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DISCÍPULOS

MISSIONÁRIOS
DO SALVADOR
ARQUIDIOCESE EM MISSÃO
200 8 /2 01 0
Pastoral 2008\2010
Pela condução dos trabalhos de elaboração participativa destas novas
diretrizes pastorais, agradecemos aos membros da
COORDENAÇÃO EXECUTIVA DE PASTORAL:

Dom Josafá Menezes da Silva – Coordenador


Dom João Carlos Petrini
Dom Gregório Paixão, OSB
Pe. Guido Zendron
Pe. Manoel de Oliveira Filho
Cônego José Carlos Santos Silva
Diácono Raimundo Moreno de Almeida
Sra. Regina Fraga
Pe. Antônio Ademilton da Santa Bárbara – Secretário executivo
Pe. Lázaro Silva Muniz – Secretário executivo
Pe. Carlos André da Cruz Leandro - Assessor

Capa: Quadro de Nina Ivana


MENSAGEM PASTORAL SOBRE AS MISSÕES

“Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações,


e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado.
Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”
(Mt 28, 19-20)

As Diretrizes para a Ação Evangelizadora da nossa


Arquidiocese, lançadas em novembro de 2003, para serem aplicadas nos
anos 2004-2007, foram motivadas pelo anseio missionário – “Queremos
ver Jesus, Caminho Verdade e Vida” e, por isso, apontaram para uma
mobilização geral da nossa Igreja, em vista da sua irrenunciável vocação
missionária.
O texto das Diretrizes, que enfrenta os novos desafios para a
ação evangelizadora, está articulado em três eixos: Fontes da Missão (a
Palavra de Deus, a Liturgia, a Caridade), Terra da Missão (nossa
realidade – urbana/rural –, sua cultura plural e sua religiosidade),
Caminhos da Missão (pistas e projetos para a ação missionária).
O ponto de chegada das nossas Diretrizes foi, então, o ano
missionário celebrado em 2007. A partir da abertura e do envio dos
missionários, no dia 03 de dezembro de 2006, muitas iniciativas e
atividades marcaram o percurso da vocação missionária da nossa Igreja
neste ano. A Realização no Brasil da V Conferência do CELAM
enriqueceu ainda mais a nossa programação missionária. A alegria e a
graça de ser cristão, sublinhadas no Documento de Aparecida, vêm
sendo vivenciadas por uma multidão de irmãos que redescobriram a
beleza de ser e de fazer discípulos de Jesus Cristo, Nosso Salvador.
Permanecer com Jesus é um convite que Ele mesmo nos dirige
para nos revelar o que Ele espera de nós e o que só Ele pode nos
oferecer.
A GRAÇA DE SER IGREJA
Ao escrever esta mensagem aos meus Padres, Diáconos,
Seminaristas, Religiosas e Religiosos, Consagrados e Consagradas,
Catequistas, Coordenadores e Membros de Conselhos Paroquiais e
Movimentos e a todos os homens e mulheres de boa vontade, do

3
território da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, o faço com grande
alegria.
Nesses oito anos de pastoreio na Arquidiocese, pude constatar
que esta Igreja se realiza em uma cultura riquíssima, em valores
religiosos e solidariedade, sinal de que a Palavra do Senhor encontrou
terreno fértil e pessoas capazes de trabalhá-lo. As causas da Beata
Lindalva Justo de Oliveira e da Serva de Deus Dulce Pontes são
exemplos reconhecidos.
Quando faço as visitas pastorais, presido as celebrações das
festas dos padroeiros e do Crisma; quando recebo em audiências os
fiéis que me procuram ou participo de reuniões do Clero, dos
Conselhos, tenho consciência da riqueza imensa, construída nestes 456
anos de ação evangelizadora.
A nossa Arquidiocese em todas as suas regiões e ambientes
pastorais, porém, sofreu as transformações repentinas da
industrialização e urbanização dos nossos tempos. Nos diversos
âmbitos sentimos a ruptura entre evangelho e cultura, percebida pela
Evangelii Nutiandi. A Ecclesia in America e a Conferência de Santo
Domingo reconheceram o grande desafio da cultura urbana e a urgência
de empenho missionário, com novos métodos e um discipulado
ardoroso e criativo.
Depois de ter presidido a Conferência de Aparecida e
recebendo o seu documento final, estou convencido que também para
esta querida porção do povo de Deus é importante “recomeçar a partir
de Cristo, reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma
decisão ética ou por uma grande idéia, mas pelo encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa, que dá novo horizonte à vida e, com
1
isso, uma orientação decisiva”.
Os últimos anos de nossa caminhada pastoral já testemunharam
grande impulso missionário com a publicação das “Diretrizes da Ação
Evangelizadora 2004-2007”. O novo Projeto Discípulos-missionários do
Salvador, 2008/2010, inspirado na Conferência de Aparecida e nas
orientações do Papa Bento XVI, quer abrir nova estação missionária
capaz de envolver todas as forças eclesiais.

1
DA 12.

4
Por isso, desejo que minha mensagem seja reflexo da revelação
do amor de Deus pela humanidade, em Jesus Cristo, e chegue ao
coração de cada fiel da Arquidiocese, aos lares e aos hospitais, às
cadeias e escolas, aos veículos de comunicação e paróquias, aos centros
de convergência das massas e às distantes realidades solitárias. Espero
ser ouvido por crianças e jovens, adultos e idosos, homens e mulheres.
Em vista disso recomendo:
FIQUEMOS COM O MESTRE.
Nossa realidade tão rica, com tanta possibilidade de realizações,
é marcada, por tristezas que fazem doer o coração. Historicamente
nosso povo sofre espoliação, exclusão que mina a auto-estima, violência
que desfaz o sorriso e faz brotar a lágrima.
Desejamos, sempre, algo fazer para mudar esta situação. E o
desejo é profundo.
Contudo, meus irmãos e minhas irmãs, o fazer em si
desprovido de atitude mais evangélica, pode levar à desilusão sem
medida, conseqüência de expectativa não realizada. Nosso tempo pode
ser caracterizado como o tempo da frustração.
A modernidade iluminista-racionalista ofereceu, pelo viés das
ciências e das ideologias, tantas soluções para todos os problemas,
gerando tanta esperança. Mas todas elas, embora oportunas, no campo
da política, da economia, da medicina e suas derivações, não foram
suficientes para trazer à pessoa humana a felicidade desejada. A grande
expectativa não sendo realizada, gera frustração equivalente.
Aprendemos, assim, que a vida cristã não pode, a reboque da
vida cidadã, ser seqüência infindável de afazeres e de utilização de
métodos e técnicas, embora sejam todos eles importantes.
Somos homens e mulheres do ser. E, deste ser, nasce o nosso
fazer e o nosso estar.
No fundo, a felicidade que o homem e a mulher
contemporâneos buscam nada mais é do que nostalgia de Deus,
saudade do infinito, desejo de religação com a transcendência.
A essa aspiração, só podemos satisfazer, oferecendo não a nossa
técnica, mas a nossa experiência com Deus, o nosso estar com Ele.
É preciso desejarmos ardentemente fazer experiência com Jesus
Cristo. É preciso ir e ver o que faz Jesus (cf Jo 1,39); é preciso ficar com
ele no Tabor e achar “muito bom”, a ponto de não desejar sair, viver

5
aquele momento com Ele (cf. Lc 9, 33); é preciso perder tempo aos pés
do Cristo, escolhendo a melhor parte (cf. Lc 10, 38ss).
Nosso discipulado deve ser experiência concreta do amor de
Cristo, mergulhado na sua misericórdia. Um estar com Ele.
Amados Padres, Diáconos, Seminaristas, Religiosos e Religiosas,
Consagrados e Consagradas, Pais e Mães de família, crianças, jovens e
idosos! O Povo de Deus em nossa Arquidiocese espera de cada um de
nós o brilho no olhar, o nosso sorriso, a felicidade estampada em nosso
rosto por causa da nossa pertença a Jesus Cristo, na Igreja Católica.
É preciso que, retomemos o “primeiro amor” (cf. Ap. 2, 4-5).
Só deste amor 1º nascerá a ação que, utilizando-se dos recursos técnicos
e metodológicos, fará surgir nova primavera em nossa Arquidiocese.

O CRISTO ESPERA POR NÓS E ESPERA DE NÓS.

ELE ESPERA POR NÓS:


Na oração pessoal, especialmente, na leitura orante da Bíblia,
tempo-espaço de encontro íntimo com o Cristo. Ele quer saber das
nossas alegrias e tristezas, das nossas possibilidades e frustrações, na
ternura do encontro.
Na celebração dos Sacramentos, especialmente na Confissão e
na Eucaristia.
Aqui dirijo uma palavra especial aos queridos sacerdotes:
sejamos todos portadores da Misericórdia de Deus, tesouro em nossos
“vasos de barro”, através do sacramento da reconciliação. É preciso
tempo disponível para o acolhimento aos fiéis que buscam a confissão.
Que a Eucaristia dominical, e quanto possível também durante
a semana, seja imprescindível para os fiéis, não como obrigação
legalista, mas como necessidade do encontro com o Amor do Pai, em
Cristo Jesus.
Na vida comunitária, Deus, que pode tudo, poderia ter querido
ser um deus individualista. Mas quis e quer ser Deus comunhão perfeita
na Comunidade Trinitária.
Por isso Jesus, para que participássemos da sua Obra, desejou
formar comunidade com os discípulos e, depois, desejou que esta
comunidade se perpetuasse na história como Igreja.

6
Nossa fé cristã-católica é, portanto, fé pessoal e vivida em
comunidade. Nela, seja na Paróquia, no Movimento, no Grupo, na
Pastoral, nas CEB’s, fazemos a experiência do encontro com o Cristo e
lá Ele nos espera.

