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178 RevistadeInformaçãoLegislativa
colonial, faziam parte da elite. Eram, em gran- As melhores condições climáticas e ali-
de medida, os senhores feudais do Brasil. mentares permitiram essa extraordinária ex-
Além do cultivo da cana, outra ativida- pansão pecuária no Sul, cujo gado era mais
de de importância no Brasil colonial foi a robusto do que o criado no Nordeste, em que
criação de gado. Seu foco inicial de expan- o clima semi-árido e a carência de boas pas-
são foi o litoral do Nordeste. Como o litoral tagens representavam fatores que conspira-
foi sendo paulatinamente ocupado pelos vam contra a qualidade dos rebanhos. As
engenhos de açúcar, a criação de gado foi boas condições naturais logo tornaram a
sendo empurrada para o interior nordesti- região meridional a fornecedora, por exce-
no, até ganhar o sertão. Um dos maiores er- lência, de charque e tropas de mulas, extre-
ros econômicos, aliás, que a nossa história mamente importantes para o transporte de
registra foi exatamente essa separação en- cargas e dos produtos das minas, descober-
tre agricultura e pecuária, pois, se o gado tas no final do século XVII.
tivesse sido criado nos latifúndios açuca- Mais recentemente, a partir da Monar-
reiros, certamente a produtividade da lavou- quia, deve-se registrar o avanço do café. Tra-
ra teria sido maior (com o aproveitamento, zida da Guiana e implantada inicialmente
por exemplo, do esterco na adubação dos no Pará, a rubiácea foi levada ao Rio de Ja-
terrenos destinados à cana). neiro, onde se adaptou bem, por conta do
O sistema de sesmarias foi empregado, clima quente e úmido. A produção de café,
alastrando-se a criação de gado pelos ser- reduzida no início, rapidamente se alastrou,
tões. O Rio São Francisco serviu como refe- até ocupar, no primeiro surto expansionis-
rencial para a expansão pecuária, a ponto ta, toda a região do Vale do Paraíba, ainda
de ser denominado “o rio dos currais”. Uti- sustentada pelo braço escravo.
lizou-se a mão-de-obra escrava, principal- Constituiu-se uma classe de latifundiá-
mente indígena. Empregou-se, no trato com rios afidalgados. Os escravos negros – cuja
os escravos, a sistemática de parceria, por fonte de abastecimento, com a proibição do
meio da qual eles recebiam cabeças de gado tráfico internacional (Lei Eusébio de Quei-
após alguns anos de serviço. A criação, tipi- rós), passou a ser o decadente Nordeste açu-
camente extensiva, deu origem, assim, a uma careiro –, as queimadas (ou “coivaras”) e o
nova classe de proprietários: os latifundiá- clima quente e úmido sustentavam essa cas-
rios do gado. ta de proprietários. Mas, após o pico de pro-
Mas o gado não se limitou ao Nordeste dução (entre as décadas de 1850 e 1870), a
do Brasil. No Sul, após ter sido introduzido cultura cafeeira entrou rapidamente em de-
pelos europeus, o gado multiplicou-se livre- cadência, até reduzir o Vale do Paraíba a
mente, tornando-se praticamente selvagem. um fantasma do que havia sido – de que as
Com a expansão paulista para o Sul, em cidades mortas foram, indiscutivelmente, o
busca de índios para escravizar e vender, retrato. Os fatores de decadência foram, fun-
bem como em suas constantes guerras com damentalmente, a erosão e o esgotamento
os espanhóis (os “castelhanos”), esses re- dos solos, as técnicas obsoletas de plantio e
banhos selvagens foram sendo progressiva- o relevo montanhoso do Vale. Não se pode
mente apropriados, formando-se grandes deixar de mencionar, igualmente, a Aboli-
fazendas de criação, denominadas “estân- ção, efetuada por meio da Lei Áurea (13 de
cias”. Elas também se basearam na extra- maio de 1888).
ção de um produto vegetal típico da região: Após sua passagem pelo Vale do Paraí-
a erva-mate. Esses estancieiros, assim, fo- ba, o cigano café seguiu rumo ao Oeste pau-
ram os latifundiários do Sul do Brasil. Eram lista, numa expansão simplesmente avas-
traços seus marcantes a belicosidade e o saladora. A Mata Atlântica, que ocupava a
senso de independência. maior parte do atual território do Estado de
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