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Metodologia de Planejamento de Redes de Acesso com Otimização de Receitas

Fernando Basseto – Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas – SP, Brasil


End.: R. Nossa Senhora da Conceição, 450, Paulínia – SP, CEP 13140-000, Brasil
F: 0 (xx) 19 874-3002, e-mail: basse@densis.fee.unicamp.br
Carlos Magnus Carlson Filho – Centro Univ. de Rio Preto – UNIRP, S. J. do Rio Preto – SP, Brasil
José Reynaldo Formigoni Filho – Universidade São Francisco, Itatiba – SP, Brasil
Marcos Antônio de Sousa – Univ. Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas – SP, Brasil
Eunice L. M. Pissolato – Fundação CPqD – Campinas – SP, Brasil

Resumo – Um dos grandes desafios das Telco’s consiste na evolução da rede de acesso. A
desregulamentação do setor aliada à demanda por novos serviços têm levado as Telco’s a encarar a
necessidade de expansão desta rede. Em virtude das várias tecnologias disponíveis, tal expansão deve ser
cuidadosamente planejada. Este artigo apresenta uma metodologia de planejamento de redes de acesso,
dividida em duas etapas: planejamento estratégico e planejamento técnico. Na primeira, o planejador,
auxiliado por ferramentas de análise financeira, define quais serão os serviços suportados pela nova rede de
acesso e as tecnologias mais interessantes, economicamente, a estudar no planejamento técnico. Na segunda
o planejador realiza, para cada tecnologia definida na etapa anterior, a alocação de equipamentos e infra-
estrutura necessária da rede. Para esta etapa da metodologia, é apresentado um modelo matemático de
alocação de equipamentos objetivando a maximização de receitas. Finalmente, é relatada a aplicação do
modelo a uma rede real.

Palavras-chave – Telecomunicações, Metodologia, Planejamento.

Abstract – One of the greatest challenges of Telco’s is the access network evolution. Sector deregulation
combined to demand of new services has been leading Telco’s to face the need of growing this part of the
network. Since there are several technological options available, such growth must be carefully planned. This
article introduces a methodology for access network planning, divided in two parts: strategic planning and
technical planning. First, the planner, aided by investment analysis tools, defines which services will be
provided by the new access network and which technologies are more interesting, economically, of being
studied in the technical planning. Then the planner evaluates, for each technology previously defined, the
equipment and infrastructures required by the network. In this part of the methodology, a mathematical
model for equipment dimensioning, which seeks revenue maximization, is shown. Finally, an application to
an actual network is reported.

Key Words – Telecommunications, Methodology, Planning.


1. Introdução

A popularização da Internet e o surgimento de novas aplicações multimídia tais como aprendizado à


distância, telemedicina, entre outras, passam a demandar maiores taxas de transmissão das empresas
operadoras de telecomunicações (Telco´s). Este processo é acompanhado pelo desenvolvimento de
novas tecnologias, capazes de transportar as quantidades cada vez maiores de informação até o
usuário. Paralelamente a isso, o processo de privatização das empresas de telecomunicações cria um
cenário caracterizado, basicamente, pela desregulamentação e conseqüente competição no setor.
Visando evitar a perda de mercado para novas empresas, as Telco´s devem levar em consideração a
necessidade de expansão de suas redes a fim de atender a demanda pelos novos serviços, bem como
a eventual demanda reprimida pelo serviço de telefonia convencional.

Tal problema é complexo, devido às muitas tecnologias disponíveis e, muitas vezes, à necessidade
de se analisar muitos cenários, além da incerteza com respeito aos níveis de penetração de um novo
serviço, preços de equipamentos, custos de OA&M (operação, administração e manutenção), entre
outros. Contudo, tal problema torna-se extremamente relevante tendo em vista a quantidade de
capital envolvida, seja considerando-se os custos de implantação da rede, seja considerando-se a
receita gerada pela mesma. Em vista disto, é não só necessário como desejável que o planejador seja
auxiliado por modelos de otimização e ferramentas de apoio à decisão.

