adequar aos professores e toda equipe envolvida
processos de democratização, para a no projeto pedagógico devem estar
construção de seus currículos. prontos para enfrentar o desafio de
Considerando também as tendên- construir a escola voltada para a
cias pedagógicas contemporâneas para saúde, uma vez que o trabalho em
a educação profissional técnica, em saúde é altamente complexo e dinâ-
nível médio de enfermagem, chama- mico. Assim, a escola deve vislum-
mos a atenção para a necessidade de brar a aproximação educação-saúde.
construção de projetos pedagógicos Além desses aspectos, as competên-
dos cursos técnicos de enfermagem, cias para a formação dos técnicos de
fundamentados nas propostas das enfermagem, como habilitação profis-
escolas voltadas para a saúde, visto sional no nível médio, devem ser
que, os profissionais em formação, estabelecidas preferencialmente de
vivenciarão dentro da própria escola forma provisória e flexível, possibili-
uma gestão democrática, cujas estraté- tando o acompanhamento da dinâmi-
gias pedagógicas deverão ser compatí- ca estabelecida pela globalização,
veis com a saúde e com o Sistema comunidade externa e necessidades da
Único de Saúde (SUS). Esse projeto comunidade interna.
também deve promover a articulação Diante do apresentado, questiona-
educação-saúde e aproximar a escola mos: as escolas formadoras de profis-
de sua principal função que é a social. sionais técnicos em enfermagem
As práticas sociais adotadas pela apresentam projetos pedagógicos
escola voltada para a saúde devem emancipadores e são voltadas para a
abranger valores como: vida, solida- saúde? Esse questionamento surgiu da
riedade, educação, democracia, observação e análise do perfil do
cidadania, desenvolvimento e partici- aluno que as escolas estão formando,
pação coletiva. Essa escola deve uma vez que estes, ao exercerem suas
proporcionar ao aluno e professor, a atividades nas unidades de trabalho,
integração das ações preventivas, não apresentam atitudes transforma-
curativas e de promoção à saúde e doras e resolutivas, permanecendo
incluir também, temas sobre o cuidar estagnados na aplicação dos conheci-
em enfermagem, responsabilidade mentos supostamente adquiridos nos
social e profissional, vislumbrando a cursos técnicos de enfermagem.
reorientação da sua práxis, em termos Observamos, também, que muitas
pedagógicos e assistenciais. escolas trazem no perfil do profis-
sional que pretendem formar, ação
As escolas voltadas para a saúde puramente tecnicista, de saber fazer
devem promover a capacitação do e não delineiam efetivamente ações
coordenador da escola, para que o para o desenvolvimento do conhecer
mesmo assuma o papel de gestor e do saber ser.
democrático, possibilitando a supera-
ção da fragmentação das disciplinas Assim, o trabalho teve por objetivo
e a ampliação das “visões” do seu analisar o projeto pedagógico do curso
corpo docente sobre o papel social da técnico de enfermagem de uma escola
escola. do Paraná, quanto aos seguintes
aspectos: fragilidades, dificuldades,
Portanto, nos currículos dessas
potencialidades e potencialização das
escolas devem constar conteúdos que
possibilidades.
favoreçam a compreensão da realida-
de de saúde e possibilitem a prepara- Ao realizarmos o estudo espera-
ção de sujeitos capazes de atuar de mos fornecer subsídios para a cons-
maneira transformadora. Deve tam- trução de projetos pedagógicos das
bém proporcionar conhecimentos, escolas de cursos técnicos de enfer-
habilidades e competências formais e magem do Paraná e do País, pautados
políticas para que os profissionais de nas propostas emancipadoras das
nível médio desempenhem suas escolas voltadas para a saúde, visto
funções criticamente. Assim, os que a abordagem é relativamente nova


66 Nº 08 MAIO DE 2003

e complexa para as escolas profis- parcial entre os módulos; os con-
sionalizantes de nível médio de teúdos não garantem a visão de
enfermagem. totalidade da área de atuação do
profissional técnico de enfermagem,
Metodologia
não havendo o despertar para uma
Foi realizada uma pesquisa descri- proposta pedagógica politicamente
tiva com análise qualitativa, desenvol- emancipadora. O fato de muitos dos
vida em uma escola formadora de alunos serem procedentes de outras
técnicos em enfermagem, localizada escolas dificulta a integração, sendo
na região norte do Paraná. A coleta que para melhorar os efeitos dessa
de dados foi realizada no mês de integração, a unidade em estudo
julho de 2003. Os pesquisadores, para promove a adaptação dos conteúdos
a realização do estudo, analisaram faltosos, a fim de atender aos requisi-
algumas das atividades desenvolvidas tos mínimos exigidos pela Secretaria
no Curso de Formação Pedagógica em de Estado da Educação, e dando
Educação Profissional na Área de continuidade na assistência especiali-
Saúde: enfermagem. zada (3º módulo), com o objetivo de
A pesquisa foi desenvolvida em oferecer certificação de técnico em
quatro etapas: 1) solicitação de enfermagem. Os conteúdos apresen-
autorização junto à coordenação da tados são predominantemente tecni-
escola para a realização do trabalho; cistas, já que a maioria dos itens
2) seleção das questões utilizadas refere-se ao saber fazer. Também não
como referência para a análise dos abordam temas relacionados à condi-
dados; 3) levantamento dos dados ção humana (mente, cultura, razão,
necessários junto ao plano de curso; afeto, indivíduo, sociedade e espé-
4) classificação das diretrizes curricu- cie), ao enfrentamento das incertezas,
lares e análise da seleção dos con- à compreensão e à ética do gênero
teúdos, das práticas pedagógicas e de humano como enfatiza Morin (2001).
avaliação, segundo as facilidades, Portanto, acreditamos que os critérios
dificuldades, possibilidades e poten- utilizados para a seleção desses
cialização das possibilidades do conteúdos tomaram por base os livros
projeto pedagógico. técnico-científicos existentes e expe-
riências dos elaboradores, refletindo
O estudo pautou-se exclusivamente o modelo educacional formal, predo-
na análise dos seguintes documentos: minante em quase todo o País.
a) grade curricular; b) projeto pedagó-
gico da escola, construído com Possibilidades – inclusão de temas
enfoque nas Normatizações e Diretri- que possam proporcionar ao aluno e
zes da Educação Profissional, pela ao professor visando à integração das
extinta Agência para o Desenvol- ações preventivas, curativas e de
vimento do Ensino Técnico do Paraná promoção da saúde. É desejável
(Paranatec) da Secretaria de Estado da incluir também no processo ensino-
Educação. aprendizagem, temas sobre o cuidar
em enfermagem, responsabilidade
Resultados social, responsabilidade profissional,
ética e humanismo, vislumbrando a
Os dados apresentados foram transformação da práxis educativa e
discutidos entre os autores, destacan- assistencial.
do os seguintes aspectos: projeto
Potencialização das possibilidades
pedagógico, diretrizes curriculares,
– o corpo docente da escola não é fixo
perfil dos alunos, seleção dos con-
e a maioria dos conteúdos é ofertada
teúdos, práticas pedagógicas e ava-
por profissionais convidados, aspecto
liação.
este que acaba promovendo a frag-
1. Quanto ao projeto pedagógico mentação das disciplinas. Frente a
Dificuldades - o projeto pedagógi- essa realidade, enfatiza-se a necessi-
co não exerce sua função social de dade da socialização entre os profes-
maneira integral; existe integração sores sobre o plano pedagógico da


Formação 67

escola e sobre o perfil do aluno consideramos que houve uma ten-
proposto. A socialização estratégica tativa de construir um plano peda-
dessas informações pode proporcionar gógico coletivamente. Gostaríamos de
o início da superação da fragmentação reforçar essa iniciativa e tecer algumas
das disciplinas e da sensibilização do considerações, pois considerando a
corpo docente sobre o papel social da complexidade do processo de cons-
escola. À aproximação dos docentes trução coletiva de um projeto pedagó-
com as propostas do SUS, bem como gico, sugerimos que o coordenador da
com a articulação existente e necessá- escola, todos os professores e fun-
ria entre educação e saúde, vislum- cionários envolvidos, se utilizem
brariam um planejamento para a também das etapas sugeridas por
criação de novas bases para as suas Andrade; Amboni (2000) para
práxis. Alertamos que o profissional facilitar esse processo.
técnico de enfermagem deve ser Perfil do aluno com base nas
norteado quanto ao desenvolvimento Diretrizes Curriculares Nacionais –
do saber ser, pois a realidade atual este perfil deve ser delineado baseado
necessita de profissionais proativos, nas necessidades sociais e políticas da
flexíveis, sensíveis, éticos e humani- realidade dessa profissão, que atual-
tários. mente exigem profissionais com:
polivalência profissional; facilidade
2. Quanto às diretrizes curricula-
de adaptação às rápidas mudanças;
res – perfil do aluno que se pretende
capacidade para superar os limites de
formar
uma ocupação ou campo circunscrito
O plano de curso foi desenvolvido de trabalho, evidenciando a capaci-
de acordo com o estabelecido na Lei dade de trabalho multiprofissional;
nº 9.394/96, atual Lei de Diretrizes capacidade para transcender a frag-
e Bases da Educação Nacional (LDB); mentação de tarefas e compreender o
no Decreto nº 2.208/97; nas Normas processo de trabalho em saúde,
do Conselho Nacional de Educação criatividade, autonomia intelectual,
(CNE), em especial no Parecer pensamento crítico, iniciativa e
CNE/CEB nº 16/99 e na Resolução capacidade para monitorar desem-
nº 04/99, ambos da Câmara de Educa- penhos.
ção Básica (CEB) do Conselho Nacional Perfil do aluno proposto pela
de Educação, na Deliberação CEE/PR escola – o aluno, ao terminar o curso,
nº 002/2000 e na Resolução SE/PR deve estar apto para: elaborar e
nº 34/2000, respectivamente, do ministrar palestras e orientações sobre
Conselho Estadual de Educação e da saúde a clientes e pacientes, fami-
Secretaria de Estado da Educação do liares e comunidade em geral; execu-
Paraná. Também foi adotada como tar atividades pertinentes à proteção
estratégia a realização de oficinas de e prevenção a clientes e pacientes e
trabalho com a participação de uma comunidade; executar os procedimen-
comissão composta de auxiliares de tos durante a recuperação e reabilita-
enfermagem e enfermeiros que traba- ção do cliente e paciente; auxiliar
lham em hospitais da cidade, de médicos e enfermeiros nas ações de
professores do curso auxiliar de apoio diagnóstico e tratamento;
enfermagem e de cursos de graduação auxiliar enfermeiros na elaboração e
em enfermagem, em conformidade supervisão do gerenciamento da
com os artigos 12 e 13 da LDB. unidade e equipe de enfermagem.
Segundo informações da coordenado- Potencialização – há uma preocu-
ra do curso, as oficinas possibilitaram pação em desenvolver nos alunos o
a reflexão sobre a formação do saber, as habilidades e o delineamento
técnico de enfermagem pelas discus- da atuação do profissional junto à
sões sobre o seu papel social, técnico- população, uma vez que deve estar
científico e humanitário. Ao final, os apto para trabalhar junto à comunida-
participantes elaboraram o perfil de. Reforça-se também, a atuação des-
profissional e as competências neces- se profissional em questões relativas
sárias para a sua formação. Portanto, à supervisão e gerenciamento.


