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ALEC MELLOR Os grandes problemas da atual ly aaNN OOS MACONARIA Os novos rumos da franco-magonaria PENSAMENTO Titulo original: LES GRANDS PROBLEMES DE LA FRANC-MACONNERIE AUJOURDHUL Allec Mellor © Belfond, 1976 A Jean-Claude Desbrosse, como carinhosa homenagem. Edigdo Ano 98765432 89 Direitos de tradugo para a lingua portuguesa no Brasil adquiridos pela EDITORA PENSAMENTO LTDA. Rua Dr. Mério Vicente, 374, 04270 Séo Paulo, SP, fone 63-3141, que se reserva a propriedade literéria desta tradugio. Impresso em nossas oficinas graficas. I. O PONTO DE PARTIDA Podemos dizer que o conflito aberto entre a Igreja catélica e a Franco-Maconaria, em 1738, devia atingir seu climax, seu ponto paroxistico com o ministério Combes (1902-1905). Daniel Ligou, com justa razio, chamou este periodo de “triunfo temporal da Maconaria”.* Em 19 de novembro de 1899, durante a inauguracéo da estdétua de Dalou O triunfo da Republica, cerca de 4000 franco- magons, paramentados com seus “adornos”, haviam sido mobili- zados pelo Grande Oriente para desfilarem diante dela, bradando: “Viva a Repiblica social! Abaixo os jesuitas!”. A Convengio de 1902 vota uma mocdo de congratulagdes ao I.°. Emile Combes, presidente do Conselho, e uma outra de 151 votos contra 141, propondo que o casamento religioso ou o batismo dos filhos fosse considerado delito magénico. Em julho de 1902, Combes manda fechar mais de 3 000 escolas crist&s, criadas antes mesmo da lei de 1.° de julho de 1901 sobre as associagGes, lei que, no entanto, nosso embaixador Th. Delcassé havia declarado na Santa Sé nao ter efeito retroativo. Em setembro, ele obtém do Conselho de Estado um parecer, declarando indtil o exame dos dossiés das congregacées, pedindo que fossem autorizadas. Em marco de 1903, a Camara rejeita 135 pedidos macicgos, e em 18 de dezembro, Combes apre- senta seu projeto, interditando pura e simplesmente o ensino con- gregado, transformando-o na lei de 7 de julho de 1904. Em 1905 seguiu-se o escdndalo do arquivo que acarretou_a demisséo do gabinete. Durante o ministério Briand, que Ihe sucedeu, a Franca vive sucessivamente a lei de Separagio, a famosa circular sobre os inventérios e os escandalos das verbas para missas. A politica procedente das Convencées do Grande Oriente havia atingido seus objetivos de guerra. * Daniel Ligou, Frédéric Desmons ¢ a Franco-Magonaria durante a Terceira Repiblica, p. 197 ¢ segs. 10 Ao mesmo tempo, em todo o pais, os agrupamentos chamados do Livre-Pensamento mantinham um clima de guerra que as lojas do Grande Oriente favoreciam, colocando seus templos 4 disposigio dos organizadores de comicios. Um desses militantes, Maurice Alleau, chegou a langar da tribuna da Camara: “E preciso dizé-lo em alto e bom som: existe incompatibilidade entre a Igreja, o Catolicismo e até o Cristianismo e todo o regime republicano. O Cristianismo é um ultraje 4 razéo, um ultraje 4 natureza. Portanto, declaro com bastante clareza que quero insistir na idéia da Convengado e ter- minar a obra de descristianizagéo da Franca.” Os papas do século XIX haviam condenado repetidas vezes uma organizacéo que se apresentava com tal caracterfstica e a ultima enciclica condenatéria foi a retumbante Humanum genus de Lefo XIII (20 de abril de 1884). Em um documento de 19 de marco de 1902, esse mesmo pontffice sublinhava novamente: “Uma seita tenebrosa que a sociedade carrega h4 muito tem- po em seu seio como um germe mortal contamina seu bem-estar, a fecundidade e a vida. E a personificagio permanente da revo- lugdo, e constitui uma espécie de sociedade em retrocesso, cuja finalidade é a de exercer uma soberania oculta, sobre a socie- dade reconhecida e cuja razio de ser consiste totalmente na guerra contra Deus e sua Igreja.” Tais eram, no inicio do século XX, as respectivas posigGes das duas forgas adversas. Trés quartos de século depois, a situagiio evidenciar-se-ia profundamente mudada. O que acontecera nesse interim? Seria um erro representar esta progressiva calmaria — uma das mais marcantes da hist6éria — por uma linha reta harmoniosa- mente descendente, partindo dos sombrios dias do Combismo para chegar até a nossa época, justificada por alguma pacificagéo gradual e regular dos espfritos e favorecida pelas substituigdes sucessivas dos homens no poder, fossem eles da Igreja, da Loja ou do Governo. A realidade foi infinitamente mais complexa e, se chegou 0 momento de relembrar suas etapas, tal tarefa nao sera facil, pois, a falsa histéria j4 esta trabalhando com os pretensos confidentes dos papas e com os falsos “graduados” macons, até mesmo com os falsifi- cadores. Tendo desempenhado uma funcdo pessoal nos acontecimentos, o que me levaré de vez em quando a dirigir-me ao leitor usando 11 a primeira pessoa, eu queria primeiramente pér em evidéncia seus tragos dominantes, a fim de clarear um caminho que foi longo e semeado de emboscadas. As mudangas politicas em profundidade, e mais particularmente, as grandes reconciliagdes da histéria, preparam-se freqiientemente para enfrentar um perigo comum, reconhecido como tal pelos dois adversaérios em plena lucidez. Naquele momento foi o Marxismo, com as evolucgdes de sua vitéria em 1917. E necessario acrescentar-lhe dois fatores positivos. O primeiro foi o retorno ao simbolismo, chamado revolugdo wirthiana. Indiretamente, ele trouxe proveito ao Catolicismo na medida em que minimizava o racionalismo materialista. Sua influén- cia, favorecida pela sua grande beleza, penetrou profundamente na Maconaria, principalmente na Maconaria escocesa. O segundo foi a ressurreigio da Franco-Maconaria regular na Franga, com a fundacio da Grande Loja Nacional Independente ¢ Regular, por Edouard de Ribaucourt e alguns pioneiros, em 1913. Em 1948, passaria a chamar-se Grande Loja Nacional Francesa (G. L. N. F.). Originariamente ela nao se havia defrontado com a tradig&o anticlerical ¢ nada Ihe devia. Ferida, como quem sofre uma injusti¢a, pela excomunhao imposta a outras, e, sofrendo por outras das quais se separara com estardalhago, oferecia ela condigGes para um futuro didlogo com a Igreja, por menos que a Igreja o desejasse. Tal era a situacHo no infcio. Ela estava destinada a uma expan- sio, e a evolugGes cuja possibilidade homem algum no mundo podia conceber. A pacificagéo nao se deu sem conflitos. Foi contrariada pelos contra-ataques dos integristas dos dois campos, e impedida pela tei- mosa inércia da burocracia e pelo gosto perverso da “intransigéncia”. Quando finalmente apareceu a solugéo, muitos j4 cerravam os punhos. E ela nao se revestiu do sensacionalismo que muitos previam e alguns esperavam. 12 II. O “CESSAR-FOGO!” Em um livro interessante, Os Franco-Magons (1972), Jean Saunier escreveu com muita propriedade: “Contrariamente a uma idéia geral j4 formada, o sonho de uma normalizacgado das relagdes entre Igreja e Maconaria nao é recente, e as iniciativas contempora- neas, longe de serem tao ousadas quanto poderiamos pensar, sio, na realidade, conseqiiéncias de uma longa série de tentativas pouco conhecidas.” (p. 220). No entanto, é dificil segui-lo quando ele remonta o didlogo a um nivel tao elevado quanto o foi no final do século XIX, onde floresce toda uma literatura ocultista. Saint- Yves d’Alveydre, tedlogo da Sinarquia, havia sustentado a vocacaio “teocratica” da Maconaria, chamada, segundo ele, a unir-se a todas as Igrejas.* Seu discipulo, o abade Roca, havia até dirigido um manifesto ao Grande Oriente (1885), nesse sentido. Contudo acha- mos que essas pecas nao pertencem ao nosso dossié. Elas nao podiam contar com simpatia nem do Grande Oriente da época, composto na grande maioria de ateus militantes, nem dos catdlicos, levados entéo a respirar através de toda produgao ocultista um odor especifico de enxofre. Sem lembrar sequer a inimagindvel cre- dulidade que acolheu as diabruras de Léo Taxil, ainda em 1910, o livro do abade Emmanuel Barbier, As Infiltragdes Mag6nicas na Igreja, mostra suficientemente com que tenacidade obsedante podia sobreviver a psicose do Diabo, do Luciferismo, do Satanismo ¢ outras variedades. O préprio Oswald Wirth nao ficou isento destas suspeitas, com as quais ele devia divertir-se em O Ideal Inicidtico. Antes da grande cisio histérica de 1914-1918, pode-se dizer que as relacgGes Igreja-Maconaria estéo em pé de guerra. A Maco- naria anglo-saxénica, entretanto, néo revida. Quando, em pleno pe- rfodo vitoriano, em assembléia de Grande Loja, eclodiu, como uma * Joseph de Maistre, em seu célebre Memorial ao Duque Ferdinand de Brunswick-Lineburg, j& havia desenvolvido um tema andlogo. Seu Memorial nao pertence mais ao nosso dossié. 13 bomba, a noticia de que o Grao-Mestre Lord Ripon, convertido ao Catolicismo, fora obrigado a demitir-se, 0 impacto foi abafado estoicamente, em siléncio, e apés um instante de emocio, “foi inserido na ordem do dia.” Quando o ateu e republicano Bradlaugh publicou seu panfleto odioso contra Ledo XIII, no dia seguinte ao da enciclica Humanum Genus, foi para ele um pretexto para in- vectivar contra a Grande Loja da Inglaterra e opor-lhe a politica anti-religiosa do Grande Oriente. O préprio titulo do panfleto, What Masonry is. What it has been, and what it ought to be, acentuava-lhe bastante o sentido. A Grande Loja nao se dignou responder ¢ per- maneceu a rocha que sempre foi. O Grande Oriente da Franca, durante os anos de p6s-Combis- mo, persistiu.em seus objetivos, que a Grande Loja da Franca aprovou sem restrigdes, principalmente diante do sectarismo do Grao-Mestre Gustavo Mesureur. Em 1911, 0 orcamento dos Cultos era suprimido por decreto. Em 1912, uma voz isolada eleva-se: a de Oswald Wirth. Seu bidgrafo, Jean Baylot, relata que, durante uma conferéncia piblica, ele denunciou como os piores magons aqueles que vém as Lojas por é6dio contra a Igreja Catdlica.* Finalmente, chegou 1913, data marcada pelo destino, que foi a do surgimento da Grande Loja Nacional Independente e Regular, futura Grande Loja Nacional Francesa. O “pequeno graéo de mos- tarda” de que fala o Evangelho, estava semeado. E continha vir- tualmente a grande Reconciliacfo. Contudo, j4 nao podia germinar, pois, a Guerra de 1914-1918, como uma tempestade, desabava sobre a Europa. Diante do inimigo, viu-se “a uni&o sagrada”. Combes, tal qual um fantasma, reapareceu, mas foi para entrar simbolicamente ao lado de Denys Cochin, na composi¢ao ministerial. A camaradagem das trincheiras exprimiu-se na divisa dos antigos combatentes apés a tormenta: Unidos como no Front. Conforme a lei da histéria j4 anotada, um inimigo comum reaproximara numerosos antagonistas da véspera. Joffre, franco-magom, apés sua retirada, iria converter-se. O inimigo comum era, entretanto, a Alemanha de Guilherme II, a qual havia declarado guerra & Bélgica, depois guerreava contra a Franca, mas nao contra a Igreja, nem contra a Franco-Magonaria. Assim, apesar de inimeras reconciliagées individuais entre catélicos, * Cf. J. Baylot, Oswald Wirth (1860-1943), renovador e mantenedor da verdadeira Franco-Maconaria, p. 88. 14 até mesmo sacerdotes, e franco-magons, a hostilidade fundamental permaneceu. O ideal comum que, um quarto de século depois, uniré todos os homens civilizados contra o Nazismo, ainda nao existia. Um dos espiritos mais notaveis do Grande Oriente, André Lebey, publicou em 1917 uma brochura. A Franco-Magonaria de Amanha, de onde o R. P. Joseph Berteloot s. J. acreditou poder extrair algumas passagens que ele exibiu em um artigo intitulado Catoli- cismo e Franco-Maconaria muitos anos depois (Revista de Paris, 15 de setembro de 1938), sem compreender — simulando nao compreender — que havia nele um tom irénico. O contexto demons- trava-o cruelmente: “Por muito tempo, muitas pessoas que jamais se haviam preocupado em estudar a fundo a Magonaria, viram nela ora um simples instrumento de luta contra a Igreja, ora um meio de ajudar este ou aquele partido politico, Duplo erro... A Igreja, nao 0 esquecamos, deseja ser atacada de uma certa forma, vio- lenta, injusta e m4, com palavras ao mesmo tempo tolas e de baixo nivel. Semelhantes exageros sao-lhe titeis. Ela necessita de um reinado de Sati e teve sempre seus homens que cu‘dou de introduzir, como ardentes demolidores, mascarados e hdbeis, em grupos contrérios ao seu dogma absoluto, e procurou sem cessar, com uma arte consumada, desprovida de todo escripulo, difamar todas as organizagdes que nfo dependiam dela, sobretudo a Fran- co-Macgonaria, fazendo-as cair pouco a pouco num emaranhado de contradigdes ¢ de excessos e ao mesmo tempo, numa vulgari- dade de m4 qualidade.” (p. 25). O que André Lebey reprovava era o anticlericalismo primario e indbil, o dos “pichadores de padres”, o qual prejudicava terrivel- mente a causa do anticlericalismo. Nas fontes magénicas, nada indica uma mudanga de atitude em relagéo a Igreja nessa época. Nada justificava, pois, uma mudanca de atitude por parte da Igreja; em 27 de maio de 1917, Bento XV promulgava através da constituigao Providentissima Mater Ecclesia 0 novo Cédigo do direi- to canénico, cujo artigo 2.335 seria, mais tarde, tantas vezes citado.* Art. 2335 — “Os que dio seu nome a uma seita magénica ou @ outras associagées do mesmo género que conspiram contra a Igreja ou contra os poderes civis legttimos incorrem, pelo pré- prio fato, em excomunhdo reservada @ Sé apostélica.” * Sobre toda a questéo do direito canénico, conforme o relatério bem completo do Rev. Pe. J. A. Ferrer Benimeli, s. J., em sua obra capital La Masoneria después del Concilio; Barcelona, Ed. A.H.R., p. 55 e seguintes. 