ELE ESPERA DE NÓS:


Na família. Precisamos renovar as nossas famílias para que
continuem sendo o que nunca poderiam deixar de ser: escola de
comunhão, Igreja doméstica. Temos uma grande responsabilidade de
presença cristã no seio da família, anunciando a todos os seus membros
o amor de Deus. Assim, pais, assumam a educação na fé dos seus
filhos, educai-os com pedagogia inspiradora no Senhor; filhos, escutem
e obedeçam a seus pais, pois isso é de justiça (Fl. 6,1-4) e sejam
evangelizadores dos amigos e amigas.
Na escola e na universidade. O Cristo espera dos cristãos e das
cristãs postura altaneira no seio da comunidade educativa. Não seremos
proselitistas, mas não abdicaremos de testemunhar nossa fé, através da
alegria da pertença e da palavra pronta a dar as razões da esperança (cf.
1 Pd 3, 15).
Nas realidades de dor e tristeza. O Cristo espera de nós uma
ação transformadora no meio do mundo, especialmente, entre os que
mais sofrem. Tantas vezes em sua vida pública Ele foi ao seu encontro,
levando-lhes o conforto da sua presença. Agora esta atribuição é nossa.
Não vamos a eles levando a nós mesmos e a nossas ideologias. Já
sabemos a força de frustração que semelhante atitude carrega.
Dirijamo-nos ao encontro dos pobres com a força de Jesus Cristo. Ele
nunca falha: “Sem Ele nada podemos fazer (cf Jo. 15,15).
Creio, firmemente, que nossa ação social é evangelizadora. Que
assim ela seja. Com a ação e a palavra, digamos ao mundo que, crermos
em Deus, amamos o irmão.
No mundo do trabalho. Estamos vivendo a “semana da
criação”. O trabalho não é apenas meio de sustentação ou peso
carregado por falta de opção. Ele é colaboração na obra da ação
evangelizadora. Vivamos o tempo de trabalho na alegria de quem serve
a Deus, no serviço dos irmãos. Com certeza, a partir de postura nova
diante do trabalho, muitos colegas virão ao nosso encontro perguntar
por que agimos assim. E saberemos dizer que a razão de nossa

7
felicidade e compromisso ao trabalhar é a consciência que temos de que
estamos colaborando com Deus.
Este tempo deve ser também tempo do testemunho explícito da
fé. Não nos omitamos nunca de falar de Deus aos nossos irmãos.
O que Cristo espera de nós, enfim, no diálogo com o diferente.
Vivida no amor, as diferenças humanas formam belo mosaico, fruto de
adesão a Jesus Cristo. E nós cristãos, devemos ser os primeiros
promotores da comunhão na diferença. O diálogo com as culturas e
com as outras manifestações religiosas, através do convívio com nossos
vizinhos e parentes, que não comungam da nossa fé, será um eloqüente
testemunho dado no meio do mundo.
Amados irmãos e irmãs, fiquemos com o Mestre.
Permaneçamos com Ele e, a partir deste estar, sejamos e façamos
acontecer em nossa Arquidiocese um tempo novo no amor e na
comunhão, como convém a Discípulos e Missionários de Jesus.
Ao amado Senhor do Bonfim e à Sua e nossa Mãe, a Imaculada
Conceição da Praia, confio o nosso Projeto Pastoral e cada um dos
meus arquidiocesanos.
Dado e passado em nossa Cúria Metropolitana Bom Pastor no
dia da Santa Padroeira das Missões, Santa Terezinha do Menino Jesus,
em 1º de Outubro de 2007.

Dom Geraldo Majella Agnelo


Cardeal Arcebispo de São Salvador da Bahia
Primaz do Brasil

8
INTRODUÇÃO

“Levemos nossos navios mar adentro,


com o poderoso sopro do Espírito Santo, sem medo das tormentas,
seguros de que a Providência de Deus nos proporcionarágrandes surpresas”.
(Documento de Aparecida, 551)

O Projeto Ser e Fazer Discípulos de Jesus: Diretrizes para a Ação


Evangelizadora 2004-2007 culminou com a realização do Ano
Missionário – Discípulos e Missionários do Salvador. A pergunta que muitos
faziam nas reuniões e nas conversas, desde o início de 2007, era como
prosseguir crescendo depois destas duas fecundas iniciativas pastorais
da Arquidiocese de São Salvador da Bahia.
No dia 09 de junho de 2007, se reuniu o Conselho
Arquidiocesano de Pastoral e sob o impulso da Conferência de
Aparecida veio à tona a preocupação pela continuidade do processo de
evangelização na Igreja Primaz do Brasil. Foi então que Dom Geraldo
Majella e Dom João Carlos Petrini, protagonistas da V Conferência,
confirmaram a intuição que tivemos lendo a “Mensagem aos Povos da
América Latina e do Caribe” e o “Resumo do Documento Final”: o
impulso missionário é essencial para o futuro da Igreja Católica em
nosso continente. Lendo os resultados até então conhecidos da
Conferência de Aparecida, fizemos uma primeira proposta de projeto
pastoral: “Discípulos e Missionários do Salvador. A Arquidiocese
participando da missão continental”.2
Aprofundando esta reflexão, reunimos mais de 1.200 pessoas
no Colégio Antônio Vieira em julho para a Jornada Teologia. Na parte
da manhã Dom Walmor apresentou o tema: “Salvador, uma Igreja em
estado permanente de missão”. Na parte da tarde reuniram-se em
círculos os diversos sujeitos pastorais: “padres e diáconos”,
“movimentos e associações”, “coordenadores dos conselhos e das

2
Situação semelhante vivia os pastores da Igreja no Brasil, de modo que durante a 45ª.
Assembléia Geral da CNBB, em Itaci, ficou decidido que se aguardaria o Documento de
Aparecida para atualizar as Diretrizes da Ação Evangelizadora ainda vigentes.

9
pastorais” e “estudantes de teologia”. Eles refletiram como dar à ação
pastoral uma conotação mais nitidamente missionária e evangelizadora.
Ao final da Jornada Teológica estava mais claro o caminho a seguir: a
exigência pastoral é colocar a Igreja de Salvador em estado permanente
de missão, escolhendo três campos missionários, três prioridades para
serem vividas intensamente nos próximos anos.
Ao longo dos encontros que se seguiram à Jornada Teológica,
foram se consolidando as prioridades para o triênio 2008/2010:
“Evangelização da Cidade, Evangelização da Juventude e da Família”.
A partir de então, sempre que a pauta das reuniões gerais e regionais do
clero, dos vigários episcopais, dos forâneos e do Conselho
Arquidiocesano de Pastoral permitiam o embrião do projeto era
apresentado, discutido e encaminhado. No dia 08 de agosto colocamos
no site da Arquidiocese, à disposição das instâncias pastorais
(paróquias, foranias, movimentos, associações, pastorais, irmandades,
etc), o esboço das diretrizes pastorais para o triênio 2008-2010, pedindo
as bases eclesiais que participassem do processo, mandando sugestões,
sobretudo, “pistas de ação” para as “prioridades”. Recebemos muitas
contribuições, inclusive da parte da CAMEC e das Pastorais, de modo
que cada vez mais o texto adquiria sua consistência.
Finalmente, no dia 24 de outubro no CTL de Itapuã, por
ocasião do encontro do clero com o Professor Pe. Mário de França
Miranda sobre a Conferência de Aparecida, foi lido o projeto e
formuladas diversas observações, correções e sugestões. As indicações
de método vindas do clero foram decisivas para o texto que temos nas
mãos: seguir de perto as motivações pastorais do Documento de Final
de Aparecida e encontrar os instrumentos para atualizá-las para a
realidade concreta da Arquidiocese. As Diretrizes da Ação Evangelizadora e
o Manual do Ano Missionário foram preciosos para trazer as “Pistas de
Ação” de Aparecida para o chão de Salvador e sugerir as “Ações
Estruturantes” necessárias para a sua concretização.
Discípulos Missionários do Salvador: Arquidiocese em Missão é o nome
do projeto pastoral arquidiocesano para o triênio 2008-2010. A
“Mensagem Pastoral sobre as Missões” do nosso Cardeal Dom Geraldo
Majella Agnelo define a pastoral como anúncio permanente do
evangelho de Jesus Cristo. A motivação teológica aparece sintetizada na

10
parte primeira, intitulada “Missão de Cristo, Missão da Igreja”; o
segundo estágio da nossa reflexão recorda que para realização do
mandato missionário de Cristo, os “Sujeitos da Mssão” da Igreja são
todos os batizados, cada um com uma tarefa específica; passando à
dimensão do agir, a terceira parte apresenta as “Prioridades” assumidas
para o triênio pastoral e a quarta, as “Ações Estruturantes”, a
concretização das pistas de ação nos diversos âmbitos. Por último, a
conclusão reafirma o compromisso missionário enquanto a oração final
pede ao Senhor que permaneça na sua Igreja para que ela possa ser
testemunha dele no mundo. A retomada do projeto das missões
especiais se insere ao final como memória de um compromisso já
presente nas diretrizes 2004-2007 mas que ainda permanece válido. A
bibliografia por sua vez pretende ser indicativa de possíveis
aprofundamentos na perspectiva da desejada formação permanente.

11
12
I. MISSÃO DE CRISTO, MISSÃO DA IGREJA

“Como o Pai me enviou, eu também vos envio...” (Jo 20,19)

1. A missão que cada batizado recebe ao ser acolhido na Igreja


como filho de Deus e discípulo de Cristo é grande e sublime. Nos
moldes dos desafios enfrentados pelos primeiros discípulos para
testemunhar a ressurreição de Jesus, hoje, os cristãos têm diante de si a
urgente demanda por uma mais ousada atitude evangelizadora. Não
bastam os procedimentos de rotina de uma pastoral de conservação, é
preciso renovar o anúncio explícito dos mistérios da fé.3 Neste caminho
a nossa Arquidiocese de São Salvador da Bahia tem pautado os seus
passos desde 2004, quando lançou o seu plano pastoral “Ser e Fazer
discípulos” e renovou o seu empenho evangelizador, em 2007, com a
realização do “Ano Missionário”. Agora, somos também interpelados
pela Igreja latino-americana a nos engajarmos numa missão de
dimensões continentais. O que isto significa para a nossa Igreja
arquidiocesana será conhecido somente na medida em que cada um
assuma pessoalmente o chamado que o Senhor faz a todos.
2. A partir da V Conferência Episcopal Latino-Americana reunida
em Aparecida, a Arquidiocese recolheu a inspiração para a renovação
das diretrizes da sua ação evangelizadora que aqui são apresentadas. O
caráter de continuidade do Documento de Aparecida com as
motivações pastorais que já vinham sendo desenvolvidas na nossa
Arquidiocese confirmam o caminho feito e nos estimula a assumir
como nossas as aspirações da Igreja latino-americana. Aprendemos
mais uma vez que uma Igreja de discípulos missionários é o único

3
Cf. DA 370

13
modo possível de ser Igreja. Não existe uma definição que satisfaça
melhor a condição de todo batizado, senão a de ser e fazer discípulos
para o Senhor. Neste sentido, a missão de Cristo, que é o enviado do
Pai, se prolonga nos seus seguidores, assim como o seu destino de cruz
e felicidade eterna. Porém, resta ainda a interrogação: Como realizar a
tarefa de anunciar a Boa Nova diante dos múltiplos contrastes e
desafios do nosso tempo?
3. Sabemos que não existe uma resposta imediata para todos os
problemas, o reino de Deus não é panacéia. Jesus mesmo não faz falsas
promessas, ele não engana dizendo que o seu caminho e o do discípulo
será fácil, antes, recomenda que cada um tome a sua cruz se quiser
segui-lo. O realismo, portanto, da cruz deve nos prevenir da pretensão
de anunciar Cristo sem o devido compromisso com o seu evangelho.
Somos, na verdade, chamados a promover o encontro com Cristo vivo,
que redime e reconstrói o que o pecado havia destruído. Este encontro
se dá mediante a ação do Espírito Santo na Igreja, o qual a sustenta e
permite que a fé permaneça nela viva e eficaz. Por isso afirmamos, com
o papa Bento XVI, que “na Igreja Católica temos tudo o que é bom,
tudo o que é motivo de segurança e de consolo! Quem aceita a Cristo:
Caminho, Verdade e Vida, em sua totalidade, tem garantida a paz e a
4
felicidade, nesta e na outra vida!”
4. A partir desta experiência alegre da presença de Deus na sua
Igreja, podemos estar atentos às condições reais da vida dos irmãos aos
quais somos enviados a levar o anúncio de salvação. Segundo as
peculiaridades da vida da maioria das pessoas em nossa Arquidiocese,
uma reflexão ativa sobre a cidade deve merecer a dedicação de nossas
energias pastorais. O meio urbano recebeu um tratamento
particularizado no Documento de Aparecida e se configura não

4
BENTO XVI, Discurso no final do santo Rosário no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, 12
de maio de 2007, citado em DA 246.