68 Nº 08 MAIO DE 2003

Possibilidades – aprofundar o desenvolvimento dessas habilidades
plano pedagógico incluindo, no perfil não deve ser prejudicado. Portanto,
do aluno, competências cujo foco seja acreditamos que os critérios utilizados
o saber (conhecimento) e o saber ser. para a seleção desses conteúdos
Além desses, a escola pode incluir tiveram por base livros técnico-
conteúdos que abarquem o cuidar em científicos existentes e a vivência dos
enfermagem, como responsabilidade elaboradores, refletindo o modelo de
social e outras práticas pedagógicas educacional formal.
que permitam a integração ensino-
serviço-comunidade, a rearticulação Possibilidades – com relação aos
entre teoria e prática, o conhecimento princípios do conhecimento referentes
sobre os serviços existentes na região à área de atuação, a escola deve
e os municípios que integram a desenvolver no aluno temas relaciona-
regional de saúde, possibilitando o dos à condição humana e ao enfrenta-
acolhimento efetivo do cliente em mento das incertezas cotidianas. Deve
todo o seu processo saúde-doença. assim, incluir funções e subfunções
que contemplem o desenvolvimento
Potencialização das possibilidades do saber ser, ajudando ao aluno
– faz-se necessária a formação de desenvolver sua competência para ser
alunos cidadãos, cuja participação transformador da realidade, dinâ-
deve ser ativa junto às Políticas de mico, flexível, hábil em resolver
Saúde estabelecidas pelo município problemas e em relacionamento
que, integrado ao SUS, estimula a interpessoal, ético, inovador e criativo
participação dos profissionais de em todas as situações que se apre-
saúde e da comunidade nos processos sentam no seu dia-a-dia de trabalho e
para o aprimoramento do atendimento pessoal. Associado a esses temas, a
à saúde do próprio município; além prevenção e a promoção da saúde
de facilitar a compreensão do aluno podem ser solidificados.
quanto à atuação da saúde pública
junto às instituições de saúde e à Potencialização das possibilidades
comunidade, para que analise os – sugerimos que a escola vislumbre a
reflexos dessa atuação na realidade da possibilidade de revisão e reformula-
comunidade e nas instituições de ção do seu projeto pedagógico, tendo
saúde. Deve-se ainda, estimular os sempre em vista que a construção de
alunos a refletir e a buscar soluções um projeto pedagógico é um processo
para a resolução dos problemas coletivo e em contínua transformação.
levantados, iniciando sua inserção nas Para essa construção é importante a
políticas municipais de saúde, promo- participação dos professores convida-
vendo a sua participação no Conselho dos, dos alunos egressos, dos repre-
Municipal de Saúde e nos projetos de sentantes das demais instituições de
extensão da prefeitura. saúde, do município e das escolas
3. Quanto à seleção de conteúdos profissionalizantes de enfermagem.
Destacamos também que para a
Seleção dos conteúdos da escola elaboração do novo projeto, um dos
em estudo – cada módulo ou discipli- modelos que pode ser adotado é o
na é composto por competências, proposto por Andrade e Liboni (2000)
habilidades e bases tecnológicas. Os que preconiza:
conteúdos foram selecionados confor-
me as funções e subfunções do - fase 1 - sensibilização e pressu-
módulo. postos: a necessidade da mudança;
Potencialização – os conteúdos - fase 2 - objetivos do projeto
apresentados referem-se ao saber pedagógico;
fazer, com bastante especificidade e
- fase 3 - o resgate histórico do
possibilita ao aluno o desenvolvimen-
to de suas capacidades técnicas, o que curso e do mercado;
também é necessário no desempenho - fase 4 - a realidade atual do curso
de suas funções. Ressaltamos que o e do mercado: diagnóstico estratégico;


Formação 69

- fase 5 - a busca da identidade zado dos alunos e docentes. Deve
própria: a questão do currículo; promover também a intra-setorização
- fase 6 - checagem do currículo e intersetorização entre escola,
proposto em relação às realidades h o s p i t a l e a s Po l í t i c a s P ú b l i c a s
interna e externa; e estabelecidas nos diversos órgãos de
assistência e promoção da saúde
- fase 7 - implementação e monito- disponíveis no município, associando
ração. Esta é uma sugestão que não os princípios do SUS quanto à integra-
exclui outras possibilidades de lidade, universalidade, eqüidade,
caminhos a serem percorridos. descentralização e regionalização.
4. Quanto às práticas pedagógicas Incluir a valorização de todas as áreas
do conhecimento e relacionando-as às
Práticas pedagógicas da escola em
condições sociais em que o indivíduo
estudo – estágios intra-hospitalares,
está inserido. Também, conscientizar
visitas técnicas a asilos, creches,
os profissionais de saúde sobre os
centros de recuperação infantil,
direitos garantidos pela Constituição
Serviço Integrado de Atendimento ao
Federal, por meio da Lei nº 8.080 e
Trauma (Siat) e corpo de bombeiros,
pela complementação da mesma que
com a intenção de integração da
ocorreu em 1990, pela Lei nº 8.142,
escola com a comunidade, promove
de 28 de dezembro de 1990. Essa lei
palestras, dinâmica de grupos,
estabelece que compete ao SUS
estudos de caso, aulas expositivas,
prestar assistência às pessoas por
seminários e dramatizações.
intermédio de ações de promoção,
Potencialização – a escola preconi- proteção e recuperação da saúde, com
za as práticas pedagógicas que devem a realização integrada das ações
ser adotadas pelos professores, assistenciais e das atividades preven-
demonstrando que há uma preocu- tivas, aí incluídas as ações de vigilân-
pação em nortear os mesmos. cia sanitária e epidemiológica, saúde
Possibilidades – a escola deve do trabalhador, assistência terapêu-
promover com os professores um tica integral e farmacêutica (Maffei;
estudo sobre as práticas pedagógicas, Soares; Júnior, 2001).
possibilitando a adoção de práticas 5. Quanto à avaliação
mais eficazes para alcançar o aprendi-
Avaliação sugerida pelos órgãos
zado do aluno, as quais sejam de
oficiais – segue as modalidades
domínio do professor, bem como
diagnóstica, formativa e somática.
promover a aproximação entre teoria
São considerados em todas as formas
e prática, favorecendo a articulação
de avaliação os aspectos cognitivos,
necessária entre educação e saúde,
afetivos e psicomotores, sendo que a
vislumbrando o planejamento para a
avaliação somativa possibilitará a
criação de novas bases para a práxis.
certificação do aluno, caso desenvol-
Potencialização das possibilidades – va 70% das competências e habilida-
é fundamental promover reuniões des. São utilizados testes de aproveita-
com todos os professores para a mento oral e escrito, registros de
avaliação, com flexibilidade, da fatos, listas de observação de desem-
efetividade das práticas pedagógicas penho, tarefas específicas, trabalhos
adotadas, permitindo a expressão da de criação, observações espontâneas
criatividade, considerando sempre o ou dirigidas, relatório de cada prática
perfil dos alunos, as características do profissional e estágio, discussões e
ambiente físico da sala de aula e dos outros recomendados pela coordena-
recursos materiais disponíveis. Essas ção do curso.
reuniões devem possibilitar aos
professores, reflexão sobre os méto- Avaliação da escola em estudo – a
dos sugeridos no plano de ação, para escola adotou o sistema sugerido pelos
tomada de decisões e mudança de órgãos oficiais.
atitudes, vislumbrando sempre a Po t e n c i a l i z a ç ã o – a a v a l i a ç ã o
satisfação de professores e o aprendi- segue as modalidades diagnósticas,


70 Nº 08 MAIO DE 2003

formativas e somáticas que precisam e a maioria dos temas refere-se ao
ser aprimoradas no sentido de estabe- desenvolvimento do saber fazer.
lecer critérios para a construção da Portanto, há ainda a necessidade de
avaliação por competências. buscar uma maior coerência entre o
perfil do profissional descrito nos
Po s s i b i l i d a d e s – p r o m o v e r o
documentos dos órgãos oficiais que
aperfeiçoamento do corpo docente
apresenta uma preocupação com o
para que o processo de avaliação seja
desenvolvimento do saber ser com o
condizente com os objetivos do
perfil traçado pela escola.
projeto pedagógico, visto que as
avaliações das competências e habili- Quanto aos conteúdos apresenta-
dades envolvem a capacidade de dos, referem-se ao saber fazer, com
executar tarefas pautadas nos concei- bastante especificidade, possibilitan-
tos: sintetizar, analisar criticamente, do ao aluno o desenvolvimento de
construir, descrever, identificar e suas capacidades técnicas, o que
observar. também é necessário no desempenho
de suas funções. Salientamos que o
Potencialização das possibilidades desenvolvimento dessas habilidades
– sensibilizar o corpo docente, por não deve ser prejudicado, mas faz-se
meio de reuniões cujos objetivos necessária a inclusão de temas que
sejam de promover o aprendizado possam proporcionar ao aluno e ao
sobre avaliação. Adotar, com estraté- professor a integração das ações
gia, oficinas para a construção coletiva preventivas, curativas e de promoção
do processo de avaliação, pautada nos da saúde, sobre o cuidar em enferma-
conceitos estabelecidos. Capacitar os gem como responsabilidade social,
docentes para a aplicação da metodo- vislumbrando a reorientação da sua
logia, vislumbrando a validação do práxis, em termos pedagógicos e
método escolhido, testando-o em uma assistenciais, abordando ainda con-
turma, para posteriormente aprimorá- teúdos e outras práticas pedagógicas
lo e implantá-lo. que permitam a integração ensino-
serviço-comunidade, visando à rearti-
Conclusão culação entre teoria e prática.