15 A excomunhio continuava sendo a do direito candénico ante- rior, isto é, era incursa no direito pleno (latae sententiae), e 0 excomungado s6 podia obter o perdio através da Santa Sé, in articulo mortis. Logo apés a Primeira Guerra Mundial, a guerra comegou. Dos quase 25.000 sacerdotes catélicos mobilizados, 4.608 haviam tombado no campo de honra: um sacerdote sobre cinco! Ameacados novamente de expulsio da Franga, apés terem voltado a fim de cumprir seu dever militar, os congregados organizaram um desfile silencioso, com suas medalhas de guerra penduradas na batina, diante do timulo do Soldado Desconhecido, ¢ um cartaz apareceu nos muros de Paris: “Nao sairemos!” O restabelecimento das relagdes diplomaticas com o Vaticano acontecera em 1920, mas em 1915, apés a vitéria do Cartel dos Esquerdistas, sob pressao das convengGes magénicas, a Camara dos Deputados votou pela supres- sfo de nossa embaixada. Felizmente para a Franga e sua honra esta medida sectdria nfo passou no Senado. O pais ainda conhecia, na época, o beneffcio de um bicameralismo efetivo. Em Roma ja existia uma tendéncia para o que seria, mais tarde, designado pelo nome de “didlogo”. A enciclica Ecclesia Dei encoraja os catélicos separados para esses didlogos. Realizam-se en- contros com os Ortodoxos e com os Anglicanos, em 1921, depois em 1926, as famosas “conversagdes de Malines”. Infelizmente, certos tedlogos tinham pesadelos. Em 1924, foi publicado no Diciondrio de Teologia Catédlica, sob a responsabili- dade de um certo cénego B. Dolagaray, um artigo “Franco-Maco- naria” mais parecido com uma canula do que com um estudo enciclopédico. A passagem seguinte mostra suficientemente sob que Angulo ele apresentava a Franco-Maconaria: “O génio maléfico que inspira os grupos mag6nicos é, dora- vante, claramente mostrado. De inicio a seita apresentou-se ao publico sob as aparéncias de uma sociedade filantrépica ¢ filo- s6fica. Mas, na imprudéncia de um triunfo obtido com a cumpli- cidade dos poderes ptblicos, ela tirou a mdscara e vangloria-se de todas as revolugdes que provocou no mundo inteiro. Para tran- qiiilizar as opiniGes honestas, uma de suas duas principais ramifi- cagdes na Franca, o Grande Oriente, constituiu-se em sociedade declarada e legalmente reconhecida, sob os titulos seguintes: ‘3 de janeiro de 1913. Grande Oriente da Franga. que tem por objetivo a busca da verdade, o estudo da moral, a prdtica da solidariedade, que trabalha pela melhoria material e moral, pelo aperfeigoamento intelectual e social da humani- 16 dade. Sede social, rua Cadet, 16, Paris’. Em oposigio a estas declaracées hipécritas, todos os documentos que esclarecem a marcha tenebrosa das lojas, as freqiientes confissées dos ciim- plices, os atos de reprovagéo emanados da Sé apostdlica de- monstram claramente que as seitas macOnicas so os adversé- tios irredutiveis de toda autoridade divina e humana, civil ou religiosa. As sociedades secretas tém como téatica a oposigéo do ultraje e da caltinia contra as condenacdes que as atingem. A dar-lhes crédito, os que as denunciam sio inimigos do progresso da civilizagZo, instrumentos cegos da ignorancia e da tirania, que sé pensam na escravizagéio das consciéncias. Estes clamores semearam a perturbagéo no espirito dos povos. Os detentores da autoridade piblica, que deveriam ter-se precavido contra essas sociedades, apés as solenes adverténcias da autoridade eclesidstica parecem desarmados com tanta auddcia. A influéncia da Igreja foi violentamente desacreditada pelas intrigas da Maco- naria. As dinastias reinantes foram derrubadas na Franca, na Espanha, em Portugal, na Itélia. Sob a a¢io invasora das socie- dades secretas que se ramificavam em todas as diregdes, inces- santes ¢ terriveis Tevolugdes perturbaram a Europa, destruiram instituigdes “es.” Apés estas divagagdes, o autor do artigo prossegue nestes ter- mos, que poderiam ter sido proferidos por um doente mental: “Os principais projetos, discutidos em reunides secretas, sfio totalmente subtrafdos ao conhecimento dos ‘Profanos do exterior e de numerosos associados. Quanto aos iniciados, acham-se com- prometidos com o temivel juramento que s&éo obrigados a pres- tar, quando sao recebidos nos graus superiores. Sob ameaga de morte, entre espadas desembainhadas pelos assistentes, juram ja- mais revelar os segredos, os sinais, os toques, as palavras, as doutrinas ¢ as praticas da sociedade. Os franco-magons que se consideram os paladinos da liberdade de pensar e de agir, entre- gam-se, assim, com pés e mfos atados, a um poder oculto que eles nao conheciam e que provavelmente nunca conhecerio. O assassinato, o roubo, a violagio de todas as leis divinas ¢ huma- nas poderiam ser-lhes impostas; sob pena de, morte, deveriam executar essas ordens abomindveis. Este segredo esconde os mais negros designios. O bem nfo se esconde. Ele age discretamente, é verdade, mas nfo oculta a todos sua existéncia e sua agio. Somente o mal tem necessidade de esconder seus procedimentos e suas finalidades. Os caracteres da Franco-Maconaria, que ab- sorve todas as outras sociedades secretas, podem, pois, resumir-se nestes tracgos principais: — o édio a Deus, a revolta contra as autoridades divinas ¢ humanas, o segredo criminal, imposto sob as mais severas ameagas conforme a situagio, sob pena de morte a todos os seus filiados. O préprio direito natural protesta con- tra um sistema que suprime o uso da liberdade, restabelecendo a escravatura mais animalizante. 17 O édio a Jesus Cristo reina na Maconaria. A blasfémia e a imprecagfo estGio reservadas especialmente para seu santo nome. A apostasia € obrigatéria, por ocasiéo da recepgio aos graus ele- vados. Para os iniciados, 0 Juiz Jesus de Nazaré foi entregue, com razio, & autoridade judicidria. Sua condenagio é perfeita- mente justificada ¢ sua crucificagéo legitima. A Igreja catélica, que se diz encarregada de transmitir 4 humanidade o ensinamento divino, deve ser combatida como inimiga. Enfim, a representacio do préprio Deus, impessoal e problemético, tolerado provisoria- mente sob o nome de Arquiteto do Universo, esté riscado do vocabulério macénico. E uma velha palavra, dizem os magons, venerada pelos povos imaturos, mas repudiada pelas nagGes que chegaram & maturidade. Estas ultimas adotaram e promulgaram © nico evangelho que thes poderia convir, a Ciéncia!” Os habituais leitores de tais textos nfo eram pessoas comuns. O Diciondrio de Teologia Catélica era uma soma de erudicio, apresentada numa quinzena de espessos volumes, com a exclusiva colaboragfio do louco acima citado. Seus artigos de fundo eram, na maior parte, not4veis pela ciéncia e pela documentacao, enrique- cidos por citagdes judiciosas e terminados por excelentes bibliogra- fias. A obra era principalmente destinada as bibliotecas das univer- sidades e dos semindrios! O anticlericalismo do mais baixo nivel nada tinha a invejar-Ihe, considerado sob 0 Angulo desse artigo do qual citamos apenas alguns trechos. O clero ¢ os intelectuais caté- licos, desejosos de informacgGes a respeito da Franco-Magonaria ¢ referindo-se muito naturalmente a uma enciclopédia quase oficial, consideraram-na a mais “autorizada” fonte de informagdes durante decénios. Na mesma época foi publicada a obra de um neutro, o protes- tante austriaco R. Fiilop-Miller, Os Jesuitas e o Segredo de Sua Forga, cuja traducao francesa data de 1933. Ainda desta vez o R. P. Berteloot achou de seu dever exprimir seus cumprimentos. Talvez © autor os merecesse porque — fato novo — ele trazia na mao um ramo de oliveira, mas sua andlise da enciclica Humanum genus era absurda. As “duas passagens citadas” ressaltadas por Lefo XIII lembravam, conforme Fiilop-Miller, os Exercicios de Santo Inacio e seus “dois estandartes”, de onde ele deduzia uma influéncia mis- teriosa dos jesuitas. Ora, se ele se desse ao trabalho de continuar a ler mais a frente, teria identificado sem dificuldade a origem do pensamento de Lefo XIII quando se refere a “A Cidade de Deus” de Santo Agostinho. Um outro jesuita, o P. Gruber, que havia estudado a Franco- Maconaria em profundidade, aceitou, em junho de 1928, em Aix- 18 -la-Chapelle, um encontro com Ossian Lang, alto magom de Nova York, e Eugene Lennhof, historiador magom, ¢ também com uma personagem chamada Kurt Rechl, que o P. Berteloot designava como “fil6sofo vienense”. Coldquio leal, e geralmente considerado como o primeiro desta natureza. Nada de positivo adviria ainda, mas talvez fosse esse o primeiro passo, sem dtvida, para o esclarecimento. Fiilop-Miller apresenta Kurt Reichl como franco-magom, mas, em 1950, Albert Lantoine, em seu Finis Latomorum? abrandaria sua atitude sob o regime nazista onde, segundo ele, as informacdes sobre lojas suspeitas de continuarem suas reunides eram colhidas com dificuldade (p. 62-63). Em 1934, um “profano”, Jules Romain, publicava seu belo romance A procura de Uma Igreja (volume VII dos Homens de Boa Vontade). Desta vez, a possibilidade de um verdadeiro “dia- logo” confirmava-se, embora através de um romance. O personagem de Lengnau era precisamente Oswald Wirth. “Sera preciso, dizia o ~personagem, que em certo momento a questéo se regularize entre a Igreja e nés... Vejam, tenho a impresséo de que nao é mais nesse ponta que se encontra o principal inimigo.” * Instaurou-se 0 governo da Frente Popular, o mais “esquerdista” que o pafs conhecera até ent&o, cujo anticlericalismo, porém, nao era um artigo do programa. Léon Blum foi recebido pelo ntncio apostélico e concordou em dar uma entrevista ao jornal catélico Sete. Marcel Rucart fez até uma visita ao Papa. Por isso mesmo o Grande Oriente fé-lo compreender imediatamente que sua demis- sdo era oportuna. Durante este periodo que Jacques Chasteret chamou de “Decli- nio da Terceira”, a Franco-Macgonaria foi abalada por agitagdes, notadamente no dia 6 de feverciro de 1934 — episéddio da guerra civil —, mas sem implicagdes propriamente religiosas. O antigo conflito continuava, aberto e permanente, marcado pelos ultrajes habituais das Convengées ¢, também, por Pio IX que, em sua enciclica Non abbiamo bisogno (1931), refere-se a Franco-Mago- naria, o que bem mostrava como nenhuma mudanga estava ainda por acontecer. * Cf. 0 artigo de Marius LEPAGE em © Simbolismo, de janeiro de 1935, e J. BAYLOT, Oswald Wirth, p. 117, 0 qual relata que, se o préprio O. Wirth personificava um Lengnau discreto, este ultimo nao escapara critica sagaz do Tempo, André Thérive. 19 Contrastando com as posigées oficiais, algumas iniciativas pri- vadas chamam a atencfio e também sfo criticadas. O bom Dr. Legrain, alto magom da Grande Loja da Franga, espirito tolerante, coragaéo de ouro, alimenta a ilusio de fundamentar a reconciliacgfo na luta anti-alcodlica. Foi ridicularizado. O editor magom Eugéne Figuiére, em suas Conferéncias Magénicas (1933), ousa protestar contra o “anticlericalismo limitado”. Seus II.’. dio-lhe as costas. O abade Viollet e¢ Marc Sangnier, antigo lider do Sulco, recém-con- denado por Pio X, aceitam fazer conferéncias em “assembiéias brancas”. O efeito é nulo.* OR. P. Joseph Berteloot, redator de Estudos, revista da S. J., interessa-se pela Maconaria, tendo conhecido em sua juventude um antigo macom, cuja vida exemplar edificara-o profundamente. Tendo lido um artigo de Albert Lantoine, historiador de grande talento e 33.° do Rito Escocés Antigo e Aceito, em que esse homem talen- toso justificava um certo nimero de lugares-comuns referentes aos jesuitas, nado hesitou em agradecer e prestar-Ihe homenagem, expri- mindo ao mesmo tempo um desejo h4 muito tempo contido: achar, ele, sacerdote, um interlocutor franco-magom com o qual fosse pos- sivel falar de coracao aberto, discutir com as cartas na mesa, sobre © grande conflito, descobrir sua etiologia. Uma espécie de namoro intelectual comprometeu-os, acompa- nhado e enconrajado por Oswald Wirth, cujo relato nos foi deixado por Jean Baylot em paginas muito interessantes do seu livro Oswald Wirth (p. 119-121). Ora, o namoro, apesar de intelectual, ou prin- cipalmente por isso, vai mais longe, ninguém o ignora, do que os parceiros teriam imaginado no inicio. Dai o notabilissimo optsculo de Albert Lantoine Carta ao Soberano Pontifice, publicado em 1937, prefaciado por Oswald Wirth, que preconiza o “cessar-fogo”, nestes termos totalmente novos: “Igreja e Maconaria esto em guerra hé dois séculos... De am- bos os lados, os 4nimos se exaltaram, as tropas lutam ¢ nfo se dispSem a cessar as hostilidades, Os chefes, entretanto, néo es- * Qs autores que esto interessados neste perfodo, recopiando-se uns aos outros, citam como idéneo um certo artigo de Francisque Gay, o qual nfo foi por nés encontrado, como também uma declaragéo do cénego Desgranges, deputado do Morbihan, publicada em A Cruz de 11 de setembro de 1929. O leitor preocupado em recorrer as fontes, no as informagdes de segunda ou terceira mio, poder& constatar que o cénego Desgranges falou, como disseram, de um “Locarno das consciéncias”, mas nenhuma alusio 4 Franco-Maconaria transparece em seu discurso, pronunciado em Lowicz (Polénia) em 1.° de setembro de 1929, durante uma viagem de parlamentares franceses. 20 condem que a luta é absurda e que ela procede de um fatal mal- entendido. Nao se trata de ordenar uma brusca meia-volta aos exércitos enfileirados para a batalha, mas sim, de soar o alarme do ‘Cessar-fogo!’ Esta o Papa disposto a dar o sinal? Eis a questéo formulada por Albert Lantoine.” O problema estava tao malformulado quanto possfvel. Por mais inteligente que fosse, Oswald Wirth continuava bitolado pela sua visio, a de uma Maconaria desviada, nascida do Caminho substi- tuido, a qual representava apenas a si mesma, isto 6, uma fracio infima, da Franco-Maconaria universal; mas, por mais’ falsa que fosse sua inspiragao, o documento nao deixaria de se tornar histérico. O opisculo de Albert Lantoine abria-se com uma epigrafe, ver- dadeiro achado, extraido da Biblia, no Livro do profeta Joel. “Naquele dia... uma fonte jorraraé do templo do Senhor para irrigar o vale das Acacias” (IV, 18)*. O tema do Marxismo, perigo comum, era proposto como principio (p. 18) e desenvolvido com elogiiéncia. Lido hoje, quando o conflito Igreja-Magonaria esta rele- gado ao passado, o livro surpreende por sua insoléncia. O autor considera-se qualificado para convidar a Igreja a fazer seu exame de consciéncia. Mais precisamente, ele o faz por ela, num tom de promotoria publica. Paralelamente, ele diz, de passagem, certas verdades a seus Irmaos, 0 que podia ser feito sem riscos. Ele era “Yenfant terrible” 1 da Grande Loja da Franga, onde estavam habi- tuados aos seus rompantes. Publicado no titimo estégio do longo processo de reconciliacdo, este livro teria podido reacender o antigo conflito. Mas, em 1937, chocou-se contra um muro de siléncio. Roma nao respondeu. Entre os catdélicos que leram o livro, as reagdes foram diversas, umas de sarcasmo, outras de surpresa, algumas interessadas. O mesmo aconteceu entre os macons. Os do Grande Oriente nao podiam concordar com o inicio da carta de Lantoine ao papa: “Santissimo Padre’, e menos ainda com a frase seguinte: “Sou franco-magom. Do Rito Escocés. Insisto nesse detalhe importante.” Na Grande Loja da Franga criou-se uma situagéo embaracosa. Ao invés de uma resposta do papa & sua carta, o autor recebeu a do Grao-Mestre, Michel Dumesnil de Gramont, através de um pequeno * Acé&cia: esta planta faz parte do simbolismo magénico. (1) N. da T.: “L’enfant terrible”: — crianga que, por sua indiscrigfo, emba- raga os pais. A tradutora preferiu conservar a forma do original francés por entender que, na traducio para o portugués, a expressio perderia muito de sua forga. 