14
somente como um espaço geográfico, mas principalmente como uma
mentalidade que avança também para o mundo “rural”. Como
desdobramento inevitável da evangelização citadina, a atenção à família
e à juventude recebem destaque especial. Em todos estes destaques, no
entanto, o olhar do discípulo de Cristo se fixará sobre o clamor
silencioso dos pobres e abandonados, buscando neles o rosto do mestre
(Mt 25,31-45). Na cidade, nas famílias e nos jovens existe um Cristo
5
pobre, aflito e enfermo esperando por seus discípulos!
5. Estas duas dimensões animam a espiritualidade fundamental da
nossa ação evangelizadora: de um lado o encontro pessoal e
comunitário com Cristo nos leva a uma experiência viva da fé e ao
compromisso de construir uma sociedade mais justa em função do
Reino do Pai, reino de comunhão e amor; por outro lado, movidos pela
caridade de Cristo, nos identificamos com os pobres, para que,
renunciando a qualquer vantagem pessoal que a evangelização possa
proporcionar, nos assemelhemos a Cristo que se fez pobre, de tudo
despojando-se para a nossa salvação (Cf. Fl 2,3-8). Deste modo, a Igreja
que é “comunhão no amor”, sustentada pela graça divina, conduz os
discípulos e discípulas de Cristo ao coração do mistério trinitário. Este
percurso mistagógico é a Boa Nova que dá sentido à missão da Igreja.
6. No entanto, refletindo sobre este caminho, devemos reconhecer
que “a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem
longe do seu pleno cumprimento. No termo do segundo milênio, após
a sua vinda, uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal
missão ainda está no começo, e que devemos empenhar-nos com todas
as forças no seu serviço. (...) De fato, a missão renova a Igreja, revigora
a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É
6
dando a fé que ela se fortalece! ” .

5
Cf. DA 257.
6
RMi 1-2. Cf. DA 379.

15
7. O impulso Missionário pertence à natureza íntima da vida
7
cristã. A centralidade de nossa ação está na Pessoa de Jesus, pois “não
nos move a esperança ingênua de que possa haver uma fórmula mágica para os
grandes desafios do nosso tempo; não será uma fórmula a salvar-nos, mas uma
8
pessoa, e a certeza que ela nos infunde: Eu estarei convosco” . É por meio dele
que conhecemos algo do mistério de Deus e, ainda, por meio dele
conhecemos o mistério do ser humano. A evangelização é, pois, muito
preciosa para o futuro da civilização do terceiro milênio, porque o
“Evangelho é verdade sobre Deus, verdade sobre o homem e sobre o
9
seu misterioso destino e verdade sobre o mundo” .
8. A Arquidiocese de São Salvador da Bahia, seguindo as intuições
do Concílio Vaticano II e da fonte sempre atualizada e rica do
Magistério dos últimos pontífices, tem pautado o seu caminho pastoral
todo orientado para a evangelização, para manter viva e firme a fé do seu
povo. Nos últimos anos, o empenho de evangelização teve grande
impulso, especialmente, a partir da última Assembléia Arquidiocesana e
10
a publicação das Diretrizes da Ação Evangelizadora 2004-2007 . A
partir deste horizonte foram planejadas diversas iniciativas que
culminaram com o Ano Missionário 2007, inaugurando um novo estilo
de viver a fé e uma maior sensibilidade missionária de todos os sujeitos
e setores pastorais.
9. Concluimos, em 2007, o Projeto Ser e Fazer discípulos de Jesus,
muito trabalhado pelas comunidades nos anos de 2003-2004 e durante a
Assembléia Arquidiocesana de Pastoral em 2003. O ano missionário de

7
Cf. DA 145: “Quando cresce no cristão a consciência de pertencer a Cristo, em razão
da gratuidade e alegria que produz, cresce também o ímpeto de comunicar a todos o
dom desse encontro”.
8
NMI 29.
9
EN 74.
10
DAE (2004-2007).

16
11
2007, foi o último daquele projeto e a transição para um novo tempo.
Como a Conferência de Aparecida convocou uma missão continental,
uma nova estação missionária inaugura-se em toda América Latina e no
Caribe. Nós da Arquidiocese queremos participar desta grande missão,
por isso formulamos um novo plano pastoral para continuarmos no
caminho de Cristo.
10. Em sua visita ao Brasil para a inauguração da Conferência de
Aparecida, o Papa Bento XVI confirmou o caminho delineado: “É
necessário, então, encaminhar a atividade apostólica como uma
verdadeira missão dentro do rebanho que constitui a Igreja Católica
no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em
vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo... não poupar
esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem
12
sobre Jesus Cristo” .
11. Um núcleo decisivo do Documento de Aparecida é “a missão
13
dos discípulos a serviço da vida plena”. Graças à vida nova
comunicada por Cristo aos seus discípulos, através da ação missionária,
eles a transmitem a todos os povos do continente. Deste encontro com
Jesus Cristo os discípulos saem entusiasmados com o que viram,
ouviram e experimentaram. A exemplo dos apóstolos André e Filipe (Jo
1,35-50), essa experiência intensa os impele a ir contar a outros o que
viveram, e ao fazer isso procuram levá-los até Jesus Cristo para que
também possam conhecê-lo, sentirem-se amados, descobrirem que Ele
é o verdadeiro Messias prometido ao mundo. Ou seja, o discípulo, pela
intensidade da experiência feita com Jesus Cristo e pela conseqüente

11
No primeiro domingo do Advento, 02/12/2007, com celebração do Compromisso
Missionário e da Beatificação da Ir. Lindalva Justo foram apresentadas estas novas
diretrizes da pastoral arquidiocesanas para o triênio 2008-2010.
12
BENTO XVI, Discurso no Encontro com os Bispos do Brasil, 11 de maio de 2007; cf. DA
297.
13
Cf. DA 347-379.

17
adesão a Ele, transforma-se em missionário, testemunha de Jesus Cristo
que vai em busca de outros para os conduzir a Ele.
12. Por tudo isso, a Conferência de Aparecida quer ser um “novo
Pentecostes”, abrindo uma estação missionária nova no continente,
sendo necessária uma verdadeira conversão pastoral da Igreja em
comunidades mais missionárias: “Esta firme decisão missionária
deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais
de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de
14
qualquer instituição da Igreja” . É preciso fomentar a conversão
pastoral e a renovação missionária das comunidades eclesiais e dos
organismos pastorais. O objetivo é impulsionar a missão continental,
tendo por agentes as dioceses e as conferências.
13. Apesar do crescente processo de secularização em pleno
desenvolvimento em nossas sociedades, percebe-se no coração dos
nossos contemporâneos a sede de conhecer Jesus Cristo, o nosso
Salvador. A exigência é, então, comunicar a fé, transmitindo-a de modo
a responder às expectativas do coração humano e do tempo em que
vivemos.
14. Considerando que “vivemos uma mudança de época”, onde
“dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o
15
mundo e com Deus”, cujo “nível mais profundo é o cultural” , a Igreja
recorda a índole missionária da pastoral continental. Diante de uma
dinâmica cultural marcada por constantes transformações, é preciso
propor o “primeiro anúncio” a cada geração, ou melhor, a cada pessoa,
mesmo batizada.
15. A exigência é transmitir a fé aos que de algum modo a vivem:
urge anunciar Jesus Cristo àqueles que, mesmo acreditando, sentem a

14
Ibid., 365.
15
Cf. Ibid., 44.

18
necessidade de conhecê-lo melhor para poder dar razão da própria
esperança (cf. 1Pd 3,15). É igualmente imperioso anunciar o evangelho,
de maneira adequada, também a quem ainda não crê e, no entanto,
busca o rosto amoroso de Jesus, o Cristo.
16. A Igreja não é testemunha de valores abstratos, por quanto
sejam elevados e importantes, como a justiça, a paz, a fraternidade, mas
de um evento, uma pessoa concreta que revela ao homem sua
verdadeira identidade: Jesus Cristo, morto e ressuscitado para dar vida
plena ao mundo.

19
Anotações para o próximo plano pastoral

20
II. SUJEITOS DA MISSÃO
“Quem enviarei? disse o Senhor,
ao que eu respondi, Eis-me aqui,
enviai-me a mim...” (cf. Is 6,8)

17. Para realizar plenamente a sua missão, “a ação evangelizadora


da Igreja tem o desafio de empenhar-se na construção da identidade da
pessoa, a conquista da sua liberdade e garantia de sua autonomia. A
pessoa no cenário cultural moderno está carente de uma autêntica
educação que dê sentido à vida. É gritante a necessidade de uma
profunda experiência de Deus, num fecundo itinerário da fé. Isto quer
dizer que é urgente oferecer a cada pessoa a possibilidade de
16
compreender e vivenciar a sua fé” .
18. A atenção à pessoa faz parte da missão de “fazer da
comunidade eclesial lugar de comunhão, repleta de vitalidade
evangelizadora, alimentada pela Palavra de Deus, pela oração e pelos
sacramentos”. Assim, a vida integral do discípulo missionário se insere
num contexto comunitário e é a resposta eficaz aos problemas de nosso
tempo, sobretudo “na superação do individualismo, da submissão ao
17
mercado e ao poder” .
19. Portanto, somos chamado a reconhecer que “todos na Igreja
recebem o Espírito e todos devem oferecê-lo conforme o dom que lhes
foi conferido, no serviço correspondente a esse dom. Redescobre-se,
assim, a dimensão carismática de todo o povo de Deus, a riqueza que o
Espírito Santo infunde nos batizados para a utilidade comum, para que

16
DAE (2004-2007), 12.
17
Ibid., 14.

21
dentro das precisas coordenadas de espaço e de tempo, cresça a
18
semente da humanização pelo mundo” .
20. A comunhão dos carismas é o fundamento para o princípio da
subsidiariedade em âmbito pastoral: “De fato, cada batizado é portador
de dons que deve desenvolver em unidade e complementaridade com
os dons dos outros (...). O reconhecimento prático da unidade orgânica
e da diversidade de funções assegurará maior vitalidade missionária e
19
será sinal e instrumento de reconciliação e paz para os nossos povos” .
Deste modo, realiza-se na Igreja a vocação dos batizados, cuja igual
dignidade consiste no chamado à santidade própria do exercício da sua
missão específica.
a) Os Bispos, chamados a “fazer da Igreja uma casa e escola de
20
comunhão” , como animadores da comunhão, têm “a missão de
acolher, discernir e animar carismas, ministérios e serviços na
21
Igreja” .
b) O Presbítero, chamado a imitar o Bom Pastor, deve ser “homem
de misericórdia e compaixão, próximo ao seu povo e servidor de
todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades”. Por
isso, dele se espera que seja presbítero-discípulo, missionário e
22
servidor da vida .
c) Os Diáconos permanentes, em sua maioria “fortalecidos pela
dupla sacramentalidade do Matrimônio e da Ordem”, são chamados
ao “serviço da Palavra, da caridade e da liturgia”, além de
“acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais,

18
Ibid., 59.
19
DA 162.
20
NMI 43.
21
DA 188.
22
Cf. Ibid., 198-199.

22
especialmente nas fronteiras geográficas e culturais, onde
23
ordinariamente não chega a ação evangelizadora da Igreja” .
d) Os fiéis leigos e leigas são, no dizer de Puebla, “homens da Igreja
no coração do mundo, e homens do mundo no coração da
24
Igreja” . A missão própria e específica dos leigos e leigas se realiza
no mundo, de modo que “contribuam para a criação de estruturas
justas segundo os critérios do evangelho, (...) no dever de fazer
crível a fé que professam, mostrando autenticidade e coerência em
25
sua conduta”. No coração da Igreja da América Latina, a
26
colaboração dos fiéis leigos é imprescindível , estendendo a sua
participação à ação pastoral da Igreja, como catequistas, Ministros
da Palavra, animadores de comunidade dentre outros serviços. Por
isso, “hão de ser parte ativa e criativa na elaboração e execução de
projetos pastorais em favor da comunidade”, pois, “a construção da
cidadania, no sentido mais amplo, e a construção de eclesialidade
27
nos leigos, é um só e único movimento” .
28
e) Os consagrados e consagradas, vivendo “um caminho especial
29
de seguimento de Cristo”, são chamados “a fazer de seus lugares
de presença, de sua vida fraterna em comunhão e de suas obras,
lugares de anúncio explícito do evangelho, principalmente aos mais
pobres.” Além disso, o natural testemunho que brota da vida
consagrada é o seu chamado a ser “especialista de comunhão, no
interior tanto da Igreja quanto da sociedade”.