Concluímos que o projeto analisa- A escola preconiza as práticas


do possui uma predominância tecni- pedagógicas que devem ser adotadas
cista e formal em sua estrutura. A pelos professores, demonstrando que
escola vivenciou uma construção há uma preocupação em norteá-los.
coletiva de seu projeto, por meio de Acreditamos ser importante a prepara-
ção dos professores para a execução
oficinas de trabalho, o que evidencia
de todas essas práticas sugeridas.
o início de uma transformação coleti-
Po r t a n t o , a e s c o l a d e v e s e m p r e
va em sua prática pedagógica, muito
promover junto com os professores,
embora não tenha alcançado a total
oficinas e espaços de estudo, possibili-
democratização, visto algumas ausên-
tando a adoção de práticas mais
cias significativas, como representan-
eficazes para alcançar o aprendizado
tes do município, de outras escolas e
do aluno.
de instituições empregadoras.
Sugerimos que a socialização do O aperfeiçoamento do corpo
docente quanto à avaliação de compe-
projeto continue sendo um compro-
tências e habilidades é indicado para
misso dessa escola e que os envolvidos
que os objetivos do projeto pedagógi-
busquem continuamente capacitar-se
co sejam alcançados, visto que os
em termos político-gerenciais e
critérios para as avaliações das
pedagógicos.
competências não estão evidenciados
Há uma integração parcial entre e não abarcam em sua totalidade os
os módulos e os conteúdos apresenta- conceitos de observação, compara-
dos, não garantindo a visão de ção, classificação, interpretação,
totalidade da área de atuação do argumentação, análise, síntese e
profissional técnico de enfermagem, crítica.


Formação 71

Pensamos que há necessidade de ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N.
existir nas escolas propostas pedagó- Projeto pedagógico para os cursos de
gicas articuladas com toda a vida graduação em administração: uma
social, política e cultural de um povo, proposta metodológica. In: ______.
sintonizadas com as mudanças globais Projeto pedagógico para cursos de
pelas quais a humanidade passa. administração. São Paulo: Makron
Somente assim, o aluno poderá Books. p. 65-70.
compreender o valor de cada con-
teúdo por meio de um processo de CONSELHO NACIONAL DE EDU-
CAÇÃO. Câmara de Educação Básica.
aprendizagem formador de persona-
Resolução CNE/CEB n. 4, de dezem-
lidades autônomas.
bro de 1999. Institui as diretrizes
A realização deste estudo possibi- curriculares nacionais para a edu-
litou perceber que o projeto pedagógi- cação profissional em nível técnico,
co da escola voltada para a saúde define por diretrizes o conjunto
deve atender às necessidades e aos articulado de princípios, critérios,
desafios para a formação dos trabalha- definição de competências, profis-
dores de nível médio, frente à constru- sionais e procediemntos a serem
ção da saúde como qualidade de vida observados pelos sistemas de ensino
e direito de todos, conforme preconi- e pelas escolas na organização e no
za o SUS. Para tal, faz-se necessária planejamento nos cursos de nível
uma seleção de conteúdos que abran- técnico. [Curitiba], [1999].
jam uma visão de totalidade, sem
MAFFEI, S. A., SOARES, D.A.;
prejudicar a especificidade.
JÚNIOR, L.C. (Org.) Bases da saúde
Esta análise proporcionou uma coletiva. Londrina: Ed. UEL, 2001.
reflexão profunda sobre a construção 268 p.
e implementação de projetos pedagó-
gicos e planos de cursos, fornecendo MORIN, E. Os sete saberes necessá-
alguns subsídios para o processo de rios à educação do futuro. São Paulo:
transformação do projeto político- Cortez; Brasília, DF: Unesco, 2001.
pedagógico da escola em estudo, bem 118 p.
como poderá subsidiar outras insti-
tuições formadoras de profissionais de
nível médio em enfermagem no País.
Temos clareza, também, de que
esta discussão faz parte de um
movimento de mudanças, tanto de
modelos de assistência à saúde quanto
de modelos educacionais e, por se
tratarem de processos muito comple-
xos e dinâmicos, representam uma
articulação para construção social,
em que cada um de nós tem responsa-
bilidades para sua concretização.

Referências bibliográficas

AGÊNCIA PARA O ENSINO TÉCNI-


CO DO PARANÁ (Paranatec). Instru-
ção Normativa 01/00. Disciplina a
implementação da educação profis-
sional no Estado do Paraná. [Curiti-
ba], [2000].


72 Nº 08 MAIO DE 2003

Análise

O perfil do aluno técnico de


enfermagem do Profae
The profile of the technical
student of nursing of Profae
Ana Aparecida Sanches Bersusa
Enfermeira, pesquisadora científica do Instituto de Saúde e Mestre de Enfermagem
Maria Mercedes L. Escuder
Enfermeira, pesquisadora científica do Instituto de Saúde e Mestre de Enfermagem
Luci Emi Guibú
Socióloga, diretora do Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos do Estado de São Paulo

Resumo: Este estudo teve como objetivo principal verificar o perfil do aluno do curso de
técnico de enfermagem Profae, vinculado aos Centros Formadores de Recursos Humanos
da Secretária de Estado da Saúde de São Paulo (Cefor). Foram aplicados dois inquéritos,
um no inicio do curso, com devolução de 708 instrumentos, e outro no final, com 655.
Além do perfil pessoal e profissional dos alunos, foram incluídas questões referentes às
expectativas de mudança profissional. Na análise, verificou-se que os alunos tinham em
média 37,1 anos e a maioria era do sexo feminino. Quanto à atuação profissional as
áreas de unidade predominantes foram as de clínica médica e pronto-socorro, onde eles
executavam, em seu cotidiano, atividades de administração de medicamentos, curativos,
verificação de sinais vitais e cuidados de higiene. Os alunos se mostraram otimistas
quanto às possibilidades de mudanças da qualidade, satisfação e conhecimento, tanto no
início como no final do curso. Houve uma queda na expectativa de mudança de salário,
do primeiro para o segundo momento. O aprimoramento do conhecimento foi apontado
como o principal diferenciador do auxiliar para o técnico de enfermagem. Quanto ao
significado do curso, os alunos consideraram que ele foi de boa qualidade, possibilitando-
lhes se atualizar profissionalmente. Este estudo pode servir de subsídio para o planejamento
de novos cursos e para reflexão sobre a absorção dessa categoria no mercado de trabalho.
Palavra-chave: Educação Técnica em Enfermagem; Educação em Enfermagem.
Abstract: The main objective of this study was to describe the profile of the students of
the technical course the Training Center of Human Resources (Cefor) of the Health
Secretariat of the State of São Paulo. Two questionnaires were applied, one at the beginning
of the course (708 responses) and the other in the end (655 responses). Besides the
personal and professional information, the subjects were asked about their expectations
of professional changes. The analysis showed that students were in average 37,1 years
old, most were married, of the feminine gender. Their professional experience was attained
clinical wards and emergency rooms, and they were currently responsible for giving
medicine, dressing wounds, verifying vital signs and hygienic. They reported positive
changes for the quality of their work, their satisfaction and knowledge, in the beginning
as well as at the end of the course; as for their wage, the initial positive expectation was
inverted by the end of the course, when the students realized how little it would change.
The improvement in knowledge was seen as the main asset for the nursing assistant to
become a nursing technician, both in the beginning and at the end of the course. In
regard to the meaning of the course for themselves, most believed they had become
professionally updated and that the course was of good quality. The results of this study
may be important to subsidize the organizers of teachers’ training, as well as course
coordinators, besides opening a discussion for managers of human resources about
integrating that technical nursing category in the work team, with a fair wage policy.
Keywords: Education, Nursing, Associate; Education, Nursing.