21 livro, A Magonaria e a Igreja (1939). O Grao-Mestre, em nome do Rito Escocés, publicava uma traducfo da enciclica Humanum Genus, que ele qualificava de “terrivel”, e convidava seus irmaos a relé-la. Ao mesmo tempo, com os trunfos de que dispunha, relem- brava a Lantoine que, numa obra anterior, Hirarn Coroado de Espi- nhos (1926), este ultimo fizera, néo sé profissao de anticlericalismo como também, de anticristianismo, afirmando que “a religiio de Jesus desorganizou para sempre as engrenagens da humanidade”, principalmente inflingindo-lhe ‘esta enfermidade moral que se chama piedade... Lenine cumpria a promessa do Galileu”. O opisculo de Albert Lantoine desencadearia uma dupla série de conseqiiéncias. A primeira foi uma longa campanha de difamacao realizada por certos meios magénicos (nao todos) contra o Padre Berteloot, cuja honra pessoal atacaram, acusando-o de ser um falsi- ficador e até de haver subtraido um certo documento em condigdes inacreditaveis*. Jean Baylot ia exprimir seu “sofrimento” em virtude de tais injirias em seu Dossié Francés da Franco-Magonaria Re- gular (p. 25). Originou-se até uma lenda, segundo a qual a Igreja catélica, naéo conseguindo acabar com a Franco-Maconaria através das excomunhGes, havia tramado mind-la por dentro: a revista Pa- ris-Social (em seu namero de 15 de abril de 1937) escreveu: “Apds o Caso Dreyfus, os jesuitas decidiram boicotar a Magonaria. Para isso, trabalharam uns dez anos. Atualmente, é um fato consumado. E, se dermos crédito aos homens inteirados do assunto, os judeus, que sGo acusados de serem mestres em Maconaria, nao sitio mais que compadres inconscientes dos jesuitas**.” Alguns até consideraram Lantoine como jesuita! Apdés a morte do Padre Berteloot, foi reve- lado que “sua substituigéo” fora feita pelo Rev. Pe. Riquet e por mim mesmo. A fabula do enquistamento jesuitico da Magonaria, desenvolvida em fins do século XVIII por Nicolas de Bonneville, restabelecia assim as aparéncias. A segunda conseqiiéncia, irma gémea da primeira, seria extraida da Carta de Lantoine pelos inte- gristas catdlicos. Desde 5 de abril de 1937, O Pais Livre espumava nestes termos: “Esta Carta, apds 200 anos de luta encarni¢cada, oferece a Igreja exatamente isto: um pacto de nio-agressio... Assim, Saté, no Deserto, propunha a Cristo dividir com ele os reinos * Possuo em meus arquivos pessoais uma carta significativa a esse respeito, procedente de um eminente macom, ja falecido. N&o a publicarei, nfo pela honra do Pe. Berteloot, mas pela honra de quem a escreveu. (A.M.) ** Citado pelo Rev. Pe. BERTELOOT, Caztolicismo e Franco-Maconaria, Re- vista de Paris, 15 de setembro de 1938, p. 9. 22 deste mundo... Seria apés uma reuni@o dos Supremos Conselhos em alguma cidade da América ou em Bali ou em Praga que esta grave resolugdo teria sido tomada?” Por parandica que fosse, tam- bém essa interpretagéo devia prolongar a luta e, como veremos, © integrismo atravessar4, até o fim, a solugao do contflito. Discutida, e sob certos aspectos discutivel, tanto no conteido quanto na forma, a Carta ao Soberano Pontifice nao ressoou, con- forme o desejo de Oswald Wirth, como o clarim do Armisticio, mas, se 0 conflito continuou, pode-se dizer que ela deu origem ao que, até ent&o, era imprevisivel: a esperanga. 23 Til. OS PRIMEIROS PASSOS Se a guerra de 14-18 multiplicara as reconciliagdes patridticas, a de 1939-1945 devia penetrar mais fundo nas consciéncias, em face do nazismo. Se o Marxismo fora temido como perigo comum, pelo menos os exércitos soviéticos néo pisavam em solo nacional. Os sofrimentos compartilhados nos campos de batalha funcionaram como um cimento. A Resisténcia fincou raizes mais profundas ainda que o companheirismo das trincheiras, limitado unicamente aos com- batentes, pois, ela englobava um povo inteiro. Um sentimento de terror comecou a brotar: se o Terceiro Reich ganhasse a guerra, que ideologia iria dominar o mundo? Tal como Bento XV previra a Primeira Guerra Mundial, Pio XI percebera de longe o perigo na enciclica Mit Brennender Sorge (14 de marco de 1937): “Quem quer que se apodere da raga ou do povo ou do Es- tado ou da forma do Estado ou dos depositérios do poder ou de qualquer outro valor fundamental da comunidade humana... quem quer que se apodere dessas nogdes para retird-las dessa escala de valores, mesmo religiosos, e as divinize em culto idé6- latra, esse est4 invertendo e falseando a ordem das coisas, criada e ordenada por Deus.” Assim, 0 Papa tocara no ponto nevralgico: o racismo, e, no sentido proprio do termo, extirpara a heresia condenada: cortara-a pela raiz. Desde 1930, 0 racismo havia encontrado seu teérico em Alfred Rosenberg, autor do Mito do Século XX, o qual, em 1944, ultrapas- saria a casa de 1.100.000 exemplares*. A nog&o fundamental dessa teoria era a de religiéo de raga (Weltanschaung). Alidés, Rosenberg havia escrito a primeira parte do livro de Wilhelm Hauer intitulado * Sobre a questdo, cf. Serge LANG e Ernest von SCHENK, Testamento Nazi. Memérias de Alfred Rosenberg, Ed. Trois Collines, Genebra-Paris. 24 Deutsche Gottschau (Idéia alemé de Deus). “Deus & a Vida e, como no homem o sangue é o vefculo da Vida, o sangue é, portanto, Deus na raga.” (p. 78). Nem todos os Nazistas aderiam, pelo menos dogmaticamente, a essa doutrina, por uma tinica razio: nem todos haviam percebido as ultimas conseqiiéncias as quais 0 Nazismo lJogicamente conduzia. A despeito de uma aparente tolerancia gover- namental, Nazismo e Cristianismo eram inconcilidveis, e em seu Mito do Século XX, Alfred Rosenberg exprimia a verdadeira dou- trina do partido ao confessar-se abertamente anticristéo. O Cristia- nismo nascia de lendas judaicas “‘libricas” e do dualismo judeu da alma e do corpo, e refletia o intuito judeu de dominar o mundo. Era imoral por pregar o amor ao préximo, sem distingfo. Tais eram os temas defendidos, e Goebbels atacava violentamente o Papa no Angriff. Alfred Rosenberg devia demonstrar esse anticristianismo até em suas memérias escritas na prisdo de Nuremberg onde, 4 espera do julgamento, tentava explicar a queda do Nazismo pela infideli- dade aos seus principios. Em 1941, o embaixador da Alemanha junto 4 Santa Sé tomou providéncias a fim de obter de Pio XII, a pedido de Hitler, que abencoasse a guerra contra a U.RS.S., e que o fizesse em nome da Cruzada. O embaixador da Itélia fez 0 mesmo pedido durante uma conversa com Monsenhor Tardini. A recusa do Papa foi clara. Divulgada pela RAdio soviética, a imprensa nazista e até a imprensa fascista italiana lancaram-se contra Pio XII.* A ideologia racista da mesma forma chocava-se frontalmente contra o ideal magénico. Alguns mais originais haviam tentado con- seguir a tolerancia de uma espécie de Maconaria nacional-socialista, disfarcando-a sob a protegao dos Steinmetzen da Idade Média alema, mas, esbarrando com uma recusa carregada de ameagas, nfo haviam insistido. O préprio conceito de racismo contradizia os Landmarks mais vener4veis e, também, as Constituicdes de Anderson e todo o puro ideal de fraternidade humana sem o qual a Franco-Maconaria deixaria de ser ela mesma. A divinizacdo nietzscheana do Homem superior, passada para a doutrina de Alfred Rosenberg, era uma blasfémia contra o Grande Arquiteto do Universo e a moral magé- nica; fundamentada nas Trés Grandes Luzes, era tao incompativel com o Nazismo quanto a 4gua com o fogo. * Monsenhor ROCHE e PH. SAINT-GERMAN, Pio XII Diante da Histéria, Laffont, 1972, p. 316-320. 25 O Nazismo confessava-se, assim, o inimigo comum das duas forcgas espirituais até ent&éo em conflito, e desde entio, o “Cessar- fogo!” achava uma nova justificativa mais imperiosa do que inter- cambios filos6ficos. A Igreja, se o quisesse, teria podido, sem o menor ilogismo, condenar novamente o “Comunismo ateu” em 1941. O Papa ante- rior havia denunciado este ultimo como “‘intrinsecamente” perverso na enciclica Divini Redemptoris. Recusando-se a condené-lo, ela o fizera por razdes superiores as contingéncias temporais. Se o enfo- que da Igreja tivesse sido o de qualquer governo temporal, Pio XII também poderia ter retomado a enciclica de Ledo XIII contra a Franco-Maconaria, dando a impress&o, dentro do espirito dos caté- licos, de pretender arras4-la. Enquanto a guerra durou, ele calou-se. Basta reportar-se ao Guia de Consulta dos Discursos do Papa Pio XII publicado por G. R. Pilote nas EdigGes da Universidade de Ottawa (1963) para constatar que esse repertério nfo registra nem a palavra Franco-Maconaria. Talvez a Franco-Magonaria tivesse percebido a nova situagao, embora confusamente, mais depressa do que se pensa. Com ela, os episcopados nacionais, por maior que fosse sua coragem, nao teriam um didlogo proveitoso, mesmo em face de um perigo comum, senao apoiando-se em Roma. Desde 1939, assim o entendera a admirdvel inteligencia de Anténio Coen quando, em Pela Paz de Espirito, escrevia estas palavras que, em outra ocasio, terfamos podido qua- lificar ultramontanas: “O episcopado francés ganhou em fé, em inteligéncia, em gran- deza a partir do momento em que deliberadamente se desligou das influéncias politicas e aceitou fundamentalmente as diretrizes de Roma. O recrutamento de todo o clero transformou-se e os resultados nao se fizeram esperar; este incontestdvel reerguimento determinou um verdadeiro renascimento do Catolicismo francés que, dirigindo-se as multid6es, reencontrou-as.” E concluia: “Mas, embora nossas forgas sejam menores, nfo sio menos completamentares que as forcas catélicas, porque nés agimos onde © Catolicismo néo tem acesso.” Estaria ele exprimindo um pensamento puramente pessoal? A irradiagfo desse pensamento na Magonaria escocesa permite acre- ditar que, apesar de tudo, sua influéncia, manifestando-se com essa forca, alcancava uma grande penetracgao. 26 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Sua eclosao foi interceptivel; mas, minha prépria experiéncia per- mite-me reconstituir atualmente esse estranho fendmeno. Por mais surpreendente que possa parecer, houve essas “conversas de Férum”, to simpaticas no meio judiciério. Os bate-papos dos advogados da Galeria Marchande e da Sala dos Passos Perdidos estendem-se mui- tas vezes sobre as mais calorosas quest6ées. Quantas vezes nao me ocupei do problema Maconaria-Igreja com meus confrades, com Anténio Coen, sem divida, mas também com meu carissimo amigo Georges Hazan e varios outros? A igualdade da Toga produz resul~ tados extraordindrios e, note-se bem, naéo é raro que no Férum dois advogados se tornem amigos, tendo sido adversdrios. Por que surpreender-se? Nao é esse o meio mais seguro de julgar a lealdade de um homem? Um outro setor de aproximagées, bem diferente, foi o dos pesquisadores, principalmente os historiadores. Desde a anteguerra, o bibliotecdrio Feuillette do Grande Oriente havia dado, dizem, o exemplo de uma inesgotével hospitalidade. Na Biblioteca Nacional, evolui todo um pequeno mundo de pesquisadores “dos dois lados”, trocando referéncias, depois gentilezas bibliogrdficas, finalmente con- fidéncias. O mesmo aconteceu no Exterior, nos Paises Baixos, por exemplo, onde a biblioteca da Grande Loja foi liberalmente aberta a todos os pesquisadores, magons ou nao, e em Londres, onde a erudita loja Quatuor Coronati n.° 2.076 foi gentil em facultar-me o acesso a seus tesouros. Ao lado desses contatos que foram freqlientemente amizades de espirito, outros, verdadeiramente religiosos, seriam acrescentados. Macons do Rito Retificado Escocés, que é um Rito cristo, estabe- leceram contato com o Rev. P. Berteloot, depois com macons de outros horizontes. Falavam principalmente de histéria, mas, pouco a pouco, discutiam-se questdes de auténtica espiritualidade e, A medida que o tempo se encarregava dos acontecimentos, o velho conflito, qualquer que fosse o respeito aos principios, parecia cada vez mais dar a impressio de uma disputa ultrapassada, talvez até sem que disso tivessem consciéncia. Outro fato de fundamental gravidade: certos macons redesco- briam a fé. Canonicamente, sua reconciliagaéo com a Igreja postulava condigdes draconianas. Conviria que fossem aplicadas com todo o rigor? Um dos primeiros, o cardeal Feltin preferiu a mansuetude, tolerando que, em certas condigdes atinentes a jurisdig&o interna, sua demissao da Maconaria fosse, ao menos, adiada. Em compen- sacdo, qualquer catdlico preocupado em respeitar a lei da Igreja, 28 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Inglaterra e aceita pela Franco-Maconaria regular universal. Assim, a “compatibilidade” e a regularidade coincidiriam, encaixando-se perfeitamente. A experiéncia iria mostrar que as coisas eram menos simples. De qualquer forma, quando os elementos de solug&o assim destacados apareceram, esse periodo inicial seria substituido pelo das realizagées *. * O periodo inicial foi também, as vezes, o dos mais estranhos erros de julgamento. J. Corneloup revelou na Histéria e Causas de Um Fracasso (1976), uma tentativa natimorta de Franco-Maconaria “leal” 20 governo de Vichy, elaborada pelo Pe. Berteloot e o Pe. Provincial dos Jesuitas de Lyon de um lado, e de varios magons escoceses categorizados agrupados ao redor de Ch. Riandey, do outro lado, Essa extravagancia, a despeito da benevoléncia de Pierre Laval, nfo teve conseqgiiéncias. 32 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Foi no inicio de 1959 que Joo XXIII deu a conhecer pela primeira vez sua intengfo de reunir o Concflio que se abriu sole- nemente em 11 de outubro de 1962. A enciclica pastoral Gaudium et spes, ia definir seu sentido teolégico e histérico nestes termos: “Apés esforgar-se por evoluir na penetragio do mistério da Igre- ja, o II Concilio do Vaticano nfo hesita em dirigir-se neste mo- mento, néo mais aos filhos da Igreja catélica exclusivamente, nem apenas a todos aqueles que dizem apoiar-se em Cristo, mas a todos os homens. Ele deseja manifestar a todos sua interpreta- G&o da presenga e da acio da Igreja novmundo atual.” (II, $ 1.). Nao sendo uma religiao, era estranho que a Franco-Maconaria fosse instada a enviar observadores para o Concflio, como as seitas nao-cat6licas; nfo obstante, ela fazia parte da familia humana e, sob esse aspecto, a Igreja, estabelecendo o didlogo, atingia plena- mente as finalidades a que se propunha. Foi o que compreenderam imediatamente os adversdrios do didlogo, tanto de um lado como de outro. J. Comeloup, representante autorizado do Grande Oriente, Grande Comendador do Grande Colégio dos Ritos, interveio para proteger a Franco-Magonaria contra as “Sereias do Ecumenismo”. O cénego Georges Panneton, representante nfo menos autori- zado do integrismo catélico, apés ter citado em A Semana Religiosa de Québec (30 de maio de 1962, n.