23
Cf. Ibid., 205.
24
DP 786.
25
DA 210.
26
EAm 44.
27
DA 211-215.
28
DA 217-218.
29
VC 14.

23
 Anotações para o próximo plano pastoral

24
III. PRIORIDADES

“Proclamem que está chegando o reino dos céus!” (cf. Mt 10,7)

21. A Conferência de Aparecida reafirma o mandato evangélico


que nos dá a missão de Evangelizar (cf. Mc 16,15). Para nós, hoje, isto
significa testemunhar Jesus Cristo, morto e ressuscitado para dar vida
plena ao mundo, formando comunidades novas, fomentando novos
valores e critérios de juízo entre os nossos contemporâneos. Para tanto,
é nosso dever estabelecer algumas prioridades como horizonte para
nossa ação evangelizadora. Tais prioridades devem empenhar-nos, com
inteligência, aguda intuição e profunda espiritualidade, na construção de
projetos, programas e planos de ação que nos permitam fazer um
caminho novo em nossa arquidiocese.
22. No espírito das Diretrizes e do Documento de Aparecida,
temos certo que é um trabalho de todas as instâncias arquidiocesanas:
comissões e conselhos; comunidades, paróquias, foranias e regiões
pastorais; os diversos setores da organização pastoral; centros e colégios
de educação católica, institutos e associações católicas; movimentos
eclesiais, associações, devoções e irmandades, enfim, todos os
segmentos que compõem a Igreja Particular na Arquidiocese de São
Salvador da Bahia. Deseja-se contar, sobretudo, com o ardor
missionário e evangelizador dos presbíteros, diáconos, consagradas e
consagrados, evangelizadores e agentes de pastorais.
23. Está claro que para a Missão Continental é necessário
estabelecer prioridades, cujo objetivo deve ser o de apresentar o
significado da vida de Jesus Cristo para os povos latino-americanos. De
nossa parte, daqueles que são chamados a ser discípulos, se espera um

25
30
testemunho muito crível de santidade e compromisso. Por isso, não
devemos ter medo de assumir o projeto de Jesus diante das condições
de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e
dor. Este projeto de Jesus, que deve ser também o nosso, é instaurar o
Reino de seu Pai, o Reino da vida. Uma vez que o conteúdo
fundamental da sua missão é a oferta de vida plena para todos, Ele não
hesitou em comunicar a sua vida através dos seus gestos de
acolhimento e doação.
24. Hoje, a partir dos três eixos fundamentais de toda a vida
humana - a pessoa, a comunidade e a sociedade – a missão da Igreja
deve considerar, conforme o seu rico magistério social, que “não
podemos conceber uma oferta de vida em Cristo sem um dinamismo
de libertação integral, de humanização, de reconciliação e de inserção
31
social” . Por isso, “o fato de ser discípulos e missionários de Jesus
Cristo para que nosso povos tenham vida n’Ele, leva-nos a assumir
evangelicamente, e a partir da perspectiva do Reino, as tarefas
prioritárias que contribuem para a dignificação do ser humano e a
trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições para o bem do ser
32
humano” .
25. Recordamos que o “interesse autentico e sincero pelos
problemas da sociedade, que nasce da solidariedade para com as
pessoas, deve ser manifestado por toda a comunidade cristã, e não apenas por
33
um grupo ou alguma pastoral social”. A caridade pastoral, portanto,
ao fecundar todos os aspecto da nossa ação evangelizadora, deve

30
Cf. Ibid., 352: “Desejando e procurando essa santidade não vivemos menos, e sim
melhor, porque, quando Deus pede mais, é porque está oferecendo muito mais: "Não
tenham medo de Cristo! Ele não tira nada e dá tudo!" (BENTO XVI, Homilia de
inauguração do Pontificado, 24 de Abril de 2005)”
31
Ibid., 359.
32
Ibid., 384.
33
CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006, §199.

26
suscitar um cuidado cada vez mais especial para com a Família
34
enquanto sacramento do amor , levando em conta as Pessoas que a
35
constitui (crianças, adolescentes, idosos...) e a Vida em seus diferentes
36
contornos .
26. Tomando como base o anúncio da Boa Nova da dignidade
infinita de todo ser humano, criado à imagem de Deus e recriado como
filho de Deus, devemos considerar uma urgência a dedicação à Cultura
e sua evangelização, atentando sobretudo para a educação e a
comunicação, a Pastoral Urbana, a presença dos cristãos na vida
pública. Nesta dimensão assume especial importância o compromisso
político dos leigos por uma cidadania plena na sociedade democrática, a
solidariedade e uma ação evangelizadora que aponte caminhos de
reconciliação, fraternidade e integração entre nossos povos, para formar
uma comunidade de nações na América Latina e no Caribe.
27. Em sua Palavra e em todos os sacramentos, Jesus nos
oferece um alimento para o caminho. A Eucaristia, fonte da vida e da
felicidade que queremos, encerra em seu mistério a razão para o nosso
ímpeto missionário. Desejamos, por isso, responder com fidelidade ao
mandato missionário que brota da gratidão, da maravilha, do
entusiasmo que Jesus Cristo ressuscitado, vivo e presente entre nós,
suscita em cada um. Ele nos doa sua vida divina vitoriosa sobre a morte
enquanto nós, como os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-33), nos
colocamos em movimento para comunicar esta grande graça. Afinal,
Deus, nos ofereceu gratuitamente aquilo de que todos necessitamos.
Assim motivados pelo Espírito de Deus e tendo presente três grandes
linhas de ação prioritária do Documento de Aparecida, mas sem perder

34
Cf. DA 433.
35
Cf. Ibid., 438-463.
36
Cf. Ibid., 464-475.

27
de vista o conjunto do compromisso missionário, nosso projeto tem
três grandes destaques: a Cidade, a Família e a Juventude:
a) A cidade, devastada pela violência e pela corrupção, encontrando
Jesus Cristo, pode encontrar a PAZ. Construindo a solidariedade e
os caminhos da justiça, confirmamos que todo processo
evangelizador envolve a promoção humana e a autêntica libertação
37
“sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade”. Nós
somos, por graça, os portadores desta esperança.
b) As famílias, encontrando Jesus Ressuscitado, podem renovar-se no
amor: os cônjuges redescobrem a felicidade de crescer no dom
recíproco, a alegria de partilhar toda a existência e educar os filhos,
conduzindo-os à maturidade, com sabedoria e equilíbrio.
c) Os jovens, descobrem no encontro com Jesus o gosto de viver e se
abrem a um projeto de vida positivo, onde o crescimento humano
os leva à realização pessoal no amor e no trabalho. Sabemos como a
vida e a convivência humana e social decaem, quando Jesus é posto
de lado, por isso o encontro com Ele é decisivo para o futuro da
nossa juventude.

38
1. EVANGELIZAÇÃO DA CIDADE
28. Ao configurar este importante contexto de missão, nosso
empenho na evangelização deve levar em conta que “a cidade se
converteu no lugar próprio das novas culturas que se vão gestando e se
impondo, com nova linguagem e nova simbologia. Essa mentalidade
urbana se estende também ao próprio mundo rural”. O Documento de
Aparecida lembra ainda que “na cidade convivem diferentes categorias
sociais tais como as elites econômicas, sociais e políticas; a classe média

37
BENTO XVI, Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida, 3, citado em DA 399.
38
Cf. DA 509-515.

28
com seus diferentes níveis e a grande multidão dos pobres”. Tanto na
cidade quanto no campo, embora em diferentes proporções, alguns
contrastes nos “desafiam cotidianamente: tradição - modernidade;
globalidade - particularidade; inclusão - exclusão; personalização -
despersonalização; linguagem secular – linguagem religiosa; homo-
geneidade - pluralidade; cultura urbana - pluriculturalismo”.
29. Reconhece então que a “Igreja em seu início se formou nas
grandes cidades de seu tempo e se serviu delas para se propagar. Por
isso, podemos realizar com alegria e coragem a evangelização da cidade
atual. Diante da nova realidade da cidade, novas experiências se
realizam na Igreja, tais como a renovação das paróquias, setorização,
novos ministérios, novas associações, grupos, comunidades e
movimentos”.
30. Para os Bispos latino-americanos e caribenhos, “a fé nos ensina
que Deus vive na cidade, em meio as suas alegrias, desejos e esperanças,
como também em meio as suas dores e sofrimentos. As sombras que
marcam o cotidiano das cidades, como exemplo, a violência, pobreza,
individualismo e exclusão, não podem nos impedir que busquemos e
contemplemos a Deus da vida também nos ambientes urbanos. As
cidades são lugares de liberdade e de oportunidade. Nelas, as pessoas
tem a possibilidade de conhecer mais pessoas, interagir e conviver com
elas. Nas cidades é possível experimentar vínculos de fraternidade,
solidariedade e universalidade. Nelas, o ser humano é constantemente
chamado a caminhar sempre mais ao encontro do outro, conviver com
o diferente, aceitá-lo e ser aceito por ele”.
31. “O projeto de Deus, ainda segundo o Documento de Aparecida
é "a Cidade Santa, a nova Jerusalém", que desce do céu, de junto a
Deus, "vestida como uma noiva que se adorna para seu esposo", que é
"a tenda que Deus instalou entre os homens. Acampará com eles; eles
serão seu povo e o próprio Deus estará com eles. Enxugará as lágrimas

29
de seus olhos e não haverá morte nem luto, nem pranto, nem dor,
porque tudo o que é antigo terá desaparecido" (Ap 21,2-4). Esse projeto
em sua plenitude é futuro, mas já está se realizando em Jesus Cristo, "o
Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim" (Ap 21,6), que nos diz "Eu faço
novas todas as coisas" (Ap 21,5)”.
32. Quanto foi dito anteriormente sobre a evangelização da cidade
“não tira a importância de uma renovada pastoral rural que fortaleça os
habitantes do campo e seu desenvolvimento econômico e social,
resistindo às migrações”. Antes, deve-se anunciar a eles a Boa Nova
para que enriqueçam as suas próprias culturas e as relações
39
comunitárias e sociais” .