Formação 73

Introdução Ainda, nesse momento, procedeu-
se a avaliação da expectativa dos
O Profae foi criado pelo Minis-
alunos. As questões solicitavam que
tério da Saúde e implantado em 2000,
os pesquisados apontassem o seu grau
com o propósito de inserir novos
de expectativa de mudanças (em
conceitos de qualidade nos serviços
escalas de 1 a 10) em relação a quatro
prestados pela rede de atendimento
blocos de indicadores: qualidade da
médico-hospitalar e ambulatorial
assistência por ele prestada,
instalada em todo o País (Brasil,
conhecimento técnico, salário e
2003). A extensão de serviços que o
satisfação no seu trabalho, com
Profae alcançou foi inédita na história
escalas de respostas de 1 (pouca
da saúde pública no País, assim como
expectativa) a 10 (muita expectativa),
o número de equipes técnicas
considerando expectativa de mudança
envolvidas no processo de ensino-
um evento qualitativo a ser mensu-
aprendizagem. Essa experiência pode
rado. Segundo Pereira (1999), “o dado
servir de base para a construção de
qualitativo é a representação simbó-
diretrizes para educação profissional
lica atribuída a manifestações de um
na área da saúde.
evento qualitativo. O dado qualitativo
Em São Paulo, os Centros Forma- é uma forma de quantificação do
dores de Recursos Humanos (Cefor) evento qualitativo que normatiza e
da Secretaria de Estado da Saúde confere um caráter objetivo à sua
(SES) têm sido um parceiro do observação. Nesse sentido, constitui-
Ministério da Saúde na execução se em alternativa à chamada pesquisa
desse Projeto no estado. qualitativa, que também se ocupa da
investigação de eventos qualitativos
O presente artigo tem como obje-
mas com referenciais teóricos menos
tivos analisar o perfil dos alunos do
restritivos e com maior oportunidade
curso de técnico de enfermagem do
de manifestação para a subjetividade
Profae e avaliar a expectativa deles
do pesquisador”.
quanto a possíveis mudanças no
trabalho. O instrumento B foi semelhante ao
primeiro, com acréscimo de perguntas
Material e Método sobre avaliação de mudança profis-
sional relatada pela chefia de onde
O estudo foi realizado nos Cefor
trabalha, adequação de cargo depois
do Estado de São Paulo, junto aos
da formatura, significado do curso
alunos participantes do curso de
para o aluno e sua opinião sobre a
técnico de enfermagem do Profae.
qualidade do mesmo.
Aplicou-se um questionário em
Resultados e Discussão
dois momentos distintos. No pri-
meiro, conduzido na primeira semana O inquérito A (fase inicial do
do curso (abril de 2002), aplicou-se curso) foi respondido por 708 alunos
o instrumento A, e no segundo, e o inquérito B (fase final), por 655.
durante a última semana (fevereiro de A seguir serão apresentados os
2003), o instrumento B. resultados por temas levantados.
Com o instrumento A buscou-se o O instrumento A foi aplicado e
delineamento do perfil do aluno a devolvido por 19 turmas, com a
partir das seguintes variáveis: idade, participação percentual de cada uma
estado civil, sexo, escolaridade, apresentada no Gráfico 1.
procedência, instituição de formação, A população estudada apresentou
ano de formatura, tempo de exercício idade média de 37,1 anos, sendo que
de profissão, áreas de trabalho em que 80% possuia entre 25 e 45 anos.
já atuou e atua no momento, função Também foram encontrados alunos
que exerce, tipo de instituição em que com 20 e 63 anos de idade. Em dados
trabalha e unidade e atividades que do cadastro de inscrição no Minis-
executa em seu cotidiano. tério da Saúde, verificamos que 37%

Formação
Gráfico 1
Turmas que iniciaram o curso de técnico de enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003

dos inscritos têm idade entre 31 a 40 Segundo os dados do ministério, as


anos e 30%, entre 41 a 50 anos capitais concentram um grande
(Brasil, 2001), idades eqüivalentes às número de inscritos em todos os
encontradas neste estudo. estados. Em São Paulo, 28,4 % de
Quanto ao estado civil, os alunos inscritos são da capital e cerca de
casados predominaram (50%), segui- 60% são alunos procedentes de
dos pelos solteiros (35%). municípios de até 500 mil habitantes
(Brasil, 2001).
A presença do sexo feminino
Uma das metas do Profae é a
(90%) entre os alunos do Profae,
modernização das escolas técnicas
apenas reflete o padrão encontrado
para o SUS, a fim de promover o
nos locais de trabalho. A participação
fortalecimento institucional e a
feminina entre os trabalhadores de
capacitação técnico-científica das
enfermagem, no Brasil, alcança
Escolas Técnicas e Centros Forma-
86,6% desse mercado de trabalho
dores de Recursos Humanos do SUS,
(Brasil, 2001).
tornando-os centros de referência para
Encontramos neste estudo cerca de formação em saúde nos níveis básico,
3% de alunos com nível superior, técnico e pós-técnico da educação
sugerindo que exista uma parcela de profissional ( Brasil, 2001). Esse
profissionais buscando formas alter- resgate de investimento nos centros
nativas de melhoria profissional, não formadores pode traduzir-se em
obtida por meio da formação su- melhoria da qualidade da formação
perior. desses trabalhadores.
A maioria dos alunos é procedente Verifica-se, no Gráfico 2, que 44%
do Estado de São Paulo, poucos são dos alunos, formou-se auxiliar de
os que migraram para esta região em enfermagem em escolas privadas. No
busca de melhor aprimoramento e período inicial de estruturação do
trabalho. Como este Projeto tem uma SUS, a carência de formação de
abrangência nacional, a tendência de pessoal de nível médio foi suprida por
migração para o aprimoramento da meio de desenvolvimento de incen-
profissão tende a ser menor, pois o tivos próprios advindos tanto do setor
aluno é atendido no próprio local de privado como do público. Dentre este
origem. último, cabe ressaltar que, a partir de
O Profae alcança uma cobertura de 1981, tivemos a formação de auxi-
86% dos municípios brasileiros. liares de enfermagem utilizando a



75 Nº 08 MAIO DE 2003 75


Gráfico 2
Distribuição percentual dos alunos do curso de técnico de enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003

metodologia de educação em serviço dizagem e construção de conhe-


(Projeto Larga Escala e Projeto Classes cimentos, bem como de so-
Descentralizadas). Apesar desses cialização e emoções diversas:
esforços no passado, persistem ainda o seu próprio trabalho. Por-
deficiências no Ensino Fundamental, tanto, ao contrário de enxergar
necessário para admissão de alunos o trabalho como elemento difi-
em cursos profissionalizantes de nível cultador da atividade escolar,
médio (Brasil, 2001). procuramos criar formas e
mecanismos de fazê-lo cada vez
A maioria dos alunos formou-se mais presente no processo de
entre 1994 e 2000, coincidindo com aprendizagem e não criar ne-
o período em que se extinguiu a nhum esquema punitivo, em
atividade do atendente de enfer- virtude das dificuldades advin-
magem, cujo prazo final foi 1996 (Lei das dessa atividade. Ao contrá-
nº 7.498, de 25 de junho de 1986). rio, procuramos flexibilizar
Os cursos de auxiliar de enfermagem espaços e tempos escolares que
foram procurados pelos atendentes dessem conta dessa diversi-
para escapar da fiscalização do dade”.
conselho regional profissional que, no
Tanto quanto o tempo de formado,
uso de suas atribuições, os enqua-
as unidades em que o aluno já
draria no exercício ilegal da pro- trabalhou são importantes para a
fissão (Brasil, 2001). construção do seu saber. Ao nosso ver,
O estudo mostra que 58% dos o processo de trabalho, como eixo
alunos estavam exercendo a profissão norteador do curso, não pode ser
entre 2 e 8 anos. Essa experiência de ignorado, e acreditamos que ele faz
trabalho tem sido utilizada no proces- toda a diferença à medida em que o
so pedagógico do Profae, servindo de aluno se torna ator importante da
subsídio para discussões em aulas e construção do seu saber e não só um
construção da formação comple- mero receptor de informações e de
mentar em técnico de enfermagem. saberes.
Concorda-se com o que dizem Aranha Também concordamos com Peluso
e Frade (2001): (2001), quando diz:
“os adultos trabalhadores pos- “o aluno, quando é trabalhado
suem uma rica fonte de apren- pelo professor na direção de

Formação
uma reflexão mais profunda daí, com base nessa mesma
sobre o significado do conheci- experiência, proporcionar a
mento, torna-se integrado ao recriação do conhecimento
processo de aprendizado, ele formalmente elaborado pela
não se coloca como alguém de escola”.
fora, como se o conhecimento
se processasse independente da Como se pode observar no Gráfico 3,
ação transformadora do ser 76% dos alunos trabalham no serviço
humano. O aluno identifica a público. Segundo o Ministério da
experiência do dia-a-dia com o Saúde, dos cerca de 2 milhões de
conhecimento das aulas, am- trabalhadores em atividades de saúde,
pliando o que foi discutido a em 2001, 42,5% têm vínculos no
respeito de outras situações do setor público. Quanto ao auxiliar de
cotidiano. Cabe, portanto, à enfermagem, 39,9% pertencem ao
escola, como um espaço que setor público, nas três esferas de
tem a função educativa, criar as governo. (Brasil,2001).
condições para que o aluno O Gráfico 4 mostra que a procura
estabeleça as relações entre a de aperfeiçoamento por parte do
vida cotidiana e o conheci- profissional da área hospitalar supera
mento que vem sendo cons- a dos que atuam na atenção básica,
truído por intermédio de gera- que somam 21,5%, considerando
ções. Esta é uma forma de juntos o Programa Saúde da Família
valorizar o conhecimento do (PSF) e a Unidade Básica de Saúde
aluno, adquirido por sua expe- (UBS).
riência de vida, para a partir

Gráfico 3
Distribuição percentual dos alunos do curso de técnico de enfermagem Profae - SES, segundo setor da
instituição de trabalho. São Paulo, 2003

Quanto à função que estão exer- A Tabela 1 apresenta os locais de


cendo, a maioria (98,7%) trabalha trabalho dos entrevistados e a Tabela
como auxiliar de enfermagem. Essa 2 sintetiza as atividades desenvolvidas
significativa proporção pode estar como auxiliares de enfermagem. Uma
vinculada ao pré-requisito para das questões mais difíceis para a
inclusão desses alunos na formação de construção da grade curricular dos
técnicos de enfermagem deste Projeto. cursos do Profae/Cefor foi como