° 39) 0 artigo do P. Cordo- vani, definia essas Sereias conforme o que segue: “... por ocasiao do Concilio Vaticano II é possivel e até provdvel que a Sinagoga de Sata tenha alguma reacao. Assistire- mos, talvez, a um sobressalto da Besta do Apocalipse.” Foram distribuidos em profuséo opisculos antimagénicos aos Padres do Concilio, e também, um documento sob a forma de uma simples nota datilografada, sem titulo e sem o nome do autor, tratando a questéo da forma mais justa*. Um padre mexicano, Monsenhor Sérgio Mendez Arceo, bispo de Cuernavaca, teve a coragem de apresentar abertamente a questéo Estado, em nome de Pio XII. Nele se fala do ateismo cientifico, do racio- nalismo, do iluminismo, do laicismo, do materialismo histérico, por fim, da Franco-Magonaria, mas, contrariamente & leitura errénea de certos autores, 0 texto do documento nfo qualifica esta tiltima como “a mae comum a todos”. * Jean SAUNIER, Os Franco-Macons, p. 271-275. 40 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. - Comecei a trabalhar. Fugindo a discussdes pseudofiloséficas, perfeitamente indteis, a primeira questéo a ser esclarecida pareceu- me ser a das causas histéricas. Qual havia sido, cronologicamente, a primeira das condenagdes pontificias? Quais os motivos? Né&o estaria ai a origem de tudo? Esse documento inicial que eu supunha ter sido o solavanco da partida era a bula In eminenti Apostolatus specula de Clemente XII (1738). Encontrei-a sem dificuldade no \ Bullarium romanum, na Biblioteca Nacional. Uma leitura atenta revelou-me que a Franco-Maconaria da época havida sido conde- nada por dois motivos. O primeiro era seu famoso segredo, nogio, de contetido varidvel conforme as épocas, mas que, em qualquer hipétese, nao correspondia as delirantes suposigées da antimacona- tia de épocas posteriores. O segundo era expresso na bula por uma frasezinha enigmatica: “e por outros motivos justos e razodveis por Nés conhecidos” (aliisque de justis ac rationabilibus causis Nobis notis). Ao condenar uma heresia, a Igreja define-a. Ora, nenhuma heresia, nem mesmo uma tendéncia propriamente doutrindria, era imputada pela bula 4 Franco-Magonaria, e as Constituigdes de An- derson de 1723 nem estavam no [ndex! Portanto, o motivo da condenagao nao era religioso. Minhas pesquisas na Biblioteca Na- cional e depois nos arquivos histéricos do Ministério do Exterior procuraram reconstituir tudo o que era possivel do “contexto histé- rico” da bula, isto é, das circunstancias que a haviam precedido e acompanhado. Primeiro por exclusdo, depois por selegao racional, fui levado a uma hipétese: os motivos do Papa eram de ordem politica, e ligados ao destino da infeliz familia real dos Stuart, destronada e refugiada em Roma, sob a protegfo da Igreja. Sua restauracdéo nao representaria a ultima possibilidade de uma restau- ragéo do catolicismo na Inglaterra? Todavia, isso nfo podia ser dito explicitamente em uma bula, de onde, a forma velada do documento. A objetividade permitia-me apenas a formulacio de uma hip6tese enquanto hipétese, mas minhas pesquisas ulteriores deveriam robustecé-la. Martirizado por essas suposicées, abri-me com Georges Hazan e¢ com Marius Lepage, com o qual iniciei uma longa e fecunda cor- respondéncia até a sua morte. Seguiu-se depois uma série de convites para desenvolvé-las em Assembléias brancas, em Paris, no interior e até na Bélgica. Ao mesmo tempo, uma amizade epistolar estabe- lecer-se-ia entre mim e o secretario da ilustre loja londrina de pes- quisas, Quatur Coronati n.° 2.076, Harry Carr. Gracas a esses esti- mulos, decidi-me a enfeixar minhas conclusGes num livro, Nossos 44 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Em 1961, ano de magnificéncia, terminou com dois outros acontecimentos estimulantes. O primeiro foi uma noticia distribuida 4 imprensa francesa pela G.L.N.F., comentada pelo Pe. Riquet em Le Figaro de 17 de outubro. Essa noticia dizia o seguinte: Para evitar qualquer equivoco, a Grande Loja Nacional Francesa em Neuilly, a Gnica Maconaria na Franga reconhecida por toda a Magonaria universal regular, especifica que nao pode existir Magonaria “Regular” A margem dos principios “ne varietur” seguinte: “Crenga em Deus, Pessoa Divina, Grande Arquiteto do Uni- verso.” “Crenga em sua vontade revelada e expressa no Volume da Santa Lei.” “Crenga na imortalidade da alma.” Em contrapartida, ela proibiu em suas lojas qualquer dis- cussio ou polémica de ordem social, politica ou religiosa. Os ritos que ela dirige referem-se, como os dos Macons ope- rativos, ao simbolismo tradicional do oficio e da arte real. Unindo no tempo e no espago o Oriente e o Ocidente, eles vio beber nas fontes das Escrituras inspiradas no Antigo e no Novo Testamento. Todas as “obrigacdes” de seus membros e de sua hierarquia sio assumidas “em presenga de Deus Todo-Poderoso” sobre o Volume da Santa Lei, correspondente & sua crenga. A G.L.N.F. (Neuilly) visa apenas ao aperfeigoamento moral e espiritual de seus membros e a pratica de uma caridade fra- terna, ativa e¢ vivificadora. Ela entende, pois, permanecer total- mente estranha as discuss6es e lutas que no lhe dizem absoluta- mente respeito. Particularmente, condena tudo aquilo que poderia ser considerado como manobra contra a Igreja ou contra os poderes civis constituidos. Todavia, ela se alegra com o surgimento de um clima de melhor compreensaéo entre aqueles que, em quaisquer circunstin- cias, poem sua esperanca em Deus. A essa noticia o Pe. Riquet deu a seguinte resposta: “Essa declaragéo da “Grande Loja Nacional Francesa” exprime certa e lealmente o ponto de vista dessa obediéncia, a unica con- siderada regular pela “Grande Loja Unida da Inglaterra” e todas 48 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. VII. OS ANOS DIFICEIS Essas consideracdes otimistas néo condiziam com a realidade. “Falar” significava para a Igreja tomar uma posicdo oficial. Ora, para isso, as aproximagdes humanas nao bastam, até mesmo as mais bem intencionadas. Os anos de 1966 e 1967 apresentariam um saldo positivo e negativo ao mesmo tempo. Na coluna do crédito, dois livros: Dossié Francés da Franco- Magonaria regular de Jean Baylot, rico e substancial desenvolvi- mento de sua obra-prima O Caminho Substituido, e Simbolismo Magénico e Tradigao Crista de Jean Tourniac que despertou o inte- resse ¢ a admiracéo do Cardeal Tisserant*. Recebi também a visita de um religioso de lingua flamenga, o Pe. Dierickx, que se interessara, de forma talentosa, pela questéo magénica, mas que a morte devia surpreender prematuramente. Pude exprimir meu pensamento, escrevendo pelo menos em trés ocasiGes. A enciclopédia em lingua alem& Sacramentum mundi pediu-me que redigisse 0 artigo Franco-Maconaria. A Revista Poli- tica e Parlamentar, igualmente, pediu-me um estudo. Por fim, em minha Histéria do Anticlericalismo Francés, pretendi dar 4 questio magénica o lugar que lhe era devido. Muito antes, fato de not6ria importancia, foram entabulados entendimentos entre mim e o Pe. Riquet de um lado, com importan- tes personalidades da Franco-Maconaria alema, entre elas o famoso * © Rev. Pe. José — A, FERRER BENIMELI que, por seu lado, estudou © movimento das idéias no decorrer desse periodo, anotou um artigo publicado na Gazeta de Montreal (Canad4) de 30 de julho de 1966, da autoria de G. W. Cornell intitulado A desconfianga desaparece: aproximagéo entre Magons e Catélicos, bem como diversos artigos na imprensa alem& e até uma confe- réncia para o jornal do Gr&o-Mestre Hans Gemtind (6-7 de maio de 1967). (Op. cit., p. 120). 52 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. 1.° Sacra Congregagéo do Santo Oficio, 5 de agosto de 1846 (FLC., n.° 899). “As ddvidas levantadas para saber quais sfio as sociedades conde- nadas nas Constituigdes pontificias, foi respondido: As Sociedades secretas de que tratam as Constituicées pontificias so todas aque- las que propdem algo contra a Igreja ou contra o governo, exi- gindo ou nao de seus adeptos o juramento de guardar segredo.” 2.° Constituigio de Pio IX, Apostolicae Sedis, 12 de outubro de 1869 (F.LC., n.° 552), n. 4. So excomungados: “Aqueles que d&éo seu nome a uma seita magénica ou de Carbonari ou a outras seitas do mesmo género, as quais se entregam a complés contra a Igreja ou contra os poderes constituidos, aberta ou clandestinamente, bem como aque- les que, de algum modo, as favorecem; ou aqueles que nfo de- nunciam seus chefes ou seus corifeus ocultos, enquanto nfo os tiverem denunciado.” 3.° Instrugéo do Santo Oficio de 10 de maio de 1884 (F.LC., n.° 1085), fixando a aplicacdo pratica das diretrizes da enciclica de Leio XIII, Humanum genus, de 20 de abril de 1884 (F.LC., n.° 591). “A fim de evitar qualquer erro, quando se trata de discer- nir, entre as seitas perniciosas, aquelas que séo sujeitas a uma censura e aquelas que s&o simplesmente proibidas, deve-se ter como certo que a excomunhfo latae sententiae atinge a seita mac6nica e outras do mesmo género que esto designadas no capitulo 2, n. 4 da Constituicéo pontificia Apostolicae Sedis (aci- ma citada), e que se dedicam a complés contra a Igreja e contra os poderes constituidos, aberta ou clandestinamente, exigindo ou no de seus adeptos o juramento de guardar siléncio.” Apoiando-se nesses textos, bastante claros, e nos termos do cAnone 2335, o Pe. Riquet podia concluir: 56 “Desses textos que, desde 1846, conservam constantemente a mes- ma férmula, sobressai, com toda a evidéncia, que o delito punido com a excomunhfo 6 essencialmente caracterizado pelo fato de que é dada adesio a uma seita que se dedica a manobras ou complés contra a Igreja ou contra os poderes civis constituidos. Ora, o cAnone 2228 precisa que ‘o delito sé incorre na penali- dade estabelecida por lei quando for perfeito em seu género, no sentido préprio dos termos da lei’. Por conseguinte, a censura acima no se aplica certamente a uma associacfio que, por direito € por pr&tica, profbe expressamente a si mesma tudo aquilo que poderia ser considerado como um compl6 contra a Igreja ou contra os poderes civis constituidos. Os documentos citados nesse didlogo e os que aqui seguem mostram precisamente que essa é a atitude da Grande Loja Nacional Francesa bem como da Gran- de Loja Unida da Inglaterra e das Grandes Lojas Unidas da Alemanha.” aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. O caso estourou como uma bomba, mas as coisas nado parariam aij. Em 11 de marco de 1968, o Jornal falado da Emissora belga, & qual se juntavam outras Emissoras e em seguida a imprensa mundial, anunciava que — decorréncia légica do acontecimento escan- dinavo — a Igreja catdlica preparava-se para suspender, pura ¢ simplesmente, as excomunhGes que seriam mantidas apenas contra o Grande Oriente da Franca e contra as obediéncias da mesma tendéncia, A informac&o parecia tao absurda, que despacharam urgente- mente para Roma os enviados especiais, a fim de esclarecerem o enigma in loco. Soube-se que a falsa noticia fora comunicada 4 imprensa e escrita por uma agéncia da imprensa americana, conhe- cida por suas exploragdes no género. Alguns formularam a hipétese de que os integristas, por sua facilidade de acesso ao Vaticano e aos escritérios daquela agéncia, haviam intencionalmente inventado essa fabula com o fim de provocar, por parte do Vaticano, um des- mentido oficial, e de boicotar, assim, dentro do possivel, toda a questo magénica, No entanto, tudo se passou como se, efeti- vamente, fosse esse 0 caso, pois o servigo de imprensa da Santa Sé publicou um alardeante desmentido que, por sua vez, repercutiu no radio e na imprensa dos cinco continentes. Um vento de panico soprou e€ os semeadores do panico, que nunca faltam, apressaram-se em espalhar o boato de que o Papa se preparava para publicar uma declaracgio oficial, confirmando as excomunhées e chamando a ordem todos os catélicos. No momento mais critico da situacéo consegui publicar no Le Monde, sob a rubrica Opinides livres, um artigo sobre A Igreja catdlica e a Franco-Magonaria, sem me preo- cupar com todas essas balelas, qualquer que fosse sua procedéncia, quaisquer que fossem os interesses em jogo, ainda que menos nobres. As dificuldades continuaram a surgir. HA longos anos, a G.L.N.F. tinha por habito mandar celebrar uma ceriménia finebre anual por intengdo da alma dos Irmaos falecidos durante o ano, dirigindo-se respectivamente a igreja angli- cana de Paris, 4 igreja americana e a diversas paréquias protestantes francesas. Jamais ela conseguiria uma missa catélica de Requiem. Tendo em vista dias melhores, acreditou-se que o pedido seria final- mente aceito. Nada aconteceu, e para evitar a repeticao desse desa- gradavel incidente, ficou decidido que a partir de entfo a ceriménia comemorativa se realizaria no grande templo do Boulevard Bineau, 65. Dizem que Jean Tourniac compés a liturgia, tio simples quao bela e profundamente religiosa. As palavras latinas do admirdvel 60 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. © continuador da Santissima Inquisic¢fo. Existia um dossié “Franco- Magonaria”, foi tudo o que pude saber. Um religioso da Pia Societa di S. Paolo, o Padre Rosario Esposito, agitava-se muito e devia continuar a fazé-lo, escrevendo na Rivista Masonica, fazendo conferéncias na loja de Savona, e opondo “sua teoria” 4 que ele chamava “da escola francesa”, representada pelo Pe. Riquet e por mim mesmo, bem como pelo Pe. Ferrer Benimeli. Seu grande argumento era reprovar a “escola ifrancesa” © ter ela afirmado que os papas haviam condenado apenas a Fran- co-Maconaria irregular, enquanto as enciclicas nao faziam distingdo alguma. Ora, jamais haviamos, o Pe. Riquet, o Pe, Ferrer Benimeli e eu préprio, sustentado algo semelhante. Eu havia até lamentado a auséncia de qualquer discriminagao a esse respeito na enciclica Humanum genus, explicvel por razGes histéricas. Os escritos desor- denados do Pe. Rosario Espésito tiveram, pelo menos, um mérito: o de revelarem que, durante o inverno de 1969, estabeleceram-se contatos oficiosos entre.o Palazzo Giustiniani, isto é, o Grande Oriente da Itdlia, e interlocutores catélicos qualificados. O Grio- Mestre Gamberini, cuja inteligéncia eu mesmo pudera apreciar pessoalmente durante uma conversa em Paris, era amplamente aberto ao didlogo. Uma manha, recebi uma carta patética de meu amigo, 0 Grao-Mestre Rheinhold Mueller, do Tempelorden alemao, uma ra- mificagéo do Rito Retificado, profundamente cristio, razio pela qual néo entendia por que o dossié, para o futuro, seria confiado ao Secretariado dos nao-crentes (pro non credentibus). Era um erro de sua parte. Jamais a S.C. para a Doutrina da Fé foi privada de seu dossié. Apenas uma informagao paralela devia ser levada para o outro tribunal, o que era muito diferente. Um francés, 0 abade J.