2. EVANGELIZAÇÃO DA FAMÍLIA
33. A família está entre os campos que o Santo Padre, o Papa Bento
XVI, considera prioritários, no processo de renovação da Igreja na
América Latina. O texto abaixo, O Papa e a Família, é retirado do
Discurso de Bento XVI na abertura da V Conferência do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida. Destacamos também o
que os Bispos, na Conferência de Aparecida, dizem sobre a urgência de
uma atenção à família como lugar privilegiado da Evangelização.

40
2.1 O Papa e a Família
34. “A família, "patrimônio da humanidade", constitui um dos
tesouros mais importantes dos povos latino-americanos. Ela foi e é
escola da fé, palestra de valores humanos e cívicos, lar em que a vida
humana nasce e é acolhida generosa e responsavelmente. No entanto,
na atualidade sofre situações provocadas pelo secularismo e pelo

39
Ibid., 519.
40
Cf. BENTO XVI, Discurso Inaugural da V Conferência do CELAM, Aparecida, n. 5.

30
relativismo ético, pelos diversos fluxos migratórios internos e externos,
pela pobreza, pela instabilidade social e por legislações civis contrárias
ao matrimônio que, ao favorecer os anticoncepcionais e o aborto,
ameaçam o futuro dos povos.
35. Em algumas famílias da América Latina, persiste ainda,
infelizmente, uma mentalidade machista, ignorando a novidade do
cristianismo que reconhece e proclama a igual dignidade e
responsabilidade da mulher com relação ao homem.
36. A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a
educação dos filhos. As mães que querem dedicar-se plenamente à
educação dos seus filhos e ao serviço da família devem ter as condições
necessárias para poder fazê-lo, e para isso têm direito de contar com o
apoio do Estado. De fato, o papel da mãe é fundamental para o futuro
da sociedade.
37. O pai, por seu lado, tem o dever de ser verdadeiramente pai,
que exerce a sua indispensável responsabilidade e colaboração na
educação dos seus filhos. Os filhos, para o seu crescimento integral,
têm o direito de poder contar com o pai e com a mãe, para que se
ocupem deles e os acompanhem rumo à plenitude de sua vida. É
necessária, pois, uma pastoral familiar intensa e vigorosa. É
indispensável também promover políticas familiares autênticas que
respondam aos direitos da família como sujeito social imprescindível. A
família faz parte do bem dos povos e da humanidade inteira”.

2.2 A Família no Documento de Aparecida


38. A Boa Nova da Evangelização, em nosso chão e no mundo, é
ocasião para bendizer a Deus pela dignidade da pessoa humana, criada à
Sua imagem e semelhança. Queremos também louvar ao Pai por nos ter
redimido com o preço do sangue do Seu Filho Jesus Cristo e pela

31
relação permanente que estabelece conosco, que é a fonte de nossa
dignidade absoluta, inegociável e inviolável. Tantos são os dons que
recebemos de Deus por meio da família que devemos protegê-la,
cultivá-la e promovê-la.
39. Só o Senhor é autor e dono da vida. O ser humano, sua imagem
vivente, é sempre sagrado, desde sua concepção, até sua morte natural,
em todas as circunstancias e condições de sua vida.
40. “Assistimos hoje a novos desafios que nos pedem para ser a voz
dos que não têm voz. A criança que está crescendo no seio materno e
as pessoas que se encontram no ocaso de suas vidas, são um clamor de
vida digna que grita ao céu e que não pode deixar de nos estremecer. A
liberalização e banalização das práticas abortivas são crimes
abomináveis, como também a eutanásia, a manipulação genética e
embrionária, ensaios médicos contrários à ética, pena de morte e tantas
outras maneiras de atentar contra a dignidade e a vida do ser
41
humano” .
41. “Se quisermos sustentar um fundamento sólido e inviolável para
os direitos humanos, é indispensável reconhecer que a vida humana
deve ser defendida sempre, desde o momento da fecundação. De outra
maneira, circunstâncias e conveniências dos poderosos sempre
encontrarão desculpas para maltratar as pessoas”.
42. “Homem e mulher os criou” (Gn 1,27). ”Pertence a natureza
humana que o homem e a mulher busquem um no outro sua
reciprocidade e complementaridade. (...) O amor conjugal é a doação
recíproca entre um homem e uma mulher, os esposos: fiel e exclusivo
até a morte e fecundo, aberto à vida e à educação dos filhos,
assemelhando-se ao amor fecundo da Santíssima Trindade. O amor
conjugal é assumido no Sacramento do Matrimônio para significar a

41
DA 467.

32
união de Cristo com a sua Igreja. Por isso, na graça matrimonial de
Jesus Cristo encontra a sua purificação, alimento e plenitude (Ef 5, 23-
42
33)” .
43. “No seio de uma família, a pessoa descobre os motivos e o
caminho para pertencer à família de Deus. Dela recebemos a vida que é
a primeira experiência de amor e de fé. O grande tesouro da educação
dos filhos na fé consiste na experiência de uma vida familiar que recebe
a fé, a conserva, a celebra, a transmite e dá testemunho dela. Os pais
devem tomar nova consciência de sua alegre e irrenunciável
responsabilidade na formação integral dos filhos”. A família, Igreja
doméstica, deve ser o primeiro lugar para a iniciação cristã dos filhos,
oferecendo-lhes um sentido cristão para a vida e acompanhamento na
43
elaboração de um projeto de vida como discípulos missionários .
44. “A família está fundada no sacramento do matrimônio entre um
homem e uma mulher, sinal do amor de Deus pela humanidade e da
entrega de Cristo por sua esposa, a Igreja. A partir dessa aliança de
amor se manifestam a paternidade e a maternidade, a filiação e a
fraternidade, e o compromisso dos dois por uma sociedade melhor”.
45. “Cremos que "a família é imagem de Deus que, em seu mistério
mais íntimo não é uma solidão, mas uma família". Na comunhão de
amor das três Pessoas divinas, nossas famílias têm sua origem, seu
modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu destino último”.
46. Visto que a família é o valor mais querido por nossos povos,
cremos que se deve assumir a preocupação por ela como um dos eixos
transversais de toda a ação evangelizadora da Igreja. Em toda diocese se
requer uma Pastoral Familiar "intensa e vigorosa" para proclamar o

42
Ibid., 116-117.
43
Cf. Ibid., 118 e 302.

33
evangelho da família, promover a cultura da vida e trabalhar para que os
direitos das famílias sejam reconhecidos e respeitados.”
47. “Esperamos que os legisladores, governantes e profissionais da
saúde, conscientes da dignidade da vida humana e do fundamento da
família em nossos povos, a defendam e protejam dos crimes
abomináveis do aborto e da eutanásia: essa é sua responsabilidade. Por
isso, diante de leis e disposições governamentais que são injustas à luz
44
da fé e da razão, deve-se favorecer a objeção de consciência” .

45
3. EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE
48. A Evangelização dos Adolescentes e Jovens chama a nossa
atenção por invocar alguns aspectos de vital importância para os dias
atuais. A violência, a marginalização, educação inadequada, desemprego
e outros males que afligem os nossos jovens nos impelem a renovar a
nossa opção preferencial pelos jovens. Evangelizar os adolescentes e
jovens é uma urgência para a vida da Igreja, da Família e da Sociedade.
49. Merece especial atenção a etapa da adolescência: “Os
adolescentes não são crianças nem são jovens. Estão na idade da
procura de sua própria identidade, de independência frente a seus pais,
de descoberta do grupo. Nesta idade, facilmente podem ser vítimas de
falsos líderes constituindo grupos. É necessário estimular a pastoral dos
adolescentes, com suas próprias características, que garanta sua
perseverança e o crescimento na fé. O adolescente procura uma
experiência de amizade com Jesus” .
50. “Os jovens e adolescentes constituem a grande maioria da
população da América latina e do Caribe. Representam um enorme

44
Ibid., 433-436.
45
Cf. Ibid., 442-445.

34
potencial para o presente e futuro da Igreja e de nossos povos como
discípulos e missionários do Senhor Jesus. Os jovens são sensíveis para
descobrir sua vocação a ser amigos e discípulos de Cristo. São
chamados a ser "sentinelas da manhã", comprometendo-se na
renovação do mundo à luz do Plano de Deus. Não temem o sacrifício
nem a entrega da própria vida, mas sim uma vida sem sentido”.
51. Os jovens e adolescentes, “por sua generosidade, são chamados
a servir a seus irmãos, especialmente aos mais necessitados, com todo
seu tempo e sua vida. Têm capacidade para se oporem às falsas ilusões
de felicidade e aos paraísos enganosos das drogas, do prazer, do álcool
e de todas as formas de violência. Em sua procura pelo sentido da vida,
são capazes e sensíveis para descobrir o chamado particular que o
Senhor Jesus lhes faz. Como discípulos missionários, as novas gerações
são chamadas a transmitir a seus irmãos jovens, sem distinção alguma, a
corrente de vida que procede de Cristo e a compartilhá-la em
46
comunidade, construindo a Igreja e a sociedade” .
52. Por outro lado, “inumeráveis jovens do nosso continente
passam por situações que os afetam significativamente: as seqüelas da
pobreza, que limitam o crescimento harmônico de suas vidas e geram
exclusão; a socialização cuja transmissão de valores já não acontece
primariamente nas instituições tradicionais, mas em novos ambientes
não isentos de uma forte carga de alienação; e sua permeabilidade às formas
novas de expressões culturais, produto da globalização, que afeta sua própria
identidade pessoal e social. São presa fácil das novas propostas
religiosas e pseudo-religiosas. As crises, pelas quais passa a família hoje
em dia, produz profundas carências afetivas e conflitos emocionais”.
53. Os jovens têm sido “afetados por uma educação de baixa
qualidade, que os deixa por baixo dos níveis necessários de competitividade,
somado aos enfoques antropológicos reducionistas, que limitam seus
46
Sobre a formação dos jovens à vida consagrada, cf. DA 314-327.

35
47
horizontes de vida e dificultam a tomada de decisões duradouras. Vê-
se ausência de jovens na esfera política devido á desconfiança que
geram as situações de corrupção, o desprestígio dos políticos e a
procura de interesses pessoais frente ao bem comum”.
54. Uma constatação dolorosa e preocupante é o suicídio de jovens.
Além disso, “outros não têm possibilidades de estudar ou trabalhar e
muitos deixam seus países por não encontrar um futuro neles, dando
assim ao fenômeno da mobilidade humana e da migração um rosto
juvenil. Preocupa também o uso indiscriminado e abusivo que muitos
jovens fazem da comunicação virtual”.

47
Para um aprofundamento da questão da educação, cf. DA 328-346.

36
IV. AÇÕES ESTRUTURANTES

“Sem mim nada podeis fazer”(Jo 15,15).