77 Nº 08 MAIO DE 2003 77


Gráfico 4
Distribuição percentual dos alunos do curso de técnico de enfermagem Profae-SES, segundo a unidade
de trabalho atual. São Paulo, 2003

incorporar a interdisciplinaridade em esse processo de construção e recons-


seu projeto pedagógico, para que o trução do conhecimento é tarefa do
aluno possa exercer um papel profis- aluno e do professor e que:
sional qualificado e não um mero “uma interpretação radical da
educação como instrumento de
cumpridor de rotinas básicas. Essa mudança da realidade está
dificuldade pode ser relacionada com fundamentada na visão pedagó-
as colocações de Peluso (2001). Essa gica que favorece a criticidade
autora, ao discutir a educação como d o a l u n o a d u l t o ” . ( Pe l u s o ,
instrumento de mudança, relata que 2001)

Tabela 1
Freqüência dos alunos do curso de técnico de enfermagem Profae-SES, segundo as áreas de trabalho
que estavam atuando no momento da pesquisa. São Paulo, 2003
Áreas que atuaram Freqüência
Clinica Médico-Cirúrgica 162
Posto de Saúde 127
Pronto Socorro 95
Unidade de Terapia Intensiva 71
Centro Cirúrgico 43
Ambulatório 40
Maternidade 38
Central de Material 28
Berçário 22
Pediatria 20
Psiquiatria 16
Obstetrícia 14
Programa de Saúde da Família 10
Banco Sangue 6
Dose Certa 3
Outras Áreas 15

Formação
Tabela 2 – Freqüência de atividades desenvolvidas no trabalho atual pelos alunos do curso de técnico
de enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003

Áreas desenvolvidas Freqüência


Medicação (preparo, distribuição e administração) 484
Curativos 326
Verificação Sinais Vitais 244
Cuidado Higiene (banho, higiene oral, intima) 242
Coleta de Exames (sangue, urina) 214
Sondagens 155
Oxigenoterapia (inalação, nebulização) 125
Vacinação 120
Exames (preparar, auxiliar paciente) 115
Pré e Pós Consulta 113
Prescrições Rotinas Hospitalares (cumprimento) 102
Esterilização de Materiais 85
Resgate/Atendimento Emergência 84
Circular sala de cirúrgica 74
Admissão/Alta do Paciente 70
Alimentação e Hidratação (atender a necessidade) 70
Limpeza de Unidade (arrumação do leito) 60
Orientações à grupo: hipertensos, gestantes, puérperas, cirúrgicos etc 58
Coleta de Papanicolau 52
Anotação 50
Mudança de Decúbito 37
Aspiração 36
Cuidados Integrais 25
Antropometria 23
Visita Domiciliar 22
Observações 21
Tricotomia 19
Retirada de Pontos 17
Apoio Psicológico 17
Organização Prontuários 16
Agendamento consultas/exames 13
Balanço Hidro-eletrolítico 11
Amamentação 11
Acolhimento 6
Enteroclisma 5
Controle Glicemia (urina e sangue) 5
Passagem de Plantão 4
Instrumentação Cirúrgica 3
Auxiliar de Laboratório 3
Tamponamento 2
Checagem Material 2
Aplicação de Hemoderivados 2
Lavagem de Roupas 2
Corte de Cabelo 1
Transcrição de dietas 1

Com base nessa idéia, solicitou-se a qual não sofreu alterações importantes
aos alunos uma avaliação de suas na avaliação final. No final do curso,
expectativas no início e no final do 81,4% dos alunos mensuraram escores
curso, considerando mudanças quanto entre 8 e 10.
à qualidade da assistência prestada,
Observa-se no Gráfico 6 que, no
ao conhecimento, à satisfação com o
início do curso, os alunos tinham uma
trabalho e ao salário.
alta expectativa de mudança de
Em relação à mudança na quali- conhecimento, pois 89,9% das ava-
dade da assistência, 87,4% assinala- liações ficaram entre os escores 8 e
ram escore 8 e 10, como se pode observar 10. Ao final do curso, 86,8% das
no Gráfico 5. Esse dado mostra alta respostas se concentraram entre os
motivação dos alunos no início do curso, valores 8 e 10.



79 Nº 08 MAIO DE 2003 79


Gráfico 5
Avaliação da mudança na qualidade da assistência no inicio e no final do curso, pelos alunos do curso
de técnico de enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003

Gráfico 6
Avaliação da mudança no conhecimento no início e no final do curso, pelos alunos do curso de técnico
de enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003

Quanto à mudança de satisfação no 75,4% dos alunos mensurando esco-


trabalho, no início do curso verifi- res entre 8 e 10. Esses dados apontam
camos que esses alunos se portaram para a necessidade de uma reflexão
como nas avaliações anteriores, com maior sobre o papel exercido por cada
registros mais expressivos, 86,9% se categoria profissional de enfermagem.
situando entre 8 e 10 (Gráfico 7). Na O fator mudança de salário foi o
avaliação final esse índice caiu, com que mais sofreu diferenças de ava-

Formação
liação do início ao final do curso. As mostra que a absorção desse profis-
expectativas iniciais apontaram sional no mercado de trabalho pode
53,8% de escores entre 8 e 10 não estar associada à melhoria
(Gráfico 8). No fim do curso houve salarial. Esta é uma questão que deve
uma inversão dos achados com ser revista pelos gestores da saúde, a
relação ao início do curso, quando inserção desse profissional deve vir
47,5% assinalaram 1. Esse dado acompanhada de uma política salarial

Gráfico 7
Avaliação da mudança na satisfação no início e no final do curso, pelos alunos do curso de técnico de
enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003

Gráfico 8
Avaliação da mudança no salário no início e no final do curso, pelos alunos do curso de técnico de
enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003



81 Nº 08 MAIO DE 2003 81


justa, compatível com seu novo cargo. local de trabalho, para que este, ou o
Observou-se que a percepção dos próprio aluno, escrevesse em poucas
auxiliares de enfermagem quanto às palavras as modificações encontradas.
diferenças entre o exercício da sua Esses dados foram categorizados e
função e a de técnico de enfermagem a p r e s e n t a d o s n a Ta b e l a 4 , o n d e
está baseada no aprimoramento de 65,3% assinalaram mudanças técnicas
seu conhecimento ou na aquisição de positivas. Aspectos negativos foram
novas habilidades, como mostra a apontados por 20,2% dos respon-
Tabela 3. Para 4,7% dos alunos, as dentes, com alguns alunos não se
diferenças dizem respeito apenas ao furtando em relatar que:
Conselho Regional de Enfermagem “não conheciam sua chefia”, “não
(Coren). eram subordinados a ninguém”,
Solicitou-se ao aluno que levasse e “o chefe nem sabia que eles
o instrumento até o enfermeiro do seu faziam curso de técnico”.

Tabela 3
Diferenças relatadas entre ser auxiliar e técnico de enfermagem dos alunos do curso de técnico de
enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003
Diferença relatada entre auxiliar e técnico de enfermagem Freqüência Porcentagem
Aprimoramento técnico; mais conhecimento 285 40,3
Maior responsabilidade 68 9,6
Prestação de cuidado com qualidade 58 8,2
Maior experiência em administração 50 7,1
Aumento de salário e conhecimento 37 5,2
Não muda nada, somente para o Coren 33 4,7
Coordenação equipe, planejamento de cuidados 31 4,4
Realização de procedimentos complexos 27 3,8
Mais experiência e segurança 23 3,2
Maior humanização da assistência 12 1,7
Aumento do trabalho burocrático 10 1,4
Poderá trabalhar no UTI 10 1,4
Maior credibilidade profissional 9 1,3
Não respondeu 8 1,1
Técnico não necessita de supervisão, independência na tomada de decisão 7 1,0
Maior satisfação profissional 7 1,0
Visão integral do paciente 6 0,8
Maior autonomia 6 0,8
Aumenta a demanda de trabalho 4 0,6
Cópia das atividades do Coren 4 0,6
Mais informação 3 0,4
Não sabe a diferença 3 0,4
Garantia certa de emprego 2 0,3
Melhor senso crítico 2 0,3
Outros 3 0,4
Total 708 100,0

Tabela 4
Mudança profissional expressa pelo enfermeiro do local de trabalho dos alunos do curso de técnico de
enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003
Referência da Mudança Freqüência Porcentagem
Conhecimento técnico melhor, tecnicamente mais seguro 196 29,9
Melhorou a qualidade do trabalho, melhora do desempenho 80 12,2
Agilidade e segurança 61 9,3
Maior envolvimento com o trabalho, mais atenção no trabalho 37 5,6
Melhorou o contato com pacientes, familiares e colegas 23 3,5
Melhorou a valorização profissional 13 2,0
Visão mais ampla da saúde 10 1,5
Melhorou o conhecimento administrativo da unidade 5 0,8
Criticismo 3 0,5
Subtotal 428 65,3
Não houve mudança e não respondeu 227 34,7
Total 655 100,0

Formação
A Tabela 5 mostra a possibilidade No que diz respeito às diferenças
de adequação do profissional após a relatadas pelos auxiliares de enfer-
formatura. Assim, 65,5% dos alunos magem quanto a ser um técnico de
relataram que não iriam sofrer enfermagem, no final do curso as
mudanças em seus cargos, conti- referências positivas sobem em
nuariam como auxiliares de enfer- relação à sua expectativa inicial, que
magem. Apenas 26,9% seriam enqua- era de 40,3 %, passando para 41,7%
drados em sua nova categoria profis- no que tange ao aprimoramento do
sional. Dos alunos que não sofreriam conhecimento (Tabela 6).
alterações em seus cargos, 22,1% Quanto à argüição do significado
procurariam outro emprego, 18,8% do curso para si, os resultados
permaneceriam no mesmo cargo que apresentados na Tabela 7 mostram
ocupavam naquele momento e 13,1% que os alunos viram como positivo
aguardariam concurso público para para sua profissão, no sentido de
mudança. atualização profissional, aumento de
Esse dado aponta para a necessi- responsabilidade e confiança ou
dade de reflexão por parte dos oportunidade gratuita de se apri-
gestores e empresários da saúde, no morar. Para 7,8% dos entrevistados,
sentido da absorção desses profis- o curso lhes proporcionaria con-
sionais com melhor qualificação quista social, profissional e econô-
profissional e uma política salarial mica, e 0,6% relataram que ocorreria
justa. Do contrário, existe a possibi- uma mudança em suas vidas a partir
lidade de que os profissionais ligados dele. Essas falas denotam um aspecto
ao SUS, uma vez qualificados, mi- mais amplo do objetivo principal
grem para o setor privado. proposto pelo projeto, revelando o seu