Assumida essa conjuntura, este artigo vem propor uma metodologia de planejamento de redes de
acesso de telecomunicações visando maximização da receita gerada pela rede. Essa metodologia se
divide em duas etapas: planejamento estratégico e planejamento técnico. Na primeira, o planejador,
com o apoio de ferramentas de análise financeira, define quais serão os serviços suportados pela
nova rede de acesso e quais as tecnologias mais viáveis, em termos econômicos, que deverão ser
encaminhadas ao planejamento técnico. Na segunda etapa, o planejador, utilizando modelos
matemáticos de otimização, determina a tecnologia mais apropriada para implementação, visando
maximizar a receita gerada pelos serviços oferecidos pela rede.

O texto é organizado da seguinte maneira: na seção 2 descrevemos sucintamente o que são serviços
e quais deles foram considerados neste trabalho; a seção 3 traz uma breve apresentação do que é
rede de acesso, bem como algumas tecnologias que podem ser adotadas em sua evolução, enquanto
a seção 4 apresenta a metodologia de planejamento da rede de acesso propriamente dita; na seção 5
desenvolvemos o modelo de otimização visando maximização de receitas; na seção 6 mostramos a
aplicação da metodologia a uma rede real e na seção 7 analisamos os resultados obtidos; finalmente,
a seção 8 conclui o trabalho.

2. Considerações sobre Serviços

Um serviço de telecomunicações pode ser definido como “aquilo que é oferecido por um provedor a
seu cliente a fim de satisfazer uma necessidade específica em telecomunicações” [ITU-T]. Podemos
classificar os serviços em duas categorias: serviços faixa-estreita e serviços faixa-larga. Os serviços
faixa-estreita são, basicamente, aqueles que requerem menor taxa de transmissão, tais como POTS
(Plain Old Telephone System – voz) e ISDN (Integrated Services Digital Network). Analogamente,
os serviços faixa-larga são aqueles que necessitam de maiores taxas de transmissão, tais como Fast
Internet, interconexão de LAN’s, entre outros. As tarifas destes serviços variam de acordo com a
taxa de transmissão necessária a cada serviço. Em outras palavras, os serviços que necessitam de
taxa de transmissão pequena (e consequentemente, investimento menor) custam menos do que os
serviços que necessitam de taxas de transmissão elevadas (e maior investimento por parte da
empresa operadora).
Foram três os serviços considerados neste trabalho: POTS, ISDN e FLR (Faixa Larga Residencial),
os quais estão descritos na tabela 1, em termos da taxa requerida para transmissão ao usuário
(downstream) e deste para a rede (upstream).

Serviços Taxa de Transmissão Receita


downstream upstream Anual (US$)
POTS 64 Kbps 64 Kbps 156
ISDN 144 Kbps 144 Kbps 720
FLR 2 Mbps 64 Kbps 1920
Tabela 1: Descrição dos serviços considerados.

3. Apresentação da Rede de Acesso

Uma rede de telecomunicações pode ser dividida em duas partes: rede de transporte e rede de
acesso. A rede de transporte é responsável pela ligação entre estações telefônicas (ET ou centrais
telefônicas), carregando dessa forma maior quantidade de informação (tráfego), enquanto a rede de
acesso (figura 1) interliga as centrais aos seus respectivos assinantes (usuários).

Rede Primária Rede Secundária

Estação Armário
Telefônica de Usuário
(ET) Distribuição

Cabos metálicos ou fibras ópticas

Figura 1: Rede de acesso de telecomunicações.

Atualmente existem diversas soluções tecnológicas capazes de conectar o usuário à ET, sendo
algumas delas apresentadas a seguir.

3.1. Rede Metálica com Modems de Alta Velocidade

Esta alternativa tecnológica para evolução da rede de acesso consiste na utilização de modems de
alta velocidade (xDSL) na rede metálica para suportar os novos serviços. A grande vantagem desta
solução é estender a vida útil dos cabos metálicos disponíveis nas redes atuais, além de ser
facilmente implementável. Uma das desvantagens desta solução consiste na limitada distância
permitida entre ET e usuário, devido aos problemas inerentes à transmissão por cabos metálicos.