55. As pistas de ação oferecidas pelo Documento de Aparecida são


a nossa fonte inspiradora da articulação do projeto pastoral
arquidiocesano. Em muitos pontos somos convidados com um novo
estímulo a perseverar no caminho já iniciado, em outros devemos
buscar dar os primeiros passos a fim de estruturar a nossa ação pastoral.
56. Através das “Pistas de Ação” oferecidas pelo Documento de
Aparecida seremos interpelados a “lançar as redes” de maneira criativa
e generosa, a fim de elaborar uma estratégia pastoral eficaz e que atenda
às demandas locais da nossa Arquidiocese. Para isso, alguns
compromissos são apresentados nas “Ações Estruturantes”, tendo
sempre como foco os três destaques do nosso projeto pastoral: A
cidade, a família e a juventude.
57. A recepção criativa das “Pistas de Ação” não se limitam aos
encaminhamentos representados pelas “Ações Estruturantes”, mas ao
contrário exigem que cada um de nós, como discípulo e discípula do
Senhor, assuma uma atitude concreta. As “Pistas de Ação” querem ser
uma provocação para que toda a Igreja responda ativamente ao convite
missionário, cada um no grau de responsabilidade que possui diante de
Deus e para a edificação do seu povo.
1. A Cidade
58. Reconhecendo e agradecendo o trabalho renovador que já se
realiza em muitos centros urbanos, a V Conferência propõe e
recomenda uma nova pastoral urbana que:

37
48
Pistas de Ação
a. Responda aos grandes desafios da crescente urbanização.
b. Seja capaz de atender às variadas e complexas categorias
sociais, econômicas, políticas e culturais: pobres, classe média e
elites.
c. Desenvolva uma espiritualidade da gratidão, da misericórdia,
da solidariedade fraterna, atitudes próprias de quem ama
desinteressadamente e sem pedir recompensa.
d. Abra-se a novas experiências, estilos e linguagens que possam
encarnar o Evangelho na cidade.
e. Transforme as paróquias cada vez mais em comunidades de
comunidades.
f. Aposte mais intensamente na experiência de comunidades
ambientais, integradas em nível supra-paroquial e diocesano.
g. Integre os elementos próprios da vida cristã: a Palavra, a
Liturgia, a comunhão fraterna e o serviço, especialmente aos
que sofrem pobreza econômica e novas formas de pobreza.
h. Difunda a Palavra de Deus, anuncie-a com alegria e ousadia e
realize a formação dos leigos de tal modo que possam
responder às grandes perguntas e aspirações de hoje e inserir-
se nos diversos ambientes, estruturas e centros de decisão da
vida urbana.
i. Fomente a pastoral da acolhida aos que chegam à cidade e aos
que já vivem nela, passando de um passivo esperar a um ativo
buscar e chegar aos que estão longe com novas estratégias, tais
como visitas às casas, o uso dos novos meios de comunicação
social e a constante proximidade ao que constitui para cada
pessoa o seu dia-a-dia.
j. Ofereça atenção especial ao mundo do sofrimento urbano, isto
é, que cuide dos caídos ao longo do caminho e aos que se
encontram nos hospitais, encarcerados, excluídos, dependentes

48
DA 517-518.

38
das drogas, habitantes das novas periferias, nas novas
urbanizações e das famílias que, desintegradas, convivem de
fato.
Portanto, segundo o que for próprio de cada ambiente da ação
evangelizadora, devemos nos esforçar para desenvolver:
k. Um estilo pastoral adequado à realidade urbana com atenção
especial à linguagem, às estruturas e práticas pastorais, assim
como aos horários.
l. Um plano de pastoral orgânico e articulado que se integre em
projeto comum às paróquias, comunidades de vida consagrada,
pequenas comunidades, movimentos e instituições que
incidem na cidade, e que seu objetivo seja chegar ao conjunto
da cidade. Nos casos de grandes cidades onde existem várias
Dioceses, faz-se necessário um plano inter-diocesano.
m. Uma setorização das paróquias em unidades menores que
permitam a proximidade e um serviço mais eficaz.
n. Um processo de iniciação cristã e de formação permanente que
retroalimente a fé dos discípulos do Senhor integrando o
conhecimento, o sentimento e o comportamento.
o. Serviços de atenção, acolhida pessoal, direção espiritual e do
sacramento da reconciliação, respondendo à solidão, às
grandes feridas psicológicas que muitos sofrem nas cidades,
levando em consideração as relações inter-pessoais.
p. Uma atenção especializada aos leigos em suas diferentes
categorias: profissionais, empresariais e trabalhadores.
q. Processos graduais de formação cristã com a realização de
grandes eventos de multidões, que mobilizem a cidade, que
façam sentir que a cidade é um conjunto, é um todo, que
saibam responder à afetividade de seus cidadãos e em
linguagem simbólica saibam transmitir o Evangelho a todas as
pessoas que vivem na cidade.

39
r. Estratégias para chegar aos lugares fechados das cidades como
aglomerados de casas, condomínios, prédios residenciais ou
lugares assim chamados cortiços e favelas.
s. A presença profética que saiba levantar a voz em relação a
questões de valores e princípios do Reino de Deus, ainda que
contradiga a todas as opiniões, provoque ataques e só fique no
anúncio. Isto é, que seja farol de luz, cidade colocada no alto
para iluminar.
t. Maior presença nos centros de decisão da cidade, tanto nas
estruturas administrativas como nas organizações comunitárias,
profissionais e de todo tipo de associação para velar pelo bem
comum e promover os valores do Reino.
u. A formação e acompanhamento de leigos e leigas que,
influindo nos centros de opinião, se organizem entre si e
possam ser assessores para toda a ação social.
v. Uma pastoral que leve em consideração a beleza no anúncio da
Palavra e nas diversas iniciativas, ajudando a descobrir a beleza
plena que é Deus.
w. Serviços especiais que respondam às diferentes atividades
próprias da cidade: trabalho, descanso, esportes, turismo, arte
etc.
x. Uma descentralização dos serviços eclesiais de modo que
sejam muito mais os agentes de pastoral que se integrem a esta
missão, levando em consideração as categorias profissionais.
y. Uma formação pastoral dos futuros presbíteros e agentes de
pastoral capaz de responder aos novos desafios da cultura
urbana.

Ações Estruturantes
59. Formação Permanente: A fim de assegurar uma formação
permanente voltada para a missão, é preciso uma renovada qualificação
capaz de fomentar uma crescente adesão pessoal e esclarecida a Jesus

40
Cristo e à Igreja. Nesta direção, é fundamental levar os nossos agentes
ao estudo dos documentos do Magistério recente dos papas,
particularmente do Papa Bento XVI, do magistério da Igreja latino-
americana e do Brasil, do Catecismo da Igreja Católica e da Sagrada
Escritura. Para a realização deste objetivo de formação permanente,
serão criadas as Equipes de Cursos e Seminários (facilitadores), os quais
devem programar jornadas de Seminários, Cursos, Encontros etc., nas
diversas instâncias:
1) Regiões e foranias; 2) Movimentos Eclesiais; 3) Pastorais em nível
arquidiocesano; 4) Religiosos e religiosas; 5) Padres e Diáconos
Permanentes; 6) Núcleos de Evangelizadores dos Colégios Católicos; 8)
Nos Colégios públicos; 8) Outros agentes importantes.
60. Pastoral do acolhimento: A atitude de abertura à pessoa
que se traduz na disposição à acolhida deve ser característica de toda a
pastoral da Igreja. Porém, uma vez que “Acolher também é
49
Evangelizar” , uma atenção especial a esta dimensão deve gerar, na
medida do possível, a ocasião paro o acompanhamento e aconselhamento,
50
sem contudo permitir certa "psicologização" da atividade pastoral .
61. Missão nos ambientes diversos. É prioritário encontrar
as pessoas uma por uma. É preciso redescobrir a dimensão pessoal do
anúncio, o contato direto com as pessoas, a partir dos lugares concretos
da vida cotidiana. Para isso, multiplicar as visitas domiciliares em
vista do fortalecimento e implantação dos Círculos Bíblicos. Realizar
visitas missionárias nos ambientes não penetrados pela vida
paroquial: escolas públicas, faculdades, shoppings, bancos, escritórios,
setores públicos etc.
62. Missões em Áreas Especiais: Retomar do projeto Ser e
Fazer Discípulos os “Projetos Missionários Especiais”. Criar uma

49
Tema do 6º Encontro Arquidiocesano de Comunicação, out. 2007.
50
Cf. A. ANTONIAZZI, 1994, 87.

41
coordenação que se ocupe com os lugares que não podem ser bem
atingidos ela paróquia (ver anexo).
63. Promover novas iniciativas missionárias nas áreas de
afluxos emergentes: Centros da Cidade, Ilha, Litoral, e grandes
aglomerados residenciais urbanos (Conjuntos Residenciais,
Condomínios etc).
64. Missionários do Domingo: Incentivar os não-praticantes
a descobrirem o sentido pleno do Domingo e a graça da Eucaristia
dominical, através de convite direto e explícito feito pelos próprios
paroquianos
65. Meios de comunicação social: A missão deve abraçar
todos os campos da vida e da sociedade, compreendendo a cultura e os
MCS católicos. Em nossa Arquidiocese, com as naturais limitações, as
iniciativas da Pascom têm fomentado na pastoral arquidiocesana o
desenvolvimento de um estilo comunicativo atento ao seu papel
evangelizador. Considerando a função pastoral específica que possui os
MCS, é preciso também otimizar o uso destes recursos arquidiocesanos
(Rádio Excelsior, Jornal São Salvador, Programas e Missas na TV,
Internet etc). O aprimoramento na utilização dos MCS deve permitir
que a ação evangelizadora explore de modo inteligente o alcance
51
privilegiado que é próprio destes meios.
66. Pastoral Missionária: constituição do Conselho
Missionário Arquidiocesano (COMID), como promotor da missão
dentro da nossa Arquidiocese (“ad intra”) e para além dela (“ad extra”),
a fim de sermos uma Igreja solidária, disponível e comprometida com a
causa do Reino de Deus.
67. Ação Social: a) Apoiar as iniciativas já desenvolvidas na
promoção da consciência social dos fiéis, tais como “Seminário da

51
Cf. DA 486.

42
Caridade”, “Semanas Sociais”, “Grito dos Excluídos”. b) Acompanhar
o trabalho concreto das iniciativas presentes na Arquidiocese em vista
da promoção humana inerente ao anúncio missionário, a exemplo das
obras sociais mantidas pelas associações, pelas paróquias, congregações
religiosas etc. Este serviço deve ser mantido sem perder de vista a sua
dimensão evangelizadora. c) Resgatar os mutirões de combate à fome e
à miséria.
68. Coordenação de Pastoral: Promover a comunhão dos
carismas entre as pastorais e fomentar a compreensão dos seus
respectivos papéis na pastoral de conjunto. Promover fóruns entre
pastorais afins com o intuito de ampliar a capacidade de interação com
a realidade alvo de suas atividades pastorais.

2. A Família
69. Segundo o que for próprio de cada ambiente da ação
evangelizadora, devemos nos preparar para:
52
Pistas de Ação
a. Comprometer de maneira integral e orgânica as outras
pastorais, os movimentos e associações matrimoniais e
familiares a favor das famílias.
b. Estimular projetos que promovam famílias evangelizadas e
evangelizadoras.
c. Renovar a preparação remota e próxima para o sacramento do
matrimônio e da vida familiar com itinerários pedagógicos de
fé.
d. Promover, em diálogo com os governos e a sociedade,
políticas e leis a favor da vida, do matrimônio e da família.