Tabela 5
Atitude frente adequação negativa na mudança da categoria profissional no local de trabalho, pós-
formatura, dos alunos do curso de técnico de enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003

Atitude frente adequação negativa da categoria profissional Freqüência Porcentagem


Procurará outro emprego 145 22,1
Permanecerá no cargo 123 18,8
Esperará concurso para a mudança 86 13,1
Fará movimento para mudança da categoria 16 2,4
Aguardará regulamentação do técnico nos órgãos públicos 42 6,4
Procurará outro ramo de trabalho, outros mercados 3 0,5
Trabalhará em local fechado e receberá adicional 1 0,2
Mostrará a diferença para o empregador diferenciar o salário 13 2,0
Subtotal 429 65,5
Serão adequados e não responderam 226 34,5
Total 655 100,0

Tabela 6 - Diferença percebida entre auxiliar e técnico de enfermagem, pós-formatura, dos alunos do
curso de técnico de enfermagem Profae-SES. São Paulo, 2003
Diferença entre auxiliar e técnico de enfermagem Freqüência Porcentagem
Maior conhecimento na área técnica 273 41,7
Melhor desempenho, trabalho com mais qualidade 125 19,1
Executa procedimentos mais complexos, aumenta responsabilidade 79 12,1
Melhor conhecimento da área administrativa 42 6,4
Ver o paciente de forma integral 29 4,4
Assumir com o enfermeiro ou em sua ausência a responsabilidade da unidade 27 4,1
Melhora do senso ético 18 2,7
Não respondeu 15 2,3
Desempenha o trabalho de forma mais humanizada 13 2,0
Maior autonomia, escalas, planejamento, programação de atividade 12 1,8
Melhor salário 8 1,2
Melhorou a maneira de me comportar no trabalho 6 0,9
Executa atividades que não são de sua competência 4 0,6
Ver paciente de forma integral 3 0,5
Aumentar o valor do Coren 1 0,2
Total 655 100,0



83 Nº 08 MAIO DE 2003 83


Tabela 7 – Significado do curso, pós-formatura, para os alunos do curso de técnico de enfermagem
PROFAE-SES. São Paulo, 2003
Significado do curso Freqüência Porcentagem
Atualizar-se profissional, adquirir mais conhecimento 210 32,1
Melhorar a confiança no trabalho, ter mais responsabilidade, crescimento profissional 105 16,0
Ser técnico em procedimento 79 12,1
Bom por ser gratuito 73 11,1
Conquista social, profissional e econômica 51 7,8
Ter melhor chance no mercado de trabalho, novos horizontes 31 4,7
Melhora da qualidade da assistência que presta 26 4,0
Ter mais satisfação com o trabalho 25 3,8
Conhecer melhor o sistema de saúde 20 3,1
Não respondeu 16 2,4
Melhora do currículo 7 1,1
Ver o paciente de forma integral 4 0,6
Complementar o que não viu no curso de auxiliar 4 0,6
Mudança de vida 4 0,6
Total 655 100,0

poder transformador, quando oferece algumas vezes citadas pelos alunos,


a cidadãos a oportunidade de melho- quando lhes foi inquirido sobre o
rar sua qualificação profissional. significado do curso para si. Disseram
Na avaliação final, os alunos eles: “O curso foi uma conquista
atribuíram notas de 8 a 10 ao curso social, profissional e financeira”, e
de técnico de enfermagem Profae- para outros ainda “foi uma mudança
SES, que somadas resultaram em 86% de vida”.
de aprovação. Essas falas ressaltam o compromis-
Considerações Finais so que cada profissional envolvido
Os dados apresentados nos mos- neste Projeto tem com relação à
tram que este projeto mobiliza tanto mudança proporcionada na vida
os mais jovens como auxiliares já da desses trabalhadores e da sociedade.
terceira idade, revelando que o
interesse em se qualificar depende Referências Bibliográficas
também de oportunidades oferecidas
pelas Políticas Públicas:
ARANHA, A. V. S.; FRADE, I. C. A.
“Mesmo com minha idade que-
da S. Educação profissional e básica:
ro encerrar minha carreira com
integração e omnilateralidade na
mais conhecimento. Graças à construção de uma proposta de ensino
Deus que houve um Profae em para atendentes de enfermagem.
minha vida” ou “Sou jovem e For mação: escolarização, profis-
preciso me aprimorar cada vez sionalização e saúde: faces da cidada-
mais, vou chegar na graduação nia, Brasília, DF: Ministério da
de enfermagem, vocês vão ver”. Saúde, v. 3, n. 3, p. 25-37, set./dez.
Acredita-se que reconhecer nesse 2001.
aluno suas expectativas de mudança BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto
e as diferenças que percebem em si é de Profissionalização dos Trabalhado-
um instrumento necessário para res da Área de Enfermagem. Forma-
diagnosticar e planejar adequadamen- ção, Brasília, v. 1, n. 1, 2001.
te a complementação de sua forma- PELUSO, T. C. L. A educação de
ção. Esse retrato nos tem fornecido adultos: refletindo sobre a natureza e
subsídios para o gerenciamento das sua especificidade. Formação: Escola-
turmas, nas coordenações e capacita- rização, profissionalização e saúde:
ções pedagógicas, apontando cami- faces da cidadania, Brasília, DF:
nhos que conduzem à melhoria da Ministério da Saúde, v. 3, n.3, p. 5-
qualidade dos cursos. 16 p., set./dez. 2001.
Como síntese do impacto desse PEREIRA, J. C. R. Análise de dados
projeto na vida dos alunos, pode- qualitativos. São Paulo: Edusp, p. 21-
ríamos trazer duas frases que foram 22, 1999.

Formação
Entrevista Antônio Almerico Biondi Lima

PLANO NACIONAL DE QUALIFICAÇÃO:


UNIVERSALIZAÇÃO DO DIREITO DOS
TRABALHADORES À QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

NA TIONAL QU
NATIONAL ALIFICA
QUALIFICA TION PLAN
ALIFICATION PLAN::
UNIVERSALIZA TION OF WORKERS RIGHTS T
UNIVERSALIZATION TOO
PROFESSIONAL QU ALIFICA
QUALIFICA TION
ALIFICATION
Antônio Almerico Biondi Lima
Diretor do Departamento de Qualificação – DEQ
Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego.

O entrevistado Antônio Almerico Biondi Lima é Diretor do Departamento de

Qualificação – DEQ, da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do Ministério

do Trabalho e Emprego. É pedagogo, mestre e doutorando em Educação. Atua

em Educação Popular, Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional

desde 1983. Exerceu atividades como professor em instituições de ensino superior

(Didática em Licenciaturas e Metodologia da Pesquisa) e como consultor

educacional em entidades públicas e privadas.

Antonio Almerico Biondi Lima is the Director of the Department of Qualification

(DEQ) of the Secretariat of Job Public Policies of the Ministry of Labor and Job.

He is pedagogue and has a masters and a Doctors degree in Education. He has

worked with Popular Education, Education of Young and Adults and Professional

Education since 1983. He has been a teacher in superior level teaching institutions

(Didactics and Research Methodology) and worked as an educational consultant

in private and public entities.




Formação 85

O Departamento de Qualificação – DEQ, da Secretaria de
Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego
- MTE, tem por tarefa elaborar, articular e executar políticas públicas
de qualificação que incluem, além de atividades formativas, a
certificação e a orientação profissional. Este Departamento coordena,
entre outras ações, o Programa de Qualificação Social e Profissional,
do qual o Plano Nacional de Qualificação – PNQ, faz parte.
O PNQ, como é conhecido, é uma iniciativa do MTE baseada na
premissa de que todo o trabalhador tem direito à qualificação
profissional. Esse Plano, concebido visando à articulação, à promoção
e à integração das ações de qualificação social e profissional no
Brasil, em conjunto com outras políticas e ações vinculadas ao
emprego, ao trabalho, à renda e à educação, tem como horizonte a
universalização do direito dos trabalhadores à qualificação.
Trata-se de um processo de crescente integração com outros
programas e projetos financiados pelo Fundo de Amparo ao
Tr a b a l h a d o r - FAT, p a r t i c u l a r m e n t e n o q u e d i z r e s p e i t o à
intermediação de mão-de-obra, ao microcrédito, ao seguro
desemprego, à economia solidária, entre outras políticas públicas
que envolvem a geração de trabalho, emprego e renda.