3.2. Rede Óptica Primária (ROP)

A solução ROP é uma solução do tipo FITL (Fiber-in-the-Loop), que pode ser considerada como o
primeiro estágio de implantação de fibra óptica na rede de acesso. Introduz a fibra no enlace
compreendido entre a ET e o armário óptico (utilizado em substituição aos antigos armários de
distribuição ou muito próximo destes). Do armário óptico até o usuário, o meio de transmissão
continua sendo metálico.

3.3. Fiber-to-the-Curb (FTTC)

Do ponto de vista topológico, esta solução pode ser considerada uma evolução da ROP, uma vez
que a fibra avança algumas centenas de metros em direção ao usuário, na maioria dos casos até a
quadra do mesmo. No caso de habitações coletivas (edifícios, por exemplo), a fibra poderá chegar
até as dependências do condomínio.

3.4. Hybrid-Fiber-Coax (HFC)

A solução HFC pode ser vista como uma evolução das redes de TV a cabo totalmente coaxiais que
inicialmente ofereciam apenas serviços não interativos (sinais de vídeo analógico em broadcasting).
A fim de suportar serviços interativos como vídeo sob demanda, acesso à Internet e telefonia, esta
alternativa prevê uma rede mista, composta por um trecho em fibra e um trecho coaxial.

4. Planejamento da Rede de Acesso

4.1. Metodologia de Planejamento: As Fases do Planejamento

O que torna o planejamento de redes de acesso uma tarefa crítica é a quantidade de capital
envolvida, da ordem de milhões de dólares para uma rede de proporções reduzidas [Eurescom].
Desta forma, quanto menor a incerteza na decisão do planejador, menor o risco sobre o capital
investido. Visto por esse prisma, a introdução de uma metodologia que auxilie o planejador na
tomada de decisão é não só desejável como necessária num ambiente de competitividade.

Esta não é uma tarefa simples. A variedade de tecnologias e serviços acarreta um elevado número
de alternativas a estudar. Por outro lado, as decisões têm caráter diverso: escolher a tecnologia a
adotar é francamente diferente de estabelecer capacidades de equipamentos, por exemplo. Para
limitar o universo de alternativas e ao mesmo tempo respeitar as características de cada tipo de
decisão, propomos aqui dividir o planejamento em duas etapas: planejamento estratégico e
planejamento técnico, as quais serão descritas nos itens seguintes.

4.2. Planejamento Estratégico

Para uma Telco, que gerencia centenas de cidades, o fator decisivo para uma tomada de decisão é o
tempo. Nesta etapa do planejamento, é extremamente recomendável a utilização de algum tipo de
ferramenta computacional que auxilie o planejador na obtenção de resultados financeiros que, de
alguma forma, levem a uma conclusão sobre quais serviços devem ser suportados pela nova rede,
em que momento tais serviços tornam-se disponíveis ao usuário e quais tecnologias adotar. O
primeiro passo nessa etapa é a escolha de um horizonte de planejamento. Em seguida, os
indicadores econômicos mais relevantes a serem obtidos são valor presente líquido, taxa interna de
retorno, retorno sobre o investimento, prazo de retorno e investimento por usuário [Hirschfeld].

Além disso, pode ser interessante, nessa etapa, levar em consideração decisões que vislumbrem o
médio prazo, como por exemplo a meta de se obter uma rede totalmente óptica em um prazo de dez
anos (objetivo tecnológico), e considerar os melhores caminhos (em termos econômicos) para tal.

Em outras palavras, uma vez que os indicadores econômicos estejam disponíveis, o planejador deve
escolher as soluções tecnológicas mais interessantes (em algum aspecto) para que sejam levadas à
próxima etapa do planejamento. Fazendo isso, racionaliza-se o planejamento, evitando-se que
tecnologias inviáveis economicamente sejam exaustivamente estudadas numa etapa posterior.