52
Cf. DA 437 e 441.

43
e. Estimular e promover a educação integral dos membros da
família, especialmente daqueles membros da família que estão
em situações difíceis, incluindo a dimensão do amor e da
sexualidade.
f. Estimular centros paroquiais e diocesanos com uma pastoral
de atenção integral à família, especialmente aquelas que estão
em situações difíceis: mães adolescentes e solteiras, viúvas e
viúvos, pessoas da terceira idade, crianças abandonadas etc.
g. Estabelecer programas de formação, atenção e
acompanhamento para a paternidade e a maternidade
responsáveis.
h. Estudar as causas das crises familiares para encará-las em todos
os seus fatores.
i. Continuar oferecendo formação permanente, doutrinal e
pedagógica, para os agentes de pastoral familiar.
j. Acompanhar com cuidado, prudência e amor compassivo,
seguindo as orientações do Magistério, os casais que vivem em
situação irregular, tendo presente que aos divorciados e
novamente casados não lhes é permitido comungar.
Requerem-se mediações para que a mensagem de salvação
chegue a todos. É urgente estimular ações eclesiais, com
trabalho interdisciplinar de teologia e ciências humanas, que
ilumine a pastoral e a preparação de agentes especializados
para o acompanhamento desses irmãos.
k. Diante das petições de nulidade matrimonial, há de se procurar
que os Tribunais eclesiásticos sejam acessíveis e tenham
atuação correta e rápida.
l. Ajudar a criar possibilidades para que os meninos e meninas
órfãos e abandonados consigam, pela caridade cristã,
condições de acolhida e adoção e possam viver em família.
m. Organizar casas de acolhida e um acompanhamento específico
para socorrer com compaixão e solidariedade às meninas e
adolescentes grávidas, às mães "solteiras", aos lares
incompletos.

44
n. Ter presente que a Palavra de Deus, tanto no Antigo quanto
no Novo Testamento, nos pede atenção especial para com as
viúvas. Procurar a maneira de receberem elas uma pastoral que
as ajude a enfrentar tal situação, muitas vezes de desamparo e
solidão.
Ainda no âmbito da família, quanto às crianças, enquanto membros
mais frágeis, propõe-se as seguintes orientações pastorais:
o. Inspirar-se na atitude de Jesus para com as crianças, de respeito
e acolhida como os prediletos do Reino, atendendo à sua
formação integral. De importância para toda a sua vida é o
exemplo de oração de seus pais e avós, que têm a missão de
ensinara seus filhos e netos as primeiras orações.
p. Estabelecer, onde não exista, o Departamento ou Seção da
Infância, para desenvolver ações pontuais e orgânicas a favor
dos meninos e meninas.
q. Promover processos de reconhecimento da infância como
setor decisivo de especial cuidado por parte da Igreja, da
Sociedade e do Estado.
r. Tutelar a dignidade e os direitos naturais inalienáveis dos
meninos e das meninas, sem prejuízo dos legítimos direitos dos
pais. Velar para que as crianças recebam a educação adequada à
sua faixa etária no âmbito da solidariedade, da afetividade e da
sexualidade humana.
s. Apoiar as experiências pastorais de atenção à primeira infância.
t. Estudar e considerar as pedagogias adequadas para a educação
na fé das crianças, especialmente em tudo o que se relaciona à
iniciação cristã, privilegiando o momento da primeira
comunhão.
u. Valorizar a capacidade missionária dos meninos e das meninas,
que não só evangelizam seus próprios companheiros, mas que
também podem ser evangelizadores de seus próprios pais.
v. Promover e difundir processos permanentes de pesquisa sobre
a infância, que façam sustentável tanto o reconhecimento de

45
seu cuidado, como as iniciativas a favor da defesa e de sua
promoção integral.
w. Fomentar a instituição da Infância Missionária.

Ações Estruturantes
70. Algumas ações são particularmente importantes para a
concretização do nosso empenho de evangelização da família. Entre
elas destacamos as seguintes:
a) Fortalecer a pastoral familiar e apoiar as instituições que
trabalham com a família.
b) Fomentar programas de formação, atenção e acompanhamento
para a paternidade e a maternidade responsáveis.
c) Promover cursos de Bioética para os agentes de pastoral que
podem ajudar a fundamentar com solidez os diálogos dos
problemas e situações particulares sobre a vida.
d) Apoiar as experiências pastorais de atenção à maternidade e à
primeira infância.
e) Potencializar a formação permanente, doutrinal e pedagógica
para os agentes da Pastoral Familiar promovendo maior
participação na “Escola de Família”, “Semana da Família”,
curso de extensão e especialização. Investir energias para
desenvolver as “Associações de Família”.
f) Ajudar na estruturação de condições de acolhida e adoção para
crianças, para que possam viver em família.
g) formar grupos para a formação religiosa das crianças de 2 a 7
anos.
h) Refletir e encaminhar políticas familiares.
i) Criação de um “Centro de Cultura da vida”.
j) Aprofundar a dimensão querigmática e missionária dos cursos
de preparação ao Sacramento do Matrimônio.

46
3. A Juventude
71. Segundo o que for próprio de cada instância da ação
evangelizadora da Arquidiocese, devemos nos preparar para:
53
Pistas de Ação
a) Renovar, em estreita união com a família, de maneira eficaz e
realista, a opção preferencial pelos jovens, em continuidade com
as Conferências Gerais anteriores, dando novo impulso à
Pastoral da Juventude nas comunidades eclesiais (dioceses,
paróquias, movimentos etc).
b) Estimular os Movimentos eclesiais que têm pedagogia orientada
à evangelização dos jovens e convidá-los a colocar mais
generosamente suas riquezas carismáticas, educativas e
missionárias a serviço das Igrejas locais.
c) Propor aos jovens o encontro com Jesus Cristo vivo e seu
seguimento na Igreja, à luz do Plano de Deus, que lhes garanta a
realização plena de sua dignidade de ser humano, que os
estimule a formar sua personalidade e lhes proponha uma opção
vocacional específica: o sacerdócio, a vida consagrada ou o
matrimônio. Durante o processo de acompanhamento
vocacional, ir aos poucos introduzindo gradualmente os jovens
na oração pessoal e na Lectio Divina, na freqüência aos
sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, na direção
espiritual e no apostolado.
d) Privilegiar na Pastoral da Juventude processos de educação e
amadurecimento na fé como resposta de sentido e orientação da
vida e garantia de compromisso missionário. De maneira
especial, buscar implementar uma catequese atrativa para os
jovens que os introduza no conhecimento do mistério de
Cristo, buscando mostrar a eles a beleza da Eucaristia dominical
que os leve a descobrir nela Cristo vivo e o mistério fascinante
da Igreja.

53
Cf. DA 446.

47
e) A pastoral da Juventude deverá ajudar os jovens a se formar de
maneira gradual, para a ação social e política e a mudança de
estruturas, conforme a Doutrina Social da Igreja, fazendo
própria a opção preferencial e evangélica pelos pobres e
necessitados.
f) É imperativa a capacitação dos jovens para que tenham
oportunidades no mundo do trabalho e evitar que caiam na
droga e na violência.
g) Nas metodologias pastorais, procurar uma maior sintonia entre
o mundo adulto e o mundo dos jovens.
h) Assegurar a participação dos jovens em peregrinações, nas
Jornadas nacionais e mundiais da Juventude, com a devida
preparação espiritual e missionária e com a companhia de seus
pastores.

Ações Estruturantes
72. A partir das propostas apresentadas pela Pastoral da
Juventude arquidiocesana, podemos enumerar as seguintes ações a
serem implementadas:
a) Consolidar as lideranças jovens através do diálogo e
acompanhamento do assistente eclesiástico e promovendo
encontros periódicos com os bispos.
b) Elaborar e implantar mecanismos de auto-sustentação
econômica da PJ, a fim de proporcionar continuidade aos
eventos promovidos.
c) Promover a troca de experiências entre a PJ Arquidiocesana
com as instâncias regional e nacional.
d) Realizar o mapeamento da realidade da juventude das
paróquias.
e) Criar grupos de discussão com especialistas em juventude.
f) Desenvolver e manter o site oficial da PJ da Arquidiocese.

48
g) Articular as lideranças da PJ e contribuir para a formação de
novas.
h) Promover a participação das lideranças da PJ na pastoral de
conjunto.
i) Criar a Assessoria da Juventude, nas regiões e foranias, servindo
como ponte de diálogo entre os jovens, as demais pastorais e o
clero.
j) Realizar Missões Jovens dentro do âmbito das regiões e
foranias.
k) Implantar Escolas Bíblicas e Litúrgicas para jovens, com
linguagem e metodologia próprias.
l) Formar Assessores adultos e jovens adultos para o trabalho
com a juventude, dedicados a acompanhar e promover o
protagonismo juvenil.
m) Promover a perseverança pós-crisma através do
acompanhamento sistemático dos jovens.
n) Suscitar nas comunidades paroquiais o cuidado pelas vocações
especiais à vida consagrada, promovendo o acompanhamento e
a formação adequada para a decisão.
o) Promover a comunhão dos carismas entre os diversos
movimentos de pedagogia juvenil (“setor jovem”).

49
 Anotações para o próximo plano pastoral

50
V. CONCLUSÃO

73. Ao entregar o projeto pastoral 2008-2010 à nossa Igreja,


temos consciência que a realidade é sempre mais complexa, de modo
que a relevância deste trabalho poderá ser experimentada somente se a
ele se seguir uma recepção criativa. O auspício de que estas diretrizes
sejam um marco orientador das nossas assembléias e planos pastorais
setoriais é confirmado pela ampla colaboração que recebeu. O
empenho para compreender a nossa missão, variada em suas dimensões
e com urgências próprias, favoreceu a contribuição de todos na
elaboração deste texto. Agora, ele precisa estar presente em todas as
instâncias da ação pastoral da nossa Igreja como perspectiva norteadora
da ação evangelizadora. Porém, os limites e méritos deste plano pastoral
deve, acima de tudo, nos recordar que “a missão não se limita a um
programa ou projeto, mas é compartilhar a experiência do
acontecimento do encontro com Cristo, testemunhá-lo e anunciá-lo de
pessoa a pessoa, de comunidade a comunidade e da Igreja a todos os
54
confins do mundo (cf. At 1,8).”
74. O referencial fundamental de todo o projeto pastoral está
nos três eixos em que se apóia a vida humana: a pessoa, a comunidade e
a sociedade. A partir deles é proposta uma atitude de abertura e escuta
dos desafios que vêm de nossas cidades, palco dos dramas e alegrias da
maior parte da população brasileira e baiana. Por isso, a cidade enquanto
lugar onde Deus nos interpela, especialmente no rosto dos novos
pobres, impõe a necessidade de uma ação evangelizadora adequada.
Além desta ênfase pastoral, dentre os atores da cidade, a família ocupa o
papel de protagonista insubstituível, motivo pelo qual, em nosso tempo,