For mação - O Ministério do profissional. Mais recentemente,


Trabalho e Emprego, dentre as suas incorporaram-se outros programas
prioridades de ação, destaca a partici- como os de orientação e de certifi-
pação ativa da sociedade nas políticas cação profissional, de microcrédito,
de desenvolvimento e na construção de estímulo à organização produtiva
do Sistema Público de Emprego. etc.
Explique-nos o que é este Sistema e
como ele funciona? Em tese, os componentes do SPE
deveriam estar articulados, mas, no
Almerico Biondi - O Sistema caso brasileiro, a experiência, ainda
Público de Emprego (SPE) é uma que tardia (começou em 1975), levou
grande conquista das trabalhadoras e ao desenvolvimento desigual das
dos trabalhadores, fruto das lutas dos políticas. O SPE também deveria ser
movimentos sociais no início do gerido de forma tripartite; mas isto
século passado, ampliada no pós-II só veio a acontecer após a promul-
guerra mundial. No SPE o trabalho é gação da Constituição de 1988. Neste
concebido como direito e os recursos sentido, há muito o que mudar no
públicos devem financiar políticas e Brasil para que possamos ter um SPE
programas voltados à obtenção, à maduro e condizente com as deman-
permanência e ao desenvolvimento no das das trabalhadoras e dos trabalha-
emprego. Com o advento da Organi- dores.
zação Internacional do Trabalho
(OIT), os países que ratificam a O empenho de nosso Governo,
Convenção 88 (incluído o Brasil), de desde o primeiro momento, tem sido
1948, são instados a organizar servi- no sentido de integrar e articular as
ços articulados e integrados de políticas, tornar a gestão mais demo-
promoção do emprego, envolvendo crática e participativa, priorizar o
seguro-desemprego, intermediação de atendimento às populações mais
mão-de-obra, geração de emprego e vulneráveis, garantir mais efetividade
renda, estatísticas e indicadores do social, oferecer qualidade na presta-
mercado do trabalho e qualificação ção dos serviços com eficiência e


86 Nº 08 MAIO DE 2003

eficácia e, ainda, capilarizar as um objeto de disputa de hegemonia,
políticas de emprego, fazendo-as com a negociação coletiva da qualifi-
chegar até o município. cação e certificação profissionais deve
integrar um sistema democrático de
No momento atual, estamos rede- relações de trabalho.
senhando o SPE, com uma nova
Enfim, a qualificação é um direito
concertação e definição dos papéis
de toda trabalhadora e de todo
dentro do pacto federativo, robuste-
trabalhador, que está estreitamente
cendo o sistema com um arcabouço
vinculado ao direito ao trabalho e ao
legal compatível com a realidade
direito à educação.
atual.
F – Em um País como o Brasil, de
F - Ao se falar em qualificação grande dimensão territorial e muita
social e profissional pensa-se em diversidade social, cultural e econô-
processo educativo e de inserção no mica como é possível implementar
mundo do trabalho. Nesta configura- um Plano Nacional de Qualificação
ção, na sua opinião, como a qualifica- que se propõe a atender a “todos” os
ção deve ser vista? Em que medida trabalhadores brasileiros?
esta qualificação garante cidadania ao
trabalhador? AB - As principais diretrizes do
PNQ são: qualificação como direito;
AB - A qualificação deve ser vista compromisso e participação da
como um conjunto de políticas que sociedade; efetividade social e quali-
se situam na fronteira do trabalho e dade pedagógica. Na resposta à
da educação, intrinsecamente vincula- pergunta anterior destaquei a questão
das a um projeto de desenvolvimento da diversidade. Outra questão funda-
includente, distribuidor de renda e mental que permeia o PNQ é a
redutor das desigualdades regionais. concepção de território.
Neste sentido, a qualificação é parte
indissolúvel das políticas de trabalho, Entretanto, acredito que vou
emprego e renda, sejam elas urbanas levantar uma questão polêmica: o
ou rurais, públicas ou privadas, que problema da qualificação no Brasil
resultem em relações assalariadas, não é, na nossa opinião, falta de
empreendedoras, individuais ou soli- agentes sociais capacitados, nem falta
dárias, por sua vez. É, também, uma de metodologias adequadas, nem de
forma de educação profissional básica falta de recursos. Nestes aspectos,
e deve estar articulada com a educa- estamos muito à frente de muitos
ção de jovens e adultos, com a países do mundo, inclusive dos países
educação do campo e com a educação mais desenvolvidos. O nosso Plano
profissional de nível técnico e tecno- Nacional de Qualificação (PNQ) é
lógico. É um processo de construção apenas uma das iniciativas neste
de políticas afirmativas de gênero, campo, mas tem o objetivo de contri-
etnia e geração, ao reconhecer a buir na articulação das ações de
diversidade do trabalho e demonstrar qualificação no Brasil. No âmbito dos
as múltiplas capacidades individuais agentes sociais temos, por exemplo,
e coletivas; e mais, é uma forma de a rede pública federal (Centros
reconhecimento social do conheci- Federais de Educação Tecnológica –
mento do trabalhador, ou seja, de Cefet), estadual e municipal de
certificação profissional e ocupa- escolas técnicas e agrotécnicas, o
cional, que deve estar articulada com Programa de Expansão da Educação
as classificações de ocupações, Profissional do MEC e inúmeras
profissões, carreiras e competências. ações de ministérios, secretarias
A qualificação, também, é uma estaduais e municipais, além de
necessidade para o/a jovem e o/a diversos órgãos públicos.
adulto/a, em termos de orientação
profissional para a sua inserção no Administradas pelo empresariado
mundo do trabalho. Por se tratar de estão as milhares de unidades do


Formação 87

Sistema S (que utilizam recursos ao desenvolvimento local? Por que
públicos), além das experiências de gastar recursos com cursos com
educação corporativa, organizadas por pequena carga horária, insuficiente
grandes empresas. Temos, ainda, os para a aquisição dos conhecimentos
trabalhadores, que por meio de suas necessários à inserção no mundo do
centrais sindicais, vêm desenvolvendo trabalho?
experiências inovadoras de articula-
ção entre qualificação profissional e Articular as ações, evitar super-
elevação de escolaridade, como por posições, estimular parcerias e
exemplo o Programa Integrar, da complementaridades, criar sinergias
Confederação Nacional dos Metalúr- e concentrar esforços. Somente assim
gicos, e as iniciativas da Confederação poderemos alcançar o horizonte da
Nacional de Trabalhadores em Saúde universalização das políticas de
e Seguridade (ambas vinculadas à qualificação.
CUT), as ações no campo, com o
MST, o Movimento da Agricultura F - Como está prevista a execução
Familiar, a Confederação Nacional do PNQ e em que tipo de estrutura
dos Trabalhadores na Agricultura ela acontece? O principal financiador
(Contag) e as Escolas Família Agrícola do PNQ é o Fundo de Amparo ao
e mais um sem número de ações de Trabalhador. Quais são as estratégias
universidades, Ongs, fundações, para sustentabilidade do PNQ, para
institutos, entre outros. além de 2007?

Gostaria de destacar a ação do AB - O PNQ desenvolve-se, atual-


Ministério da Saúde em relação à mente, através de Planos Territoriais
qualificação do auxiliar de enfer- de Qualificação (PlanTeQs), apresen-
magem e do agente comunitário de tados por estados e municípios a cada
saúde, pela sua qualidade e grau de ano, devidamente aprovados pelas
integração com as políticas de preven- comissões estaduais ou municipais de
ção e atenção à saúde. emprego. Os PlanTeQs, como diz o
nome, têm sua ênfase no território,
Em relação a recurso, estima-se suas demandas e seu projeto de
que sejam gastos entre dez e 12 desenvolvimento. Podem ser esco-
bilhões de dólares/ano em quali- lhidas, por meio do diagnóstico das
ficação. Os valores se aproximam do demandas de qualificação entre 44
percentual do PIB gasto nos países públicos diferentes, agrupados em dez
desenvolvidos, mas o país continua públicos prioritários que, por sua vez,
sendo considerado como possuidor fazem parte das grandes prioridades
de uma mão-de-obra de “baixa quali- do PNQ: atender às trabalhadoras e
ficação”. aos trabalhadores do Sistema Público
de Emprego, articular-se com outras
F - E por que isso acontece? políticas de inclusão social e contri-
buir para o desenvolvimento e gera-
AB - Na nossa opinião, o problema ção de emprego e renda. Outra forma
é a dispersão de recursos, a super- é, no caso de entidades regionais ou
posição de iniciativas e uma preocu- nacionais, a apresentação de Projetos
pação ainda insuficiente com a Especiais de Qualificação (ProEsQs),
efetividade social e a qualidade voltados para o desenvolvimento de
pedagógica das ações formativas. metodologias de qualificação.
Qualificar para quê? Apenas para Atualmente, estamos desenvolven-
um mercado que não oferece empre- do mais dois mecanismos que deve-
go? Por que não formar também para rão ser apreciados pelo Conselho
a economia solidária, para o auto- Deliberativo do Fundo de Amparo ao
emprego? Por que não acrescentar Trabalhador (Codefat): os planos
conteúdos voltados para a cidadania setoriais de qualificação (para atender
e os direitos sociais e trabalhistas? Por a demandas de cadeias produtivas, que
que não vincular as ações formativas se estendem por mais de um territó-