-Fr. Six, autor de uma interessante tese de doutoramento sobre a “conversdo” (?) de Littré, interessava-se pela questo macé- nica e parecia ter sido o instigador dessa iniciativa. O ano de 1970 foi marcado por dois importantes acontecimen- tos. O primeiro foi um parecer, sob o titulo Reflexdes Sobre Uma Excomunhdo, entregue a uma publicagao sufga por um canonista, o Rev. Pe. Jean Beyer, professor na Universidade gregoriana de Roma. Nele patenteava-se o prestigio de uma grande competéncia apoiando a tese do Pe. Riquet. A autoridade do Rev. Pe. Jean Beyer era grande. Sua ptiblica tomada de posicfo marcou um importante. acontecimento. O segundo, mais discreto, mas néo menos importante, foi o que alguns chamariam de “reviravolta” do Pe. 64 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. dois candelabros emparelhados sobre a lareira identifica-se com A Franco-Magonaria através de seus documentos secretos do inte- grista L. de Poncina. Enquanto esses acontecimentos e esses comentirios sucediam-se em Paris, fatos de outra importancia preparavam-se em Roma. 68 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a S.C. para a Doutrina da Fé nada mais fizera que tirar as dltimas conseqiiéncias dos principios que j4 eram os do direito candnico, cujos dispositivos — em especial o artigo 2225 do Cédigo de di- reito canénico — continham virtualmente a solugio final. Uma excecio devia, contudo, interferir: continuavam os ecle- sidsticos proibidos de fazerem parte da Franco-Magonaria. Essa dis- posicao de cardter inteiramente disciplinar nao contradizia absolu- tamente a solugéo adotada pela Igreja. Contrariando a espera de alguns que aguardavam uma decla- ragdo estrepitosa, com citagdes histéricas, retratagdes das enciclicas anteriores e observacao pastoral, o documento finalmente publicado pela S.C. da Doutrina da Fé foi uma simples carta. Sem divida, ela passard para a histéria como Documento Seper, do nome do Car- deal Seper, Prefeito da Congregagéo, que a assinou. Fato extraor- dindrio, essa carta nao foi, na origem, um ato oficial mas uma sim- ples missiva, escrita em latim e dirigida a certas conferéncias epis- copais. A imprensa dos E.U.A. conheceu-a e divulgou-a amplamen- te, levando o cardeal-prefeito a publicd-la, no intuito de pér um fim “4s informagées inexatas ou deturpadas”, ao mesmo tempo que es- crevia ao cardeal Krol, presidente da conferéncia episcopal dos E.U.A. a resolugdo que segue. (A tradugio feita abaixo € a da Do- cumentagao catélica de 20 de outubro de 1974.) Enminéncia, “Muitos bispos interrogaram esta S. Congregacdo a respeito da obrigagéo ¢ do sentido do cAnone 2335 do Cédigo de direito canénico que proibe aos catélicos, sob pena de excomunhio, fazerem parts da Franco-Maconaria ou de outras associagdes congeneres. Enquanto estudava longamente a questéio, a Santa Sé consultou muitas vezes as Conferéncias episcopais interessadas a fim de familiarizar-se com a natureza dessas associagdes e com sua orien- tagdo atual. Todavia, a grande divergéncia das respostas, que re- flete as diversas situagdes de cada pais, nfo permitiu A Santa Sé mudar a legislacio atual. Esta continua, portanto, em vigor, até que o novo direito canénico seja publicado pela Comissio pon- tificia competente. Com respeito aos casos particulares, convém lembrar que a lei penal deve ser sempre interpretada no sentido estrito. Pode-se, pois, indicar com seguranga ¢ aplicar a opinifo dos autores que dizem que o cAnone 2335 diz respeito, apenas, aos catélicos filia- dos a associagSes que agem contra a Igreja. Fica proibido, sempre e em todos os casos, aos clérigos, aos re- ligiosos e aos membros dos institutos seculares, fazerem parte de uma associago macénica.” 72 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. X. AS IGREJAS NAO-CATOLICAS Foi afirmado muitas vezes que, dentre as Igrejas, apenas a Igreja catélica romana teria condenado a Franco-Maconaria. Esta afirmagio é exata, e é interessante frisar que a hostilidade de certas Igrejas nao-catélicas continua, enquanto que, observadas as restrigGes j4 citadas, apéds quase 40 anos de esforcos, é gragas ao “Cessar-fogo!” reivindicado em 1937 por Alberto Lantoine que a paz foi alcangada. A Igreja anglicana sempre conviveu, em verdadeira simbiose, com a Grande Loja da Inglaterra, porquanto o Rei da Inglaterra, chefe dessa Igreja, era tradicionalmente franco-magom. Poderiamos citar, todavia, certas divergéncias. Em seu nimero de 30 de marco de 1951 0 Church Times anglicano, lembrando a condenagao da Igreja catélica visando ao segredo mac6nico, fazia notar que a po- sicgéo da Igreja anglicana mantivera-se até entio indiferente, mas que havia possibilidade de “reconsideragéo”. Pouco depois, o Rev. Walter Hannah, clérigo anglicano — convertido, posteriormente, ao Catolicismo —, publicava seu livro Darkness visible, um dos mais ferozes requisitérios por que passou a Franco-Maconaria. Contudo, as coisas néo foram mais longe. Uma grande parcela do episcopado anglicano compée-se de macons freqiientemente da classe alta, inte- grando, de resto, o primeiro plano dos prelados que trabalharam em colaboracéo com a hierarquia catélica a favor do Ecumenismo. O Bispo metodista Corson, 33.° e Capeléo-Mor da Grande Loja da Pensilvania (E.U.A.), j4 citada, foi violentamente atacado pela revista The Ulster Protestant de Belfast (n.° de setembro de 1966) por ter participado do Concilio na qualidade de observador por ter desejado a uniao das Igrejas. O titulo do artigo era Metho- dist madness (A loucura do Metodismo). Certos elementos meto- distas nao foram menos hostis 4 Ordem. Nos E.U.A., duas Igrejas continuam abertamente hostis: a Lu- theran Church Missouri Synod e o conjunto de seitas e grupos fe- 76 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. I. A DEFASAGEM A revolugao feminina! Assim poderia chamar-se esse aconteci- mento fundamental para a histéria do mundo, transcendendo a to- dos os progressos técnicos, e que a nossa época realizou. A Franco-Maconaria, por sua fidelidade ao principio de mas- culinidade, nao teria permanecido aquém da sociedade civil? Nao existiria entre elas uma desafagem? Quais seriam as causas? Como seré a Franco-Magonaria do ano 2000? Eis um problema que cada um pode abordar segundo sua pré- pria filosofia, mas, fugir dele, unicamente em nome do respeito as tradigées seria absurdo. Essa politica do avestruz € apenas proviséria. A tnica maneira de resolver um problema é enfrenté-lo. Falar da exclusiio das mulheres é impr6prio. Tradicionalmente, a mulher nao est4 excluida da Ordem, porém € considerada incapaz para participar. Essa inaptidio é um Landmark. Apresentado em principio nas Constituicdes de Anderson em 1723, ratificado no Dis- curso de Ramsay em 1737, passando, ent&o, de constituicio para constituicao, continua sendo um dos fundamentos sobre os quais repousa a Ordem. A enumeragao dos Landmarks tem variado de autor para autor. A esse respeito, jamais foi englobado por Alberto G. Mackey em sua famosa lista de 1858. A Declaracio de 4 de setembro de 1929 da Grande Loja da Inglaterra, editada para o uso de todas as Grandes Lojas do mundo, em suma, a Regra em 12 itens da G.LN.F. (art. 9), regem-no com todo o rigor. Se a Grande Loja e o Grande Orien- te da Franga se distanciarem destes ultimos principios, nao deixario de conservar, entretanto, o da masculinidade. Exatamente como nas constituigSes, o mesmo principio trans- parece nos rituais. Alguns explicaram até que o rito consiste em descobrir 0 seio esquerdo do candidato, em seguida ordenar-lhe que 80 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. mente da educag&o que lhes é ministrada. * Para esse cartesiano, “o carater essencial da verdade é a clareza e a evidéncia... Se alguém ficar chocado com este discurso, por um motivo qualquer, deve culpar a verdade, nao o autor’. O livro todo é uma reabilitagéo, muito car- tesiana, da inteligéncia e das aptiddes da mulher, pois “é Deus que integra o espirito ao corpo da mulher bem como ao do homem, o que € feito através das mesmas leis”. (p. 11). Uma certa corrente feminista atravessa o século XVIII unindo Poullain de la Barre a Condorcet em seu Admisséio Das Mulheres ao Direito de Cidadania (1790). Pertencem a essa corrente Voltaire, com o Diciondrio Filosdfico, assim como Helvetius em Do Espirito e Diderot em sua Critica do Ensaio Sobre as Mulheres de Thomas, mas o verdadeiro continuador de Poullain de la Barre é um eclesids- tico, o mauriense F. Caffiaux, que, aliés, imitou-o em seus escritos. J.-J. Rousseau, como se sabe, foi, ao contrério, manifestamente an- tifeminista. Essa corrente de pensamento nao teria a menor influéncia, e as idéias dos filésofos, que no reinado de Lufs XVI, desde os pri- mérdios da Revolug&o, ocasionaram a alteragéo de pontos impor- tantes na legislacio criminal do Antigo Regime e até, em menor escala, na legislagdo civil, nao tiveram repercussdo.** Os fatores econédmicos que, um século depois, desencadearfo a grande ofensiva do Feminismo ainda nfo existem. Os Cadernos dos Estados Gerais de 1789 registram apenas algumas queixas isoladas. Quanto 4 Franco-Magonaria, 4 qual foram atribuidos tantos propé- sitos revolucionarios, pode-se dizer que, tanto o problema social co- mo politico da mulher, lhe é estranho. Os homens da revolugio sao antifeministas radicais. Chaumette afasta as mulheres que desejam ser “cidadas” nestes termos jacobinos: “Mulheres impudentes, que desejais transformar-vos em homens! N&o recebestes jé o bastante? Que mais quereis? Dominais em todos os sentidos. O legislador e o magistrado esto aos vossos * Em A Iniciagdo de Adélia de Ragon (1860), encontra-se 0 mesmo pensa- mento aplicado 4 Franco-Magonaria. ** G. ASCOLI tentou construir uma biblioteca de documentos feministas até 1773. Ela ocupa 3 péginas da Revista de Sintese Histérica de 1906 (tomo XIII, p. 104-106). Alias, o antifeminismo havia precedido o feminismo e originado também uma bibliografia. Cf. Erhardt HOBERT, Die Franzdsische Frauensatire (1600- 1800), Marburg, 1967. Trata-se, na verdade, de uma sétira de costumes, nio de um antifeminismo propriamente dito. 84 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. De fato, a defasagem entre toda uma legislagéo nova e costumes inalteréveis daria origem a uma literatura abundante em que uma polémica permanente e obsessiva acabaria por tornar cansativo e antipdtico um certo estilo feminista. Quando se depara com o nome de tais signatdrios ao pé de um artigo de jornal, vira-se imediata- mente a pagina. A virago de Juvenal transformou-se atualmente em pea. Enquanto a revolugéo feminista, teoricamente vitoriosa, nfo atingiu ainda, na realidade, seus objetivos, os contra-revolucionarios ja comecam a surgir. . Quanto 4 Franga, limitemo-nos a um tnico exemplo: o da As- sociagao de Defesa dos interesses dos homens divorciados e de seus filhos menores (D.I.D.H.E.M.) *. No fasciculo de propaganda envia- do por esse grupo jovem a todos os parlamen:ares, conselheiros gerais, prefeitos ¢ conselheiros municipais da Franga, pode-se ler: “Uma jurisprudéncia muito freqiiente foi longe demais, terminan- do por adotar na maioria das vezes, senféo uma concep¢io, pelo menos uma prética que sé enxerga no pai um provedor de bens e de servicos para a mulher ¢ o filho, repelindo mais ou menos toda tentativa de se manifestar como um pai educador.” Outros exemplos poderiam ser citados, favorecidos pelo espi- tito geral de desobediéncia 4 lei que, como observou Georges Ripert, é um dos sinais do “declinio do direito” préprio de nossa época **, Lembra ele que Montesquieu escrevera no Espirito das Leis: ‘Era- mos livres com as leis. Queremos ser livres contra elas. Todo ci- dadio é como um escravo fugido da casa de seu dono.” (III,3) E acrescenta: “A maioria dos homens nfo tem nem a satisfaco resig- nada da servidio, nem o heroismo de suporté-la em beneficio do interesse piblico. Se a lei se transforma em tirania, eles nio obe- decem mais 4 lei.” Tomemos um exemplo na legislagao trabalhista. A instituigfo da licenga-gestante 6 um exemplo tipico de lei justa. No entanto, nao deixa de ser um inegdvel fator de desorganizaciio das empresas, a ponto de causar inquietagio ao empresariado, especial- mente ao pequeno empresariado, como uma espada de Dimocles suspensa permanentemente acima de dezena de milhares de cabegas. Conseqiientemente, é inevitaével que tentem fugir 4 aplicagéo dessa lei. * (N. da T.) — No original francés, esta sigla corresponde a: Association de Défense des intéréts des divorcés hommes et de leurs enfants mineurs. ** Georges RIPERT, O Declinio do Direito, 1949, p. 95. 88 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. of Radicalesbian, subtitulo de sua obra Sisterhood is Powerful, as- sinalava: “O lesbianismo é um caminho para a liberdade, para a liberta- ¢o da opressio dos homens... Conheci muitas feministas que nao eram lésbicas, mas nunca uma lésbica que néo fosse femi- nista.” (R. Ballorain, op. cit. p. 160-162). Certas feministas reivindicaram até uma nova sexualidade, exal- tanto o espasmo do clitéris e denunciando a relagdo heterossexual, em que a mulher “desempenha apenas a fungéo de um objeto passivo”. A partir daf, as vit6rias do neofeminismo cientffico se sucede- riam ininterruptamente. Na Alemanha, uma jornalista, Hildegard Damrow, tendo estudado de perto * a criminalidade feminina, ex- pressou o desejo de que as mulheres fossem favorecidas com um estatuto especial do ponto de vista do direito penal **. Na Grécia, aconteceu o melhor. Um deputado grego pediu ao Parlamento que abolisse o costume que proibe o acesso dos mos- teiros do monte Atos n&o s6 as mulheres como também aos animais fémeas. A persisténcia de tal discriminagdo sexista nao era mais toleravel. Para reformar basta legislar? Poderiamos pensar que essa é uma idéia cristalizada entre as mulheres que, na Franga, participam do governo e que foram a ele chamadas para acumularem projetos atinentes a “revalorizagéo da condigéo feminina”. A imprensa francesa de 27 de maio de 1976 divulgou que ao Conselho de ministros reunido na véspera, sete ca- dernos com duzentas e cinqiienta paginas ao todo, constituindo um “projeto para as mulheres”, haviam sido elaborados e apresentados. Um deles — para sé falarmos nesse exemplo — considera que nao mais que 75% de candidatos do mesmo sexo deveriam figurar nas listas elaboradas por ocasiéo das eleicdes municipais, e que a deci- séo seria submetida a apreciagéo dos “partidos politicos”, o que, em matéria legislativa, seria tecnicamente inédito. Tudo se desen- * Hildegard DAMROW, Frauen vor Gerichts, Verlag Ullstein, OmbH. Franc-fort-sur-le-Main ¢ Berlim, 1969. Do ponto de vista criminolégico, a re- forma proposta podia parecer, em certo sentido, “sexista”. E verdade que, hé alguns anos, as estatisticas acusam um aumento preciso dos crimes de violéncia entre as mulheres, relativamente pouco freqiiente em outros tempos, ** Le Figaro de 19 de marco de 1976. 