54
Ibid., 145.

51
é necessário assumir uma atitude profética frente aos que pensam poder
prescindir dela. Ao lado da família, a juventude também é convidada a
responder ao chamado de Deus a ser mais autêntica e comprometida
com a evangelização de seus coetâneos. Essas três particulares ênfases
pastorais, cidade, família e juventude, se incluem mutuamente e manifestam
a necessidade de uma pastoral de conjunto fundada na comunhão.
75. Por isso, é importante considerar que a vida, isto é, a vida
integral, é o anseio de todos, homens e mulheres, que pela fé fizeram a
experiência do ressuscitado. Porém, o caminho de fé que leva cada um
a fazer um encontro pessoal com Cristo passa necessariamente pela
comunhão com os irmãos. Por isso, não poderá haver autêntica
conversão sem participação na vida comunitária, e não poderá haver
autêntica comunidade cristã sem o compromisso com a evangelização
dos que ainda estão à margem do caminho. A missão, portanto, é sinal
concreto da maturidade de uma comunidade que fez a sua adesão total
a Cristo e ao seu Reino. No entanto, nesse caminho, cujo destino é o
reino definitivo, não estamos sós, acompanha-nos a Mãe querida, Maria
Santíssima, “estrela da aurora” no caminho de cada discípulo e
discípula. Confiamos a ela a nossa prece de modo que, como os
discípulos de Emaús, tenhamos o coração aquecido pela presença de
Jesus e ao fim do dia digamos com fé: “ficai conosco Senhor!”
76. Sigamos o Senhor Jesus! Discípulo é aquele que, tendo
respondido a este chamado, o segue passo a passo pelos caminhos do
Evangelho. No seguimento, ouvimos e vemos o acontecer do Reino de
Deus, a conversão de cada pessoa, ponto de partida para a
transformação da sociedade e se abrem para nós os caminhos da vida
eterna. Na escola de Jesus aprendemos “uma vida nova”, dinamizada
pelo Espírito Santo e refletida nos valores do Reino.
77. Nossas metas então devem nos impulsionar para uma nova
configuração Pastoral. Devemos antes de tudo promover uma profunda

52
renovação da adesão ao evento Cristo, para n’Ele, nossos povos
encontrarem a vida abundante que é dada a todo aquele que crê. Nosso
caminho então pode ser representado pela síntese do Documento de
Aparecida:
 Ser uma Igreja viva, fiel e crível, que se alimenta na Palavra de Deus e na
Eucaristia;
 Viver o nosso ser cristão com alegria e convicção como discípulos-missionários de
Jesus Cristo;
 Formar comunidades vivas que alimentem a fé e impulsionem a ação
missionária;
 Valorizar as diversas organizações eclesiais em espírito de comunhão;
 Promover um laicato amadurecido, co-responsável com a missão de anunciar e
fazer visível o Reino de Deus;
 Impulsionar a participação ativa da mulher na sociedade e na Igreja;
 Manter com renovado esforço a nossa opção preferencial e evangélica pelos
pobres;
 Acompanhar os jovens na sua formação e busca de identidade, vocação e missão,
renovando a nossa opção por eles;
 Trabalhar com todas as pessoas de boa vontade na construção do Reino;
 Fortalecer com audácia a pastoral da família e da vida;
 Valorizar e respeitar nossos povos indígenas e afrodescendentes;
 Avançar no diálogo ecumênico “para que todos sejam um”, como também no
diálogo inter-religioso;
 Fazer deste continente um modelo de reconciliação, de justiça e de paz;
 Cuidar da criação, casa de todos, em fidelidade ao projeto de Deus;
 Colaborar na integração dos povos da América Latina e do Caribe.

53
 Anotações para o próximo plano pastoral

54
ANEXO:
55
Projetos Missionários Especiais

01. ÁREAS DE MISSÃO


Justificativa: Diversas paróquias não atingem os bairros
abandonados da periferia.
Objetivo geral: Anunciar Jesus Cristo na vida das pessoas, na
comunidade, através de Grupos e Círculos Bíblicos nas casas.
Objetivo específico: Criar uma Coordenação de Evangelização que
se preocupe com os bairros e ruas da periferia que não podem ser
bem atingidos pela paróquia. Então, a jurisdição dos referidos bairros
abandonados será ligado diretamente a um vigário episcopal ou a uma
pessoa indicada pelo bispo. Nos referidos bairros evangelizará uma
equipe, que seja de padres, religiosos e religiosas, leigos ou leigas com
jovens vocacionados (as).
Escolha das Áreas abandonadas: Esta escolha das áreas será feita
pela referida Coordenação, após entendimento com o pároco que
nela tem jurisdição.
Plano de Evangelização: O plano será inspirado pelas Diretrizes
Arquidiocesanas da Ação Evangelizadora. A Coordenação das Áreas
de Missão selecionará os(as) Evangelizadores(as) e os orientará e
acompanhará através de cursos e campanhas avaliando as atividades.
Quando a Área tiver liderança consolidada, então a Área poderá ser
integrada na sua paróquia respectiva.

55
DAE 69-70.

55
02. MISSÕES POPULARES

Organizar e Promover ações missionárias e missões populares em


regiões carentes de evangelização na Bahia e na Amazônia, prioridade
evangelizadora assumida pelos Bispos do Brasil, articulando equipes
por paróquias, foranias ou regiões pastorais.
As equipes missionárias, de paróquias, foranias ou regiões pastorais,
podem organizar suas ações missionárias desenvolvendo projetos ao
longo do ano e com diferentes tempos de duração.
Desenvolver o espírito missionário de grupos de jovens
estabelecendo parcerias entre os que vivem na capital com aqueles do
interior para tempos fortes de missão.
Organizar equipes missionárias de jovens para visitação e missões
populares nas áreas rurais das paróquias.
Estar presente em oração e solidariedade, junto aos afastados, nas
casas, nos aniversários, nos momentos difíceis e na ação de graças e
fazer, na medida da disponibilidade de cada um, visitas missionárias a
vizinhos, parentes, necessitados de todo tipo. Ouvir as alegrias, as
dificuldades, os questionamentos dessas pessoas, sendo para elas um
sinal da ternura de Deus. Apresentar a Palavra de Deus como força
que dá sentido à vida.
Convidar alguém e, dois a dois, como Jesus enviou os seus, assumir
permanentemente a tarefa de ir ajudar grupos ou pessoas, com uma
boa catequese, a conhecer Jesus, Caminho, Verdade e Vida, a crescer
na sua fé e a assumir os compromissos da vida cristã na comunidade e
na sociedade.

56
ABREVIAÇÕES

DA Documento de Aparecida
DP Documento de Puebla
DAE Diretrizes para Ação Evangelizadora (2004-2007).
Projeto Ser e Fazer Discípulos de Jesus
EAm Exortação apostólica Ecclesia in America
EN Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi
NMI Carta Encíclica Novo Millenio Ineunte
RMi Carta Encíclica Redemptoris Missio
VC Exortação Apostólica Vita Consacrata

57
 Anotações para o próximo plano pastoral

58
BIBLIOGRAFIA

ANTONIAZZI, A., “Princípios teológico-pastorais para uma nova presença


da Igreja na Cidade” em A Presença da Igreja na Cidade. Ed. Vozes,
Petrópolis, 1994, pg.77-96.
ARQUIDIOCESE DE SÃO SALVADOR DA BAHIA, Diretrizes Arquidiocesanas
para Ação Evangelizadora (2004-2007). Projeto Ser e Fazer
Discípulos. Salvador, 2003.
CELAM, Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Brasilia-São
Paulo, Ed. Paulinas-Paulus-CNBB, 2007.
____Documentos do CELAM. Rio de Janeiro, Medellin, Puebla, Santo
Domingo, São Paulo, Ed. Paulus, 2005.
CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006.
São Paulo, Ed. Paulinas, 2003.

BIBLIOGRAFIA PARA APROFUNDAMENTO

____ , Sou Católico: Vivo a minha fé, Ed. CNBB, Brasília, 2007.
ARQUIDIOCESE DE S. SALVADOR DA BAHIA, Diretório Litúrgico-
Sacramental.
BENTO XVI, Carta Encíclica “Deus Caritas est”, Ed.Paulinas, São Paulo,
2006.
CNBB, Que novidade é essa? Uma leitura dos Atos dos Apóstolos,
(Coleção “Ser Igreja no novo Milênio”, n. 5), Ed.CNBB, Brasília,
2000.
DA SILVA, JOSAFÁ M. - MACHADO, GENIVAL B.F.,(eds.) Cidade, Igreja e
Missão, Ed. Paulinas, São Paulo, 2003 .
PONTIFÍCIO CONS. JUSTIÇA E PAZ, Compêndio da Doutrina Social da Igreja,
Ed.Paulinas, São Paulo, 2007.
SAGRADA CONGREGAÇÃO DOUTRINA DA FÉ, Catecismo da Igreja Católica,
Ed. Loyola, São Paulo, 1992.

59
ÍNDICE

MENSAGEM PASTORAL SOBRE AS MISSÕES.......................... 3


INTRODUÇÃO ................................................................................ 9
I. MISSÃO DE CRISTO, MISSÃO DA IGREJA ............................ 13
II. SUJEITOS DA MISSÃO ............................................................ 21
III. PRIORIDADES......................................................................... 25
1.EVANGELIZAÇÃO DA CIDADE ......................................................... 28
2. EVANGELIZAÇÃO DA FAMÍLIA........................................................ 30
2.1 O Papa e a Família .................................................................... 30
2.2 A Família no Documento de Aparecida..................................... 31
3. EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE ................................................. 34
IV. AÇÕES ESTRUTURANTES................................................... 37
1. A Cidade ......................................................................................... 37
Pistas de Ação................................................................................. 38
Ações Estruturantes........................................................................ 40
2. A Família......................................................................................... 43
Pistas de Ação................................................................................. 43
Ações Estruturantes........................................................................ 46
3. A Juventude .................................................................................... 47
Pistas de Ação................................................................................. 47
Ações Estruturantes........................................................................ 48
V. CONCLUSÃO ........................................................................... 51
ANEXO: Projetos Missionários Especiais ................................................. 55
ABREVIAÇÕES ............................................................................ 57
BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 59

60
61
Oração
"Fica conosco, pois cai a tarde e o dia já declina” (Lc 24,29)

Fica conosco, Senhor, acompanha-nos, ainda que nem sempre tenhamos


sabido reconhecer-te. Fica conosco, porque ao redor de nós as sombras vão se
tornando mais densas, e tu és a Luz; em nossos corações se insinua a
desesperança, e tu os fazes arder com a certeza da Páscoa. Estamos cansados
do caminho, mas tu nos confortas na fração do pão para anunciar a nossos
irmãos que na verdade tu ressuscitaste e que nos deste a missão de ser
testemunhas de tua ressurreição.
Fica conosco, Senhor, quando ao redor de nossa fé católica surgem as
névoas da dúvida, do cansaço ou da dificuldade: tu, que és a própria Verdade
como revelador do Pai, ilumina nossas mentes com tua Palavra; ajuda-nos a
sentir a beleza de crer em ti.
Fica em nossas famílias, ilumina-as em suas dúvidas, sustenta-as em
suas dificuldades, consola-as em seus sofrimentos e no cansaço de cada dia,
quando ao redor delas se acumulam sombras que ameaçam sua unidade e sua
natureza. Tu que és a Vida, fica em nossos lares, para que continuem sendo
ninhos onde nasça a vida humana abundante e generosamente, onde se acolha,
se ame, se respeite a vida desde a sua concepção até seu término natural.
Fica, Senhor, com aqueles que em nossas sociedade são os mais
vulneráveis; fica com os pobres e humildes, com os indígenas e afroamericanos,
que nem sempre encontram espaços e apoio para expressar a riqueza de sua
cultura e a sabedoria de sua identidade.
Fica, Senhor, com nossas crianças e com nossos jovens, que são a
esperança e a riqueza do nosso Continente, protege-os de tantas armadilhas
que atentam contra sua inocência e contra suas legítimas esperanças.
Ó Bom Pastor, fica com nossos anciãos e com nossos enfermos! Fortalece
a todos em sua fé para que sejam teus discípulos e missionários!

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