Nos estudos realizados atualmente, em colaboração com a Fundação CPqD (Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Telecomunicações), a ferramenta computacional utilizada tem sido a
ASTRA v3.1, desenvolvida pelo CSELT (Centro Studi e Laboratori Telecomunicazioni).

4.3. Planejamento Técnico

Uma vez conhecidos o horizonte de planejamento, o elenco de serviços a serem oferecidos e as


tecnologias mais adequadas para suportar tais serviços, o planejador deve elaborar um estudo de
maneira a determinar qual delas será implementada. A utilização de algoritmos de otimização nesta
etapa do planejamento é de extrema importância, seja com o objetivo de minimizar os custos
envolvidos na operação, seja para maximizar a receita gerada pela rede.

Tais algoritmos devem realizar alocação ótima de equipamentos, cabos e infra-estruturas da rede,
para as soluções tecnológicas obtidas na primeira etapa do planejamento. O modelo mostrado
adiante, além de alocação ótima, analisa, para cada nó, qual tecnologia, entre as candidatas
selecionadas no planejamento estratégico, é mais apropriada para implementação (em outras
palavras, analisa a competitividade entre duas ou mais tecnologias). Tal algoritmo deve ser aplicado
anualmente, a fim de obter-se um planejamento estagiado, otimizando dessa forma a alocação dos
recursos destinados à evolução da rede de acesso.

5. Modelo Geral de Maximização de Receitas

O modelo matemático formulado é um problema de Programação Linear Inteira Mista que utiliza a
abordagem nó - arco. As variáveis reais do modelo correspondem ao fluxo nos arcos, e as variáveis
inteiras binárias à alocação de facilidades (equipamentos de transmissão, cabos ópticos e metálicos,
infra-estrutura) instaláveis em cada arco (ou nó) para o atendimento dos serviços.

O modelo de otimização geral para o dimensionamento da rede de acesso apresenta a seguinte


formulação [deSousa]:

Maximizar Receita = receita total dos serviços oferecidos

Sujeito a:
- Restrição de limite de orçamento
- Restrições de satisfação de demanda
- Restrições técnicas de capacidade
- Restrições adicionais

As expressões matemáticas podem ser caracterizadas da seguinte forma:

Função objetivo

A função objetivo maximiza a receita total dos serviços oferecidos.

Max R(y) = ∑ rsi Ysi


(s,i)∈A E

onde :
R(y) : receita total para os serviços oferecidos;
AE : conjunto de arcos de escoamento;
Ysi : variável real associada ao fluxo de demanda escoado pelo arco (s, i) ∈ AE;
rsi : receita unitária do serviço s para o nó de acesso i.

Restrição de limite de orçamento

A restrição de orçamento (1) assegura que a alocação e dimensionamento dos equipamentos não
ultrapasse o orçamento previsto. A primeira parcela da inequação refere-se ao custo de implantação
da solução tecnológica X. A segunda parcela refere-se aos custos com expansão em rede metálica.
A última parcela refere-se ao custo da rede secundária para a disponibilização dos serviços.

∑ ∑ ϕ ij .X ijn + ∑ ∑ ϕ ij .M ijn + ∑ ϕ si .Ysi ≤ L


X, n M,n
(1)
(i, j)∈AST n∈N STij (i, j)∈A M n∈C M (s,i)∈A E

Onde:
AST : conjunto de arcos que pode receber como candidata a solução tecnológica X;
NSTij : conjunto de soluções tecnológicas candidatas no arco ij;
Xijn : variável binária associada à implantação da solução tecnológica do tipo n, no arco ij.
Dependendo da solução tecnológica considerada, pode haver a necessidade de se usar mais
de uma variável de decisão;
ϕ ijX,n : representa o custo associado à implantação da solução tecnológica X, do tipo n, no arco ij;
AM : conjunto de arcos da rede que podem receber cabos metálicos;
CM : conjunto de modularidades de cabos metálicos;
Mijn : variável binária associada à instalação do cabo metálico de modularidade n, no arco ij;
ϕ ijM,n : representa o custo associado à implantação do cabo metálico M, de modularidade n, no
arco ij;
ϕ si : representa o custo da rede secundária para a disponibilização do serviço do tipo s para o nó
de acesso i;
L : representa o limitante de orçamento.