92 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. era uma rational pleasure, uma forma inteligente de epicurismo*. Tal era exatamente a férmula do club inglés, cioso de sua seguranga em face das turbuléncias do coragdo e dos sentidos tanto quanto das insuportaveis querelas politicas. Em torno desse refigio montava guarda o telhador, armado de uma espada desembainhada, prote- gendo a profunda felicidade do refreshment que se seguia 4 do segredo de ceriménias muito antigas. No entanto, acaso nao existiam mulheres refinadas, idealmente belas e as vezes espirituais? A amizade de alguma nao mereceria ser procurada? O pincel de Gainsborough foi a resposta que a posteridade recebeu. Perguntemos, porém, a Lord Chesterfield qual era sua opinido a respeito. Leiamos esta carta cheia de solicitude paterna escrita ao seu jovem filho em 5 de cetembro de 1748: “Considerando que as mulheres representam uma parcela consi- der4vel ou pelo menos bastante significativa da sociedade, © que sua adeséo é muito Util para o estabelecimento da reputacio de um homem na boa sociedade (o que é de suma importancia para a fortuna ¢ posigfio que cle pretende alcangar), é necessério que ele Ihes seja agrad4vel. Por isso, neste assunto, vou inicié-lo em certos arcanos, cujo conhecimento Ihe sera de grande utilidade, mas que vocé deve dissimular com o maior cuidado.sem nunca demonstrar conhecé-los. As mulheres — fique sabendo — sio como criangas crescidas; sua tagarelice é divertida e as vezes so espirituosas, mas, em se tratando de um exato bom-senso ¢ de raciocinio, jamais conheci em toda a minha vida uma tnica que os possufsse, ou que raciocinasse ou que se comportasse tran- qiiilamente durante vinte quatro horas consecutivas. Qualquer pon- ta de paixfo ou de humor sempre interfere em suas melhores resolugées. Quando sua beleza é subestimada ou discutida, sua idade levada em grande conta, ou sua suposta inteligéncia depre- ciada, imediatamente suas pequenas paixdes se agitam ¢ modifi- cam sua habitual linha de conduta, entenda-se aquela que sfio capazes de ter quando estio em seus melhores momentos de lucidez. Em sua companhia, um homem sensato limita-se a gra- cejar, a brincar; encoraja-as com lisonjas, exatamente como se lidasse com uma crianga viva e brilhante. Nas coisas sérias, jamais ele as consultaré ou confiar4 nelas, muito embora elas sejam induzidas, quase sempre, .a crer em ambas as coisas. Nada no mundo Ihes causa tanto prazer, pois elas adoram meter-se nos negécios (nos quais sé fazem confusio). Inspirando justas des- * KNOPP et G. P. JONES, The Genesis of Freemasonry, p. 141. O melhor historiador da Inglaterra do século XVIII, André Parreaux, observou que os viajantes continentais, os franceses particularmente, eram atin- gidos pela lei de segregagio que parecia “governd-los nas relagSes entre sexos” (A Vida cotidiana na Inglaterra na época de Jorge Ill, p. 165). 102 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Uma loja de Adogiio devia, com efeito, estar alicergada numa loja de homens — freqiientemente uma loja militar — e alguns ho- mens desempenhavam certas fungdes no decorrer das ceriménias. A mentalidade feminina atual surpreender-se-ia com esse fato, con- siderando-o uma usurpagéo masculina. Conforme os costumes da época, tratava-se, muito pelo contraério, do cumprimento de um de- ver para com a mulher: o dever de protegao, e abandonar as mu- Theres a si mesmas poderia parecer uma desercao. Quanto aos mundanismos que freqiientemente encerravam a noitada, eram considerados o acessério do Ritual, exatamente como © Agape era e continua sendo o de uma assembléia ritualista mas- culina. A dualidade de sexos levava espontaneamente a essa forma de diversio em comum apés o “trabalho”, que era um baile, as ve- zes a representacdo de sainetes, e onde a caridade era a t6nica. Nao ha dtvida de que, vez por outra, houve abusos. Por que surpreender-se? Por acaso os agapes masculinos nado degeneraram as vezes em bebedeiras e discusses? E estes ultimos abusos restringi- ram-se ao século XVIII? Em seu discurso pronunciado no dia 5 de maio de 1777 na loja Santa Sofia, um certo Irmao Gouillard, Vene- ravel, deixou-nos seu testemunho: “Nao discordamos de que a confraternidade em questio pode estar sujeita a alguns inconvenientes, mas se fizéssemos uma ava- liagdo entre as vantagens resultantes dessa associagéo ¢ os ma- les por ela ocasionados, penso que sua utilidade superaria em muito os perigos que, sem divida, tém sido exagerados. Confesso que tem havido alguns abusos em certas lojas. Alguns de nossos Irmaos, esquecendo os verdadeiros principios da Arte, reuniram, sob a alegacio de uma loja de Adog&o, mulheres per- didas, e nessas... entregaram-se a todos os excessos da liberti- nagem mais desenfreada, ¢ s6 porque tivemos a infelicidade de alimentar em nosso seio monstros indignos, j4 nao digo do nome de magom, mas do nome do homem, posto que os falsos Irmios, abusando de um titulo do qual eram absolutamente indignos, dei- xaram-se levar por excessos condenaveis, poderiamos concluir que as mulheres devem ser totalmente banidas de nossos templos?” Tinha razio o Venerdvel Irmao Gouillard ao tomar a defesa daquelas inocentes; deve-se observar que naquelas circunstdncias sua virtude nao sofrera qualquer demérito. Apenas os homens me- reciam censuras, e as mulheres que eles haviam convidado para tra- balhos que nada tinham a ver com o Ritual, néo eram magons. Uma outra critica: a indiscrigo. As mulheres sao curiosas e tagarelas. Sua iniciagdo nao poria em risco o Segredo macénico? 107 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. se interessara pelos Companheiros, e s6 a ela caberia honrar os ‘cli- mas de uma loja de Adog&o. Preferiu, porém, a auténtica tradigao mag6nica o melodrama pés-romantico que inspirou A Condessa de Rudolstadt, continuagéo de Consuelo, em cujo cenério figuravam certos “Invisiveis”, fazendo um género grotesco quase tao inferior quanto Joseph Balsamo de seu contemporaneo Alexandre Dumas pai. Citemos esta passagem do discurso proferido por um iniciador, ao dirigir-se 4 heroina: “Professamos o preceito da igualdade divina do homem e da mulher, mas, forgados que somos a reconhecer nos deplordveis resultados da educagio de teu sexo, de tua situag&o social e de teus hdbitos, uma leviandade perigosa e instintos caprichosos, nfo podemos estender a pratica desse preceito em toda a sua ampli- tude. S6 podemos confiar em algumas poucas mulheres, e existem segredos que confiaremos exclusivamente a ti.” (Cap. 31) Sabemos que George Sand conhecia a Maconaria através de muita leitura. Tera ele conhecido os rituais das Lojas de Adogio? De qualquer maneira, aquilo que poderiamos chamar de classicismo desses rituais nio se coadunava com o seu lirismo nem com aquele socialismo sentimental préprio de sua época e que marca sua con- cepcio do romance. O espirito das Lojas de Adogao nado mais se afinava com o de um século em que o crescimento da democracia em todas as suas formas s6 podia ser-Ihes desastroso, sobretudo no mesmo instante em que a alta burguesia e a aristocracia distanciavam-se da Franco- Maconaria, e com mais raz4o ainda as mulheres do mundo. Por isso, apés um longo periodo de enfraquecimento, acabaram por diluir-se no passado. Os sinais precursores do século XX. Se as formas magénicas do século XVIII se esfumavam progres- sivamente, os sinais precursores do século XX estabeleciam-se, rea- lizando- a “politizagao” geral da Ordem 4 qual Joao Baylot deu o nome de “O Caminho Substituido”, e que, desde 1925, um macgom do Grande Oriente, Gastéo Martin, chamara de “uma nova menta- lidade mag6nica” *. * Gaston MARTIN, Manual de Histéria da Franco-Magonaria Francesa, p. 163. 111 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Em 1894, a Grande Loja simbélica voltava ao aprisco e o Su- premo Conselho cometia o erro incalculavel — por ter recuperado seus dissidentes — de concordar com a criagéo de uma nova orga- nizagao, a Grande Loja da Franga, que assumia doravante a dire- go das lojas azuis. A causa das mulheres no lhe interessava e mui- to menos a nova Grande Loja, apesar de ser dirigida por uma! Grao- Mestre téo pouco conservador quanto Gustavo Mesureur, e muito satisfeito com sua vitéria. Quanto ao Grande Oriente, observava os acontecimentos e néo mudou de atitude, apesar dos esforgos de uma minoria perseverante. Restava Maria Deraismes, abandonada 4 sua amargura e ao isolamento, tnica “mulher macom” da Franca. Dois sentimentos preponderantes continuavam a dominé-la, a causa feminista e 0 édio pela Igreja. A Franco-Magonaria havia sido para ela um meio, um instrumento. As declarag6es apaixonadas con- tidas no final do discurso acima citado nado deixam dtivida a esse respeito: “Como a Franco-Maconaria, antagonista do clero, odiada por ele, nao pode compreender que a introdugéo da Mulher na Ordem era o meio mais seguro para reduzi-lo e vencé-lo? O instrumento da vitéria estava a sua disposicao. E 14 ficou, inerte, em suas mos.” Retomando entdo sua luta pessoal no ponto em que a deixara, ela multiplicou suas conferéncias e artigos. Em 1891 publicou um livro violento, Eva na Humanidade, no qual, paralelamente 4 lenda inevitével do concilio de Macon, estava escrito: “A subalternizagéo da mulher nas legislagbes € a conseqiiéncia da depreciagfo do principio feminino em cosmogonia e em teo- gonia.” (P. 2-3) “De ora em diante, Maria, a mulher ideal do Cristianismo, é a encarnacaio da nulidade.” (P. 12) “A inferioridade das mulheres néo é um fato da natureza. E uma invengéo humana. E& uma ficgdo social.” (P. 19) Todavia, nos meios magénicos, nem todos haviam perdido as esperancas, notadamente um ardoroso idealista, Georges Martin, autor de algumas linhas escritas mais tarde e que devem igualmente ser citadas: “Desde que me lembro, sou feminista... De fato, o tratamento dado pela lei A minha mie, colocando-a em pé de igualdade com homens que perderam seus direitos em conseqiiéncia de conde- nagGes desonrosas, sempre foi para mim motivo de revolta con- Ws aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Ilr.-., ela conhece suficientemente, a fim de abrir-lhes as portas da G.-. L.-., sem outra investigacio e dispensando a necessidade de elementos previstes.” “A Ir... Myrtille Rengnet pergunta se é permitido difundir as declarag6es de principios como. meio de propaganda. “A V.-. responde que € necessfrio muita reserva enquanto a G... L... nfo estiver definitivamente instalada. “A Ir... Marie-Georges Martin faz uma pergunta relativa 4s mu- Theres do interior, ou mesmo de Paris que na@o podem assumir © compromisso da freqiiéncia as Ass.-., porém, assumem os ou- tros compromissos, se poderiam ser admitidas & inic.-.. “A V.-. M.-. responde afirmativamente. “A Ir... Marie Georges Martin diz que enviaré a Ir... Tes.-., em recebidos os donativos de benfeitoras andnimas ou de senhoras que, embora o queiram, néo podem pedir a inic.-. por questées de familia. “A V.-. M.+. responde que todos os donativos serio recebidos com agrado, e que sejam numerosos é o que se deseja. “A Ir.-. Marie-Gerges Martin diz que enviaré a Ir.-. Tes... em nome da Sra. Marg. Germ., uma quantia de 50 francos e que se essa senhora nfo puder receber a inic.-. por questdes de familia, ela enviar todos os anos, a titulo de donativo, uma contribuicao. “A V.-. M.. pede & Ir... Marie-Georges Martin que agradega, em nome de todos, & generosa benfeitora, exprimindo-lhe a espe- ranga de vé-la ocupar um lugar em nosso meio. “O saco das prop.-. nfo as contém, e volta ao Tr... a V.-. com uma pedra chata de 2 quilos e 600 gramas. “Encerrados os trabalhos na forma habitual do grau de C..., as Tir... separam-se em paz, sob o juramento do siléncio, 4 meia- noite em ponto. “A Secr... da reuni&o: “A V.., Fundadora: “Tr... Charlotte Duval. “Ir.... Maria Deraismes.” A terceira ata é de 1.° de abril de 1893. Nela se encontram as mesmas excentricidades que nas anteriores, especialmente a propé- sito dos graus conferidos “através de um comunicado”. Informamos que Maria Deraismes enviara um memento a cada uma daquelas senhoras, cujos progressos iniciaticos verificados sio surpreendentes, merecendo as mais calorosas felicitacdes. TERCEIRA ATA “1° de abril do ano de 1893, E.-. V... ao Or.-. de Paris. “As Ilr... Béquet de Vienne, Louise David, Charlotte Duval, Féresse-Deraismes, Marie-Georges Martin, Florestine Mauriceau, Lévy-Maurice, Julie Pasquier, Myrtille Rengnet, a Doutora Marie Pierre, Louise Wiggishoff, Maria Martin e o Ir... Georges Mar- tin estéo reunidos sob a presidéncia da V... Fundadora Maria Deraismes. 