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Dependência psicológica da ajuda dos espíritos

Texto inédito de Rita Foelker


O espiritismo desencoraja formalismos e automatismos. Nenhum
ritual mecanizado, nenhuma repetição de gestos e palavras pode
substituir a energia da vontade e do sentimento. Como fé esclarecida
por princípios racionais, o espiritismo solicita de seus adeptos
reflexão em seus atos e compreensão da natureza das forças que
agem além da matéria.
Muitos de nós, contudo, ainda precisamos de muletas
psicológicas. Precisamos de noções e atos simples, freqüentemente
automáticos, que nos dêem a sensação de estarmos amparados,
ainda que não se sustentem perante uma análise mais aprofundada
de seus mecanismos.
Refiro-me a práticas comuns como anotar os nomes das pessoas
conhecidas no caderno de vibrações da casa. Ou receber o passe,
obrigatoriamente, toda vez que se vai ao centro espírita,
independente observarmos se estamos realmente necessitados ou
não. Ou tomar a água fluida sempre que se chega ou que se sai,
sentindo como se algo estivesse faltando quando não o fazemos.
Uma das coisas que sempre me chamou a atenção em Calunga ,
meu querido amigo espiritual, é sua constante orientação para que
abandonemos esse tipo de atitude.
Com muita razão, ele pede para sermos responsáveis por nossos
pensamentos, sentimentos e ações, pois quando, por exemplo,
pegamos o caderno de vibrações e relacionamos os nomes de
nossos familiares, amigos, vizinhos ou conhecidos, muitas vezes não
sabemos se o caso de cada uma dessas pessoas necessita de um
atendimento espiritual específico. Fazemo-lo por hábito,
simplesmente.
Pensando melhor: será que já buscamos dialogar com cada um,
ver se nós podemos ser úteis de alguma forma ao auxílio daquela
criatura? Ou simplesmente delegamos a tarefa aos amigos
espirituais e nos sentimos livres do encargo e, simultaneamente, com
a consciência tranqüila por termos feito "algo"?
O passe é um recurso oferecido por todos os grupos espíritas de
forma ampla e generosa. Mas não é por isso que precisamos abusar
deste recurso. Antes de entrar na fila do passe como sempre,
perguntemos a nós mesmos: sentimos que precisamos receber
aquele tipo de ajuda naquele momento?
Será que já pensamos que além de receber o auxílio, é
importante comparecer à casa espírita igualmente para doar algo de
nós mesmos, sejam bons pensamentos, preces, amizade,
companheirismo ou algumas horas de colaboração na manutenção
do prédio, por exemplo?
Certamente, o Pai conhece nossas necessidades, bem como
nosso carinho por aquelas pessoas de nosso círculo de relações que
entendemos estar em sofrimento. Creio que isto seja levado em
conta em cada caso particular. Entendo que nossas preces sinceras,
todas elas, recebem um tipo de atendimento, não segundo nossos
pedidos e inquietações, mas segundo a sabedoria presente nas leis
divinas que governam nossos destinos.
Contudo, isso não nos exime do dever de amadurecer, de agir
com consciência ao escrever um nome, ao fazer um pedido por
qualquer pessoa ou ao sentarmo-nos para receber os eflúvios do
passe.
Quanto às muletas psicológicas, se ainda precisamos, talvez já
seja tempo de abandoná-las. Lembremo-nos da orientação do
Mestre ao paciente recém-curado: "Levanta-te, toma o teu leito e
anda" (Jo 5, 8).
Quando nos sentimos mais fortalecidos, tanto pela amorosa
receptividade dos responsáveis pelo atendimento fraterno, quanto
pelas energias do passe e pelas leituras e palestras que ouvimos, é
o momento de pensar em abandonar hábitos antigos e caminhar com
nossas próprias pernas.

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