Restrições de satisfação de demanda

As restrições de satisfação de demanda, (2) e (3), ocorrem em todos os nós da rede, exceto no nó de
estação, por representar uma equação redundante.

∑ Ysi + Yesc s = d s , ∀ s ∈ I S (2)


i∈I A

∑ Yij − ∑ Yji = 0 , ∀ i ∈ I - I S (3)


j∈J1 j∈J2

Onde:
I : conjunto de todos os nós da rede, exceto o nó de estação;
IS : conjunto de nós artificiais correspondentes ao serviços;
IA : conjunto dos nós de acesso;
J1 : conjunto de nós j diretamente conectados ao nó i por arcos emanando de i para j;
J2 : conjunto de nós j diretamente conectados ao nó i por arcos emanando de j para i;
Ysi : variável real associada ao fluxo de demanda escoado pelo arco (s, i);
Yij : variável real associada ao fluxo de demanda escoado pelo arco (i, j);
Yescs : variável real associada ao fluxo de demanda do serviço s escoado por um arco de escape;
ds : demanda oferecida ao nó s ∈ IS.
Restrições técnicas de capacidade

As restrições de capacidade ocorrem em cada arco da rede previsto pelo planejador (Nó de acesso -
ET). As inequações (4) e (5) asseguram que a soma das capacidades dos equipamentos instalados
seja superior ao fluxo escoado pelo arco.

∑ cap ij .X ijn ≥ Yij ≥ 0 , ∀ (i, j) ∈ A ST


X, n
(4)
n∈N STij

∑ cap ij .M ijn ≥ Yij ≥ 0 , ∀ (i, j) ∈ A M


M, n
(5)
n∈C M

Onde:
cap ijX,n : capacidade da solução tecnológica X do tipo n, candidata no arco ij;
cap ijM,n : capacidade dos cabos metálicos do tipo n, candidatos (ou instalados) no arco ij.

Restrições adicionais

As restrições adicionais estão associadas à modelagem de funcionalidades próprias de algumas


soluções tecnológicas, tais como topologias e aspectos de segurança na rede. São utilizadas também
no gerenciamento do atendimento dos serviços, por exemplo : restrições de atendimento mínimo e
máximo de um serviço em um determinado armário.

6. Aplicação da Metodologia a uma Rede Existente

6.1. Dados Gerais

Em primeiro lugar, foi definido um horizonte de planejamento de dois anos, iniciando em 1999,
com término no ano 2000. A rede estudada é uma área de estação de uma cidade brasileira de
aproximadamente 150.000 habitantes e abrange um bairro tipicamente residencial, possuindo porém
alguns assinantes comerciais de pequeno porte, e baixa densidade de assinantes. Descrevemos a
seguir algumas características da rede:

- Total de assinantes em 2000: 14280;


- Densidade de assinantes em 2000: 1925 assinantes/km2;
- Número de seções de serviço: 17

A figura 2 mostra a rede estudada considerando a demanda de 2000.

A demanda dos serviços ISDN e FLR é calculada a partir do número total de assinantes em cada nó
de acesso, multiplicando-se a penetração de cada serviço pelo número total de assinantes do ano
final do período de estudo (no caso, 2000). A tabela 2 mostra o número total de assinantes de cada
nó de acesso no ano 2000, enquanto que a tabela 3 mostra os valores de penetração utilizados para
1999 e 2000, bem como o número de assinantes de cada serviço para cada ano.