120 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. A histéria do Direito Humano reproduziria os dois fendmenos comuns 4 histéria de todas as obediéncias magénicas a partir do momento em que elas se distanciam dos principios da Ordem: o desaparecimento e¢ as dissidéncias. O primeiro desaparecimento foi o de Annie Besant ¢ seus tedsofos, no inicio do século XX. Segui- Tam-se outros. Varias dissidéncias marcaram igualmente sua his- t6ria, umas antigas e atualmente desaparecidas, outras recentes. Elas estéo fora do nosso tema: o problema da iniciagéo das mulheres. Na época de sua fundacao, o feminismo fora a razdo de ser do Direito Humano. Maria Deraismes, falecida em 1894, assistira ao surgimento da Maconaria mista, mas a hora do triunfo das idéias feministas tardaria ainda. Conforme escreveu Jacques Mitterrand com muita propriedade, se o Direito Humano nfo tivesse surgido naquela época, com o transcorrer do tempo, ele, o Grande Oriente, viria a transformar-se na Magonaria mista, a qual, cedo ou tarde, se concretizaria, mas de forma totalmente diversa, ndo 4 margem. E por isso que, nos dias atuais, as insinuagdes sustentadas pelo Grande Oriente j4 nfo se justificam como no tempo das primeiras gerag6es do Direito Humano. O fato é — e Maria Deraismes jamais poderia té-lo previsto — que o Direito Humano tornou-se um saté- lite, um apéndice do Grande Oriente. Possufam um ponto em co- mum: 0 anticlericalismo, que anunciava essa evolucgio * desde o ini- cio do século. O jogo da “dupla filiago”, mesmo em um tnico sen- tido, faria imperceptivelmente o resto. Durante uma conferéncia proferida no Circulo parisiense da Liga francesa de Ensino, em 1968, o Grande Comendador Francis Viaud, intérprete autorizado que foi da doutrina do Grande Oriente, respondeu a uma pergunta com estas simples palavras: “Por que o Grande Oriente nao aceita as mulheres? Primeiramente por que nfo queremos destruir a Obediéncia mista do Direito Humano. Um dia ou outro, certamente, admitiremos as mulheres como Ilr... visitantes, mas se o Grande Oriente as admitisse amanha, o Direito Humano seria destrufdo no interior e€ seus préprios dirigentes néo se importariam.” * Limitemo-nos a um exemplo: na Assembléia Geral de 1906 do Direito Humano, a Ir (.-.) Julie Auberlet assim resume o relatério moral: “O femi- nismo ¢ o anticlericalismo tém sido o objeto de quase toda- as nossas discus- sdes.” (Cit. por A. LANTOINE, op. cit., p? 229). A. LANTOINE acrescenta: “Vamos reler tudo o que G. Martin escreveu a época em que o Direito Humano foi fundado: refere-se sempre & missio anti-religiosa da Franco- Magonaria; até parece que nfo existe outra. O Triangulo é oposto & Cruz, a Loja a Igreja. E dentro dessa concepcio que G. Martin quer associar a mulher aos nossos trabalhos.” (p. 213). — Anilise que € de uma exatidao absoluta. 125 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. camente). Certamente, Londres no podia ver com simpatia as lojas de mulheres, mas tal explicagéo, em 1935, é das mais duvidosas. E muito mais provavel que o Supremo Conselho estivesse cansado de ver mulheres, paramentadas com os adornos magénicos, mistu- tando-se aos homens, nos patios da Rua Puteaux e no bar do “Clu- be Escocés”, surpreendendo e irritando freqiientemente visitantes ma- gons americanos, As Lojas de Adocao protestaram, recusaram o presente e cla- maram pela expulsio. Todavia, acabariam por ceder e, apés a guer- ra, em 17 de setembro de 1945, surgia uma nova obediéncia, inde- pendente e exclusivamente feminina, que tomou o nome de Unifo Mac6nica Feminina da Franga, e posteriormente, em 1952, de Gran- de Loja Feminina da Franca (G.L.F.F.), que foi conservado. O au- xilio financeiro da Grande Loja da Franca facilitou sua reinstalacdo. Essa nova autoridade teve conseqiiéncias que a Grande Loja da Franca — cuja imprudéncia naquele tempo, causaria surpresa atualmente — néo havia previsto: a nova obediéncia mandou pelos ares os rituais de Adocao e usurpou o Ritual masculino, ligeiramente modificado; em seguida, realizada essa revolucdo, pretendeu ascen- der aos Altos Graus, até ao 33.° inclusive. Para esse fim, nado havia necessidade de dirigir-se ao Supremo Conselho, e simplesmente co- piar os rituais teria sido desonesto. Além do mais, era necessdria uma ceriménia de posse. Descreveremos mais adiante com que as- ticia o obstaculo foi contornado. Uma loja recusou-se 4 desfeminizagiio: a loja Cosmos, que teve a coragem de pedir sua demissio da obediéncia, de conservar os rituais de Adogio e, em seguida, de subsistir, nao obstante as int- meras dificuldades. Ela continua, invencivel e nica, a manter a tradicgio, apesar de ter-se reintegrado 4 G.LF.F., em 1976. A Magconaria feminina e mista no Exterior O fenémeno histérico e sociolégico das lojas de mulheres, em- bora essencialmente francés, no marcou menos varias Maconarias estrangeiras. Nem todas, porém. As Ilhas Britanicas nfo conheceram — nem podiam conhecer, mesmo no século XIX, levando-se em conta seu clima social — lojas andlogas as nossas lojas de Adocao. Ali, a introdugao da Ma- conaria feminina, ou mais exatamente mista, foi realizada gracas 130 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. sua regularidade e recebeu como resposta uma negativa fundamen- tada no Landmark de masculinidade existente “desde tempos ime- moriais”, o estranho Supremo Conselho nfo se eximiu de salienté-lo. Mrs. A. Bothwell-Gosse deveria exercer uma influéncia consi- deravel sobre a Maconaria feminina inglesa. Fundou a famosa re- vista verde The Speculative Mason. Essas quatro obediéncias consideram-se reciprocamente irregu- lares e¢ proibem a “‘intervisita”, nao obstante algumas tentativas frustradas de aproximagao, bem como um projeto federal que nao teve continuidade (1952). Em 1945, solicitado a estudar um outro projeto, o Direito Humano, na qualidade de obediéncia “decana” apresentou sua recusa. A Order of Women Freemasons, insistindo numa espécie de paixdo infeliz pela Ordem regular, critica a Co-Masonry nio s6 por admitir homens como também por manter relagdes com o Direito Humano porque este nao professa a crenca obrigatéria em Deus. Sem diivida a Co-Masonry, como foi dito, trabalha “para a gléria do Grande Arquiteto do Universo” e “para as trés grandes Luzes”, contentando-se, porém, com um simbolismo deista vago, enquanto a Order of Women Freemasons, declara-se teista, sem quaisquer subter- figios. Seu carater estritamente unissexual, verdadeiro masculinismo as avessas, unido a esse posicionamento de principios, nao péde, to- davia, vencer a recusa do Board, guardiao das tradigdes. Surpreendemo-nos a cada passo se quisermos fazer uma andlise mais acurada dessa Maconaria feminina inglesa, que nao se contentou com a anexagdo dos Altos Graus (do 4° ao 33°) do Rito Escocés Antigo e¢ Aceito, da Mark ¢ do Royal Arch. Existe nas ilhas Britanicas um certo nimero de graus particulares chamados Side Degrees (guardas laterais) ou Additional Degrees (graus adi- cionais). Eles tém sua propria hierarquia e seus préprios rgaos dire- tores. Citemos as ordens cavalheirescas de Saint-Laurent, o médrtir, da Cruz vermelha da Babilénia, de Sdo Joao, os 4 graus “cripticos”, o grau de Sublime eleito dos Vinte e sete, etc. Suas lojas, capitulos, conselhos, conclaves, etc. dominam a Gra-Bretanha e toda a Com- monwealth. A despeito de seus temas inicidticos totalmente viris, a Franco-Maconaria feminina assimilou-os. A exemplo das lojas azuis, as mulheres magons inglesas sao chamadas Brother, nao Sister, e as mulheres representam papéis de rei e de principe biblico ou de ca- valeiro. 134 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Iv. A BASE DO PROBLEMA Os resultados do movimento feminista permanecem até hoje irreversiveis, mas, saber se essa revolucdo da sociedade civil seria conveniente para a sociedade magénica, é uma quest&o que continua em pauta. Abriu-se ent&o uma espécie de processo, cujos documen- tos acabamos de analisar. Em vista desses elementos, resta-nos dar a palavra, ora 4 Acusacao, ora 4 Defesa, antes de fazermos um jul- gamento quanto aos fundamentos do problema. A Acusagdo. Os argumentos dos adversdrios da iniciagéo das mulheres, O requisitorio de Alberto Lantoine (1926). A argumentacaéo feminista procede de duas fontes. A primeira tem a seu favor uma longa tradigio esotérica, a qual podemos referir-nos aqui apenas por alusdes: simbolismo res- pectivo das duas Colunas, concordancias hermetistas com a natureza “solar” do homem e com a natureza “lunar” da mulher, 0 Ouro e a Prata, etc. Na Flauta Magica de Mozart, j4 citada, a Rainha da Noite dirige-se a Pamina nestes termos: “Teu pai, que aqui foi o chefe, despojou-se voluntariamente do Sol das 7 auréolas em favor dos Iniciados de Isis. Que um outro use agora o poderoso emblema solar sobre o peito: Sarastro. Um pouco antes de morrer, censurei-o por causa disso. Ent&o, ele me disse com severidade: “Mulher, minha morte est4 préxima; todos os tesouros que foram de minha propriedade privada, vé-los deixo, a tie A tua filha. — Eo Circulo solar, que engloba o Universo e o penetra com seus raios, a quem os deixas? — perguntei-lhe vivamente. — Que ele pertenca exclusivamente aos Iniciados, respondeu Sarastro, ser seu guardifio masculino, assim como eu mesmo © fui até agora. Nao me perguntes mais nada. Estas coisas sfio inacessiveis ao teu espfrito de mulher. Tu e tua filha deveis sub- meter-vos totalmente as determinagdes desses homens sAbios *.” * Reproduzimos aqui a traducio de J. CHAILLEY, op. cit. p. 100: En- colhida entre os bragos de Tamino, tocando a flauta encantada, Pamina pas- saré por provas perigosas, delas triunfando juntos. 138 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. voltado para os adeptos de René Guénon, que para seu Mestre “a iniciagéo magénica exclui as mulheres (0 que nao significa absolu- tamente que estas nfio sejam aptas para qualquer iniciagao)”. Para outros ainda, a Franco-Maconaria seria uma instituicgio constituida de dois objetivos completamentares, um moral, outro intelectual, orientados em simbiose para o aperfeigoamento da huma- uniads, Citemos o artigo 1.° da Constituicfo do Grande Oriente da ranga: Art. 1. A Franco-Maconaria, instituicfo essencialmente fi- lantrépica, filoséfica e progressista, tem por objeto a busca da verdade, o estudo da moral e a prdtica da solidariedade. Ela trabalha pela melhoria material e moral, pelo aperfeigoamento intelectual e social da humanidade. Esta definigao dos objetivos da Ordem, aplicada ao problema feminino, dispde contra ela mesma. A mulher é, na verdade, essen- cialmente altrufsta ¢ compassiva diante do sofrimento. A “filantro- pia” faz parte de sua natureza. No aspecto “filoséfico”, no momento em que as mulheres séo bem sucedidas nas provas para assistentes em filosofia, nfo se compreende por que razao estariam elas incapa- citadas para o grau de aprendiz. Quanto ao “progresso” do qual aqui tratamos, e que é obviamente o progresso social, o feminismo nao estaria incluido em seu programa? No entanto, o Grande Oriente nao admite as mulheres. Conseqiientemente, encontra-se em situagao plenamente contraditéria, o que nos leva 4 conclusdo de que o “prin- cipio” da Franco-Maconaria deve ser procurado indiscutivelmente em outra parte. O magom de tradig&o, deparando-se com o nosso problema, sur- preende-se com tantas definigdes dadas pelos homens a Franco-Ma- conaria, estranhas 4 que ela mesma se deu. Nao seria curioso que ela jamais se tenha explicado a respeito de sua verdadeira natureza? A falta de uma auténtica definigao causaria surpresa, e sua substituigao por ideologias forjadas ou aplicdveis a uma situagdo qualquer, ocasiona a transformagao de todo o Caminho, um caminho que n&o leva ao aperfeigoamento da humanidade, mas sim a um impasse. Na realidade, nfo € necessdrio debater-se 4 procura da verda- deira definicéo. Ela seré encontrada detalhadamente no préprio Ritual e foi nos primérdios da Franco-Maconaria especulativa que a Ordem se definiu. Folheemos o Ritual inglés, depositério de uma 145 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. impedindo-a. O tema em quest&o é que a mulher iniciada deve aten- tar para que sua escolha entre o bem e o mal seja diferente da que € feita pela mulher da humanidade decaida*. No grau supremo da Sublime Escocesa, longe de ser afetado, o tema inicidtico é o da mulher herdica. Judite surgia na loja, segu- rando nos bragos a cabega degolada de Holofernes**. Na época atual, semelhante dramatizacao “nio subiria 4 ribalta”, mas — era a época das tragédias de Crébillon — ela correspondia 4 “Katharsis” do momento. Em um livro deutero-canénico, Holofernes, que segundo a Biblia, foi assassinado durante a noite pela heroina, que corria perigo de vida, € a encarnagao do mal. A loja simboliza a cidade de Bettlia, assediada pelo mal, ou seja, a alma humana. Judite, apds uma auséncia consagrada ao cumprimento de sua missado, reaparece, gri- tando: “Vitéria!” E a vitéria de um ideal, o da mulher herdica, apogeu moral que, no final do século, sera realmente encarnado por Carlota Corday. O mérito das Lojas de Adocao era o de ter encontrado uma férmula ao mesmo tempo magénica e feminina, perfeitamente adapta- da a sua época. Desde entao a condic&o feminina foi-se modificando profundamente e, como consegiiéncia, havia outras f6rmulas a descobrir. Estamos sempre buscando, e os ritualistas do século XVIII nun- ca foram igualados, embora estivessem prontos para a substituicio. Quatro solugées parecem apresentar-se: 1. A exclusao. A exclusao incondicional das mulheres tem a seu favor, como vimos, toda a tradig¢éo macénica, bem como argumentos psicolégicos * A concepcfo de uma Eva transmitindo a Adio o fruto do conheci- mento iniciético recebido através da Serpente s6 aparecera muito tempo depois. Cabera a Oswald Wirth desenvolvé-la em seu Ideal Inicidtico, em algumas paginas perturbadoras. Ela no era conhecida pela Franco-Maco- naria do século XVIII. ** Estou inclinado a interpretar o grau de Sublime Escocesa como sendo © homélogo feminino do grau de Eleito, primeira forma do grau do cava- leiro Kadosch. O Ritual de Adogao havia encontrado sua férmula femi- nina enquanto o atual 30°, assumido por mulheres, cai por d4gua abaixo. A respeito do grau de Kadosch no século XVIII, ver o excelente estudo de Paul NAUDON, Jistéria e Ritual dos Altos Graus magénicos, p. 279 e se- guintes. 