88 Nº 08 MAIO DE 2003

rio) e os planos emergenciais de a n t e r i o r, a u n i f o r m i z a ç ã o , c o m
qualificação, que seriam acionados detalhamento e a exigência do cum-
em caso de processos de desativação primento de obrigações); o monitora-
de empresas ou de catástrofes. mento permanente, com visitas
técnicas de periodicidade regular,
Quanto aos recursos, é importante
viabilizando a tomada de decisões
esclarecer que, devido às denúncias
tempestivas e, assim, permitindo a
de malversação de verbas e também
correção dos rumos das ações; e a
pela baixa efetividade social e quali-
dade pedagógica, o plano de qualifi- adequação, às diretrizes do PNQ, do
cação anterior (Planfor) já amargava Módulo de Qualificação do Sistema
uma queda de recursos de cerca de de Gestão Integrada das Ações de
R$ 500 milhões (2001) para R$ 130 Emprego (Sigae) e integração com os
milhões (2002). Nossa dotação orça- demais módulos do SPE.
mentária atual é da ordem de R$ 81 F - Como o PNQ vem se articulan-
milhões, mas saneados os principais do com as demais políticas setoriais
problemas e redefinidos os rumos da voltadas para a qualificação profis-
política de qualificação, estamos sional do trabalhador?
solicitando, para 2005, em torno de
R$ 300 milhões. AB - Esta é uma das principais
diretrizes do PNQ: sua articulação e
Como já disse, a sustentabilidade integração com as demais políticas
deve vir da articulação das ações dos públicas, em particular as de qualifi-
diversos agentes e de suas respectivas cação. Para tanto, procuramos elabo-
fontes de financiamento. Estimamos rar, conjuntamente com os ministérios
a necessidade de utilização de 1% do afins, termos de referência sobre a
PIB/ano em qualificação, com a qualificação de trabalhadoras e
aplicação, em 10 anos, de aproxima- trabalhadores, como por exemplo,
damente US$ 200 milhões/ano no ministérios do Turismo, do Desen-
PNQ. volvimento Agrário etc.
F - Como acompanhar e avaliar Em áreas de interseção, buscamos
um plano com a envergadura do estimular a criação de grupos de
PNQ? trabalho interministerial, como o GT
AB - Para todas as políticas públi- da Qualificação e Educação Profis-
cas torna-se necessário estabelecer sional, o GT de Certificação e o GT
diretrizes, fluxos e procedimentos, de Estágio, com o MEC, e grupos de
compreendendo todo o ciclo de trabalho com os ministérios do
gestão. Neste sentido, construímos Desenvolvimento, da Indústria e do
uma versão preliminar de um Sistema Comércio Exterior, da Saúde, do
de Planejamento, Monitoramento e Turismo e também da Previdência
Avaliação (SPMA). Social. Participamos de fóruns e
outros espaços específicos, tais como:
As principais características deste fóruns da competitividade, da micro
sistema são o fortalecimento da gestão e pequena empresa do Ministério do
participativa (Comissões Estaduais e Desenvolvimento, da Indústria e do
Municipais de Emprego); uma maior Comércio Exterior; fórum da educa-
participação do MTE nos processos ção corporativa (ministérios da
de gestão (com a participação efetiva Educação e do Desenvolvimento da
das Delegacias Regionais do Traba- Indústria e Comércio Exterior); fórum
lho); autonomia da avaliação externa
da educação profissional (Ministério
(já que esta função era antes executada
da Educação).
pelos conveniados e agora é contra-
tada diretamente pelo MTE); estabe- Destaco, também, que sempre que
lecimento de convênios mais precisos convidados pelos ministérios para
e detalhados (plurianualidade sem participar de grupos de trabalho, de
reprogramação de recursos de um interesse específico, nós estamos
exercício para o outro, a liberação de presentes, como é o caso do GT sobre
recursos apenas com a aprovação da os Agentes Comunitários de Saúde
prestação de contas do exercício (ACS) do Ministério da Saúde.


Formação 89

Normas para Publicação

A revista Formação tem por finalidade - no máximo 25 (vinte e cinco) laudas,


publicar resultados de pesquisas originais, digitadas em papel tamanho A4;
revisões, ensaios, opiniões, resenhas e artigos
- páginas numeradas no ângulo inferior
extraídos de dissertações e teses, que
direito;
contribuam para o desenvolvimento do
conhecimento da área da formação em - margens laterais, superiores e inferiores
saúde e da educação em saúde. de 2 cm cada;
1. A submissão de um artigo ou um outro - digitação com fonte times new roman,
trabalho para a publicação implica que seu tamanho 12 (doze), espaço duplo;
conteúdo seja original, não publicado e não
- alinhamento justificado, sem espaço
submetido à publicação em nenhum outro
entre os parágrafos.
periódico. Trabalhos apresentados em
eventos (congressos, simpósios, seminários B) Estrutura Textual: os trabalhos
etc.) serão aceitos desde que não tenham enviados devem ser redigidos de acordo com
sido publicados integralmente em anais, a ortografia e gramática oficiais e sob a
devendo ser autorizados, por escrito, pela norma padrão de comunicação técnico-
entidade organizadora do evento, quando científica (evitar neologismos). Deverá ser
as normas do mesmo assim o exigirem. Serão obedecida a seguinte estrutura formal:
aceitos trabalhos originalmente escritos em
a) Título: acompanhado de subtítulo,
português e espanhol. quando necessário. O título deve ser
2. Os artigos ou outros trabalhos serão claro e conciso, sem abreviaturas e
sempre julgados por pareceristas, podendo com versão em inglês. Cabe salientar
ser aceitos, aceitos sob condição ou também que o título deve ser breve,
rejeitados. Os autores serão notificados da mas suficientemente específico e
aceitação ou recusa de seus trabalhos. completo contendo os termos que
Outros documentos poderão ser publicados representam o conteúdo do artigo.
tendo em vista a importância de sua b) Nome do(s) autor(es) e
divulgação, dependendo da aprovação do colaboradores por extenso:
editor. especificação do(s) nome(s)
Aceitos - quando aceitos, poderão completo(s) do(s) autor(es) e de sua
qualificação acadêmica e profissional,
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eventuais alterações relativas ao processo de
endereço para envio de
editoração e normalização, de acordo com
correspondências, os quais devem
o projeto editorial da revista. Quando
constar como notas de rodapé. A
aceitos sob condição, serão indicadas ao
indicação dos nomes dos autores
autor as reformulações necessárias, logo abaixo do título do artigo é
submetendo-se novamente aos mesmos limitada a apenas 5 (cinco). Acima
pareceristas o aceite final. deste número, os autores são listados
Recusados - quando rejeitados, mas com no rodapé da página.
a possibilidade de reformulação, poderão c) Autoria: trabalhos com mais de 1
ser reapresentados como novo trabalho, (um) autor devem ter, ao final do
iniciando outro processo de julgamento. texto, a indicação em nota de
Excepcionalmente, pela atualidade ou foco esclarecimento, sobre qual a
do artigo ou trabalho, o mesmo poderá ter contribuição de cada autor
a sua reformulação indicada pelo editor. (pesquisador de campo; responsável
3. Os artigos ou trabalhos deverão pela preparação dos originais,
redação ou revisão crítica;
obedecer ao seguinte padrão de formatação
colaborador na análise e
e estrutura textual:
interpretação dos dados etc.). Cada
A) Formatação: ser apresentado em artigo deve indicar o nome de um autor
editor de texto (word) com: responsável pela correspondência com


90 Nº 08 MAIO DE 2003

a revista e seu respectivo endereço, Resenha - crítica de livros e pesquisas
incluindo telefone, fax e e-mail (autor com publicação ou divulgação nos
correspondente). últimos dois anos, relacionados à
formação na área da saúde ou
d) Resumo: apresentação de 2 (dois) educação em saúde, ou, ainda,
resumos de, no máximo, 150 documentos disseminados em redes
palavras, sendo um em português e de comunicação on-line.
outro em inglês, os quais deverão
constar no início do documento. Divulgação e Relatos de Experiência
Quando o artigo for escrito em - informes de interesse ou de subsídio
espanhol, deve ser acrescentado ao trabalho ou produção intelectual
resumo nesse idioma. O resumo de relevância à formação na área da
deverá conter, de maneira saúde ou educação em saúde e a
condensada, informações referentes descrição de experiência individual
a objetivos, procedimentos básicos, ou coletiva de propostas de
resultados mais importantes e intervenção que façam o
principais conclusões. O resumo deve contraponto teoria/prática e
ser necessariamente escrito na indiquem, com precisão, as
terceira pessoa do singular (referir- condições de realização da
se ao artigo e não à autoria). experiência relatada e
recomendações críticas.
e) Palavras-Chave: indicação dos
termos essenciais para elaboração de Opinião - texto que expresse posição
um índice de assuntos em português e qualificada de um ou vários autores
em inglês, os quais deverão constar ou entrevistas realizadas com
abaixo dos resumos dos artigos. Poderá especialistas.
ser de até 5 (cinco) palavras-chave, g) Notas: as notas deverão ser colocadas
estando as mesmas sujeitas à alteração no rodapé de cada página.
pelo editor, de acordo com a lista de
termos indexadores utilizada pelo h) Ilustrações Complementares: as
Centro Latino-Americano e do tabelas, os gráficos e outras figuras
Caribe de Informações em Ciências deverão ser enviados em arquivos
da Saúde (Bireme), segundo os separados/específicos, confec-
Descritores em Ciências da Saúde cionados para sua reprodução direta
(DeCS). sempre que possível. Deverão estar
numerados, legendados e titulados
f) Texto: deverá conter introdução ou corretamente, com indicação das
apresentação; material e métodos ou unidades em que se expressem os
argumentação ensaística; revisão da valores usados e das fontes dos dados
literatura ou proposições ao citados. O número de tabelas e/ou
pensamento; resultados ou avaliação figuras deve limitar-se a 8 (oito),
crítico-reflexiva; conclusões e recomendando incluir apenas os
recomendações ou discussão. Serão dados imprescindíveis, evitando-se
aceitos trabalhos para as seguintes tabelas muito extensas, com dados
seções: dispersos e de valor não
representativo. Não se permite que
Artigos - divulgam ensaios ou figuras representem os mesmos
resultados de pesquisas inéditas, dados ou mesma notação da tabela.
sejam de natureza empírica, Figuras somente serão publicadas em
experimental ou conceitual. Tais preto e branco. Nas legendas das
documentos poderão ser extrações figuras, os símbolos, flechas, números,
sistematizadas de dissertações e teses letras e outros sinais devem ser
relativas à formação na área da identificados e seu significado
saúde ou educação em saúde. esclarecido. Notas explicativas nas
tabelas devem ser colocadas no
Revisões - avaliação crítica
rodapé das mesmas e não no
sistematizada da literatura sobre a
cabeçalho ou título.
formação na área da saúde ou
educação em saúde, devendo conter i) Agradecimentos: contribuições de
conclusões e recomendações ou pessoas que prestaram colaboração
discussão consistente do intelectual ao trabalhado como
contraditório. Devem ser descritas as assessoria científica, revisão crítica de
escolhas de delimitação do problema pesquisa ou coleta de dados, dentre
e da literatura relativa ao tema. outras, mas que não preencham os


Formação 91

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não for conhecido, devem ser do número da revista em que for publicado
acompanhadas de explicação. Não o seu trabalho. Acima de 2 (dois) autores,
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Todas as referências citadas no texto,
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Formação 93

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