Nó de Acesso 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Assinantes 960 720 960 720 480 840 1.080 480 960

Nó de Acesso 10 11 12 13 14 15 16 17 Total
Assinantes 840 720 1.560 1.080 840 600 720 720 14.280
Tabela 2: Número total de assinantes em cada Nó de Acesso em 2.000.
Serviço Ano 1.999 Ano 2.000
Penetração Demanda Penetração Demanda
POTS 78,7% 11.242 91% 12.979
ISDN 2% 301 3% 436
FLR 2,5% 357 6% 865
Tabela 3: Demandas totais de cada serviço.

0 / 200 400 / 300


Demanda 480 5 4 720

1178 1080
7
0 / 400
840 6 0 / 800
8 480
1096 800 / 350

320 300 536 400 175

0 / 400 0 / 400 0 / 700 600 Comprimento


2 do arco
1 960 720 3 960
388

Comprimento Pares disponíveis


do arco
1150 / 400 820 100 270 30 130 0 / 550
14 9 960
0
840 0 / 400 0 / 400

15 600 16 720
978 ET
650
0 / 400
17 720 Legenda

0 / 400 1018 750 600 ET Estação telefônica


10
i Nó de Acesso
840 0 / 400 0 / 900 0 / 700
Nó de controle
720 11 1560 12 1080 13
Duto subterrâneo

Figura 2: Rede considerada no estudo.

Foi considerada uma queda de 10% nos custos de equipamentos de todas as tecnologias. Apenas os
custos de dutos e cabos metálicos foram considerados constantes. Para a obtenção dos indicadores
financeiros, utilizamos uma taxa de atualização de 12% ao ano, em ambas as etapas do
planejamento. Não foram considerados custos de operação, administração e manutenção, assim
como não foi considerada a incidência de impostos sobre a receita líquida.

6.2. Planejamento Estratégico

Os cenários considerados nesta aplicação foram:

- Rede metálica + modems de alta velocidade (xDSL);


- Rede Óptica Primária;
- Fiber-to-the-Curb (FTTC);
- Hybrid-Fiber-Coax (HFC).

Nesta etapa do planejamento, utilizamos o software ASTRA, que lança mão de um modelo
simplificado da rede, considerada simétrica, não sendo portanto feitas distinções entre os armários
de distribuição da rede. Além disso, os cálculos de comprimentos de dutos, subdutos e cabos são
realizados em função de um modelo geométrico [Salerno, ASTRA], baseado na densidade de
assinantes da região analisada. Ademais, a ASTRA aloca cabos, dutos e subdutos apenas uma vez,
no primeiro ano do período de estudo. Porém, a quantidade de equipamentos é alocada ano a ano,
de acordo com a variação de demanda da rede. Finalmente, cada cenário é considerado
individualmente, não havendo competição entre tecnologias.

Os resultados obtidos para os quatro cenários analisados são mostrados nas tabelas 4 e 5. Como
nesta etapa não há maximização de receitas, os estudos realizados supõem atendimento total da
demanda, o que fornece o mesmo valor de receita para todos os cenários, a saber: US$ 2.653.500
em 1999 e US$ 3.980.820 em 2000.

Investimentos (US$)
Tecnologia 1999 2000
xDSL 1.454.396 1.116.020
FTTC 1.572.656 598.866
ROP 1.687.826 1.162.392
HFC 2.527.505 574.001
Tabela 4: Investimentos anuais para os cenários considerados.

Tecnologias
Indicadores Financeiros xDSL FTTC ROP HFC
Valor Presente Líquido (US$) 3.756.962 4.100.446 3.482.128 3.167.798
Investimento por Usuário (US$) 171,63 147,57 190,87 212,89
Retorno sobre Investimento 153% 195% 128% 104%
Tabela 5: Indicadores financeiros.

Analisando os indicadores acima, podemos concluir que as tecnologias mais viáveis


economicamente são a xDSL e a FTTC. Estas serão selecionadas para a próxima etapa do
planejamento.

6.3. Planejamento Técnico

Nesta etapa, as tecnologias selecionadas anteriormente são confrontadas visando-se obter a melhor
configuração de rede. Visto que nessa etapa o objetivo é a maximização de receitas considerando
um determinado orçamento, devemos fixar demandas mínimas a serem atendidas pela rede para
cada serviço, de modo a garantir um determinado nível de atendimento. Uma possibilidade seria
fixar, por exemplo, o atendimento de telefonia visando o cumprimento de contrato de privatização.
No estudo realizado, fixamos as demandas mínimas de atendimento de cada serviço de acordo com
a tabela 6.