151 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Fedra — Eu estava ligada por lagos de amizade daquele que construiu este templo. Ele era de Megara e chamava-se Eupa- linos. Falava-me deliciado de sua arte, de todos os cuidados e de todos os conhecimentos que ela exige; fazia-me compreender tudo o que eu via com ele no canteiro de obras. Principalmen- te, eu observava seu espirito admirdvel. Descobria nele o po- der de Orfeu. Predizia o futuro monumental dos informes amon- toados de pedras e de vigas que jaziam ao nosso redor e esses materiais, por sua palavra, pareciam consagrar-se ao tinico lu- gar que lhes teria sido designado pela sorte propicia a Deusa. Quanta beleza em seus discursos aos operdrios! Neles, nem um 56 vestigio de suas dificeis meditagdes noturnas. Ele dava-lhes ordens e ntimeros, apenas. Sécrates — E o prdprio procedimento de Deus. Observe, Fedra, que quando decidiu fazer 0 mundo, o Demiurgo aborreceu-se com a confusio do caos... mas o construtor que ora apresento encontra pela frente, em lugar do Caos e da ma- téria primitiva, precisamente a ordem do mundo que o Demiurgo extraiu da desordem do inicio. A Natureza esté formada e os elementos estéo separados; mas algo existe que o leva a conside- rar inacabada sua obra, a qual deve ser remanejada e reativada, com o fim de satisfazer mais especialmente ao homem. Para ele seu ato procede do préprio ponto em que Deus parou. Paul VauéRy [Eupalinos ou DO ARQUITETO.) aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. Il. COMO SE DIVERSIFICOU A FRANCO-MACONARIA Antes de deplorar as divis6es da Franco-Magonaria, é neces- sério examinar-lhes as causas em profundidade. Que sio, alids, de uma gtavidade desigual. As divergéncia de Ritos. Esse primeiro aspecto é o menos grave. No momento em que se fundava em Londres, em 1717, a primeira Grande Loja, evitou-se que a Franco-Magonaria especula- tiva corresse o risco de se ver aniquilada antes mesmo de nascer, em razio das diversidades religiosas que haviam assolado as ilhas Britanicas. As Constituigées de Anderson que se seguiram em 1723 contém em seu artigo I um trecho célebre: “But though in ancient times Masons were charg’d in every Country to be of the Religion of that Country or Nation, what- ever it was, yet'tis now throught more expedient onlv to oblige them to that Religion to wich all men agree, etc.” “Embora nos tempos antigos os macons fossem obrigados, em cada pais, a pro- fessar a religido daquele pais ou nagio, fosse qual fosse, na época atual 6 aconselh4vel impor-lhes essa obrigacio apenas com re- feréncia & religiio aceita por todos os homens, etc.*” Alguns julgaram reconhecer neste trecho um objetivo filoséfico de grande envergadura. Era, em nivel bem mais modesto, uma transposi¢éo magénica do Toleration Act que dotara de um estatuto os Dissenters, ou seja, os protestantes nfo anglicanos. O principio de direito piblico Cujus regio ejus religio, que impunha “in ancient times” aos siditos a religido do Principe, “fosse-qual fosse”, com * Uma variante notével, o Documento francés, Deveres Impostos aos Ma- gons Livres, 1735, refere-se A “religiio com a qual todo cristéo concorda”, acompanhando o plano das ConstituigGes de Anderson artigo por artigo. 160 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. nio pensamos assim. Com efeito, em Quem é regular? (1938), Oswald Wirth rejeitaria a prépria nog&o de obediéncia, conseqiiéncia sem divida extrema, mas o coroldrio da teoria. Conjeturou-se que a m4xima fora uma adaptagio, bastante infe- liz, da de Cavour: “A Igreja livre no Estado livre.” Ela aparece na hist6ria da Maconaria francesa no perfodo da secessio da Grande Loja simbélica escocesa, sem vestigios de uma fundamentacio em toda a tradicéo anterior. Quanto ao seu corolario, fosse ele posto em pratica, e a Magonaria teria caido novamente no estado de anar- quia do qual escapara gracas aos acontecimentos de 24 de junho de 1717. De qualquer forma, esse é um dos pontos que tornam mais evidente a diviséo entre as obediéncias francesas. Usado como argumento contra o principio da territorialidade, a ele se opde integralmente, mas, dada a inexisténcia de seu valor histérico, é nula sua forma probante. No ultimo estagio da confrontagio das idéias, podemos resumirt as respectivas posigGes das idéias da seguinte mancira: A Grande Loja da Franca, continuando, sob esse aspecto, a tradigao do antigo Supremo Conselho do Rito Escocés Antigo e Aceito anterior a 1894, é claramente hostil ao principio de territo- tialidade, o que é compreensivel: foi em seu nome que, no decorrer dos dois ultimos séculos, o Grande Oriente tentou por onze vezes, segundo as palavras de Lantoine, absorvé-la*. Desde 1827, 0 conde Muraire, Soberanissimo Comendador, insurgira-se contra essa poli- tica**. Em 1862, foi o famoso incidente Viennet-Magnan. A partir de 1894, a doutrina da Grande Loja nao tem sofrido variagdes***. O Grande Oriente da Franga foi sempre um adepto desse prin- cipio, o que lhe traria vantagens, apoiando-se em sdlidos argumentos, pelo menos durante um longo periodo. A julgar pelas aparéncias, na época atual, usando de maior objetividade, sem renunciar aos * Ch. RIANDEY, O Problema da Unidade da Magonaria na Franga, estu- do publicado nos Anais Magénicos Universais, junho de 1931, vol. II, n.° 3. ** Conde MURAIRE, Da Independéncia dos Ritos Mag6nicos, 1827. *** J. SAUNIER (Os Franco-macons, p. 266-267) referiu-se a “ambigiii- dade” do conceito de regularidade e criticou o principio de territorialidade por estar contaminado por uma juridicidade desprovida de qualquer importincia iniciética. Jean BAYLOT respondeu-Ihe em termos que podem parecer-nos enigméticos, mas que o leitor bem informado, ou suscetivel de sé-lo, poderé ler em Os Trabalhos de Villard de Honnecourt, 1972, volume VIII, p. 143. 166 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. O dualismo assim originado teria os seus teéricos. Para a Grande Loja da Franca, apesar de algumas resisténcias da retaguarda do Supremo Conselho, a vitéria da tendéncia Mesu- Teur era total, e a obediéncia trilhou o sulco do Grande Oriente. A reacéo suscitada por Oswald Wirth estava ainda por vir, e, ao mesmo tempo que conservava a férmula do Grande Arquiteto do Universo, o espirito da grande maioria das lojas da época pouco diferia do espirito da Rua Cadet*. A tendéncia qualificada de “latina” procurou concretizar-se sob a forma de uma organizacéo internacional. Esse resultado seria alcangado com a fundagéo da U.F.I. (Universala Framasona Ligo, em esperanto), criagio de macons esperantistas (1913). Apesar dos sarcasmos de Albert Lantoine contra o esperanto, o objetivo foi atin- gido. Em 1929, instalou-se na Suiga um congresso ao qual até mesmo os esperantistas ingleses foram convidados. A Grande Loja da Inglaterra no se opés a que 0 convite fosse aceito, contanto que fosse de cardter individual, e que ninguém pretendesse arvorar-se em Tepresentante da Franco-Maconaria britaénica (Quaterly Communi- cations de 4 de setembro de 1929)**. Em 1947, a organizagéo despertou do sono em que mergulhara durante a Segunda Guerra Mundial. Os primeiros passos para o seu reagrupamento foram diffceis, mas nem por isso deixou de alcangar sua primitiva posigéo. Hoje, ela se encontra em plena atividade. * A interminével ladainha das rupturas e das reconciliagdes entre as duas obediéncias deveria durar ainda, até ao “rasgo do bisturi” de 1965. H. F. MARCY, que sempre manifestara sua hostilidade contra o Escocismo, morreu sem ver publicado o volume III de seu Ensaio Sobre a Origem da Franco- Maconaria e a Histéria do Grande Oriente da Franca. A leitura de Pede-se Inserir havia provocado certa inquietagéo, em virtude da comparacio entre a aristocracia dos Altos Graus escoceses com “a nobreza de Monsieur Jourdain”. Um pouco antes de sua morte, 0 eminente historiador escrevia-me pessoalmen- te: “Encontrei um documento que me dara a oportunidade de dizer certas verdades aos arrogantes escoceses, que conseguem no pais da democracia do délar uma proliferagio que nada acrescenta ao seu brilho, nem ao seu valor moral.” — Os herdeiros de H. F. Marcy nao autorizaram a publicacio do livro, impedindo, assim, que a bomba explodisse. ** O Diciondrio Universal da Franco-Magonaria publicado em 1974 sob a direg&o da Daniel LIGOU comete um erro ao registrar (art. L.U.F., p. 1336) que a Grande Loja da Inglaterra havia “autorizado” as adesées britfnicas. Em 1965, voltando & questo, ela deveria frisar até, que as proibigdes con- tinuavam, sob pena de cancelamento (Quarterly communications, 8 de setem- bro de 1965). 171 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. sua prépria imagem, dotando-o de inteligéncia e de forga fisica, para que pudesse conquistar as ciéncias e dedicar-se 4s artes que sio cultivadas por toda nacdo civilizada. Nao é de nossa com- peténcia analisar o motivo pelo qual Ad&o perdeu seu primitivo estado de felicidade, especialmente quando é o préprio autor (do Livro) inspirado quem no-lo informa; basta notar que ele atraiu sobre si a expulsio do Eden em razdo de sua desmentida ambigio do saber, que ele se atreveu a querer dominar antes do tempo, através de um ato proibido. Foi assim que ele atraiu sobre si mesmo e sobre sua posteridade condenada o severo castigo de ser obrigado a comer 0 po com o suor de seu rosto, ede levar uma vida de trabalho até que, com a perda total de suas forgas vitais, sobrevenha a morte.” Diante desse texto, o que resta da interpretagao de J. Cor- neloup sobre a doutrina dos Moderns? Acrescentemos que uma tradicaéo implica numa cadeia continua. Que outras autoridades poderiam ser invocadas para um novo ata- que? Nenhuma. Ao fazer alusio a teoria da “dupla tradicéo”, Jean Baylot concluiu por um julgamento contundente, mas bem alicer- gado: “Todos os textos a condenam. A teoria das ‘duas tradicdes’, recentemente inventada, é absurda. Seus adeptos estio impossibilita- dos de citar um minimo fato em sua avaliagio de 1723 a 1877, ou seja, em mais de um século e meio.” (Oswald Wirth, p. 208). INTRODUCTORY OBSERVATIONS, Thefe neceffary confiderations being premifed, we may proceed to relate, that the Almighty archite& of the univerfe having prepared, this globe, and replenifhed it with all its animal, vegetable and mine« ral furniture, asa habitation fit to receive the clafs of rational beings his wifdom detcrmined to place in it *; he created man in his own image, and endued him with a capacity of mind, and powers. of body, for acquiring thofe fciences, and exercifing thofe arts, that are fo fuc- cefsfully cultivated by every civilized nation. How Adam forfeited the ftate of felicity in which he was originally placed, is not our peculiar province to inquire, farther than we are informed by the infpired pen- man: it is fuflicient to remark, that he incurred banifhment from the garden of Eden, by too eager a defire for knowledge, which he ven- tured to anticipate the: poffeflion of, by a prohibited aGt. Hence he entailed upon him(elf and all his finful pofterity, the fevere punifhment 179 aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. MENSAGENS PROFETICAS DO “PAPA BOM” Renzo Baschera “Venho da humildade: fui educado numa pobreza estrita ¢ aben- goada, pouco exigente, mas que garante o desabrochar das mais altas e nobres virtudes e prepara para as grandes ascensGes da vida. A Pro- vidéncia tirou-me da aldeia natal e fez-me percorrer os caminhos do mundo no Oriente e no Ocidente (...), colocando-me face a proble- mas sociais agudos e ameagadores, diante dos quais eu conservava a calma e 0 equilfbrio de julgamento e imaginagdo, sempre muito preocupado (...) mais com aqueles que unem do que com os que separam e suscitam oposigGes (...)” Humildade, pobreza, grandes vocagées, caminhos do mundo, pro- blemas sociais agudos, calma, equilfbrio e imaginagéo, unido e sepa- tagéo — foram estas nfo apenas algumas das palavras fortes que o entio cardeal Angelo Giuseppe Roncalli (1881-1963) pronunciou em Veneza, em 1953, como principalmente palavras-chave, nas quais o futuro papa apoiou suas determinagées ao longo de uma vida que real- mente foi digna de ser vivida e imitada, Aquelas palavras ressumam forte tom profético, sendo elas também palavras de quem sabe o que quer, © para quem “o mundo se abre para deixar passar aquele que sabe para onde vai”. Primogénito nascido no campo, cuja familia trabalhava de parce- tia nas terras de Soto-il-Monte, Angelo foi mandado primeiro para o Seminario Episcopal de Bérgamo. Aos 14 anos recebeu a tonsura. Em 1904, doutorou-se em Teologia, ¢ no mesmo ano foi ordenado sacer- dote. Na qualidade de secretério de Dom Giacomo Radini-Tedeschi, um bispo progressista, conscientizou-se dos problemas sociais, con- cluindo pela ineficigncia da caridade cristéa. A convite do Papa Ben- to XV aceitou trabalhar na Congregacio da Fé. Reorganizou o cato- licismo na Bulgaria, conciliou as ideologias catélico-mugulmanas na Turquia ¢, em 1944, assumiu o cargo de nincio em Paris e, oito anos mais tarde, 0 Papa Pio XII o promoveu a cardeal. Em 28 de outubro de 1958, 0 mundo todo acompanhou atento a sua eleicio a0 papado. Dizia-se que Joao XXIII iria ser tio-somente “um papa de transicao”, logo mais sucedido por um jovem, o cardeal Giovanni Battista Mon- tini, o unico capaz de enfraquecer o materialismo ¢ fortalecer a Igreja. © Sacro Colégio nao estava inclinado a ver em Joio XXIII senio o seu aparente lado bonachio e conservador. No entanto, o mundo soube, entre espantado e curioso, admirar esse reformador corajoso, cujas pa. lavras, como o leitor poderé comprovar por estas Mensagens Proféticas, foram sempre da témpera defendida por Sao Paulo: “E eu quero que todos vés faleis linguas estranhas, mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala linguas estranhas Gey EDITORA PENSAMENTO aa You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. OS GRANDES PROBLEMAS DA ATUAL FRANCO-MACONARIA Alec Mellor Um cat6élico pode ser magom? As mulheres acham-se aptas para © exercicio da franco-maconaria? Chegar4 o dia em que as intimeras obediéncias francesas tornar-se-Ao unificadas? Estes trés grandes pro- blemas, ao se presentificarem, agitam-nos, molestando a atual franco- magonaria, que, fiel & sua Verdade, nfo tem em mira outra coisa que n&o manter aberta a via de acesso para essa Verdade. Autor de um Diciondrio de Franco-Maconaria, bastante lido e respeitado, Alec Mellor revela aqui o contetido dos mais antigos dossiés, escan- carando portas que em todas as épocas estiveram fechadas a sete chaves. Com ele, o leitor penetra no interior das Lojas, animando-se com o calor dos debates, quer os de natureza histérica, quer os que se assentam na realidade contempordnea. O leitor admitiré ser necessdrio certa coragem para abordar problemas como estes. O Autor de Os Grandes Problemas da Atual Franco-Maconaria jamais se omitiu, tanto é verdade que, em todas as ocasides, fez-se pioneiro, notadamente quando dos acertos de conta da Franco-Maconaria com a Igreja. Dessas posigdes, algo teme- rérias, procedem a franqueza e o volume de informagGes que, pela primeira vez, séo dados a lume. Trata-se, enfim, de um dossié perturbador, capaz até mesmo de chocar, mas que, no entanto, constitui obra de referéncias na qual tudo parece dito e medido pelos instrumentos mac6nicos — simbolos daquela perfeigdo construtiva, meta suprema da Franco-Maconaria. GRANDES PROBLEMAS DA ATUAL... ISBN 6531500764 EDITORA PENSAMENTO I | 788531 |

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