Serviço Porcentagem do Total Assinantes 1.999 Assinantes 2.000


POTS 95 % 10.688 12.339
ISDN 55 % 173 250
FLR 80 % 294 701
Total 11.155 13.290
Tabela 6: Atendimento mínimo de cada serviço.

O modelo de otimização adotado é capaz de tratar várias tecnologias simultaneamente, que


competem objetivando a maximização das receitas. Portanto, a rede obtida como resultado pode ser
constituída de uma combinação dessas tecnologias.

Para resolver o problema matemático foram utilizados os softwares AMPL e CPLEX, numa
plataforma Windows 4.0 NT e processador Intel Pentium 133MHz com 64Mb de memória
RAM.
Tendo em vista os valores mostrados na tabela 4, fixamos o orçamento para 1999 em US$
1.250.000. Assim, obtivemos a rede mostrada na figura 3, cuja receita resultante foi de US$
2.499.040. Devido à limitação orçamentária, todos os serviços foram penalizados, como mostra a
tabela 7.

Demanda Não Atendida


POTS 125
ISDN 128
FLR 23
Tabela 7: Demanda não atendida em 1999.

1 767 24
1 767 24 1 576 18
2 3
1 3 240 326
4
1 576 15 17
400 2 160 218
400 5
600
16 400
1 576 15
6 1 671 21
400
600
15 ET
400
1 480 12 400 1 863 27
7
600
14 600 280 98
600 8 1
1 671 17 900
1 767 23
13 9
1 863 27
Legenda
Cabo metálico
10
Fibra óptica
12 11 3 320 339
Quantidade de ONUs alocadas
1 1247 32 2 320 243 Dem. atendida por rede metálica
Dem. atendida por rede APON-FTTC

Figura 3: Expansão da rede para 1999.

Fixando para o ano 2000 um orçamento de US$ 421.500, obtivemos a rede mostrada na figura 4,
cuja receita gerada foi de US$ 3.747.550. Mais uma vez devido à limitação de orçamento, todos os
serviços foram penalizados, como mostra a tabela 8.

Demanda Não Atendida


POTS 291
ISDN 186
FLR 37
Tabela 8: Demanda não atendida em 2000.

A tabela 9 resume a participação de cada tecnologia no atendimento dos serviços em cada ano do
período de estudo.
Ano Rede Metálica + xDSL Rede APON-FTTC
POTS ISDN FLR POTS ISDN FLR
1.999 9.971 173 0 1.146 0 333
2.000 11.419 250 0 1.269 0 827
Tabela 9: Participação de cada tecnologia no atendimento dos serviços.

640 44 2 880 58
2 800 104 2
2 3
1 4 240 439
4
2 640 36 17
3 160 293
5
16
2 640 44
6 2 778 51

15 ET

1 556 29 2 960 64
7

14 1 280 173
400
8
2 778 51
2 889 49
13 9
2 1001 52
Legenda
Cabo metálico
10
Fibra óptica
12 11 4 320 471
Quantidade de ONUs alocadas
3 1440 94 2 667 44 Dem. atendida por rede metálica
Dem. atendida por rede APON-FTTC

Figura 4: Expansão da rede para 2000.

Finalmente, a tabela 10 mostra os resultados obtidos no planejamento técnico.

Solução Mista xDSL + APON 1999 2000


Receitas (US$) 2.499.040 3.747.550
Investimentos (US$) 1.250.000 421.500
Valor Presente Líquido (US$) 4.218.728
Investimento por Usuário (US$) 118,15
Retorno sobre Investimento 259%
Tabela 10: Resultados econômicos do planejamento técnico.

7. Análise dos Resultados Obtidos

A tabela 11 condensa os resultados obtidos nas duas etapas do planejamento.

xDSL FTTC Mista (otimizada)


Receitas Atualizadas (US$) 6.207.804 6.207.804 5.845.067
Investimentos Atualizados (US$) 2.450.842 2.107.358 1.626.339
Valor Presente Líquido (US$) 3.756.962 4.100.446 4.218.728
Investimento por Usuário (US$) 171,63 147,57 118,15
Retorno sobre Investimento 153% 195% 259%
Tabela 11: Sumário dos resultados econômicos.
Como pode ser observado, o resultado do planejamento técnico (solução otimizada), representa um
refinamento do que se obteve, para cada tecnologia, no planejamento estratégico. O investimento é
menor, posto que foi considerada uma limitação orçamentária. Na etapa do planejamento
estratégico, o modelo simplificado de rede conduz à superestimativa dos custos de instalação de
cabos, dutos e subdutos na rede.

A limitação orçamentária inviabiliza o atendimento de toda a demanda, o que torna menor o valor
da receita atualizada obtido no planejamento técnico. Porém, o compromisso entre investimento e
receita é mais favorável na solução otimizada, como mostra o indicador “Retorno sobre o
Investimento”.

8. Conclusão

Apresentamos neste trabalho uma metodologia de planejamento da evolução de redes de acesso.


Tal metodologia contempla a diversidade de serviços e tecnologias característica do atual momento
do setor de telecomunicações. Tendo em vista o elevado número de cenários possíveis, propomos a
divisão do planejamento em duas etapas: planejamento estratégico e planejamento técnico. A
primeira etapa trabalha com representações simplificadas da rede e aponta, através de indicadores
financeiros, quais tecnologias devem ser efetivamente analisadas em profundidade. A segunda
promove a competição entre as tecnologias selecionadas anteriormente, orientando o planejamento
da rede à maximização de receitas num período pré-determinado. Para esta etapa, utilizamos um
modelo de otimização do tipo linear inteiro misto, no qual as variáveis de decisão representam a
instalação e dimensionamento de equipamentos e infra-estrutura, bem como o nível de atendimento
de cada serviço.

Aplicamos a metodologia ao planejamento de uma área de estação que utiliza dados reais. O
planejamento estratégico indicou as tecnologias xDSL e APON-FTTC como as mais viáveis
financeiramente para utilização no atendimento dos serviços faixa-estreita e faixa-larga previstos.
No planejamento técnico houve um sensível refinamento dos indicadores financeiros obtidos
anteriormente, visto que o orçamento disponível é aproveitado de maneira otimizada em toda a
rede. Os resultados são coerentes, justificando a abordagem proposta.

As empresas operadoras experimentam a desregulamentação do mercado e a consequente


competição no setor. A metodologia aqui apresentada pode contribuir para o planejamento da
evolução da rede de modo adequado às necessidades dessas empresas, pois parte de premissas
realistas e é flexível para incorporar novos serviços e tecnologias, bem como restrições contratuais
inerentes à prestação de serviços de telecomunicações.

9. Referências

[ASTRA] “User Guide to ASTRA 3.1”, Centro Studi e Laboratori Telecomunicazioni – CSELT,
Torino, Itália.

[deSousa] de Sousa, M. A. “Planejamento de Rede de Acesso: Maximização de Receita num


Ambiente Multi-serviço”, Tese de Mestrado, FEEC – Unicamp, 1999.

[Eurescom] “Project P614 – Implementation strategies for advanced access networks”, 1998.

[Hirschfeld] Hirschfeld, H. “Engenharia Econômica e Análise de Custos”, Ed. Atlas, São Paulo,
1998.
[ITU-T] “ITU-T Rec. I.112 – Integrated Services Digital Network General Structure –
Terminology”, 1993.

[Salerno] Salerno, M. “Introduzione dei Sistemi Ottici Nella Rete di Distribuzione: Analise Tecno-
economica”, Tese de Graduação, Università di Bologna, Centro Studi e Laboratori
Telecomunicazione – CSELT, 1996.

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